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RobeRt H . FRank ben S . beRnanke QuaRta ed ição economia PRincÍPioS de Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 F828p Frank, Robert H. Princípios de economia [recurso eletrônico] / Robert H. Frank, Ben S. Bernanke, Louis D. Johnston ; tradução: Heloisa Fontoura, Monica Stefani ; revisão técnica: Giácomo Balbinotto Neto, Ronald Otto Hillbrecht. – 4. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-8055-097-9 1. Economia. I. Bernanke, Ben S. II. Johnston, Louis D. III. Título. CDU 330 464 PARTE V MACROECONOMIA: QUESTÕES E DADOS OS CUSTOS DA INFLAÇÃO: NÃO SÃO O QUE VOCÊ PENSA No final da década de 1970, quando a inflação era consideravelmente mais alta do que hoje, o público respondeu a uma pesquisa dizendo que a inflação era “o inimigo públi- co número um” − isto é, o problema mais sério da nação. Embora nos últimos anos as taxas de inflação norte-americanas não sejam muito elevadas, hoje muitos norte-ame- ricanos parecem preocupados com a inflação ou com a ameaça de inflação. Por que as pessoas se preocupam tanto com a inflação? Detalhadas pesquisas de opinião sugerem que muitas pessoas estão confusas quanto ao significado da inflação e de seus efeitos econômicos. Quando se queixam da inflação, as pessoas geralmente se referem às mu- danças dos preços relativos. Antes de descrever os verdadeiros custos econômicos da inflação, que são reais e sérios, examinemos esta confusão que as pessoas fazem no que diz respeito à inflação e aos seus custos. Primeiramente, precisamos distinguir entre nível de preços e preço relativo de um bem ou serviço. O nível de preços é uma medida do nível total de preços de um ponto particular no tempo, como a medida por um índice de preços tal como o IPC. Lembre-se de que a taxa de inflação é a porcentagem da variação do nível de preços de ano em ano. Por outro lado, um preço relativo é o preço de um bem ou serviço especí- fico em comparação com preços de outros bens e serviços. Por exemplo, se o preço do petróleo aumenta 10%, enquanto os preços dos outros bens e serviços aumentam em média 3%, o preço relativo do petróleo aumentaria. Contudo, se o preço do petróleo aumenta 3%, enquanto os outros preços aumentam 10%, o preço relativo do petróleo diminuiria. Ou seja, o petróleo se tornaria mais barato, relativamente aos outros bens e serviços, mesmo que não se tornasse mais barato em termos absolutos. As pesquisas de opinião pública sugerem que muitas pessoas se confundem quan- to à distinção entre inflação, que é o aumento no nível de preços total, e o aumento em um preço relativo específico. Suponha que interrupções de suprimento do Oriente Médio dobrem o preço da gasolina na bomba, sem afetar os outros preços. Revoltadas com o aumento dos preços da gasolina, as pessoas podem exigir que o governo faça algo sobre “essa inflação”. Embora o aumento dos preços da gasolina incomode os consumidores, isto é um exemplo de inflação? A gasolina é apenas um dos itens no orçamento de um consumidor, um dos milhares de bens e serviços que as pessoas compram diariamente. Assim, o aumento no preço da gasolina pode afetar muito pou- co o nível de preços total e, consequentemente, a taxa de inflação. Neste exemplo, a inflação não é o verdadeiro problema. O que irrita os consumidores é a variação do preço relativo do petróleo, comparado principalmente com o preço da mão de obra (salários). Ao aumentar o custo no uso de um carro, o aumento no preço relativo do petróleo reduz a renda disponível das pessoas para gastar em outras coisas. Além disso, as variações nos preços relativos não implicam necessariamente em um percentual significativo de inflação. Por exemplo, os aumentos nos preços de al- guns bens poderiam ser contrabalançados por diminuições nos preços de outros bens, e neste caso, o nível dos preços e a taxa de inflação não seriam afetados. Ao contrário, a inflação pode ser alta sem afetar os preços relativos. Imagine, por exemplo, que todos os preços na economia, incluindo remunerações e salários, aumentem exatamente 10% todos os anos. A taxa de inflação é de 10%, mas os preços relativos não estão mudan- do. Sem dúvida, como os salários (o preço da mão de obra) estão aumentando 10% ao ano, a capacidade das pessoas de comprar bens e serviços não é afetada pela inflação. Estes exemplos mostram que as variações no nível dos preços (inflação) e as varia- ções nos preços relativos de bens específicos são duas questões completamente diferen- tes. A tendência do público em confundi-los é importante, porque os tratamentos para os dois problemas são diferentes. Para neutralizar as variações dos preços relativos, o governo precisaria implementar políticas que afetassem a oferta e a demanda por bens específicos. No caso de um aumento no preço do petróleo, por exemplo, o governo poderia tentar incentivar o desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Para neu- tralizar a inflação, entretanto, o governo deve recorrer (como veremos) às mudanças na política macroeconômica, como as políticas monetária ou fiscal. Se, com a confusão, o público obriga o governo a adotar políticas anti-inflacionárias, quando o verdadeiro nível de preços medida do nível geral de preços de um ponto particular no tempo, como a medida por um índice de preços, como o IPC preço relativo preço de um bem ou serviço específico em comparação com preços de outros bens e serviços 465CAPÍTULO 17 A INFLAÇÃO E O NÍVEL DE PREÇOS problema é uma variação do preço relativo, a economia pode realmente ser prejudicada por causa desse esforço. Este exemplo mostra por que a cultura econômica é importan- te, tanto para os elaboradores de política econômica quanto para o público geral. O nível de preços, os preços relativos e a inflação Suponha que o valor do IPC seja 1,20 em 2006, 1,32 em 2007 e 1,40 em 2008, e que o preço do petróleo tenha aumentado 8% entre 2006 e 2007 e outros 8% entre 2007 e 2008. O que está acontecendo com o nível dos preços, a taxa de inflação e o preço relativo do petróleo? O nível dos preços pode ser medido pelo IPC. Como o IPC é mais elevado em 2007 do que em 2006 e ainda mais elevado em 2008 do que em 2007, o nível dos preços está aumentando ao longo do período. Como o IPC aumenta 10% entre 2006 e 2007, a taxa de inflação entre estes anos é de 10%. Entretanto, o IPC aumenta somen- te cerca de 6% entre 2007 e 2008 (1,40/1,32�1,06), assim, a taxa de inflação diminui para aproximadamente 6% entre estes anos. O declínio na taxa de inflação significa que, embora o nível dos preços ainda esteja aumentando, isso está acontecendo em um ritmo mais lento do que no ano anterior. O preço do petróleo aumenta 8% entre 2006 e 2007. Contudo, como a infla- ção geral durante esse período é de 10%, o preço relativo do petróleo − isto é, o seu preço em relação ao de todos os bens e serviços restantes − cai aproximadamente 2% (8% �10%�2%). Entre 2007 e 2008, o preço do petróleo aumenta outros 8%, en- quanto a taxa de inflação geral é de aproximadamente 6%. Assim, o preço relativo do petróleo aumenta aproximadamente 2% (8%�6%) entre 2007 e 2008. EXERCÍCIO 17.7 Em abril de 1991, a gasolina comum, sem chumbo, custava $1,08 o litro, e o IPC era de 1,35. Em abril de 2008, a gasolina comum, sem chumbo, custava $3,46 o litro, e o IPC era 2,15. O preço da gasolina em relação aos outros itens do IPC aumentou ou caiu nesses dois anos? EXERCÍCIO 17.8 Em 1980, quando o IPC era 0,824, o custo médio de frequentar uma universidade privada era $5.013, incluindo as aulas, o quarto, as refeições e as taxas. Em 2006, quando o IPC era 2,016, o custo médio era $27.317. Quanto este custo médio au- mentou em relação aos outros itens do IPC? O VERDADEIRO CUSTO DA INFLAÇÃO Dissipando a confusão comum entre inflação e variações dos preços relativos, agora estamos livres para nos concentrarmos nos verdadeiros custos econômicos da inflação. Há uma variedadedesses custos, e cada qual tende a reduzir a eficiência da economia. Cinco dos mais importantes serão analisados aqui. “RUÍDO” NO SISTEMA DE PREÇOS No Capítulo 3, descrevemos a notável coordenação econômica necessária para forne- cer diariamente a quantidade certa e os vários tipos de alimento para os nova-iorqui- nos. Esta façanha não é orquestrada por um Ministério da Distribuição de Alimentos, composto por burocratas. Ela é realizada de uma maneira ainda mais eficiente pelas forças do livre mercado, que operam sem uma direção central. Como os mercados livres transmitem as inúmeras informações necessárias para rea- lizar tarefas complexas, como o suprimento da cidade de Nova York? A resposta, como vimos no Capítulo 3, é por meio do sistema de preços. Quando os proprietários de um restaurante francês em Manhattan não encontram as quantidades necessárias de chante- relles, uma espécie de cogumelos rara e deliciosa, eles aumentam seus preços de mercado. Os fornecedores de especiarias observam os altos preços dos chanterelles e percebem que podem lucrar no fornecimento de mais chanterelles para o mercado. Ao mesmo tempo, os 466 PARTE V MACROECONOMIA: QUESTÕES E DADOS comensais mais preocupados com preços irão mudar para cogumelos mais baratos e mais acessíveis. O mercado de chanterelles somente voltará ao equilíbrio quando não houver mais oportunidades de explorar o lucro, e ambos, fornecedores e clientes, estiverem satis- feitos com o preço de mercado (o princípio do equilíbrio). Multiplique este exemplo um milhão de vezes e você terá uma ideia de como o sistema de preços atinge um verdadeiro e extraordinário nível de coordenação econômica. Quando a inflação é alta, entretanto, os sinais sutis que são transmitidos pelo sistema de preços se tornam mais difíceis de interpretar, como a estática, ou “ruído”, que dificulta o entendimento de uma mensagem do rádio. Em uma economia com pouca ou nenhuma inflação, o fornecedor de especiarias reconhecerá imediatamente o aumento dos preços do chanterelle como um sinal para trazer mais quantidade para o mercado. Porém, se a inflação é alta, o fornecedor deverá perguntar se o aumento do preço representa um aumento real na demanda por chanterelles ou se é apenas o resul- tado da inflação geral, que causa aumento generalizado nos preços dos alimentos. Se o aumento de preço reflete simplesmente a inflação, o preço dos chanterelles em relação aos outros bens e serviços realmente não mudou. E assim, o fornecedor não deveria alterar as quantidades de cogumelo que ele coloca no mercado. Em um ambiente inflacionário, para distinguir se o aumento do preço do chan- terelle é um verdadeiro sinal do aumento da demanda, o fornecedor precisa saber não somente o preço dos chanterelles, mas também o que está acontecendo com os preços dos outros bens e serviços. Como esta informação toma tempo e esforço para coletar, a resposta do fornecedor à variação dos preços do chanterelle deve ser provavelmente mais lenta e sujeita a alterações. Em resumo, o mercado transmite as informações para os fornecedores e clientes por meio das variações de preços. Um aumento no preço de um bem ou de um serviço, por exemplo, diz aos clientes para economizar na utilização do bem ou serviço, e aos fornecedores para trazer mais dele para o mercado. Mas, na presença da inflação, os preços são afetados não somente por mudanças na oferta e na demanda por um pro- duto, mas por variações no nível dos preços em geral. A inflação cria a estática, ou o “ruído”, no sistema de preços, encobrindo as informações transmitidas pelos preços e reduzindo a eficiência do sistema de mercado. Essa redução na eficiência impõe custos econômicos reais. DISTORÇÕES DO SISTEMA TRIBUTÁRIO Assim como alguns gastos do governo são indexados à inflação, como os benefícios da Previdência Social, muitos impostos também são. Nos Estados Unidos, as pessoas com rendas mais altas pagam uma porcentagem maior em impostos. Sem indexação, uma in- flação que aumentasse a renda nominal dessas pessoas iria forçá-las a pagar uma porcen- tagem crescente de sua renda em impostos, mesmo que suas rendas reais não tivessem aumentado. Para evitar este fenômeno, que é conhecido como o arraste fiscal (bracket creep), o Congresso norte-americano indexou as faixas de renda ao IPC. O efeito dessa indexação é que uma família, cuja renda nominal esteja aumentando no mesmo ritmo que a inflação, não tem de pagar uma porcentagem maior da renda em impostos. Embora a indexação tenha resolvido o problema do arraste fiscal, muitas cláusulas do código fiscal não foram indexadas, seja por falta de sustentação política ou devido à complexidade da tarefa. Como consequência, a inflação pode produzir alterações não intencionais nos impostos que as pessoas pagam, o que, por sua vez, pode fazer com que essas pessoas mudem seu comportamento de maneira economicamente indesejável. Para ilustrar, uma importante cláusula no código de impostos sobre os negócios, para a qual a inflação causa problemas, é a provisão de depreciação do capital, que funciona como segue. Suponha que uma empresa compre uma máquina por $1 mil, esperando que sua vida útil seja de 10 anos. Segundo a legislação tributária norte-ame- ricana, a empresa pode abater do preço de aquisição, ou $100, como uma dedução de seus lucros tributáveis em cada um dos 10 anos. Deduzindo uma fração do preço de aquisição de seus lucros tributáveis, a empresa reduz seus impostos. A quantia exata da redução anual do imposto é a taxa de imposto sobre o lucro corporativo vezes $100. Equilíbrio A inflação adiciona estática à informação conduzida pela mudança nos preços. 467CAPÍTULO 17 A INFLAÇÃO E O NÍVEL DE PREÇOS A ideia por trás desta cláusula do código fiscal é que o desgaste da máquina é um custo do negócio e que deve ser deduzido do lucro da empresa. Além dis- so, ao reduzir os impostos para que as empresas invistam em máquinas novas, o Congresso norte-americano pretendia incentivar as empresas a modernizar suas fá- bricas. Contudo, a provisão de depreciação do capital não é indexada pela inflação. Suponha que, em um certo período em que a taxa de inflação estiver elevada, uma empresa esteja considerando comprar uma máquina de $1 mil. Os gerentes sabem que a compra permitirá a dedução de $100 ao ano dos lucros tributáveis pelos pró- ximos 10 anos. Mas esses $100 são um valor fixo que não é indexado à inflação. Olhando para o futuro, os gerentes reconhecerão que nos 5, 6, ou 10 anos futuros o valor real da dedução tributária de $100 será muito menor que hoje, por causa da inflação. Eles terão menos incentivos para a compra da máquina e poderão decidir não realizar o investimento. De fato, muitos estudos têm mostrado que uma taxa de inflação elevada pode reduzir significativamente a taxa de investimento das empresas em novas fábricas ou equipamentos. Como o complexo código fiscal norte-americano contém centenas de cláusulas e taxas de impostos que não são indexadas, a inflação pode distorcer seriamente os incentivos oferecidos pelo sistema tributário para que as pessoas trabalhem, poupem e invistam. Os efeitos adversos na eficiência e no crescimento econômico representam um custo real da inflação. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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