Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CUSTOMER EXPERIENCE Ricardo da Silva e Silva Customer experience no ambiente digital Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o que é customer experience. Identificar como criar e melhorar a experiência do consumidor. Analisar as características da customer experience digital. Introdução A experiência do cliente no contato com a empresa é muito importante para a construção e a manutenção de um relacionamento. Tal experiência deve ser positiva, tanto nos ambientes físicos quanto nos espaços digitais. A empresa deve criar uma customer experience que abranja todas as interações com a sua clientela. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos que sustentam a teoria da customer experience, verificando também quais são as melhores estra- tégias de criação de boas experiências para o consumidor nos ambientes físicos e digitais. 1 Customer experience: conceitos Em um cenário de extrema competitividade empresarial e de grandes avanços tecnológicos, as relações de consumo também sofrem alterações. Atualmente, é de grande importância para os consumidores a qualidade da experiência em todos os momentos em que há interação com as empresas. A qualidade nos serviços prestados não é mais um diferencial, e sim uma obrigação por parte das organizações. Kotler e Keller (2009) afirmam que os avanços tecnológicos fazem com que o cliente hoje deseje muito mais do que apenas adquirir um produto ou serviço. Segundo os autores, o centro da estratégia organizacional não é mais a alta gestão da empresa, e sim o cliente. A Figura 1 mostra que há uma inversão da pirâmide organizacional nas empresas com estratégias centradas no cliente. Figura 1. Comparação entre a pirâmide organizacional tradicional e a pirâmide organiza- cional centrada no cliente. Fonte: Keller e Kotler (2014, p. 130). O conceito de customer experience surge amparado nesse pensamento, envolvendo a compreensão de que deve haver o engajamento do cliente, o alongamento da relação e, por consequência, a extensão do ciclo de vida da sua relação com a empresa. Uma estratégia customer experience visa à satisfação plena do cliente, devendo haver interação entre consumidor e empresa em todos os momentos, segundo Schimitt (2004). As estratégias a serem implementadas para que a relação do cliente seja uma experiência significativa e positiva incluem elementos do marketing e seus aspectos relacionais. McKenna (1999, p. 80) corrobora com esse conceito e afirma que: O marketing de relações é essencial ao desenvolvimento de liderança, fi- delidade do consumidor e rápida aceitação de novos produtos e serviços no mercado. A criação de relações sólidas e duradouras é uma tarefa árdua, de difícil manutenção. Mas acredito que, em um mundo onde o cliente tem tantas opções, mesmo em segmentos limitados, uma relação pessoal é a única forma de manter a fidelidade do cliente. Assim, construir experiências significativas torna possível que as orga- nizações alcancem seus objetivos, a partir da lealdade dos consumidores. Customer experience no ambiente digital2 Modelos teóricos de customer experience Há uma gama de teóricos que abordaram o conceito de customer experience, apontando diferentes perspectivas e modelos teóricos sobre a temática. O Quadro 1 mostra a evolução das teorias do customer experience, apresentando os diferentes teóricos, o ano em que cada estudo foi apresentado e o foco de cada modelo. Fonte: Adaptado de Oliveira (2019). Teórico Ano Foco do modelo Pine II e Gilmore 1998 Serviços usados como palco e produtos como apoio para engajar os consumidores em eventos memoráveis, pelos quais a organização pode cobrar Novak, Hoffman e Yiu-Fai 2000 Modelo de customer experience on-line, que sugere que uma experiência de cliente on-line convincente está positivamente correlacionada com usos divertidos, recreativos e experienciais da web Prahalad e Ramaswamy 2004 Modelo para criação de valor envolvendo o conceito de cocriação e experiência do cliente Gentile, Spiller e Noci 2007 Expande o conjunto de elementos provedores de experiência proposto por Schmitt, incluindo aspectos pragmáticos, de estilo de vida e de relacionamento Verhoef, Lemon, Parasuraman, Roggeveen, Tsiros e Schlesinger 2008 Modelo com foco em varejo, que captura um aspecto dinâmico da customer experience, representado por experiências prévias, e que também destaca variáveis moderadoras importantes, como a atitude do consumidor, o seu grau de envolvimento, as suas características sociais, bem como as variáveis situacionais Nasution Sembada, Miliani, Resti e Prawono 2014 Foca na jornada do consumidor enquanto ele acumula percepções e respostas a partir de cada ponto de contato com o provedor de serviços Ding e Tseng 2015 Customer experience é efetivo para estimular lealdade à marca, por meio de emoções hedônicas e dimensões cognitivas de brand equity Peppers e Rogers 2017 Modelo IDIC (identificar, diferenciar, interagir e customizar) dentro do contexto da customer experience Quadro 1. Evolução dos modelos teóricos de customer experience 3Customer experience no ambiente digital Em relação à compreensão do conceito de customer experience, existe ainda outro elemento indispensável a ser observado: as dimensões da experiência do consumidor. Pine II e Gilmore (1998) apontam quatro diferentes dimensões para a construção dessa experiência, e cada uma delas representa uma etapa em que o cliente parte de agente passivo para agente ativo no processo de relacionamento e engajamento pessoal com as organizações. Dimensão 1: dimensão do entretenimento, em que a experiência é absorvida de forma passiva pelos clientes. Dimensão 2: dimensão estética, em que o cliente está imerso na expe- riência, mas em um estado passivo. Dimensão 3: dimensão educacional, em que o cliente compreende e absorve a experiência de maneira passiva, mas exige a participação ativa para aumentar o conhecimento e desenvolver habilidades. Dimensão 4: dimensão escapista, em que há a participação e o envol- vimento ativo do consumidor de forma imersiva. A Figura 2 apresenta as diferentes dimensões abordadas por Pine II e Gilmore (1998), que resultam da relação entre os diferentes níveis de envolvimento e os tipos de conexão existentes. A relação entre essas variáveis posiciona o consu- midor nas diferentes dimensões do relacionamento entre empresa e consumidor. Quanto mais ativo e imerso, mais envolvido e engajado estará esse cliente. Figura 2. Mapa das dimensões de customer experience. Fonte: Adaptada de Oliveira (2019). Educacional Tipo de conexão Absorção Imersão Escapista Entretenimento Estético Pa ss iv o A tiv o N ív el d e en vo lv im en to Customer experience no ambiente digital4 Pine II e Gilmore (1998) afirmam que as experiências de imersão passiva (estética) incorporam elementos diferentes das experiências de imersão ativas (escapismo), e que as de imersão ativas podem diferir da absorção ativa (edu- cação) mesmo que os limites sejam tênues. As diferenças mais significativas estão entre o escapismo e o entretenimento, bem como entre a educação e a estética; surgem em diagonal no diagrama e funcionam como opostos. A compreensão do conceito de customer experience é necessária para definir estratégias e boas práticas de experiências significativas para clientes, tanto no ambiente físico quanto no virtual. No decorrer deste capítulo, serão apresentadas estratégias para a criação desse tipo de experiência. 2 Criação de experiência do consumidor Para a criação de uma experiência signifi cativa para o consumidor, os elementos teóricos devem ser transportados para a prática, transformando a compreensão de como criar momentos engajadores com os clientes em boas práticas no contato com os diferentes públicos da empresa. Conforme Oliveira (2019), há uma série de elementos que possibilitam a criaçãode uma experiência positiva: sentimentos em relação à marca, por meio da tematização, de fantasias e de imagens que despertam no consumidor um sentimento em relação ao produto; diferenciação do cliente, utilizando os estilos de vida como estratégias para a criação de personas — isto é, a criação de uma pessoa com ca- racterísticas fictícias de um cliente real, para que a organização possa alinhar experiências a fim de atender expectativas; comunicação e interação, por meio de diversos canais, de forma per- sonalizada e individualizada; uso de jogos que permitam experiências divertidas — as experiências gamificadas estimulam o engajamento dos clientes; observância de métricas pró-consumo para medir a experiência do cliente; customização e adaptação da experiência do cliente, por meio do mapea- mento da experiência do cliente e das experiências prévias acumuladas; estética do produto, como embalagem, design etc.; acompanhamento da jornada do consumidor nas etapas de pré-venda, pós-venda e consumo; usabilidade do produto — a experiência na utilização do produto serve para aprimorar a experiência do cliente. 5Customer experience no ambiente digital Esses elementos podem ser adaptados conforme as peculiaridades do negócio e os diferentes perfis de clientes, a fim de aprimorar a experiência do cliente. Sucesso do cliente Uma das estratégias para criar experiências positivas entre clientes e empresas é o sucesso do cliente, ou customer success. Nessa metodologia, há o acom- panhamento do cliente para que todos os seus objetivos sejam atingidos em todas as interações com a empresa. Em uma estratégia desse tipo, é necessário mapear e compreender as neces- sidades dos clientes em todos os momentos de interação com a empresa. Para Ferreira e Sganzerlla (2000, p. 16), “[…] conhecer o cliente e suas necessidades torna-se uma tarefa cada vez mais desafiadora e complexa, uma vez que os consumidores também estão se tornando mais exigentes e diversificados”. A Figura 3 apresenta o método para implementação de uma estratégia de sucesso do cliente. A primeira etapa é uma das etapas mais importantes do processo, pois contempla a decisão de adquirir ou não um produto ou serviço. Os empreendedores devem saber por que o cliente compra os produtos e ser- viços da empresa, o que ele espera das interações com a organização e, ainda, em que momento podem ocorrer desistências na aquisição de um produto. Na segunda etapa ocorre a adoção de valor, em que o cliente, já fazendo uso dos produtos e serviços, oferece feedback e mantém interações com a empresa. A terceira etapa é a etapa do crescimento, em que são ofertados novos produtos e experiências, expandindo a relação com o cliente. A última etapa é a etapa de fechamento ou renovação; nessa etapa, é necessário medir a experiência do cliente com a empresa. Figura 3. Modelo de estratégia de customer success. Fonte: Adaptada de Alder (2016). Implementação Adoçãode valor Crescimento Fechamento e renovação Customer experience no ambiente digital6 O sucesso do cliente é uma estratégia que visa a estreitar laços entre empresas e consumidores, por meio do mapeamento da experiência dos clientes. 3 Customer experience no ambiente digital O conceito de customer experience pode ser aplicado ao ambiente digital; nesse sentido, devem ser ampliadas também as formas e os canais de comunicação e a interação com os consumidores. Em uma estratégia customer experience no ambiente digital, deve ser oportunizada ao cliente uma gama de alternativas de interação, no sentido de minimizar insatisfações e aumentar sua lealdade. Conforme Chen et al. (2008), a criação de uma experiência positiva do cliente com uma empresa no ambiente digital envolve alguns elementos, como os sentidos dos consumidores, a interação, o prazer proporcionado no contato com a empresa e o relacionamento com os demais clientes, gerando um sentido de comunidade. Isso ocorre tanto nas interações de compra como nas demais interações entre cliente e empresa, propiciando a lealdade do cliente. A Figura 4 mostra que a interação do usuário pode possuir interesse econômico ou ocorrer por conveniência; as organizações devem criar estratégias customer experience para ambos os tipos de contato. Figura 4. Gestão da experiência com o cliente. Fonte: Adaptada de Borges et al. (2014). Elementos da gestão da experiência virtual do cliente • Sentidos • Interação • Relecionamento em comunidade • Prazer • Estado de fluxo • Orientação econômica • Orientação por conveniência • Experiência prévia no uso da internet Intenção de comprar on-line Lealdade do cliente Moderadores Intenção de navegar on-line 7Customer experience no ambiente digital Os elementos de uma experiência virtual do cliente — sentidos, interação, prazer e relacionamento em comunidade — servem como guia para a cria- ção de boas práticas em experiências para os consumidores, especialmente no contato on-line com uma empresa. Conforme o site Mutant (2019), para oferecer uma customer experience no ambiente digital, podem ser aplicadas as seguintes práticas: compreensão da jornada do cliente — a organização deve compreender quem é o seu cliente e a sua jornada; integração de dados — reunir os dados dos diferentes pontos de contato entre empresa e clientes; criação de diversos touchpoints — os touchpoints são os diferentes pontos de contato do cliente com a empresa, que permitem a interação do usuário, minimizando descontentamentos e aumentando a satisfação do cliente. As estratégias e boas práticas de customer experience no ambiente digital possibilitam criar uma grande quantidade de formas de interação com os clientes. Em todas elas, deve haver a intenção de criar experiências positivas para os consumidores. User experience A customer experience no ambiente digital está diretamente relacionada à experiência do usuário, ou user experience. A experiência do usuário está relacionada a toda experiência que o consumidor tem no espaço digital, em todos os touchpoints que a empresa possui. Norman (2006) afi rma que a user experience representa as múltiplas áreas de um produto ou serviço em que há interação com o cliente. Para Vidal (2018, documento on-line): User experience não é oferecer experiências como recompensa, é planejar a experiência da experiência. É pensar em como deixar uma sensação positiva causada por um evento exclusivo, por uma viagem, por uma mensagem per- sonalizada, pela navegação em um site ou aplicativo, pelo atendimento com carinho e atenção, que é o que marca a vida das pessoas. A experiência do usuário no ambiente digital, no contexto atual, repre- senta um importante elemento nas relações entre empresas e consumidores, Customer experience no ambiente digital8 proporcionando que a criação de canais e estratégias para a interação com clientes seja significativa e engajadora. ALDER, B. The 4 Fold Mission of Customer Success. 2016. Disponível em: https://www. business2community.com/customer-experience/4-fold-mission-customer-suc- cess-01705621. Acesso em: 30 mar. 2020. BORGES, F. R. B. et al. Qualidade em serviços e gestão da experiência do cliente no comércio eletrônico. Disponível em: https://periodicos.uff.br/pca/article/down- load/11173/7969. Acesso em: 15 de março 2020. CHEN, J. et al. Virtual experiential marketing on online customer intentions and loyalty. In: HAWAII INTERNACIONAL ON SYSTEM SCIENCES, 41., 2008, Waikoloa. Anais eletrônicos [...]. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.133.496 7&rep=rep1&type=pdf. Acesso em: 30 mar. 2020. FERREIRA, S.; SGANZERLLA, S. Conquistando o consumidor: o marketing de relaciona- mento como vantagem competitiva das empresas. São Paulo: Gente, 2000. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson, 2009. MCKENNA, R. Marketing de relacionamento. São Paulo: Campus, 1999. MUTANT. Digital customer experience:tudo sobre experiência digital do seu cliente. 2019. Disponível em: https://mutantbr.com/blog/digital-customer-experience/. Acesso em: 30 mar. 2020. NORMAN, D. A. O design do dia a dia. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2006. OLIVEIRA, M. C. Aplicação de customer experience: um estudo com foco no setor au- tomotivo no Brasil. 2019. 168 f. Tese (Doutorado em Administração) — Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-31052019- 153238/. Acesso em: 30 mar. 2020. PINE II, B. J.; GILMORE J. H. Welcome to the experience economy. Harvard Business Review, v. 76, p. 97–105, jul./ago.1998. Disponível em: https://hbr.org/1998/07/welcome-to-the- -experience-economy. Acesso em: 30 mar. 2020. SCHIMITT, B. H. Gestão da experiência do cliente: uma revolução no relacionamento com os consumidores. São Paulo: Bookman, 2004. VIDAL, M. UX: Mais empatia e compaixão na era da experiência. 2018. Disponível em: https://tudosobreincentivos.com.br/ux/. Acesso em: 30 mar. 2020. 9Customer experience no ambiente digital Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Customer experience no ambiente digital10
Compartilhar