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-- TÉCNICAS ESPECIAIS PARA JUIZ FEDERAL DIREITO EMPRESARIAL Lei da Propriedade Industrial e a sua interpretação pela Justiça Federal (Lei nº 9.279/1996) 1. Introdução A tutela à propriedade industrial decorre de norma constitucional, conforme o art. 5º, inciso XXIX, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988): XXIX – A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; Muito importante! Esse dispositivo constitucional foi regulado pela Lei nº 9.279/1996 que, levando em conta o interesse social e o desenvolvimento tecnológico do País, confere proteção à propriedade industrial pelos seguintes institutos: a) concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; b) concessão de registro de desenho industrial e de marca; c) repressão às falsas indicações geográficas e concorrência desleal. Curso Ênfase © 2021 1 .. Além da CF/1988 e da Lei nº 9.279/1996, a proteção da propriedade industrial no Brasil é feita pela Convenção da União de Paris. A concessão de patente e de registro é feita pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), uma autarquia federal. Por ser o INPI um órgão federal, a Justiça Federal tem competência para julgamento de ação, cujo objeto seja propriedade industrial. Porém, há outras ações em que a competência é da Justiça Estadual. Em primeiro lugar, caso haja concessão de patente ou de registro sem a presença dos requisitos legais, o próprio INPI por meio de procedimento administrativo pode anular a concessão da patente e do registro. a) Esse procedimento administrativo deve se iniciar no prazo de seis meses contados da concessão da patente ou 180 dias contados da concessão do registro. Transcorrido o prazo mencionado, somente por meio de ação judicial de nulidade do registro que tem as seguintes características: Legitimidade ativa: o INPI ou qualquer interessado, sendo que, caso o INPI não seja o autor, deve intervir no processo. Legitimidade passiva: o titular da patente ou do registro. Competência: Justiça Federal. Prazo: a ação para anulação de patente ou de registro de desenho industrial pode ser proposta a qualquer tempo, enquanto há a vigência da proteção; no que se refere ao registro de marca, o prazo prescricional é de cinco anos da data do registro. Efeito da sentença: declarada a nulidade, a sentença retroage à data do depósito do pedido de patente ou de registro. b) Além da ação de nulidade da patente ou do registro, há ação judicial, cujo objeto é a proteção dos direitos de propriedade industrial, cujas características são: Legitimidade ativa: titular da patente ou do registro, que deverá fazer prova do título pela carta-patente ou certificado de registro. Legitimidade passiva: pessoa que violar os direitos decorrentes da patente ou do registro. • • • • • • • Curso Ênfase © 2021 2 Competência: Justiça Estadual. Sentença: cessação da violação à patente ou ao modelo de utilidade, com apreensão de produtos, mercadorias, objeto e embalagens que contenham a marca flagrantemente falsificada ou imitada. Ademais, existe ação contra concorrência desleal a ser manejada pelo titular da patente ou do registro na Justiça Estadual com o objetivo de que cessem os atos de deslealdade concorrencial, quais sejam: i) atos confusórios; ii) atos tendentes ao descrédito; iii) atos tendentes a erro; iv) atos prejudiciais à organização do concorrente. Indenização: o titular de patente ou de registro, bem como o empresário vítima de concorrência desleal, tem direito à indenização pelos danos decorrentes de violação de seu direito e que será fixado pelo critério mais favorável ao prejudicado. Além da indenização por danos materiais, é possível o reconhecimento de danos morais indenizáveis. A ação para reparação de dano causado ao direito de propriedade industrial prescreve em cinco anos. 2. Patente A patente é concedida para a tutela de invenções e modelo de utilidade, mediante requerimento administrativo feito ao INPI em nome próprio, pelos herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a titularidade. Não há conceito legal de invenção, mas a doutrina aponta que invenção é um produto ou um processo de produção novo e possível de aplicação industrial, resultado de um ato inventivo. • • Curso Ênfase © 2021 3 -- .. Por sua vez, na forma do art. 9º da Lei nº 9.279/1996, modelo de utilidade é “o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação” (grifos nossos). Muito importante! Para a concessão de patente, seja de invenção, seja de modelo de utilidade, deve-se preencher os seguintes requisitos: a) Novidade: novo é o que não está compreendido no estado da técnica, que é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior. Com isso, só são patenteáveis a invenção ou o modelo de utilidade que não eram conhecidos na data do depósito de pedido de patente junto ao INPI. b) Atividade inventiva: a invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. Já o modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do estado da técnica. c) Aplicação industrial: a invenção e o modelo de utilidade são patenteáveis somente caso possam ser utilizados ou produzidos em qualquer tipo de indústria. d) Ilicitude: a própria Lei nº 9.279/1996 impede a concessão de patentes a determinadas invenções ou modalidades de utilidade. Assim, o art. 10 da Lei nº 9.279/1996 estipula que não são considerados invenção e modalidade de utilidade e, portanto, não podem ser patenteados: Curso Ênfase © 2021 4 I – descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; II – concepções puramente abstratas; III – esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV – as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V – programas de computador em si; VI – apresentação de informações; VII – regras de jogo; VIII – técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX – o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais. Além disso, em complemento, o art. 18 da Lei nº 9.279/1996 estabelece que “Não são patenteáveis: (...)” (grifos nossos). I – o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas; II – as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e III – o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade – novidade, atividade inventiva e aplicaçãoindustrial – previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta. Curso Ênfase © 2021 5 -- Por fim, a concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos dependerá da prévia anuência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme art. 229-C da Lei nº 9.279/1996. A proteção legal não surge da mera invenção ou do modelo de utilidade, mas da concessão da patente pelo INPI, após o devido processo administrativo, consoante arts. 19 a 37 da Lei nº 9.279/1996. Questão que surge é a respeito da patente de combinação em que o titular faz a combinação de outras duas patentes. Tal patente é possível desde que haja o preenchimento dos requisitos legais, notadamente, no que tange à novidade e, especificamente, ao estado da técnica. Assim, uma invenção é desprovida de atividade inventiva quando se pode perceber que a solução trazida pela invenção não passa de uma combinação dos meios divulgados no estado da técnica, ou seja, tudo que se tornou acessível ao público antes da data do depósito do pedido de patente, no Brasil ou no exterior. Muito importante! A patente confere um privilégio temporário, pois ela tem prazo de validade fixado em lei: a) Patente de invenção: 20 anos a contar da data do depósito. b) Patente de modelo de utilidade: 15 anos a contar da data do depósito. Após o período de vigência da patente, a invenção ou o modelo de utilidade cai em domínio público. A patente gera os seguintes direitos ao seu titular: a) uso exclusivo da invenção ou do modelo de utilidade no território nacional; Curso Ênfase © 2021 6 .. b) impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar o produto objeto da patente ou o processo patenteado; c) indenização pela exploração indevida da invenção ou do modelo de utilidade patenteado, inclusive pela exploração no período compreendido entre a publicação oficial do pedido de depósito e da efetiva concessão pelo INPI; d) cessão (transferência definitiva) ou licença de uso (transferência temporária) da patente a um terceiro, com necessidade de averbação do contrato perante o INPI para ter eficácia perante terceiros. Licença compulsória: denominada também de quebra da patente, consiste em sanção ao titular da patente pelas seguintes condutas: a) abuso do poder econômico na exploração da patente, devidamente comprovado em processo administrativo; b) falta de exploração da patente, sem justa causa, após três anos da concessão da patente; c) comercialização que não satisfaça as necessidades do mercado. A licença compulsória será ainda concedida quando, cumulativamente, se verificarem as seguintes hipóteses: a) ficar caracterizada situação de dependência de uma patente em relação a outra; b) o objeto da patente dependente constituir substancial progresso técnico em relação à patente anterior; e Curso Ênfase © 2021 7 Atenção! c) o titular não realizar acordo com o titular da patente dependente para exploração da patente anterior. Outras hipóteses de licenciamento compulsório são os casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade. Poderá ser concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e não exclusiva para a exploração da patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular. Por questão de emergência nacional, já houve o licenciamento compulsório de medicamentos para tratamento contra o vírus HIV. Hipóteses de extinção da patente: uma vez extinta a patente, a invenção ou o modelo de utilidade caem em domínio público, conforme o art. 78, I e parágrafo único, da Lei nº 9.279/1996: Art. 78. A patente extingue-se: I – pela expiração do prazo de vigência; (...) Parágrafo único. Extinta a patente, o seu objeto cai em domínio público. São hipóteses de extinção da patente: a) pela expiração do prazo de vigência: 20 anos da invenção; 15 anos do modelo de utilidade, conforme art. 40 da Lei nº 9.279/1996. A Lei nº 9.279/1996 previa uma regra adicional no parágrafo único do art. 40, qual seja, a contar da data de concessão da patente, o prazo de vigência não será inferior a 10 anos para a patente de invenção e a 7 anos para a patente de modelo de utilidade, vejamos: Art. 40. (...). Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente Curso Ênfase © 2021 8 de modelo de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior. Contudo, o procurador-geral da República ajuizou ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra o parágrafo único, do art. 40, da Lei de Propriedade Industrial, e o STF, por maioria, julgou procedente o pedido para declarar a inconstitucionalidade: É inconstitucional o parágrafo único do art. 40 da Lei nº 9.279/1996, segundo o qual os prazos de vigência de patentes e de modelos de utilidade podem ser prorrogados na hipótese de o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior (STF – Plenário. ADI nº 5.529/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12.05.2021 – Informativo nº 1.017). E, em 27 de agosto de 2021, foi publicada a Lei nº 14.195/2021, que revogou o parágrafo único em comento, não estando mais sua regra em vigor: Lei nº 14.195/2021, art. 57. Ficam revogados: XXVI ‒ o parágrafo único do art. 40 e o art. 229-C da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996; (...) b) pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros; c) pela caducidade: caducará a patente, de ofício ou a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, se, decorridos dois anos da concessão da primeira licença compulsória, esse prazo não tiver sido suficiente para prevenir ou sanar o abuso ou desuso, salvo motivos justificáveis; d) pela falta de pagamento da retribuição anual devida ao INPI; Curso Ênfase © 2021 9 e) pela inobservância do disposto no art. 217 da Lei nº 9.279/1996, segundo o qual “A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter procurador devidamente qualificado e domiciliado no País, com poderes para representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações” (grifos nossos). 3. Registro O registro é o título de proteção ao desenho industrial e às marcas pelo INPI. O desenho industrial é a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. Trata-se o desenho industrial na modificação externa de um objeto conhecido, suscetível de fabricação industrial. Essa modificação torna o objeto diferente dos demais objetos similares. Pode ser reconhecido como desenho industrial um sofá, uma tela de computador, uma mesa etc. Para que o desenho industrial seja registrado no INPI, deve-se preencher os seguintes requisitos: a) novidade: o resultado do objeto deverá ser novo, ou seja, não compreendido no estado da técnica; b) originalidade: a modificação feita no objeto deve o distinguir dos demais similares existentes; c) licitude: o objeto não pode contrariar a moral e os bons costumes ou representar forma comum ou vulgar do objeto; d) aplicação industrial: só pode ser registrado o desenho de objeto que possa ser produzido industrialmente. No caso de desenho industrial, o registro perdura por 10 anos, contados da data do depósito,prorrogáveis por três períodos de cinco anos. Depois desse prazo, o desenho industrial cai em domínio público. Curso Ênfase © 2021 10 -- .. O registro também é o título de proteção da marca. Muito importante! Marca é o sinal distintivo visualmente perceptível, não compreendido nas proibições legais. São espécies de marca: a) marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa; b) marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada; e c) marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade. A marca ainda pode ser classificada em: a) Marca tridimensional: a forma plástica de uma embalagem ou produto pode ser registrada como marca, desde que tal forma seja suficientemente distintiva e não esteja associada a algum benefício técnico. Formas ordinárias e comumente utilizadas em um setor não podem ser registradas, como acontece com as garrafas PET de refrigerantes, por exemplo. b) Marca figurativa: é uma marca constituída por desenho, imagem, figura, símbolo, forma fantasiosa ou figurativa de letra ou algarismo, palavras compostas por letras de alfabetos como hebraico, cirílico, árabe, ideogramas etc. Por exemplo, o “ê” estilizado do curso Ênfase. c) Marca nominativa: é uma marca constituída por uma ou mais palavras, neologismos ou combinações de letras e/ou números. Curso Ênfase © 2021 11 d) Marca mista: é uma marca constituída pela combinação de elementos nominativos e figurativos ou mesmo apenas por elementos nominativos cuja grafia se apresente sob forma fantasiosa ou estilizada. São requisitos para que o INPI conceda o registro de uma marca: a) Novidade relativa: o princípio da novidade deve ser conjugado com o princípio da especialidade, pois a marca deverá ser nova somente no ramo de atividade econômica de seu titular. Nada impede que a marca “Têmis” seja registrada por uma editora de livros jurídicos e por outra empresa, fabricante de veículos. b) Não colidência com outra marca notória ou de alto renome: as marcas notórias e de alto renome têm especial proteção, porque têm maior aceitação junto ao público consumidor, o que pode fazer com que empresários as utilize indevidamente para atrair clientela, a caracterizar concorrência desleal. A marca de alto renome é aquela reconhecida notoriamente em todo território nacional e por isso protegida em todos os ramos de atividade. A marca será considerada de alto renome depois de processo administrativo no INPI para tal fim, conforme art. 125 da Lei nº 9.279/1996: “À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade”. As marcas notórias são aquelas notoriamente conhecidas no seu ramo de atividade e que merecem proteção ainda que não registradas no Brasil. Sua tutela decorre da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, conforme art. 126 da Lei nº 9.279/1996: “A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil”. c) Inexistência de uma das causas de impedimento previstas no art. 124, incisos I a XXIII, da Lei nº 9.279/1996. O registro de marca tem a proteção pelo prazo de 10 anos, contados a partir da concessão, prorrogável por períodos iguais e sucessivos, a pedido do titular, no último ano de vigência do registro. Curso Ênfase © 2021 12 -- .. Muito importante! Uma diferença marcante entre patente e registro é que a patente não é prorrogável, enquanto o registro admite a prorrogação do prazo de proteção. Conferido o registro de marca, o seu titular tem os seguintes direitos: a) uso com exclusividade da marca em todo o território nacional, limitado ao ramo de atividade econômica do titular (exceto as marcas de alto renome, em que a tutela se refere a todos os ramos de atividade; e as marcas notoriamente conhecidas em que a tutela é internacional; b) impedir o uso indevido por terceiros; c) zelar pela reputação e integridade da marca; d) ceder ou licenciar o uso da marca, como ocorre nos contratos de franquia. Caso ocorra falecimento, reclusão ou retirada de sócio, seu nome deve ser retirado da firma social (art. 1.165 do Código Civil – CC). São causas de extinção do registro da marca: a) Pela expiração do prazo de vigência. b) Pela renúncia, que poderá ser total ou parcial em relação aos produtos ou serviços assinalados pela marca. Curso Ênfase © 2021 13 c) Pela caducidade: caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse se, decorridos cinco anos da sua concessão, na data do requerimento: I – o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou II – o uso da marca tiver sido interrompido por mais de cinco anos consecutivos, ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, tal como constante do certificado de registro. Não ocorrerá caducidade se o titular justificar o desuso da marca por razões legítimas. d) Pela inobservância do disposto no art. 217 da Lei nº 7.279/1996: “A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter procurador devidamente qualificado e domiciliado no País, com poderes para representá- la administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações.” Por fim, em relação à marca, um importante julgado pelo STJ – Recurso Especial nº 1.583.007 (Informativo nº 693), no sentido da nulidade do registro de marca nominativa de símbolo olímpico ou paraolímpico. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE NULIDADE DE REGISTRO DE MARCA AJUIZADA PELO COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO - COB. "FOGO OLÍMPICO" PARA IDENTIFICAR ÁLCOOL E ÁLCOOL ETÍLICO. 1. Como de sabença, a distintividade é condição fundamental para o registro da marca, razão pela qual a Lei nº 9.279/1996 enumera vários sinais não registráveis, tal como aqueles de uso comum, genérico, vulgar ou meramente descritivos, porquanto desprovidos de um mínimo diferenciador que justifique sua apropriação a título exclusivo (artigo 124, inciso VI). 2. De outro lado, o inciso XIII do mesmo artigo 124 preceitua que não são registráveis como marca "nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural, social, político, econômico ou técnico, oficial ou oficialmente reconhecido, bem como a imitação suscetível de criar confusão, salvo quando autorizados pela autoridade competente ou entidade promotora do evento". 3. Tal norma retrata hipótese de vedação absoluta de registro marcário de designações e símbolos relacionados a evento esportivo? assim como artístico, cultural, social, político, econômico ou técnico? que seja oficial (realizado ou promovido por autoridades públicas) ou oficialmente reconhecido (quando organizado por entidade privada), o que inviabiliza "a utilização do termo protegido em qualquer classe" sem a anuência da autoridade competente ou da entidade promotora do evento. 4. Em complemento à LPI, sobreveio a Lei Curso Ênfase © 2021 14 9.615/1998? apelidada de Lei Pelé?, que, em seu artigo 87, conferiu às entidades de administração do desporto ou de prática esportiva a propriedade exclusiva das denominações e dos símbolos que as identificam, preceituando que tal proteção legal é válida em todo o território nacional, por tempo indeterminado, sem necessidade de registro ou averbação no órgãocompetente. 5. Em observância ao compromisso assumido pelo Estado brasileiro no Tratado de Nairóbi sobre Proteção do Símbolo Olímpico (ratificado pelo Decreto 90.129/1984), a citada Lei Pelé estabeleceu, em seu artigo 15, que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) - associação civil de natureza desportiva filiada ao Comitê Olímpico Internacional (COI) - detém a propriedade exclusiva dos símbolos olímpicos (a exemplo dos aros interligados representativos dos cinco continentes; da tocha e da pira olímpicas; do hino; das mascotes; do lema; e das medalhas), bem como das denominações "jogos olímpicos" e "olimpíadas", sendo vedado o registro e o uso, para qualquer fim, de sinal que consubstancie imitação ou reprodução dos referidos signos distintivos sem a prévia autorização do titular. 6. Consequentemente, procedendo-se à interpretação sistemática do ordenamento jurídico? Decreto nº 90.129/1984; artigo 124, inciso XIII, da Lei nº 9.279/1996; e artigos 15, §§ 2º e 4º, e 87 da Lei nº 9.615/1998 (todos anteriores ao depósito do pedido de registro da marca debatida nos autos)?, ressoa inequívoca a existência de proteção especial, em todos os ramos de atividade e por tempo indeterminado, dos sinais integrantes da "propriedade industrial Olímpica", cujo reconhecimento (ex lege) como marcas de alto renome (exceção ao princípio da especialidade) decorre da incontroversa boa reputação e do acentuado magnetismo do megaevento esportivo, consagrado mundialmente e orientado pela filosofia de vida chamada Olimpismo. 7. Diante da popularidade e da relevância socioeconômica de eventos esportivos como as Olimpíadas, a proibição do registro e do uso dos respectivos signos distintivos em qualquer ramo de atividade? sem a anuência prévia da entidade titular do direito de propriedade imaterial? tem por escopo evitar a associação comercial indevida (com marcas, produtos ou serviços de terceiros), potencialmente ensejadora de aproveitamento parasitário ou de diluição da distintividade dos símbolos ou nomes relacionados aos Jogos, cuja realização periódica depende, sobremaneira, da obtenção de vultosos recursos financeiros mediante contratos de patrocínio ou de licenciamento pautados na expectativa de lucros decorrentes da grande exposição midiática. 8. Na hipótese dos autos, o COB ajuizou ação de nulidade do registro da marca Curso Ênfase © 2021 15 nominativa "FOGO OLÍMPICO" (821.741.837) para identificar álcool e álcool etílico, referente à classe NCL (8) 01 (substâncias químicas destinadas à indústria). O pedido de registro da referida marca foi depositado em 8.6.1999, tendo sido concedido pelo INPI em 16.09.2003 (fl. 203). 9. De acordo com fotografia descrita no voto vencido (fls. 299 e 415), observa-se que, além da expressão "FOGO OLÍMPICO", consta da embalagem o desenho dos aros olímpicos e da tocha olímpica, o que configura evidente imitação ideológica dos símbolos titularizados pelo COB. 10. Diante desse quadro, deve ser reconhecida a nulidade do registro marcário, tendo em vista: (i) a proteção especial, em todos os ramos de atividade, conferida pelo ordenamento jurídico brasileiro aos sinais integrantes da "propriedade industrial Olímpica", que não podem ser reproduzidos ou imitados por terceiros sem a autorização prévia do COB; (ii) o necessário afastamento do aproveitamento parasitário decorrente do denominado "marketing de emboscada" pelo uso conjugado de expressão e símbolos olímpicos cujo magnetismo comercial é inegável; e (iii) o cabimento da aplicação da teoria da diluição a fim de proteger o titular contra a perda progressiva da distintividade dos signos olímpicos, cujo acentuado valor simbólico pode vir a ser maculado, ofuscado ou adulterado com a sua utilização em produto de uso cotidiano. 11. Recurso especial provido para julgar procedente a pretensão autoral, declarando nulo o registro da marca "FOGO OLÍMPICO". (REsp. nº 1.583.007/RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, DJ 20.04.2021, DJe 10.05.2021.) 4. Convenção da União de Paris O Brasil é signatário da Convenção da União de Paris, motivo pelo qual não pode fazer distinções entre nacionais e estrangeiros em matéria de propriedade industrial, assim como deve assegurar o direito de prioridade. Com isso, aquele que depositou o pedido de patente ou registro em qualquer um dos países unionistas gozará de prioridade sobre os pedidos realizados posteriormente em outros países signatários da Convenção, conforme arts. 16, 99 e 127 da Lei nº 9.279/1996. Curso Ênfase © 2021 16 5. Indicações geográficas Há duas espécies de indicações geográficas (art. 176 da Lei nº 9.279/1996): a) Indicação de procedência: o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço. b) Denominação de origem: o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos. O uso da indicação geográfica é restrito aos produtores e prestadores de serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em relação às denominações de origem, o atendimento de requisitos de qualidade. O registro de indicação geográfica é feito pelo INPI. Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas em provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts. Todos os direitos reservados. Curso Ênfase © 2021 17 TÉCNICAS ESPECIAIS PARA JUIZ FEDERAL DIREITO EMPRESARIAL Lei da Propriedade Industrial e a sua interpretação pela Justiça Federal (Lei nº 9.279/1996) 1. Introdução 2. Patente 3. Registro 4. Convenção da União de Paris 5. Indicações geográficas
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