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Artrite gotosa – GOTA Gota é a principal artropatia induzida por cristal, e é a artrite inflamatória mais comum que acomete a população geral. Devido ao aumento da incidência e prevalência das hiperuremias, a artrite gotosa também apresentou aumento da incidência e prevalência ao longo das décadas Acomete mais homens que mulheres (8:1); 30-60 anos. O que pode desenvolver a gota? * Ácido úrico que se apresenta na forma de monourato de sódio; * Cálcio que se apresenta na forma de pirofosfato de cálcio; * Outros cristais: doença por depósito de hidroxiapatita, doença por depósito de cristais de oxalato de cálcio, artrite por depósito de cristais de corticosteroides; Fisiopatologia Ácido úrico circula no sangue na forma de urato de sódio, e para ele ser solúvel na corrente sanguínea, ele precisa estar no pH ideal de 7,4, assim, possui uma solubilidade muito limítrofe no soro. Por isso, ele é capaz de fazer a crise de gota. o Desse modo, se houver mudança do pH do meio, o urato de sódio irá precipitar a crise de gota. o Além disso, se houver o aumento do nível sérico do ácido úrico (como por exemplo maior ingesta ou redução da excreção), haverá redução de sua solubilidade e, assim, também precipitará a crise de gota. De modo geral, a gota pode ser causada por: o Hiperprodução de ácido úrico: causa idiopática ou associada à dieta, infecções, estresse cirúrgico e quimioterapia; o Hipoexcreção de ácido úrico ⇒ é mais comum e independe da função renal, ou seja, ureia e creatinina estarão normais. o A maioria dos pacientes com gota são hipoexcretores! Antigamente tínhamos uricase (enzima que foi perdida durante o processo evolutivo) que metabolizada ácido úrico em alantoína, que era mais solúvel que o ácido úrico. Atualmente, a enzima é produzida como anticorpo para ser utilizada como medicamento O ácido úrico é proveniente da síntese de purinas (adenina e guanina); o Adenina e guanina podem ser oriundas do próprio metabolismo celular (2/3) e da dieta (1/3); ➢ O metabolismo pode ser alterado por medicamentos e doenças - como neoplasias, psoríase - por uma alta atividade metabólica das células. ➢ A dieta pode ser alterada quando há aumento da ingestão de alimentos ricos em purinas O ácido úrico pode ser eliminado pelo intestino (1/3) ou pelo rim (2/3); habitualmente não existem doenças que diminuem a excreção intestinal do ácido úrico, pois o processo é guiado pelas bactérias que compõem a flora intestinal; No entanto, na via urinária, o transportador URAT-1 é responsável por reabsorver o urato filtrado e, assim, é uma via de excreção que pode ser afetada. o Assim, há doenças/medicamentos que diminuem a excreção renal de ácido úrico e, por isso, podem ocasionar gota o Etanol pode induzir hiperuricemia: aumenta a degradação do ATP em AMP, formando ácido úrico além de atuar também diminuindo a excreção urinária do ácido úrico ao aumentar o lactato. Além disso, a cerveja além de ter o álcool também possui cevada - rica em purina -. o que aumenta o ácido úrico. Por isso, em pacientes com hiperuricemia é importante saber a causa: produção exacerbada ou eliminação comprometida? Crise de gota O paciente com hiperuricemia terá uma precipitação desses cristais, decorrente do aumento rápido do nível sérico e da mudança na solubilidade pela ingesta de alimentos com grande quantidade de ácido úrico. Na circulação sanguínea, os cristais serão fagocitados por monócitos, liberando citocinas inflamatórias, com IL-1 e IL-6 - responsáveis pela vermelhidão, febre e calor no local. Além disso, haverá ativação do complemento, com o início da quimiotaxia para ativação dos neutrófilos, os quais auxiliam no processo de fagocitose dos cristais, com a finalidade de abortar a crise. Em geral, esse processo dura 3-5 dias, e inicialmente não causa nenhuma lesão na articulação devido á curta duração do contato entre o cristal e articulação. Fatores provocativos das crises: trauma (mudança de pH), intercorrências clínicas e cirúrgicas (modificam o pH), álcool, medicamentos (diuréticos tiazídicos e aspirina) e ingesta alimentar (hiperuricocemicos ou hipouricosúricos) o Fatores de risco: aumento da idade, menopausa, DRC, sobrepeso, obesidade, hipertensão, hiperlipidemia, hipertrigliceridemia o Protótipo do paciente com gota: HAS, diabetes, dislipidemia, obesida Hiperuricemia assintomática Elevação do ácido úrico não associada a manifestações clínicas de gota e/ou nefropatia Mais de 2/3 dos pacientes que possuem hiperuricemia são assintomáticos e 1/3 pode apresentar sintomas de gota e/ou doença renal (litíase) Em geral, hiperuricemia com ácido úrico acima de 10 indica-se tratamento – essa medida é controversa. Segundo estudos: hiperuricemia pode ter associação com DCV; pois o paciente com gota normalmente são aqueles pacientes com sd. metabólica. Assim, tratando a hiperuricemia, reduz-se o risco de DCV; o Hiperuricemia associa-se à SD metabólicca (obesidade, dislipidemia) e a fatores de risco para DCV. Quadro Clínico Artrite gotosa aguda: o cristal será fagocitado dentro da articulação, o que leva à formação de inúmeras células inflamatórias (processo inflamatório intenso) que são as responsáveis pelos sinais flogísticos; esse processo é autolimitado, pois o neutrófilo irá fagocitar os cristais, finalizando a crise de gota. Apesar disso, tratamos o paciente devido à intensidade da dor. * Artrite súbita de forte intensidade: calor, rubor, edema * Duração de 5-7 dias → À medida que há uma recorrência, os ataques tornam-se mais severos com duração de 2 semanas * Normalmente, a crise envolve os MMII; 80% monoarticulares → 1ª articulação metatarsofalângica (50%) - PODAGRA Esse curto período de tempo não é o suficiente para destruir a articulação; no entanto, as crises vão ficando cada vez mais frequentes, além de aumentar a duração das crises - ficando mais exposto ao cristal. A partir de então, haverá destruição da articulação, e o paciente evolui para a forma crônica. Período intercrítico: dura entre 5-10 anos; à medida que o paciente não trata as crises, elas vão ocorrendo na mesma articulação, tornando-se mais frequentes e duradouras. O paciente se expõe cada vez mais ao cristal, até que se torna um paciente crônico. Gota tofácea crônica: ocorre quando o paciente já tem destruição da articulação pelo cristal. o Geralmente ocorre 10 anos após a gota intermitente aguda; o Articulações tornam-se persistentemente inchadas; o Dor crônica mecânica; Intensidade dos sintomas é menor que na fase aguda. o Envolvimento poliarticular, incluindo pequenas articulações das mãos; formação de tofos - nódulos intra-articulares e subcutâneos - acúmulos de cristais nos tecidos o Tofo gotoso pode ser encontrado nos dedos, punho, joelhos, olécrano (local mais comum) e áreas de pressão; é o acúmulo de ácido úrico no subcutâneo; geralmente são indolores, mas podem ulcerar devido a uma infecção associada. Pode causar limitação do movimento e destruição articular. o OBS: mesmo no estágio em que o paciente apresenta gota tofácea crônica, o paciente continua a ter crises agudas de gota caso não esteja em tratamento. Diagnóstico Em geral, o diagnóstico é clínico; sendo necessário realizar o diagnóstico diferencial com as monoartrites infecciosas agudas O diagnóstico definitivo é dado através do achado de cristais de urato monossódico no líquido sinovial; mas em geral, pede-se o nível sérico do ácido úrico e pelo menos uma vez no início do tratamento pedir uma urina de 24h para avaliar excreção urinária de ácido úrico. ➢ Apenas quando necessário pede a análise do líquido sinovial. Como o protótipo do paciente com gota é de um paciente com comorbidades,sempre pedir: glicemia de jejum, perfil lipídico, Hb glicada; LABORATORIAL Nível sérico de ácido úrico • Homem: até 7mg% • Mulher: até 6mg% As mulheres possuem maior depuração de ânions urato na idade reprodutiva, devido ao estrógeno; por isso, as crises de gota, quando ocorre nas mulheres, é mais comum na pós-menopausa. Maioria dos hiperuricêmicos nunca desenvolverão sintomas; Níveis normais de ácido úrico sérico durante ataque agudo é frequente - isso ocorre em situações de intercorrências clínicas nas quais ocorre mudança da solubilidade do ácido úrico, desencadeando assim, a crise. Dúvida? análise do líquido sinovial! • Definitivo apenas por aspiração e inspeção do líquido sinovial ou material tofáceo; • Busca de cristais em forma de agulha Ácido úrico na urina 24h (VR: 300-800mg) para buscar se o paciente está eliminando o ácido úrico; Clearence de ácido úrico (VR: 6-7mL/min) pode ser calculado ⚠ Se houver histórico de crises anteriores: pedir raio-x das articulações acometidas em busca da erosão em saca-bocados - típica da gota. Lesão esclerótica, conhecida como sinal da maçã mordida USG de rins e vias urinárias importante para fazer o rastreio de litíase renal MANTRAS EM GOTA: 1. NA CRISE ÁCIDO ÚRICO NORMAL (se o paciente está na crise o ácido úrico está depositado nas articulações, reduzindo o sérico) 2. COMECE O TRATAMENTO DEVAGAR (oscilações bruscas de ácido úrico precipitam crise) ➢ Espere a crise passar para iniciar o alopurinol ➢ Se o paciente já toma alopurinol - não aumente a dose na crise, mas também não interrompa o medicamento. 3. COLCHICINA É TUDO DE BOM! Tratamento Há dois tratamentos: no momento da crise e a hiperuricemia Objetivos: superação da crise aguda, profilaxia de novas crises, redução da concentração de urato, reabsorção de tofos, prevenção da deposição de cristais CRISE AGUDA AINES: medicamento de escolha; porém, é necessário ter cuidado com os fatores de risco Colchicina: tem sido utilizada no lugar dos AINES; inibe a migração e ativação de neutrófilos, evitando a inflamação exagerada. Ou seja, não reduz os níveis séricos de ácido úrico. Corticosteroide: utilizada no caso de gota poliarticular e quando há contraindicação ao uso de AINEs e colchicina Canaquinumabe: imunobiológico que inibe a IL-1 Após o desaparecimento dos sinais inflamatórios, termina-se o tratamento da crise aguda e inicia o tratamento profilático. o Durante a crise aguda NÃO se deve iniciar o tratamento para a hiperuricemia, pois o alopurinol pode piorar a crise de gota. TRATAMENTO PROFILÁTICO Colchicina: prevenção das crises recidivantes, por isso é utilizada na crise e por + 3 semanas após a crise; SE O PACIENTE FOR HIPERPRODUTOR: Alopurinol/Febuxostal: inibidor da Xantina Oxidase (enzima que transforma a hipoxantina em xantina e forma o ácido úrico); assim, bloqueiam a síntese de ácido úrico SE O PACIENTE FOR HIPOEXCRETOR: Probenecida/Benzobromarona: agente uricosúrico, pela ação na URAT1 → inibem a reabsorção nos túbulos renais proximais, e aumentam a excreção do ácido úrico Pegloticase: imunobiológico que faz o papel da enzima uricase recombinante; utilizado mais em pacientes refratários que já estão com doses máximas dessas medicações. ($$ medicamento caro, não disponível no Brasil) Losartana também age como agente uricosúrico, mas em um menor nível. Interessante utilizar em pacientes hipertensos com gota. OBS.: e o tofo? não pode cortar! Isso porque se não for retirada a causa base, o tofo retorna; além disso, o tofo fistuliza, localiza-se em local adjacente ao osso podendo fazer osteomielite. Com o tratamento da doença correto, o tofo regride após alguns anos. Metas do tratamento Pacientes com tafáceo, ácido úrico < 5 Pacientes não tofáceo, ácido úrico < 6 OBS: há literaturas que desconsideram os valores de ácido úrico como meta, considerando apenas a remissão dos sintomas do paciente.
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