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- -1 LITERATURA BRASILEIRA II A POESIA ROMÂNTICA. A GERAÇÃO INDIANISTA OU NACIONALISTA – GONÇALVES DIAS - -2 Olá! Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer as principais características da poesia romântica brasileira; 2. verificar os aspectos mais vigorosos e recorrentes na obra do principal poeta romântico de primeira geração: Gonçalves Dias; 3. analisar poemas de Gonçalves Dias; 4. reconhecer traços da temática gonçalvina na arte. O Romantismo foi um período estético que teve uma grande duração, em torno de meio século, e por essa razão é possível divisar três gerações de poetas, cujas obras desenvolvem temáticas e técnicas semelhantes. A primeira delas nasceu com a intensidade do desejo de valorizar o Brasil, primando pela idealização da paisagem exuberante, bem como pela presença mítica do indígena. Recebeu o nome de e/ou Nacionalista .Indianista Na segunda geração, a subjetividade peculiar do movimento romântico será levada ao extremo. Isso explica a denominação de ou para classificar o grupo de poetas que preferia como temática oEgótica Ultrarromântica amor, a morte, o escapismo, o tédio e a melancolia. O terceiro momento da poesia romântica é marcado pela abordagem de temas sociais, como a escravidão. Embora tenha sido esta uma geração bastante heterogênea quanto à temática, o gosto pelas imagens grandiosas, que representam amplidão e infinitude, foi bastante recorrente entre os poetas. Recebeu o nome de Geração , por fazer referência à ave andina, o Condor.Condoreira O surgimento do Romantismo no Brasil é balizado pela publicação da obra , deSuspiros poéticos e saudades Gonçalves de Magalhães, em 1836. O autor foi também responsável pela fundação em Paris, no mesmo ano, da .Niterói, revista brasiliense Domingos José Gonçalves de Magalhães estudou na Europa, e, quando retornou ao Brasil, caiu nas graças do Imperador D.Pedro II, conquistando cargos políticos e diplomáticos. Vamos ler um trecho do poema Saudação à pátria à vista do Rio de Janeiro no meu regresso da Europa – Em 14 de maio de 1837. “(...) Terras da minha pátria, eu vos saúdo, Depois de longa ausência! - -3 Eu te saúdo, oh sol da minha infância! Inda brilhar te vejo nestes climas, Da Providência esmero, Onde se apraz a amiga liberdade Tão grata aos corações americanos! “Minha terra saudosa, Terra de minha mãe, como és tão bela. Se em ti não venho achar da Europa o fausto, Pelo suor dos século regado, Também não acharei suas misérias, Maiores que o seu brilho, Verdes montanhas que cercais meu berço, Como sublimes sois, como sois grande.” Observe como o eu lírico compara a terra natal, o Brasil, à Europa, apontando aspectos superiores na primeira em relação à segunda. Essa ideia de grandeza associada ao Brasil é uma constante nos poemas dessa geração e explica-se por querer representar uma afirmação de nossa independência, não apenas política e econômica, mas também artística. Embora o esforço em marcar a separação entre a arte europeia, ou da metrópole, e a arte brasileira tenha sido frequente na maioria das composições da época, as influências estrangeiras são inegáveis. A temática nativista encontra expressão em outro poema muito famoso, chamado , escrito emCanção do Exílio 1843, por .Gonçalves Dias Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão, em 1823 e faleceu, no litoral do mesmo estado, em um naufrágio, em 1864. Formou-se em Leis, em Coimbra. Ao retornar ao Brasil, exerceu a profissão de professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. Sua obra inaugural, , foi publicada em 1846;Primeiros Cantos seguida de e , em 1848, e , em 1851. Deixou inacabado oSegundos Cantos Sextilhas de Frei Antão Últimos Cantos poema épico .Os timbiras Canção do exílio Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá, As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. - -4 Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Coimbra – 1843 Primeiros Cantos No poema, observamos que o eu-lírico se lamenta pela saudade que sente de sua terra – “lá” –, o Brasil. Interessante notar que esse sentimento contrapõe os dois espaços: a terra natal (lá) e a terra do exílio, Portugal (cá). Sabe-se que, à época, o poeta Antônio Gonçalves Dias estava em terras lusas, fazendo o curso superior, como muitos outros filhos de famílias abastadas. Assim, o exílio, a que se refere o eu-lírico, não é político; trata-se de um período de afastamento por opção. A saudade, no entanto, faz com que traga à lembrança, de forma emocionada e subjetiva, elementos que representam a sua terra: o sabiá, as palmeiras, as aves e as flores. Elementos que sempre são apresentados em situação de superioridade em relação à terra portuguesa. O poema tem inspirado os nossos artistas até os dias de hoje, seja como crítica, paródia ou imitação. Também a nossa música faz menção ao poema Canção do Exílio; como Sabiá de Chico Buarque e Tom Jobim, quer ouvir? Clique e assista à belíssima canção vencedora do III Festival Internacional, realizado em 1968. http://www.youtube.com/watch?v=U9epAdaRXCk A genialidade da poesia gonçalvina ficou vincada em sua vertente indianista pelo domínio da técnica e pelo vigor das imagens dos primeiros habitantes de nossas terras. Não se espera, contudo, desse período uma crítica aguda ao processo de colonização, haja vista que o indígena é representado de forma idealizada, e a colonização era descrita como uma comunhão de interesses. Em alguns poemas, como e O canto do piaga, nota-se Deprecação a presença de farpas em direção à ; no entanto, trata-se de uma possível referência ao genocídio perpetrado peladominação violenta europeia invasão espanhola, que dizimou nações pré-colombianas com extrema crueldade. DEPRECAÇÃO Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto Com denso velâmen de penas gentis; http://www.youtube.com/watch?v=U9epAdaRXCk - -5 E jazem teus filhos clamando vingança Dos bens que lhes deste da perda infeliz! Tupã, ó Deus grande! teu rosto descobre: Bastante sofremos com tua vingança! Já lágrimas tristes choraram teus filhos Teus filhos que choram tão grande mudança. Anhangá impiedoso nos trouxe de longe Os homens que o raio manejam cruentos, Que vivem sem pátria, que vagam sem tino Trás do ouro correndo, vorazes, sedentos. E a terra em que pisam, e os campos e os rios Que assaltam, são nossos; tu és nosso Deus: Por que lhes concedes tão alta pujança, Se os raios de morte, que vibram, são teus? COMENTÁRIO: O título do poema “deprecação” quer dizer “pedir perdão”. A composição retrata uma súplica do eu-lírico a Tupã, uma entidade superior, por misericórdia. Alega o eu-lírico que Tupã teria coberto os seus olhos e fingido não ver as crueldades impingidas aos índios por homens que “Anhanga”, o demônio, teria “trazido de longe”. Esses homens que invadem as terras indígenas – “E a terra em que pisam, e os campos e os rios/Que assaltam, são nossos” – manejam os “raios da morte”, ou seja, as armas de fogo. Observe o tom de súplica indignada do eu- lírico. Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto Com denso velâmen de penas gentis; E jazem teus filhos clamando vingança Dos bens que lhes deste da perda infeliz....” Saiba mais http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00119a.pdf http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00119a.pdf - -6 Como observou Alfredo Bosi, em :Dialética da Colonização “Nos Primeiros cantos do maranhense lateja a consciência do destino atroz que aguardava astribos tupis quando se pôs em marcha a conquista europeia. O conflito das civilizações é trabalhado pelo poeta na sua dimensão de tragédia. Poemas fortes como e são agourosO canto do piaga Deprecação do massacre que dizimaria o selvagem mal descessem os brancos de suas caravelas. (...) O jovem Gonçalves Dias ainda estava próximo, no tempo e no espaço, do nativismo exaltado latino- americano. Talvez a familiaridade do maranhense com a luta entre brasileiros e marinheiros que marcou nas províncias do Norte os anos da Independência explique a aura violenta e aterrada que rodeia aqueles versos de primeira mocidade” (BOSI, A. Dialética da colonização. 3.ed. São Paulo: Companhia das letras, 1992. p. 184-184) A verve poética indianista registra-se com genialidade no uso dos ritmos para simular a batida do tambor, como no poema Canção do tamoio. Observe as sílabas marcadas, leia em voz alta e perceba a simulação de um ritmado.tambor Esse efeito sonoro é obtido graças à combinação de versos curtos, redondilhas menores, cuja tonicidade recai sobre a 2ª e a 5ª sílabas de forma constante. Note também que o poema é distribuído em oitavas, isto é, estrofes compostas de oito versos, em que predominam rimas emparelhadas. A explicação, entre parênteses, “Natalícia” dá a conhecer ao leitor as circunstâncias do canto vigoroso: o pai descreve ao pequeno nascituro as glórias de ser um indígena. A valorização do índio se apresenta mediante um movimento de aproximação ao cavaleiro medieval – o “brasão” é o bem a ser conquistado pelo futuro guerreiro. Trata-se de uma influência clara do Romantismo europeu, que tomava o mito do “bom selvagem”, de Rousseau, como referência ética e estética. Canção do tamoio (Natalícia) I Não ores, meu lho;ch fi Não ores, que a vida,ch É ta re da:lu nhi - -7 Vi é lu .ver tar A da é comba , Que os cos aba ,vi te fra te Que os tes, os brafor vos Só de exal .po tar O valor da obra de Gonçalves Dias se consolida na perenidade dos temas e das imagens que permanecem inspirando a literatura brasileira. Nesta aula, você conheceu a poesia romântica da Primeira Geração, focalizada na obra de Gonçalves Dias. O que vem na próxima aula • A segunda Geração Romântica: a poesia egótica de Álvares de Azevedo. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Compreendeu a razão pela qual denominamos a primeira geração de Nacionalista ou Indianista; • conheceu as principais características da primeira geração romântica; • analisou poemas da obra de Gonçalves Dias. • • • • Olá! O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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