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Gota • Conceito e epidemiologia ➢ Doença metabólica hereditária, caracterizada por precipitações de cristais de ácido úrico nos tecidos; ➢ Articulações, bainhas sinoviais, bursas, tecido subcutâneo e rins; ➢ 1,5% da população; ➢ Artrite inflamatória mais comum da população; ➢ Mais comum em homens (90%); ➢ 30 e 60 anos; ➢ Mulheres (após a menopausa/estrogênio: efeito uricosúrico). • Etiopatogenia e classificação ➢ Primária ➢ Secundária: outras condições ou enfermidades ✓ Doenças mieloproliferativas (leucemias, metaplasia mieloide, policitemia vera, linfomas). ✓ Hemoglobinopatias (anemias hemolíticas, drepanocitose). ✓ Obesidade, síndrome metabólica, hipertensão arterial, insuficiência renal, alcoolismo, psoríase, hiperparatireoidismo, cetose, sarcoidose, hipertrigliceridemia. ✓ Dietas ricas em purinas e drogas (salicilatos em baixas doses, pirazinamida, etambutol, L-dopa, diuréticos tiazídicos, quimioterápicos, ciclosporina). ➔Drogas que aumentam e drogas que diminuem a concentração de ácido úrico: ➔Drogas que interferem na homeostase do urato: • Etiopatogenia e classificação ➢ Cristais no interior das articulações → atração de células fagocitárias → fagocitose → liberação de mediadores inflamatórios → vasodilatação da membrana sinovial, edema e infiltrado de células linfomononucleares → artrite ➔Metabolismo do ácido úrico: ➔Metabolismo das purinas: • Quadro clínico ➢ Hiperuricemia assintomática. ➢ Hiperuricemia em 20% dos adultos; ➢ Acido úrico > 9 mg: fator de risco para gota, doença cardiovascular e nefropatia; ➢ Fator preditivo para hipertensão e doença coronariana; ➢ Hiperuricemia com antecedente de nefrolitíase e gota na família, pacientes com risco cardiovascular elevado: abordagem medicamentosa precoce? • Quadro clínico – gota aguda ➢ Atrite; ➢ Primeira metatarsofalangiana do hálux (podagra), tibiotársicas, joelhos, punhos, mãos e cotovelos; ➢ Início monoarticular, podendo tornar-se oligoarticular ou poliarticular (fase crônica); ➢ Dor intensa, edema, calor e hiperemia; ➢ Confunde-se com artrite séptica; ➢ Duração de horas ou alguns dias. Podagra. • Quadro clínico – período intercrítico ➢ Período assintomático variável (6 meses a 2 anos e, em alguns casos, pode não surgir uma segunda nova crise de artrite); ➢ Esse período diminui com a evolução para a fase de poliartrite crônica, onde surgem as lesões osteoarticulares mais graves; ➢ Período que se observa o maior número de abandonos de tratamento. • Quadro clínico – gota tofácea crônica ➢ Praticamente sem períodos intercríticos; ➢ Mono/oligoarticular para poliarticular; ➢ Deformidades e limitações funcionais articulares; ➢ Tofos → deposição de MUS – cristais de monourato de sódio – formando nódulos em diversos locais: superfície extensora dos antebraços, dorso das mãos, joelhos, tornozelos, pés, hélice das orelhas, tendões, bursas, havendo, até mesmo, relatos no miocárdio, na válvula cardíaca, nos olhos e na laringe. • Quadro clínico – tofo ➢ Consistência variável, moles quando recentes, duros quando antigos, pele pode tornar-se fina, hiperemiada e brilhante; ➢ Normalmente não são dolorosos; ➢ Eventualmente ulceram, dando saída a um material branco, pastoso, que lembra pasta de dente ou de giz; ➢ Tratamento adequado e precoce evita o seu aparecimento. • Quadro clínico – gota tofácea crônica ➢ Renal (10 a 30%); ➢ Deposição crônica de MUS no interstício renal “nefropatia por uratos” (lentamente progressiva e dificilmente evolui para hipertensão arterial ou pielonefrite). ➢ Deposição de MUS nos túbulos renais e nos ductos coletores: nefropatia aguda ou formação de litíase renal. ➢ Cálculos: ✓ Pacientes com história familiar de calculose renal, hiperuricemia e hiperexcreção de ácido úrico. • Evolução clínica • Manifestações extra articulares ➢ Tofos → compressão dos nervos ulnar, mediano e fibular. ➢ Gota faríngea: acessos agudos de tosse seca; irritação, rouquidão e disfagia pela presença de tofo na laringe. ➢ Tofos na esclera ou na córnea; ➢ Gota cerebral: cefaleia, afasia, hemiplegia. ➢ Gota cardíaca: válvulas mitral, aórtica e do miocárdio. • Fatores desencadeantes de crise ➢ Trauma ➢ Bebida alcoólica (principalmente cerveja) ➢ Cirurgia ➢ Anestesia ➢ Fatores emocionais ➢ Fatores climáticos ➢ Fatores alimentares ➢ Hemodiálise • Diagnóstico ➢ Laboratório ✓ Uricemia: homem até 7 mg/dl, mulher até 6mg/dl; ✓ Uricosúria de 24h: 350 a 750 mg; ✓ Sedimento urinário, função renal, glicemia, lipidograma, hemograma e provas inflamatórias de fase aguda; ✓ Pesquisa do cristal de MUS em microscopia de luz polarizada, no líquido sinovial ou nos tofos: birrefringência negativa forte, assemelhando-se a pequenas agulhas. • Diagnóstico ➢ Radiologia ✓ Fases iniciais da gota: alterações radiológicas discretas ou mesmo podem estar ausentes. ✓ Após alguns episódios de artrite: aumento de volume de partes moles, presença de osteoporose periarticular ou justa-articular, diminuição do espaço articular, lesões erosivas em “saca bocado”, subluxações e/ou luxações. • Novos critérios – ACR-EULAR 2015 ➢ Gout Classification Criteria. -Maximum score is 23. >8 gota. • Resumo • Calculadora para classificação diagnóstica http://goutclassificationcalculator.auckland.ac.nz ➔US – sinal do duplo contorno: ➔TC – dual energy: • Diagnóstico diferencial ➢ Forma monoarticular ✓ Artrite séptica ✓ Pseudogota ✓ Periartrite classificada por cristais de apatita em sua fase aguda ➢ Forma oligoarticular ✓ Síndrome de Reiter ✓ Enteroartropatias ✓ Artrite psoriásica ➢ Forma poliarticular ✓ Artrite reumatoide • Tratamento*** ➢ Objetivo ✓ Superar a fase intensa da dor do processo inflamatório ✓ Diminuir novos episódios agudos ➢ Hiperuricemia assintomática ✓ Níveis de ácido úrico acima de 9 mg/dl e, principalmente, se tiver antecedente de cálculo renal, antecedente familiar de gota ou múltiplos fatores de riscos cardiovasculares. ➢ Medicação ✓ Alopurinol 100 a 600mg/dia ✓ Insuficiência renal grave: doses menores que 100mg/dia ou trocas para febuxostato ➢ Insuficiência renal crônica ✓ Não tratar se a uricemia for inferior a 13 mg/dl (hemodiálise é capaz de depurar o ácido úrico em 50% em cada sessão, e, também, não é comum a artrite). ➢ Crise aguda de gota ✓ Repouso ✓ Artrocentese diagnóstica e alívio ✓ Colchicina ✓ AINE ✓ Corticosteroides: situações renitentes ao tratamento preconizado ou contraindicação a AINE ➢ Período intercrítico ✓ Controle dos níveis de uricemia ✓ Prevenção de novas crises de artrite ✓ Suspender AINE ✓ Colchicina (profilática) ✓ Bloqueadores da enzima xantino-oxidase (Alopurinol) ➔Acompanhar: níveis de uricemia, presença de tofos, recidivas frequentes e excreção de ácido úrico urinário nas 24h. ➢ Alopurinol ✓ Droga de escolha, 300 a 600 mg/dia ✓ Não modificar as doses de Alopurinol na crise aguda ✓ Melhora dos tofos ✓ Risco de DRESS e síndrome Steven-Johnson ➢ Uricosúricos ✓ Reduzem a reabsorção tubular de ácido úrico ✓ Hipoexcretor (90% dos casos): indica-se a utilização do uricosúrico (benzobromarona 50- 200 mg/dia). ➢ Benzobromarona ✓ Normo ou hipoexcretores de ácido úrico, com litíase renal recidivante, clearance de creatinina inferior a 40mg/mL não devem receber essa medicação. ✓ Alopurinol + benzobromarona: casos refratários. ➢ Alcalinização da urina ✓ Casos de nefrolitíase. ✓ Na gota, o pH na urina é baixo em razão de amoniogênese deficitária, que propicia a insolubilidade do ácido úrico, facilitando a formação de cristais de urato. ✓ Citrato de potássio e ácido cítrico. ➢ Medidas gerais ✓ Controle de HAS, Diabetes e dislipidemia ✓ Monitorizar a função renal ✓ Dieta com baixas concentrações depurina ✓ Medida cautelosa e não obsessiva, pois dietas rigorosas não conseguem reduzir a uricemia em 1 mg/dl ✓ Perder peso http http://goutclassificationcalculator.auckland.ac.nz/ ➢ Alimentos ✓ Álcool (em especial, a cerveja, o vinho e licores), refrigerantes, frutos do mar, miúdos de frango ou de boi, carnes de animais em crescimento (vitela, galeto), caças, carne de porco, feijão, lentilha, grão de bico, entre outros. ➢ Dieta ➔Controverso entre os Reumatologistas Brasileiros. • Indicações de terapia de redução de urato ➢ Tofo > ou = 2 crises por ano, alteração RX ➢ Episódios infrequentes, doença renal crônica estágio 3 ou urolitíase e ácido úrico > 9 → considerar ➢ Não tratar se primeira crise • Escolha da terapia ➢ Alopurinol: 1ª linha, inclusive para DRC estágio ≥ 3. ➢ Iniciar com baixa dose: Alopurinol 100 mg ou febuxostato ≤ 40 mg. • Alopurinol ➢ Teste do HLA-B5801 antes de iniciar – etnia asiática e afro-americanos; ➢ Pode fazer dessensibilização ao Alopurinol em caso de alergia. • Febuxostato ➢ Doença cardiovascular ou novo evento CV, avaliar troca de medicação. ➢ Não disponível no Brasil. • Uricosúricos ➢ Contra: avaliar ácido úrico urinário em terapia inicial e após tratamento ➢ Alcalinização da urina em pacientes que estejam em tratamento com uricosúricos ➢ Tratamento adjuvante aos inibidores da síntese de ácido úrico. • Profilaxia de crises durante a ULT ➢ Administração concomitante com Colchicina, AINE, prednisona ➢ Uso por 6 meses • Momento de início, T2T e duração do TTO ➢ Iniciar a ULT durante a crise gota, ao invés de introduzir após resolução do “flare” ➢ Uso contínuo até atingir meta <6mg/dl ➢ Uso contínuo, ao invés de suspende-la. • Manejo de medicações adjuvantes ➢ Tentar trocar HCTZ ➢ Escolher losartana como TTO de HAS ➢ Não suspender AAS, se bem indicado ➢ Não trocar hipolipemiante para fenofibrato • Brasil • Caso clínico 1 ➢ Identificação HDL, 58 anos, sexo masculino, negro, caminhoneiro, procedente de Nova Friburgo. ➢ HMA Procurou o ambulatório do Pronto Socorro queixando-se de forte dor no hálux direito. O paciente chegou ao ambulatório calçando um chinelo no pé direito porque não conseguia colocar o sapato. O paciente relata que o problema se iniciou há três dias. No primeiro dia tomou Tylenol que não fez nenhum efeito. Passou então a tomar um comprimido de AAS de 6 em 6 horas. A dor aliviou um pouco, mas notou que o pé também estava ficando inchado e quente. Continuou tomando AAS 3x/dia. ➢ HMA Procurou atendimento porque acordara de madrugada com muita dor e que até o toque das cobertas o incomodava demais. Sentia muita dor no dedo e o pé estava muito inchado, vermelho, o que o impedia de calçar o sapato. O paciente relatava também que sentia dores nas articulações desde os 40 anos de idade e que nunca procurou atendimento achando que deveria ser um reumatismo e que se tratava tomando Aspirina, chás que alguém recomendava. Mas que desta vez não houve melhora. ➢ CHV O paciente relata que bebe “socialmente" (gosta de cerveja). ➢ Antecentes Hipertensão: enalapril. ➢ Exame físico Temperatura axilar de 37o C; FC de 98 b.p.m. e PA de 155 x 100 mmHg; Altura 1,70m; peso 89 kg. Edema no hálux direito o paciente também apresentava discreto edema nas demais articulações metatarsofalengeanas e nas articulações dos dedos da mão. ➢ Dados laboratoriais Hemograma completo normal VHS (Westergren) de 35 mm/hr (N = < 40 mm/hr) Prova de função hepática e renal normais Urinálise normal Fator reumatóide normal Ácido úrico 10,4mg/dL (3 -8 mg/dL) Ácido úrico Urina 24horas: 837mg 1. Diagnóstico 2. Conduta ✓ Medidas não farmacológicas ✓ Medidas farmacológicas ➢ Arcoxia 90mg 1x ao dia) e Colchicine 0,5mg 3x ao dia e recomendado que o paciente retornasse assim que melhorasse. ➢ Após 15 dias o paciente retorna assintomático e recebe orientações comportamentais e dietéticas ➢ Suspenso AINE ➢ Prescrito colchicina 0,5mg 1xdia ➢ Alopurinol 100mg (comprimido) 1x ao dia. ➢ Exame realizado para controle mostrou que os níveis de ácido úrico não haviam diminuído satisfatoriamente e o paciente passou a tomar 100mg do Alopurinol (3x/dia após as refeições) e foi enfatizada a necessidade do controle dietético. • Caso clínico 2 ➢ Homem 54 anos ➢ Obesidade e Hipertensão ➢ Etilista social ➢ Medicação em uso: Hidroclorotiazida ➢ História de Gota ➢ 4 ataques no ano anterior ➢ Alopurinol 300 mg/dia ➢ Ácido úrico: 7,2 mg/dl ➢ Ácido Úrico Urina 24 horas: 125mg ➢ Creatinina: 1mg/dl ➔Qual a conduta? ✓ Medidas comportamentais e dietéticas ✓ Suspender bebida alcoólica ✓ Suspender Hidroclorotiazida ✓ Associar Benzobromarona 100mg/dia ✓ Losartana para hipertensão (efeito uricosúrico) • Mensagem final ➢ Orientação dietética é importante, porém não deve ser restritiva ➢ Suspender bebida alcoólica principalmente fermentados (vinho e cerveja) ➢ Pacientes geralmente com múltiplas comorbidades e com baixa aderência ao tratamento ➢ Mais importante para a orientação nutricional é a alimentação saudável, atividade física, redução do peso, controle da síndrome metabólica e diminuição do risco cardiovascular.