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Osteoartrite: definição, características e fatores de risco

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Geovana Sanches, TXXIV 
OSTEOARTRITE 
 
INTRODUÇÃO 
Definição 
 A osteoartrite (OA) é definida como um 
distúrbio musculoesquelético e das articulações 
sinovais do corpo. 
Sinonímias 
• Osteoartrose 
• Artrose 
• Doença articular degenerativa 
Características 
• Clínica: dor e limitações funcionais 
• Histológica: alterações da cartilagem e do 
osso subcondral 
• Radiológica: presença de osteófitos e 
estreitamento dos espaços articulares 
Classificação 
Osteoartrite primária 
• Também denominada idiopática 
• Etiologia desconhecida ou decorrente de 
mecanismos genéticos já identificados 
Osteoartrite secundária 
• Osteoartrite ocasionada por algum 
trauma, malformação anatômica, doença 
congênita ou distúrbio metabólico 
 
EPIDEMIOLOGIA 
• Doença reumatológica mais comum, 
especialmente em indivíduos idosos 
• Presente em cerca de 10% dos indivíduos 
com amis de 60 anos 
• Principal causa de artrite na população 
adulta 
o 27 milhões de pacientes nos EUA 
o 16% da população brasileira 
• 3ª causa de incapacidade laborativa 
(afastamento do trabalho), ficando atrás 
apenas de doenças mentais e 
cardiovasculares 
• Indicação mais comum de operações de 
artroplastia do quadril e do joelho 
• Regiões mais afetadas 
o Quadril 
o Joelhos 
o Mãos 
§ IFD e IFP 
§ 1ª carpometacarpica 
o Pés 
§ 1ª metatarsofalangiana 
o Acrômio-clavicular 
 
o Coluna vertebral lombar e cervical 
§ Articulação facetaria 
§ Disco intervertebral 
 
FATORES DE RISCO 
Intrínsecos 
• Idade 
o Fator de risco mais importante 
o Aumento progressivo da 
prevalência a partir dos 45 anos 
§ Diminuição da atividade 
metabólica da cartilagem 
articular 
o Não é um desfecho fisiológico do 
envelhecimento, mas sim uma 
comorbidade degenerativa 
• Gênero 
o Predomínio no sexo feminino 
o Possivelmente devido às alterações 
da secreção de hormônios sexuais 
após a menopausa 
o Sexo masculino 
§ Maior risco para OA de 
quadril 
• Etnia 
o Entre os negros, a OA é mais grave e 
causa limitações físicas mais 
importantes que na população 
branca 
• Genética 
o Não há um gene responsável 
o Fator de risco relativamente 
predominante, mesmo não sendo 
uma doença genética 
• Anatômicos 
o Deformação e desalinhamento 
anatômico da articulação 
o Exemplos: rotura de menisco, 
ligamento, cápsula, fratura óssea 
que acometa a superfície articular 
• Patologias ortopédicas 
o Gene varo ou geno valgo congênito 
 
Geovana Sanches, TXXIV 
§ Geno varo: pernas mais 
afastadas que o normal e 
arqueadas na altura do 
joelho 
§ Geno valgo: pernas 
aparentam estar mais 
juntas por conta dos joelhos 
que se direcionam ao plano 
mediano do paciente 
• O valgo não cavalga 
§ Pode ser também uma 
consequência da doença 
o Doença de Legg-Perth 
o Displasia acetabular 
• Obesidade 
o Sobrecarga mecânica excessiva 
direta por conta do aumento da 
massa 
§ Osteoartrite de joelho 
o Estado pró-inflamatório 
potencializado por adipocinas 
§ Osteoartrite de mãos 
o Gravidade proporcional ao excesso 
de peso 
o Framingham Osteoarthritis Study 
§ Perda > 5kg em mulheres ao 
longo de 10 anos reduziu 
50% o risco de desenvolver 
osteoartrite sintomática 
dos joelhos 
• Doenças metabólicas sistêmicas 
o Interferem na formação da matriz 
cartilaginosa, aumento a 
probabilidade de o indivíduo 
adquirir osteoartrite 
o Exemplos 
§ Ocronose 
§ Hemocromatose 
§ Diabetes mellitus 
§ Acromegalia 
Extrínsecos 
• Fatores externos ao organismo que o 
acompanham ao longo de sua rotina 
• Esportes e/ou trabalhos extenuantes 
o Demandam muito da proteção 
mecânica exercida pelas 
articulações, principalmente nos 
joelhos, devido aos movimentos 
repetitivos e excessivos de flexão 
o Atividades físicas exaustivas, tais 
como ciclismo, velocistas, futebol, 
ginástica 
o Empregos “braçais”, como mineiros, 
perfuradores e lavradores 
• Por esses fatores extrínsecos, em 
pacientes < 45 anos, a osteoartrite é mais 
prevalente em homens do que mulheres 
 
FISIOPATOLOGIA 
 Na osteoartrite, a maioria ou todas as 
estruturas articulares são afetadas. Geralmente 
inicia-se pela camada fina da cartilagem hialiana 
articular, o qual é desgastado. 
 
Alterações ósseas 
• Principalmente no osso subcondral 
• Esclerose óssea 
o Aumento da densidade da matriz 
óssea pela ação de osteoblastos 
resultante da microlesão óssea 
• Cistos subcondrais 
o Devido a necrose formada quando 
os ossos absorvem a sobrecarga 
mecânica da pressão dentro do 
espaço articular 
• Osteófitos 
o Formados pelo processo excessivo 
de regeneracao nas áreas de maior 
pressão no espaço articular, ou seja, 
nas extremidades 
o Aparecem como projeções ósseas 
em formato de “bico de papagaio” 
 
Alterações cartilaginosas 
• Ação degenerativa leva a irregularidade da 
superfície cartilaginosa 
o Redução da espessura (fibrilações) 
o Pode evoluir para fendas e erosões 
• Tentativa de regeneração da cartilagem 
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o Matriz com mais água e menos 
proteoglicanos 
o Ausência de condrócitos nas zonas 
periféricas 
o Presença de condrócitos 
regenerados na zona central 
Alterações sinoviais 
• Processo inflamatório crônico no tecido 
sinovial (sinovite) 
o Iniciado por enzimas e citocinas 
o Desencadeado pelos fragmentos de 
cartilagem e ossos degradados no 
líquido sinovial 
• A longo prazo: formação de cristais de 
fosfato e pirofosfato de cálcio 
o Resposta inflamatória crônica 
o Sinovite e espessamento da cápsula 
articular 
 
QUADRO CLÍNICO 
As manifestações da osteoartrite são 
predominantemente locais, com envolvimento da 
articulação lesada. Há pouca ou nenhuma reação 
sistêmica no organismo, diferente do que ocorre 
em outras doenças reumatológicas que atingem as 
articulações, como AR e LES. 
Os locais mais incidentes são as 
articulações do hálux (1ª metatarsofalangeana), 
joelhos, quadril, interapofisárias (coluna 
vertebral), interfalangianas distais e proximais e 
carpometacarpianas do primeiro quirodáctilo 
(polegar). 
 
Inicialmente há desconforto ou dor 
relativamente branda ao utilizar a articulação 
afetada. 
• Estágio inicial de osteoartrite de quadril 
o Dificuldade de cruzar as pernas para 
calçar um par de calçados ou vestir 
as calças 
o Sustentação do peso enquanto em 
pé e deambulação ainda bem 
toleradas 
Com o avançar da doença, o paciente passa 
a sentir desconforto articular progressivamente 
mais grave e dificuldade crescente em realizar as 
atividades de vida diária. 
No extremo mais grave, o paciente tem 
limitações intensas de atividade, até mesmo para 
caminhar pequenas distâncias. 
Principais sintomas 
 Os principais sintomas da osteoartrite são 
a dor articular, rigidez articular, instabilidade 
articular e limitação do movimento. 
Dor articular 
• Sintoma responsável por levar o paciente a 
buscar ajuda médica 
• Costuma se originar de forma espontânea 
e gradual no local acometido 
o Pode ser mono ou poliarticular 
• Características 
o Em “aperto” 
o Pequena e média intensidade 
o Fator de piora: movimentação 
o Fator de melhora: repouso 
• Eventualmente, é desencadeada pela 
própria sobrecarga do corpo, podendo 
evoluir com dor em repouso e/ou noturna, 
interferindo na qualidade de sono do 
paciente 
• Mecanismos da dor articular 
o Multifatorial 
o Estiramento dos ligamentos e da 
cápsula articular 
o Aumento da pressão intraóssea nos 
ossos subcondrais acometidos 
§ Decorrente do aumento da 
densidade óssea na 
inflamação 
o Sinovite, bursite ou tenossinovite 
§ Liberação de mediadores 
inflamatórias que simulam 
a dor nas terminações 
nervosas ou compressão 
destas devido ao edema 
o Dor muscular 
Rigidez articular 
• Principalmente durante a manhã, após 
longos períodos de imobilidade 
• Relativamente breve e autolimitada 
o Persiste por até 30 minutos 
Instabilidade articular 
• Sensação de apreensão e falta de 
confiança / segurança em suportar o peso 
sustentado pela articulação 
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• Ocasionalmente,pode levar a quedas 
Limitação do movimento 
• Redução da amplitude dos movimentos 
passivos e ativos 
• Mecanismos 
o Presença de osteófitos 
o Espessamento da cápsula articular 
o Hiperplasia sinovial (sinovite) 
Principais sinais 
Aumento da articulação 
• Edema ósseo e/ou cartilaginoso 
• Consistência firme 
• Pontos dolorosos 
Crepitações 
• Observadas à mobilização passiva das 
articulações 
• Audíveis ou palpáveis 
o Som mais fino 
o Sensação de como tivesse areia 
dentro da articulação 
• Produzidas pelo movimento de estruturas 
articulares danificadas 
o Exemplo: deformidade de 
cartilagem ou de tendões 
• Presente em mais de 90% dos pacientes 
com osteoartrite de joelhos 
Deformidade articular 
• Sinal de lesão articular avançada 
Sinais de sinovite 
• Edema 
o Discreto derrame articular 
• Aumento de temperatura 
Nódulos 
• Expansões firmes de tecido ósseo e 
cartilaginoso nas articulações 
• Consistem nos osteófitos palpáveis nos 
pacientes 
 
 
 
o Nódulos de Heberden: acometem as 
interfalangeanas distais 
o Nódulos de Bouchard: acometem as 
interfalangeanas proximais 
DIAGNÓSTICO 
 O diagnóstico é feito através da história 
clínica do paciente, em conjunto com o exame 
físico osteoarticular minucioso e exames 
complementares (de imagem e laboratoriais). 
Exame físico 
Todas as articulações do corpo devem ser 
inspecionadas e palpadas, sempre comparando-as 
bilateralmente. 
Inspeção 
• Observar as articulações em repouso 
• Busca por eritema, edema, deformidades 
ou lesões 
Palpação 
• Avaliar a consistência articular 
• Busca por locais de dor, edema, massas 
moles em locais de espaço normais e 
crepitações 
• Avaliação da amplitude de movimento 
o Movimento ativo: realizado pelo 
próprio paciente 
o Movimento passivo: realizado pelo 
examinador 
Exames laboratoriais 
• Não há exames laboratoriais específicos 
para confirmar o diagnóstico 
• Útil no diagnóstico diferencial 
o Hemograma 
o Testes imunológicos (FAN, FR) 
o Marcadores inflamatórios (VSH, 
PCR) 
• Artrocentese 
o Punção do líquido sinovial dentro da 
cápsula articular para pesquisa de 
leucocitose 
o Contagem de leucócitos 
§ Derrame articular na OA é 
de caráter não inflamatório 
(< 2.000 leucócitos/mm3) 
§ Se valor superior, sugestivo 
de artrite inflamatória, 
como artrite reumatóide 
o Cristais 
§ Ausentes na osteoartrite 
§ Presente na gota ou 
pseudogota 
Exames de imagem 
 Os exames de imagem têm importância 
essencial para o diagnóstico precoce da 
osteoartrite, pois avaliam a presença ou não de 
alguma deformidade na cartilagem. Todavia, 
pacientes com achados radiológicos de OA podem 
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se apresentar assintomáticos, de forma que a 
intensidade do quadro sintomatológico não pode 
ser relacionada com o grau de osteoartrite 
encontrado no exame. 
Radiografia 
• Padrão-ouro 
• Confirma o diagnóstico de osteoartrite 
 
Anormalidades radiográficas típicas 
Estreitamento dos espaços articulares 
• Menor área radiotransparente no 
espaço articular 
 
Osteófitos 
 
 
• Protuberância óssea radiopaca na borda 
da articulação 
 
Cistos subcondrais 
 
 
• Formações arredondadas 
radiotransparentes na região subcondral 
afetada 
 
Esclerose óssea 
 
 
• Eburnação (ossificação das cartilagens 
articulares) 
• Aumento radiopaco na região acometida 
Outros exames 
 Podem auxilair a avaliação da osteoartrite, 
ajudando a identificar possíveis etiologias que 
colaboram para sua manifestação, como por 
exemplo uma rotura de ligamento cruzado ou 
menisco, osteonecrose, entre outros. Podem, 
ainda, eliminar outros possíveis diagnósticos 
• Tomografia computadorizada 
• Ressonância magnética 
o Fraco poder discriminativo para o 
diagnóstico 
o Pode demonstrar anormalidades 
típicas de osteoartrite, mas essas 
também são encontradas em quase 
todos os indivíduos idosos 
o Dissociação clínico-radiológico 
 
TRATAMENTO 
Não farmacológico 
• Incentivo a perda de peso 
• Exercícios aeróbicos e de fortalecimento 
o Eficazes no tratamento da 
osteoartrite de joelhos 
o Fortalecimento da musculatura 
o Liberação de endorfina e serotonina 
à ação analgésica 
• Dispositivo auxiliar de marcha 
o Bengala ou andador 
o Pode atenuar as cargas impostas ao 
joelho ou quadril afetado 
o Redução da dor percebida ao 
caminhar 
• Fisioterapia 
• Joelheiras de Neoprene 
o Reduzem a dor dos pacientes com 
deformidade em varo causada pela 
osteoartrite do joelho 
Farmacológico 
 Podem ser necessárias três tipos de 
medicamentos: anti-inflamatórios, analgésicos 
tópicos e antidepressivos. 
Anti-inflamatórios não esteroidais 
• 1ª opção de tratamento farmacológico 
• Principais medicamentos usados para 
pacientes com dores de intensidade leve a 
moderada 
• Inibem a COX, enzima que participa da 
formação de prostaglandina e tromboxano 
o COX1: enzima constitutiva que inibe 
a secreção gástrica do estômago e 
participa da filtração do plasma do 
rim 
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o COX2: participa da inflamação 
• AINES não seletivos 
o Inibem as vias da COX 1 e 2 
o Utilizar em associação com um 
protetor gástrico, como o 
omeprazol 
o Paracetamol (acetaminofeno) 
§ 1ª opção 
§ Atenua a dor e melhora a 
funcionalidade 
§ Mais seguro quanto aos 
efeitos tóxicos 
• AINES seletivos 
o Nimesulida e celocoxibe 
o Inibem a via da COX 2 
o Previne a toxicidade gastro-
duodenal e renal 
o Maior custo 
• Vantagens dos AINES 
o Não provocam dependência 
• Desvantagens dos AINES 
o Aumento o risco de complicações 
gastrointestinais, cardiovasculares e 
renais 
o Contraindicações 
§ História de úlcera péptica 
ou sangramento gastro-
intestinal 
§ Idade > 65 anos 
§ Tabagismo e etilismo 
concomitante 
§ Tratamento combinado 
com corticoides ou anti-
coagulantes 
§ Coinfecção por H. pylori 
§ Insuficiência renal 
• Sempre utilizar a menor dose necessária 
para alcance da analgesia do paciente 
Antidepressivos 
 São utilizados para pacientes com 
contraindicação para uso de AINES. Atuam na 
inibição da receptação de noradrenalina e 
serotonina. 
• Duloxetina 
o Alto custo 
o Indicado para pacientes com OA 
generalizada, ou seja, com 
acometimento de múltiplas 
articulações 
• Amitriptilina 
o Ofertado pelo SUS 
o Mais efeitos adversos 
§ Aumento do risco 
cardiovascular 
§ Xerostomia 
§ Aumento da pressão 
arterial 
Analgésicos tópicos 
• Capsaicina 
o Atua na dessensibilização dos 
axônios sensoriais 
o Alivia a dor 
Medidas intervencionistas 
 Caso o tratamento não farmacológico e 
farmacológico não surte o efeito esperado e o 
paciente continue muito sintomático, podem ser 
realizadas medidas intervencionistas. 
Lavagem articular 
• Uso de soro fisiológico para remover os 
debris dentro da cápsula articular 
• Alivia o quadro clínico por meses 
Remoção de fragmentos por artroscopia 
• Retirada dos fragmentos de cartilagem 
degenerada 
• Pode ajudar na melhora de sintomas por 
meses 
o Alívio da dor 
o Diminuição de manifestações 
mecânicas, como a rigidez 
Artroplastia 
A artroplastia é um procedimento cirúrgico 
em que há a remoção da articulação lesionada, 
sendo substituída por uma prótese articular. 
É recomendada para pacientes graves que, 
mesmo com o tratamento clínico, não houve 
minimização da dor refratária e da incapacidade 
articular.

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