Buscar

Juiz Federal - Temas Especiais - Súmulas E Teses Jurisprudenciais

Prévia do material em texto

1Curso	Ênfase	©	2021
TEMAS	ESPECIAIS	PARA	JUIZ	FEDERAL
DIREITO	AMBIENTAL
Súmulas	E	Teses	Jurisprudenciais	Do	STJ	Em	Matéria
Ambiental	Relevantes	À	Atuação	Prática	Na	Justiça
Federal
1.	Introdução
Os	enunciados	sumulares	e	as	teses	jurisprudenciais	refletem	o	pensamento	dominante
junto	a	determinado	órgão	julgador.	
Assim,	 é	 de	 extrema	 importância	 ao	 juiz	 federal	 estar	 sempre	 atento	 a	 esses
enunciados,	especialmente	em	se	 tratando	do	Superior	Tribunal	de	 Justiça	 (STJ),	que
passou	a	exercer	as	 funções	outrora	desempenhadas	pelo	extinto	Tribunal	Federal	de
Recursos	(TFR),	decidindo	a	respeito	de	controvérsias	envolvendo	a	legislação	federal.	
Em	matéria	ambiental,	inúmeros	são	os	julgados	de	extrema	importância,	notadamente
em	se	 tratando	de	responsabilidade	ambiental,	 seja	na	esfera	cível,	administrativa	ou
criminal.	
Prova	disso	é	que	o	STJ	possui	dois	conjuntos	de	entendimentos	a	respeito	do	direito
ambiental,	 o	 Jurisprudência	 em	 Teses	 nº	 30	 e,	 mais	 recentemente,	 o	 nº	 119,	 este
especificamente	voltado	à	responsabilidade	decorrente	do	dano	ambiental.	
2.	Responsabilidade	por	danos	ambientais
De	acordo	com	Paulo	de	Bessa	Antunes	(2010,	p.	286-287),	temos	o	seguinte	conceito
de	dano	ambiental:
2Curso	Ênfase	©	2021
O	dano	é	prejuízo	causado	a	alguém	por	um	terceiro	que	se	vê	obrigado
ao	 ressarcimento.	É	 juridicamente	 irrelevante	 o	 prejuízo	 que	 tenha	por
origem	um	ato	ou	uma	omissão	imputável	ao	próprio	prejudicado.	A	ação
ou	 omissão	 de	 um	 terceiro	 é	 essencial.	 Decorre	 daí	 que	 dano	 implica
alteração	de	uma	situação	 jurídica,	material	ou	moral,	 cuja	 titularidade
não	 possa	 ser	 atribuída	 àquele	 que,	 voluntária	 ou	 involuntariamente,
tenha	dado	origem	à	mencionada	alteração.
2.1.	Degradação	x	dano	ambiental
A	degradação	ambiental	consiste	em	qualquer	alteração	adversa	das	características	do
meio	 ambiente.	 A	 seu	 turno,	 a	 poluição	 consiste	 em	 uma	 degradação	 de	 qualidade
ambiental	que	resulta	de	atividades	que	possam,	direta	ou	indiretamente,	prejudicar	a
saúde,	 a	 segurança	 e	 o	 bem-estar	 da	 população,	 assim	 como,	 que	 criem	 condições
adversas	 às	 atividades	 sociais	 e	 econômicas	 que	 possam	 afetar	 desfavoravelmente	 a
biota,	além	de	lançarem	matérias	ou	energia	em	desacordo	com	os	padrões	ambientais
estabelecidos.
Tais	 distinções	 encontram	 guarida	 legal	 no	 art.	 3º	 da	 Lei	 nº	 6.938/1981,	 que	 dispõe
sobre	a	Política	Nacional	do	Meio	Ambiente,	vejamos:
Art.	3º	Para	os	fins	previstos	nesta	Lei,	entende-se	por:
I	 –	 meio	 ambiente,	 o	 conjunto	 de	 condições,	 leis,	 influências	 e	 interações	 de	 ordem
física,	química	e	biológica,	que	permite,	abriga	e	rege	a	vida	em	todas	as	suas	formas;
II	–	degradação	da	qualidade	ambiental,	a	alteração	adversa	das	características
do	meio	ambiente;
III	 –	 poluição,	 a	 degradação	 da	 qualidade	 ambiental	 resultante	 de	 atividades
que	direta	ou	indiretamente:
a)	prejudiquem	a	saúde,	a	segurança	e	o	bem-estar	da	população;
b)	criem	condições	adversas	às	atividades	sociais	e	econômicas;
c)	afetem	desfavoravelmente	a	biota;
d)	afetem	as	condições	estéticas	ou	sanitárias	do	meio	ambiente;
e)	lancem	matérias	ou	energia	em	desacordo	com	os	padrões	ambientais	estabelecidos;
3Curso	Ênfase	©	2021
IV	 –	 poluidor,	 a	 pessoa	 física	 ou	 jurídica,	 de	 direito	 público	 ou	 privado,	 responsável,
direta	ou	indiretamente,	por	atividade	causadora	de	degradação	ambiental;
V	–	recursos	ambientais:	a	atmosfera,	as	águas	interiores,	superficiais	e	subterrâneas,
os	estuários,	o	mar	territorial,	o	solo,	o	subsolo,	os	elementos	da	biosfera,	a	fauna	e	a
flora.	(Grifos	nossos.)
Portanto,	 por	 danos	 ambientais	 entende-se	 qualquer	 ação	 ou	 omissão	 humana,	 que
resulta	 em	 prejuízo	 ao	 meio	 ambiente	 ecologicamente	 equilibrado,	 tal	 como	 aos
indivíduos	 que	 nele	 residam	 e	 as	 relações	 que	 nele	 desenvolvam.	 Porém,	 nem	 toda
atividade	 humana	 será	 considerada	 dano	 ambiental,	 mas	 somente	 aquela	 que
ultrapasse	 a	 capacidade	natural	 de	 absorção	ambiental,	mesmo	que	 esteja	 amparada
por	 licença	 ambiental.	 Assim,	 os	 danos	 ambientais	 refletem	 nos	 indivíduos	 que
compõem	o	meio	ambiente	ecologicamente	equilibrado.
2.2.	Dano	ambiental	–	espécies	
O	dano	poderá	ser:
a)	Material	–	quando	diz	respeito	à	redução	da	esfera	patrimonial	de	um	sujeito.
b)	Moral	 –	 quando	 promove	 a	 lesão	 imaterial	 e	 psicológica,	 restritiva	 dos	 processos
psicológicos	de	respeito,	dignidade	e	autonomia.	
Sendo	 assim,	 o	 dano	 ambiental	 é	 aquele	 que	 supera	 os	 limites	 de	 tolerabilidade
normativamente	previstos.	E	neste	ponto,	é	 interessante	diferenciar	o	dano	ambiental
da	degradação.	
b.1)	 Moral	 coletivo	 –	 o	 dano	 moral	 coletivo	 ambiental	 atinge	 direitos	 da
personalidade	 do	 grupo	 massificado,	 sendo	 desnecessária	 a	 demonstração	 de	 que	 a
coletividade	sinta	a	dor,	a	repulsa,	a	indignação,	tal	qual	fosse	um	indivíduo	isolado.
c)	 Social	 –	 implica	 o	 rebaixamento	 da	 qualidade	 de	 vida,	 da	 harmonia	 e	 da	 saúde
coletiva,	 isto	 é,	 é	 um	 dano	 que	 prejudica	 nossa	 existência,	 sob	 um	 ponto	 de	 vista
indeterminado	 de	 pessoas.	 Nesse	 sentido,	 temos	 o	 julgado	 do	 Tribunal	 Regional	 do
Trabalho	(TRT)	da	2ª	Região,	Processo	nº	2007-2288,	o	qual	abordou	a	greve	abusiva
dos	 metroviários	 de	 São	 Paulo.	 Admite-se,	 na	 condenação	 por	 dano	 social,	 uma
indenização	punitiva	(punitive	damages).
4Curso	Ênfase	©	2021
No	mais,	somente	em	ação	coletiva,	tanto	o	dano	social	quanto	o	dano	moral	coletivo,
poderão	ser	pleiteados.
V	 Jornada	de	Direito	Civil	do	CJF/STJ.	Enunciado	nº	456:	“A	expressão	“dano”	no	art.
944	abrange	não	só	os	danos	individuais,	materiais	ou	imateriais,	mas	também	os	danos
sociais,	 difusos,	 coletivos	 e	 individuais	 homogêneos	 a	 serem	 reclamados	 pelos
legitimados	para	propor	ações	coletivas.”
No	que	concerne	à	 fixação	da	 indenização	por	danos	morais,	o	STJ,	no	 julgamento	do
REsp.	nº	1.374.284/MG,	entendeu	que	é	recomendável	o	arbitramento	com	moderação,
proporcionalmente	 ao	 grau	 de	 culpa,	 ao	 nível	 socioeconômico	 do	 autor,	 bem	 como
quanto	 ao	 porte	 da	 empresa,	 devendo	 o	 juiz	 ser	 orientado	 pelos	 critérios	 da
razoabilidade	e	da	proporcionalidade,	com	o	 fim	de	que	não	ocorra	o	enriquecimento
sem	causa	daquele	que	irá	receber	o	valor	indenizatório.
Nesse	contexto,	há	uma	interessante	ação	civil	pública	proposta	pelo	Ministério	Público
Federal	 (MPF)	 que	 culminou	 em	 condenação	 expressiva	 por	 dano	 moral	 coletivo
fazendeiro	 pelo	 desmatamento	 de	 2.686,27	 hectares	 de	 floresta	 nativa	 na	 Estação
Ecológica	Terra	do	Meio.	Em	sede	de	recurso	o	desembargador	relator	fixou	o	seguinte
entendimento	(Apelação	Cível	nº	0025906-15.2010.4.01.3900/PA):	
(...)	as	graves	e	abrangentes	consequências	da	ação	agressora	do	fazendeiro,	tais	como
prejuízo	à	capacidade	de	resiliência	da	floresta,	redução	da	disponibilidade	hídrica	da
área	 e	 da	 biodiversidade	 de	 flora	 e	 fauna,	 e	 comprometimento	 da	 manutenção	 das
condições	normais	do	clima	e	do	ciclo	hidrológico	(...)	restou	demonstrada	a	ocorrência
do	dano	moral	 coletivo,	na	medida	em	que	o	 flagrante	dano	ambiental	decorrente	da
conduta	 ilícita	 afeta	 tanto	 os	 indivíduos	 que	 habitam	 e/ou	 retiram	 seu	 sustento	 da
Região	 Amazônica,	 como	 também	 todos	 aqueles	 que	 fazem	 jus	 a	 um	meio	 ambiente
sadio	e	equilibrado,	ou	seja,	a	sociedade	brasileira,	de	modo	geral	(...).	
Para	que	o	dano	ambiental	seja	configurado,	deve-se	considerar	que	o	meio	ambiente	é
um	bem	jurídico	autônomo	e	unitário,	 que	não	 se	 confunde	com	os	diversos	bens
jurídicos	que	o	integram,	ou	seja,	é	res	communes	omnium	–	uma	coisa	comum	a	todos,
que	pode	abarcar	bens	pertencentes	ao	domínio	público	ou	ao	domínio	privado.	
3.	Responsabilidade	civil	ambiental
Art.	225.	Todos	têm	direito	ao	meio	ambiente	ecologicamente	equilibrado,	bem	de	uso
5Curso	Ênfase	©	2021
comum	do	povo	e	essencial	à	sadia	qualidade	devida,	impondo-se	ao	Poder	Público	e	à
coletividade	o	dever	de	defendê-lo	e	preservá-lo	para	as	presentes	e	futuras	gerações.
(...)
§	2º	Aquele	que	explorar	recursos	minerais	fica	obrigado	a	recuperar	o	meio	ambiente
degradado,	de	acordo	com	solução	técnica	exigida	pelo	órgão	público	competente,	na
forma	da	lei.
§	 3º	 As	 condutas	 e	 atividades	 consideradas	 lesivas	 ao	 meio	 ambiente	 sujeitarão	 os
infratores,	 pessoas	 físicas	 ou	 jurídicas,	 a	 sanções	 penais	 e	 administrativas,
independentemente	 da	 obrigação	 de	 reparar	 os	 danos	 causados.	 (Grifos
nossos.)
O	art.	 225	 da	 Constituição	 Federal	 (CF/1988)	 prevê	 em	 seus	 §§	 2º	 e	 3º	 o	 instituto	 da
responsabilidade	daquele	que	polui	o	meio	ambiente.	O	§	2º	prevê	a	responsabilidade	do
minerador	de	reparar	o	 local;	e	o	§	3º	estabelece	que,	seja	pessoa	 física	ou	 jurídica,	o
poluidor	deverá	reparar	o	meio	ambiente	lesado	pelos	danos	causados	em	decorrência
de	sua	atividade	poluidora.
Logo,	não	há	falar	em	bis	in	idem,	isto	é,	o	mesmo	ato	pode	gerar	uma	responsabilidade
civil,	 administrativa	 e	 criminal	 ambientais	 de	 forma	 simultânea,	 corroborando	 para	 o
princípio	da	independência	das	instâncias.	
Deve-se	 priorizar	 a	 inibição	 do	 dano	 ambiental,	 por	 meio	 de	 tutelas
preventivas,	 uma	 vez	 que,	 em	 regra,	 o	 dano	 ambiental	 é	 de	 caráter
irreversível,	 não	 sendo	possível	 restaurar	 in	 natura	 o	 estado	anterior	 do
bem	 degradado,	 nos	 termos	 do	 entendimento	 do	 STJ	 por	 ocasião	 do
julgamento	do	REsp.	nº	1.115.555/MG.
ADMINISTRATIVO.	RECURSO	ESPECIAL.	DANO	AMBIENTAL.	CONDENAÇÃO.	ART.	3º
DA	 LEI	 7.347/85.	 CUMULATIVIDADE.	 POSSIBILIDADE.	 OBRIGAÇÃO	 DE	 FAZER	 OU
NÃO	 FAZER	 COM	 INDENIZAÇÃO.	 RECURSO	 PARCIALMENTE	 PROVIDO.	 1.	 Não	 há
falar	em	vícios	no	acórdão	nem	em	negativa	de	prestação	jurisdicional	quando	todas	as
questões	 necessárias	 ao	 deslinde	 da	 controvérsia	 foram	 analisadas	 e	 decididas.	 2.	 O
Atenção!
6Curso	Ênfase	©	2021
magistrado	não	está	obrigado	a	responder	a	todos	os	argumentos	das	partes,	quando	já
tenha	encontrado	fundamentos	suficientes	para	proferir	o	decisum.	Nesse	sentido:	HC
27.347/RJ,	 Rel.	 Min.	 HAMILTON	 CARVALHIDO,	 Sexta	 Turma,	 DJ	 1º/8/05.	 2.	 O	 meio
ambiente	equilibrado	-	elemento	essencial	à	dignidade	da	pessoa	humana	-,	como	"bem
de	uso	comum	do	povo	e	essencial	à	sadia	qualidade	de	vida"	(art.	225	da	CF),	integra	o
rol	dos	direitos	 fundamentais.	3.	Tem	o	meio	ambiente	 tutela	 jurídica	 respaldada	por
princípios	específicos	que	lhe	asseguram	especial	proteção.	4.	O	direito	ambiental	atua
de	forma	a	considerar,	em	primeiro	plano,	a	prevenção,	seguida	da	recuperação	e,	por
fim,	o	ressarcimento.	5.	Os	instrumentos	de	tutela	ambiental	-	extrajudicial	e	judicial	-
são	 orientados	 por	 seus	 princípios	 basilares,	 quais	 sejam,	 Princípio	 da	 Solidariedade
Intergeracional,	da	Prevenção,	da	Precaução,	do	Poluidor-Pagador,	da	 Informação,	da
Participação	 Comunitária,	 dentre	 outros,	 tendo	 aplicação	 em	 todas	 as	 ordens	 de
trabalho	(prevenção,	reparação	e	ressarcimento).	6.	“É	firme	o	entendimento	de	que	é
cabível	 a	 cumulação	 de	 pedido	 de	 condenação	 em	 dinheiro	 e	 obrigação	 de	 fazer	 em
sede	 de	 ação	 civil	 pública”	 (AgRg	 no	 REsp	 1.170.532/MG).	 7.	 Recurso	 especial
parcialmente	 provido	 para,	 firmando	 o	 entendimento	 acerca	 da	 cumulatividade	 da
condenação	 prevista	 no	 art.	 3º	 da	 Lei	 7.347/85,	 determinar	 o	 retorno	 dos	 autos	 ao
Tribunal	de	origem	para	que	fixe	o	quantum	necessário	e	suficiente	à	espécie	(REsp.	nº
1.115.555/MG).
No	mesmo	sentido,	explicitando	de	forma	firme	o	entendimento	referido,	o	Enunciado
Sumular	nº	629	do	STJ:	“Quanto	ao	dano	ambiental,	é	admitida	a	condenação	do	réu
à	obrigação	de	fazer	ou	à	de	não	fazer	cumulada	com	a	de	indenizar”.
Não	 apenas	 tais	 parágrafos	 anteriormente	 citados	 preveem	 a	 responsabilidade	 civil
ambiental,	 mas	 também	 o	 art.	 21,	 XXIII,	 “d”,	 da	 CF/1988,	 o	 qual	 dispõe	 sobre	 a
responsabilidade	civil	por	danos	nucleares	que	independem	da	existência	de	culpa,	e	os
arts.	4º,	VII,	e	14,	§	1º,	ambos	da	Lei	nº	6.938/1981	(Lei	da	PNMA	–	Política	Nacional	do
Meio	Ambiente).
CF/1988,	art.	21.	Compete	à	União:	(...)
XXIII	 –	 explorar	 os	 serviços	 e	 instalações	 nucleares	 de	 qualquer	 natureza	 e	 exercer
monopólio	 estatal	 sobre	 a	 pesquisa,	 a	 lavra,	 o	 enriquecimento	 e	 reprocessamento,	 a
industrialização	 e	 o	 comércio	 de	 minérios	 nucleares	 e	 seus	 derivados,	 atendidos	 os
seguintes	princípios	e	condições:	
(...)
7Curso	Ênfase	©	2021
d)	 a	 responsabilidade	 civil	 por	 danos	 nucleares	 independe	 da	 existência	 de
culpa;	(...)
Lei	da	PNMA,	art.	4º	–	A	Política	Nacional	do	Meio	Ambiente	visará:	
(...)
VII	 ‒	 à	 imposição,	 ao	 poluidor	 e	 ao	 predador,	 da	 obrigação	 de	 recuperar	 e/ou
indenizar	 os	 danos	 causados	 e,	 ao	 usuário,	 da	 contribuição	 pela	 utilização	 de
recursos	ambientais	com	fins	econômicos.	(...)
Art.	 14.	 Sem	 prejuízo	 das	 penalidades	 definidas	 pela	 legislação	 federal,	 estadual	 e
municipal,	o	não	cumprimento	das	medidas	necessárias	à	preservação	ou	correção	dos
inconvenientes	e	danos	causados	pela	degradação	da	qualidade	ambiental	sujeitará	os
transgressores:	
(...)
§	1º	Sem	obstar	a	aplicação	das	penalidades	previstas	neste	artigo,	é	o	poluidor
obrigado,	 independentemente	 da	 existência	 de	 culpa,	 a
indenizar	 ou	 reparar	 os	 danos	 causados	 ao	 meio
ambiente	 e	 a	 terceiros,	 afetados	 por	 sua	 atividade.	 O
Ministério	 Público	 da	 União	 e	 dos	 Estados	 terá
legitimidade	para	propor	ação	de	responsabilidade	civil	e
criminal,	 por	 danos	 causados	 ao	meio	 ambiente.	 (Grifos
nossos.)
Portanto,	 a	 jurisprudência	 brasileira	 compreende	 que	 a
responsabilidade	 civil	 possui	 natureza	 reparadora,	 isto	 é,	 não
pode	 adotar	 uma	 característica	 de	 sanção,	 tal	 qual	 o	 direito
estadunidense.
É	 inadequado	 pretender	 conferir	 à	 reparação	 civil	 dos	 danos	 ambientais	 caráter
punitivo	 imediato,	 pois	 a	 punição	 é	 função	 que	 incumbe	 ao	 direito	 penal	 e
administrativo.	 (...)	Assim,	não	há	 falar	em	 (...)	 danos	punitivos	 (punitive	damages)	 –,
haja	 vista	 que	 a	 responsabilidade	 civil	 por	 dano	 ambiental	 prescinde	 da	 culpa	 e	 que
revestir	 a	 compensação	 de	 caráter	 punitivo	 propiciaria	 o	 bis	 in	 idem	 (pois,	 como
firmado,	a	punição	imediata	é	tarefa	específica	do	direito	administrativo	e	penal)	(STJ,
REsp.	nº	1.354.536/	SE,	rel.	Min.	Luis	Felipe	Salomão,	julgado	em	26.03.2014).
8Curso	Ênfase	©	2021
Por	 fim,	a	responsabilidade	civil	ambiental	é	 fundamentada
no	princípio	do	poluidor-pagador.	Lembrando	que	o	dano	ao	meio
ambiente	 nem	 sempre	 possui,	 apenas,	 um	 cunho	 patrimonial,
mas,	 também,	extrapatrimonial.	 José	dos	Santos	Carvalho	 Filho
compreende	que:	
O	dano	nem	sempre	tem	cunho	patrimonial,	como	era
concebido	 no	 passado.	 A	 evolução	 da
responsabilidade	 culminou	 com	 o	 reconhecimento
jurídico	 de	 duas	 formas	 de	 dano	 –	 o	 material	 (ou
patrimonial)	 ou	 o	 dano	 moral.	 O	 dano	 material	 é
aquele	 em	 que	 o	 fato	 causa	 efetiva	 lesão	 ao
patrimônio	do	 indivíduo	atingido.	 Já	a	noção	do	dano
moral,	 o	 que	 o	 responsável	 faz	 é	 atingir	 a	 esfera
interna,	moral	e	subjetiva	do	lesado	(2013,	p.	549).
Em	relação	ao	poluidor,	este	poderá	ser	tanto	uma	pessoa	física
como	uma	pessoa	jurídica,	de	direito	privado	ou	público,	agindo
de	forma	direta	ou	indireta.	O	STJ,	por	ocasião	do	julgamento	do
REsp.	nº	1.381.211/TO,	compreendeu	que	o	poluidor	será	aquele
que	faz,	o	que	não	faz	quando	deveria	fazer,	o	que	deixa	fazer,	o
que	não	se	importa	que	façam,	o	que	financia	para	que	façam,	e
o	que	se	beneficia	quando	os	outros	 fazem.	A	 responsabilidade
civil	é,	em	regra,	solidária,	 isto	é,	todos	os	responsáveis	diretos
ou	indiretos	pelo	dano	causado	responderão	solidariamente	(STJ,
AgRg	no	AREsp.	nº	432.409/RJ).	
Ainda,	 é	 possível	 a	 existência	 do	 litisconsórcio	 facultativo;
portanto,	mesmo	existindomúltiplos	agentes	poluidores,	o	autor
da	ação	de	reparação	poderá	demandar	em	face	de	qualquer	um
deles,	de	forma	conjunta	ou	isoladamente	(STJ,	AgRg	no	AREsp.
nº	432.409/RJ).
PROCESSUAL	 CIVIL.	 REPARAÇÃO	 E	 PREVENÇÃO	 DE	 DANOS	 AMBIENTAIS	 E
URBANÍSTICOS.	 DESLIZAMENTOS	 EM	 ENCOSTAS	 HABITADAS.	 FORMAÇÃO	 DO
POLO	PASSIVO.	 INTEGRAÇÃO	DE	TODOS	OS	RESPONSÁVEIS	PELA	DEGRADAÇÃO.
RESPONSABILIDADE	 SOLIDÁRIA.	 DESNECESSIDADE.	 1.	 Hipótese	 em	 que	 a
pretensão	 recursal	 apresentada	 pelo	 Município	 de	 Niterói	 se	 refere	 à	 inclusão	 do
Estado	do	Rio	de	Janeiro	no	polo	passivo	da	Ação	Civil	Pública	que	visa	a	reparação	e
9Curso	Ênfase	©	2021
prevenção	 de	 danos	 ambientais	 causados	 por	 deslizamentos	 de	 terras	 em	 encostas
habitadas.	 2.	 No	 dano	 ambiental	 e	 urbanístico,	 a	 regra	 geral	 é	 a	 do
litisconsórcio	 facultativo.	 Segundo	 a	 jurisprudência	 do	 STJ,	 nesse	 campo	 a
“responsabilidade	 (objetiva)	 é	 solidária”	 (REsp	 604.725/PR,	 Rel.	 Ministro	 Castro
Meira,	Segunda	Turma,	DJ	22.8.2005,	p.	202);	logo,	mesmo	havendo	“múltiplos	agentes
poluidores,	 não	 existe	 obrigatoriedade	 na	 formação	 do	 litisconsórcio”,	 abrindo-se	 ao
autor	 a	 possibilidade	 de	 “demandar	 de	 qualquer	 um	 deles,	 isoladamente	 ou	 em
conjunto,	 pelo	 todo”	 (REsp	 880.160/RJ,	 Rel.	 Ministro	 Mauro	 Campbell	 Marques,
Segunda	 Turma,	 DJe	 27.5.2010).	 No	mesmo	 sentido:	 EDcl	 no	 REsp	 843.978/SP,	 Rel.
Ministro	 Herman	 Benjamin,	 Segunda	 Turma,	 DJe	 26.6.2013.	 REsp	 843.978/SP,	 Rel.
Ministro	 Herman	 Benjamin,	 Segunda	 Turma,	 DJe	 9.3.2012;	 REsp	 1.358.112/SC,	 Rel.
Ministro	Humberto	Martins,	Segunda	Turma,	DJe	28.6.2013.	3.	Agravo	Regimental	não
provido.	(19/03/2014)	(STJ	‒	AgRg	no	AREsp.	nº	432.409/RJ).
3.1.	Responsabilidade	civil	objetiva
A	 responsabilidade	 civil	 ambiental	 é	 objetiva,	 informada	 pela
Teoria	 do	 Risco	 Integral,	 não	 admitindo,	 portanto,	 excludentes
como	força	maior,	caso	fortuito	ou	culpa	exclusiva	de	terceiros.
Mas	lembrem-se,	comprovando	a	ausência	de	nexo	causal	entre
a	conduta	ou	omissão	do	agente	e	o	dano	ambiental,	não	haverá
responsabilidade	civil,	ainda	que	esta	seja	objetiva	e	 informada
pelo	risco	 integral,	como	ocorreu	no	caso	da	explosão	do	navio
Vicuña.	
RECURSOS	 ESPECIAIS	 REPETITIVOS.	 NEGATIVA	 DE	 PRESTAÇÃO	 JURISDICIONAL.
NÃO	 OCORRÊNCIA.	 RESPONSABILIDADE	 CIVIL	 AMBIENTAL.	 AÇÃO
INDENIZATÓRIA.	DANOS	EXTRAPATRIMONIAIS.	ACIDENTE	AMBIENTAL.	EXPLOSÃO
DO	 NAVIO	 VICUÑA.	 PORTO	 DE	 PARANAGUÁ.	 PESCADORES	 PROFISSIONAIS.
PROIBIÇÃO	 TEMPORÁRIA	 DE	 PESCA.	 EMPRESAS	 ADQUIRENTES	 DA	 CARGA
TRANSPORTADA.	 AUSÊNCIA	 DE	 RESPONSABILIDADE.	 NEXO	 DE	 CAUSALIDADE
NÃO	 CONFIGURADO.	 1.	 Ação	 indenizatória	 ajuizada	 por	 pescadora	 em	 desfavor
apenas	 das	 empresas	 adquirentes	 (destinatárias)	 da	 carga	 que	 era	 transportada	 pelo
navio	 tanque	 Vicuña	 no	 momento	 de	 sua	 explosão,	 em	 15/11/2004,	 no	 Porto	 de
Paranaguá.	Pretensão	da	autora	de	se	ver	compensada	por	danos	morais	decorrentes
da	proibição	temporária	da	pesca	(2	meses)	determinada	em	virtude	da	contaminação
ambiental	provocada	pelo	acidente.	2.	Acórdão	recorrido	que	concluiu	pela	procedência
do	pedido	 ao	 fundamento	de	 se	 tratar	 de	hipótese	 de	 responsabilidade	 objetiva,	 com
10Curso	Ênfase	©	2021
aplicação	da	teoria	do	risco	integral,	na	qual	o	simples	risco	da	atividade	desenvolvida
pelas	demandadas	configuraria	o	nexo	de	causalidade	ensejador	do	dever	de	indenizar.
Indenização	 fixada	 no	 valor	 de	 R$	 5.000,00	 (cinco	 mil	 reais).	 3.	 Consoante	 a
jurisprudência	pacífica	desta	Corte,	 sedimentada	 inclusive	no	 julgamento	de	recursos
submetidos	à	sistemática	dos	processos	representativos	de	controvérsia	(arts.	543-C	do
CPC/1973	 e	 1.036	 e	 1.037	 do	 CPC/2015),	 “a	 responsabilidade	 por	 dano	 ambiental	 é
objetiva,	 informada	pela	 teoria	do	risco	 integral,	 sendo	o	nexo	de	causalidade	o	 fator
aglutinante	 que	 permite	 que	 o	 risco	 se	 integre	 na	 unidade	 do	 ato”	 (REsp	 nº
1.374.284/MG).	4.	Em	que	pese	a	responsabilidade	por	dano	ambiental	seja	objetiva	(e
lastreada	pela	 teoria	do	 risco	 integral),	 faz-se	 imprescindível,	 para	a	 configuração	do
dever	 de	 indenizar,	 a	 demonstração	 da	 existência	 de	 nexo	 de	 causalidade	 apto	 a
vincular	 o	 resultado	 lesivo	 efetivamente	 verificado	 ao	 comportamento	 (comissivo	 ou
omissivo)	daquele	a	quem	se	repute	a	condição	de	agente	causador.	5.	No	caso,	inexiste
nexo	de	causalidade	entre	os	danos	ambientais	(e	morais	a	eles	correlatos)	resultantes
da	 explosão	 do	 navio	 Vicuña	 e	 a	 conduta	 das	 empresas	 adquirentes	 da	 carga
transportada	 pela	 referida	 embarcação.	 6.	 Não	 sendo	 as	 adquirentes	 da	 carga
responsáveis	diretas	pelo	acidente	ocorrido,	só	haveria	falar	em	sua	responsabilização
‒	na	condição	de	poluidora	 indireta	‒	acaso	 fosse	demonstrado:	 (i)	 o	 comportamento
omissivo	de	sua	parte;	(ii)	que	o	risco	de	explosão	na	realização	do	transporte	marítimo
de	produtos	químicos	adquiridos	fosse	ínsito	às	atividades	por	elas	desempenhadas	ou
(iii)	 que	 estava	 ao	 encargo	 delas,	 e	 não	 da	 empresa	 vendedora,	 a	 contratação	 do
transporte	da	carga	que	lhes	seria	destinada.	7.	Para	os	fins	do	art.	1.040	do	CPC/2015,
fixa-se	 a	 seguinte	 TESE:	 As	 empresas	 adquirentes	 da	 carga	 transportada	 pelo	 navio
Vicuña	no	momento	de	 sua	explosão,	no	Porto	de	Paranaguá/PR,	em	15/11/2004,	não
respondem	 pela	 reparação	 dos	 danos	 alegadamente	 suportados	 por	 pescadores	 da
região	atingida,	haja	vista	a	ausência	de	nexo	causal	a	ligar	tais	prejuízos	(decorrentes
da	 proibição	 temporária	 da	 pesca)	 à	 conduta	 por	 elas	 perpetrada	 (mera	 aquisição
pretérita	 do	 metanol	 transportado).	 8.	 Recursos	 especiais	 providos	 (REsp.	 nº
1.602.106/PR,	 rel.	 Min.	 Ricardo	 Villas	 Bôas	 Cueva,	 Segunda	 Seção,	 julgado	 em
25.10.2017,	DJe	22.11.2017	‒	Informativo	nº	615).
Portanto,	 em	 direito	 ambiental	 a	 responsabilidade	 civil	 será
objetiva,	isto	é,	independe	da	comprovação	da	culpa	ou	do	dolo,
mesmo	 que	 o	 dano	 ambiental	 seja	 causado	 por	 uma	 atividade
amparada	 por	 licença	 ambiental,	 e	 será	 solidária,	 em	 regra,
entre	os	poluidores,	conforme	prevê	o	§	1º	do	art.	14	da	Lei	nº
6.938/1981:
Art.	14.	(...)
11Curso	Ênfase	©	2021
§	1º	Sem	obstar	a	aplicação	das	penalidades	previstas	neste	artigo,	é	o	poluidor
obrigado,	independentemente	da	existência	de	culpa,	a	indenizar	ou	reparar	os
danos	causados	ao	meio	ambiente	e	a	terceiros,	afetados	por	sua	atividade.	O
Ministério	Público	da	União	e	dos	Estados	terá	legitimidade	para	propor	ação
de	responsabilidade	civil	e	criminal,	por	danos	causados	ao	meio	ambiente.
Neste	sentido	é	o	entendimento	do	STJ	no	 julgamento	do	AgRg
no	AREsp.	nº	533.786/RJ.
(...)	2.	Tratando-se	de	ação	indenizatória	por	dano	ambiental,	a	responsabilidade	pelos
danos	causados	é	objetiva,	pois	 fundada	na	 teoria	do	risco	 integral.	 	Assim,	cabível	a
inversão	do	ônus	da	prova.	Precedente.	3.	O	recurso	especial	não	comporta	o	exame	de
questões	que	impliquem	revolvimento	do	contexto	fático-probatório	dos	autos,	a	teor	do
que	dispõe	a	Súmula	n.	7	do	STJ.4.	Agravo	regimental	a	que	se	nega	provimento	(AgRg
no	AREsp.	 nº	 533.786/RJ,	 4ª	 Turma,	 rel.	Min.	 Antonio	Carlos	 Ferreira,	 j.	 22.09.2015,
DJe	29.09.2015).
Vale	 destacar	 que	 a	 responsabilidade	 civil	 objetiva	 por	 dano
ambiental	“(...)	não	exclui	a	comprovação	da	efetiva	ocorrência	do	dano	e	do	nexo
de	 causalidade	 com	 a	 conduta	 do	 agente	 (...)”,	 dado	 que	 estes	 são
elementos	 essenciais	 ao	 reconhecimento	 do	 direito	 de
reparação,	 nos	 termos	 do	 REsp.	 nº	 1.378.705/SC,	 DJe
14.10.2013.
Portanto,	 basta,	 em	 regra,	 que	 seja	 demonstrado	 o	 nexo	 de
causalidade	 –	 a	 “ponte”	 –	 entre	 a	 conduta	 e	 o	 dano	 ambiental
para	 que	 esteja	 configurada	 a	 responsabilidade	 civil	 pelo	 dano
ambiental.	 Entretanto,	 há	 situações	 em	 que	 é	 inviável	 a
demonstração	desta	“ponte”	(nexo	de	causalidade).
Importante	 não	 se	 confundir	 essasituação	 com	 a	 natureza
propter	 rem	 da	 obrigação	 relacionada	 ao	 dano	 ambiental,	 vale
dizer,	persegue	a	coisa,	a	propriedade,	podendo	ser	acionado	o
possuidor	atual,	ou	mesmo	os	anteriores,	proprietários	ou	não.	
O	art.	2º,	§	2º,	do	Código	Florestal	de	2012	(Lei	nº	12.651/2012)
dispõe	que	as	obrigações	naquela	novel	 legislação	 são	propter
rem,	ou	seja,	acompanham	o	bem,	de	natureza	real.
12Curso	Ênfase	©	2021
(...)	 1.	 A	 responsabilidade	 por	 danos	 ambientais	 é	 objetiva	 e,	 como	 tal,	 não	 exige	 a
comprovação	de	culpa,	bastando	a	 constatação	do	dano	e	do	nexo	de	causalidade.	2.
Excetuam-se	à	regra,	dispensando	a	prova	do	nexo	de	causalidade,	a	de	adquirente	de
imóvel	 já	danificado	porque,	 independentemente	de	 ter	 sido	ele	ou	o	dono	anterior	o
real	 causador	 dos	 estragos,	 imputa-se	 ao	 novo	 proprietário	 a	 responsabilidade	 pelos
danos.	 Precedentes	 do	 STJ	 (STJ,	 REsp.	 nº	 1.056.540/GO,	 2ª	 Turma,	 rel.	 Min.	 Eliana
Calmon,	julgado	em	25.08.2009).
Lei	nº	12.651/2012,	art.	2º	(...)
§	2º	As	obrigações	previstas	nesta	Lei	têm	natureza	real	e	são	transmitidas	ao
sucessor,	de	qualquer	natureza,	no	caso	de	transferência	de	domínio	ou	posse
do	imóvel	rural.
A	 mesma	 lei,	 em	 seu	 art.	 7º,	 §	 1º,	 dispõe	 que	 o	 proprietário,
possuidor	 ou	 ocupante	 a	 qualquer	 título	 da	 área	 onde	 tenha
ocorrido	 a	 supressão	 da	 vegetação	 situada	 em	 área	 de
preservação	 permanente,	 será	 obrigado	 a	 promover	 a
recomposição	da	vegetação	suprimida.
Inclusive,	 é	 neste	 sentido	 a	 redação	 da	 nova	 súmula	 do	 STJ:
“Súmula	 nº	 623	 –	 As	 obrigações	 ambientais	 possuem	 natureza	 propter	 rem	 sendo
admissível	 cobrá-las	 do	 proprietário	 ou	 do	 possuidor	 atual	 e/ou	 dos	 anteriores,	 à
escolha	do	credor.”
Por	 fim,	 vale	 lembrar	 que	 a	 responsabilidade	 pelo	 dano
ambiental	é	subjetiva	quando	verificada	na	esfera	administrativa
e	criminal.	
A	criminal	segue	a	lógica	do	chamado	direito	penal	do	fato,	que
exige	 dolo	 do	 agente,	 ou	 no	 mínimo	 culpa,	 nos	 casos
expressamente	previstos	pelo	legislador.	
Já	na	esfera	administrativa,	houve	certa	oscilação	jurisprudencial
a	 respeito,	culminando	na	responsabilidade	subjetiva,	conforme
Recurso	Especial	nº	1.318.051,	julgado	em	2019:
PROCESSUAL	CIVIL.	EMBARGOS	DE	DIVERGÊNCIA	SUBMETIDOS	AO	ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO	 2/STJ.	 EMBARGOS	 À	 EXECUÇÃO.	 AUTO	 DE	 INFRAÇÃO
13Curso	Ênfase	©	2021
LAVRADO	 EM	 RAZÃO	 DE	 DANO	 AMBIENTAL.	 NECESSIDADE	 DE
DEMONSTRAÇÃO	 DA	 RESPONSABILIDADE	 SUBJETIVA.	 1.	 Na	 origem,	 foram
opostos	embargos	à	execução	objetivando	a	anulação	de	auto	de	infração	lavrado	pelo
Município	 de	 Guapimirim	 -	 ora	 embargado	 -,	 por	 danos	 ambientais	 decorrentes	 do
derramamento	de	óleo	diesel	pertencente	à	ora	embargante,	após	descarrilamento	de
composição	 férrea	 da	Ferrovia	Centro	Atlântica	 (FCA).	 2.	 A	 sentença	 de	 procedência
dos	embargos	à	execução	 foi	reformada	pelo	Tribunal	de	 Justiça	do	Estado	do	Rio	de
Janeiro	pelo	 fundamento	de	que	“o	 risco	da	atividade	desempenhada	pela	apelada	ao
causar	danos	ao	meio	ambiente	consubstancia	o	nexo	causal	de	sua	responsabilidade,
não	 havendo,	 por	 conseguinte,	 que	 se	 falar	 em	 ilegitimidade	 da	 embargante	 para
figurar	no	polo	passivo	do	auto	de	 infração	que	 lhe	fora	 imposto”,	entendimento	esse
mantido	 no	 acórdão	 ora	 embargado	 sob	 o	 fundamento	 de	 que	 “[a]	 responsabilidade
administrativa	ambiental	é	objetiva”.	3.	Ocorre	que,	conforme	assentado	pela	Segunda
Turma	no	julgamento	do	REsp	1.251.697/PR,	de	minha	relatoria,	DJe	de	17/4/2012),	“a
aplicação	 de	 penalidades	 administrativas	 não	 obedece	 à	 lógica	 da
responsabilidade	objetiva	da	esfera	cível	(para	reparação	dos	danos	causados),
mas	deve	obedecer	à	sistemática	da	teoria	da	culpabilidade,	ou	seja,	a	conduta
deve	 ser	 cometida	 pelo	 alegado	 transgressor,	 com	 demonstração	 de	 seu
elemento	 subjetivo,	 e	 com	demonstração	do	nexo	 causal	 entre	 a	 conduta	 e	 o
dano”.	4.	No	mesmo	sentido	decidiu	a	Primeira	Turma	em	caso	análogo	envolvendo	as
mesmas	partes:	 “A	 responsabilidade	 civil	 ambiental	 é	 objetiva;	 porém,	 tratando-se	de
responsabilidade	 administrativa	 ambiental,	 o	 terceiro,	 proprietário	 da	 carga,	 por	 não
ser	 o	 efetivo	 causador	 do	 dano	 ambiental,	 responde	 subjetivamente	 pela	 degradação
ambiental	 causada	 pelo	 transportador”	 (AgRg	 no	 AREsp	 62.584/RJ,	 Rel.p/	 Acórdão
Ministra	Regina	Helena	Costa,	DJe	de	7/10/2015).	5.	Embargos	de	divergência	providos
(EREsp.	nº	1.318.051/RJ,	rel.	Min.	Mauro	Campbell	Marques,	Primeira	Seção,	 julgado
em	08.05.2019,	DJe	12.06.2019	‒	Informativo	nº	650).
4.	Novas	súmulas	do	STJ:	nºs	613,	618,	623	e	629
Súmula	nº	613	–	Não	se	admite	a	aplicação	da	teoria	do	fato	consumado	em	tema	de
Direito	Ambiental.
É	 possível	 que	 seja	 concedida	 uma	 liminar	 suspendendo	 a
construção	 de	 uma	 usina	 e,	 posteriormente,	 o	 presidente	 do
tribunal	 suspenda	 tal	 liminar,	 se	 a	 área	 estiver	 alagada.	 Como
retirar	 a	 usina	 não	 reverte	 o	 dano,	 pois	 a	 área	 já	 foi	 afetada,
tem-se	 que	 a	 própria	 realidade	 fenomênica	 gerou	 um	 fato
14Curso	Ênfase	©	2021
consumado.
O	que	o	STJ	não	admite	é	aplicar	a	teoria	do	fato	consumado.	Por
exemplo:	um	 indivíduo	não	pode	alegar	que	construiu	sua	casa
há	muitos	anos	e,	por	isso,	requer	a	aplicação	da	teoria	do	fato
consumado.	 Se	 houver	 a	 possibilidade	 fenomênica	 e
proporcional	 –	 do	 ponto	 de	 vista	 de	 uma	 abordagem	 de
ecoproporcionalidade	 –	 de	 remoção,	 não	 se	 admite	 a	 aplicação
da	teoria	do	fato	consumado.
O	STJ	também	não	admite	a	teoria	do	fato	consumado	para	fins
de	posse	em	cargo	público	por	força	de	liminar	–	posse	precária.
Observa-se	 que	 o	 fato	 consumado	 é	 admitido	 muito
excepcionalmente	na	jurisprudência	do	STJ.	Um	exemplo	de	sua
aplicação	 é	 o	 caso	 de	 transferência	 liminar	 de	 universidade.
Depois,	se	acaso	a	decisão	for	desfavorável,	mas	o	 indivíduo	 já
estiver	formado,	admite-se	o	fato	consumado.
Súmula	nº	618	do	STJ	–	A	inversão	do	ônus	da	prova	aplica-se	às	ações	de	degradação
ambiental.
Cabe	 a	 inversão	 do	 ônus	 da	 prova	 nas	 ações	 de	 degradação
ambiental,	 sendo	 esse	 o	 viés	 processual	 do	 princípio	 da
precaução.	 O	 viés	 natural	 é	 a	 paralisação	 do	 empreendimento
potencialmente	 causador	 de	 danos	 graves,	 diante	 de	 fundada
dúvida	a	seu	respeito.	
Súmula	 nº	 623	 do	 STJ	 –	 As	 obrigações	 ambientais	 possuem	 natureza	 propter	 rem,
sendo	 admissível	 cobrá-las	 do	 proprietário	 ou	 possuidor	 atual	 e/ou	 dos	 anteriores,	 à
escolha	do	credor.
A	disposição	dessa	súmula	se	refere	às	obrigações	ambientais	de
natureza	civil,	posto	que,	para	a	responsabilidade	administrativa,
vale	 a	 intranscendência	 das	 penas,	 que	 é	 subjetiva.	 As
obrigações	 ambientais	 propter	 rem	 podem	 ser	 cobradas	 do
proprietário,	 possuidor	 atual	 ou	 dos	 anteriores,	 havendo
litisconsórcio	 facultativo.	 Além	 disso,	 o	 poder	 público	 também
responde	 quando	 sua	 omissão	 for	 determinante	 para	 a
concretização	 ou	 agravamento	 do	 dano,	 havendo
15Curso	Ênfase	©	2021
responsabilidade	 solidária	 para	 o	 poder	 público	 com	 execução
subsidiária:	 em	 outras	 palavras,	 o	 poder	 público	 responde
quando	o	outro	não	responder.
Súmula	nº	629	do	STJ	–	Quanto	ao	dano	ambiental,	é	admitida	a	condenação	do	réu	à
obrigação	de	fazer	ou	à	de	não	fazer	cumulada	com	a	de	indenizar.
Essa	 Súmula	 tem	 como	 fundamento	 o	 princípio	 da	 reparação
integral.	Diz	o	STJ:	“(...)	equiparam-se	 quem	 faz,	 quem	não	 faz	 quando	 deveria
fazer,	 quem	 deixa	 fazer,	 quem	 não	 se	 importa	 que	 façam,	 quem	 financia	 para	 que
façam,	e	quem	se	beneficia	quando	outros	fazem.	(...)”	(Recurso	Especial	nº	1.090.968
‒	 SP	 ‒	 2008/0207311-0).	Ou	 seja,	 um	nexo	 causal	muito	 forte	 com	a
questão	 do	 financiamento	 funciona	 assim:	 se	 alguém	 financia
empreendimento	que	não	tem	licenciamento,	que	não	obedece	a
padrões	ambientais	mínimos,	a	pessoa	também	paga	por	isso.É
a	Teoria	do	Bolso	Profundo,	obrigação	solidária	com	litisconsórcio
meramente	facultativo.	Por	exemplo,	o	art.	12	da	PNMA	–	Lei	nº
6.938/1981	 permite	 a	 responsabilidade	 daquele	 que	 financia	 o
empreendimento	ambiental	sem	licenciamento.	Temos	também,
na	 Lei	 de	 Biossegurança,	 um	 dispositivo	 que	 permite	 a
responsabilidade	do	financiador.
5.	Precedentes	em	destaque	do	STJ
5.1.	REsp.	nº	1.797.175/SP	–	guarda	de	animal	silvestre
ADMINISTRATIVO.	 AMBIENTAL.	 RECURSO	 ESPECIAL.	 NÃO	 CONFIGURADA	 A
VIOLAÇÃO	DO	ART.	1.022	DO	CPC.	INEXISTÊNCIA	DE	OMISSÃO,	OBSCURIDADE	OU
CONTRADIÇÃO.	MULTA	JUDICIAL	POR	EMBARGOS	PROTELATÓRIOS.	INAPLICÁVEL.
INCIDÊNCIA	DA	SÚMULA	98	DO	STJ.	MULTA	ADMINISTRATIVA.	REDISCUSSÃO	DE
MATÉRIA	 FÁTICA.	 IMPOSSIBILIDADE.	 SÚMULA	 7	 DO	 STJ.	 INVASÃO	 DO	 MÉRITO
ADMINISTRATIVO.	 GUARDA	 PROVISÓRIA	 DE	 ANIMAL	 SILVESTRE.	 VIOLAÇÃO	 DA
DIMENSÃO	 ECOLÓGICA	 DO	 PRINCÍPIO	 DA	 DIGNIDADE	 HUMANA.	 1.	 Na	 origem,
trata-se	 de	 ação	 ordinária	 ajuizada	 pela	 recorrente	 no	 intuito	 de	 anular	 os	 autos	 de
infração	emitidos	pelo	IBAMA	e	restabelecer	a	guarda	do	animal	silvestre	apreendido.
2.	Não	há	 falar	em	omissão	no	 julgado	apta	a	 revelar	a	 infringência	ao	art.	1.022	do
CPC.	O	Tribunal	a	quo	fundamentou	o	seu	posicionamento	no	tocante	à	suposta	prova
16Curso	Ênfase	©	2021
de	bons	tratos	e	o	suposto	risco	de	vida	do	animal	silvestre.	O	fato	de	a	solução	da	lide
ser	 contrária	 à	 defendida	 pela	 parte	 insurgente	 não	 configura	 omissão	 ou	 qualquer
outra	causa	passível	de	exame	mediante	a	oposição	de	embargos	de	declaração.	3.	Nos
termos	 da	 Súmula	 98/STJ:	 “Embargos	 de	 declaração	 manifestados	 com	 notório
propósito	de	prequestionamento	não	têm	caráter	protelatório”.	O	texto	sumular	alberga
a	pretensão	recursal,	posto	que	não	são	protelatórios	os	embargos	opostos	com	intuito
de	prequestionamento,	logo,	incabível	a	multa	imposta.	4.	Para	modificar	as	conclusões
da	Corte	de	origem	quanto	aos	 laudos	 veterinários	 e	demais	 elementos	de	 convicção
que	 levaram	 o	 Tribunal	 a	 quo	 a	 reconhecer	 a	 situação	 de	 maus-tratos,	 seria
imprescindível	 o	 reexame	 da	 matéria	 fático-probatória	 da	 causa,	 o	 que	 é	 defeso	 em
recurso	especial	ante	o	que	preceitua	a	Súmula	7/STJ:	“A	pretensão	de	simples	reexame
de	prova	não	enseja	recurso	especial”.	Precedentes.	5.	No	que	atine	ao	mérito	de	fato,
em	relação	à	guarda	do	animal	silvestre,	em	que	pese	à	atuação	do	IBAMA	na	adoção
de	providências	 tendentes	 a	 proteger	 a	 fauna	brasileira,	 o	 princípio	 da	 razoabilidade
deve	 estar	 sempre	 presente	 nas	 decisões	 judiciais,	 já	 que	 cada	 caso	 examinado
demanda	uma	solução	própria.	Nessas	condições,	a	reintegração	da	ave	ao	seu	habitat
natural,	conquanto	possível,	pode	ocasionar-lhe	mais	prejuízos	do	que	benefícios,	tendo
em	 vista	 que	 o	 papagaio	 em	 comento,	 que	 já	 possui	 hábitos	 de	 ave	 de	 estimação,
convive	 há	 cerca	 de	 23	 anos	 com	 a	 autora.	 Ademais,	 a	 constante	 indefinição	 da
destinação	 final	 do	 animal	 viola	 nitidamente	 a	 dignidade	 da	 pessoa	 humana	 da
recorrente,	 pois,	 apesar	 de	 permitir	 um	 convívio	 provisório,	 impõe	 o	 fim	 do	 vínculo
afetivo	 e	 a	 certeza	 de	 uma	 separação	 que	 não	 se	 sabe	 quando	 poderá	 ocorrer.	 6.
Recurso	especial	parcialmente	provido	(REsp.	nº	1.797.175/SP,	julgado	em	21.03.2019,
publicado	em	28.03.2019,	rel.	Ministro	Og	Fernandes).
Esse	 julgado	 é	 fundamental	 do	 ponto	 de	 vista	 teórico;	 já	 do
ponto	 de	 vista	 do	 resultado	 do	 julgamento,	 não	 tem	 grandes
novidades,	 pois	 já	 foi	 trabalhado	 na	 parte	 de	 direitos	 dos
animais.	Nesse	caso,	tratava-se	da	guarda	de	ave	silvestre;	o	STJ
já	 tem	 vários	 precedentes	 nessa	 temática.	 Se	 o	 indivíduo	 tem
uma	 ave	 que	 já	 esteja	 relativamente	 domesticada,	 restou
consignado	 que	 viola	 a	 dimensão	 ecológica	 da	 dignidade
humana	a	reintegração,	ao	seu	habitat	natural,	de	ave	silvestre
que	 já	 possui	 hábitos	 de	 animal	 de	 estimação	 e	 convivência
habitual	duradoura	com	seu	dono.
No	entanto,	 teoricamente,	 reconheceu-se	a	dimensão	ecológica
17Curso	Ênfase	©	2021
do	 princípio	 da	 dignidade	 humana;	 antes,	 isso	 não	 era
considerado.	 Assim,	 a	 dignidade	 humana	 vale	 para	 todos	 os
seres	sencientes,	pessoas	e	animais.	Há	um	redimensionamento
da	própria	relação	entre	ser	humano	e	natureza,	a	partir	daquele
marco	 biocêntrico	 abordado	 na	 reflexão	 de	 Michel	 Serres:	 não
temos	 uma	 relação	 de	 propriedade,	 mas	 de	 simbiose	 com	 o
ambiente	a	fauna.
À	 vista	 disso,	 reconheceu-se	 também	 o	 valor	 intrínseco	 do
animal	 não	 humano	 e	 da	 natureza:	 o	 animal	 é	 um	 sujeito	 de
direito	 não	 humano.	 Nota-se	 até	 uma	 evolução	 para	 uma
perspectiva	 como	 a	 da	 Constituição	 equatoriana,	 em	 que	 a
própria	Pacha	Mama	(ou	natureza)	tem	direitos,	ou	a	decisão	da
Corte	 Constitucional	 colombiana,	 que	 reconheceu	 o	 Rio	 Atrato
como	 sujeito	 de	 direitos,	 ou	 a	 decisão	 da	 Corte	 Constitucional
indiana,	que	reconheceu	o	Rio	Ganges	como	sujeito	de	direitos.
Tem-se,	 dessa	 forma,	 que	 o	 animal	 não	 pode	 mais	 ser
coisificado.	Observa-se	que	a	decisão	sequer	fala	em	“posse	de
animal”,	 mas,	 sim,	 em	 “guarda	 de	 animal”	 não	 humano,	 no
sentido	de,	 inclusive,	atribuir	direitos	fundamentais	aos	animais
não-humanos;	 noutros	 termos,	 rejeita-se	 a	 ideia	 de	 dominação
do	ser	humano	sobre	os	demais	seres	da	coletividade	planetária.
Tudo	 isso	 foi	 trabalhado	 nesse	 julgado,	 logo,	 é	muito	 relevante
esse	ponto	de	vista.	Embora	o	dispositivo	seja	semelhante,	o	que
foi	trabalhado	nesse	 julgado	é	muito	forte	sob	a	perspectiva	da
doutrina	 avançada	 de	 direitos	 dos	 animais.	 Confira	 as
informações	do	inteiro	teor	do	Informativo	nº	645	do	STJ:
Inicialmente,	 cumpre	 destacar	 que	 se	 deve	 refletir	 sobre	 o	 conceito	 kantiano,
antropocêntrico	e	individualista	de	dignidade	humana	para	incidir	também	em	face	dos
animais	não	humanos,	bem	como	de	todas	as	formas	de	vida	em	geral,	à	luz	da	matriz
jusfilosófica	 biocêntrica	 (ou	 ecocêntrica),	 capaz	 de	 reconhecer	 a	 teia	 da	 vida	 que
permeia	as	relações	entre	ser	humano	e	natureza.	Inserido	nesse	pensamento	é	que	se
faz	 premente	 a	 discussão,	 principalmente	 em	 relação	 aos	 animais	 não	 humanos,
devendo-se	 reformular	o	 conceito	de	dignidade,	objetivando	o	 reconhecimento	de	um
fim	 em	 si	mesmo,	 ou	 seja,	 de	 um	 valor	 intrínseco	 conferido	 aos	 seres	 sensitivos	 não
humanos,	que	passariam	a	ter	reconhecido	o	status	moral	e	dividir	com	o	ser	humano	a
18Curso	Ênfase	©	2021
mesma	comunidade	moral,	conforme	proposto	pela	doutrina.	
Percebe-se	 a	 dimensão	 ecológica	 do	 princípio	 da	 dignidade
humana,	 com	 a	 concretização	 do	 Estado	 Constitucional
Ecológico,	 ou	 Estado	 de	 Direito	 Ambiental.	 Desse	 modo,
trabalha-se	 com	 uma	 concepção	 biocêntrica	 ou	 ecocêntrica,
sendo	 premente	 a	 discussão	 da	 dignidade	 dos	 animais	 não
humanos,	isto	é,	a	dimensão	ecológica	do	princípio	da	dignidade
humana.
Vale	 lembrar	 que	 os	 animais	 têm	 um	 fim	 em	 si	mesmos	 e	 um
valor	 intrínseco	 por	 serem	 seres	 sensitivos.	 Ainda,	 é	 possível
limitar	os	direitos	fundamentais	dos	seres	humanos	com	base	no
reconhecimento	do	interesse	não	humano	de	animais.
Assim,	 a	 proteção	 dos	 direitos	 dos	 animais	 não	 ocorre	 por
compaixão	 humana	 ou	 dignidade	 humana,	 mas	 pela	 própria
dignidade	 inerente	 à	 existência	 dos	 animais	 não	 humanos.	 Por
conseguinte,	 há	 a	 dignidade	 dos	 animais	 humanos,	 e	 há	 a
dignidade	 dos	 animais	 não	 humanos:	 trata-se	 da	 dimensão
ecológica	 do	 princípio	 da	 dignidade.	 Esse	 é	 um	 dever	 moral,
tendo-se	os	animais	não	humanos	como	seres	de	valor	próprio.
No	 caso	 analisado,	 o	 foco	 foi	 no	 melhor	 interesse	 do	 animal
(assim	 como	 o	 Estatuto	 da	 Criança	 e	 do	 Adolescente	 –	 ECA	 –
inclui	 o	 princípio	 do	melhor	 interesse	 da	 criança),	 bem	 como	o
que	 viola	 a	 dimensão	 ecológica	 da	 dignidade	 humana.	 Assim,
reconheceu-seque	 as	 múltiplas	 mudanças	 de	 ambiente
gerariam	estresse	ao	animal.	Por	essa	razão,	o	STJ	deu	a	guarda
definitiva	do	papagaio	a	seu	“dono”,	como	já	vinha	fazendo	em
outros	precedentes.
5.2.	Informativo	nº	643	(03/2019)	–	Tema	nº	923
Quando	acontece	 acidente	 como	os	 de	Mariana	 e	Brumadinho,
há	dano	ambiental	público	e	privado;	com	isso,	têm-se	diversas
ações	individuais	e	uma	ação	não	individual.
O	 STJ	 disse,	 para	 a	 exploração	 de	 chumbo	 no	 município	 de
19Curso	Ênfase	©	2021
Adrianópolis,	 que	 gerou	 contaminação	 ambiental,	 que	 até	 a
resolução	da	macrolide	(grande	lide)	do	dano	ambiental	público	–
que	 gerou	 todos	 os	 processos	 multitudinários	 em	 razão	 da
suposta	 contaminação	 –,	 ficam	suspensas	as	 ações	 individuais.
Esse	é	um	caso	de	dano	ambiental;	dessa	 forma,	 trabalha-se	o
processo	 ambiental	 coletivo.	 Veja	 a	 tese	 firmada	 no	 Tema	 nº
923:	
Até	o	trânsito	em	julgado	das	Ações	Civis	Públicas	n.	5004891-93.2011.4004.7000	e	n.
2001.70.00.019188-2,	em	tramitação	na	Vara	Federal	Ambiental,	Agrária	e	Residual	de
Curitiba,	 atinentes	 à	 macrolide	 geradora	 de	 processos	 multitudinários	 em	 razão	 de
suposta	 exposição	 à	 contaminação	 ambiental	 decorrente	 da	 exploração	 de	 jazida	 de
chumbo	no	Município	de	Adrianópolis-PR,	deverão	ficar	suspensas	as	ações	individuais.
Dano	 ambiental.	 Ações	 civis	 públicas.	 Tutela	 dos	 direitos	 individuais	 homogêneos.
Inexistência	de	prejuízo	à	reparação	dos	danos	 individuais	e	ao	ajuizamento	de	ações
individuais.	Conveniência	da	suspensão	dos	feitos	individuais.	(...)
Ajuizada	 ação	 coletiva	 atinente	 à	 macrolide	 geradora	 de	 processos	 multitudinários,
suspendem-se	as	ações	individuais,	no	aguardo	do	julgamento	da	ação	coletiva.	(...)
A	coletivização	da	demanda,	é	um	dos	meios	mais	eficazes	para	a	realização	do	acesso
à	justiça,	porquanto,	além	de	reduzir	os	custos,	consubstancia-se	em	instrumento	para
a	concentração	de	litigantes	em	um	polo,	evitando-se,	assim,	os	problemas	decorrentes
dos	 inúmeros	 procedimentos	 semelhantes.	 (...)	 Assim,	 o	 mais	 prudente	 é	 o
sobrestamento	dos	feitos	individuais	até	a	solução	definitiva	do	litígio	coletivo.
Em	suma,	o	mais	prudente	é	suspender	os	feitos	individuais.
5.3.	Informativo	nº	643	–	Tráfego	de	veículos	de	carga
com	excesso	de	peso
Trata-se	 do	 REsp.	 nº	 1.574.350/SC,	 julgado	 em	 03.10.2017,
publicado	 em	 06.03.2019,	 relator	 Ministro	 Herman	 Benjamin.
Destacamos	que:
O	 tráfego	de	 veículos	 com	excesso	 de	 peso	 gera	 responsabilidade	 civil	 em	 razão	dos
danos	materiais	às	vias	públicas	e	do	dano	moral	coletivo	consistente	no	agravamento
dos	 riscos	 à	 saúde	 e	 à	 segurança	 de	 todos,	 sendo	 viável,	 como	medida	 coercitiva,	 a
aplicação	de	multa	civil	(astreinte),	ainda	que	já	imputada	multa	administrativa.	
20Curso	Ênfase	©	2021
Tráfego	 de	 veículos	 de	 carga	 com	 excesso	 de	 peso.	 Danos
materiais	e	morais	coletivos	 in	re	ipsa.	Aplicação	de	multa	civil
(astreinte)	cumulável	com	multa	administrativa.	
Nesse	 caso,	 o	 STJ	 falou	 que	 esse	 fato	 causa	 vários	 danos
ambientais,	como	o	aumento	da	poluição	do	ar	e	a	facilitação	de
desgaste	 prematuro	 do	 pavimento.	 Ainda	 nesse	 cenário,	 além
dos	 outros	 danos	 (como	 o	 risco	 de	 acidentes),	 há	 o	 dano
material	e	moral	coletivo	 in	 re	 ipsa	 (pelo	 simples	 fato).	 Caso	 a
prova	 peça	 um	 exemplo	 de	 dano	 moral	 in	 re	 ipsa,	 além	 da
resposta	comumente	dada	referente	à	negativação	em	cadastro
restritivo	 de	 proteção	 ao	 crédito,	 pode-se	 responder	 que,
segundo	o	STJ,	o	 tráfego	de	veículo	com	excesso	de	peso	gera
dano	moral	coletivo	in	re	ipsa.	Nesse	precedente,	o	STJ	falou	que
astreintes	 (multa	 civil)	 são	 totalmente	cumuláveis	 com	a	multa
administrativa.	 Por	 exemplo,	 considere	 um	 indivíduo	 que	 seja
autuado	 por	 um	dano	 ambiental	 pelo	 IBAMA	 (multa)	 e,	 depois,
não	cumpra	uma	obrigação	de	fazer	no	processo	(multa	civil).
Essas	 multas	 serão	 cumuláveis.	 As	 finalidades	 são	 totalmente
distintas:	 astreintes	 são	 para	 constranger/estimular	 o
cumprimento	 da	 obrigação,	 e	 a	 autuação	 é	 pela
responsabilidade	administrativa.
(...)	 O	 transporte	 com	 excesso	 de	 carga	 nos	 caminhões	 causa	 dano	 material	 e
extrapatrimonial	in	re	ipsa	ao	patrimônio	público	(consubstanciado	em	deterioração	de
rodovia	 federal),	 ao	 meio	 ambiente	 (traduzido	 em	 maior	 poluição	 do	 ar	 e	 gastos
prematuros	com	novos	materiais	e	serviços	para	a	reconstrução	do	pavimento),	à	saúde
e	 segurança	 das	 pessoas	 (aumento	 do	 risco	 de	 acidentes,	 com	 feridos	 e	mortos)	 e	 à
ordem	econômica.	(...)
Portanto,	há	dano	extrapatrimonial	in	re	ipsa.
Confira	a	informação	do	inteiro	teor:	
A	ação	civil	pública	na	origem	possui	o	objetivo	de	 impedir	que	veículos	de	carga	de
determinada	 empresa	 trafeguem	 com	 excesso	 de	 peso	 nas	 rodovias,	 em	 desacato	 à
legislação,	sob	pena	de	multa	civil	(astreinte)	e,	ainda,	a	condenação	ao	pagamento	de
dano	material	 e	 moral	 coletivo,	 nos	 termos	 da	 Lei	 nº	 7.347/1985	 (Lei	 da	 Ação	 Civil
21Curso	Ênfase	©	2021
Pública).	 No	 caso	 analisado	 verificou-se	 que	 a	 lucratividade	 com	 o	 peso	 excessivo
compensa	 e	 supera	 eventual	 pagamento	 de	 multa	 administrativa,	 o	 que	 comprova	 a
incapacidade	 da	 sanção	 para	 reprimir	 e	 desencorajar	 a	 conduta	 legalmente	 vedada.
Saliente-se	que	a	existência	de	penalidade	ou	outra	medida	administrativa	in	abstracto
(para	 o	 futuro)	 ou	 in	 concreto	 (já	 infligida),	 como	 resposta	 a	 determinada	 conduta
ilegal,	não	exclui	a	possibilidade	e	a	necessidade	de	providência	judicial,	nela	contida	a
de	índole	cautelar	ou	inibitória,	com	o	intuito	de	proteger	os	mesmos	direitos	e	deveres
garantidos,	 em	 tese,	 pelo	 poder	 de	 polícia	 da	 Administração,	 seja	 com	 cumprimento
forçado	de	obrigação	de	 fazer	ou	de	não	 fazer,	seja	com	determinação	de	restaurar	e
indenizar	eventuais	danos	materiais	e	morais	causados	ao	indivíduo,	à	coletividade,	às
gerações	 futuras	 e	 a	 bens	 estatais.	 Registre-se	 que	 a	 multa	 civil	 (astreinte),
frequentemente	utilizada	como	reforço	de	autoridade	da	e	na	prestação	 jurisdicional,
não	 se	 confunde	 com	 multa	 administrativa.	 Tampouco	 caracteriza	 sanção	 judicial
“adicional”	 ou	 “sobreposta”	 à	 aplicável	 pelo	 Estado-Administrador	 com	 base	 no	 seu
poder	de	polícia.	Além	disso,	a	multa	administrativa,	como	pena,	destina-se	a	castigar
fatos	ilícitos	pretéritos,	enquanto	a	multa	civil	imposta	pelo	magistrado	projeta-se,	em
um	 de	 seus	 matizes,	 para	 o	 futuro,	 de	 modo	 a	 assegurar	 a	 coercitividade	 e	 o
cumprimento	 de	 obrigações	 de	 fazer	 e	 de	 não	 fazer	 (mas	 também	 de	 dar),	 legal	 ou
judicialmente	estabelecidas.	A	sanção	administrativa	não	esgota,	nem	poderia	esgotar,
o	rol	de	respostas	persuasivas,	dissuasórias	e	punitivas	do	ordenamento	no	seu	esforço
de	 prevenir,	 reparar	 e	 reprimir	 infrações.	 Por	 seu	 turno,	 indisputáveis	 os	 danos
materiais,	assim	como	o	nexo	de	causalidade.	O	transporte	com	excesso	de	carga	nos
caminhões	 causa	 dano	 material	 e	 extrapatrimonial	 in	 re	 ipsa	 ao	 patrimônio	 público
(consubstanciado	em	deterioração	de	rodovia	federal),	ao	meio	ambiente	(traduzido	em
maior	 poluição	 do	 ar	 e	 gastos	 prematuros	 com	 novos	 materiais	 e	 serviços	 para	 a
reconstrução	 do	 pavimento),	 à	 saúde	 e	 segurança	 das	 pessoas	 (aumento	 do	 risco	 de
acidentes,	com	feridos	e	mortos)	e	à	ordem	econômica.	O	comando	de	 limite	do	peso
vem	prescrito	não	por	 extravagância	 ou	experimento	de	 futilidade	do	 legislador	 e	do
administrador,	mas	justamente	porque	o	sobrepeso	causa	danos	ao	patrimônio	público
e	 pode	 acarretar	 ou	 agravar	 acidentes	 com	 vítimas.	 Portanto,	 inafastável	 a	 relação
entre	 a	 conduta	 do	 agente	 e	 o	 dano	 patrimonial	 imputado.	 Por	 fim,	 confirma-se	 a
existência	do	dano	moral	coletivo	em	razão	de	ofensa	a	direitos	coletivos	ou	difusos	de
caráter	 extrapatrimonial	 –	 consumidor,	 ambiental,	 ordem	 urbanística,entre	 outros	 –,
podendo-se	afirmar	que	o	caso	em	comento	é	de	dano	moral	in	re	ipsa,	ou	seja,	deriva
do	fato	por	si	só.
Considerando	que	o	acórdão	em	si,	em	que	pese	extremamente
extenso,	está	muito	bem	estruturado	do	ponto	de	vista	didático,
colacionamos	o	inteiro	teor	para	aqueles	que	queiram	acessá-lo
22Curso	Ênfase	©	2021
de	forma	mais	cômoda.	
ADMINISTRATIVO	E	PROCESSUAL	CIVIL.	DIREITO	AO	TRÂNSITO	SEGURO.	ARTS.
1º,	 99	 E	 231,	 V,	 DO	 CÓDIGO	 DE	 TRÂNSITO	 BRASILEIRO	 –	 CTB	 (LEI	 9.503/1997).
TRÁFEGO	DE	VEÍCULOS	DE	CARGA	COM	EXCESSO	DE	PESO.	PROTEÇÃO	DA
SAÚDE	 E	 SEGURANÇA	 DAS	 PESSOAS	 E	 CONSUMIDORES,	 ASSIM	 COMO	DO
PATRIMÔNIO	 PÚBLICO	 E	 PRIVADO.	 OBJETIVOS	 DE	 DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL	 –	 ODS.	 PEDIDO	 DE	 PROVIDÊNCIA	 JUDICIAL	 PREVENTIVA.
INDEPENDÊNCIA	ENTRE	INSTÂNCIAS	ADMINISTRATIVA	E	JUDICIAL.	PRINCÍPIO	DA
INAFASTABILIDADE	 DA	 JURISDIÇÃO.	 ASTREINTE.	 DANOS	 MATERIAIS	 E	 MORAIS
COLETIVOS.	OCORRÊNCIA.	ARTS.	1º,	IV,	E	3º	DA	LEI	7.347/85.	RESPONSABILIDADE
CIVIL.	FATOS	NOTÓRIOS.	ART.	374,	I,	DO	CÓDIGO	DE	PROCESSO	CIVIL.	VALOR	DA
INDENIZAÇÃO	 A	 SER	 FIXADO	 PELA	 INSTÂNCIA	 ORDINÁRIA.HISTÓRICO	 DA
DEMANDA.	1.	Cuida-se,	na	origem,	de	Ação	Civil	Pública	ajuizada	pelo	Ministério
Público	Federal	objetivando:	a)	 impedir	(obrigação	de	não	fazer),	sob	pena	de	multa
civil	(=	astreinte),	que	veículos	da	transportadora	recorrida,	em	total	rebeldia	contra	o
Código	 de	 Trânsito	 Brasileiro,	 trafeguem	 com	 excesso	 de	 peso	 nas	 rodovias,	 e	 b)
condenar	a	empresa	ao	pagamento	de	dano	material	e	moral	 coletivo,	nos	 termos	da
Lei	 7.347/1985.	 2.	 Segundo	 os	 autos,	 a	 Polícia	 Rodoviária	 Federal	 registrou	 85
(oitenta	 e	 cinco)	 infrações	 de	 trânsito	 por	 excesso	 de	 peso	 cometidas	 por
veículos	 da	 empresa	 entre	 os	 anos	 de	 2003	 e	 2013,	 ou	 seja,	 praticamente	 uma
autuação	 a	 cada	 dois	 meses.	 O	 MPF	 notificou	 a	 ré	 visando	 celebrar	 Termo	 de
Ajustamento	de	Conduta	(TAC),	proposta	por	ela	recusada	sob	a	alegação	de	que,	caso
transportasse	volume	menor	de	carga,	ficaria	em	desvantagem	econômica	perante	seus
concorrentes.	Daí	ser	possível	concluir	que	a	lucratividade	com	o	peso	excessivo
compensa	 e	 supera	 eventual	 pagamento	 de	 multa	 administrativa,	 o	 que	 só
comprova	 a	 absoluta	 incapacidade	 da	 sanção	 para	 reprimir	 e	 desencorajar	 a
conduta	 legalmente	 vedada.	 3.	 Insurge-se	 o	MPF	 contra	 sentença	 e	 acórdão	 que,
primeiro,	 negaram	 condenar	 a	 empresa	 a	 não	 trafegar	 com	 excesso	 de	 peso	 pelas
estradas,	fazendo-o	sob	o	argumento	de	que	já	existe,	no	Código	Brasileiro	de	Trânsito,
penalidade	administrativa	para	 tal	conduta,	e,	 segundo,	afastaram	a	responsabilidade
civil	 por	 danos	 materiais	 e	 morais	 coletivos.	DIREITO	 AO	 TRÂNSITO	 SEGURO	 E
POSIÇÃO	DO	BRASIL	 COMO	UM	DOS	RECORDISTAS	DE	ACIDENTES.	 4.	Nos
termos	da	 legislação	federal,	“o	trânsito,	em	condições	seguras,	é	um	direito	de
todos”	e	“somente	poderá	transitar	pelas	vias	terrestres	o	veículo	cujo	peso	e
dimensões	 atenderem	 aos	 limites	 estabelecidos	 pelo	 CONTRAN”
(respectivamente	 arts.	 1º,	 §	 2º,	 e	 99	 do	 Código	 de	 Trânsito	 Brasileiro,	 grifo
acrescentado).	Além	disso,	o	mesmo	CTB	dispõe	ser	infração	administrativa	“transitar
com	o	veículo	com	excesso	de	peso”,	prevendo,	como	penalidade,	aplicação	de	multa	e,
23Curso	Ênfase	©	2021
como	medida	 administrativa,	 “retenção	 do	 veículo	 e	 transbordo	 da	 carga	 excedente”
(art.	 231,	 V).	 5.	 Não	 obstante	 a	 literal	 prescrição	 normativa	 –	 fruto	 da	 ação	 do
legislador	e	não	de	 invencionice	 judicial	 fora	de	propósito	 –	de	um	“direito	de	 todos”
(art.	 1º,	 §	 2º)	 e	 de	 um	 “dever	 de	 todos”	 (art.	 99),	o	Brasil	 continua	 a	 apresentar
altíssimo	 índice	 de	 mortes	 nas	 rodovias.	 Dados	 da	 Organização	 Mundial	 de
Saúde	colocam-nos	como	quarto	País,	nas	Américas,	em	que	mais	se	mata	em
acidentes	de	trânsito;	e	como	campeão	de	mortes,	em	proporção	ao	número	de
habitantes,	na	América	do	Sul.	Em	2015,	 foram	registrados	37.306	óbitos	e	204
mil	 feridos,	 consoante	 estatísticas	 do	 Ministério	 da	 Saúde.	 Estima-se	 que
aproximadamente	 43%	dos	 acidentes	 nas	 estradas	 federais	 terminem	 com	mortos	 ou
feridos,	 totalizando	um	óbito	para	 cada	dez	quilômetros	de	 rodovia,	 e	 234	para	 cada
milhão	de	habitantes.	6.	Ao	lado	das	implicações	patrimoniais	stricto	sensu	(danosidade
a	bens	públicos	e	privados),	o	direito	ao	trânsito	seguro	manifesta	primordial	e	urgente
questão	 de	 vida,	 saúde	 e	 bem-estar	 coletivos,	 três	 dos	 pilares	 estruturais	 do
Direito	 Brasileiro.	 Donde	 ser	 inadmissível	 ao	 Poder	 Judiciário,	 defrontado	 com
infrações	 cotidianas,	 repetitivas	 e	 por	 vezes	 confessadas	 de	 direito	 de	 todos,
permanecer	indiferente	ou	se	omitir	quando	provocado	a	agir.	Sobre	o	tema	específico
dos	autos,	legislação	adequada	temos	de	sobra,	sem	falar	de	políticas	governamentais	e
princípios	 jurídicos	 apoiados	na	 razão,	 na	 experiência	 e	 em	expectativas	 comuns	dos
povos,	 formulados	 com	 amparo	 em	 consenso	 universal	 científico,	 ético	 e	 político,
mormente	por	instituições	internacionais	permanentes,	ao	ponto	de	a	Assembleia	Geral
das	Nações	Unidas	haver	consolidado	a	segurança	no	trânsito	como	um	dos	Objetivos
de	Desenvolvimento	Sustentável	–	ODS	(“até	2020,	reduzir	pela	metade	as	mortes	e	os
ferimentos	globais	por	acidentes	em	estradas”,	Objetivo	3.6).	REMÉDIOS	 JURÍDICOS
PREVENTIVOS,	 REPARATÓRIOS	 E	 SANCIONATÓRIOS:	 CLARA	 DISTINÇÃO	 ENTRE
ESFERAS	 ADMINISTRATIVA	 E	 JUDICIAL	 7.	 A	 existência	 de	 penalidade	 ou	 outra
medida	administrativa	 in	abstracto	 (para	 o	 futuro)	 ou	 in	 concreto	 (já	 infligida),	 como
resposta	a	determinada	conduta	 ilegal,	não	exclui	 a	possibilidade	e	a	necessidade	de
providência	 judicial,	 nela	 contida	 a	 de	 índole	 cautelar	 ou	 inibitória,	 com	 o	 intuito	 de
proteger	 os	mesmos	direitos	 e	deveres	garantidos,	 em	 tese,	 pelo	poder	de	polícia	 da
Administração,	seja	com	cumprimento	 forçado	de	obrigação	de	 fazer	ou	de	não	 fazer,
seja	 com	 determinação	 de	 restaurar	 e	 indenizar	 eventuais	 danos	materiais	 e	morais
causados	ao	indivíduo,	à	coletividade,	às	gerações	futuras	e	a	bens	estatais.	No	Brasil,
a	regra	geral	é	que	o	comportamento	anterior	–	real	ou	hipotético	–	do	administrador
não	 condiciona,	 nem	 escraviza,	 o	 desempenho	 da	 jurisdição.	 Isso	 porque	 a
intervenção	 do	 juiz	 legitima-se	 tanto	 para	 impugnar,	 censurar	 e	 invalidar
decisão	administrativa	proferida,	como	para	impor	ex	novo	aquela	que	deveria
ter	 ocorrido,	 no	 caso	 de	 omissão,	 e,	 noutra	 perspectiva,	 para	 substituir	 a
incompleta	 ou	 a	 deficiente,	 de	 maneira	 a	 inteirá-la	 ou	 aperfeiçoá-la.	 8.
Independentes	 entre	 si,	 multa	 civil	 (=	 astreinte),	 frequentemente	 utilizada
24Curso	Ênfase	©	2021
como	 reforço	de	 autoridade	da	 e	na	prestação	 jurisdicional,	 não	 se	 confunde
com	multa	administrativa.	Tampouco	caracteriza	sanção	judicial	“adicional”	ou
“sobreposta”	à	aplicável	pelo	Estado-Administrador	com	base	no	seu	poder	de
polícia.	Além	 disso,	 a	 multa	 administrativa,	 como	 pena,	 destina-se	 a	 castigar	 fatos
ilícitos	pretéritos,	enquanto	a	multa	civil	imposta	pelo	magistrado	projeta-se,	em	um	de
seus	matizes,	para	o	futuro,	de	modo	a	assegurar	a	coercitividade	e	o	cumprimento	de
obrigações	 de	 fazer	 e	 de	 não	 fazer	 (mas	 também	 de	 dar),	 legal	 ou	 judicialmente
estabelecidas.	 9.	 A	 sanção	 administrativa	 não	 esgota,	 nem	 poderia	 esgotar,	 o	 rol	 de
respostas	persuasivas,	dissuasórias	e	punitivas	do	ordenamento	no	seu	esforço	–	típico
desafio	 de	 sobrevivência	 –	 de	 prevenir,	 reparar	 e	 reprimir	 infrações.	 Assim,	 a
admissibilidade	de	cumulação	de	multa	administrativa	e	de	multa	civil	integra	o	próprio
tecido	 jurídico	 do	 Estado	 Social	 de	 Direito	 brasileiro,	 inseparável	 de	 um	 dos	 seus
atributos	básicos,	o	imperativo	categórico	e	absoluto	de	eficácia	de	direitos	e	deveres.
10.	 Como	 explicitado	 pelos	 eminentes	 integrantes	 da	 Segunda	 Turmado	 STJ,	 por
ocasião	 dos	 debates	 orais	 em	 sessão,	 a	 presente	 demanda	 cuida	 de	 problema
“paradigmático”,	diante	“da	desproporcionalidade	entre	a	sanção	imposta	e	o	benefício
usufruído”,	 pois	 “a	 empresa	 tolera	 a	 multa”	 administrativa,	 na	 medida	 em	 que	 “a
infração	vale	a	pena”,	estado	de	coisa	que	desrespeita	o	princípio	que	veda	a	“proteção
deficiente”,	 também	 no	 âmbito	 da	 “consequência	 do	 dano	 moral”	 (Ministro	 Og
Fernandes).	 Observa-se	 nessa	 espécie	 de	 comportamento	 “à	 margem	 do	 CTB”,	 e
reiterado,	“um	investimento	empresarial	na	antijuridicidade	do	ato,	que,	nesse	caso,	só
pode	ser	reprimido	por	ação	civil	pública”	(Ministro	Mauro	Campbell).	A	matéria	posta
perante	o	STJ,	portanto,	é	da	maior	“importância”	(Ministra	Assusete	Magalhães),	tanto
mais	quando	o	quadro	fático	passa	a	nefasta	ideia	de	que	“compensa	descumprir	a	lei	e
pagar	um	pouquinho	mais”,	percepção	a	ser	rejeitada	“para	que	se	saiba	que	o	Brasil
está	mudando,	inclusive	nessa	área”	(Ministro	Francisco	Falcão).	11.	Embora	não	seja
esse	o	ponto	central	do	presente	litígio,	nem	ao	leigo	passará	despercebido	que
se	 esvai	 de	 qualquer	 sentido	 ou	 valor	 prático,	mas	 também	moral,	 jurídico	 e
político,	 a	 pena	 incapaz	 de	 desestimular	 a	 infração	 e	 dela	 retirar	 toda	 a
possibilidade	de	lucratividade	ou	benefício.	De	igual	jeito	ocorre	com	a	sanção	que,
de	 tão	 irrisória,	 passa	 a	 fazer	 parte	 do	 custo	 normal	 do	 negócio,	 transformando	 a
ilegalidade	em	prática	rotineira	e	hábito	empresarial	em	vez	de	desvio	extravagante	a
disparar	 opróbio	 individual	 e	 reprovação	 social.	 Nessa	 linha	 de	 raciocínio,	 o
nanismo	 e	 a	 leniência	 da	 pena,	 incluindo-se	 a	 judicial,	 que	 inviabilizem	 ou
dilapidem	a	sua	natureza	e	ratio	de	garantia	da	ordem	jurídica,	debocham	do
Estado	de	Direito,	pervertem	e	desacreditam	seu	alicerce	central,	 o	 festejado
império	da	lei.	A	ganância	das	transportadoras,	in	casu,	espelha	e	semeia	uma	cultura
de	 licenciosidade	 infracional,	 dela	 se	 alimentando	 em	 círculo	 vicioso,	 algo	 que,	 por
certo,	 precisa	 ensejar	 imediata	 e	 robusta	 repulsa	 judicial.	 12.	Mas,	 aqui,	 repita-se,	 a
questão	 trazida	 no	 recurso	 é	 de	 ordem	 diversa:	 a	 quem	 devem	 recorrer	 os
25Curso	Ênfase	©	2021
prejudicados	 e	 seus	 representantes,	 titulares	 do	 direito	 ao	 trânsito	 seguro?
Encontrarão	por	acaso	as	portas	do	Judiciário	fechadas	sob	o	argumento	de	que	existe
para	 tais	 violações	 a	 correspondente	 sanção	 administrativa	 ou	 penal?	 A	 resposta
correta,	 ao	 contrário,	 por	 mais	 consentânea	 com	 a	 ordem	 jurídica	 e	 a
jurisprudência	 do	STJ,	 só	 pode	 ser	 a	 de	 propiciar	 ao	 cidadão	 amplo	 acesso	 à
justiça,	 em	especial	 quando	pleiteia	 “novos	 direitos”	 da	 classe	 em	discussão,
ainda	 pouco	 conhecidos	 e	 valorizados,	 lamentavelmente	 incompreendidos,
como	 o	 direito	 ao	 trânsito	 seguro.	 13.	 Em	 situações	 de	 ilegalidade,	 saber	 se
compete	ao	Judiciário	–	na	posição	peculiar	de	árbitro	par	excellence	e	 instância	 final
da	 ordem	 jurídica	 –	 implementar	 direitos	 e	 obrigações	 solene	 e	 inequivocamente
proclamados	 pelo	 legislador	 não	 haverá	 de	 incitar	 nenhuma	 surpresa	 ou	 hesitação,
pouco	importando	o	caráter	implacável	ou	brando,	ou	mesmo	a	inexistência,	de	sanção
administrativa	 ou	 penal.	 Por	 acaso	 caberia	 ao	 juiz	missão	 de	 estatura	 superior	 à	 de,
quando	provocado,	realizar	direitos	e	obrigações	legalmente	previstos?	Em	verdade,	o
ápice	do	esplendor	da	potestade	judicante	irrompe	no	exercício	do	ofício	intransferível
e	irrenunciável	de,	na	jurisdição	cível,	(re)afirmar	direitos	e	obrigações	estatuídos	pelo
legislador	–	por	óbvio,	sem	preterir	os	abonados	criminal	e	administrativamente	–,	de
modo	a	coibir,	sem	deixar	frestas,	infrações	e	reparar	prejuízos	no	confronto	diário	das
relações	em	sociedade.	RESPONSABILIDADE	CIVIL	POR	DANOS	PATRIMONIAIS
E	MORAIS	COLETIVOS.	14.	É	fato	notório	(art.	374,	I,	do	CPC)	que	o	tráfego	de
veículos	com	excesso	de	peso	provoca	sérios	danos	materiais	às	vias	públicas,
ocasionando	definhamento	da	durabilidade	e	da	vida	útil	da	camada	que	reveste	e	dá
estrutura	ao	pavimento	e	ao	acostamento,	o	que	resulta	em	buracos,	fissuras,	lombadas
e	 depressões,	 imperfeições	 no	 escoamento	 da	 água,	 tudo	 a	 ampliar	 custos	 de
manutenção	 e	 de	 recuperação,	 consumindo	 preciosos	 e	 escassos	 recursos	 públicos.
Ademais,	acelera	a	depreciação	dos	veículos	que	utilizam	a	malha	viária,	 impactando,
em	 particular,	 nas	 condições	 e	 desempenho	 do	 sistema	 de	 frenagem	 da	 frota	 do
embarcador/expedidor.	Mais	 inquietante,	 afeta	 as	 condições	 gerais	 de	 segurança	 das
vias	 e	 estradas,	 o	 que	 aumenta	 o	 número	 de	 acidentes,	 inclusive	 fatais.	 Em
consequência,	 provoca	 dano	moral	 coletivo	 consistente	 no	 agravamento	 dos	 riscos	 à
saúde	e	à	segurança	de	todos,	prejuízo	esse	atrelado	igualmente	à	redução	dos	níveis
de	 fluidez	 do	 tráfego	 e	 de	 conforto	 dos	 usuários.	 Assim,	 reconhecidos	 os	 danos
materiais	 e	 morais	 coletivos	 (an	 debeatur),	 verifica-se	 a	 imprescindibilidade	 de
devolução	 do	 feito	 ao	 juízo	 de	 origem	 para	 mensuração	 do	 quantum	 debeatur.	 15.
Recurso	Especial	 provido,	 para	 deferir	 o	 pleito	 de	 tutela	 inibitória	 (infrações
futuras),	conforme	os	 termos	e	patamares	requeridos	pelo	Ministério	Público
Federal	 na	 petição	 inicial,	 devolvendo-se	 o	 feito	 ao	 juízo	 a	 quo	 a	 fim	 de	 que
proceda	à	fixação	dos	valores	dos	danos	materiais	e	morais	coletivos	e	difusos.
(Grifos	nossos.)
26Curso	Ênfase	©	2021
5.4.	Informativo	nº	625	
Trata-se	 da	 Ação	 Penal	 nº	 888/DF.	 A	 assinatura	 do	 termo	 de
ajustamento	 de	 conduta	 com	 órgão	 ambiental	 não	 impede	 a
instauração	de	ação	penal.	Mesmo	que	se	assine	um	TAC	com	o
MP	 que	 atua	 na	 esfera	 cível,	 o	 MP	 que	 atua	 na	 criminal	 pode
ajuizar	 ação	 penal.	 Isso	 se	 dá	 em	 razão	 da	 independência	 de
instâncias,	 considerando	 que	 o	 MP	 é	 titular	 da	 ação	 penal.
Confira	as	informações	do	inteiro	teor:
As	Turmas	especializadas	em	matéria	penal	desta	Corte	adotam	a	orientação	de	que,
em	 razão	 da	 independência	 das	 instâncias	 penal	 e	 administrativa,	 a	 celebração	 de
termo	 de	 ajustamento	 de	 conduta	 é	 incapaz	 de	 impedir	 a	 persecução	 penal,
repercutindo	 apenas,	 em	 hipótese	 de	 condenação,	 na	 dosimetria	 da	 pena.	 Nesse
sentido:	AgRg	no	AREsp	nº	984.920/BA,	6ª	Turma,	rel.	Min.	Sebastião	Reis	Júnior,	DJe
31.08.2017	 e	 HC	 nº	 160.525-RJ,	 5ª	 Turma,	 rel.	 Min.	 Jorge	 Mussi,	 DJe	 14.03.2013.
Assim,	 “mostra-se	 irrelevante	 o	 fato	 de	 o	 recorrente	 haver	 celebrado	 termo	 de
ajustamento	de	conduta,	(...)	razão	pela	qual	o	parquet,	dispondo	de	elementos	mínimos
para	oferecer	a	denúncia,	pode	 fazê-lo,	ainda	que	as	condutas	 tenham	sido	objeto	de
acordo	 extrajudicial”	 (RHC	 nº	 41.003/PI,	 5ª	 Turma,	 rel.	 Min.	 Jorge	 Mussi,	 DJe
03.02.2014).	Desse	modo,	a	assinatura	do	 termo	de	ajustamento	de	conduta,	 firmado
entre	 denunciado	 e	 o	 Estado,	 representado	 pela	 Secretaria	 de	 Estado	 do	 Meio
Ambiente,	não	impede	a	instauração	da	ação	penal,	pois	não	elide	a	tipicidade	formal
das	condutas	imputadas	ao	acusado.
5.5.	Informativo	nº	624
Confira	a	decisão	sobre	os	embargos	de	declaração	no	Recurso
Especial	nº	1.417.279/SC,	julgado	em	11.04.2018,	publicado	em
20.04.2018,	relator	Ministro	Joel	Ilan	Paciornik.
DIREITO	PENAL	E	PROCESSUAL	PENAL.	EMBARGOS	DE	DIVERGÊNCIA.	DISSÍDIO
CONFIGURADO.	 CRIME	 DO	 ART.	 54	 DA	 LEI	 Nº	 9.605/1998.	 AUTORIA	 E
MATERIALIDADE	 COMPROVADAS.	 NATUREZA	 FORMAL	 DO	 DELITO.	 REALIZAÇÃO
DE	PERÍCIA.	DESNECESSIDADE.	POTENCIALIDADE	DE	DANO	À	SAÚDE.	EMBARGOS
DE	 DIVERGÊNCIA	 PROVIDOS.	 RECURSO	 ESPECIAL	 DESPROVIDO.	 1.	 O	 delito
previsto	 na	 primeira	 parte	 do	 art.	 54	 da	 Lei	 nº	 9.605/1998	 possui	 natureza	 formal,
27Curso	Ênfase	©	2021
sendo	 suficiente	 a	 potencialidade	 de	 dano	 à	 saúde	 humana	 para	 configuração	 da
conduta	 delitiva,	 não	 se	 exigindo,portanto,	 a	 realização	 de	 perícia.	 Embargos	 de
Divergência	providos,	recurso	especial	desprovido.	
O	crime	de	poluição	é	formal	e	não	precisa	de	perícia,	visto	que
já	tem,	por	si	só,	a	potencialidade	do	dano	à	saúde.	 Isto	é,	não
se	faz	necessária	a	perícia	para	aferir	esse	crime	porque	ele	não
precisa	de	resultado	naturalístico.
Com	 essas	 considerações,	 o	 material	 foi	 atualizado	 com	 base
nas	 leis	 e	 nos	 julgados	mais	 recentes	 dos	 tribunais	 superiores.
Veja	as	informações	do	inteiro	teor:	
	Cinge-se	a	controvérsia	a	saber	se	é	necessária	a	realização	de
perícia	 técnica	 para	 a	 comprovação	 do	 dano	 efetivo	 à	 saúde
humana	 no	 que	 tange	 à	 caracterização	 de	 crime	 ambiental
consubstanciado	 em	 causar	 poluição	 de	 qualquer	 natureza.
Quanto	 ao	 ponto,	 o	 acórdão	 embargado	 entendeu	 que	 “O	 delito
previsto	na	primeira	parte	do	art.	54	da	Lei	nº	9.605/1998	exige	prova	do	risco	de	dano,
sendo	insuficiente	para	configurar	a	conduta	delitiva	a	mera	potencialidade	de	dano	à
saúde	humana”.	Já	para	o	acórdão	paradigma,	“O	delito	previsto	na	primeira
parte	do	artigo	54,	da	Lei	nº	9.605/1998,	possui	natureza	formal,	porquanto	o	risco,	a
potencialidade	 de	 dano	 à	 saúde	 humana,	 é	 suficiente	 para	 configurar	 a	 conduta
delitiva,	 não	 se	 exigindo,	 portanto,	 resultado	 naturalístico	 e,	 consequentemente,	 a
realização	 de	 perícia”	 (AgRg	 no	 REsp	 nº	 1.418.795-SC,	 5ª	 Turma,	 rel.	 Min.	 Marco
Aurélio	 Bellize,	 rel.	 para	 acórdão:	 Regina	 Helena	 Costa,	 DJe	 07.08.2014).	 Deve
prevalecer	 o	 entendimento	 do	 acórdão	 paradigma	 e	 nos	 casos
em	 que	 forem	 reconhecidas	 a	 autoria	 e	 a	 materialidade	 da
conduta	 descrita	 no	 art.	 54,	 §	 2º,	 V,	 da	 Lei	 nº	 9.605/1998,	 a
potencialidade	 de	 dano	 à	 saúde	 humana	 é	 suficiente	 para
configuração	da	conduta	delitiva,	haja	vista	a	natureza	formal	do
crime,	não	se	exigindo,	portanto,	a	realização	de	perícia.
6.	Jurisprudência	em	Teses	
Além	 do	 Jurisprudência	 em	 Teses	 nº	 30,	 recentemente,	 o	 STJ
publicou	 o	 de	 nº	 119,	 tratando	 especificamente	 do	 tema
28Curso	Ênfase	©	2021
“Responsabilidade	 por	 dano	 ambiental”.	 Vejamos	 as	 11	 novas
teses:
1)	 A	 responsabilidade	 por	 dano	 ambiental	 é	 objetiva,	 informada	 pela	 teoria	 do	 risco
integral,	 sendo	o	nexo	de	 causalidade	o	 fator	 aglutinante	que	permite	que	o	 risco	 se
integre	na	unidade	do	ato,	sendo	descabida	a	invocação,	pela	empresa	responsável	pelo
dano	ambiental,	de	excludentes	de	responsabilidade	civil	para	afastar	sua	obrigação	de
indenizar.	(Tese	julgada	sob	o	rito	do	art.	543-C	do	CPC/1973	–	Tema	nº	681	e	707,	letra
a.)
2)	 Causa	 inequívoco	 dano	 ecológico	 quem	 desmata,	 ocupa,	 explora	 ou	 impede	 a
regeneração	de	Área	de	Preservação	Permanente	–	APP,	 fazendo	emergir	a	obrigação
propter	 rem	 de	 restaurar	 plenamente	 e	 de	 indenizar	 o	 meio	 ambiente	 degradado	 e
terceiros	afetados,	sob	o	regime	de	responsabilidade	civil	objetiva.
3)	O	reconhecimento	da	responsabilidade	objetiva	por	dano	ambiental	não	dispensa	a
demonstração	do	nexo	de	causalidade	entre	a	conduta	e	o	resultado.
4)	A	alegação	de	culpa	exclusiva	de	terceiro	pelo	acidente	em	causa,	como	excludente
de	responsabilidade,	deve	ser	afastada,	ante	a	incidência	da	teoria	do	risco	integral	e
da	responsabilidade	objetiva	ínsita	ao	dano	ambiental	(art.	225,	§	3º,	da	CF	e	do	art.	14,
§	1º,	da	Lei	nº	6.938/81),	responsabilizando	o	degradador	em	decorrência	do	princípio
do	 poluidor-pagador.	 (Tese	 julgada	 sob	 o	 rito	 do	 art.	 543-C	 do	 CPC/1973	 –	 Tema	 nº
438.)
5)	É	imprescritível	a	pretensão	reparatória	de	danos	ao	meio	ambiente.
6)	O	 termo	 inicial	 da	 incidência	 dos	 juros	moratórios	 é	 a	 data	 do	 evento	 danoso	 nas
hipóteses	de	reparação	de	danos	morais	e	materiais	decorrentes	de	acidente	ambiental.
7)	A	 inversão	do	ônus	da	prova	aplica-se	às	ações	de	degradação	ambiental.	 (Súmula
618/STJ)
8)	 Não	 se	 admite	 a	 aplicação	 da	 teoria	 do	 fato	 consumado	 em	 tema	 de	 Direito
Ambiental.	(Súmula	613/STJ)
9)	 Não	 há	 direito	 adquirido	 à	 manutenção	 de	 situação	 que	 gere	 prejuízo	 ao	 meio
ambiente.
29Curso	Ênfase	©	2021
10)	 O	 pescador	 profissional	 é	 parte	 legítima	 para	 postular	 indenização	 por	 dano
ambiental	que	acarretou	a	 redução	da	pesca	na	área	atingida,	podendo	utilizar-se	do
registro	profissional,	ainda	que	concedido	posteriormente	ao	sinistro,	e	de	outros	meios
de	 prova	 que	 sejam	 suficientes	 ao	 convencimento	 do	 juiz	 acerca	 do	 exercício	 dessa
atividade.
11)	É	devida	a	 indenização	por	dano	moral	patente	o	sofrimento	 intenso	do	pescador
profissional	 artesanal,	 causado	 pela	 privação	 das	 condições	 de	 trabalho,	 em
consequência	do	dano	ambiental.	(Tese	julgada	sob	o	rito	do	art.	543-C	do	CPC/1973	–
Tema	nº	439.)
Obra	coletiva	do	Curso	Ênfase	produzida	a	partir	da	análise	estatística	de	incidência
dos	temas	em	provas	de	concursos	públicos.	
A	autoria	dos	e-books	não	se	atribui	aos	professores	de	videoaulas	e	podcasts.	
Todos	os	direitos	reservados.

Continue navegando