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VULVOVAGINITES → Quadro mais frequente em atendimento ginecológico. → Sintomas e sinais com grande repercussão para a vida da mulher. → Diagnóstico assertivo requer empenho e comprometimento do clínico. → Diagnóstico com base na anamnese exclusiva é insuficiente. → 3 tipos de vulvovaginites: VAGINOSE BACTERIANA, CANDIDÍASE (acometimento da genitália exterior) e TRICOMONÍASE. o Acometimento da genitália interior: vaginose e tricomoníase. ANAMNESE → CORRIMENTO precisa de algumas características para ser classificado como vulvovaginite: quantidade, intensidade, aspecto, cor, odor (peixe podre), prurido. o Diferenciar do muco cervical normal (serve de proteção para vagina) - muda de características a depender do ciclo menstrual (período ovulatório - clara de ovo) e pode ficar amarelo (oxigênio altera a cor). o Odor pode não ser sentido no exame ginecológico, logo, é realizado um TESTE DAS AMINAS ou DE WHIFF para analisar esse odor: • Em pH vaginal básico, as aminas aromáticas (CADAVERINA e PUTRESCINA; são constituintes da microbiota vaginal normal) se tornam voláteis, caracterizando o cheiro de peixe podre. • 2 gotas de HIDRÓXIDO DE POTÁSSIO (KOH) ao conteúdo vaginal e se aminas presentes, exala-se o odor característico. o pH vaginal normal: 4,5 a 5 (ácido). → Ardor, dispareunia (dor a relação sexual), disúria (dor, queimação, ardência ou desconforto durante ou após o ato de urinar). → Sinais inflamatórios: eritema, edema e úlceras. MICROBIOTA VAGINAL → É dividida em 5 grupos (ESTADOS DE COMUNIDADE - CSTs) em mulheres pré- menopausadas: o 4 são dominados por espécies de LACTOBACILOS (sem diversidade de espécie e são uniformes): protegem a microbiota vaginal. o 1 é dominado por BACTÉRIAS ANAERÓBIAS (Prevotella, Dialister, Atopobium, Gardnerella, Megasphera, Anaerococus, Streptococos e Sneathia - desenvolvem-se em pH básico): não é tão protetor. → CST I: composta predominantemente por L. crispatus. → CST II: L. Gasseri. → CST III: L. iners (não protege tão bem a microbiota vaginal quanto os demais, pois permite a colonização pelas bactérias anaeróbicas). o Permite transição de colonização para CST IV, sugerindo que L. iners pode ser menos capaz de inibir a colonização de anaeróbios e patobiontes estritos. → CST IV: estado de diversidade com níveis mais baixos de Lactobacilos; dominada por bactérias anaeróbias. → CST V: L. jenseii. FATORES QUE INFLUENCIAM A COMPOSIÇÃO DA MICROFLORA VAGINAL NORMAL → Etnicidade e genética: mulheres caucasianas e asiáticas possuem uma maior prevalência de Lactobacillus spp. como microbiota dominante, comparada às mulheres hispânicas e negras. → Práticas higiene como as duchas vaginais: alteram a microbiota vaginal e o pH vaginal. → Fases da vida: relação com hormônios - pior na pós menopausa. o No período do climatério, células superficiais e intermediárias estão diminuídas (ricas em glicogênio) → não há transformação desse glicogênio em ácido lático pelos lactobacilos que produzem a acidez vaginal normal → CST IV prevalece (preferência por pH básico ou alcalino). o Na infância também não há acidez vaginal, logo prevalece CST IV. → Fases do ciclo menstrual: pior pós menstrual - ↓ hormônios e presença de sangue; melhor pico de estrogênios (estimula o depósito de glicogênio nas células epiteliais vaginais). o Prevalece colonização por bactérias anaeróbicas (CST IV). → Contracepção hormonal: ↑ Lactobacilos e < diversidade da flora (CST I, II, III e V). → Fumo e relação sexual: ↓ Lactobacilos e > diversidade flora (CST IV). LACTOBACILOS SPP. → Possuem potenciais fatores de proteção contra a aquisição e persistência do HPV e desenvolvimento e progressão da NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL (NIC). o Manutenção da função de barreira epitelial cervical que inibe a entrada do HPV e permanência desse vírus nos queratinócitos basais. → Manutenção de baixo pH (ácido): enzimas capazes de fermentação de glicogênio, produzindo grandes quantidades de ácido láctico (garante acidez fisiológica normal da vagina). o Ambiente ácido: inibição crescimento várias espécies potencialmente patogênicas (anaeróbicas) e fornece suporte ideal para a função metabólica celular do colo útero e da vagina. → Produção de BACTERIOCINAS: proteínas viricidas, bactericidas ou bacteriostáticas. → Produção de PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO (H2O2) com propriedades antibacterianas e antivirais. → Exibem efeitos citotóxicos em células tumorais cervicais in vitro, independente do pH e ácido lático, sem os mesmos efeitos sobre as células cervicais normais. → Produção de numerosos outros peptídeos protetores e metabólitos capazes de inibir o crescimento bacteriano, a adesão e a ruptura de biofilmes (forma de proteção das bactérias aos ATB). MICROBIOTA VAGINAL E HPV / NIC / CÂNCER CERVICAL → Mulheres positivas para HPV apresentam maior diversidade de espécies e significativamente menos Lactobacillus spp. → Mulheres com CST III e IV estão frequentemente relacionados com a presença de HPV e desenvolvimento de doença cervical pré-invasiva. o CST II poderia estar associado com mais rápida eliminação da infecção pelo HPV. o CST III frequentemente predomina na presença de infecção por HPV e NIC - CST muito instável (transição para CST IV). o Taxa de CST IV esteve aumentado 2 vezes em mulheres com LIEBG (LESÃO DE BAIXO GRAU), e 3 vezes em mulheres com LIEAG (LESÃO DE ALTO GRAU) e 4 vezes em mulheres com doença invasiva (CA de colo de útero). VAGINOSE BACTERIANA → VAGINOSE BACTERIANA (CST IV) é um distúrbio caracterizado por aumento da diversidade de espécies bacterianas (anaeróbios) e diminuição de lactobacilos. o Gardnerella vaginalis é mais comum. → Associada com morbidade reprodutiva grave e significativa, incluindo doença inflamatória pélvica (DIP), abortamento e parto prematuro. → Associada a maior aquisição de ISTs (agentes como C. trachomatis e N. gonorrhoeae) e transmissão do HIV, no entanto, não é considerada IST, logo, não precisa tratar parceiro. → Processo inflamatório praticamente ausente, logo VB isolada não causa disúria ou dispareunia. o Termo antigo: VAGINITE BACTERIANA (radical ite - relacionado a processo inflamatório, logo, é um termo incorreto atualmente). → Odor vaginal fétido costuma aparecer depois da menstruação ou depois da relação sexual. → 50% das pacientes podem ser assintomáticas. QUADRO CLÍNICO → Se baseia nos critérios de Amsell: presença de 3 desses 4 critérios, conferem o diagnóstico de vaginose bacteriana. 1. Corrimento vaginal: fluido, branco- acinzentado / esverdeado, bolhoso, quantidade variável (se volumoso, é menos do que na tricomoníase) acompanhado de graus variados de hiperemia vulvovaginal (observado durante o exame especular - deve se descrever conteúdo vaginal). 2. Teste das aminas (Whiff test) positivo: voláteis em pH básico, dando origem ao odor de peixe podre. 3. pH vaginal: ≥ 4,5 (básico). 4. Presença das células-guia/chave “clue cells” no exame a fresco ou no Gram. • Gardnerella vaginalis se prende ao redor das células epiteliais vaginais - parede vaginal (patognomônico de vaginose bacteriana). DIAGNÓSTICO → PCR (custo elevado): boa sensibilidade e especificidade. → A cultura não é útil. → Critérios de Amsell. → Critérios de Nugent (Gram). TRATAMENTO → Droga de escolha: METRONIDAZOL (comprimido ou creme - mesma eficácia). o Pode usar em gestantes: ≥ 12 semanas (via vaginal). o Em forma de gel (mais preferido com maior aderência à mucosa vaginal) ou creme. o 500 mg VO 12/12h por 7 dias o Gel 0,75% - 5g intravaginal ao deitar por 5 dias. → CLINDAMICINA: creme 2% - VV (via vaginal) por 7 noites. TRATAMENTO ALTERNATIVO → TINIDAZOL é utilizado quando alergia a metronidazol. o 2g VO duas vezes ao dia por 2 dias o 1g VO uma vez ao dia por 5 dias → Clindamicina 300mg VO 12/12h por 7 dias VAGINOSE BACTERIANA X NIC → Promove persistência e aquisição do HPV e redução da eliminação desse vírus. → Aminas formam nitrosaminas em combinação com nitritos locais → compostos carcinogênicos capazes de danificar as células epiteliais. → Ausência de H2O2 (lactobacilos produzem): diminui defesa contra tumores. CANDIDÍASE → Relacionado a pH ácido. → C. albicans é mais comum (85 a 95% dos casos). → Aumento da incidência por outras espécies que não a albicans (C. globrata, C. tropicalis, C. pseudotropicalis, C. stellatoidea, C. krusei e C. guilliermondi) devido automedicação. → Pouco frequente na infância e no climatério (ausência de glicogênio - pH básico). → Geralmente assintomática no sexo masculino. → Não é sexualmente transmissível, mas pode facilitar aquisição/transmissão de outras ISTs. → Agentes oportunísticos: maior incidência em imunodeprimidos (HIV) e em grávidas (menor imunidade), estresse também diminui imunidade, favorecendo assim, a patogenicidade por cândida. → Nos casos de candidíase recorrente, quando o parceiro tem excesso de prepúcio, acredita- se que o fungo pode ficar contido nesse local e durante o ato sexual pode ser transmitido à mulher (torna-se uma “IST”). o Deve encaminhar parceiro ao urologista para fazer incisão. ETIOPATOGENIA → Para que o micro-organismo se torne patogênico são necessários fatores que determinem seu desenvolvimento assim como fatores que inibam o poder de proteção do hospedeiro. → Alteração do fenótipo da cândida (transposição de elementos genéticos móveis no genoma do fungo) → levando a diferentes formas de invasão nos tecidos do hospedeiro. → Alteração na capacidade de aderência às células epiteliais. → Alteração na resposta do fungo aos fatores ambientais (hormônios esteroides). → Alteração na capacidade antigênica do fungo. → Alteração na resistência aos agentes antifúngicos. → Produção de enzimas proteolíticas, toxinas e fosfolipases que parecem aumentar o poder de virulência da C. albicans. → Hospedeiro: gravidez, uso de contraceptivos orais (gerações antigas continham alta dosagem de hormônios, predispondo ao aparecimento de candidíase), DM descompensado (meio hiperglicêmico favorece desenvolvimento da candidíase), uso de antibióticos, imunidade, hábitos de higiene (papel higiênico irrita a vulva, por conter muitos produtos químicos; ato de coçar com a unha, devido prurido, cria escoriações na vulva - meio mais propenso à infecção) e vestuário (fungo gosta de calor e umidade). QUADRO CLÍNICO → Prurido vulvar: intensidade variável; pré- menstrual (pH mais ácido - fungos se proliferam). o Paciente relata melhora durante a menstruação, uma vez que o sangue alcaliniza o pH. o Látex do preservativo pode causar prurido por alergia. → Corrimento: aspecto branco (leite talhado ou pedacinhos de algodão preso nas paredes vaginais/mucosa), moderada quantidade e intensidade. → Irritabilidade vaginal, ardor vulvar, dispareunia, disúria (sumário de urina normal): urina é ácida e quando impacta nas escoriações, há ardor. → Exame ginecológico: presença de edema e ou eritema vulvar, fissuras na vulva e períneo. Mucosa vaginal hiperemiada. → pH vaginal geralmente abaixo de 4,5 (tende para pH ácido). o Whiff test negativo. → Sintomatologia desencadeada ou exacerbada no pré-menstruo. CLASSIFICAÇÃO → NÃO-COMPLICADA: o Episódios esporádicos e infrequentes E o Sinais e sintomas suaves ou moderados (escoriações menos frequentes) E o Provável C. albicans E o Mulheres não imunocomprometidas. → COMPLICADA: o Recorrente: 4 ou mais episódios no ano com diagnóstico por cultura (na prática clínica, o diagnóstico é feito pelo quadro clínico + exame ginecológico, pois a cultura demora muito) OU o Severa (presença de escoriações na vulva) OU o Cândida não albicans (C. globatra mais comum) OU o Diabetes, condições imunossupressoras (HIV), estado debilitado, terapia imunossupressora (corticoides). DIAGNÓSTICO → Anamnese e exame ginecológico. o Diagnóstico clínico deve sempre ser confirmado pela presença de fungos. → Exame a fresco do conteúdo vaginal: positividade dispensa continuidade na investigação. → Exame de conteúdo clarificado com KOH. → Coloração de Gram do conteúdo vaginal. → Cultura (recidivas) → Teste rápido para leveduras → Fungiograma: identificação do fungo e sua espécie; recomendável em casos recorrentes. TRATAMENTO → Associação de comprimido oral, creme vaginal e tópico (genitália externa; antifúngico associado a corticoide). → Sensação de prurido, ardor e disúria passam mais rápido com vaginal e tópico. → Cremes vaginais: MICONAZOL, CLOTRIMAZOL e TIOCONAZOL. → Agentes orais: FLUCONAZOL (150 mg, dose única), ITRACONAZOL (100 mg) e CETOCONAZOL (200 a 400mg/dia). → Uso tópico: FENTICONAZOL, MICONAZOL e CLOTRIMAZOL. → Derivados imidazólicos são hepatotóxicos - se tratamento de candidíase recorrente deve fazer exame de função hepática, pois são usados por mais tempo. TRICOMONÍASE → Única considerada IST, logo, precisa tratar parceiro também. o Deve se rastrear outras ISTs, uma vez que serve como veículo para outros agentes (N.gonorrhoeae e HIV). → Agente etiológico: Tricomonas vaginalis - protozoário flagelado (grande mobilidade - esse parasita fagocita fungos, vírus e bactérias, para adquirir nutrientes e transporta-os ao trato genital superior, dando origem a DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA - DIP, um fator de infertilidade feminina). o Habitat natural é a vagina (acomete também a ectocérvice, endocérvice, uretra, bexiga, ureteres, canal cervical, cavidade uterina, glândulas de Skene e Bartholin). o Comum infecções recorrentes (protozoário não induz imunidade duradoura). O parasita raramente é eliminado após processo infeccioso (pode permanecer indefinidamente no trato genital). → Cresce em condições de anaerobiose (pH acima de 5,0 - mais básico que a vaginose bacteriana). o Aumento do pH vaginal durante e após a menstruação favorece o aparecimento da infecção. → Colo do útero com aspecto de “morango, framboesa ou tigroide”: invasão do parasita aos vasos sanguíneos do epitélio pavimentoso/escamoso - ectocérvice, - causando aumento da vascularização (papilites, edema, erosão das camadas superficiais e necrose) - acentuada distensão dos vasos sanguíneos superficiais e a focos de hemorragia. o Teste de Schiller com lugol: colo de coloração marrom escuro com pontinhos claros (focos de hemorragia não se coram). QUADRO CLÍNICO → Corrimento vaginal em grande quantidade, de coloração esverdeada, acinzentada, bolhoso (devido aminas voláteis) podendo ser amarelada ou esbranquiçada. → Ardor, prurido, disúria (ardência se dá pelo comprometimento da vulva - infecção do trato urinário) e dispareunia. → Dor em baixo ventre (acometimento do trato genital superior). → Exame ginecológico: hiperemia e edema vulvar, aumento acentuado do conteúdo vaginal (escorre pelo introito vaginal antes mesmo de colocar o espéculo). DIAGNÓSTICO → Diagnóstico clínico pode ser insuficiente e sem especificidade para permitir um diagnóstico baseado apenas em sinais e sintomas. o Deve ser ministrado o tratamento, mesmo sem confirmação, em caso de demora do resultado do exame. → Exame a fresco: Tricomonas móveis são vistos em lâminas de conteúdo vaginal. → Bacterioscopia com coloração pelo Gram → PCR (caro) → Cultura (Diamond): maior sensibilidade e especificidade. TRATAMENTO → Droga de escolha: METRONIDAZOL 2g VO em dose única. o Regime terapêutico utilizado preferencialmente para tratamento de parceiro. → TINIDAZOL: 2g VO em dose única, se alergia a droga de escolha. TRATAMENTO ALTERNATIVO → METRONIDAZOL: 500 mg VO 12/12h por 7 dias. o Em casos de recorrência, evita-se esquemas de dose única.
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