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SOP E HIPERANDROGENISMO → É a endocrinopatia mais frequente dentro da ginecologia – alta prevalência (8 a 13% das mulheres na menacme); → Síndrome constituída por vários sinais e sintomas – paciente procura vários médicos devido pluralidade dos sintomas → complexidade nas características reprodutivas, metabólicas e psicológicas; o A obesidade é um componente muito importante na SOP → Há inconsistência no diagnóstico e no tratamento de SOP, mas em 2018 foi elaborado guideline que melhorou a orientação para diagnóstico e tratamento (TEED); → Ocorre insatisfação das mulheres com seu cuidado → o foco do tratamento deve ser evitar as consequências negativas na qualidade de vida; CONCEITO → Caracteriza-se, clinicamente, por disfunção ovulatória (ou menstrual) e hiperandrogenismo; o Disfunção menstrual em aproximadamente 75% dos casos o Níveis elevados de androgênios em 60 a 80% dos casos → Paciente possui ciclos espaniomenorreicos – ciclos alongados em torno de 50 a 60 dias. → O hiperandrogenismo pode ser clínico e/ou laboratorial: o Hiperandrogenismo clínico – acne e pelos em padrão não feminino (hirsutismo); FISIOPATOLOGIA → Quanto a fisiopatologia: é muito complexo, nem todos os mecanismos são conhecidos → Hipersecreção característica de hormônio luteinizante (LH), evento patognomônico dessa síndrome, com aumento na amplitude dos pulsos e consequente produção aumentada de androgênios, predominantemente testosterona. → As alterações gonadotróficas causam a interrupção do crescimento folicular e o aparecimento de alterações histomorfológicas, como micropolicistose e hipertrofia do estroma ovariano, que constitui grande fonte de androgênios (microambiente). Essas modificações têm grande impacto no eixo hipotalâmico-hipofisário nas mulheres com SOP, levando a um círculo vicioso. → A insulina tem ação sinérgica ao LH nas células da teca interna e do estroma ovariano, bem como determina aumento da produção de androgênios. Nas mulheres com resistência insulínica por defeito pós-receptor (causa hiperinsulinemia), ocorre fosforilação da serina, que aumenta ainda mais a síntese androgênica; → A hiperinsulinemia, em nível hepático, causa ainda redução dos níveis da globulina carreadora de esteroides sexuais (SHBG), permitindo que maior fração de androgênios circule em sua forma ativa, produzido os efeitos hiperandrogênicos; → Possivelmente há fatores genéticos que predispõe as mulheres a essa condição: o Paciente com baixo peso ao nascer (<2,5 kg é fator de risco) o Pubarca precoce – aparecimento dos pelos axilares e pubianos antes dos 8 anos de idade; o Puberdade precoce central idiopática – pubarca, telarca e menarca antes dos 8 anos de idade; DIAGNÓSTICO → Hiperandrogenismo: é o termo utilizado para descrever os sinais clínicos, devidos ao aumento da ação biológica dos andrógenos. → Hiperandrogenemia: é o aumento dos andrógenos no sangue. CRITÉRIO DE ROTTERDAM → O mais utilizado é o de Rotterdam porque se enquadra melhor no fenótipo brasileiro; 1. Ciclos espaniomenorréicos ou amenorréia (anovulação crônica); a. Ciclos espaniomenorréicos (ciclos alongados), amenorreia (3 meses consecutivos sem menstruar); 2. Sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandrogenismo; 3. Ovários policísticos; → 2 dos 3 critérios fecha o diagnóstico. FENÓTIPOS → Existem 4 fenótipos de pacientes: 1. anovolução crônica + hiperandrogenismo 2. hiperandrogenismo + imagens de ovários policísticos 3. anovolução crônica + imagens de ovários policísticos 4. anovulação crônica + hiperandrogenismo + imagens de ovários policísticos (clássico ou completo) DIAGNÓSTICO CLÍNICO 1. Anamnese: a. Alteração menstrual b. Hiperandrogenismo cutâneo → acne + hirsurtismo ▪ A acne associada ao hiperandrogenismo é mais severa que a acne da adolescência, com inflamação associada, com comedões – guideline não define as características, mas sugere diferenciar da acne da adolescência; ▪ Hirsutismo: pelo mais grosso, pigmentado e maior que 0,5cm em locais atípicos para mulheres (diferente da hipertricose); c. Infertilidade – mais de um ano tentando engravidar, sem sucesso. 2. Exame físico: a. Avaliação do hirsutismo (índice de Ferriman-Gallwey) → avaliação pontuada das características dos pelos em 9 áreas do corpo; ▪ Acima de 6 é considerado hirsutismo (valor do último guideline), mas varia conforme etnia (nas asiáticas >4); b. Acantose nigricans – manchas escurecidas em regiões de dobra, características de pacientes com resistência à insulina; c. Obesidade troncular d. Estrias 3. Exame ginecológico – pilificação androide (losangular). IRREGULARIDADE MENSTRUAL → Normal: primeiro ano após a menarca o Em adolescente até um ano da menarca, é normal queixa de irregularidade menstrual consequente da imaturidade do eixo hipotálamo – hipófise – gônada; → Anormal: primeiro ao terceiro ano após menarca – <21 ou >45 dias; → Anormal: > terceiro ano após menarca até a perimenopausa – <21 ou >35 dias ou < 8 ciclos por ano; → Anormal: primeiro ano pós menarca – >90 dias pelo menos um ciclo; → Amenorreia primária após os 15 anos ou por mais de três anos após a telarca; → Estabelecido a irregularidade menstrual, o diagnóstico de SOP pode ser considerado; RECOMENDAÇÕES PARA HIPERANDROGENEMIA → Na ausência de hirsutismo clínico, é preciso dosar androgênios; → A dosagem de testosterona total é desnecessária: o Na SOP ocorre redução do SHBG (proteína carreadora) – testoterona total pode estar normal, mas com aumento da testoterona livre; A. Solicitar cálculo, índice e biodisponilidade da testoterona livre (único solicitado idealmente); B. Dosagem de testosterona por espectrometria de massa, extração ou cromatografia a. Espectrometria e cromatografia – bons exames para dosar a total, não são acessíveis C. Androstenediona e/ou sulfato de deidroepiandrosterona – apenas se o valor da livre vier duvidoso; D. Não dosar diretamente a testosterona livre; E. Dosagem hormonal quando o hirsutismo não é bem definido; F. Não dosar em uso de contraceptivo; a. Caso a paciente utilize AC, ele deve ser suspenso por 3 meses antes da dosagem – indicar uso de preservativo G. Cuidados com altos níveis ou história sugestiva de neoplasia produtora de androgênios; o Nas pacientes com tumores secretores de androgênio, o hiperandrogenismo é mais severo – virilização, clitomegalia, mudança na voz; HIPERANDROGENISMO (CLÍNICO) A. Sinais: acne, alopecia e hirsutismo o Alopecia: queda de cabelo na região central do couro cabeludo – sinal menos frequente B. Adolescência: quadro intenso de acne e hirsutismo C. Indice de Ferriman-Gallwey:4 a 6 (depende da etnicidade) D. Escala visual de Ludwig para alopecia – pouco utilizada na prática (muito subjetivo) E. Acne não há uma definição clara F. Hirsutismo: pelo terminal com comprimento maior que 0,5cm e pigmentado, podendo variar a forma e a textura → Fisiopatologia do hirsutismo: no folículo piloso a testosterona é convertida pela 5a redutase em DHT – mais potente, modifica padrão da pilificação; DIAGNÓSTICO LABORATORIAL → SOP é diagnóstico de exclusão → o diagnóstico só será firmado após a exclusão destas afecções: disfunção da tireoide, hiperprolactinemia, tumor ovariano ou da suprarrenal, defeitos de síntese da suprarrenal, síndrome de Cushing e uso de substâncias androgênicas (anabolizantes); → Determinações hormonais: o Prolactina; o Alteração da tireoide (TSH e T4 livre) – hiper/hipotireoidismo pode cursar com irregularidade menstrual; o Perfil androgênico (testosterona); o Deficiência enzimática da suprarrenal (17OH-progesterona e teste estímulo com ACTH); o Síndrome de Cushing (cortisol basal); o Obs.: O hormônio Antimulleriano não é ainda critério de diagnóstico – reflete reserva de ovários da mulher, pode estar alterado, masnão entra como critério diagnóstico (não precisa dosar). → Síndrome metabólica: o Obesidade abdominal (circunferência >80cm); o Triglicérides (>ou= 150mg/dl); o HDL (<50mg/dl); o Pressão arterial > ou = 130x85mmHg; o Glicemia de jejum > ou = a 100 mg/dl. → Distúrbio dos carboidratos: o SOP é um fator de risco para diabetes mellitus e gestacional o Avaliação anual se houver outros riscos para diabetes mellitus o Curva glicêmica, glicemia de jejum e hemoglobina glicada o Teste de tolerância a glicose com 75g deve ser oferecido a gestante antes de 20 sem gestacionais e repetido entre 24 e 28 sem – devido risco de desenvolver DM gestacional nessas pacientes o Obs.: Apneia do sono: avaliar quando houver roncos, fadiga durante dia, sonolência diurna → é muito frequente em pacientes com SOP – prognóstico pior quando está associada; → Risco cardiovascular: o Todas as mulheres com SOP devem ser avaliadas (fator de risco independente para doença cardiovascular) o Pressão arterial, IMC e circunferência abdominal em cada visita anual nas mulheres de alto risco o Alto risco: obesidade, tabagismo, dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, intolerância a glicose e sedentarismo o Perfil lipídico: sobrepeso e obesas MÉTODOS DE IMAGEM ULTRASSONOGRAFIA → Não deve ser medida de diagnóstico em mulheres antes de oito anos da menarca → Preferencial a transvaginal → Sondas de 8 MHz: 20 folículos (<1 cm) e/ou volume acima de 10ml, sem corpo lúteo, cistos ou folículo dominante → Tecnologia antiga: apenas o volume deve ser considerado → Empregar apenas para avaliar o fenótipo nos casos de anovulação sem hiperandrogenismo TRATAMENTO → Direcionado para a queixa: o Anticoncepção + irregularidade menstrual o Irregularidade menstrual sem desejo de contracepção o Tratamento do hiperandrogenismo o Prevenção de lesões proliferativas – risco relativo aumentado de 2 a 4 vezes de desenvolver o carcinoma de endométrio ▪ A progesterona é produzida após a ovulação – por serem anovulatórias não há progesterona; ▪ A progesterona contrabalanceia o estrogênio – estrogênio prolifera e progesterona secreta (menstruação); ▪ Ocorre hiperplasia endometrial – lesão pré-maligna. o Tratamento da infertilidade INTERVENÇÃO DO ESTILO DE VIDA → 5-10% da perda de peso: pode melhorar a função menstrual; → Reeducação alimentar, restrição de carboidratos; → Exercício físico regular; → Programa de intervenção psicológica e psiquiátrica. CONTRACEPTIVOS ORAIS (ACO) → Contraceptivos orais combinados (ACO): o ACO com baixa dose de etinil estradiol (risco de TVP) ▪ Função de diminuir os estrogênios, que estão altos, e aumentar SHBG; ▪ Qualquer pílula tem essa função, mas com as pílulas associadas à progesterona o resultado é mais satisfatório para a paciente; ▪ Levar em conta critérios de elegibilidade para pílula combinada (LES, alterações de coagulação). o Progestogênios isolados: para as pacientes que não desejam contracepção; → Atenção especial com índice massa corpórea, dislipidemias,HA IRREGULARIDADE MENSTRUAL + CONTRACEPÇÃO + HIPERANDROGENISMO → Anticoncepcional oral combinado (ACO) → ACOs de 3ª geração que contenham progesterona com ação neutra (desogestrel ou norgestimato) ou atividade anti-androgênica (drospirenona e clormatidona); → Obs.:Ciproterona > drospirenona > clormatidona > desogestrel > norgestimato > levonorgestrel → Ciproterona – seria a melhor, mas não é mais prescrito por possuir muita quantidade de etinil estradiol. → Não tem efeito contraceptivo. IRREGULARIDADE MENSTRUAL + PROTEÇÃO ENDOMETRIAL (SEM HIPERANDROGENISMO) → Hiperplasia de endométrio e câncer: o Risco relativo é 2 a 6 vezes maior do que a população geral o Ultrasonografia e avaliação histopatológica de endométrio são recomendados quando há fatores de risco associados, como amenorreia prolongada, sangramento uterino excessivo e/ou aumento excessivo do peso → Investigar hiperplasia de endométrio através de USG ou avaliação histopatológica o Ciclos com frequência maior que 90 dias, recomenda-se progestagênio isolado ou combinação estrogênio e progesterona → Progestagênio isolado: mensal ou a cada 60-90 dias o Dihidrogesterona (duphaston) 20mg/dia (10-14 dias mês) o Acetato de medroxiprogesterona (AMP) 10mg/dia (10-14 dias mês) - provera → DIU mirena – libera levonogestrel que é uma progesterona SOP E DESEJO DE ENGRAVIDAR → Avaliação tubárea (HSG) e parâmetros seminais (espermograma) o Avaliação tubárea através da histosalpingografia bilateral - avaliar obstrução tubária → Excluir gestação antes do início da indução → Indução da ovulação: o Letrozole 2,5mg-7,5mg dia (Femara) usado do 3º ao 7º dia do ciclo (efeitos gastrointestinais e custo) o Citrato de clomifeno 5—150 mg dia (clomid, serofene, indux) – taxa de ovulação de 60-85% → Associação com metformina – utilizado se há indícios de resistência a insulina
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