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Universidade de Brasília Direito Comparado Aluna: Isabella Luiza Pires Esteves/ 180122584 Análise dos aspectos democráticos e constitucionais da Espanha A história da Espanha explicita inconstância, como este sendo um país marcado por extrema fragilidade política, pois, é caracterizado por várias sucessões políticas, entre as quais monarquias, alterações de regime e ditadura. Nesse ínterim, várias monarquias foram instituídas e destituídas, com isso evidencia-se uma clara disputa de poder e uma grande instabilidade política. Em 1936 a 1939 eclode na Espanha uma fervorosa guerra civil na qual culmina com a proclamação da Segunda República e após uma série de governos decadentes Franciso Franco institui uma ditadura extremamente influenciada pelo regime fascista em voga, o qual prolonga seu governo até 1975, após a monarquia é restabelecida, esse sistema perdura até os dias atuais. O design constitucional conferido à Espanha é de monarquia parlamentarista democrática. O rei como chefe do Estado tem arbitrariedade nas decisões, é mediador das instituições e é isento de qualquer responsabilidade, nos termos do artigo 56 da Constituição Espanhola, tal fato demonstra uma fragilidade democrática, por não penalizar os abusos cometidos pelo rei. O rei deve sancionar as leis aprovadas pelas Cortes Gerais, estas são constituídas pela junção da Câmara dos Deputados e pelo Senado. O poder executivo é exercido por um Presidente de Governo, com funções de primeiro-ministro, o referido é escolhido pelo rei após eleição da Câmara dos Deputados. O poder Judiciário, de acordo com a Constituição, determina que a Justiça advém do povo, coloca assim os cidadãos em destaque na prevalência e manutenção da própria justiça, e é administrada em nome do rei por juízes independentes, inamovíveis, responsáveis e submetidos exclusivamente ao poder da lei. A redemocratização espanhola se deu após o regime de Franco de forma pactuada, o que traz grande semelhança com o Brasil, os militares tiveram papel de controle na transição e como consequência deu-se em ambos os casos a impunidade dos crimes cometidos, bem como a perpetuação e manutenção do poder das elites associadas ao governo ditatorial. A diferença, nesse sentido, é a figura do rei o qual se torna o garantidor da ordem constitucional Espanhola e, ademais, possui poder moderador nas três esferas de poder, a princípio tal fato pode gerar a ideia de uma figura acima comprometer a delimitação entre os três âmbitos de poder, mas a democracia resistiu e se consolidou. Com a redemocratização ocorreu a promulgação da nova Constituição Espanhola, datada de 1978 vigente até os dias atuais, um dos preceitos estipulado pela carta foi a instituição da Espanha como Estado social e democrático. A democratização na Espanha foi bem-sucedida revertendo sua volatilidade política de modo a trazer confiança nas instituições e reestruturação econômica, bem como a consolidação de uma democracia progressista, sendo esta inclusive modelo para os demais países já democráticos e, também, aqueles em processo de democratização. Sua Constituição é avançada, a qual instaurou um Estado de Direito com ênfase nos direitos individuais fundamentais para todos, e não, somente, para uma parcela fragmentada. A relação com a igreja sofreu uma profunda ruptura considerando os tempos pretéritos e, ademais, desenvolveu-se a tolerância e negociação em relação à temas considerados polêmicos, tais temáticas foram discutidas e tratadas em respeito à igualdade de gênero e a liberdade sexual. Outrossim, a Espanha abriga a mais forte jurisdição constitucional existente na Europa exercida pelo Tribunal Constitucional e consequentemente possui uma grande estabilidade Constitucional, a qual concebe a unidade da nação espanhola e garante a autonomia das regiões que a compõem, embora pregue a solidariedade entre esses entes. Haja vista o Tribunal Constitucional, independente e autônomo, é através do recurso de amparo que os direitos e garantias fundamentais são protegidos e amparados de forma direta. Barry R. Weingast, através do texto desenhando estabilidade Constitucional, traz o conceito da racionalidade do medo, o qual se caracteriza nos momentos de mudanças de paradigmas em que os cidadãos sentem seus direitos ameaçados pelas rupturas advindas nas políticas públicas desfavoráveis, como consequência há um movimento de defesa visando coibir tais perdas, assim, para garantir a permanência das Constituições devem visar minar o mecanismo da racionalidade do medo. A Constituição Espanhola nesse sentido adveio após um regime marcadamente caracterizado pela autoridade e restrição de direitos, portanto, na nova figura de um monarca a Constituição de 1975 veio com expectativa por parte da população, tal carta teve a prerrogativa de proteção aos Direitos Fundamentais e preceituou o respeito as diversas etnias constituídas na Espanha, bem como a transição se deu de forma lenta, negociada, gradual e manteve as prerrogativas das elites dominantes, portanto, considerando sua estabilidade e permanência respeitou-se o conceito da racionalidade do medo cujos atores políticos eram acordados de forma consensual no que diz respeito à nova Constituição. A Espanha possui como sistema de governo a Monarquia constitucional hereditária, com um regime de democracia parlamentar, este sistema é caracterizado na figura do rei chefe do Estado denominado como a mais alta representação, possui a incumbência de sancionar as leis pelas Cortes Gerais, promulgando e publicando-as; o poder legislativo é formado por duas câmaras, dos Deputados e Senado, sendo que ambas formam as Cortes Gerais; o poder Executivo é representado por um presidente de governo, com funções de primeiro ministro e escolhido pelo rei; o judiciário é exercido por juízes independentes escolhidos pelo rei. Diante dessa perspectiva, o popular e estimado rei como moderador das instituições, com um amplo caráter diplomático e garantidor da ordem constitucional coordena o processo político em vistas da ordem e da manutenção da democracia, portanto, do ponto de vista funcional tal sistema se mostra como um fator crucial para a estabilização político- constitucional, pois, é regido por um guardião que busca o consenso e a ordem, entretanto, do ponto de vista político dar tantas prerrogativas e poder pode caracterizar um perigo frente a arbitrariedade e imprevisão dos monarcas que estão por vir e, inclusive, por aquele que tem seu mandato em vigor. A alternativa, nesse contexto, é limitar a arbitrariedade do monarca e manter sua figura diplomática, considerando a popularidade, o respeito e a reverência que os cidadãos possuem ante sua figura para manter a ordem e os direitos. Para mais, o Tribunal Constitucional, instituição utilizada para proteger formalmente a Constituição, constitui órgão independente do Poder Judiciário, é primordialmente caracterizado como órgão constitucional concentrado, entretanto cabe a todos, cidadãos e judiciário, na interpretação da Constituição sendo o Tribunal o único legitimado a oficializar a interpretação; por conseguinte, seu objetivo primordial é proteger e fazer valer os preceitos constitucionais, principalmente, no que tange aos direitos fundamentais através do mecanismo recurso de amparo e garantir a unidade nacional e, este possui competência para julgar o recurso de inconstitucionalidade contra leis e atos com força de lei, o recurso de amparo por violação de direitos e liberdades fundamentais, os conflitos de competência e, ademais, as demandas atribuídas pela Constituição e sua Lei Orgânica, assim é o mais famoso dos recursos espanhóis, está previsto na Constituição com a finalidade da proteção jurisdicional dos direitos fundamentais da pessoa e possui caráter de impugnação extraordinária visando restaurar a ordem constitucional, sua resoluçãovincula toda a ordem jurídica. Cabe ressaltar que incide sobre toda e qualquer violação à Constituição com vistas a proteger tais Direitos, inclusive no que tange às emendas. Deve-se salientar, ainda, que o recurso de amparo se assemelha à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, utilizada pelo Supremo Tribunal Federal, cujo objetivo é o combate ao descumprimento de preceito constitucional daquilo que é considerado fundamental na ordem jurídica. David Landau, no texto Abusive Constitutionalism, determina que o termo “constitucionalismo abusivo”, advém nos contextos em que a própria Constituição, a partir de seus mecanismos de mudança como a emenda, é utilizada para deteriorar a democracia para satisfazer os desejos da classe política detentora dos poderes, assim, a constituição aparentemente “democrática” na verdade é utilizada para legitimar no poder certos interesses particulares divergentes do interesse público. No caso da Espanha não se observa esse fenômeno nos termos demonstrados pela filósofa Agnes Hellen, inclusive, é importante citar que a Constituição de 1975 sofreu pouquíssimas mudanças, reformas e/ou emendas, demonstrando seu caráter estabilizador, bem como pouco dissenso significativo na esfera política haja vista a figura mediadora do rei. No Brasil os aspectos populistas dos governos, bem como a determinação de inimigos para provocar a aversão e o medo na população e as sucessivas mudanças através de emendas Constitucionais demonstram a fragilidade da estabilidade Constitucional e corroboram para o fenômeno descrito pela filósofa, tais políticos utilizam a crescente descrença no sistema democrático para protegerem, se elegerem e se manterem no poder. Com a democratização no Brasil gerou-se um grande ânimo no que tange as demandas básicas de direitos fundamentais renegados à população, entretanto com o passar do tempo a opinião popular foi de descrédito frente a democracia pois esta não satisfez demandas básicas de educação, alimentação, saneamento básico e segurança, o que gera um espaço para governos autoritários e autocráticos que por um discurso mascarado prometem soluções para problemas persistentes. Referências Bibliográficas Antonio G. Moreira Maués ∗ Élida Lauris dos Santos. OS ACORDOS NO PROCESSO CONSTITUINTE: BRASIL E ESPANHA. Barry Weingast, ’Designing Constitutional Stability’ in Roger Congleton and Birgitta Swedenborg (ed.), Democratic Constitutional Design and Public Policy Analysis and Evidence (MIT Press 2006). El País. Uma Espanha moderna. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/14/opinion/1497457095_618906.html JOSÉ, MARIA GARCIA E AMORIM, ROBERTO NEVES. ESTUDOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL COMPARADO, 2007. LANDAU, David. Abusive Constitutionalism. UC Davis Law Review, Vol. 47, 2014. Peter McDonoughI; Samuel G. BarnesII; Antonio López PinaIII; Josefina Figueira- McDonoughI, .A democratização desencantada: a cultura política na Espanha pós- 82.
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