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- -1 Responsabilidade na gestão pública fiscal Marcelo Huber Introdução Olá, caro aluno! Bem-vindo à Unidade Temática 3 que trata de gestão fiscal responsável. Certamente você já ouviu inúmeras vezes sobre a Lei de Responsabilidade Social (LRF); mas sabe por que ela foi criada e qual a sua importância? De que modo inovou as finanças públicas? Questões como essas serão tratadas neste tema. Vamos focar a responsabilidade na gestão pública fiscal, com ênfase nessa lei criada em 2000. A intenção é identificar o que ela trouxe de novo nesse campo, seu impacto em relação ao modo como gestores públicos tomam decisões e os limites de gastos que foram definidos. Vamos também analisar e entender os efeitos da LRF (Lei Complementar n. 101/2000) na arrecadação e nas despesas públicas e principalmente no endividamento. Pronto para começar? Mãos à obra e bons estudos! Ao final desta aula, você será capaz de: • discutir a Lei de Responsabilidade Fiscal; • compreender a importância da Lei de Responsabilidade Fiscal. 1. Lei de Responsabilidade Fiscal A Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), foi criada com o intuito de ser a norma que os gestores públicos devem seguir – presidente da República, governadores e prefeitos – em relação à área financeira e patrimonial. No caso de descumprimento, serão punidos – dependendo da situação, com penas graves como cassação, perda de direito político ou até prisão. • • - -2 Figura 1 - LRF estabelece regras de controle orçamentário Fonte: Sebastian Duda, Shutterstock, 2020. As regras de controle do orçamento já existiam anteriormente à LRF. A Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF) assim dispõe no art. 163 do capítulo II: Art. 163. Lei complementar disporá sobre: I – finanças públicas; II – dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; III – concessão de garantias pelas entidades públicas; IV – emissão e resgate de títulos da dívida pública; V – fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; VI – operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII – compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. (Brasil, 1988) Como podemos observar nesse artigo, havia necessidade de uma lei complementar. Como ela não existia, o controle das contas públicas era fraco e não acontecia nenhuma punição aos gestores. A LRF, além de regulamentar o art. 163 da CF, determinou aos gestores um regramento, ou seja, um limite de FIQUE ATENTO A LRF veio em hora certa, pois no ano de 2000 o nível de endividamento foi muito alto – tanto na União quanto nos estados e nos municípios –, e com a imposição dos limites de captação de recursos via operações de credito os gestores precisaram rever suas despesas. - -3 A LRF, além de regulamentar o art. 163 da CF, determinou aos gestores um regramento, ou seja, um limite de despesas com o funcionalismo público – tanto o quadro de inativos quando o de inativos –, conforme art. 169 da Carta Magna: "Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar” (Brasil, 1988). 2. Histórico, Disposições Preliminares e abordagem de conceitos importantes Neste tópico, vamos apresentar brevemente o histórico da Lei de Responsabilidade Fiscal e Disposições Preliminares, além de abordar também conceitos importantes a tal dispositivo legal. 2.1 Histórico A Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo uma normativa para os gastos dos gestores, foi criada com base em exemplos bem-sucedidos de leis internacionais de controle de gastos públicos, absorvendo princípios e normas internacionais e, assim, moldando seus artigos para um controle mais eficaz. Podemos dizer que ela foi baseada em exemplos do Fundo Monetário Internacional (FMI), Nova Zelândia e Comunidade Europeia. Figura 2 - Desafio dos gestores é administrar corretamente gastos públicos Fonte: Lisa-S, Shutterstock, 2020. A preocupação com o controle das contas públicas já vinha de anos antes da LRF com a Lei n. 9.496/1997, pela qual os estados e o Distrito Federal passaram suas dívidas mobiliárias para a União com a assinatura do “Programa de Reestruturação e de Ajuste Fiscal”. Este consistia em estabelecer, por exemplo, metas sobre os resultados primários, controle da dívida financeira sobre a receita líquida real, controle e limite para gastos com funcionalismo e outros ajustes fiscais. Esses controles foram preparações para a LRF que viria em meados de 2000. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#art169 - -4 2.2 Disposições Preliminares Dentro de nosso estudo, podemos ver que a LRF tem por objetivo controlar o endividamento público. Isso só é possível ser feito com austeridade fiscal e financeira, ou seja, somente gastar o que se arrecada. Hoje em dia, com os controles financeiros existentes, um gestor público – seja presidente, seja governador, seja prefeito – possui quase instantaneamente as informações da posição financeira do segmento que administra. De posse desses dados, pode tomar as decisões para conseguir o superávit primário (receitas fiscais são maiores que despesas) e, com esse saldo, pagar os juros e encargos da dívida e também – caso haja sobra – amortizar a dívida mobiliária, se enquadrando, assim, à lei. Conforme comenta Nascimento (2014, p. 217), a “[...] LRF traz uma nova noção de equilíbrio para as contas públicas: o equilíbrio das chamadas ‘contas primárias’, traduzidas no resultado primário equilibrado”. Portanto, conforme destaca esse autor, a Lei de Responsabilidade Fiscal trata do equilíbrio primário, ou seja, prima pelo superávit primário da equação receita menos despesa. 2.3 Abordagem de conceitos importantes Perante a LRF, o conceito mais importante é o da Receita Corrente Líquida (RCL), que é a composição das receitas correntes, isto é, a soma das receitas tributárias (impostos), contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes etc. e também os valores decorrentes da Lei Kandir e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Para o cálculo efetivo da RCL, temos algumas deduções como: • referente à União, os valores transferidos aos estados; • referente aos estados, as parcelas entregues aos municípios; • referente a União, estados e municípios, a contribuição dos servidores à Previdência Social e receitas FIQUE ATENTO A LRF foi criada com o intuito de reduzir a dívida pública que estava se tornando impagável e fora de controle por parte dos gestores no que se referia aos gastos. Isso porque quando não conseguiam pagar as despesas fixadas, pois não havia arrecadação suficiente, se utilizavam da rubrica “Restos a Pagar” e empurravam a “conta” para o sucessor, que já começava o mandato sem dinheiro. SAIBA MAIS Para entender mais sobre o que Receita Corrente Líquida e como, por meio dela, a LRF estabelece os percentuais limites de gastos dos governos federal, estaduais ou municipais, vale conferir o site do Tesouro Nacional Transparente. • • • - -5 • referente a União, estados e municípios, a contribuição dos servidores à Previdência Social e receitas provenientes da compensação financeira. Figura 3 - Limites de gastos definidos pela LRF precisam ser respeitados pelos gestores Fonte: People Images, iStock.com, 2020. A LRF estipulou os limites de gastos mediante percentuais de arrecadação da RCL. Como exemplo, vamos ver os percentuais destinados a gastos com funcionalismo público: • no governo federal – 50% da RCL (40,9% para o Executivo, 6% para o Judiciário, 2,5% para o Legislativo e 0,6% para o Ministério Público); • nos estados –60% da RCL (49% para o Executivo, 6% para o Judiciário, 3% para o Legislativo e Tribunal de Contas e 2% para o Ministério Público); • nos municípios – 60% da RCL (54% para o Executivo e 6% para o Legislativo e Tribunal de Contas do Município, se houver). 3. A importância da responsabilidade fiscal Com a entrada em vigor da LRF, a qual impôs limites aos endividamentos, os governos e respectivos gestores precisaram fazer reformas, ou seja, enxugamentos nas despesas de seus órgãos, visto que tiveram que aderir aos percentuais de gastos calculados pela Receita Líquida Corrente, estipulados pela lei. Para obtenção de operações de crédito com vistas à rolagem da dívida, também foi imputado um percentual de 16% da RCL, limitando também o pagamento de juros e amortizações e encargos da dívida consolidada em 11,5%. • • • • - -6 Outro ponto muito importante da responsabilidade fiscal é o chamado . O gestor geralmenteRestos a Pagar estimava uma receita orçamentária muito maior que arrecadava, assim sempre faltava caixa para honrar todas as despesas fixadas; então, como as despesas não eram pagas no exercício a que pertenciam, eram lançadas na rubrica “Restos a Pagar”. Isso popularmente era conhecido como , e geralmente essasrolagem da dívida despesas não eram pagas no seu mandato, recaindo para o governo seguinte. Entretanto, a LRF vedou esse tipo de rubrica no último ano de mandato, ou seja, o gestor deverá honrar as despesas fixadas, sob pena de se ser enquadrado na Lei n. 10.028/2000 (Lei de Crimes Fiscais), se não o fizer. Figura 4 - Cumprimento da LRF é essencial para as finanças públicas Fonte: Global_Pics, iStock.com, 2020. Por fim, a Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe aos cidadãos brasileiros uma gestão pública transparente, em que as contas públicas podem ser acessadas por nós via portal da transparência ou outros meios. EXEMPLO A LRF veio para controlar as contas públicas, ou seja, não deixar gastar mais do que se ganha e, se possível, conseguir uma reserva monetária. Um exemplo prático em nossas vidas é o fluxo de caixa: o valor que recebemos a título de remuneração – seja salário, seja outro tipo de provento – precisa ser maior do que nossas despesas para que ele seja positivo, ou seja, sobrar dinheiro. - -7 Fechamento Neste tema, você pôde conhecer a Lei de Responsabilidade Fiscal, que entrou em vigor em 04 de maio de 2000, trazendo inovações no controle dos gastos públicos, impondo um controle austero e condicionando-os à capacidade de arrecadação. Um dos pontos principais da criação da lei é, de certa forma, acabar com a rubrica “Restos a Pagar”, em que o gestor no final de seu mandato deixava a conta para o sucessor. Vimos também que a LRF impôs limite aos gastos, estipulando percentuais para tal com base na Receita Corrente Líquida. Caso o gestor não os cumpra, pode ser penalizado. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2020.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. , Poder Legislativo, Brasília, 5Diário Oficial da União maio 2000. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2020.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm CORBARI, E. C.; MACEDO, J. de J. Controle interno e externo na Administração Pública. Curitiba: Intersaberes, 2012. GIACOMONI, J. Orçamento Público. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2017. NASCIMENTO, E. R. Gestão Pública. 3. ed. 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Lei de Responsabilidade Fiscal LRF estabelece regras de controle orçamentário 2. Histórico, Disposições Preliminares e abordagem de conceitos importantes 2.1 Histórico Desafio dos gestores é administrar corretamente gastos públicos 2.2 Disposições Preliminares 2.3 Abordagem de conceitos importantes Limites de gastos definidos pela LRF precisam ser respeitados pelos gestores 3. A importância da responsabilidade fiscal Cumprimento da LRF é essencial para as finanças públicas Fechamento Referências