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Aula 04 - Romantismo - A poesia social e condoreira de Castro Alves

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LITERATURA BRASILEIRA II
A POESIA SOCIAL E CONDOREIRA DE 
CASTRO ALVES
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Características da terceira geração romântica; 2. a poesia social e
condoreira de Castro Alves; 3. a lírica amorosa castroalvina.
https://www.youtube.com/watch?v=3j8XoDSoA-E
Você percebe que eu-lírico pede ao albatroz as asas e desce progressivamente até divisar as cenas de horror?
Note que também o leitor é apresentado ao que ocorre no navio negreiro progressivamente, como se chegasse
pelo alto, junto com o eu-lírico.
Ainda, no pequeno trecho transcrito, observamos outra característica comum dessa geração e, principalmente,
castroalvina: o gosto pelas imagens grandiosas - "oceano", “espaço imenso" - o uso frequente de hipérboles e
metáforas grandiosas.
Nascido em um cenário de maior consciência política, o Condoreirismo exprime as angústias do poeta diante de
um contexto social manchado pela escravidão, que sustentava a estrutura agrário-latifundiária de nosso Brasil
monárquico.
https://www.youtube.com/watch?v=3j8XoDSoA-E
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Assim, por seu caráter grandiloquente, representado pela visão panorâmica dos fatos, pela voz do eu-lírico que
se levanta em nome de outros, resulta um enfoque menos individualista da realidade. No entanto, a emoção é
radicalizada aos extremos e, representada por imagens hiperbólicas da natureza, exprime os sentimentos
comprometidos com o real, justificando-se a sua inserção no período romântico literário.
Um poema representativo da fusão entre a consciência social e a subjetividade e emotividade próprias do
Romantismo é “Mater dolorosa”. Vamos ler?
Mater dolorosa
Deixa-me murmurar à tua ali
adeus eterno, em vez de lá chorar
sangue, chorar o sangue! meu
coração sobre meu filho; tu deves
morrer, meu filho, tu deves morrer.
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Nathaniel Lee
Meu Filho, dorme, dorme o sono eterno
No berço imenso, que se chama - o céu.
Pede às estrelas um olhar materno,
Um seio quente, como o seio meu.
Ai! borboleta, na gentil crisálida,
As asas de ouro vais além abrir.
Ai! rosa branca no matiz tão pálida,
Longe, tão longe vais de mim florir.
Meu filho, dorme como ruge o norte
Nas folhas secas do sombrio chão!
Folha dest'alma como dar-te à sorte?
É tredo, horrível o feral tufão!
Não me maldigas... Num amor sem termo
Bebi a força de matar-te a mim
Viva eu cativa a soluçar num ermo
Filho, sê livre... Sou feliz assim...
Ave - te espera da lufada o açoite,
- Estrela - guia-te uma luz falaz.
- Aurora minha - só te aguarda a noite,
- Pobre inocente - já maldito estás.
Perdão, meu filho... se matar-te é crime
Deus me perdoa... me perdoa já.
A fera enchente quebraria o vime...
Velem-te os anjos e te cuidem lá.
Meu filho dorme... dorme o sono eterno
No berço imenso, que se chama o céu.
Pede às estrelas um olhar materno,
Um seio quente, como o seio meu.
Ao apresentarmos o poema para a sua leitura, contextualizamos com a visita à Basílica de São Pedro, no
Vaticano, onde está a imagem “Pietá”, de Michelangelo.
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Observe a ilustração. Trata-se da representação do momento em que Maria sustenta, em seu colo, o filho Jesus,
após ter sido retirado da cruz. A expressão de dor é flagrante no olhar voltado para o corpo morto.
Ao mesmo tempo, podemos perceber uma semelhança entre essa posição e a que as mães utilizam para embalar
os seus filhos. O nome do tipo de canção que se usa entoar para ninar se chama “acalanto”.
Nele há uma referência inequívoca ao ato materno de embalar o bebê, no entanto esse bebê está morto. Sua mãe,
por temer que ele venha a passar por todos os sofrimentos da escravidão, retira-lhe a vida e pede-lhe perdão. O
eu-lírico, consternado pela atitude, que sabe ser contrária aos desígnios de Deus, emprega em sua defesa uma
passagem bíblica, em:
“Deus me perdoa... Me perdoa já.
A fera enchente quebraria o vime..."
Fazendo referência ao destino dado a Moisés, a mãe refuta a possibilidade de entregar o filho ao rio, em um
cesto, pois a força das águas quebraria o vime.
A ousadia do poeta se consubstancia na aproximação que faz entre Maria, mediante ao titulo “Mater dolorosa” -
como se denomina o momento em que a mãe de Jesus o recolhe da cruz - e a escrava que mata o filho para que
possa se salvar do destino de escravidão. Ambas mães entregam o corpo do filho morto aos céus, como se o
tivessem embalando, ninando pra o sono eterno.
Uma leitura contextualizada do poema, escrito em 1865, indica também a postura combativa de Castro Alves,
uma vez que a Lei do Ventre Livre foi promulgada, apenas, em 1871. Esta lei previa que, a partir dessa data, os
filhos de escravas seriam considerados livres.
No caso da obra de Castro Alves, segundo Luciana Stegagno-Picchio,
“Toda a obra[...] pode ser lida em chave social e política: porque até mesmo os versos mais
autobiográfica e intimistamente amorosos estão penetrados daquela consciência de pertencer a uma
humanidade dolorosamente coral que no lamento de um companheiro pode ouvir refletida a sua
própria dor individual” (STEGAGNO- PICCHIO, L. . 2.ed.e rev.RioHistória da Literatura Brasileira
de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. p.217)
A intensidade dos sentimentos e das emoções recebem, na lírica amorosa, um matiz novo: o da realização física.
De grande apelo e bastante ousados são os poemas cuja temática amorosa predomina.
Se na primeira e na segunda geração, o amor não pode ser realizado – seja devido aos obstáculos interpostos
pela relação desigual entre o eu-lírico e a mulher amada, alçada a um plano superior; seja pela impossibilidade
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física, pois o eu-lírico está à morte, ou dormindo, sonhando com um amor físico inatingível –, na terceira geração,
o amor ultrapassa os umbrais da culpa e do pecado.
http://www.jornaldepoesia.jor.br/calves02a.html#adormecida
Adormecida
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede enstada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
’Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor – tu és a virgem das campinas!
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Virgem – tu és a flor de minha vida!”
Note a sutileza das metáforas empregadas pelo poeta, pois mediante a sua integração com a natureza, torna
possível a realização amorosa. Aqui também, vale acrescentar, a vivacidade da cena é conquistada pela
genialidade descritiva de Castro Alves, proporcionando ao leitor a experiência de tornar-se um observador,
tocado pela pureza e “inocência” da cena.
Dificilmente podemos afirmar que os poetas, apresentados como representantes do Romantismo brasileiro,
tenham participado de apenas uma geração; e por isso torna-se igualmente improvável demarcar,
cronologicamente e com rigor, os três momentos.
O que importa saber, de fato, é que o Romantismo é um período riquíssimo, em quantidade e variedade de obras,
e a produção poética desse período encontrará repercussão até os nossos dias.
O que vem na próxima aula
• Reação antirromântica;
• fundamentação do novo gosto;
• emergência de uma nova estética.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu as principais características da Terceira GeraçãoRomântica;
• aprendeu o significado do termo “condoreirismo;
• analisou poemas de Castro Alves.
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	Olá!
	
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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