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1 ESTUDOS CULTURAIS E ANTROPOLÓGICOS POLLYANNA ALVES NICODEMOS SILVA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1 ESTUDOS CULTURAIS E ANTROPOLÓGICOS POLLYANNA ALVES NICODEMOS SILVA 1 Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Design: Aline de Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Taisser Gustavo Soares Duarte Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor EDITORIAL 2 ESTUDOS CULTURAIS E ANTROPOLÓGICOS 1° edição 3 Pollyanna Alves Nicodemos Silva Pós-Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Minas Gerais (UFMG); Doutorae Mestre em Educação pela Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)(2011- 2017). Graduada em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) (2006). Graduada em Pedagogia pela Faculdade Batista de Minas Gerais (FBMG) (2020); Especia- lista em Gestão, Avaliação e Elaboração de Projetos pela Universidade Federal Minas Gerais (UFMG) (2008). Tem experiência na área de Educação, Antropologia e História, com ênfase em relações raciais atuando, principalmente, nos seguintes temas: jovens de camadas po- pulares, adolescentes negros, elite negra, classes média e alta, identidade, culturas e ques- tões étnico-raciais em educação. Atualmente é professora do curso de Ensino de História da Pós-Graduação Lato Sensu da Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC- -MG) e da Faculdade (FAMART – ITAÚNA/MG) graduação e pós-graduação EAD. 4 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 1.1 A origem da Antropologia ......................................................................................................................................................8 1.2 A filosofia iluminista e o Romantismo ........................................................................................................................10 1.3 A Institucionalização da Antropologia no século XIX..........................................................................................11 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................14 2.1 A cultura e a história ................................................................................................................................................................19 2.2 A cultura e a educação .......................................................................................................................................................20 2.3 A experiência etnográfica na compreesão da alteridades ........................................................................23 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................27 3.1 Diversidade, igualdade e diferença .............................................................................................................................35 3.2 Direitos universais e direitos de especificação ....................................................................................................36 3.3 Ações afirmativas: o início de uma reparação histórica para a população negra ......................37 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................41 INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA A ANTROPOLOGIA, A CULTURA E O HOMEM INTERCULTURALIDADE E MULTICULTURALISMO UNIDADE 4 4.1 Educação, cotidiano e cultura .........................................................................................................................................47 4.2 A LEI 10.639 de 09 de Janeiro de 2003 ......................................................................................................................49 4.3 A LEI 11.645 de 10 de Março de 2008 ...........................................................................................................................52 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................56 A ESCOLA COMO ESPAÇO CULTURAL UNIDADE 5 5.1 Currículo e suas culturas .......................................................................................................................................................61 5.2 Currículo e as identidades .................................................................................................................................................65 5.3 Educação quilombola ...........................................................................................................................................................66 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................69 CURRÍCULO E DIVERSIDADE CULTURAL UNIDADE 6 6.1 O necessário diálogo entre: docência, cultura e educação .........................................................................74 6.2 As ações da escola em relação à diversidade cultural ...................................................................................77 6.3 O desafio da diversidade na escola .............................................................................................................................78 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................80 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTÉUDO ....................................................................................................................84 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................85FORMAÇÃO DOCENTE PARA A DIVERSIDADE 6 UNIDADE 1 A unidade I apresenta uma introdução àAntroplogia, sua origem, as contribuições da Filosofia Iluminista e da tendência Romantista na constituição da Antropologia enquanto disciplina e a análise do processo de institucionalização da Antropologia no século XIX. UNIDADE 2 A Unidade II analisa a relação entre Antropologia, cultura e o homem, o diálogo entre Cultura, História e Educação e as contribuições da experiência etnográfica no compreensão das alteridades culturais. UNIDADE 3 A unidade III explora a importância da interculturalidade, multiculturalismo, diversidade, igualdade, diferença, direitos universais, direitos de especificação e as ações afirmativas,enquanto políticas de reparação histórica para a população negra no Brasil. UNIDADE 4 A unidade V trata o currículo escolar em diálogo com a diversidade cultural, culturas, identidades e a educação quilombola que se insere nas políticas públicaseducacinais brasileiras. UNIDADE 5 O conteúdo desta unidade discute os conflitos de interesse entre principal e agente, tratado pela Teoria da Agência e como as Boas Práticas de Governança Corporativa amenizam os problemas, além de apontar qual deve ser a postura da área de controladoria neste contexto. UNIDADE 6 A unidade VI analisa o necessário diálogo entre: docência, cultura e educação, as ações da escola em relação à diversidade cultural e o desafio da diversidade na escola. C O N FI R A N O L IV R O 7 INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA UNIDADE 01 8 1.1 A ORIGEM DA ANTROPOLOGIA A Antropologia em suas origens foi considerada uma ciência da natureza física do homem e dos seus processos ao longo da História. Concepção que partiu do princípio que o ser humano passaria por estágios evolutivos, sendo: selvageria, bárbarie e civilização até alcançar um suposto “estágio de perfeição”. Tais estudos foram realizados em gabintes, a partir de registros de viajantes, cro- nistas, administradores coloniais, missionários, militares etc. Sendo análises superficiais e classificatórias que descaracterizavam as especificidades culturais dos grupos considera- dos em estado de bárbarie, como no caso dos povos de origens africanas e comunidades indígenas. Já que o objetivo era enaltecer a cultura eurocêntrica, vista como o padrão a ser seguido enquanto modelo de civilização(LIDÓRIO, 2009; ROCHA; TOSTA, 2009). Situações como essas remetem ao etnocêntrismo na sua forma e ação mais radical e cruel de considerar como valores universais aqueles que são próprios da sociedade a que o indivíduo pertence. Haja vista que é um princípio que parte de particularidades e gene- ralizações que, acima de tudo, devem ser encontrados no outro. Nesse processo os indivíduos se veem como superiores em relação àqueles que se distan- ciam dos seus valores. Tal posicionamento de superioridade discrimina, exclui, marginaliza e mata. Conforme Oliveira(1976, p. 47): O “etnocentrismo” aqui se caracterizaria pela uni- versal incapacidade da ideologia étnica de relativi- zar-se; dito de outra maneira, é a virtual incapacida- de da identidade étnica produzir uma visão ou um “retrato” da outra (identidade) que lhe é comple- mentar, sem se valer de critérios absolutos, compa- tíveis com suas representações e abrigado em sua ideologia étnica. A não conviênciacom o outro gerou relações de discriminação, hierarquização, clas- sificação, racismo, preconceito, homicídio, violência e a subjugação de grupos culturais diferentes. Realidade que poderia ter sido diferente se o dito “civilizado” não tivesse se colocado como o modelo de homem a ser seguido e interpretado as diversidades culturais como algo inerente do humano. A exemplo dessa realidade, vários grupos indígenas fo- ram escravizados e mortos na América, em nome de um modelo universalista do homem branco, cristão e ocidental, como dominante e superior. Cenário que explica o não reco- nhecimento do direito dos povos indígenas, considerados como objetos vivos e explorados como mão de obra escravizada. Álváres(2014, p. 63) cita que: Após mais de 500 anos de conquista das Américas, as sociedades indígenas não têm muito o que co- memorar. A sua trágica trajetória de contato com a sociedade europeia causou, nada menos do que a redução da sua população de 9 milhões para um número que já chegou a ser bastante menor do que as atuais 800 mil pessoas, em função das violências 9 físicas e simbólicas que esses povos têm sofrido ao longo da nossa história. Durante os dois primeiros séculos de colonização, a taxa de população foi bru- tal. Guerras, expedições para captura de escravos, grandes epidemias causadas por agentes patogê- nicos, ainda desconhecidos do novo continente tra- zidos pelos europeus e a fome gerada pela deses- truturação de suas redes sociais dizimaram grande parte dos povos indígenas que habitavam o conti- nente a essa época. O processo de escravização determinou no homem branco europeu a justificativa de se apropriar de vidas, “destruir” saberes, vivênciais, valores, memórias e histórias que foram (re)construídas a partir de processos ancestrais milenares. Assim, o “outro” foi con- siderado um ser sem alma, sem identidade, sem humanidade, sem inteligência. Um ser equiparado aos animais, sem razão, inferior e incompleto. A escravização seria a condição que o levaria a alcançar um suposto estágio civilizatório de humanização e salvação (SILVA, 1997). Princípios que sustentaram visões e representações culturais estigmatizadas dos povos africanos e indígenas e, consequentemente, provocou a construção de uma históra única. Diante desses fatores o que prevaleceu foi uma representação negativa em relação às alteridades. Visão que se cristalizou no campo das mentalidades e provocou um estra- go social profundo e difícil de ser ressignificado. O termo Antropologia (anthropus, homem; logos, estudo)signifca o estudo do ho- mem na sua totalidade. Seu objeto de análise são as culturas humanas e suas especifi- cidades. A Antropologia tem o homem em sua completude. Por isso é considerada uma ciência do homem e das suas ações, enquanto agente construtor do processo histórico. A proposta é (re)pensar o homem como um todo (cultural, social e biológico) e com- preender as relações humanas e suas origens em todos os aspectos que o constitui no tempo e no espaço (MARCONI; PRESOTTO, 1985). Discriminação: significa “distinguir”, “diferençar”, “discernir”. A discriminação racial pode ser considerada como a prática do racismo e a efetivação do preconceito. Enquanto o racismo e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e dos julgamentos, das con- cepções de mundo e das crenças, a discriminação é a adoção de práticas que os efetivam (GOMES; MUNANGA, 2006, p. 55). Racismo: por um lado, é um comportamento, uma ação resultante da aversão, por vezes, do ódio em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como: cor da pele, tipo de cabelo etc. Ele é por outro lado um conjunto de ideias e imagens referentes aos grupos humanos que acreditam na existência de raças superiores e inferiores. O racismo também resulta da vontade de se impor uma verdade ou uma crença particular como única e verdadeira (GOMES; MUNANGA, 2006, p. 52). GLOSSÁRIO 10 Sem pretender fazer uma recuo extenso na História sobre a filosofia iluminista e o Romantismo, convém em linhas gerais algumas reflexões. Uma vez que essas correntes de pensamentos apresentaram significativa contribuição na institucionalização da Antropo- logia enquanto disciplina. O Iluminismo foi um movimento filósofico que surgiu na Europa no século XVIII e rompeu com a visão teocêntrica e teológica judaico-cristã, sendo um período que se construiu uma nova visão: do homem, das culturas, da sociedade, além da propagação de ideias e representações atreladas ao racionalismo científico. Em outros termos, para a filosofia Iluminista a razão era a saídapara tirar o homem do estágio de aprisionamento imposto pelo regime absolutista e pela igreja. Instituições que comandavam via relações de poder político e das mentalidades o desenvolvimento da sociedade como um todo.Assim, o objetivo era alcançar: liberdade econômica, política e, sobretudo, avançar no campo das ciênciais. Já que a razão era a única sáida para o progres- so da humanidade. Sobre a filosofia Iluminista e a concepção de homem é explicado que: 1.2 A FILOSOFIA ILUMINISTA E O ROMANTISMO A perspectiva iluminista do homem era, natural- mente, a de que ele constituía uma peça com a na- tureza e partilhava da uniformidade geral da com- posição que a ciência natural nhavia descoberto sob o incitamento de Bacon e a orientação de Newton. Resumindo, há uma natureza tão regularmente or- ganizada, tão perfeitamente invariante e tão mara- vilhosamente semples como o universo de Newton. Algumas de suas leis talvez sejam diferentes, mas existem leis; parte da sua imutabilidade talvez seja obscurecida pelas armadilhas da moda local, mas ela é imutável(GEERTZ, 2012, p. 25). As palavras do autor são muito esclarecedoras. Parafraseando com Rocha e Tosta (2009)é possível afirmar que a proposta do pensamento ocidental foi a busca de um con- senso universal para interpretar a humanidade. Princípio que nasce no século XIX em diá- logo com o Iluminismo e com as ciênciais sociais e naturais do período. Para a filosofia iluminista o homem é constituído por níveis. Cada nível é sopreposto aos níveis inferiores e, consequentemente, reforça os que estão acima dele. Nesse sentido ao analisar a natureza humama é necessário considerar camada por camada; e cada ca- mada apresenta sua completude. Nessas camadas é possível identificar as regularidades estruturais e funcionais da organização social, os fatores psicológicos, as necessidades bá- sicas humanas, os fundamentos biológicos, anatômicos, fisiológicos, neurológicos e toda a estrutura do humano (GEERTZ, 2012). Mas a proposta iluminista de interpretar o homem a partir de uma perspectiva imu- tável esbarrou-se nas diversidades culturais humanas, ou seja relativizou-se a perspectiva absoluta do humano, a noção de natureza, da cultura e, consequentemente, apontou a complexidade que o homem apresenta no cenário social (ROCHA; TOSTA, 2009). Ao contrário do Iluminismo, o Romantismo teve por objetivo o estudo das coletivi- 11 1.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ANTOPOLOGIA NO SÉCULO XIX dades e das emoções humanas. Nasceu na Alemanha entre o final do século XVII e mea- dos do século XIX. É uma corrente que se opôs aos princípios defendidos pelo Iluminismo, sendo eles: universalidade, objetividade e racionalidade. Nesse processo, apresentou um novo modo de pensar as relações humanas, já que explorou os conflitos, as contradições e valorizou modos de vida da vida comum. Como uma forma de criticar o universalismo defendido pela filosofia iluminista, Johann GottFried Von Herder criou o conceito de (Volk = povo) . Para o filósofo todo Volk tem seus valores, costumes, língua e “espíritos” (Volksgeist). Ademais, valorizava as emo- ções humanas, linguagem e interpretava a sociedade como um território sólido e mítico. A crítica de Herder ao universalismo está relacionada à crítica dos antropólogos do século XX à distinção entre cultura e civilização, ou seja, a cultura era considerada experimental e orgânica e a civilização cognitiva e superficial(ERIKSEN; NIELSEN, 2007). Durante longos anos o conceito de cultura esteve relacionado ao sinônimo de civili- zação. Mas os significados atribuídos à cultura durante o século XIX foram preponderantes na ressignifcação do termo ao longo da História. A busca iluminista da natureza(imutável) do homem esbarra – se no problema da diversida- de cultural dos homens. Relativiza – se, então, a perspectiva absolutista sobre o homem. Em consequência, também as concepções sobre a natureza e cultura serão relativizadas, reafir- mando a complexidade da ideia de homem(ROCHA; TOSTA, 2009, p. 26). FIQUE ATENTO No final do seculo XIX e início do século XX a Antropologia passou por um rigoroso processo de ressignificação conceitual e metodológica. Nesse processo o trabalho do an- tropólogo Bronislaw Malinowski na obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental foi prepon- derante, já que elefoi a campo interpretar a cultura dos Trombiandeses na Nova Guiné. As pesquisas antropológicas anteriores a esse período eram realizadas em gabinetes atra- vés de materiais coletados por informantes. Sendo estudos que não revelavam as intera- ções dos antropólogos com as culturas pesquisadas. Conforme Frazer no prefácio da renomada obra “Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia” do também renomado antropólogo Malinowski(1978, p. 10): O cientista, assim como o literato, tende a ver humanida- de somente em abstrato, selecionando para suas consi- derações apenas uma aspecto dos muitos que caracte- rizam o ser humano em sua complexidade. Das grandes obras literárias , a de Molière pode ser usada como um exemplo típico dessa visão parcial. Todas as persona- gens de Molière são projetdas num só plano; uma delas é o avarento,outra a hipócrita, outra o pretensioso – e as- sim por diante;masnehuma delas é humana. São todas bonecos, vestidos de modo a parecerem seres humanos . A semelhança, porém , é apenas superficial. 12 Fazer pesquisa também consiste trabalhar em diálogo com as abstrações. Ademais, toda a produção de conhecimento envolve generalizações que fazem parte do contexto de vida do ser humano, sejam elas marcas do presente ou do passado. Mas que, indiscutivel- mente, diz de processos culturais eidentitários. (MALINOWSKI, 1978). Nicodemos (2014, p. 3) complementa que: Malinowski, quando de suas viagens às Ilhas Tro- briand, buscou analisar detalhadamente os fenô- menos característicos da cultura estudada, sem privilegiar somente aspectos que lhes transmitam admiração e estranheza em detrimento de fatos ro- tineiros. Mas sim, compreender a cultura nativa em sua totalidade. Haja vista que a lei, a ordem e a co- erência que prevalecem no objeto de estudo são as mesmas que os unem e fazem dele um todo coe- rente. O trabalho de campo é primordial àqueles que almejam compreender a cultura alheia em sua totalidade, por isso, o trabalho do antropólogo BronislawMalinowski às Ilhas Trobriand foi um divisor de águas no campo das ciências humanas. Conhecer, interpretar, estudar e analisar as alteridades, exige o convívio com o grupo estudado em sua totalida- de. Segundo Rocha e Tosta (2009, p. 30): Nessa perspectiva, o homem não pode ser visto se- parado ou fragmentadamente senão enquanto um sistema complexo de cérebro, ecologia, genética e cultura. Mas, ainda sim, não se pode dizer que essa seja uma prática comum e estabelecida nos qua- dros do pensamento antropológico. A Antropologia tem por objetivo o estudo do homem na sua totalidade. O desafio e a desconstrução do princípio que pensava o homem e suas ações, a partir de estágios, ou seja, dividido entre corpo, alma, natureza e cultura. O desafio é pensar o homem enquanto um ser total, conforme defende Maus (2003), por isso, a importância da passagem da An- tropologia evolucionista para a Antropologia que reconhece os seres humanos a partir des suas alteridades e na interação com seus pares. Ainda nas palavras de Rocha e Tosta (2009, p. 33): Aos poucos, a cultura foi sendo separada da nature- za, porém, múltiplas vozes ainda reclamam a unida- de natural do homem. Um sensível deslocamento a passagem a natureza física para a natureza huma- na começa a ser implantado, mesmo que durante o iluminismo essas duas ordens da natueza se con- fundissem. A institucionalização da Antropologia foi um divisor de àguas no debate sobre a concepção de homem e de sua condição enquanto agente construtor do processo históri- co. Haja vista que representouuma mudança de perspectiva no que se refere ao humano, 13 O livro “Antropologia” de Mércio Gomes Pereira (2008) retrata a antropologia no ce- nário brasileiro, o processo evolutivo e o sentido ético-moral do homem. Disponível em: https://bit.ly/2OXUsK9. Acesso em: 20 de mar. de 2020. BUSQUE POR MAIS ou seja “o homem deixa de ser o sujeito transcendental da filosofia metafísica para tornar- -se objeto de investigação científica” (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 32). Nesse processo a Antropologia sendo ciência da humanidade e da cultura passa a ter um campo de investigação ampliado, pois considera o homem a patir da sua totali- dade, ou seja o homem é visto como um ser pensante, produtor de culturas e atuante na sociedade. Por isso, o objeto de estudo da Antroplogia é interpretar a maneira de viver do homem, seja através de um grupo, sociedade, país, comunidade etc. Vivências que são (re) construídas a partir de valores simbólicos que refletem nas identidade dos grupos cultu- rais. Um dos princípios defendidos pela Antropologia é a centralidade do conceito de cultura para compreender o humano. Por isso, a importância de assumir a diversidade cultural e romper com o etnocêntrismo(LARAIA, 2008). De quais modos tal afirmação permite pensar o exercício da docência a partir das culturas que fazem parte do cenário educativo? VAMOS PENSAR? https://bit.ly/2OXUsK9 14 1. Em suas origens a Antropologia foi considerada uma ciência da natureza física do homem e dos seus processos ao longo da História. Concepção que partiu do princípio de que o ser humano passaria por estágios evolutivos, sendo ____________, ___________________ e _____________________________________. Das alternativas abaixo escolha a opção correta e complete a frase. a) Culturalismo, bárbarie e etnocentrismo. Já que o objetivo era enaltecer a diversidade cultural, vista como o padrão a ser seguido enquanto modelo de civilização. b) Relativismo, etnocentrismo e civilização até alcançar o padrão hegêmico de humanidade. c) Selvageria, bárbarie e civilização até alcançar um suposto “estágio de perfeição”. d) Evolucionismo, culturalismo e historicismo. Já que as diversidades culturais eram relevantes, ao passo que o conceito de cultura teve grande importância, estando articulado à noção de alteridade. e) Etnocêntrismo, iluminismo e racionalismo até alcançar um suposto “estágio de perfeição”. 2. Oetnocêntrismo na sua forma e ação mais radical e cruel considera como valores universais aqueles que são próprios da sociedade a que o indivíduo pertence. Já que é um princípio que parte de particularidades e generalizações que, acima de tudo, devem ser encontrados no outro. Sendo assim, analise a charge a seguir: A charge apresenta um comportamento que diz que o ser humano: a) Valoriza os padrões culturais como expressões simbólicas universais a todos os seres humanos. b) Considera que a humanidade é diversa e que todos tem o direito de viver suas alteridades nas diferenças. c) Internaliza que somos todos iguais e que devemos respeitar o outro em todos os aspectos: social, cultural, racial e sexual. d) Interpreta a humanidade como o berço da diversidade, por isso constroí uma visão teocêntrica do mundo. e) Interpreta as práticas e os modos de vida diferentes a partir de uma visão etnocêntrica. Por isso valoriza os padrões culturais do seu local de origem. FIXANDO O CONTEÚDO 15 3. A não conviência com as alteridades gerou relações de discriminação, hierarquização, classificação, racismo, preconceito, homicídio, violência e a subjugação de grupos culturais diferentes. Realidade que poderia ter sido diferente se o dito “civilizado” não tivesse se colocado como o modelo de homem a ser seguido e interpretado as diversidades culturais como algo inerente do humano. Sendo assim,das alternativas abaixo, marque a opção que foi exemplo da subjugação das comunidades indígenas. a) O homem branco europeu em terras brasileiras rompeu com o determinismo biológico, defendeu que não há raças na espécie humana, e, portanto, não há superiores e inferiores. Do mesmo modo, as diferenças entre os sexos não explicam aptidões diferenciais entre homens e mulheres. b) Vários grupos indígenas foram escravizados e mortos na América, em nome de um modelo universalista do homem branco, cristão e ocidental, como dominante e superior. Cenário que explica o nãoreconhecimento do direito dos povos indígenas, considerados como objetos vivos e explorados como mão de obra escravizada. c) No processo de colonização da América o colonizador defendeu que não há homens sem culturas. Uma vez que considerou todas as culturas como entidades iguais, por isso, jamais estabeleceu hierarquias no que se refere à existência de sociedades superiores e inferiores. d) Os ditos “civilizados” sempre foram capazes de compreender universalmente o significado profundo dos elos que ligam o mundo em escala global. Por isso, suas histórias marcadas pela valorização das alteridades. e) As ações do colonizador no continente americano contribuíram com a construção de uma representação positiva em relação às alteridades. Visão que se cristalizou no campo das mentalidades e integrou os grupos culturais presentes na humanidade. 4. O termo Antropologia (anthropus, homem; logos, estudo), signifca o estudo do homem na sua totalidade. Seu objeto de análise são as culturas humanas e suas especificidades. Sobre o objeto de estudo da Antropologia, marque a alternativa correta. a) A Antropologia tem o homem e suas culturas em sua completude. Por isso,é considerada uma ciência do homem, das ações, dos registros e memórias que são (re)construídas ao longo do processo histórico. b) A Antropologia entende que a cultura é sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de educação no sentido restrito do termo. Quer dizer, quando falamos que “Maria não tem cultura” e que “João é culto” estamos nos referindo a um certo estado educacional destas pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de compreender ou organizar certos dados e situações. c) Para a Antropologia a cultura é equivalente ao volume de leituras, ao controle de informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundida com inteligência, sendo a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), como se fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu e as línguas que pode falar. d) Segundo a teoria antropológica a cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo como uma arma discriminatória contra algum sexo, 16 idade, etnia ou mesmo sociedades inteiras,quando se diz que “os franceses são cultos e civilizados” em oposição aos americanos que são “ignorantes e grosseiros”. e) Para a Antropologia a cultura não é um conceito chave para a interpretação da vida social. Porque ‘’cultura” é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de “civilização. 5. O Iluminismo foi um movimento filósofico que surgiu na Europa no século XVIII e rompeu com a visão ______________________________________, sendo um período que se construiu uma nova visão: do homem, das culturas, da sociedade, além da propagação de ideias e representações atreladas ao racionalismo científico. Das opções abaixo, escolha a alternativa correta e complete a frase. a) Antropocentrica e teocêntrista. b) Teocêntrica e teológica judaico-cristã. c) Eurocentrista e teológica judaico-cristã. d) Oculacentrista e teocêntrista. e) Etnocentrista e teocêntrista. 6. No final do seculo XIX e início do século XX a Antropologia passou por um rigoroso processo de ressignificação conceitual e metodologica. O trabalho do ____________________________: os Argonautas do Pacífico Ocidental foi preponderante. Já que ele foi a campo interpretar a cultura dos Trombiandeses na Nova Guiné. Complete a lacuna com a opção correta. a) Antropólogo Bronislaw Malinowski. b) Evans – Pritchard. c)Roberto da Matta. d) Lévi – Strauss. e) Clifford Geertz. 7. Sobre a institucionalização da Antropologia é correto afirmar que: a) A Antropologia sendo ciência da humanidade e da cultura não passou a ter um campo de investigação ampliado para interpretar as culturas humanas. b) Não representou uma mudança de perspectiva no que se refere ao humano, ou seja, “o homem deixa de ser o sujeito transcendental da filosofia metafísica para tornar-se objeto de investigação científica”. c) Foi um divisor de águas no debate sobre a concepção de homem e de sua condição enquanto agente construtor do processo histórico. d) Desconsiderou o estudo do homem a patir da sua totalidade, ou seja, o homem não era visto como um ser pensante, produtor de culturas e atuante na sociedade. e) Desconsiderou as representações das alteridades e o sentido humano das diversas experiênciais, (re)contruídas nas relações cotidianas. 8. Ao contrário do Iluminismo o ____________________ teve por objetivo o estudo das coletividades e das emoções humanas. Nasceu na Alemanha entre o final do século XVII e meados do século XIX. É uma corrente que se opôs aos princípios defendidos pelo Iluminismo: universalidade, objetividade e racionalidade. Nesse processo apresentou um novo modo de pensar as relações humanas, já que explorou os conflitos, as contradições e 17 valorizou modos de vida da vida comum. Complete a frase com a opção correta. a) Positivismo. b) Romantismo. c) Evolucionismo. d) Determinismo biológico. e) Marxismo. 18 A ANTROPOLOGIA, A CULTURA E O HOMEM UNIDADE 02 19 2.1 A CULTURA E A HISTÓRIA A História é uma ciência que permite a reconstrução das culturas a partir dos regis- tros deixados pelos homens ao longo do processo histórico. Na história da humanidade o homem sempre teve curiosidade de si mesmo, bem como de tudo que esteve à sua volta. Nesse processo o ser humano observou e registrou costumes e vivênciais (re)construídos pelas culturas. No período clássico os gregos reuniram informações de diversas culturas. Assim nas- ce a Antropologia do século V a.c com a figura de Herodóto, pai da História. Ele registrou, sistematicamente, as marcas e memóriais dos grupos culturais. Ademais até o século XVIII a Antropologia passou por um processo tímido de desenvolvimento. Assim as contribui- ções dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes foram preponderantes (MARCONI; PRESOTTO, 1985). Marconi e Presotto(1985, p. 31)explicam que: A partir de meados do século XVIII, a Antropologia passa a adquirir sua categoria de ciência, quando Lineu, ao classificar os animais, relaciona o homem entre primatas. Foi um dos primeiros a descrever as raças humanas. No século XIX, à medida que os fós- seis humanos e os restos arqueológicos foram des- cobertos, a Antropologia progrediu cada vez mais. Na década de 1840, o investigador francêsBoucher de Perthes, pela primeira vez, refere – se ao homem pré – histórico, baseado em seus achados (utensílios de pedra) de idade bastante recuada. John Lubock recompilou dados exisentes sobre a Cultura da Ida- de da Pedra e estabeleceu as diferentes culturas do Paleolítico e Neolítico. A sistematização da Antropologia como ciência ocorreu com os estudos de Char- les Darwin através da teoria da evolucão e com suas obras: Origem das espécies (1859) e A descendência do homem (1871). Nesse processo a Antropologia Física ganha força e se desenvolveu a partir dos trabalhos dos seguintes antropólogos: Tylor, Morgan, Bachofen, Maine e Bastian (MARCONI; PRESOTTO, 1985). A teoria evolucionista sofreu várias críticas, haja vista que era uma teoria que defen- dia a existência de uma lei universal e natural do humano. Assim, os estudiosos que defen- diam essa teoria avaliavam os costumes e modos de vida do homem através de valores considerados padrões a serem seguidos, ou seja, superiores. Nessa perspectiva o conceito de cultura se confundia com o conceito de civilização, devido à interpretação do humano ocorrer a partir do princípio da universalidade. As palavras de Lopes e Arnaut(2008)são es- clarecedoras, pois explicam que: A dificuldade de entender e identificar o “outro” produziu leituras que tentavam interpretar o desco- nhecido segundo códigos europeus, em sua maio- ria cristãos. [...]a vastidão do território dificultou 20 muito a sua penetração, pois a África tem aproxima- damente trinta mil quilômetros quadrados de área e apenas vinte e oito mil e quinhentos quilômetros de costa, o que significa que a área do continente é três vezes maior do que a da Europa; [...], a exten- são de sua costa é três vezes menor. As dificulda- des, fabulações e o desinteresse fizeram com que o investimento num conhecimento organizado ra- cionalmente viesse apenas com a necessidade de colonizar e demarcar territórios durante o expan- sionismo europeu a partir do final do século XVII. No entanto, a África foi, e em certa medida ainda é, qualificada como uma unidade selvagem, pobre e inculta. Ao que parece, a perspectiva de Hegel de que “os povos negros são incapazes de se desenvol- ver e receber uma educação” ainda prevalece(LO- PES; ARNAUT, 2008, p. 13-14). O desafio é a construção de uma leitura do humano em suas dimensões: identitá- rias, sociais e culturais. Por isso, a necessidade de ampliar os horizontes de análises e as diferentes fontes de estudo como as memórias, o cotidiano e as cultura. Sendo a busca pela valorização da pluralidade humana para além da lei universal. Hoje os estudiosos das culturas buscam estudar o homem e seus códigos a partir das suas alteridades, sendo um outro tratamento e leitura no que se refere às diversidades. Fato é que o desenvolvimento da Antropologia no século XX é reflexo dos estudos anteriores. E um fator preponderante nesse processo foi o trabalho de campo nos cotidia- nos das culturas analisadas. Método que permitiu uma análise mais ampliada das comple- xas tramas de “relações totais” presentes nas culturas humanas. O livro“Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo”de Pietra- Diwan(2007) aborda o contexto histórico sobre “pureza” e sua relação com a socie- dade atual que busca a perfeição a qualquer custo. Disponível em: https://bit.ly/3sB2I0YAcesso em: 30 de mar. de 2021. BUSQUE POR MAIS A Antropologia tem como problema de estudo a cultura como tradução do conjunto dos comportamentos, saberes e memórias, adquiridos através das vivências e aprendiza- gens dos grupos humanos de uma determinada sociedade. Sendo valores adquiridos e transmitidos através de longos processos de interação (LAPLATINE, 2009). Diz o francês Laplantine(2009, p. 12-13): 2.2 A CULTURA E A EDUCAÇÃO https://bit.ly/3sB2I0YA 21 A antropologia não é apenas o estudo de tudo que com- põe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as socieda- des humanas (a nossa inclusive), ou seja, das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas. Visando constituir os” arquivos “da humanidade em suas diferenças significativas, ela, inicialmente privilegiou claramente as áreas de civiliza- ção exteriores à nossa. Mas a antropologia não poderia ser definida por um objeto empírico qualquer (e, em es- pecial, pelo tipo de sociedade ao qual ela a princípio se dedicou preferencialmente ou mesmo exclusivamente). Se seu campo de observação consistisse no estudo das sociedades preservadas do contato com o Ocidente, ela se encontraria hoje, como já comentamos, sem objeto. [...] Aos poucos, notamos que o menor dos nossos com- portamentos (gestos, m´mimicas, posturas, reações afe- tivas) não tem realmente nada de ”natural”. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológi- co) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhe- cimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única. E tendo em vista asbarreiras dadas pelas fronteiras e espaços temporais que defi- nem os limites entre “eu” e “outro” é preciso considerar que os “horizontes limitados” das pessoas mantêm entre si uma relação de ligação e sobreposição. Assim, o fato de saber- mos que visões são parciais não diminui a importância de se entender as realidades que os atores sociais (re)constroem ao longo da vida. A tarefa do Antropólogo é interpretar, anali- sar e compreender como esse processo ocorre e adquire visibilidade e plasticidade. Gomes e Silva (2002, p. 22-23)explicam que: A sociedade brasileira é pluriétnica. Alunos, professores e funcionários de estabelecimentos de ensino são, an- tes de mais nada, sujeitos sociais – homens e mulheres, crianças, adolescentes, jovens e adultos, pertencentes a diferentes grupos étnico – raciais, integrantes de dis- tintos grupos sociais. São sujeitos com histórias de vida, representações, experiências, identidades, crenças, valo- res e costumes próprios que impregnam os ambientes educacionais por onde transitam com suas particulari- dades e semelhanças, compondo o contexto da diversi- dade. Por isso ao planejar, desencadear e avaliar proces- sos educativos e formadores, não podemos considerar a diferença como um estigma. Ela é, sim, mais um cons- tituinte do nosso processo de humanização. Por meio dela, nós nos tornamos partícipes do complexo processo da formação humana. 22 Por isso, a construção de uma educação pluricultural sem reproduções de padrões estereotipados e exclusões é a chave fundamental de combate às desigualdades e o al- cance para o exercício da alteridade. Haja vista que a educação como fato da cultura e em constante diálogo com a cultura permitirá a construção de um conhecimento democráti- co e que chegue a todos os atores sociais. A escola é lugar de construção do conhecimento e, também, o lugar de construção de identidades, valores e afetos. Desta forma, o sistema de ensino não pode se silenciar diante dessa adversidade das questões culturais. É na dimensão da cultura que compreendemos as práticas humanas enquanto prá- ticas significativas viabilizando, assim, diferentes formas de interpretação da experiência humana. A relativização dos saberes e a conexão entre os diversos saberes somente são possíveis em razão das experiências vividas entre sujeitos de cultura e a partir da integra- ção no mundo e na cultura de cada um deles, seja de raça, gênero, escolha sexual, idade etc. É necessário que o processo educacional estabeleça diálogos com as realidades cultu- rais, (GOMES; SILVA, 2002). Tosta (1998, p. 15)explica que: Saberes comuns a um ou mais ramos do conheci- mento, têm sido colocados como dimensão neces- sária a qualquer projeto pedagógico que se queira implementar visando alcançar avanços em termos teóricos e práticos em todos os campos. Dessa for- ma, os encontros disciplinares têm sido tema cons- tantes debates por pesquisadores de diversas mati- zes. E a ciência antropológica acaba se constituindo na esfera mais privilegiada e que mais possibilida- des oferecem para o aprofundamento desses deba- tes, por sua reconhecida capacidade de privilegiar e bem abordar a cultura como dimensão fundadora da sociedade e, historicamente, tomar como objeto de estudo o homem. E nesse processo o diálogo da educação com a cultura é essencial. Haja vista que as instituições escolares precisam fomentar o diálogo da educação com as culturas. Cultura compreendida, conforme teoriza Geertz (2012), como uma teia de significados, linguagens, códigos (re)construídos pelos atores sociais ao longo da vida. Fato é que uma educação à favor da pluralidade cultural demanda de todos os ato- res envolvidos no cenário educacional a consciência de que as práticas educativas não podem ser um veículo de dominação e regulação. Escolarizar crianças, jovens e adultos exige ações educacionais que permitam que os atores sociais construam reflexão críticas das relações humanas. Assim, será possível a desconstrução e problematização das visões distorcidas das culturas e das histórias. Dayrell(2001, p. 127)estabelece que a educação: [...] portanto, ocorre nos mais diferentes espaços e si- tuações sociais, num complexo de experiências, re- lações e atividade, cujos limites estão afixados pela estrutura material e simbólica da sociedade, em de- terminado momento histórico. Nesse campo edu- cativo amplo estão incluídas as instituições (família, 23 escola, igreja etc.), assim como também o cotidiano difuso do trabalho, do bairro, do lazer etc. Segundo Geertz(2012)a cultura pode ser entendida como um princípio que oferece ao homem as condições necessárias para construir-se e representar-se historicamente. Ademais, a cultura diz respeito ao humano em sua totalidade sem nenhuma distinção. Nesse sentido, a cultura é uma construção humana que se efetua e se faz explíci- ta a partir do conhecimento produzido socialmente pela experiência humana, na relação dialética homem-natureza e na tentativa histórica de compreender os contextos físicos e espirituais em que se dão as relações e realizações humanas particulares. Por isto mesmo, quando falamos de cultura estamos sempre operando com o conceito no plural – culturas (GEERTZ, 2012). A alteridade revela-se no fato de que o que eu sou e o outro é não se faz de modo linear e único, porém, constitui jogo de imagens múltiplo e diverso. Saber o que eu sou e o que o ou- tro é depende de quem eu sou, do que acredito que sou, com quem vivo e por quê. Depende também das considerações que o outro tem sobre isso, a respeito de sim mesmo, pois é nesse processo que cada um se faz pessoa e sujeito, membro de um grupo, de uma cultura e uma sociedade. Depende também do lugar a partir do qual nós nos olhamos. Trata-se de proces- sos decorrentes de contextos cuturais que nos formam e informam, deles resultando nossa compreensão de mundo e nossas práticas frente ao igual e ao diferente(GUSMÃO, 2003, p. 87). FIQUE ATENTO 2.3 A EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA NA COMPREENSÃO DAS ALTERIDADES A Etnografia (ethnos, povo: graphein, escrever) consiste na descrição densa das cul- turas. Sendo a observação e análise dos grupos humanos em suas particularidades de modo a reconstituir um registro fiel da vida dos mesmos. Segundo Marconi e Presotto(1985, p. 26): O etnógrafo é o especiaista dedicado ao conheci- mento exaustivo da cultura material e imaterial dos grupos. Observa e descreve, analisa e reconstitui culturas. Trata - se de um investigador de campo dedicado à coleta do material referente a todos os aspectos culturais passíveis de serem observados e descritos – primeiro passo da pesquisa antropoló- gica. Relaciona – se intimamente com a Etnologia, de tal forms que o pesquisador deve ser, ao mesmo tempo, etnógrafo e etnólogo. A prática etnográfica é fundamental paraa compreensão mais ampliada das alteri- dades. Por isso, exige do pesquisador uma ressignificação dos sentidos, dos saberes e de tudo que é interpretado como condição humana. Nesse processo a pesquisa de campo, 24 compreendida como um rital de passagem, objetiva a apreensão das práticas culturais, para identificar como os atores de culturas se acomodam, revelam e modificam, a partir do contexto vivenciado com seus pares e suas respectivas percepções. Para Geertz(2012, p. 7): A etnografia é uma descrição densa. O que o etnó- grafo enfrenta, de fato – a não ser quando (como deve fazer, naturalamente ) está seguindo as rotinas mais automizadas de coletar dados – é uma mul- tiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às outras, que são simultaneamente estranhas, irre- gulares e inexplícitas, e que ele tem de, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. E isso é verdade em todos os níveis de atividade do seu trabalho de campo, mesmo o mais rotimeiro: entrevistar informantes, observar rituais, deduzir os termos ,parentesco, traçarr as linhas de proprieda- de, fazer o censodoméstico ... escrever seu diário. Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de “construir uuma leitura de”) um manuscrito es- tranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não como os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado. Por isso, o ofício de antropólogo é uma condição inerente às práticas de todos os profissionais comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Nesse sentido, indiscutivelmente, as instituições de ensino, sejam elas da educação básica, públicas ou privadas, bem como do ensino superior, precisam assumir o compromisso em oferecerreflexões, debates e saberes que contribuam, substancialmente, com a emancipa- ção humana de forma integral. Nesse processo, conforme defende Oliveira (2000) é fundamental a reflexão no que se refere a três condições preponderantes no contato com o “outro”, sendo: o olhar, o ouvir e o escrever. Tanto o olhar , quanto o ouvir são condições (re)elaboradas no trabalho de campo, a partir das vivenciais do pesquisador com os atores de culturas. Assim, o escrever é reflexo das percepções internalizadas pelo pesquisador, em diálogo com essas duas faculdades cognitivas. O Olhar, o Ouvir e o Escrever antropológicos, [...] está presente em toda e qualquer escrita no interior das ciências sociais. Mas no que tange à Antropolo- gia, como procurei mostrar, esses atos estão previa- mente comprometidos com o próprio horizonte da disciplina, onde Olhar, Ouvir e Escrever estão des- de sempre sintonizados com o “sistema de idéias 25 e valores” que são próprios dela. O quadro concei- tual da antropologia abriga, nesse sentido, idéias e valores de difícil separação. [...] unindo assim, numa única expressão, idéias que possuam uma carga va- lorativa extremamente grande. Trazendo essa ques- tão para a prática da disciplina, diríamos que pelo menos duas dessas “idéias - valor” marcam o fazer antropológico: “a observação participante” e a “rela- tivização”. [...] o relativizar é constituinte do próprio conhecimento antropológico. Pessoalmente, enten- do aqui por relativizar uma atitude epistêmica, emi- nentemente antropológica, graças à qual o pesqui- sador logra escapar da ameaça do etnocentrismo - essa forma habitual de ver o mundo que circunda o leigo, cuja maneira de olhar e de ouvir não foi dis- ciplinada pela antropologia. E se poderia estender isso ao Escrever na medida em que [...] o Escrever etnografia é uma continuação do confronto” inter- cultural, portanto entre pesquisador e pesquisado. Por conseguinte, uma continuidade do Olhar e do Ouvir no Escrever, este último igualmente marcado pela atitude relativista(OLIVEIRA, 2000, p. 29-30). Assim,a Antropologia em diálogo com a educação viabiliza o debate, a reflexão e a intervenção que poderão acolher desde o contexto da aprendizagem, a diversidade cultu- ral em sua totalidade. Haja vista que a Antropologia como ciência, em particular como ci- ência aplicada, nospermite compreender a complexidade do universo das diferenças, bem como das práticas educativas nele imersas. Segundo Gusmão (2003, p. 83): A alteridade revela-se no fato de que o que eu sou e o outro é não se faz de modo linear e único, porém constitui um jogo de imagens múltiplo e diverso. Saber o que eu sou e o que o outro é depende de quem eu sou, do que acredito que sou, com quem vivo e por quê. Depende também das considerações que o outro tem sobre isso, a respeito de si mesmo, pois é nesse processo que cada um se faz pessoa e sujeito, membro de um grupo, de uma cultura e uma sociedade. Depende também do lugar a partir do qual nós nos olhamos. Trata-se de processos de- correntes de contextos culturais que no formam e informam, deles resultando nossa compreensão de mundo e nossas práticas frente ao igual e ao dife- rente. 26 A pesquisa de campo é primordial, haja vista que a experiência etnográfica repre- senta uma oportunidade única na compreensão do “outro”. Processo que exige do pes- quisador certo esforço constante de estranhamento além da conjugação do universal com o particular na análise cultural e do “outro” (ator pesquisado) a experiência etnográfica permite uma “fusão de horizontes” a partir do ponto de vista do nativo e do pesquisador (ROCHA; TOSTA, 2009). No texto “Antes o mundo não existia”, Ailton Krenak(1992) defende a seguinte questão: Um intelectual, na tradição indígena, não tem tantas respon- sabilidades institucionais, assim tão diversas, mas ele tem uma responsabilidade permanente que é estar no meio do seu povo, narrando a sua história, com seu grupo, suas famílias, os clãs, o sentido permanente dessa herança cultural (KRENAC, 1992, p. 201). Comente o trecho destacado e explique como você o compreendeu. De que modos tal afirma- ção permite refletir sobre a importância de um currículo escolar que valorize a pluriculturali- dade de saberes e os valores culturais presentes na sociedade brasileira? VAMOS PENSAR? 27 1. (MPF/PARANÁ - adaptado) Sobre a importância das metodologias de pesquisa que caracterizam a pesquisa antropológica, em especial o trabalho de campo, assinale a alternativa que explica a sua relevância no campo das pesquisas antropológicas. a) O trabalho de campo e a observação participante foram fundamentais para compreender as diversidades culturais. b) Provavelmente o maior defensor da observação participante, embora não a tenha experimentado na prática, foi Malinowski. c) O trabalho de campo não é uma das características do trabalho do Antropólogo. d) Uma das características da forma como se faz trabalho de campoé a imersão em períodos de tempo curtos na cultura analisada. e) A observação participante inviabiliza o trabalho do Antropólogo, pois não permite o registro das culturas vivenciadas pelo grupo pesquisado. 2. A experiência etnográfica constitui-se em um momento privilegiado no que tange à compreensão das verdades e da produção do conhecimento social. Além do mais, o trabalho de campo entendido como um “rito de passagem” exige uma reeducação dos sentidos, articulada a uma atitude fenomenológica do conhecimento. Das opções abaixo,qual alternativa se refere as três faculdades primordiais no trabalho do antropólogo conforme explica Oliveira (2000). a) Olhar, ouvir e registraro olhar. b) Descrever, ouvir e analisar. c) Olhar, ouvir e escrever. d) Etnografar, registrar e cataligar. e) Descrever, detalhar e registrar. 3. _______________________. O que o etnógrafo enfrenta, de fato, a não ser quando (como deve fazer, naturalmente ) está seguindo as rotinas mais automizadas de coletar dados, é uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às outras que são, simultaneamente, estranhas, irregulares e inexplícitas e que ele tem de alguma forma primeiro apreender e depois apresentar. Complete a frase com a opção correta. a) A etnografia é uma descrição densa. b) A história é uma descrição densa. c) A antropologia é uma descrição densa. d) A etnologia é uma descrição densa e) A sociologia é uma descrição densa. 4. (MPF/PARANÁ - adaptado) A experiência etnográfica representa uma oportunidade única na compreensão do “outro”. Sobre essa afirmação, assinale a opção que explica a FIXANDO O CONTEÚDO 28 importância da experiência etnografica no ofício do Antropólogo. a) A imersão no campo e o diálogo entre História e teoria são as características principais da experiência etnográfica. b) A experiência etnografica compõe um sistemas de valores que não perpassa todos os aspectos dos grupos culturais. c) A pesquisa de campo objetiva a apreensão das práticas culturais, para identificar como as culturas se acomodam, revelam e modificam a partir do contexto vivenciado pelos atores sociais e suas respectivas percepções. d) A pesquisa de campo não condiciona diretamente o trabalho do antropólogo. e) A Antropologia de gabineteé que permite uma análise densa das alteridades. 5. _________________________, em particular como ciência aplicada, nospermite compreender a complexidade do universo das diferenças, bem como das práticas educativas nele imersas. Das opções que seguem, complete a frase com a opção correta. a) A Antropologia como ciência b) A Sociologia como ciência c) A História como ciência d) A Etnologia como ciência e) A Arqueologia como ciência 6. Classifique as informações sobre o ofício do Etnógrafo com V (verdadeiro) e F (Falso). ( ) O etnógrafo é o especialista dedicado ao conhecimento da cultura dos grupos analisados. ( ) O etnógrafo observa e descreve, analisa e reconstitui culturas. ( ) O etnógrafo é um investigador de campo, dedicado à coleta do material referente a todos os aspectos culturais passíveis de serem observados e descritos. ( ) Não relaciona-se intimamente com as culturas e suas alteridades. a) V – V – V – V. b) F – V – V –F. c) F – F – F – F. d) V- V- F – V. e) V – V- V – F. 7. Sobre o “ Trabalho do Antropólogo”, Oliveira (1993) explica sobre a importância de: [...] alguns problemas que comumente passam despercebidos, não apenas para o jovem pesquisador, mas, multas vezes, para o profissional maduro, quando não se debruça para as questões epistemológicas que condicionam as investigações empíricas, tanto quanto a construção do texto resultante da pesquisa. Desejo, assim, chamar atenção para três maneiras - melhor diria três etapas – de apreensão dos fenômenos sociais, tematizando-as - o que significa dizer: questionando- as - como algo merecedor de nossa reflexão no exercício da pesquisa e da produção de conhecimento. Tentarei mostrar como o olhar o ouvir e o escrever podem ser questionados em si mesmos, embora, em um primeiro momento, possam nos parecer tão familiares e, por isso, tão triviais, a ponto de 29 sentirmo-nos dispensados de problematizá-los; todavia, em um segundo momento - marcado por nossa inserção nas ciências sociais -, essas “faculdades” ou, melhor dizendo, esses atos cognitivos delas decorrentes assumem um sentido todo particular, de natureza epistêmica, uma vez que é com tais atos que logramos construir nosso saber. Assim procurarei indicar que enquanto no olhar e no ouvir “disciplinados” - a saber, disciplinados pela disciplina - realiza-se nossa percepção, será no escrever que o nosso pensamento exercitar-se-á da forma mais cabal, como produtor de um discurso que seja tão criativo como próprio das ciências voltadas à construção da teoria social. (OLIVEIRA, 2000, p. 18). Sendo assim, marque a opção correta sobre o trabalho do antropólogo: a) Somente o ato de escrever que permite ao pesquisador interpretar a cultura do outro e suas especificidades. b) Apenas o falar permite ao pesquisador interpretar a cultura do outro, a partir de sua lógica interna de realização e expressão. c) O olhar e o ouvir permitem ao pesquisador interpretar a cultura do outro a partir de sua lógica interna de realização e expressão. d) Os atos de olhar, ouvir e escrever permitem ao pesquisador interpretar a cultura do outro a partir de sua lógica interna de realização e expressão. e) O ato de registrar é magistral na ofício do antropólogo, já que a antropologia é uma ciência da descrição densa. 8. Na contemporaneidade, ante a experiências que diversos campos do saber têm nos apresentado, dentre eles a antropologia, é inevitável reconhecer que as escolas se compõem de realidades experimentadas e vividas que se fazem e se refazem continuamente por meio de processos culturais que engendram a vida humana em seu interior (GUSMÃO, 1997). Sobre as contribuições da antropologia na educação, marque a alternativa correta. I. Reconhece a escola enquanto um espaço sociocultural que não está isolado da vida social e que, dentre outros aspectos, seu interior é perpassado e constituído por diferentes atores, de diferentes culturas, com diversos saberes e múltiplas formas de ver e experimentar o mundo. II. Trata-se de examinar, por exemplo, como os(as) professores(as) se constroem enquanto tais, conhecer suas vivências dentro e fora do ambiente educacional, suas expectativas, medos e anseios, a fim de trazer novos elementos sobre quem são, o que pensam e como vivenciam sua profissão, os modos que experimentam suas interações com o conhecimento, com seus pares, os alunos e a instituição escolar. III. Indica a necessidadede compreender os lugares dos sujeitos na dinâmica educacional que constitui as escolas e outros espaços de formação, sendo imprescindível se ouvir e reconhecer as diferentes vozes, sentidos, saberes, valores e comportamentos que engendram suas práticas, suas percepções e as representações que fazem parte da educação escolar. IV. As escolas são iguais, visto que possuem culturas particulares, com sistemas de classificação e produção de simbologias próprios, constituídas de sujeitos plurais, com distintas formas de sociabilidades e rituais que compõem seu cotidiano, como também diferentes modos de hierarquizar seus agentes na construção suas práticas. 30 Dentre as alternativas, estão corretas. a) Todas. b) Nenhuma. c) Apenas I, II e III d) Apenas I, III, e IV. e) Apenas I. 31 INTERCULTURALISMO E MULTICULTURALISMO UNIDADE 03 32 3.1 DIVERSIDADE, IGUALDADE E DIFERENÇA A Antropologia é a ciência que oferece as condições necessárias para pensar o ho- mem e suas relações cotidianas a partir do exercício da alteridade, ou seja, parafraseando Gusmão (2003)a Antropologia é uma ciência que considera as especificidades das diver- sidades culturais que são (re)construídas ao longo do processo histórico. Assim o saber antropológico permite a reflexão dos mecanismos de formação identitárias perante socie- dades multiculturais, como no caso da sociedade brasileira. Ademais: A tendência a homogeneizar, própria das socieda- des plurais, e permanentemente contrariada pelo renascimento das singularidades e especificidades, aponta para o que de fato somos: múltiplos e diver- sos, mas nem por isso desiguais. É nesse contexto que a Antropologia como ciência busca avaliar o social e proporcionar alternativas de intervenção na realidade de modo a que as diferenças não sejam negadas. Ao evidenciar as relações sociais entre dife- rentes como parte de um contexto de poder social- mente construído, a Antropologia possibilita a com- preensão do campo de tensão em que as prpáticas sociais e, principalmente, as educativas operam e permite a emergência de um processo reflexivo ca- paz de consubstanciar uma pedagogia plenamente emancipatória e plural(GUSMÃO, 2003, p. 06-07). Por isso a importância do debate sobre: Diversidade, Igualdade e Diferença. Termos que oferecem uma compreensão mais ampliada do humano e de suas representações no cenário social. Segundo Barros (2008, p. 18-19): A Diversidade Cultural é diversa, ou seja, não se constitui como um mosaico harmônico, mas um conjunto de opostos, divergentes e contraditórios. A Diversidade Cultural é cultural e não natural, ou seja, resulta das trocas entre sujeitos, grupos sociais e instituições a partir de suas diferenças, mas tam- bém de suas desigualdades, tensões e conflitos. A Diversidade Cultural se apresenta, portanto, como uma resposta, uma procura deliberada, e não ape- nas uma constatação antropológica. É o resultado de uma construção deliberada, e não apenas um pressuposto, um ponto de partida. Um projeto, e não apenas um inventário. Corroborando com Gomes (2002)a diversidade é uma condição do humano. Haja vista que somos homens e mulheres que (re)construímos nossas identidades, a partir das relações sociais, históricas e culturais, condições que somadas nos fazem diferentes. Nesse 33 sentido a sociedade precisa pensar sobre o trato em relação às diferentes presenças exis- tentes nos diversos espaços sociais. Para mais, Silva (2011, p. 14)explica: A abordagem da diversidade cultural na escola se realiza, portanto, a partirdo encontro de nossos va- lores simbólicos, sociais, econômicos, culturais e do outro, (criança, adolescente, jovem, adulto e idoso), o diferente. Por fazer parte de uma construção só- cio-histórica imersa na cultura, tratando-se especifi- camente da diversidade étnico-racial, torna-se cada vez mais necessária a revisão de determinados pa- drões éticos, estéticos e formativos. O reconhecimento das diversidades, sejam elas: sociais, raciais, culturais e econômi- cas oferecem as condições necessárias para rever o pensamento hegêmonico, construído a partir da propogação de uma história única que de uma forma cruel , excluiu e ainda exclui cidadãos considerados outsiders, como no caso dos cidadãos: negros, indígenas, po- bres, mulheres, idosos, homosexuaisetc(SILVA, 2011). Para ampliar esse debate, convém uma análise do termo diferença. Nesse sentido, as palavras defendidas por Hofbauer (2011)permitem a construção de uma compreensão mais ampliada do termo diferença: É lícito afirmar que todas as sociedades reconhe- cem diferenças de diversas ordens (peculiaridades físico fenotípicas, (des)habilidades especiais, dife- renças em termos de idade e gênero, assim como de status, de poder etc.) e possuem noções de jus- tiça ancoradas em determinadas concepções do mundo (em forma de cosmologias e/ou ideologias). Quais diferenças são vistas como justas e quais como injustas frequentemente varia, porém, entre as sociedades. E existem, evidentemente, também disputas internas a respeito de tais avaliações. Ge- ralmente há, no entanto, algumas concepções que se impõem como discursos hegemônicos e que buscam explicar e justificar certas diferenças como benignas para a coesão e a integridade do corpo so- cial, bem como condenar outras como socialmente malignas ou imorais, que podem vir a ser identifica- das e reprovadas como “desigualdade” (HOFBAUER, 2011, p. 71-72) Por isso, o desafio são ações do poder público, movimentos sociais, intelectuais e da sociedade civil em prol do direito à diferença. A proposta é que essas ações enxerguem o outro em suas alteridades, ou eja, nas suas semelhhanças e diferenças. Olhar que não pode ser preconceituso, discriminatório e livre de crenças pautadas em um único padrão de ser gente. Haja vista que a tão perversa padronização cria um compreensão das diferenças como: desvio, patologia, anormalidade, deficiência, defasagem, entre outros conceitos que 34 segregam, humilham e em alguns casos até matam(GOMES, 2011). Outrossim, explica a Antropóloga: O trato desigual das diferenças produz práticas in- tolerantes, arrogantes e autoritárias. E essa postura está longe do tipo de educação que os profissionais de educação vêm defendendo ao longo dos anos. A escola possui a vantagem de ser uma das insti- tuições sociais em que é possível o encontro das diferentes presenças. Ela é também um espaço so- ciocultural marcado por símbolos, rituais, crenças, culturas e valores diversos. Essas possibilidades do espaço educativo escolar precisam ser vistas na sua riqueza, no seu fascínio. Sendo assim, a questão da diversidade cultural na escola deveria ser vista no que de mais fascinante ela proporciona às relações humanas (GOMES, 2011, p. 3). É urgente que as aprendizagens dos valores culturais que constituem as identida- des do outro não sejam construídas de forma hierárquizada, homogênea e classificatória. Mas sim, a partir de um processo intercultural e dialógico(SILVA, 2011). Em outros termos, é preciso “ [...] repensar as relações étnico- raciais, sociais, econô- micas, políticas, pedagógicas e culturais na sociedade de maneira sensível, investigativa e responsável” (SILVA, 2011, p. 21). Além do mais em uma socidade multicultural como no caso da brasileira, é urgen- te e necessário a construção de um debate consistente sobre as diversas culturas que movimentam e ressignifcam diariamente o cenário social. A falta desse debate provocou e ainda provoca uma construção reduzida das culturas. E, consequentemente, a falaciosa propagação da dita história única. Nessa linha de reflexão é necessário incluir o debate sobre a igualdade. Para Barros a igualdade é: A humanidade comum a todos os homens — inde- pendente das desigualdades sociais contra as quais tenhamos de resistir ou das diferenças pelas quais tenhamos de lutar — autoriza a que o ser humano pense na igualdade social como um de seus maio- res valores. Os mundos superpostos do desigual e do diferente, dessa forma, são atravessados a todo instante pelo imaginário da igualdade. O mais pe- culiar, para a nossa reflexão, é que podemos evocar como pares conceituais opostos tanto a dicotomia entre igualdade e desigualdade como a dicotomia entre igualdade e diferença. De fato, [...] , a igualdade pode ser contraposta tanto em relação à desigual- dade como em relação à diferença, porém configu- rando, em cada caso, campos de significados intei- ramente distintos(BARROS, 2008, p. 5). 35 As palavras do autor apresentam uma valor importante, pois levam à reflexão que na luta contra a desigualdade de classe social, outras formas de discriminação e preconceito, como racial, étnica, orientação sexual , gênero etc, precisam ser consideradas (NICODE- MOS, 2014). Gusmão (2003, p. 94) fortalece essa afirmação, pois defede que: Nem a igualdade absoluta, nem a diferença relativa são efetivamente adequadas para compreender e solucionar o problema da diversidade social e cultu- ral. Nisso residem o paradoxo e o desafio de nossas práticas e propostas educativas. Nelas o que está em jogo, mais que as diferenças e a imensa diversidade que nos informa, é a alteridade – espaço permanen- te de enfrentamento, tensão e complementaridade. Nessa medida a escola, mais que um espaço de so- cialização, torna – se um espaço de sociabilidades, ou seja, um espaço de encontros e desencontros, de buscas e de perdas, de descobertas e de encobri- mentos, de vida e de negação da vida. A escola por essa perspectiva é, antes de mais nada, um espaço sociocultural. Reflexões preponderantes para entender os seres humanos como atores de culturas e suas representatividades no que se refere aos saberes, valores e princípios acumulados ao longo das suas interações interculturais que foram e serão (re)construídas ao longo da vida. Mas para isso é preciso que as políticas da igualdade levem em consideração as dife- renças, nesse sentido, criaremos bases sólidas na luta contra uma suposta homogeneida- de que persiste na vida dos atores multiculturais (NICODEMOS, 2014). A palestra do Prof. Dr. Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves, “As relações étnico-ra- ciais e as novas demandas para o campo educacional”discorre sobre a liderança negra em contextos sociourbanos no final do Séc. XX e o surgimento de movimen- tos e ações no Brasil. O vídeo está disponível na plataforma do YouTube através do link: https://bit.ly/3c8Ugim. Acesso em:06 de nov. de 2020. BUSQUE POR MAIS Assista a aula do “Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira” onde o professor aborda alguns aspectos gerais sobre o racismo, biologização das línguas, cultura e criminalidade. Disponível em:https://bit.ly/2O7ZUcP. Acesso em: 05 de fev. de 2020. A obra organizada por Moreira e Candau(2013) discorre sobre a diversidade pre- sente em ambientes escolares e levanta discussões acerca à identidade, sexua- lidade, cultura, gênero etc. “Multiculturalismo: Diferenças culturais e práticas pe- dagógicas”está disponível em: https://bit.ly/3fqqIjL. Acesso em: 30 mar. de 2021. https://bit.ly/3c8Ugim https://bit.ly/2O7ZUcP https://bit.ly/3fqqIjL 36 3.2 DIREITOS UNIVERSAIS E DIREITOS DE ESPECIFICAÇÃO A dívida do Estado e da sociedade brasileira em relação a grupos historicamente ex- cluídos, como no caso dos cidadãos e cidadãs negros, indígenas, mulheres, pobres, etc. é imensa. Na medida em que estes foram e ainda são submetidos a um processo secular de exclusão social, cultural e econômica(NICODEMOS, 2016).As desigualdades de trabalho, renda, segurança, saúde, educação e expectativa de vida são motivadas pelo preconceito e discriminações, sejam de ordens raciais, étnicas, classe, gênero e de orientação sexual . Devido a essa realidade a reivindicação por direitos de especificação é um dos eixos norteador na luta dos movimentos sociais e sociedade ci- vil, dada a premência da construção de uma sociedade justa e democrática (NICODEMOS, 2016). No munddo pós-moderno, embora exista um debate consistente sobre a verda- deira inclusão de cidadãos que foram excluídos dos principais setores da sociedade, ainda faltam informações e conhecimentos para que se compreenda a real contribuição desses na edificação da sociedade brasileira(NICODEMOS, 2016). É importante destacar parafraseando Bobbio (2004)que o processo de multiplica- ção dos direitos do homem ocorreu a partir de três modos: aumento da quantidade de bens considerados merecedores de tutela, extensão da titularidade de direitos típicos do homem, já que o homem não é mais visto como um ser genérico, em outros termos, o homem é visto em suas especificidades e em suas diversas maneira de ser em sociedade, como: criança, velho, doente, mulher etc. Assim: [...] igualdade e diferença têm uma relevância diversa conforme estejam em questão direitos de liberdade ou direitos sociais. Essa, entre outras, é uma das ra- zões pelas quais, no campo dos direitos sociais, mais do que naquele dos direitos de liberdade, ocorreu a proliferação dos direitos [...]; através do reconhe- cimento dos direitos sociais, surgiram - ao lado do homem abstrato ou genérico, do cidadão sem ou- tras qualificações-novas personagens como sujeito de direito, personagens antes desconhecidos nas Declarações dos direitos de liberdade: a mulher e a criança, o velho, o doente e a demente etc(BOBBIO, 2004, p. 72). Os três processos pontuados por Bobbio (2004)permitem identificar uma relação de interdependência, pois o reconhecimento de novos direitos sociais contribuiu para o aumento dos direitos; assim, as três causas dessa multiplicação revelam a necessidade de fazer referência a contextos sociais específicos. Portanto, o processo de multiplicação dos direitos sociais a partir da especificação ocorreu, principalmente, no âmbito dos direitos sociais. Lewandowski (2012) defende que: 37 Para possibilitar que a igualdade material entre as pessoas seja levada a efeito, o Estado pode lançar mão seja de políticas de cunho universalistas, que abrangem um número indeterminado de indivídu- os, mediante ações de natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que atingem grupos sociais de- terminados, de maneira pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir-lhes a superação da desigualdades de- correntes de situações históricas particulares.(BRA- SIL, 2012, p. 05). Sobre o modelo constitucional brasileiro, Lewandowski(2012)afirma que o mesmo não esteve alheio ao princípio da justiça distributiva ou compensatória; pois incorporou ações institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação puramente formal de igualdade; assim, a aplicação do princípio da igualdade, a partir da política distri- butiva precisa levar em consideração a realidade dos grupos sociais. A questão não é a negação da importância das direitos universais no processo de inclusão social, mas a reflexão de dados extraídos de estudos e pesquisas, desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(MUNANGA, 2001; SILVA JÚNIOR, 2000). Tais informações apontam que as políticas universais aplicadas sozinhas não têm dado conta da tamanha disparidade social; por isso, torna-se necessário pensar os direitos universais articulados com as políticas de especificação, de forma que as políticas públicas em geral garantam o aceso de todos à educação,universidade, saúde, cultura, alimenta- ção, entre outros espaços e acima de tudo respeite as diferenças existentes na sociedade. Segundo Domingues (2005), no Brasil existe uma legislação baseada no princípio das ações afirmativas, beneficiando índios, mulheres e deficientes físicos. Mas, ao serem implementa- das, como no caso das cotas raciais, houve resistência por parte de vários segmentos da so- ciedade. Por quê? VAMOS PENSAR? As ações afirmativas são um dos maiores desafios a serem alcançados no contexto social brasileiro, em destaque para as cotas étnico-raciais que visam a garantia de direitos historicamente negados, como no caso da educação, saúde, moradia etc. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e teóricos, que pesquisam so- bre as desigualdades educacionais no Brasil, como: Gomes e Munanga(2006), Henriques (2001), Jaccoud e Beghin(2002), Wedderburn(2005), dentre tantos outros, se encarregaram e encarregam de fazer uma análise crítica sobre a importância da implantação das políti- cas de ações afirmativas para a população negra. 3.3 AÇÕES AFIRMATIVAS: O INÍCIO DE UMA REPARAÇÃO HISTÓRICA PARA A POPULAÇÃO NEGRA 38 De modo geral, suas análises defendem que as políticas de reparações, reconheci- mento e valorização de ações afirmativas explicitam a exclusão social e o racismo que foi implantado na sociedade brasileira a partir da subjugação dos cidadãos negros. Processo que reflete nos cenários educacional, político, cultural e histórico de nosso país. Segundo estudos desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatisti- ca(2019),a população negra (soma de cidadãos autodeclarados pretos e pardos, quanto à cor) é a maioria na sociedade brasileira, sendo (55,8%). Todavia, no ano de 2018 representou somente 27,7% dos cidadãos no que se refere aos 10% com os maiores rendimentos. Em contrapartida, entre os 10% com os menores rendimentos, é visível tamanha desigualdade em relação ao grupo negro, somando 75,2% dos cidadãos que estão em situação de vune- rabilidade social. O rendimento da população branca em 2018 alcançou duas vezes o da população preta ou parda, sendo: R$ 1846 contra R$ 934. Quando à análise é a pobreza monetária, o percentual de cidadãos pretos ou pardos com rendimento abaixo da linha de pobreza é maior, praticamente o dobro da população branca. No ano de 2018, a partir da linha de US$ 5,50 por dia, o índice de pobreza das pessoas brancas era 15,4%, e 32,9% entre as pretas ou pardas. Analisando a linha de US$ 1,90 diários, a diferença é tamanha, ou seja, na medida que 3,6% das pessoas brancas, apresentavam rendimentos inferiores a esse valor, 8,8% das pessoas pretas ou pardas situavam-se abaixo desse nível (INSTITUTO BRASILEIRO DE GE- OGRAFIA E ESTATISTICA, 2019). Entre os anos de 2016 a 2018 no que se refere à taxa de analfabetismo da população autodecladara preta ou parda, os cidadão com 15 anos ou mais de idade, sofreu uma alte- ração de 9,8% para 9,1%, e o percenttual de cidadãos com 25 anos ou mais de idade, com ensino médio concluído, ampliou de 37,3% para 40,3% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO- GRAFIA E ESTATISTICA, 2019). Mas nesses indicadores ainda persiste em uma condição inferior se comparada com os dados referentes à realidade dos cidadãos brancos, uma vez que a taxa de analfabetis- mo era 3,9%, e a proporção de pessoas com ensino médio completo era 55,8%, sendo os mesmos grupos etários citados em 2018. E o cenário mais alarmante é a taxa de analfabe- tismo de cidadãos pretos ou pardos que residem em áreas rurais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2019). Cidadãos pretos e pardos representam a maior parte da força de trabalho no Brasil. Em 2018 o total foi de 57,7 milhões de pessoas, ou seja, 25,2% a mais do que os cidadãos brancos na força de trabalho, que somou 46,1 milhões. Mas, no que se refere à população desocupada e subutilizada, que representa a soma dos cidadãos desocupados, subocupa- dos e a força de trabalho potencial, homens e mulheres pretos ou pardos são considera- velmente mais representados. Mesmo sendo pouco mais da metadeda força de trabalho (54,9%) representam em torno de ⅔ dos desocupados (64,2%) e dos subutilizados (66,1%) na força de trabalho (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2019). Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica(2019) são informações re- eveladoras, pois denunciam o chamado mito da democraciaracial no Brasil; príncípio in- terpretado a partir da obra Casa Grande Senzala, de Gilberto Freyre (1933) que trata sobre uma suposta igualdade racial e social, entre os grupos étnicos-raciais (negros e brancos) que compõem a sociedade brasileira. De acordo Silva Júnior (2000, p. 64): 39 Noutro termos: Uma sociedade como a brasileira, desfigurada por séculos de discriminação genera- lizada, não é suficiente que o Estado se abstenha de praticar a discriminação de suas leis. Vale dizer, incube ao Estado esforçar-se para favorecer a cria- ção de condições que permita a todos se beneficiar da igualdade de oportunidades e eliminar qualquer fonte de discriminação direta ou indireta. A isso se dá o nome de ação afirmativa, ou ação positiva, compreendido como comportamento ativo do Es- tado em contraposição à atitude negativa passiva limitada a mera à mera intenção de não discriminar. (SILVA JÚNIOR, 2000, p. 64). Indiscutivelmente, negros e brancos não possuem as mesmas chances e oportuni- dades e o fator que sustenta tamanha disparidade social é a questão da raça/cor. Dito de outro modo, o racismo à brasileira não é de origem, é de marca. Sofrem precoceito e dis- criminação racial os cidadãos que apresentam características fenotípicas que fazem parte do grupo étnico-racial negro, sendo a cor da pele, formato do nariz, da boca e textura dos cabelos (GOMES; MUNANGA, 2006). Por isso, a legitimidade e a urgência das políticas de ações afirmativas para a polu- lação negra. Sua implementação é o início de uma repação histórica. Considerando que elas visam que o Estado e a sociedadeempreguem mecanismos que possam possibilitar a implantação de medidas de reversão das desigualdades raciais, econômicas, políticas e sociais na sociedade. Cabe explicar que as políticas reparatórias propostas pelas ações afirmativas não se limitam somente aos negros, mas também aos indígenas, homossexuais, mulheres, porta- dores de necessidades especiais etc. A respeito disso Jaccoud e Beghin(2002, p. 67)explicam: As ações afirmativas são aqui entendidas como polí- ticas que têm por objetivo a oportunidade de acesso dos grupos discriminados, ampliando sua participa- ção em diferentes setores da vida econômica, polí- tica, institucional, cultural e social. Elas se caracteri- zam por serem temporárias e por serem focalizadas no grupo discriminado: ou seja, por dispensarem, num determinado prazo, um tratamento diferen- ciado e favorável com vistas a reverter um quadro Histórico de discriminação e exclusão. As ações dos movimentos sociais são basilares na luta pela construção de uma so- ciedade inclusiva. Neste texto é destacado o protagonismo do Movimento Negro e das En- tidades Negras. Instituições que desempenham ações preponderantes para a inserção e a valorização do negro na sociedade, além de lutarem pela construção de uma sociedade democrática, com a integração total do negro. Além do mais, suas articulações contribuem significativamente para as conquistas referentes às ações afirmativas, dentre essas ações pode-se citar a Lei nº. 10.639 de 09 de 40 Janeiro de 2003 que instituiu a obrigatoriedade do ensino da História da África e da cultura afro-brasileira no currículo oficial das redes de ensinos público e privado da educação bá- sica. Decisão que busca resgatar historicamente a contribuição das culturas africanas e da população negra no processo de construção da sociedade brasileira e a aprovação do SupremoTribunal Federal no ano de 2012 da Lei 12.711, Lei de cotas que garante a reserva de vagas nas instituições de ensino superior públicas para estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas, bem como para estudantes oriundos de escolas públicas. Por unanimidade as cotas raciais e sociais foram consideradas constitucionais. Sen- do mais uma conquista que entrou para a História dos movimentossociais negros. Pretos e pardos: Justifica agregarmos pretos e pardos para formarmos, tecnica-mente, o grupo racial negro, visto que a situação destes dois grupos raciais é de um lado bem seme- lhante e, de outro lado, bem distante ou desigual quando comparada com a situação do grupo racial branco. Assim sendo, ante a semelhança estatística entre pretos e pardos em termos de obtenção de direitos legais e legítimos, pensamos ser plausível agregarmos esses dois grupos raciais numa mesma categoria, a de negros. [...] a diferença entre pretos e pardos no que diz respeito à obtenção de vantagens sociais e outros importantes bens e benefícios (ou mesmo em termos de exclusão dos seus direitos legais e legíti-mos) é tão insignificante estatisticamente que podemos agregá-los numa úni-ca categoria, a de negros, uma vez que o racismo no Brasil não faz distinção significativa entre pretos e pardos, como se imagina no senso comum (SANTOS, 2002, p. 13). Democracia Racial: corrente ideológica que pretende negar a desigualdade racial entre bran- cos e negros no Brasil como fruto do racismo, afirmando que existem entre estes dois grupos raciais uma situação de igualdade de oportuni-dade e de tratamento. Esse mito pretende, de um lado, negar a discriminação racial contra os negros no Brasil, e, de outro lado, perpetuar estereótipos, pre-conceitos e discriminações construídos sobre esse grupo racial. Se seguirmos a lógica desse mito, ou seja, de que todas as raças e/ou etnias existentes no Brasil estão em pé de igualdade sócio-racial e que tiveram as mesmas oportunidades desde o início da formação do Brasil, poderemos ser levados a pensar que as desiguais posições hierárquicas existentes entre elas devem-se a uma incapaci-dade inerente aos grupos raciais que estão em desvan- tagens, como os negros e os indígenas. Dessa forma, o mito da democracia racial atua como um campo fértil para a perpetuação de estereótipos sobre os negros, negando o racismo no Brasil, mas, simultaneamente, reforçando as discriminações e desigualdades raciais(GOMES; MUNANGA, 2006, p. 57). GLOSSÁRIO Vale a leitura do documento que aprovou por unanimidade a constitucionalidade- das cotas étnico-raciaispara o acesso ao ensino superior à luz dos princípios esta- belecidos pela Carta Magna. Disponível em:https://bit.ly/3vdc9FR. Acesso em: 20 de nov. de 2020. FIQUE ATENTO https://bit.ly/3vdc9FR 41 1. _____________________________, sejam elas: sociais, raciais, culturais e econômicas, oferecem as condições necessárias para rever o pensamento hegêmonico, cons-truído a partir da propogação de uma história única (SILVA, 2011). Das opções que seguem, complete a frase com a opção correta. a) O reconhecimento das igualdades b) O reconhecimento das diversidades c) O reconhecimento das desigualdades d) O reconhecimento dos valores socioculturais e) O reconhecimento das diferenças 2. Segundo Gomes (2011, p. 3) :O trato desigual das diferenças produz práticas intole- rantes, arrogantes e autoritárias. E essa postura está longe do tipo de educação que os profissionais de educação vêm defendendo ao longo dos anos. A escola possui a vantagem de ser uma das instituições sociais em que é possível o encon-tro das diferentes presenças. Ela é também um espaço sociocultural marcado por símbolos, rituais, crenças, culturas e valores diversos. Essas possibilidades do espaço educativo escolar precisam ser vistas na sua riqueza, no seu fascínio. Sendo assim, a questão da diversidade cultural na escola deveria ser vista no que de mais fasci-nante ela proporciona às relações humanas. Neste sentido, marque a apção correta sobre a responsabilidade do poder públi-co. a) A elaboração e implementação de políticas públicas que enxerguem o outro em suas alteridades, ouseja, nas suas semelhanças e diferenças. b) A elaboração de uma base curricular pautada em um único padrão de humani-dade. c) A propagação de ideias que (re)afirme uma única identidade. Haja vista que to-dos os seres humanos são iguais. d) A propagação de princípios que compreendem as diferenças, como: desvio, pa-tologia, anormalidade, deficiência e defasagem. e) A propagação de princípios que compreendam a diversidade como algo perigo-so e que em alguns segrega, humilha e mata. 3. (SEEMG/2018) Segundo a Convenção da Organização da Nações Unidas – (ONU) sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (1966):Os Estados Partes condenam a discriminação racial e comprometem-se a adotar uma política de eliminação da discriminação racial em todas as suas formas e de promoção de entendimento entre todas as raças. Para esse fim, cada Estado Parte, comprome-te-se a não efetuar ato ou prática de discriminação racial praticada por uma pes-soa ou organização qualquer, a tomar as medidas eficazes, a fim de rever as polí-ticas governamentais nacionais e locais e para modificar, ab-rogar ou anular qual-quer disposição regulamentar que tenha como objetivo criar a discriminação ou perpetrá-la onde já existir; a adotar as medidas legislativas, proibir e pôr fim à dis-criminação racial praticada por pessoas, por grupos ou organizações; FIXANDO O CONTEÚDO 42 favorecer, quando for o caso, as organizações e movimentos multirraciais e outros meios pró-prios e eliminar as barreiras entre as raças e desencorajar o que tende a fortalecer a divisão racial. Os Estados Parte comprometem-se a proibir e a eliminar a discrimi-nação racial em todas suas formas e a garantir o direito de cada um à igualdade perante a lei sem distinção de raça, de cor ou de origem nacional ou étnica. (ONU, 1998, p. 02-03). Assim a todos os cidadãos, devem ser garantido: I. O direito de um tratamento diferenciado, perante os tribunais ou outro órgão que administre justiça; direito à segurança ou à proteção do Estado, contra vio-lência ou lesão corporal cometida, seja por funcionários de Governo, ou por qualquer indivíduo, grupo ou instituição. II. Direito de participar das eleições - votar e ser votado – de acordo com o siste-ma de sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo, assim como na direção de dois assuntos públicos, em qualquer grau e o direito de acesso, em igualdade de condições, às funções públicas. III. Direito de circular parcialmente e de escolher residência dentro das fronteiras do Estado; direito de deixar qualquer país, inclusive o seu, e de retonarr a seu país. IV. Direito a uma nacionalidade; direito de casar-se e escolher o cônjuge; direito individualmente como coletivamente a propriedade. V. Direito ao trabalho, a escolha do trabalho, a condições equivalentes e satisfa-tórias de trabalho, à proteção contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho igual, e uma remuneração eqüitativa e satisfatória. Estão corretas, apenas: a) II, IV e V. b) I, IV e V. c) II, V e II. d) II e III. e) III e V. 4. (SEEMG/2018) Em muitos casos, a discriminação racial coloca a população afro- descendente nos estratos mais baixos da sociedade e eles estão agrupados entre os mais pobres dos pobres. A discriminação enfrentada pela população afrodes-cendente, perpetua ciclos de desvantagem e transmissão intergeracional de po-breza, prejudicando o seu desenvolvimento humano. As barreiras ao acesso e à conclusão de uma educação de qualidade, repercutem no acesso ao mercado de trabalho e nos tipos de empregos encontrados. Os empregos são negados em razão da falta de qualificações educacional ou por conta do racismo estrutural. A moradia é negada em razão de preconceito racial, e a população afrodescen-dente é forçada a habitar em áreas com infraestrutura precária, onde ela está ex-posta ao crime e à violência. A prática de suas próprias culturas e religiões, assim como a participação na vida cultural de suas comunidades, não raro são cerca-das de restrições e impedimentos. Em alguns países, também sofrem deslocamen-to, por conta de ameaças de conflito armado ou projetos de desenvolvimento in-dustrial de grande escala. (ONU, 2016, p. 09). 43 O gráfico a seguir aponta a discrepância em relação ao rendimento médio salarial a partir dos critérios raça e cor: Diante do exposto, marque a alternativa que explica os motivos das desigualda-des presentes na vida da população negra/afrodescendente. a) As condições econômica e social, sobrepõem a condição de raça e cor, ou seja, a desigualdade é um problema de distribuição de renda e oportunidades iguais para todos. Por isso, afrodescendentes e outros grupos que sofrem discriminação social e que se encontram na posição de migrantes, refugiados e solicitantes de refúgio por todo o mundo, estão em situações de extrema vulnerabilidade. b) As desigualdades são parte do legado de erros do passado. Racismo, preconceito e discriminação racial contra a população afrodescendente, têm suas raízes nos regimes de escravização, no tráfico de escravizados e no colonialismo. Na história do tempo presente, essas heranças são reforçadas pela discriminação interpesso-al, institucional e estrutural e manifestam-se na desigualdade e marginalização em nível mundial. c) Homens jovens afrodescendentes não são essencialmente vulneráveis. Os cida-dãos que correm maiores riscos de serem apreendidos são aqueles em situação de rua, sejam eles negros ou brancos. Por isso enfrentam maior índices de violên-cia policial e mortes e consequentemente, continuam sendo detidos, encarcera-dos e sujeitos a penas maiores com mais frequência. d) Mulheres afrodescendentes sofrem apenas discriminação social. Assim não en-frentam discriminações de gênero, acesso limitado a educação, trabalho e segu-rança. Por isso a Década Internacional de Afrodescendentes é uma oportunidade para combater apenas a discriminação social, enfrentada pelas mulheres afrodes-cendente. e) A Década Internacional de Afrodescendentes não promove o conhecimento, valor e respeito às conquistas da população afrodescendente e às suas contribui-ções para a humanidade. Assim não é uma ferramenta útil para abrir caminho pa-ra o trabalho e a cooperação futura entre Estados, organizações internacionais e regionais, sociedade civil e outros, a fim de aprimorar a situação dos direitos hu-manos e do bem-estar da população afrodescendente. 5. _____________________________ são aqui entendidas como políticas que têm por objetivo a oportunidade de acesso dos grupos discriminados, ampliando sua parti-cipação em diferentes setores da vida econômica, política, institucional, cultural e social. Elas se caracterizam por serem temporárias e por serem focalizadas no gru-po discriminado: ou seja, por dispensarem, num determinado prazo, um tratamen-to diferenciado e favorável com vistas a reverter um quadro histórico de discrimi-nação e exclusão(JACCOUD, 2002, p. 44 67). Complete a frase com a opção correta. a) As políticas públicas b) As políticas educacionais c) As ações afirmativas d) As políticas da diferença e) As políticas da igualdade 6. Indiscutivelmente, negros e brancos não possuem as mesmas chances e oportuni- dades e o fator que sustenta tamanha disparidade social é a questão da raça/cor. Dito de outro modo, o racismo à brasileira não é de origem; é de marca(GOMES; MUNANGA, 2006; NICODEMOS, 2014; NOGUEIRA, 1998). Das opções abaixo, qual explica o motivo de situações de preconceito e discri-minção racial vivenciadas pelos cidadãos negros? a) Sofrem preconceito, discriminações racial e social todos os cidadãos, indepen-dente de serem negros ou brancos. b) Sofrem preconceito e discriminação racial os cidadãos que apresentam os traços diacríticos que fazem parte do grupo étnico-racial negro, sendo a cor da pele, formato do nariz, da boca e textura dos cabelos. c) Sofrem discriminação racial os cidadãos pobres. Haja vista que o preconceitono Brasil é de classe. d) Sofrem preconceito e a discriminação no cenário social mulheres e pobres. e) Sofrem discriminação social os cidadãos que habitam comunidades carentes e não possuem as condições básicas para a sobrevivência, como saneamento bá-sico, acesso à saúde e à educação. 7. As articulações do Movimento Negro foram e são prepobderantes para as con-quistas referentes às ações afirmativas, dentre essas ações, pode-se citar ________________________________que instituiu a obrigatoriedade do ensino da Histó-ria da África e da cultura afro-brasileira no currículo oficial das redes de ensinos público e privado da educação básica, sendo esta uma decisão que busca res-gatar historicamente a contribuição das culturas africanas e da população negra. Complete a frasecom a opção correta. a) A lei 10.639/2003 b) A lei 11.645/2008 c) A lei 93.94/96 d) A lei 10.645/2003 e) A lei 11.647/2008 8. A Lei 12.711, aprovada por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal no ano de 2012, garante: 45 a) A reserva de vagas nas instituições de ensino superior públicas para estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas, bem como para estudantes oriundos de escolas públicas. b) A reserva de cotas raciais e sociais para os cidadãos que atuam no movimentos sociais em destaque para o movimento negro brasileiro. c) A reserva de vagas nas instituições públicas de ensino da educação básica para os estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas. d) A reserva de cotas sociais para as mulheres e cidadãos em vunerabilidade social. e) A reserva de cotas raciais e sociais nas faculdades privadas para os cidadãos au- todeclarados pretos, pardas e indígenas. 46 A ESCOLA COMO ESPAÇO CULTURAL UNIDADE 04 47 4.1 EDUCAÇÃO, COTIDIANO E CULTURA O debate sobre Educação, Cotidiano e Cultura na Escola exige de todos os envolvidos uma compreensão antropológica de cultura e de suas representações no contexto social. Conforme explica Capelo (2003)as culturas são conhecimentos compartilhados, modos de vida, representações, participações, valores, simbólos, significados etc, que (re)constroem os comportamentos humanos. Neste sentido homens e mulheres apresentam várias for- mas para se representar no mundo, condição que se refere às diversidades culturais que constituem as relações humanas. O cotidiano das escolas caracteriza-se por toda uma compelxa rede de relações sociais entre os envolvi- dos que incluem alianças, transgressões, conflitos, lealdades, práticas e saberes que dão vida às esco- las. Essa é a dimensão das sociabilidades, das recu- sas, das resistênciais. É o espaço das possibilidades de transformação do estabelecido, das diferentes territorialidades que são criadas pelos sujeitos en- quanto vivem e se relacionam. Nessa dimensão, re- pre-sentada pelos usos ( e também pelos não – usos) que são feitos da escola, emerge a possibilidade de transgressão do estabelecido. Mas, as escolas pare- cem estar restritas à dimensão institucional, isto é, ao espaço da socialização de homogeneíza e limita as ações dos sujeitos porque ficam condicionadas a regras, normas, conteúdos e comportamentos previamente definidos como desejáveis (CAPELO, 2003, p. 16). Os saberes e vivencias (re)construídos no cotidiano das escolas precisam ser incluí- dos na matriz curricular. Em outros termos, conforme defende Capelo(2003)é preciso que as instituições de ensino, sejam elas da educação básica ou do ensino superior, elaborem práticas pedagógicas que considerem os seres humanos enquanto protagonistas do pro- cesso histórico e da cultura. De modo que desperte nestes o interesse pela reflexão, pro- dução de conhecimentos e de transformação social. Ademais, nos cotidianos das instituições educativas ocorrem as relações inter-cultu- rais, condição fundamental para a (re)construção de identidades, fortalecimento do exer- cício da cidadania, respeito e valorização das alteridades. Por essas questões, segundo Candau(2012, p. 246): Estamos como educadores e educadoras desafia- dos/as a promo-ver processos de desconstrução e de desnaturalização de preconceitos e discriminações que impregnam, muitas vezes com caráter difuso, fluido e sutil, as relações sociais e educacionais que configuram os contextos em que vivemos. A natura- lização é um componente que faz em grande parte invisível e especialmente complexa esta problemá- 48 tica, que invade e povoa nossos imaginários indivi- duais e sociais em relação aos diferentes grupos so- cioculturais. Trata-se de questionar esta realidade. Também é fundamen-tal desvelar e questionar os sentidos de igualdade e diferença que permeiam os discursos educativos. Sobretudo, em uma sociedade como a brasileira, que por mais que tenha alcança- do mudanças no campo do direito à diferença, ainda persistem em vários espaços sociais, como no caso das escolas, situações que discriminam e excluem cidadãos que fazem parte de grupos historicamente segregados da esfera social, como cidadãos negros, indígenas, mulheres, homossexuais, pobres etc. Por isso a urgência de reflexões e ações de todos os envolvidos no cotidiano da escola no tocante aos valores éticos que na materialidade con- truibuirão para a efetiva prática de cidadania. Estudos desenvolvidos por Souza (2011), Oliveira (2000)e Marinho Júnior (2009)expli- cam que no cotidiano escolar ainda persistem discursos e práticas estigmatizadas sobre o continente africano e em relação às populações negras brasileiras. Situação que segundo Nicodemos (2014)dificulta a (des)construção desse imaginário e a inclusão de temáticas sobre culturas, direito à diferença e à diversidade cultural na propos- ta curricular. Temáticas que fortaleceriam o desenvolvimento de estudos e pesquisas a partir da perspectiva multicultural. Dessa forma, a escola tornaria um espaço mais inclusi- vo de interação das diversas culturas. É preciso que a bagagem cultural acumulada ao longo das histórias de vida dos cidadãos seja incluída nas práticas educativas. Por isso, é urgente a internalização de um conceito dinâmico e antropológico de cultura. Conceito que permitirá a integralização das raízes culturais, históricas e identitárias. E, consequentemente, evitará uma interpretação das culturas como algo exótico, fechado e fora do lugar (CANDAU, 2012). Completa a autora: Também estamos chamados a favorecer processos de “empoderamento”, tendo como ponto de parti- da liberar a possibilidade, o poder, a potência que cada pessoa, cada aluno, cada aluna tem para que possa ser sujeito de sua vida e ator social. O “empo- deramento” tem também uma dimensão coletiva, apoia grupos sociais minoritários, discriminados, marginalizados, etc., favorecendo sua organização e participação ativa em movimentos da sociedade ci- vil. As ações afirmativas são estratégias que se situ- am nesta perspectiva. Visam a melhores condições de vida para os grupos marginalizados, à superação do racismo, da discriminação de gênero, de orienta- ção sexual e religiosa, assim como das desigualda- des sociais (CANDAU, 2012, p. 247). 49 É importante que a sociedade busque relativizar suas práticas e seus discursos no mundo, ou seja, o respeito à diferença exige que a humanidade experiemente a intercul- turalidade no sentido de vivenciar diversas culturas e expressões. Não se trata de práticas superficiais, mas de ações que, de fato, estabeleçam uma diálogo constante entre o social e o cultural(CANDAU, 2012). O Professor José Afonso Mazzon(2009) foi Coordenador do “Projeto de estudo so- bre ações discriminatórias no âmbito escolar [...]” em parceria com o Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. O estudo visa a redução da desigualdade em ambientes educacionais e está disponível em: https://bit.ly/3qseGs2. Acesso em: 26 de dez de 2020. BUSQUE POR MAIS A obra de Silva e Leão(2011)“Educação e seus atores: experiências, sentidos e identi- dade”problematiza a formação humana e discorresobre a busca a compreensão do indivíduo em diferentes espaços. Disponível em: https://bit.ly/2PEqxXb. Acesso em: 30 de mar. de 2021. 4.2 A LEI 10.639 DE 09 DE JANEIRO DE 2003 Devido ao processo de escravização de africanos no Brasil construí-se um imaginário excludente, discriminatório e preconceituoso em relação às populações negras. É sabido que a assinatura da lei áurea nº 3.353 no dia 13 de maio de 1888 não ofereceu as condições necessárias: moradia, sáude, educação e trabalho para os cidadãos negros, ou seja, não foi do interesse da elite política brasileira a integração de mulheres e homens negros na socie- dade de classes. Pelo contrário, o que se constatou foi uma abolição inacabada, somada ao descaso, exclusão, preconceito social e racial. Munanga(2018, online)explica que: A data de 13 de maio é sem dúvida uma data his- tórica importante, pois milhares de pessoas morre- ram para conseguir essa abolição jurídica, que não se concretizou em abolição material, o que faz dela uma data ambígua. Na versão oficial da abolição, coloca-se o acento sobre o abolicionismo, mas se apaga ao mesmo tempo a memória do que veio an- tes e depois. Nesse sentido, a abolição está inscrita, mas esvaziada de sentido. A Lei Áurea de 13 de maio de 1888 é apresentada como grandeza da nação, mas a realidade social dos negros depois desta lei fica desconhecida. Visto deste ponto de vista, o dis- curso abolicionista tem um conteúdo paternalista. A questão do negro tal como colocada hoje se apoia sobre uma constatação: o tráfico e a escravidão ocupam uma posição marginal na história nacional. No entanto, a história e a cultura dos escravizados https://bit.ly/3qseGs2 https://bit.ly/2PEqxXb 50 são constitutivas da história coletiva como o são o tráfico e a escravidão. Ora, a história nacional não integra ou pouco integra os relatos de sofrimento, da resistência, do silêncio e participação. Nesse processo propagou-se no imaginário social brasileiro a existência de um certo padrão de relações raciais em que as oportunidades fossem iguais para todas as raças. Mas, aos cidadãos negros não foram e ainda não são oferecidas as mesmas chances e oportu- nidades se comparada à realidade dos cidadãos brancos. E o fator que sustenta tamanha disparidade social é a condição racial. Por isso, torna-se indispensável analisar os fatores responsáveis pela condição do negro na atualidade, nos âmbitos educacional, racial, social e econômico. No tocante à escolarização é possível identificar tamanha desigualdades entre ne- gros e brancos, haja vista que ao longo da história o acesso das populações negras aos bancos escolares foi dificultado. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana afirmam(BRASIL , 2005, p. 07): O Brasil, Colônia, Império e República, teve histori- camente, no aspecto legal, uma postura ativa e per- missiva diante da discriminação e do racismo que atinge a população afro-descendente brasileira até hoje. O Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do país não se- riam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estu- dar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. A história da educação brasileira foi marcada por um modelo educacional excluden- te que inviabilizou a entrada e permanência de vários cidadãos na escola. Por isso, nos úl- timos anos o Movimento Negro, intelectuais negros e entidades como a Secretária de Edu- cação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) etc, vêm desenvolvendo ações no campo da educação para erradaicar as desigualdades presentes no campo educacional. O objetivo é garantir o direito a uma educação de qualidade para todos, sem nenhuma distinção, bem como elaborar e implementar políticas de afirmação de identidades, histo- ricamente negadas no processo de construção do conhecimento (BRASIL , 2005). Ademais, a educação é o principal mecanismo de tranformação social de uma na- ção. Por isso, é de responsabildade das escolas, sejam elas públicas ou privadas, o com- promisso com a construção de uma sociedade democrática e com a formação cidadã de todos os cidadãos. Em outros termos, é preciso que as instituições de ensino insiram em sua matriz curricular a formação de valores que respeitem as diferenças culturais em suas integralidades. Assim, alcançaremos uma compreensão mais ampliada de ser humano e abriremos caminhos para que o povo tenha uma cidadania, de fato, que é de direito (BRA- SIL , 2005). 51 Assim, explica Souza (2011, p. 42-43): Em 1996, na cidade de Brasília, quando da realização da Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, Pela Cidadania e a Vida, o movimento negro através do documento Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade dirige ao Estado Brasileiro um con- junto de reivindicações na esfera educacional, den- tre as quais: a) Implementação da Convenção Sobre Eliminação da Discriminação Racial no Ensino. b) Monitoramento dos livros didáticos, manuais escola- res e programas educativos controlados pela União. c) Desenvolvimento de programas permanentes de treinamento de professores e educadores que os ha- bilite a tratar adequadamente com a diversidade ra- cial, identificar as práticas discriminatórias presentes na escola e o impacto destas na evasão e repetência das crianças negras.Ao longo da década de 90, des- taco que alguns pontos desta reivindicação histórica do movimento social negro foram reconhecidos por diversos estados e municípios brasileiros que passam a reformular as normas que regulavam o ensino. Mui- tos municípios proibiram a adoção de livros didáticos que veiculavam o preconceito e a discriminação racial e a eliminação de atividades curriculares e extracurri- culares que reforçavam estereótipos sexistas, racistas e sociais. Esse processo também teve como resultado a inclusão de disciplinas sobre História dos Negros no Brasil e História do Continente africano no ensino fun- damental e médio das redes municipais e estaduais. As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (4024/1961, 5692/1971 e 9394/1996), bem como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’S/1997) estabeleceram diretrizes so- bre a importância da discussão sobre as diversidades culturais na escola. Mas essa orien- tação não contemplou integralmente as especificidades culturais, raciais, identitárias e históricas de cidadãos pertencentes a grupos historicamente excluídos, como no caso das populações negras e comunidades indígenas (NICODEMOS, 2014). Em 09 de janeiro do ano de 2003 o Presidente em exercício, Luiz Inácio Lula da Sil- va, aprovou a Lei nº 10.639 e as suas diretrizes para a sua implementação. Legislação que altera a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/1996 e torna obrigatório nas escolas públicas e privadas o ensino da História da África e da cultura Afro-Brasileira no currículo escolar. Le- gislação que representa uma marco histórico na luta, especialmente, do Movimento Negro pela erradicação do racismo e afirmação da negritude. Devido à mentalidade racista que se construiu ao longo de quase 500 anos na his- tória brasileira em relação ao continente africano e à população negra, ainda existe des- conhecimento sobre a lei 10.639/2003 e suas diretrizes. Para a materialidade da referida lei é urgente que os cursos de formação docente ofereçam reflexões, debates, pesquisas e 52 Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art. 205, que assinala o dever do Estado de garantir indistintamen- te, por meio da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ouprofissional. Sem a intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os afro-brasileiros, dificilmente, e as estatísticas o mostram sem deixar dúvidas, romperão o sistema meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça, ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de privilégios (BRASIL , 2005, p. 11). FIQUE ATENTO 4.3 A LEI 11.645 DE 10 DE MARÇO DE 2008 trabalhos de extensões nas escolas da educação básica em prol da promoção das diversi- dades culturais e raciais (NICODEMOS, 2014). Em suma, a Lei 10.639/2003 é uma ação afirmativa que insere as relações étnico-ra- ciais africanas e afro-brasileiras na agenda educacional. A proposa é a construção de um currículo multicutural, a materialização da interculturalidade, apresentar uma outra Histó- ria sobre o continente africano, comunidades quilombolas, populações negras, erradicar o racismo, preconceito, discrimunação e assim, construir uma sociedade justa e para todos (BRASIL , 2005). A propagação de uma história única, pautada nos valores eurocêntricos, dificultou a convivência com o outro, ou seja, com as alteridades, diferenças e diversidades culturais das comunidades índigenas, africanas e das populações negras. Situação que contribuiu com a construção do preconceito, genocídio, discriminação e negação do diferente (ALVÁ- RES, 2014). Álváres(2014, p. 64-65)completa: Ainda é muito forte a concepção de que os “índios verdadeiros” seriam aqueles que “não perderam a sua cultura”. O que está implicado nessa concepção é que a cultura seria um bem fixo, imutável e que não se transformaria com o tempo e com as dinâ- micas sociais. Na verdade, toda cultura é dinâmica. Não existem culturas imóveis e cristalizadas. Nem a nossa, nem as dos povos indígenas. Nós somos muito diferentes dos nossos antepassados de cem anos atrás, nem por isso deixamos de ser brasileiros. A identidade cultural de um povo não se constrói no isolamento, mas é decorrente exatamente das rela- ções que esse povo estabelece, no confronto histó- rico com outros povos diferentes.[...] A identidade cultural deve ser entendida como o resultado de condicionantes históricos e de contextos sociopolí- ticos específicos e não de uma condição imanente e 53 natural de sua cultura. Antes da chegada dos euro- peus ao continente americano, os povos indígenas viviam um contexto de intensa troca e mistura, a partir de alianças, guerras e comércio. Os processos históricos decorrentes do contato promoveram pro- fundas transformações em suas culturas e formas de organização social. Mas ainda hoje, as relações entre os vários povos indígenas no Brasil são formas importantes de fortalecimento e de resistência aos processos de colonização. Questões como essas permitem afirmar que as escolas e as universidades são espa- ços privilegiados para ressignificar, aprender e entender sobre as contribuições dos grupos étnico-raciais que construíram as identidades da população brasileira, como no caso dos povos indígenas e dos africanos (GOULARTE; MELO, 2013). A interculturalidade, no que diz respeito ao campo educacional, está representada por meio de estraté- gias, de propostas didáticas ou de metodologias vol- tadas a promover o diálogo entre as diferentes for- mações socioculturais. Sabemos que a pluralidade cultural é um dos temas transversais sugeridos pe- los Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de língua portuguesa. Nesse sentido, entendemos que trabalhar a questão da interculturalidade na es- cola desde cedo ajuda a combater a discriminação, incentiva o respeito pelas diferentes culturas, assim como promove o intercâmbio entre elas, produzin- do novos sentidos e ampliando os conhecimentos e as noções de responsabilidade e de solidariedade(- GOULARTE; MELO, 2013, p. 36). Por isso, no tocante a essa discussão é importante citar a Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008 que institui como obrigatoriedade nas escolas da educação básica o ensino da História e cultura indígena. Assim no Art. 1º o art. 26-A da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação (BRASIL, 2008) Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obriga- tório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1 o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da his- tória e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos ét- nicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, 54 econômica e política, pertinentes à história do Bra- sil. § 2 o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros se- rão ministrados no âmbito de todo o currículo esco- lar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. A aprovação da Lei 11.645 é uma forma de erradicar o pensamento eurocêntrico que ainda persiste no processo de construção de conhecimentos. Princípio amparado em uma pseudo-construção da existência de uma suposta superioridade de um grupo em relação ao outro. De acordo com Álváres(2014, p. 62): A diversidade das soluções encontradas pelas socie- dades indígenas quanto à sua organização social e política, sobrevivência econômica e adaptação ao meio ambiente, visão de mundo e valores culturais, são um rico acervo cultural da espécie humana, na sua capacidade criativa de se socializar. Procurou-se enfatizar a diversidade das sociedades indígenas, não apenas face a nossa sociedade, mas também entre si. Os índios são diversos de nós, mas também diversos entre si. Enfim, esta diversidade posta em causa apontaria para o diálogo com essas culturas que fazem parte do nosso presente e que estão tam- bém incluídas no horizonte e na definição do nosso futuro comum. Nesse sentido a lei e suas diretrizes têm por objetivo a construção de uma outra lei- tura sobre as histórias e culturas índígenas, apresentar para estudantes, professores, ges- tores e sociedae civil as contribuições preponderantes das culturas indígenas no processo de construção da nação brasileira. As Lei nº. 10.639 de 9 de Janeiro de 2003 e a Lei 11.645 de 10 de Março de 2008 que instituem a obrigatoriedade do ensino da História da África, da cultura afro-brasileira e do ensino da História e cultura indígena no currículo oficial das redes de ensinos público e privado da edu- cação básica são importantes conquistas na luta por uma educação à favor da diversidade cultural. Sendo assim, convém a reflexão: em quais aspectos os cursos de formação docente vêm contribuindo para a materialidade das referidas leis e de suas diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais no Brasil? VAMOS PENSAR? 55 O documentário “Práticas Pedagógicas a diversidade cultural na sala de aula” aborda a implementação da Lei 10.639 nas escolas da região de Salvador – BA. Disponível em: https://bit.ly/3ekQBkC. Acesso em: 08 de fev. de 2021. BUSQUE POR MAIS A obra de Fátima e Silva de Freitas (2012), “A diversidade cultural como prática na educação” traz a ligação entre educação e diversidade e busca autenticar a esco- la como local de acolhimento e reconhecimento. Disponível em: https://bit.ly/2ObPngM. Acesso em: 20 de mar de 2021. https://bit.ly/3ekQBkC https://bit.ly/2ObPngM 56 1. (SEEMG) A educação é um dos principais mecanismos de transformação de uma nação; assim, é função das escolas, a partir de princípios democráticos, estimular a formação dos cidadãos em todos os aspectos: cultural, social, político e econômico, bem como a formação de valores que respeitem as diversidades étnicas e raciais, presentes na sociedade. Nesse processo, o diálogo da educação coma cultura é essencial, pois é na dimensão da cultura que compreendemos as práticas humanas, enquanto práticas significativas, viabilizando, assim, diferentes formas de interpretação das experiências humanas. A interdisciplinaridade dos saberes somente torna-se possível em constante diálogo com as experiências vividas entre os atores culturais e suas integrações no mundo e na cultura de cada um deles, sejam essas de raça, gênero, classe, idade etc. Por fim, é necessário que o processo educacional estabeleça diálogos com as realidades culturais, pois a diversidade cultural é uma condição constituinte da formação humana e está presente em qualquer sociedade e em diversos espaços sociais pelos quais transitamos ao longo do processo histórico. Sabendo desses princípios, marque a opção correta. a) Em 09 de janeiro de 2003, a Lei 10.639/2003 altera a Lei nº 9.394, de 20 dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino público e particular a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Africana e Afrobrasileira. b) Sistemas de ensino tomarão providências no sentido de garantir o direito de acesso apenas de alunos com necessidades educacionais especiais nos estabelecimentos escolares privados de qualidade, que contenham instalações, equipamentos sólidos e atualizados, professores competentes no domínio de conteúdos de ensino e comprometidos com a educação, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impliquem desrespeito, discriminação e preconceito. c) Para a materialidade da Lei n. 10.639/2003, os sistemas e os estabelecimentos de ensino nãopoderão estabelecer diálogos com grupos do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições formadoras de professores, núcleos de estudos e pesquisas, como os Núcleos de Estudos AfroBrasileiros (NEAB’s), mas apenas com o (MEC) Ministério da Educação, já que o mesmo tem a finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para planos institucionais, pedagógicos e projetos de ensino. d) As Instituições de Ensino Superior incluirão, nos conteúdos de disciplinas e nas atividades curriculares dos cursos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais, o tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicitados no Parecer CNE/CP n. 3/2004. Na Educação Básica, nos termos e nas diretrizes da Lei n. 10.639/2003, o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana refere-se, obrigatoriamente, aos seguintes componentes curriculares: Biologia, Matemática, Física, Química, Educação Artística, Literatura, História do Brasil, Geografia e Sociologia. e) A Educação das Relações Étnico-Raciais e o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e História e Cultura Africana serão desenvolvidos por meio de conteúdos, competências, atitudes e valores a serem estabelecidosapenas pelas Instituições de ensino privadas e seus FIXANDO O CONTEÚDO 57 professores, com o apoio e supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedoras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações, recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/CP n. 003/2004. 2. A data de 13 de maio é sem dúvida uma data histórica importante, pois milhares de pessoas morreram para conseguir essa abolição jurídica, que não se concretizou em abolição material, o que faz dela uma data ambígua. Na versão oficial da abolição coloca- se o acento sobre o abolicionismo, mas se apaga ao mesmo tempo a memória do que veio antes e depois. Nesse sentido, a abolição está inscrita, mas esvaziada de sentido. A Lei Áurea de 13 de maio de 1888 é apresentada como grandeza da nação, mas a realidade social dos negros depois desta lei fica desconhecida. Visto deste ponto de vista, o discurso abolicionista tem um conteúdo paternalista. A questão do negro tal como colocada hoje se apoia sobre uma constatação: o tráfico e a escravidão ocupam uma posição marginal na história nacional. No entanto, a história e a cultura dos escravizados são constitutivas da história coletiva como são o tráfico e a escravidão. Ora, a história nacional não integra ou pouco integra os relatos de sofrimento, da resistência, do silêncio e participação (MUNANGA, 2020, p.02) Analise as afirmativas abaixo: I. A discriminação pode dar origem à intolerância. Está relacionada ao incômodo e ao desconforto com o diferente e dá origem ao medo, à ameaça de se perderem os padrões. A intolerância vai, gradualmente, sendo revestida de um conceito negativo, preconcebido e que vai passando de geração a geração (preconceito). Na sustentação de uma ideia deformada ao longo dos tempos, ela distancia-se de sua origem e mesmo da sua explicação primária e passa a ser repetida e a ganhar vida própria, como um mito. II. A política da igualdade, jamais negligenciou outras formas de discriminação, como a étnico- racial, a despeito de orientação sexual, da faixa etária etc. III. O reconhecimento do ser humano como portador de direitos inalienáveis foi um dos principais desafios da Modernidade. Assim sendo, os direitos à vida e à liberdade são conaturais a homens, mulheres e crianças; todos nascem iguais e nada há que preceda, em termos de hierarquia, esses valores naturais, nem mesmo a nascença, nem o sangue, nem a cor, nem a religião, nem o sexo (e o exercício da sexualidade), nem a etnia ou outra diferença. IV. Os movimentos sociais negros, bem como intelectuais negros engajados na luta antirracista levaram mais de meio século para conseguir a obrigatoriedade de estudo da história do continente africano e dos africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional brasileira. Contudo, torná-los obrigatórios, embora seja condição necessária, não é condição suficiente para a sua implementação de fato. V. A historiografia tradicional brasileira, elitista, foi usada como um instrumento para desfigurar a verdade histórica. Era comum os historiadores do passado escreverem a história do Brasil segundo o olhar do colonizador, ou seja, da elite dominante. Dentre as inúmeras ideias falsas sobre a história do Brasil, inclui-se a da “passividade” do negro, uma afirmação preconceituosa e racista de que o negro aceitou a escravidão passivamente. A historiografia tradicional ressaltou a “bondade” branca e a “passividade” negra, uma atitude que tentou mascarar a realidade. 58 Estão CORRETAS apenas as afirmativas: a) I, II e III. b) I, III e IV. c) II e V. d) II, III, IV e V. e) I, III, IV e V. 3. As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional _____________________________, bem como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’S/1997) estabeleceram diretrizes sobre a importância da discussão sobre as diversidades culturais na escola. Mas essa orientação não contemplou integralmente as especificidades culturais, raciais, identitárias e históricas de cidadãos pertencentes a grupos historicamente excluídos, como no caso das populações negras e comunidades indígenas. (NICODEMOS, 2014).Complete a frase com a opção correta. a) 4024/1961, 5692/1971 e 9394/1996 b) 4024/1962, 5692/1971 e 9394/1996 c) 4024/1961, 5692/1974 e 9394/1996 d) 4024/1961, 5692/1971 e 9394/1999 e) 4024/1961, 5692/1973 e 9394/1996 4. A Lei 11.645 de 10 de marco de 2008, diz: a) Do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. b) Do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Ciganas. c) Do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Quilombola. d) Do ensino de História e Cultura das comunidades Indígenas. e) Do ensino de História e Cultura das comunidades campesinas. 5. Sobre a Interculturalidade no que diz respeito ao campo educacional, analise as seguintes opções: I. Busca por meio de estratégias propostas didáticas e metodologias a promoção do diálogo entre as diferentes formações socioculturais. II. Entende que a pluralidade cultural é uma condição do humano. III. Entende que trabalhar aquestão da diversidade na escola desde cedo ajuda a combater a discriminação, incentiva o respeito pelas diferentes culturas. IV. Não acredita que o intercâmbio entre as culturas produz novos sentidos e amplia os conhecimentos e as noções de responsabilidade e de solidariedade no cenário social. Marque a alternativa cuja as afirmações estão corretas. a) I, II e III. b) I, III e IV. c) II e V. d) II, III, IV e V. 59 e) I, III, IV e V. 6. As escolas e as universidades são espaços privilegiados para__________________________, sobre as contribuições dos grupos étnico-raciais que construíram as identidades da população brasileira, como no caso dos povos indígenas e dos africanos. (GOULART; MELO, 2013). À luz dos conteúdos tratados nesse capítulo, marque a opção que completa a afirmação. a) escolarizar e debater b) ressignificar, aprender e entender c) ressignificar e mentalizar d) escrever e entender e) ressignificar, aprender e entender 7. O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878: a) estabelecia que as mulheres só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. b) estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. c) estabelecia que os cidadão brancos pobres só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. d) estabelecia que indígenas só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. e) estabelecia que as populações campesinas só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. 8. A propagação de uma história única, pautada nos valores __________________, dificultou a convivência com o outro, ou seja, com as __________________, _____________ e _______________________ das comunidades índigenas, africanas e das populações negras. Situação que contribuiu com a construção do preconceito, genocídio, discriminação e negação do diferente (ALVÁRES, 2014) À luz dos conteúdos tratados nessa unidade, marque a opção que completa a afirmação. a) Identitários, alteridades, diferenças e desigualdades b) culturais, alteridade, etnicidades e diversidades sociais. c) eurocêntricos, alteridades, igualdades e diversidades. d) identitários, culturas, diferenças e desigualdades. e) eurocêntricos, alteridades, diferenças e diversidades culturais. 60 CURRÍCULO E DIVERSIDADE CULTURAL UNIDADE 05 61 5.1 CURRÍCULO E SUAS CULTURAS Nos últimos anos tanto a educação, quanto os currículos escolares, vêm sendo ques- tionados sobre a sua missão no que se refere a uma educação de qualidade, para todos e que, sobretudo, valorize as culturas. Questionamento que sofreu fortes influências a partir do pensamento pós-moderno(MARINHO JÚNIOR, 2009). De acordo com Giroux(1999, p. 53)o pensamento pós-moderno é: Uma época marcada por uma crise de poder, pa- triarcado, autoridade, identidade, e ética. Essa nova época tem sido descrita, de todo modo, por muitos teóricos de várias disciplinas como a era da pós – modernidade. E um período agitado entre as destruições e os benefícios da modernidade; uma época em que as noções de ciênciais, tecnologia e razão são associadas não aoenas ao progresso social, mas também à organização de Auschwitz e à criatividade científica que tornou Hiroshima possível. É uma época em que o sujeito humanis- ta parece não estar mais no controle do seu desti- no. É uma época em que as grandes narrativas da emancipação, quer da direita, quer da esquerda, parecem compartilhar uma afinidade com o terro- se com a opressão. É também um momento histó- rico em que a cultura não é mais vista como uma reserva de homens brancos cujas as contribuições pra as artes, a literatura e a ciências constituem o domínio da alta cultura. Vivemos em uma época em que um forte desafio está sendo lançado ao discurso modernista, em que o conhecimento é legitimado quase exclusivamente a partir de um modelo europeu de cultura e civilização. Em parte, a luta pela democracia pode ser vista no contexto de uma luta mais ampla contra algumas caracte- rísticas do moderismo que representam os piores legados da tradição do Iluminismo. E é contra essas características que vários movimentos opo- sicionistas emergiram em uma tentativa de rees- crever o relacionamento entre modernismo e de- mocracia. As articulações dos movimentos sociais foram preponderantes nesse processo, haja vista que o objetivo era romper com o silêncio que historicamente encobriu, negou e per- seguiu grupos considerados inferiores, como no caso dos negros, indígenas, pobres, mu- lheres, homossexuais etc. Ademais a desigualdade motivada pelo racismo, preconceito e discriminação condicionou e condiciona o diferente a um não lugar, bem como a situa- ções desumanas de sobrevivência. 62 Nesse processo exige - se uma análise cuidadosa no tocante aos rituais e práticas escolares que em alguns casos, de forma consciente ou inconciente, compactua com uma modelo educacional que pouco representa aqueles que fazem parte do seu cotidano. Por isso exige-se um compromisso de todos os atores que fazem parte do cenário escolar, como funcionários, gestores, professores, estudantes e familiares. No tocante a essa reflexão é mister a discussão sobre a questão de gênero e sexu- alidade, haja vista que são fatores determinantes para pensar a realidade de cidadãos que são marginalizados na esfera social, que em alguns casos costuma ser hierarquizada, sexista, machista e excludente. Em outros termos, a mentalidade social costuma exigir do ser humano uma única condição de ser mulher e homem. Condição que nega as diversi- dades de homens e mulheres de diferentes classes, raças, identidades, religiões e idades a favor de uma razão de homem dominate e de uma mulher dominada (LOURO, 1997). Por isso, é urgente a reflexão do gênero e da sexualidade a partir de uma perspectiva relativa, ou seja, o ser humano se manifesta de acordo com sua realidade em diálogo com as experiências (re)construídas nos vários espaços de convívio, sejam eles: família, escola, trabalho, universidade(LOURO, 1997). Mas ao longo da História da humanidade, construiu- -se as noções de gênero feminino e masculino. Condição determinada pelo òrgãosexual que homens e mulheres nascem. Nesse sentido, o que prevaleceu foi uma concepção de gênero baseada no biológico(SEVERO, 2011, p. 62). Para as ciências humanas, o conceito de gênero refere-se à construção social em torno do sexo anatômico. Ele foi criado para distinguir a dimen- são biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, mas, a maneira de ser homem e de ser mulher é produzida na cultura. As várias formas de fazer-se mulher são construídas socialmente, são produtos da realidade social e não são natu- ralmente determinadas pelas diferenças inscritas nos corpos, assim também como modo de viver prazeres e desejo corporais. O gênero e a sexualidadeprecisam ser compreendidos para além do biológico, uma vez que analisa-los e defini-los nessa perspectiva anula-se o valor social, cultural e políti- co que apresentam no cenário social. Em outros termos, o gênero e a sexualidade são- condições (re)construídas nos campos social, cultural e político. Nesse sentido, tornam-se conceitos que permitem compreender de forma mais alargada as particularidades e os embates entre homens e mulheres (SEVERO, 2011). Entretanto, as discussões sobre gênero e sexulidade ainda são interpretadas como tabu e repressão para algumas famílias, instituições de ensino etc.Por isso, a urgência de reflexões, estudose pesquisas em relação ao tema. Nesse processo as ações das escolas, enquanto espaços de construções e ressignificações de saberes são preponderantes para a elaboração de conceitos e análises que contribuam para a aceitação do outro no exer- cício da alteridade. De modo que a igualdade, a equidade e o respeito sejam basilares nas convivênciais humanas. Nesse sentido nunca é pouco afirmar a importância de um currículo emancipatório 63 e da sua articulação entre educação e culturas, estratégia que permite a desconstruçãodo pensamento hegêmonicoe a construção de uma educação à favor das diversidades. Mas o que é currículo? Currículo é um conceito de uso relativamente re- cente entre nós, se considerarmos a significação que tem em outros contextos culturais e pedagó- gicos nos quais conta com uma maior tradição. O seu uso não é normal em nossa linguagem co- mum, e nem o Diccionario de lalenguaespañola, da Real Academia Española, nem o Diccionario de usos delespanol, de MaríaMoliner, adotam-no em sua acepção pedagógica. Outros dicionários especializados tomaram-no apenas como concei- to pedagógico muito recentemente ele começa a ser utilizado em nível de linguagem especializada, mas também não é sequer de uso corrente entre o professorado. Nossa cultura pedagógica tratou o problema dos programas escolares, o trabalho escolar, etc. como capítulos didáticos, mas sem a amplitude nem ordenação de significados que quer sistematizar o tratamento sobre os currícu- los. [...]currículo supõe a concretização dos fins sociais e culturais, de socialização, que se atribui à educação escolarizada, ou de ajuda ao seu de- senvolvimento, de estímulo e cenário, o reflexo de um modelo educativo determinado, pelo que ne- cessariamente tem de ser um tema controvertido e ideológico, de difícil concretização num modelo ou proposição simples(SACRISTAN, 2018, p. 13-15). É imprescindível o diálogo entre cultura e currículo. Já que o mesmo tem o poder de transformação social, a partir da produção de conhecimento, descoberta, problematiza- ção, curiosidade etc., ou seja, conforme Sacristán(2018)para além de organizar conteúdos e práticas educativas institucionalizadas o currículo se (re)constroí ao longo do processo histórico, por isso, é compreendido enquanto um objeto dialético em conexão com as cul- turas, relações de poder e transformações sociais de modo geral. Movimento que exige do cotidiano da escola uma diálogo constante entre todos os envolvidos no processo educa- tivo. Reafirma Sacristán(2018, p. 16)que o o currículo: [...] É uma prática na qual se estabelece um diá- logo, por assim dizer, entre agentes sociais, ele- mentos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam, etc. Desenvolver esta acepção do currículo como âmbito prático tem o atrativo de poder ordenar em torno deste discurso as funções que cumpre e o modo como as realiza, estudando-o processualmente: se expressa numa 64 prática e ganha significado dentro de uma prática de algum modo prévio e que não é função apenas do currículo, mas de outros determinantes. É o con- texto da prática, ao mesmo tempo em que é contex- tualizado por ela. As instituições de ensino precisam articular suas práticas pedagógicas em diálogo com as culturas que compõem o seu cotidiano. Em outros termos, embora nos últimos anos a educação tenha alcançado mudanças, sobretudo, na aprovação de legislações a favor do direito à diferença, como: a Lei nº 10.639/2003 que diz da obrigatoriedade do ensi- no da História da África e dos afro-descendentes, a Lei nº 11.645/2008 que instiui a obriga- toriedade do ensino da História e cultura dos povos indígenas, a Lei nº 13.146/2015 que diz da inclusão do cidadão com deficiência e da obrigatoriedade da sociedade, assegurar em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a inclusão no cenário social etc, ainda não alcançamos uma mu- dança substancial no trato com as diversidades e diferenças. No caso do currículo escolar ainda persiste uma mentalidade hegemônica que insis- te na imposição de uma visão monocultural, por isso, as ações dos movimentos sociais no processo de reivindicação do respeito à diferença nas escolas. Valente(2003, p. 26) defende: Não se podendo pensar em transformar a escola sem transformar a sociedade e descartando – se qualquer proposta reformista, faz – se necessário que seja aguçada a percepção dos educadores para o que vem ocorrendo fora da escola. Desse modo, os sujeitos engajados nesse processo poderão ter condições para avaliar, no interior da própria contra- dição, a possibilidade de construção de uma síntese que implique a compreensão de que a escola pode e deve mudar para responder aos desafios da reali- dade. Em outros termos, indiscutivelmente, a escola dialoga a todo momento com as várias linguagens presentes em seu entorno e nas relações sociais. As linguagens são processos definidores da sociedade; haja vista que através dos seus significados que a re- alidade é (re)construída. O currículo é linguagem e (re)produz o social como um todo. O preocupante é quando o currículo internaliza e reproduz relações de poder que legitima saberes, conhcimentos e culturas consideradas o modelo a ser seguido e subjuga outras, vistas como exóticas e fora do lugar (MARINHO JÚNIOR, 2009). Nesse sentido, o desafio é a construção de uma matriz curricular que promova uma educação libertária, humana e inclusiva e na sua materialidade represente as culturas que foram e ainda são silenciadas e negadas no campo da educação. 65 O documento “Indagações sobre currículo: educandos e educadores: seus direitos e o currículo” elaborado pelo Prof. Dr. Miguel Gonzáles Arroyo(2007) levanta um debate sobre a elaboração do currículo educacional. A publicação estádisponível em: https://bit.ly/30kscTS. Acesso em: 28 de dez. de 2020. BUSQUE POR MAIS A matéria “Suicídios recentes ressaltam pressões sobre adolescentes gays” do The New York Times(2010), divulgada no Brasil pela Revista Veja, está disponível em: https://bit.ly/3rslSW9. Acesso em: 02 de fev. de 2020. A obra de Daniela Auad(2006), “Educar meninas e meninos: Relações de gênero na escola”discorre sobre estereótipos estabelecidos pela sociedade, hierarquização entre os gêneros e defende o ambiente escolar como local de acolhimento e respei- to às diferenças. Disponível em: https://bit.ly/3doNq95. Acesso em: 20 de mar. 5.2 CURRÍCULO E AS IDENTIDADES A identidade brasileira é formada por várias etnias e suas raízes culturais. Nesse pro- cesso a educação escolar, seja da educação básica ou do ensino superior, precisam incluir, debater e refletir as pluralidades culturais e suas representações na esfera social(SOUZA, 2011). É importante considerar que esta realidade não está isolada do contexto histórico que emerge a partir da década de 1980, quando as discussões sobre re- lações raciais e multiculturalismo ocupam espaços nas pesquisas e debates acadêmicos e nos movi- mentos sociais. É um momento marcado pelo pro- cesso de ruptura epistemológica com o projeto da modernidade, centrado na homogeneidade, fazen- do emergir um novo processo marcado pela a va- lorização da discussão sobre as diferenças(SOUZA, 2011, p. 38). As pesquisas desenvolvidas pelo Estudos Culturais apresentam riquíssimas análises para repensar a noção homogênea de cultura que ainda persiste nos processos de produ- ção de conhecimentos. Em outros termos, os estudos culturais defendem a negação de modelos arbitrários no campo do saber e do conhecimento, impostos pela cultura euro- cêntrica. Assim, apresenta as múltiplas possibilidades de representações das culturas (re) construídas ao longo da vida. Os estudos culturais não configuram uma disciplina, mas uma área onde diferentes disciplinas interatuam, visando o estudo de aspectos culturais da sociedade (ESCOSTEGUY, 1998). Os estudos culturais defendem a valorizaçãodas culturas historicamente negadas e excluídas da história. O objetivo é apresentar essas culturas para o mundo, a partir de prin- cípios que reconheçam suas identidades, as trajetórias individuais, coletivas, como cons- https://bit.ly/30kscTS https://bit.ly/3rslSW9 https://bit.ly/3doNq95 66 truções legítimas e integrantes do universo cultural. Nesse processo a escola precisa incluir em seu currículo temáticas sobre a valoriza- ção das culturas em sua integralidade. Haja vista que é uma das instituições que apre- sentam funções preponderantes no processo de formação humana, educacional e cidadã. Ademais, o cotidiano escolar é composto por crianças, jovens e adultos que fazem parte de grupos étnicos diversos e que passam por um processo contínuo no que se refere à (re) construção de suas identidades (NICODEMOS, 2014). Mas o que é identidade? A identidade não é algo inato. Ela se refere a um modo de ser no mundo e com os outros. É um fator importante na criação das redes de relações e de re- ferências culturais dos grupos sociais. Indica traços culturais que se expressam através de práticas lin- güísticas, festivas, rituais, comportamentos alimen- tares e tradições populares referências civilizatórias que marcam a condição humana(GOMES, 2005, p. 3). Segundo Hall (1992, p. 13), “o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um eu coerente”. Mas esta condição não corresponde à vida real, uma vez que o homem pós-moderno é representa- do por uma identidade unificada, segura e coerente. Por isso,a escola enquanto instituição formadora precisa ser agente de transforma- ção na vida de todos os cidadãos e dialogar com essas identidaes, sejam elas de raça, etnia, gênero, religião, classe etc. Mas essa transformação será possível a partir do momento que ocorrer a troca de saberes, entre todos os atores que fazem parte do espaço escolar. Assim, alcançaremos uma proposta educacional de qualidade e em diálogo com as diversidades (NICODEMOS, 2014). A política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, busca combater o racismo e as discriminações que atingem particular- mente os negros. Nesta perspectiva, propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertenci- mento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada (BRASIL , 2005, p. 15). FIQUE ATENTO 5.3 EDUCAÇÃO QUILOMBOLA A educação quilombola está em construção e se constitui numa demanda social, po- lítica, cultural e identitáriaque se insere nas políticas públicas brasileiras, seguida do movi- mento de reconhecimento por igualdade na diferença e, sobretudo, pelo direito à terra. No tocante à luta pelo direito de ter direito há anos que os cidadãos quilombolas reivindicam a necessidade e urgência de um olhar humano e justo sobre as práticas, ações, discursos, 67 saberes em seus territórios. Em outros termos, um olhar que veja a educação escolar e a educação a partir de uma olhar mais ampliado, articulado às suas vivênciais(GUSMÃO, 2003). É sabido que no cotidiano das escolas ainda perduram discursos e atitudes que des- valorizam a população africana e seus descendentes os negros. Cidadãos que no imaginá- rio social são marcados por preconceitos que legitimam atitudes racistas e discriminatória. Por isso, uma proposta pedagógica justa para a educação quilombola exige a compre- ensão da sociedade em geral de que a diversidade fortalece relações estabelecidas pelos quilombolas em suas relações sociais família, trabalho, cultura, religiosidade, gerações e tradições (GUSMÃO, 2003). A educação quilombola possui um conjunto de políticas educacionais no campo da promoção das diversidades culturais, instauradas desde a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional número –(9.394/1996). A educação escolar quilombola conta, desde 2009, com elementos do Plano Nacional de Implementação da lei nº 10.639/2003. Cenário que inclui a modalidade da educação quilombola através da resolução nº 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. De acordo com o Conselho Nacional da Educação no Art. 7º, a Educação Quilombola rege-se nas suas práticas e ações políticas pedagógicas pelos seguintes princípios. Direito à igualdade, liberdade, diversidade e plurali- dade; direito à educação pública, gratuita e de qua- lidade; respeito e reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira como elementos estruturan- tes do processo civilizatório nacional; proteção das manifestações da cultura afro-brasileira; valorização da diversidade étnico-racial; promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, credo, idade e quaisquer outras formas de discrimi- nação; garantia dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais, ambientais e do controle social das comunidades quilombolas; reconhecimento dos quilombolas como povos ou comunidades tradicio- nais; conhecimento dos processos históricos de luta pela regularização dos territórios tradicionais dos povos quilombolas; direito ao etnodesenvolvimento entendido como modelo de desenvolvimento alter- nativo que considera a participação das comunida- des quilombolas, as suas tradições locais, o seu pon- to de vista ecológico, a sustentabilidade e as suas formas de produção do trabalho e de vida; supera- ção do racismo – institucional, ambiental, alimentar, entre outros – e a eliminação de toda e qualquer for- ma de preconceito e discriminação racial; respeito à diversidade religiosa, ambiental e sexual; superação de toda e qualquer prática de sexismo, machismo, homofobia, lesbofobia e transfobia; reconhecimento e respeito da história dos quilombos, dos espaços e 68 dos tempos nos quais as crianças, adolescentes, jo- vens, adultos e idosos quilombolas aprendem e se educam(BRASIL , 2012, p. 5). No debate sobre o direito à diferença nunca é pouco (re)afirmar que a heterogenei- dade cultural dos atores sociais que compõem o espaço escolar, na maior parte das vezes, encontra-se institucionalmente negada. Uma vez que as instituições escolares transmitem uma imagem homogênea da realidade social, através de um currículo formal e abstrato que em alguns casos é distante das vivências dos estudantes(GUSMÃO, 2003). Muita das vezes, acredita-se que: “[...] o aluno é uma tabula rasa sobre a qual deve – se inscrever o conhecimento tido como real e legítimo”(GUSMÃO, 2003, p. 95). Nessa perspectiva o professor não pode ver o aluno somente como aluno, pois na realidade ele chega à escola com seus conhecimentos, vivências e experiências que foram adquiridas em diversos espaços sociais nos quais convive. De acordo com Dayrell (2001): A educação, portanto, ocorre nos mais diferentes espaços e situações sociais, num complexo de ex- periências, relações e atividade, cujos limites es- tão afixados pela estrutura material e simbólica da sociedade, em determinado momento histórico. Nesse campo educativo amplo estão incluídas as instituições (família, escola, igreja etc.), assim como também o cotidiano difuso do trabalho, do bairro, do lazer etc. (DAYRELL, 2001, p. 142-143). Uma educação diferenciada para as comunidades quilombolas exige ações, elabo- ração e implementação de todas as autoridades, ou seja, em âmbitos federal, municipal, estadual e da sociedae civil. Haja vista que o reconhecimento dessas comunidades e de suas demandas soma-se ao reconhecimento dos seus territórios e de ações que, de fato, tenham por objetivo a melhoria de sua qualidade de vida nos quilombos(GUSMÃO, 2003). A educação quilombola é uma educação para a diversidade. Assim, professores, gestores e todos que fazemparte do contexto escolar precisam estabelecer um diálogo constante com o exercício da alteridade. Assim, desenvolverão uma prática educativa que dialogará com toda e qualquer expressão da diversidade cultural. Cabe a todos que acre- ditam na educação enquanto um mecanisno de transformação humana construir uma educação para a diversidade, reconhecer as culturas e, sobretudo, as lutas e resistências de grupos que foram e são excluídos da sociedade(GUSMÃO, 2003). A escola em geral, ou um determinado nível educativo ou tipo de instituição, sob qualquer modelo de educação, adota uma posição e uma orientação seletiva frente à cultura, que se concretiza, precisamente, no currículo que transmite. O sistema educativo serve a certos inte- resses concretos e eles se refletem no currículo. Esse sistema se compõe de níveis com finalida- des diversas e isso se modela em seus currículos diferenciados (SACRISTAN, 2018, p. 17). No tocante a essas questões, quais as ações o docente no exercícioda profissão poderá incluir em suas práticas de modo a transformar essa realidade? VAMOS PENSAR? 69 1. (SEEMG) A luta das comunidades quilombolas pelo direito à terra, pela afirmação de suas identidades culturais e por uma educação diferenciada extrapola os limites do tempo e da História e envolve a elaboração de documentos às instâncias federais, municipais e estaduais brasileiras. O reconhecimento dessas comunidades e de suas demandas é concomitante ao reconhecimento dos territórios e das ações pelamelhoria da qualidade de vida de suas populações. Por isso, para materializar a educação quilombola, é urgente buscar uma escola para a diversidade, ou seja, a favor da diversidade. Uma vez que educar para a diversidade possibilita reconhecer as diferenças, respeitando-as, aceitando-as e inserindo-as na agenda do processo educacional. Sendo assim, analise a organização curricular da educação quilombola, a partir das “Diretrizes para a Organização da Educação Escolar Quilombola no Estado de Minas Gerais” (2017). O currículo da educação escolar quilombola deve: I. Observar e respeitar as disposições e orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e articulá-las com a parte diversificada, a fim de garantir a conexão entre conhecimento escolar e os conhecimentos tradicionais produzidos pelas comunidades quilombolas. II. Garantir ao estudante o direito de conhecer o conceito, a história dos quilombos no Brasil e em Minas Gerais, o protagonismo do movimento quilombola e do movimento negro, assim como o seu histórico de lutas. III. Implementar a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro- brasileira, Africana e Indígena, nos termos da legislação em vigor. IV. Reconhecer a história e cultura afrobrasileiras como elementos estruturantes do processo de formação nacional e regional, considerando as mudanças, as recriações e as ressignificações históricas e socioculturais que fundamentam as concepções de vida dos afro-brasileiros na diáspora africana. V. Dizer respeito aos modos de organização dos tempos e espaços escolares de suas atividades pedagógicas, das interações do ambiente educacional, essencialmente das relações de igualdade presentes no fazer educativo, na sociedade e nas formas de conceber e construir conhecimentos escolares, constituindo parte importante dos processos sociopolíticos e culturais de construções identitárias. Das alternativas que seguem quais representam as diretrizes da organização quilombola ? a) II e IV. b) III e IV. c) I e IV. d) I, II, III, IV e V. e) I e V. 2. (SEEMG) A educação quilombola é uma demanda social e cultural que se insere nas políticas públicas brasileiras pelo direito à diferença, seguida do movimento de reconhecimento de grupos que foram excluídosao longo da história e de suas lutas por igualdade na diferença, como no caso das populações negras brasileiras e das comunidades indígenas. Há séculos FIXANDO O CONTEÚDO 70 que os atores diretos de tais mobilizações, os quilombolas, lutam contra a negação de suas tradições, seus discursos e seus saberes presentes em seus territórios. Assim, sobre as etapas e modalidades da Educação Básica, conforme a Resolução da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais – (SEE/MG) nº 3.658, de 24 de novembro de 2017 que institui as “Diretrizes para a Organização da Educação Escolar Quilombola no Estado de Minas Gerais”, analise as afirmativas a seguir: I. A Educação Infantil se constitui como a primeira etapa da Educação Básica, na qual se privilegiam práticas de cuidar e educar, é um direito das crianças dos povos quilombolas, de oferta obrigatória pelo poder público municipal para crianças de 4 (quatro) e 5 (cinco) anos de idade. II. A decisão pela matrícula e frequência das crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade é uma opção dos familiares quilombolas, a partir de suas referências culturais e de suas demandas. III. A Educação Escolar Quilombola no âmbito da Educação Básica deve compreender todas as etapas e modalidades de ensino de oferta, segundo as competências definidas nos termos da legislação vigente. IV. A oferta da Educação Infantil Quilombola deverá garantir à criança o direito de permanecer, prioritariamente, na escola mais próxima do seu espaço comunitário de referência, evitando o seu deslocamento para outras localidades. V. O Ensino Fundamental, direito humano, social, público, objetivo, aliado à ação educativa da família e da comunidade, deve articular-se, no contexto da Educação Escolar Quilombola, com os conhecimentos institucionais, com o direito à identidade étnico-racial, e com a dinâmica própria de organização de cada comunidade quilombola, tendo o respeito à diversidade como valor fundamental. Explicam o que compete às etapas e modalidade da Educação Quilombola no contexto da Educação Básica, apenas as afirmativas: a) I, II e IV. b) II e V. c) I e IV. d) I e V. e) I e III. 3. _______________________defendem a valorização das culturas historicamente negadas e excluídas da história. O objetivo é apresentar essas culturas para o mundo, a partir de princípios que reconheçam suas identidades, as trajetórias individuais, coletivas, como construções legítimas e integrantes do universo cultural. Escolha uma das opções abaixo e preencha a afirmação: a) Os Estudos culturais b) Os Estudos das relações étnico-raciais c) Os Estudos das diversidades culturais d) Os Estudos identitários e) Os Estudos sobre gênero e sexualidade 71 4. As articulações dos movimentos sociais foram e são preponderantes na luta pela promoção das diversidades culturais, haja vista que o objetivo é romper com o silêncio que historicamente encobriu, negou e perseguiu grupos considerados inferiores, como no caso dos negros, indígenas, pobres, mulheres, homossexuais etc. Ademais, a desigualdade motivada pelo racismo, preconceito e discriminação condicionou e condiciona o diferente a um não lugar, bem como a situações desumanas de sobrevivência. Nesse processo, exige – se das instituições de ensino: a) Uma reflexão cuidadosa no tocante aos rituais e práticas escolares que em alguns casos, de forma consciente ou inconciente, compactua com uma modelo educacional que pouco representa aqueles que fazem parte do seu cotidano. b) Um compromisso em cumprir os conteúdos curriculares já que todos os atores que fazem parte do cenário escolar, como funcionários, gestores, professores, estudantes e familiares são iguais e merecem respeito. c) Ações exclusivamente das esferas nos âmbitos federal, municipal, estadual e da sociedae civil. d) Uma educação diferenciada apenas para os alunos que fazem parte da educação inclusiva. Haja vista que existe uma legislação que os garante o direito à educação. e) Uma educação diferenciada e pautada nos princípios da meritocracia. Uma vez que aqueles que se esforçam sempre vencem. 5. De acordo com Dayrell (2006) a educação ocorre nos diferentes espaços sociais, num complexode experiências, relações e atividade, cujos limites estão afixados pela estrutura material e simbólica da sociedade, em determinado momento histórico.Nesse campo educativo amplo estão incluídas quais instituições? a) Família e escola. b) Família e igreja. c) Família, escola e igreja. d) Família, escola, igreja, como também o cotidiano difuso do trabalho, do bairro, do lazer etc. e) Escola e igreja. 6. Na história da humanidade, não poucos foram os esforços intelectuais, teóricos e científicos dedicados a evidenciar a __________________________. Da prática social formal, não formal e informal, à formação harmônica do homem para a vida da polis; bem como à incorporação nas cadeias produtivas de produção a partir da estruturação do conhecimento por meio de “grades” (disciplinas) curriculares. Fato é que a educação está intrinsecamente relacionada com a ação social e cultural de nos tornamos humanos bem como sujeitos sociais.( SILVA, 2011, p.15-16). Das opções que seguem escolha uma alternativa e complete a afirmação de Silva (2011). a) Função social da educação b) Função meritocrática da educação c) Função segmentada da educação 72 d) Função hierarquizada da educação e) Função hegêmonica da educação 7. Considerar que “toda a educação é cultura” torna possível, portanto, a) a construção de uma cultura pautada em padrãoes hierarquizados, já que estes apresentam os modelos a serem seguidos. b) Torna possível, portanto afirmar que existe apenas uma educação. Da mesma forma que o existe apensuma cultura. c) a compreensão que a riqueza da educação nos conduz a uma modelo de sociedade onde vencem os mais preparados. d) refletir que a instituição escolar, de maneira geral, não tem a responsabilidade de formar para a cidadania. Haja vista que cabe às famílais essa função. e) a aprendizagem de sistemas simbólicos, sócio-históricos e culturais ocorre por meio das relações dos atores sociais, o que se dá por meio da educação. 8. O entendimento da ____________________como princípio educativo nos instiga, portanto, à aprendizagem de valores sociais e culturais do outro, não de forma hierárquica, mas dialógica e relacional. Da mesma forma, provoca-nos ir além da noção de “inclusão” de novos conteúdos na realização das práticas pedagógicas na educação escolar e nos desafia a repensar as relações étnico-raciais, sociais, econômicas, políticas, pedagógicas e culturais na sociedade de maneira sensível, investigativa e responsável (SILVA, p.21). Das alternativas que seguem escolha a correta e complete a citação acima: a) Diversidade social b) Diversidade de gênero c) Diversidade Cultural d) Diversidade territorial e) Diversidade de classe 73 FORMAÇÃO DOCENTE PARA A DIVERSIDADE UNIDADE 06 74 6.1 O NECESSÁRIO DIÁLOGO ENTRE: DOCÊNCIA, CULTURA E EDUCAÇÃO Conforme discutido nesse livro, o diálogo entre cultura e educação é imprescindível no processo de construção de uma educação de qualidade e para todos. Mas, para isso, os cursos de formação docente, precisam incluir em suas gradescurrículares reflexões, estu- dos e pesquisas sobre as seguintes temáticas: cultura, identidade, diversidade e diferença cultural. De acordo com Diniz (2011, p. 40): O mundo contemporâneo, desde a segunda meta- de do século XX, assiste sistematicamente à emer- gência de movimentos sociais urbanos e não urba- nos que lutam pelo reconhecimento de suas ideias e concepções políticas. Diferentes grupos passaram a manifestar suas formas de ver o mundo (gays, lés- bicas, mulheres, crianças, jovens, velhos, punks, pes- soas com deficiência e\ou necessidades especiais, índios, negros) em contraposição a um modelo he- gemônico que valorizava a homogeneização e uma pretensa igualdade no trato social. Esses grupos, então, estão requerendo da sociedade capitalista a igualdade de direitos em relação aos que se enqua- dram nos modelos pré-estabelecidos. A novidade que esses grupos e os movimentos por eles engen- drados apresentam é o conceito de diferença, que passa a ser entendida como o reconhecimento das múltiplas formas de manifestar os gêneros, a sexua- lidade, a etnia etc. A diferença se alia à constituição das novas identidades que passam a configurar-se na ordem social vigente. Esses sujeitos exigem o di- reito de manifestar sua subjetividade e identidade cultural marcadamente singular e não fixa, poden- do ser provisoriamente atraentes e, depois, descar- tadas, abandonadas, rejeitadas. Essas questões demandam mudanças urgentes nas práticas escolares. Em outros termos, a pluraliadde cultural exige uma nova postura dos profissionais da educação. Nes- so processo, o diálogo da educação com a cultura é fundamental. Ademais, é na cultura que compreendemos as ações humanas, ações que são preponderantes nos processos de construções identitárias, bem como na compreensão do humano (NICODEMOS, 2014). Na formação docente inicial e continuada, muitos profissionais expõem situações que envolvem as práticas educativas formais e não formais. O que temos constatado nos discursos dos profissionais da educação é que a formação inicial dos cursos de graduação não tem suprido essa formação. Esses 75 profissionais não se sentem preparados para lidar com essa gama de questões, embora já tragam em seus discursos a vontade de cons- truir uma sociedade inclusiva. Silenciadas nos conteúdos disciplinares e nos aspectos mais gerais da formação desses profissionais que atuam no campo educacional, as questões que envolvem as diferenças ficam, muitas ve- zes, reservadas às suas vivências e atuações nas quais se veem impotentes diante dessa diversidade de situações. Dessa forma, apren- dizagens caricatas sobre as diferenças vão se tecendo no espaço escolar, alargando e fo- mentando importantes preconceitos constru- ídos pela humanidade(DINIZ, 2011, p. 41). Descolonizar o conhecimento é um compromisso de de todos os cidadãos que acre- ditam na construção de uma sociedade mais justa. As culturas negadas e silenciadas pre- cisam ser ouvidas e respeitadas em suas particularidades. Movimento que nos últimos anos vem sofrendo alterações, devido ao protagonismo daqueles considerados “minorias” (negros, negras, mulheres, indígenas, pobres e homossexuais) os quais a partir de suas ações coletivas e individuais exigem o direito de ter direitos(GOMES, 2012). Alinhada a essa proposição, Diniz explica(2011, p. 41): Pensar e desenvolver uma formação que visa a forjar práticas educativas para o público da diversidade implica pensar tanto as teorias e os campos de saber propícios a essa forma- ção, quanto considerar a subjetividade do(a) docente para enfrentar a gama de valores que geram conflitos tão presentes nos espaços educativos e nas políticas públicas educacio- nais. Mas, a formação docente ainda é precária quando a proposta é o trato com a diver- sidade cultural. Já que a formação de alguns professores baseou-se em um modelo de educação em que a questão ética não se fez presente. Processo que dificulta o docente compreender os seres humanos a partir de suas alteridades (DINIZ, 2011). O modelo da racionalidade técnica que vigo- rou por muito tempo na formação docente não era e não é capaz de considerar a existên- cia de sujeitos em sua particularidade, nem a dos(as) formadores(as) nem dos(as) alunos(as) que hoje frequentam as escolas (DINIZ, 2011, p. 42). 76 Gatti (2014)defende que a formação docente tem sido um desafio no campo das po- líticas educacionais a nível mundial. Por isso, países como Tailândia, França, Chile, Estados Unidos, Inglaterra, Colômbia, Suécia, Finlândia, Nigéria, Argentina, Equador etc., têm inves- tido, substancialmente, na formação de professores. Já que esses são os protagonistas na luta pela construção de uma educação de qualidade e para todos. No Brasil, país de escolarização tardia, a necessi- dade de incluir nas redes de ensino as crianças e jovens de segmentos sociais que até poucas déca- das atrás não eram atendidas pela educaçãobási- ca colocou grandes desafios, um deles a formação de professores. Com a grande expansão das redes de ensino em curto espaço de tempo e a ampliação consequente da necessidade de docentes, a forma- ção destes não logrou, pelos estudos e avaliações disponíveis, prover o ensino com profissionais com qualificação adequada. Pesam nessa condição não só a urgência formativa, mas também nossa tradi- ção bacharelesca, que leva a não considerar com o devido valor os aspectos didático-pedagógicos ne- cessários ao desempenho do trabalho docente com crianças e jovens. [...] Isso coloca um peso considerá- vel na responsabilidade das instituições formadoras de professores – universidades, faculdades ou insti- tutos. No âmbito dos movimentos das transforma- ções societárias atuais, a informação e a comunica- ção ocupam papel central na vida diária, no trabalho em geral e na vida científica (GATTI, 2014, p. 35). No caso do Brasil, completa a autora, o investimento do poder público nos cursos de formação docente ainda não é suficiente para equiparar o currículo às exigenciais sociais. Em outros termos, a formação professores, sejam elas inicial ou continuada, precisamestar articulado à realidade socialdos atores sociais que compõem o cotidiano da escola. Assim, construiremos uma educação de qualidade e que proporcione aos alunos não só uma es- colarização, mas também os verdadeiros valores de cidadania. Candau e Moreira (2003) discorrem sobre escola, ensino, aprendizagem e os desa- fios em sala de aula sob a ótica da sociedade multicultural em seu artigo“Educa- ção escolar e cultura(s): construindo caminhos”, publicado pela Revista Brasileira de Educação.Disponível em: https://bit.ly/30rk6ss. Acesso em: 22 de dez. de 2020. A obra de Diniz-Pereira e Leão(2008), “Quando a diversidade interroga a formação docente” relata os desafios em sala de aula e a necessidade de uma formação específica, que torne os profissionais da educação em indivíduos aptos a lecionar em contexto multicultural. Disponível em: https://bit.ly/3m607K2. Acesso em: 30 de mar. de 2021. BUSQUE POR MAIS https://bit.ly/30rk6ss https://bit.ly/3m607K2 77 6.2 AS AÇÕES DA ESCOLA EM RELAÇÃO À DIVERSIDADE CULTURAL As diversidade cultural é uma condição intríseca do humano. Nesse sentido a so- ciedade precisa repensar suas ações. No caso das escolas é urgente a ressignificação das práticas escolares e a abertura das salas de aula para as diferenças, ou seja, a bagagem cultural precisa de ser incluída e valorizada ao longo do processo educativo e na matriz curricular. Mas, para isso, é preciso quebar os princípios etnocêntricos que insistem na su- perioridade de um grupo em relação a outro (RAMALHO, 2015). No que se refere às ações da escola em relação à diversidade cultural, Ramalho expli- ca que é preciso ensinar e explicar aos alunos a importância de: Respeitar essas diferenças, mas não somente para o aluno ser tolerante com outra cultura, ele precisa entender que todos têm os mesmos direitos e que são iguais, cada grupo tem sua cultura, e isso não significa que a cultura de um grupo é melhor do que a de outro(RAMALHO, 2015, p. 02). Fato é que a sociedae brasileira ao longo do processo histórico esteve organizada a partir da desigualdades de bens, serviços, chances e oportunidades. Condições que foram e ainda são distribuídas de forma desigual. Por isso é urgente a redistribuição e o reco- nhecimento dos grupos que são os mais vulneráveis nesse proceesso, como no caso dos cidadãos negros, pardos, indígenas, mulheres, homossexuais etc.(RAMALHO, 2015). Novamente, as palavras de Ramalhosão esclarecedoras: Diante dessa realidade, a escola pode ajudar a redu- zir ou excluir de vez esses grupos, dando a alguns o direito ao acesso aos mecanismos de poder e ne- gligenciando outros grupos, sendo possível auxiliar no ensinamento de que devemos respeitar os dife- rentes, ou pode também uniformizar os diferentes, com objetivo de homogeneizar todos. Ou seja, nes- ses ambientes é que a diversidade pode ser, ou res- peitada, ou negada(RAMALHO, 2015, p. 02). Parafraseando Candau(2012), o compromisso da educação no Brasil deve ser com a desconstrução de preconceitos e discriminações que ainda persistem no cotidiano da escola. Em outros termos, existe em alguns casos, uma certa naturalização excludente em relação à desigualdade e à diferença. Por isso, a urgência de questionar a noção de igual- dade presente no contexto escolar. Assim, defende Candau (2012, p. 246): É problematizar o caráter monocultural e o etno- centrismo que, explícita ou implicitamente, estão presentes na escola e impregnam os currículos es- colares. Perguntar-nos pelos critérios utilizados para selecionar e justificar os conteúdos escolares”. De- sestabilizar a pretensa “universalidade” dos conheci- 78 mentos, valores e práticas que configuram as ações educativas e promover o diálogo entre diversos co- nhecimentos e saberes. Estamos desafi ados tam- bém a reconhecer e valorizar as diferenças culturais, os diversos saberes e práticas, e a afirmar sua rela- ção com o direito à educação de todos. Reconstruir o que consideramos “comum” a todos e todas, garan- tindo que nele os diferentes sujeitos socioculturais se reconheçam, possibilitando assim que a igual- dade se explicite nas diferenças que são assumidas como comum referência, rompendo dessa forma com o caráter monocultural da cultura escolar. O imaginário social e as relações cotidianas ainda são hegemonicamente pautados pelo eurocentrismo. Realidade que ao mesmo tempo que reforça o mito da igualdade, aponta para a persistência de profundas desigualdades raciais e sociais, evidenciando que existem desiguais oportunidades para os cidadãos com marcações racial, étnica e social. Por isso,as barreiras colocadas aos processos de mudança das relações de poder nesses es- paços institucionais e de produção do conhecimento são abissais e quase intransponíveis, pelas persistência e brutalidade(NICODEMOS, 2016). Somos todos iguais ou somos todos diferentes? Queremos ser iguais ou queremos ser diferen- tes? Houve um tempo que a resposta se abrigava segura de si no primeiro termo da disjun- tiva. Já faz um quarto de século, porém, que a resposta se deslocou. A começar da segunda metade dos anos 70, passamos a nos ver envoltos numa atmosfera cultural e ideológica intei- ramente nova, na qual parece generalizar-se, em ritmo acelerado e perturbador, a consciên- cia de que nós, os humanos, somos diferentes de fato [...], mas somos também diferentes de direito. É o chamado “direito à diferença”, o direito à diferença cultural, o direito de ser, sendo diferen- te. “The righttobedifferent!”, como se diz em português, “o direito à diferença”. Não queremos mais a igualdade, parece. Ou a queremos menos, motiva-nos muito mais, em nossa conduta, em nossas expectativas de futuro e projetos de vida compartilhada, o direito de sermos pes- soal e coletivamente diferentes uns dos outros (PIERUCCI, 1999, p. 07). FIQUE ATENTO 6.3 O DESAFIO DA DIVERSIDADE NA ESCOLA Para uma análise crítica do desafio da diversidade na escola é necessário refletir e repensar as relações de poder existentes desde a formação do trabalho docente, passando pelas composições curriculares e pelo projeto político-pedagógico da escola. Sem subes- timar a importância do entendimento de que a escola não é uma ilha isolada das demais instâncias sociais que a envolvem e onde a educação é concebida como pressupostos te- óricos e práticos, ou seja, se faz e resulta dialeticamente numa práxis educativa (NICODE- MOS, 2016). Candau (2012, p. 247)defende que: 79 Manifestações de preconceito, discriminação e vio- lência se multiplicam em número crescente em muitas de nossas escolas. Desafiam as práticas ha- bituais do cotidiano escolar. Como educadores e educadoras ficamos perplexos/as e muitas vezes nos sentimos impotentes. Algumas iniciativas são tomadas, de caráter pontual, dirigidas a grupos de- terminados,em momentos específi cos do ano es- colar, projetos que abordam temas concretos são implementados. Mas os desafi os permanecem e, em muitos casos, se agravam. O contato com a diversidade se faz em todos os espaços sociais, acontece que é no ambente escolar que as crianças terão a oportunidade de conviver em um maior tempo com as diferenças. Ademais, os valores ensinados e aprendidos no espaço escolar que se- rão base para a contrução de valores éticos que contribuirão para a sociedade brasileira seja uma nação mais respeitosa e dissiminadora de suas culturas (RAMALHO, 2015). No tocante a essas questões as escolas, sejam elas públicas e privadas, devem ofere- cer a todos os atores que compõem o seu cotidiano uma educação pautada no reconhe- cimento das diferenças, culturas e identidades. Haja vista que o objetivo de uma educação transformadora é oferecer uma educação baseada no reconhecimento das diferenças e na construção da igualdade no que se refere a chances e oportunidades, de modo a formar ci- dadãos atuantes na sociedde para que a mesma seja de fato democrática. Assim, a escola precisa valorizar o ensino e a aprendizagem, a partir de uma pedagogia democrática que reconheça e valorize as diferenças em suas completude(RAMALHO, 2015). Se quisermos potencializar os processos de aprendizagem escolar na perspectiva da garantia a todos/as do direito à educação, teremos de afirmar a urgência de se trabalhar as questões relativas ao reconhecimento e à valorização das diferenças culturais nos contextos escolares. Esta proposta supõe, incorporar a perspectiva intercultural nos diferentes âmbitos educativos. Esta preocupação não é algo secundário ou que se justapõe às finalidades básicas da escola, mas é inerente a elas (CANDAU, 2012, p. 247). Nesse sentido, em que medida a proposta currícular dos cursos de formação docente tem oferecido reflexões, estudos e análises para alcançarmos uma verdadeira valorização das di- ferenças culturais? VAMOS PENSAR? 80 1. (IFNMG/ MG - ADAPTADA) Segundo Candau (2002), um grande desafio para os educadores, diante dos novos cenários da sociedade contemporânea, é articular igualdade e diferença à base cultural comum e expressões da pluralidade social e cultural.Analise as seguintes afirmativas sobre cidadania, cultura, pluralidade cultural e educação. I. Tem o papel de formadora de identidades, sejam estas individuais, sociais e culturais, tem sido um dos trunfos da legitimação da escola. II. A percepção da escola como espaço sociocultural possibilita pensar o processo educativo escolar como sendo heterogêneo, produto da ação recíproca entre sujeito e instituição e capaz de reconhecer e incorporar a diversidade no desenvolvimento dos educandos como sujeitos socioculturais. III. No mundo de hoje, há uma grande igualdade, não só do acesso, mas também do uso que se faz do conhecimento. A partir dessa análise, pode-se concluir que estão corretas. a) I e II apenas. b) I e III apenas. c) II e III apenas. d) I, II e III. e) Apenas a I. 2. (SMESL) A escola como espaço sociocultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazerse cotidiano, resgatando o papel dos sujeitos na trama social que a constitui enquanto instituição. Em relação à escola, avalie as afirmativas a seguir: I. A escola é vista como uma instituição única, com os mesmos sentidos e objetivos, tendo como função garantir a todos o acesso ao conjunto socialmente acumulado pela sociedade. II. A escola é um espaço de formação ampla do aluno, que aprofunda o seu processo de humanização, aprimorando as dimensões e habilidades que fazem de cada um de nós seres humanos. III. A escola é um espaço de encontros entre iguais, possibilitando a convivência com a diferença, de uma forma qualitativamente distinta da família e, principalmente, do trabalho. Estão CORRETAS as afirmativas a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e II. e) Apenas a II. FIXANDO O CONTEÚDO 81 3. (SMESL/ ADAPATADA) A interculturalidad apresenta-se como uma forma de permitir ao aluno uma visão mais ampliada da realidade, a apartir do processo de socialização com seus pares. No trato com a diversidade cultural ainterculturalidade aponta para a construção de uma escola inclusiva e decisiva na formação do ator social. Pode-se dizer que o objetivo da interculturalidade é: a) articular saber, conhecimento, culturas, vivências, escola e comunidade. b) definir a construção do saber, do conhecimento, de forma restrita. c) determinar o tempo para a aprendizagem e para o conhecimento. d) relacionar conhecimento apenas justaposto mecanicamente. e) articular os saberes aos conteúdos curriculares oficiais. 4. (SMESL/ ADAPATADA) A diversidade cultural é uma condição preponderante no processo de construção de uma sociedae mais justa e inclusiva. Por isso, os conteúdos currículares precisam estar em consonância com a bagagem cultural dos diversos grupos étnicos que fazem parte da identidade brasileira. Nesse sentido é preciso: a) ampliar o conceito de cidadania já utilizado nos currículos, com a introdução e explicitação de cidadania social com uma revisão aprofundada dos conteúdos propostos. b) contribuir para a formação do pensamento crítico do aluno para a compreensão da realidade em que vive, para ser capaz de transformar a sociedade em algo melhor. c) situar a cidadania como um objeto de estudo da disciplina, sob a abordagens social e cultural, para compreender os princípios que formam nossa base de construção nacional. d) tomar como foco a cidadania política, abordando conceitos de igualdade, justiça e luta social, além dos estudos clássicos da cidadania na antiguidade clássica hoje trabalhados. e) a diversidade cultural não é uma condição intríseca do humano. Nesse sentido a sociedade não precisa repensar suas ações. 5. ____________________ é um compromisso de de todos os cidadãos que acreditam na construção de uma sociedade mais justa. As culturas negadas e silenciadas precisam ser ouvidas e respeitadas em suas particularidades. Movimento que nos últimos anos vem sofrendo alterações, devido ao protagonismo daqueles considerados “minorias” (negros, negras, mulheres, indígenas, pobres e homossexuais) os quais a partir de suas ações coletivas e individuais exigem o direito de ter direitos (GOMES, 2012). Das alternativas abaixo escolha a opção correta e complete a citação acima: a) Descolonizar o conhecimento b) O conhecimento hegêmonico c) Colonizar os saberes d) Aculturar o conhecimento e) As culturas negadas 6. Segundo Diniz (2011, p. 41) na formação docente inicial e continuada muitos profissionais expõem situações que envolvem as práticas educativas formais e não formais. O que temos constatado nos discursos dos profissionais da educação é que: 82 a) a formação inicial dos cursos de graduação tem suprido, substancialmente,essa formação. b) os profissionais da educação não se sentem preparados totalmente para lidar com a diversidade cultural, embora já tragam em seus discursos a vontade de construir uma sociedade inclusiva. c) A discusão sobre as diversidades culturais não são silenciadas dos conteúdos disciplinares e dos aspectos mais gerais da formação dos profissionais que atuam no campo educacional. d) as questões que envolvem as diferenças não ficam reservadas às vivências dos educadores, bem como de suas atuações, nas quais se veem impotentes diante dessa diversidade de situações. e) dessa forma, aprendizagens caricatas sobre as diferenças não se constroem no espaço escolar, alargando e fomentando preconceitos construídos pela humanidade. 7. No tocante a essas questões as escolas, sejam elas ____________________ devem oferecer a todos os atores que compõem o seu cotidiano uma educação pautada no reconhecimento das diferenças, culturas e identidades. Haja vista que o objetivo de uma educação transformadora é oferecer uma educação baseadano reconhecimento das diferenças e na construção da igualdade no que se refere a chances e oportunidades, de modo a formar cidadãos atuantes na sociedde para que a mesma seja, de fato, democrática (RAMALHO, 2015). Das alternativas abaixo escolha a opção correta e complete a frase. a) Federais e privadas b) Estaduais e federais c) Federais e municipais d) Públicas e federais e) Públicas e privadas 8. A formação docente tem sido um desafio no campo das políticas educacionais a nível mundial. Por isso, países como Tailândia, França, Chile, Estados Unidos, Inglaterra, Colômbia, Suécia, Finlândia, Nigéria, Argentina, Equador etc. têm investido, substancialmente, na formação de professores. Já que esses são os protagonistas na luta pela construção de uma educação de qualidade e para todos. (GATTI, 2013-2014). Marque a opção correta sobre a formação docente que,de fato, faz a diferença na construção de uma educação de qualidade e para todos: a) Os professores têm o papel decisivo para contribuir com a construção de uma civilização humana e de bem-estar para todos. O que coloca um peso considerável na responsabilidade das instituições formadoras de professores – universidades, faculdades ou institutos. b) Os professores não têm o papel decisivo para contribuir com a construção de uma civilização humana e de bem-estar para todos. O que coloca um peso considerável na responsabilidade das instituições formadoras de professores – universidades, faculdades ou institutos. c) Os professores têm o papel decisivo para contribuir com a construção de uma civilização humana e de bem-estar para todos. O que não coloca um peso considerável na responsabilidade das instituições formadoras de professores – universidades, faculdades 83 ou institutos. d) Apenas os familiares têm o papel decisivo para contribuir com a construção de uma civilização humana e de bem-estar para todos. e) As instituições formadoras de professores – universidades, faculdades ou institutos não têm a responsabilidade de oferecer as condições necessárias para que a formação docente, de fato, faça a diferença na vida do profissional da educação. 84 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 1 UNIDADE 3 UNIDADE 5 UNIDADE 2 UNIDADE 4 UNIDADE 6 QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 B QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 D QUESTÃO 8 C QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 C QUESTÃO 6 B QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 A QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 D QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 E QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 D QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 C QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 A 85 ALVÁRES, M. M.. I. A questão Indígena no Brasil e em Minas Gerais: Subsídios para o ensino das culturas e histórias dos povos indígenas. In: I Jornada Interdisciplinar Sobre o Ensino da História do Holocausto em Defesa da Democracia e Cidadania. Anais [...]. São Paulo: [s. n.], 2014. Disponível em: https://bit.ly/3rBll3M. Acesso em: 12 mar. 2021. AUAD, D. Educar meninas e meninos: relações de gênero na escola. São Paulo: Contexto, 2006. BARROS, J. D. A. A construção social da cor: diferença e desigualdade na formação da sociedade brasileira. Petrópolis: Vozes, 2008. BOBBIO, N. A era dos direitos. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004. BRASIL. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Brasília, DF: Ministério da Educação , 2005. BRASIL. Lei Nº 11.645, de 10 Março de 2008. 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