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ENDOCRINOPATIAS A unidade funcional da tireoide é o folículo tireoideano, com várias células foliculares unidas com a função de produção hormonal. Para isso, contam com a capacidade de concentrar iodo, substrato para formação dos hormônios tireoidianos, que são então armazenados no coloide e depois secretados no estroma glandular ricamente vascularizado. A célula folicular tem capacidade de captar iodeto. A TPO (tireoperoxidase) capta o iodeto e transforma em T3 e T4, produzindo também tireoglobulina (Tg), que transporta os hormônios. Os hormônios ficam armazenados no coloide e quando necessários são separados da Tg e lançados no estroma. A produção de T4 é 20 vezes maior que T3, mas apenas T3 é biologicamente ativo; logo, ocorre uma conversão periférica de T4 em T3 pela TPO e Desiodase I e II. O propiltiouracil e o metimazol inibem a TPO! O TSH é responsável por todo este processo, atuando através do AMPc intracelular. O lítio inibe o AMPc intracelular, podendo causar hipotireoidismo. TIREOIDE T4 (20x) T3 Desiodase III Desiodase I e II rT3 T3Sem efeito biológico Inibe desiodase I O iodo captado tem um controle fino sobre a célula folicular. Se o indivíduo ingere muito iodo, a célula folicular fica menos sensível à ação do TSH, e mesmo tendo mais substrato a taxa hormonal permanece normal (autorregulação da célula folicular). Com a redução da quantidade de iodo, a célula fica mais sensível ao TSH, mantendo a taxa hormonal normal. O efeito de Wolff-Chaikoff (indução de hipotireoidismo ao fornecer iodo) é um hipotireoidismo de base; seu oposto é o fenômeno de Jod-Basedow (indução de hipertireoidismo ao fornecer iodo). Isto pode ocorrer em TC com contraste e amiodarona, por exemplo. O Eixo Endócrino da Tireoide: Hipotálamo (TRH) → Hipófise (TSH) → Tireoide (T4/T3) O excesso hormonal inibe o TRH, enquanto que a falta estimula sua liberação. Um hipotireoidismo primário significa um distúrbio da glândula, enquanto que o distúrbio secundário ocorre na hipófise. · A função tireoidiana é avaliada através do TSH! Fases iniciais de hipotireoidismo tem T4 normal com TSH elevado; a hiperestimulação do TSH causa bócio! TERCIÁRIO HIPOTÁLAMO (-) TRH (+)SECUNDÁRIO HIPÓFISE TSH (+) PRIMÁRIO TIREOIDE T4/T3 · O TSH é o hormônio mais sensível do eixo, sendo o primeiro a se alterar; é o exame de escolha no rastreamento! Qualquer alteração dos hormônios tireoidianos leva a uma alteração do TSH. Hipotireoidismo primário Hipertireoidismo primário Hipertireoidismo secundário TSH alto TSH baixo TSH alto T4L normal / baixo T4L alto T4L alto Bócio TSH sempre baixo (ex.: Dça de Graves) Ex.: tumor hipofisário produtor de TSH → adenoma Tanto hiper quanto hipotireoidismo causam bócio! Responsável pelo bócio → TSH EFEITO DE WOLFF-CHAIKOFF → dá iodo e faz hipotireoidismo FENÔMENO DE JOD-BASEDOW → dá iodo e faz hipertireoidismo A amiodarona é uma droga de depósito, permanecendo no corpo por, no mínimo, 4 semanas após sua parada. Pode causar hepatotoxicidade, pneumotoxicidade, lesões oculares e também na tireoide. Ao depositar-se na tireoide causa uma tireoidite, rompendo o folículo e extravasando hormônios tireoidianos, causando tireotoxicose. Desta forma, a amiodarona pode causar hipotireoidismo (Wolff-Chaikoff), hipertireoidismo (Jod-Basedow) e tireotoxicose. TIREOTOXICOSE HIPERTIREOIDISMO x TIREOTOXICOSE Hipertireoidismo = hiperfunção da glândula Tireotoxicose = síndrome do excesso de hormônio tireoidiano QUADRO CLÍNICO · Aumento dos receptores beta-adrenérgicos: insônia, tremor, taquicardia, sudorese, HAS divergente · A PAS é altamente dependente da FC e aumenta; a PAD é altamente dependente da resistência periférica, e os receptores beta promovem vasodilatação) · Estímulo do metabolismo basal: aumento da TFG, aumento da taxa de depuração hepática; aumento da necessidade energética pelo aumento do metabolismo → polifagia, emagrecimento, hipercalcemia (pelo aumento do turnover ósseo) · Aumento da produção de calor: intolerância ao calor, aumento da temperatura corporal 3 causas que levam a “descarga” adrenérgica: tireotoxicose, feocromocitoma e hipoglicemia CAUSAS DE TIREOTOXICOSE COM HIPERTIREOIDISMO SEM HIPERTIREODISMO HIPER 1º · Doença de Graves · Bócio Multinodular Tóxico · Adenoma tóxico (Doença de Plummer) · Tireoidite · Tireotoxicose factícia (uso do hormônio) HIPER 2º · Tumor hipofisário produtor de TSH · COMO DIFERENCIAR COM HIPER SEM HIPER Doença de Graves Tireoidite ÍNDICE DE CAPTAÇÃO DO IODO RADIOATIVO (RAIU-24H) NORMAL = 5 – 30% COM HIPER = 35 -95% SEM HIPER < 5% Doença de Graves (Bócio Difuso Tóxico) Doença autoimune que causa hiperestimulação da tireoide pelo TRAb (Anticorpo Antirreceptor de TSH). Seus achados específicos são: · Bócio difuso, elástico (não há nódulos); pode vir acompanhado de sopro com frêmito, específico da doença de Graves (bócio difuso tóxico) · Exoftalmia (esclera presente em toda a circunferência da íris; presente em 40% dos pacientes) · Edema periorbitário · Mixedema pré-tibial (edema duro) · Baqueteamento digital Diagnóstico TSH baixo ou suprimido (< 0,05 µU/mL) T4L / T3 elevados Anti-TRAb → estimulador (anticorpo antirreceptor de TSH); ao invés de “destruir”, ele estimula o receptor, ou seja, funciona como se fosse o TSH Anti-TPO → não é específico de nenhuma doença tireoidiana; indica que existe uma agressão autoimune contra a tireoide Cintilografia da Tireoide · Captação difusa do iodo radioativo (Graves) RAIU 24h · Normal: 5-20% de captação · Graves: captação > 20% Tratamento MEDICAMENTOSO · Betabloqueadores → reduzir sintomas adrenérgicos · Metimazol (MMI) ou Propiltiouracil (PTU – 1º tri de gestação) Após atingir o alvo de T4 livre (0,9 a 2 ng), geralmente 1 mês após, suspende-se o propranolol (paciente já está assintomático) e mantém Metimazol por 1 ano. Após 1 ano suspende-se a medicação e a doença resolve-se. Principais efeitos colaterais: hepatite medicamentosa e agranulocitose. Caso ocorra efeito colateral durante o tratamento, parte-se para radioablação com iodo. IODO RADIOATIVO · Caso recidiva medicamentosa ou reações tóxicas as DATs · Contraindicações: gravidez, aleitamento, grandes bócios, exoftalmia grave TIREOIDECTOMIA · Grávidas não controladas com medicação (DAT) · Doença com bócio volumoso · Pacientes com exoftalmia e recidiva após DAT · Contraindicação ao iodo radioativo Deve haver um preparo cirúrgico: internação 6 semanas antes, para reduzir o tamanho do bócio e causar o efeito de Wolff-Chaikoff, secando a glândula e reduzindo sua vascularização e produção hormonal. · PTU ou Metimazol → 6 semanas · Iodo (Lugol) → 2 semanas antes da cirurgia * No Brasil, inicia-se com medicação; caso não funcione, realiza-se ablação, e apenas em último caso a cirurgia! Tireoidites Tireoidite Subaguda · 1ª fase: tireotoxicose → pelo escape de coloide contendo T3/T4 · 2ª fase: hipotireoidismo → depleção dos hormônios tireoidianos · 3ª fase: eutireoidismo TIREOIDITE SUBAGUDA Granulomatosa Dolorosa de Quervain Tireoidite Indolor · Inflamação (pós-viral) + dor · Tireotoxicose · ↑ VHS · Leucocitose · Tratamento: AINE / prednisona · Variante leve e autolimitada de HASHIMOTO · Anti-TPO (50%) · Não há tratamento específico · Resolução espontânea CINTILOGRAFIA RAIU-24H (Normal 5 – 20%) TIREOIDITE SUBAGUDA Baixa captação < 5% DOENÇA DE GRAVES Hipercaptação > 20% Tireoidite de Hashimoto (Linfocítica Crônica) · Principal causa de hipotireoidismo em nosso meio · Doença autoimune · Anti-TPO: 95 - 100% · Anti-Tg · Antirreceptor TSH bloqueador → tireoide atrófica · Linfócitos T auto-reativos · Células de Askanazy → células foliculares fibrosadas · Patognomônicode Hashimoto Quadro clínico Bócio (80%) Se antirreceptor TSH bloqueador (+) (10-20%): tireoide atrófica Hashtoxicose 5% clínica de tireotoxicose Hipotireoidismo Bradipsiquismo / depressão / ganho de peso / intolerância ao frio / pele seca / bradicardia Hiperprolactinemia ↑ Prolactina: galactorreia / amenorreia Dislipidemia ↓ da degradação dos lipídios Mixedema Edema duro sem cacifo (↑ glicosaminoglicanos) DIAGNÓSTICO ↑ TSH ↓ T4L Anti-TPO + Células de ASKANAZY: patognomônico TRATAMENTO · Na fase de tireotoxicose: betabloqueador · No hipotireoidismo: Levotiroxina (T4): 1 – 2 µg/kg/dia (manhã) Atenção: Hashimoto aumenta o risco de linfoma de Hodgkin! Tireoidite Crônica de Riedel - Idiopática, fibrosante - Acomete principalmente mulheres (4:1) entre 30 e 60 anos HIPOTIREOIDISMO QUADRO CLÍNICO · Diminuição dos receptores beta: bradicardia, HAS convergente · Diminuição do metabolismo basal: dislipidemia, ganho de peso, anemia / pancitopenia · Diminuição da produção de calor: intolerância ao frio, diminuição da temperatura corporal · Outros: hiperprolactinemia, mixedema... Dosar TSH e T4L Hipotireoidismo primário ↑ T4L / ↑ TSH Hipotireoidismo secundário (central) ↓ T4L / ↓ TSH Hipotireoidismo subclínico (estágio inicial de um hipo primário) ↑ TSH T4L (N) CAUSAS Hipotireoidismo primário e subclínico Hashimoto Outras tireoidites Iatrogênica / droga ↓ de iodo Hipotireoidismo central Doença hipofisária Doença hipotalâmica (rara) CONDUTA Hipotireoidismo primário ANTI- TPO (+) → Hashimoto (-) → outras tireoidites Hipotireoidismo central RNM crânio (Sela túrcica) TRATAMENTO LEVOTIROXINA · Dose → 1,6 mcg/kg · Em algumas situações devemos iniciar com doses muito baixas e a progressão se faz de maneira muito lenta → CUIDADO COM CORONARIOPATIA! HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO Quando tratar? Primeiro repetir TSH em 1 mês... · Sintomático · Grávida · TSH > 10 mU/L · ANTI-TPO em altos títulos · Dislipidemia, depressão... COMA MIXEDEMATOSO · Levotiroxina EV em altas doses · Hidrocortisona EV (evitar crise adrenal) · Suporte respiratório (VM) · Corrigir hipoglicemia / hiponatremia · Aquecimento NÓDULOS DE TIREOIDE Iniciar pela anamnese e exame físico, com a palpação da tireoide. O próximo passo é sempre avaliar a função tireoidiana com dosagem de TSH para definir se está normal ou suprimido (VR 0,5 - 5 µU/ml). ADENOMA TÓXICO Cirurgia / radioiodo “Frio” ACOMPANHAR PAAF “Quente” > 1cm ou suspeito ≥ 1cm ou suspeito USG CINTILOGRAFIA NORMAL SUPRIMIDO TSH INVESTIGAÇÃO NÓDULOS DE TIREOIDE Nódulo suspeito: · Irradiação, crescimento · Linfonodo, rouquidão · USG: microcalcificações, sólidos, hipoecoico e irregular, vascularização (Chamas IV e V) CÂNCER DE TIREOIDE WL RESUMOS RESIDÊNCIA MÉDICA - Bem diferenciado: · Mulher (20 – 40 anos) · Mais comum (90%) · Bom prognóstico · Papilífero e folicular - Pouco diferenciado: · 9% dos casos · Pior prognóstico · Medular e anaplásico PAPILÍFERO FOLICULAR Tipo Bem diferenciado Bem diferenciado Características gerais Mais comum Mulher 20 – 40 anos Excelente prognóstico Disseminação linfática Associado à irradiação Corpos psamomatosos (acúmulo Ca++) 2º mais comum Mulher 40 – 60 anos Bom prognóstico Disseminação hematogênica Associado à carência de iodo Aumento de células foliculares Diagnóstico PAAF (citológico) Histopatológico Tratamento Tireoidectomia < 1cm, s/ linfonodo: parcial ≥ 1cm, c/ linfonodo: total (Se < 15 anos, irradiação: total) Ablação 131I + supressão TSH (Levotiroxina) ≤ 2 cm: parcial (se adenoma OK; se CA total) > 2cm: total Ablação 131I + supressão TSH (Levotiroxina) Seguimento Tireoglobulina / cintilografia Tireoglobulina / cintilografia * A PAAF não diferencia adenoma de câncer folicular! É necessário o diagnóstico histopatológico! Carcinoma Medular (CMT): células C ou parafoliculares · Marcador: calcitonina · Diagnóstico: PAAF · Esporádico - 80% · Familiar – 20% associação com NEM 2 · Associado ao proto-oncogene RET: pesquisar em parentes de 1º grau · Se positivo: tireoidectomia profilática · Tratamento: tireoidectomia + linfadenectomia · Seguimento: calcitonina · NEM 2 A: CMT + feocromocitoma + hiperparatireoidismo · NEM 2 B: CMT + feocromocitoma + neuromas Carcinoma Anaplásico (Indiferenciado) · Pior prognóstico, mais raro porém mais agressivo, idosos, deficiência de iodo · Diagnóstico: PAAF · Tratamento: traqueostomia + QT/RT Carcinoma de Células de Hurthle · Variante mais agressiva e menos diferenciada do folicular · Tratamento: tireoidectomia total + linfadenectomia
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