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Universidade de Brasília Direito Constitucional Comparado Aluna: Isabella Luiza Pires Esteves Matrícula: 180122584 Análise dos aspectos Constitucionais da República Argentina Deve-se salientar primeiramente o Direito como um fenômeno social, este reproduz e emana institutos sociais vigentes em determinada época. O Direito não é uma ciência alheia às questões políticas, sociais, econômicas, muito pelo contrário, é um legitimador/instrumento das concepções, valores e afirmações de determinado Estado, povo e cultura, bem como é a reprodução das relações sociais estabelecidas em um determinado tempo e espaço. Ademais, o contexto histórico e as peculiaridades de um determinado lugar mudam no decorrer do tempo, em vistas disso, o sistema jurídico acaba por ter que responder novas demandas, questionamentos, intempéries o que caracteriza sua mutabilidade, mesmo que gradual. A ciência do Direito Comparado deve considerar todas essas questões em seus estudos na análise de contextos díspares e/ou até mesmo semelhantes, portanto, uma análise fria e pura das leis, constituição, princípios, diretrizes não demonstrará e esclarecerá satisfatoriamente o Direito ali estabelecido. Dessa forma, a comparação deve se ater no entendimento substancial da estrutura contextual de uma cultura única e sua mentalidade na implementação de sistemas jurídicos e o modo como o processo Constitucional se deu, bem como seu produto que vai determinar as peculiaridades da Constituição outorgada/promulgada. Para se analisar temas em uma perspectiva Constitucional comparada deve - se ater aos contrastes de ideias entre os diferentes sistemas, considerando o contexto social político e econômico, bem como se ater nas correspondências e nas divergências entre os sistemas, pois as constituições não se estabelecem em sistemas isolados. Os cuidados a serem utilizados na análise constitucional do tema de Estudos de Gênero e os direitos dos grupos LGBT+ na Argentina e Romênia devem se pautar em um olhar não para o conjunto normativo com uma perspectiva jurista metodológica ou uma argumentação legal simplesmente, mas sim a partir de uma inferência orientada, considerando as particularidades sociais retromencionadas, a partir de casos específicos com ênfase nos princípios de cada país. O olhar crítico e profundo deve ser aguçado no direito constitucional comparado, portando, existem métodos demonstrados pelo teórico Ran Hirschl para a migração de ideias, estes são o normative universalism e functionalism, os quais se balizam na tentativa de relacionar os sistemas uns com os outros através de inferências: quais são os valores em comum, os princípios em comum, se o governo possui características em comum, se o desenho constitucional se assemelha em algum grau, procurando, assim, as particularidades convergentes para, após, entender as divergentes; já o terceiro método são os denominados contextualism e expressivism, aquele determina que as ideias constitucionais devem ser analisadas primordialmente pelo contexto em que estão inseridas, já este demonstra a importância da imersão na nação, em seus valores, premissas, ideais, história, religião, poder político, crenças; é a partir desse esforço axiológico é que a expressão migração de ideias pode ser utilizada nos estudos do direito constitucional comparado, e, para mais, assim evita-se vícios de anacronismo, universalismo e excessivo particularismo decorrentes de uma análise legal positivista da temática estudos de gênero e direitos dos grupos LGBT+. O autor ainda defende a incorporação das ciências sociais nos estudos de comparação entre constituições, pois estas partem de um viés de análise de todo o parâmetro em que as constituições se originaram e se estabeleceram, bem como as relações de poderes existentes que moldam tal sistema (os juristas tendem a ser universalistas e generalizam particularidades que são marcantes; os estudiosos de ciências sociais tendem a ser particularistas e contextualistas). No princípio da consolidação da federação Argentina havia uma concepção contrária ao Absolutismo Monárquico e um movimento na implementação de um sistema constitucional republicano que garantisse os Direitos civis e políticos da população. Em 1853 a Constituição, curta e vigente até hoje, da Argentina foi instituída, criou-se a Corte Suprema de Justicia de la Nación Argentina (CSJN), sua redação original sofreu diversas reformas ao longo dos anos até os dias atuais com o objetivo de garantir e manter os interesses políticos dos dirigentes e das elites que detinham influência nas decisões. Dentre as modificações as principais são à incorporação de Buenos Aires à Federação; mudança do número dos ministros do Poder Executivo; aumento do Executivo em face dos demais poderes; alteração dos direitos civis e políticos; possibilidade de reeleição do presidente. Essas sucessivas modificações retratam uma instabilidade do movimento Constitucional, pois, nesse contexto, a carta magna é instrumentalizada pelo poder político e, assim, o presidente assume um protagonismo exacerbado o que possibilita a instauração de sistemas ditatoriais. Os exemplos na utilização da Constituição como instrumento e na manutenção dos interesses dos grandes poderosos, bem como a valorização do Executivo em vistas dos demais poderes foram as alterações realizadas na Constituição para a permanência de regimes militares durante os anos de 1916 até 1943; em 1948 inicia-se o peronismo, e com isso a reforma Constitucional em 1949 para que Perón se reelegesse no cargo, bem como a inserção de alguns direitos sociais que ampliaram seu caráter populista, bem como sua popularidade. Após sua deposição, há uma nova reformulação da carta magna, e posteriormente os partidos/governos subsequentes se dividem em peronistas e antiperonistas até chegar à ascensão de uma violenta ditadura militar comandada pelo general Jorge Videla; Raúl Alfonsín, em 1983, restaura a democracia, mas abandona o governo em meio a uma forte crise econômica. A reformulação Constitucional mais recente ocorrida em 1994 garantiu que Carlos Menem continuasse no poder. Na teoria dos jogos, demonstrada pelo professor Juliano Zaiden Benvindo, cada membro da sociedade civil joga dentro do paradigma constitucional visando garantir seus interesses e privilégios, entretanto sem transgredir às regras do jogo para não indispor os demais jogadores e os mais influentes que coordenam o processo. O novo modelo não institui uma ruptura substancial e sim a acomodação de interesses dispares que se apresentam no final como, na verdade, um mantenedor da ordem anterior e garantidora dos direitos dos mais poderosos. O status quo não é alterado, mas é indiscutível a movimentação em torno do jogo de todos aqueles que participam da política ativamente, na Argentina não foi diferente, o que explica essas modificações periódicas no texto. A constituição argentina teve os Estados Unidos como influência, principalmente na questão do federalismo, assim como a do Brasil, e advém de uma tradição romano- germânica. O movimento constitucional na Argentina acompanhou a terceira onda constitucional na redemocratização dos países latinos- americanos. A Constituição Argentina é suprema no ordenamento, prevista em seu artigo 31, rígida e possui como principal conteúdo a organização do Estado e as normas programáticas dos direitos fundamentais, o controle é exercido pelo judiciário de forma difusa, os juízes podem tratar das matérias de controle em qualquer jurisdição e competência, diante do caso concreto com efeito inter partes, e por fim, através do recurso extraordinário chega-se à Corte Suprema de Justiça da Nação, esta possui competência originária e suas decisões possuem efeito vinculante. Tal controle se deu por construção jurisprudencial, de forma indireta, pois, em seu texto não há referênciasespecíficas para essa atividade. O controle concentrado não é praticado no país, bem como não há referência legal para tal, como existe no Brasil. Não existem ações de inconstitucionalidades puras e específicas, os mecanismos utilizados são a ação de amparo, na qual o juiz faz o controle em que há situações omissas ou lesivas diante da norma; habeas corpus; ação declarativa de certeza, utilizadas nas questões de inconstitucionalidade no âmbito público; juízo sumário de inconstitucionalidade, nas questões penais. Com base nos parâmetros de controle horizontal entre poderes (checks and balances) a Constituição Argentina é fraca, pois, o que se percebe é uma supervalorização do Executivo entre os demais poderes, as sucessivas reformas em prol dos presidentes mostram esse desequilíbrio, pois, este possui influência até na Corte Suprema de Justiça da Nação, o que faz com que na prática o controle não seja tão efetivo. Já para a realização dos Direitos Fundamentais, essa se mostra, também, fraca, prevê somente em seu artigo 75 que compete ao Congresso Nacional promover ações afirmativas para garantir a igualdade material, bem como a materialidade dos direitos fundamentais, sendo que não há qualquer penalidade para seu descumprimento, entretanto a carta Argentina é uma Constituição Social que prevê vários direitos com essa temática, o que na prática mostra diversas medidas adotadas – exemplo: como sendo o primeiro país latino americano a legalizar o casamento igualitário entre pessoas do mesmo sexo. Temas controversos, difíceis perante a opinião pública, contra majoritários, como os direitos LGBTs que casualmente tendem a não ser tratados pelo legislativo poderia ter o mesmo tipo de decisão, ocorrida na Romênia, na Argentina, pois, o fenômeno da judicialização da política frente a uma omissão legislativa e o ativismo judicial fazem parte da atividade jurisdicional Argentina também, como no Brasil e na Romênia. É importante salientar que dessa atividade podem surgir diversos problemas no que tange à separação de poderes e a manutenção da própria democracia e do Estado Social de Direito, portanto, tais temas deveriam ser matéria do legislativo incumbido constitucionalmente para tal e não das Supremas Cortes Constitucionais. Referencias Bibliográficas BENVINDO, Juliano Zaiden. The forgotten people in Brazilian constitutionalism: Revisiting behavior strategic analyses of regime transitions, 2017. CHOUDHRY, SUJIT. THE MIGRATION OF CONSTITUTIONAL IDEAS, 2006. ENGELMANN, Fabiano e PENNA, Luciana Rodrigues. CONSTITUCIONALISMO E BATALHAS POLÍTICAS NA ARGENTINA: ELEMENTOS PARA UMA HISTÓRIA SOCIAL, 2016. FIDALGO, Amanda Cabral. Controle de constitucionalidade comparada Brasil e Argentina, 2017. FONTOURA, Jorge. O avanço constitucional argentino e o Brasil, 2000. HIRSCHL, Ran. Comparative Matters Ran, 2014. JOSÉ, MARIA GARCIA E AMORIM, ROBERTO NEVES. ESTUDOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL COMPARADO, 2007. MELO, Micheli Pereira. A expansão da jurisdição constitucional em três ondas: marcos teóricos, condições facilitadoras e perspectivas futuras, 2017. PIVATTO, Priscila Maddalozzo. Mecanismos de alteração constitucional: um estudo comparado das estruturas constitucionais da Argentina (1853/1860), Suíça (1848/1874) e Brasil (1891), 2007. SILVA, Marília Montenegro. Jurisdição constitucional no Mercosul. Observatório da jurisdição constitucional, Brasília, ano 4, 2010/2011.
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