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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras Disciplina: Linguística III Nome: Ana Gabriela Medeiros Polo: Nova Friburgo Matrícula:22113120011 AD2 – 2023.1 1. Na segunda parte do curso de Linguística III, concentramos os nossos estudos em uma perspectiva específica de estudos de linguagem: a Análise de Discurso de linha francesa. Com base em seus estudos sobre essa teoria, discorra sobre as três questões teóricas a seguir: a) A Análise de Discurso como disciplina de entremeio e o seu objeto de estudos, o discurso. O Acadêmico francês Michel Pêcheux, propôs, no final dos anos 60, em sua tese de doutorado, uma nova linha teórica: a análise do discurso. Essa disciplina é classificada como “de entremeio”, por estar situada entre duas áreas de estudo, a Linguística e as Ciências Sociais. Assim, essa abordagem questiona tanto a linguística estruturalista quanto as ciências sociais, buscando estabelecer uma relação entre elas. Enquanto a primeira muitas vezes deixa de considerar o sujeito e sua história no momento da análise linguística, as ciências sociais por vezes negligenciam a linguagem em seus estudos. Deste modo, a análise de discurso proposta por Pêcheux estabelece uma ponte entre a linguística e as ciências sociais, uma vez que se preocupa tanto com o estudo da língua e seus aspectos formais e funcionais quanto com a influência que os fatores sociais, culturais e históricos sobre a linguagem. Sendo assim, essa abordagem se situa no “entremeio” dessas duas áreas, buscando articular os conhecimentos produzidos por ambas e promovendo uma reflexão crítica sobre a relação entre linguagem, sujeito e sociedade. b) A crítica feita pela Análise de Discurso ao processo comunicacional e os consequentes deslocamentos propostos por essa disciplina. A Análise de Discurso questiona algumas abordagens da linguística, sobretudo, a tese do processo comunicacional, que, baseada nas ideias de Roman Jakobson, sugere a ideia de que a língua (código) é utilizada para transferir informações (mensagem) de um emissor para um receptor. A crítica a essa linha teórica decorre do fato de que ela supõe que os sentidos já estão presentes na língua, como um produto finalizado, e que a comunicação é um processo linear e objetivo. Entretanto, a Análise de Discurso propõe que os sentidos são construídos no próprio ato de fala e que a relação entre emissor e receptor é muito mais complexa do que uma simples transmissão de informação. Logo, a Análise do Discurso sugere uma série de deslocamentos em relação à concepção comunicacional da linguagem. A disciplina questiona a ideia de que o emissor e o receptor são sujeitos autônomos e independentes. Na perspectiva discursiva, os sujeitos são constituídos pela linguagem, assim suas identidades e posições são construídas no próprio ato de fala. Ademais, a Análise de Discurso propõe que a relação entre emissor e receptor não produz uma mensagem, mas sim discursos em movimento. Ou seja, os sentidos são construídos contingentemente e situada, a comunicação é sempre marcada pelas relações de poder e pelos contextos históricos e sociais em que ocorre. Em suma, a abordagem adere um posicionamento que caracteriza a linguagem como além de apenas um meio de comunicação, mas como um objeto de estudo em si mesmo. Isso implica que a disciplina se interessa não apenas pelos sentidos produzidos pelos discursos, mas também pelas estruturas e funcionamentos da própria linguagem e como ela é usada para criar sentidos e posições no mundo. c) As noções de sujeito e ideologia na Análise de Discurso e a relação entre elas “Ideologia. Eu quero uma pra viver” O conceito de ideologia conduz a crítica contida na letra da música de mesmo nome do ilustre cantor e compositor carioca Cazuza. O termo é concebido como algo idealizado, uma ideia, um proposito que norteia a vida dos indivíduos, tal ponto de vista é encontrado em diversas abordagens teóricas das ciências sociais e também no senso comum. Essa compreensão condiz com a etimologia da palavra, a qual é originada da soma de dois termos do grego antigo: idea (que significa aparencia ideal) e logos (que significa estudo). Todavia, para a análise do discurso, a ideologia assume uma concepção distinta das citadas acima, já que, essa linha de estudo ressignifica esse conceito, o caracterizando como um mecanismo necessário, um recurso, utilizado na produção de evidências que guiam o sentido rumo determinada direção. Para esse viés, a ideologia molda de maneira transparente, oculta, o discurso e os sentidos presentes nele, o que, consequentemente, influencia a maneira como sujeito interpreta a si mesmo, o mundo ao seu redor e como ele se expressa através da linguagem. De tal modo, a relação entre o sujeito e a ideologia é intrínseca e de caráter universal, que afeta a todos de maneira inconsciente. Logo, se impossibilita pensar em um sujeito que não seja influenciado pelas ideologias, afinal, as crenças e valores que perpassam as relações sociais estão presentes em todo discurso produzido. Sendo assim, conforme afirma Eni Orlandi, linguista brasileira, em seu livro Análise do discurso: princípios e procedimentos: “ideologia faz parte, ou melhor, é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos. O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer”. Em outras palavras, a ideologia é crucial para a existência do sujeito, pois determina os lugares de onde ele fala e as relações que estabelece com outros seres humanos e com o mundo, é ela que o constitui e determina o papel a ser ocupado por ele no discurso 2. Utilize o texto a capa da revista Época Negócios a seguir para responder às questões a e b: (2,0 pontos cada) a) Explique o que são as formações imaginárias e comente sobre a formação imaginária de pessoa bem sucedida na capa da revista, apontando as marcas textuais que sustentam a sua análise. Caracterizadas como um conceito fundamental na análise do discurso, as formações imaginárias surgem a partir da relação entre a linguagem e a ideologia e se referem às representações e imagens construídas através do discurso sobre sujeitos, práticas e fenômenos sociais. Essas formações são criadas e desenvolvidas no próprio discurso, através das escolhas linguísticas realizadas pelos falantes (a partir da articulação de diferentes elementos linguísticos, como palavras, expressões, estruturas sintáticas, entre outros) e das condições históricas, culturais e sociais nas quais o discurso é produzido. A compreensão das formações imaginárias presentes no discurso é crucial tanto para identificar a maneira pela qual um determinado discurso reproduz, legitima ou desafia as representações e ideologias presentes na sociedade, como para compreender como os sentidos são construídos discurso. Na capa da revista Época Negócios, a frase “Pessoas bem sucedidas também chegam lá” está expressa de maneira centralizada, tendo logo abaixo o desenho de uma placa escrito “burnout” colocada no topo de uma montanha. A formação imaginária desta ilustração e a fala expressa está relacionada a ideia de sucesso profissional e as consequências que, para alguns indivíduos, podem decorrer desta conquista. O texto brinca com a expressão “chegar lá” frequentemente utilizada na linguagem coloquial para representar êxito na carreira e a associa a Síndrome de Burnout, também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional, colocada no topo, como algo que é atingido no fim de um percurso. Esse transtorno está relacionado ao estresse, esgotamento físico e emocional provocado por situações de tensão, desgaste e excesso de demanda no ambiente de trabalho,e atinge diversas pessoas ao redor do mundo, estejam elas assumindo algum cargo e posição de poder ou não. Assim, ao realizar essa associação, a formação imaginária neste discurso apresenta o sucesso profissional como algo ligado a essa circunstância. Deste modo, a imagem criada para a “pessoa bem sucedida” está relacionada a alguém que pode sofre sobrecarga no trabalho, pressão para atingir determinado desempenho, passando, assim, por diversas situações estressantes que, por consequência, podem levá-la tanto ao sucesso quanto a desenvolver Burnout. b) Ao apresentar a noção teórica de memória, Orlandi (2001, p. 21) afirma: “A memória discursiva é trabalhada pela noção de interdiscurso: ‘algo fala antes, em outro lugar e independentemente’. Trata-se do que chamamos saber discursivo.” Na capa a seguir, explique o funcionamento da memória como interdiscurso Para a Análise do Discurso, a memória discursiva, também denominada interdiscurso ou memória do dizer, funciona como uma espécie de repositório, um banco de dados que retém informações utilizadas para a construção de um discurso. Com base nas experiências vividas pelo indivíduo ao longo da vida, os discursos já ouvidos e pronunciados, as informações que leu e escreveu, a memória discursiva armazena dados linguísticos e culturais que podem ser utilizados na constituição de um texto. Sendo assim, esses saberes armazenados no interdiscurso atuam como uma base que fundamenta o sentido das falas, dos discursos, produzidas pelos falantes. Conforme afirma a linguista Eni Orlandi, “o saber discursivo que permite todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já dito que está na base do dizível, sustentando cada tomada da palavra. ” Assim, o elaborar um discurso, o indivíduo recorre à sua memória discursiva para escolher os elementos mais apropriados para o contexto em questão. Essa escolha é influenciada por diversos fatores, como o propósito do discurso, o público-alvo, o tema abordado e as condições sociais, políticas e culturais nas quais o discurso é produzido. Essa característica pode ser identificada na capa da revista Época Negócios, A afirmação contida na frase “Pessoas bem-sucedidas também chegam lá” está ligada a um discurso muito propagado no cotidiano, que remete ao sucesso profissional, e à influência da determinação e da perseverança para atingi-lo, para “chegar lá”. Contudo, o termo “Burnout” expressa um discurso diferente, a síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um fenômeno cada vez mais comum em pessoas que trabalham muito e não conseguem lidar com a pressão e o estresse. Dessa forma, o sentido do discurso é direcionado para a preocupação com a saúde mental e física dos indivíduos que buscam o sucesso profissional a todo custo. Em suma, o sentido da associação feita na capa da revista só é possível, pois os elementos discursivos contidos nela também estão presentes em outros contextos, havendo então uma relação com os dados presentes na memória discursiva para atingir o seu objetivo semântico.
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