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Estudos culturais e Antropologicos

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1
ESTUDOS CULTURAIS 
E ANTROPOLÓGICOS
POLLYANNA ALVES NICODEMOS SILVA 
EDUCAÇÃO A 
DISTÂNCIA
1
ESTUDOS CULTURAIS E
 ANTROPOLÓGICOS 
POLLYANNA ALVES NICODEMOS SILVA 
1
 Diretor Geral: Valdir Henrique Valério
 Diretor Executivo: William José Ferreira
 Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
 Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
 Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
 Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite
 Carla Jordânia G. de Souza
 Guilherme Prado Salles
 
 Design: Aline de Paiva Alves
 Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Taisser Gustavo Soares Duarte
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita 
do Editor
EDITORIAL
2
ESTUDOS CULTURAIS E 
ANTROPOLÓGICOS 
1° edição
3
Pollyanna Alves Nicodemos Silva
Pós-Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Minas Gerais (UFMG); Doutorae 
Mestre em Educação pela Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)(2011-
2017). Graduada em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) (2006). 
Graduada em Pedagogia pela Faculdade Batista de Minas Gerais (FBMG) (2020); Especia-
lista em Gestão, Avaliação e Elaboração de Projetos pela Universidade Federal Minas Gerais 
(UFMG) (2008). Tem experiência na área de Educação, Antropologia e História, com ênfase 
em relações raciais atuando, principalmente, nos seguintes temas: jovens de camadas po-
pulares, adolescentes negros, elite negra, classes média e alta, identidade, culturas e ques-
tões étnico-raciais em educação. Atualmente é professora do curso de Ensino de História 
da Pós-Graduação Lato Sensu da Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-
-MG) e da Faculdade (FAMART – ITAÚNA/MG) graduação e pós-graduação EAD. 
4
LEGENDA DE
Ícones
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas 
quais você precisa ficar atento.
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do 
conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones 
ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado 
trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a 
seguir:
São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca 
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, 
associando-os a suas ações.
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos 
conteúdos abordados no livro.
Apresentação dos significados de um determinado termo ou 
palavras mostradas no decorrer do livro.
 
 
 
FIQUE ATENTO
BUSQUE POR MAIS
VAMOS PENSAR?
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
5
SUMÁRIO UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
1.1 A origem da Antropologia ......................................................................................................................................................8
1.2 A filosofia iluminista e o Romantismo ........................................................................................................................10
1.3 A Institucionalização da Antropologia no século XIX..........................................................................................11
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................14
2.1 A cultura e a história ................................................................................................................................................................19
2.2 A cultura e a educação .......................................................................................................................................................20 
2.3 A experiência etnográfica na compreesão da alteridades ........................................................................23
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................27
3.1 Diversidade, igualdade e diferença .............................................................................................................................35
3.2 Direitos universais e direitos de especificação ....................................................................................................36
3.3 Ações afirmativas: o início de uma reparação histórica para a população negra ......................37
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................41
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA 
A ANTROPOLOGIA, A CULTURA E O HOMEM 
INTERCULTURALIDADE E MULTICULTURALISMO 
UNIDADE 4
4.1 Educação, cotidiano e cultura .........................................................................................................................................47
4.2 A LEI 10.639 de 09 de Janeiro de 2003 ......................................................................................................................49
4.3 A LEI 11.645 de 10 de Março de 2008 ...........................................................................................................................52
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................56
A ESCOLA COMO ESPAÇO CULTURAL 
UNIDADE 5
5.1 Currículo e suas culturas .......................................................................................................................................................61
5.2 Currículo e as identidades .................................................................................................................................................65
5.3 Educação quilombola ...........................................................................................................................................................66
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................69
CURRÍCULO E DIVERSIDADE CULTURAL 
UNIDADE 6
6.1 O necessário diálogo entre: docência, cultura e educação .........................................................................74
6.2 As ações da escola em relação à diversidade cultural ...................................................................................77
6.3 O desafio da diversidade na escola .............................................................................................................................78
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................80
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTÉUDO ....................................................................................................................84
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................85FORMAÇÃO DOCENTE PARA A DIVERSIDADE 
6
UNIDADE 1
A unidade I apresenta uma introdução àAntroplogia, sua origem, as contribuições 
da Filosofia Iluminista e da tendência Romantista na constituição da Antropologia 
enquanto disciplina e a análise do processo de institucionalização da Antropologia 
no século XIX.
UNIDADE 2
A Unidade II analisa a relação entre Antropologia, cultura e o homem, o diálogo 
entre Cultura, História e Educação e as contribuições da experiência etnográfica no 
compreensão das alteridades culturais.
UNIDADE 3
A unidade III explora a importância da interculturalidade, multiculturalismo, 
diversidade, igualdade, diferença, direitos universais, direitos de especificação e as 
ações afirmativas,enquanto políticas de reparação histórica para a população negra 
no Brasil.
UNIDADE 4
A unidade V trata o currículo escolar em diálogo com a diversidade cultural, culturas, 
identidades e a educação quilombola que se insere nas políticas públicaseducacinais 
brasileiras.
UNIDADE 5
O conteúdo desta unidade discute os conflitos de interesse entre principal e agente, 
tratado pela Teoria da Agência e como as Boas Práticas de Governança Corporativa 
amenizam os problemas, além de apontar qual deve ser a postura da área de 
controladoria neste contexto.
UNIDADE 6
A unidade VI analisa o necessário diálogo entre: docência, cultura e educação, as 
ações da escola em relação à diversidade cultural e o desafio da diversidade na escola. 
C
O
N
FI
R
A
 N
O
 L
IV
R
O
7
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA UNIDADE
01
8
1.1 A ORIGEM DA ANTROPOLOGIA 
 A Antropologia em suas origens foi considerada uma ciência da natureza física do 
homem e dos seus processos ao longo da História. Concepção que partiu do princípio que 
o ser humano passaria por estágios evolutivos, sendo: selvageria, bárbarie e civilização até 
alcançar um suposto “estágio de perfeição”.
 Tais estudos foram realizados em gabintes, a partir de registros de viajantes, cro-
nistas, administradores coloniais, missionários, militares etc. Sendo análises superficiais e 
classificatórias que descaracterizavam as especificidades culturais dos grupos considera-
dos em estado de bárbarie, como no caso dos povos de origens africanas e comunidades 
indígenas. Já que o objetivo era enaltecer a cultura eurocêntrica, vista como o padrão a ser 
seguido enquanto modelo de civilização(LIDÓRIO, 2009; ROCHA; TOSTA, 2009).
 Situações como essas remetem ao etnocêntrismo na sua forma e ação mais radical 
e cruel de considerar como valores universais aqueles que são próprios da sociedade a que 
o indivíduo pertence. Haja vista que é um princípio que parte de particularidades e gene-
ralizações que, acima de tudo, devem ser encontrados no outro. 
Nesse processo os indivíduos se veem como superiores em relação àqueles que se distan-
ciam dos seus valores. Tal posicionamento de superioridade discrimina, exclui, marginaliza 
e mata.
 Conforme Oliveira(1976, p. 47):
O “etnocentrismo” aqui se caracterizaria pela uni-
versal incapacidade da ideologia étnica de relativi-
zar-se; dito de outra maneira, é a virtual incapacida-
de da identidade étnica produzir uma visão ou um 
“retrato” da outra (identidade) que lhe é comple-
mentar, sem se valer de critérios absolutos, compa-
tíveis com suas representações e abrigado em sua 
ideologia étnica.
 A não conviênciacom o outro gerou relações de discriminação, hierarquização, clas-
sificação, racismo, preconceito, homicídio, violência e a subjugação de grupos culturais 
diferentes. Realidade que poderia ter sido diferente se o dito “civilizado” não tivesse se 
colocado como o modelo de homem a ser seguido e interpretado as diversidades culturais 
como algo inerente do humano. A exemplo dessa realidade, vários grupos indígenas fo-
ram escravizados e mortos na América, em nome de um modelo universalista do homem 
branco, cristão e ocidental, como dominante e superior. Cenário que explica o não reco-
nhecimento do direito dos povos indígenas, considerados como objetos vivos e explorados 
como mão de obra escravizada.
 Álváres(2014, p. 63) cita que:
Após mais de 500 anos de conquista das Américas, 
as sociedades indígenas não têm muito o que co-
memorar. A sua trágica trajetória de contato com 
a sociedade europeia causou, nada menos do que 
a redução da sua população de 9 milhões para um 
número que já chegou a ser bastante menor do que 
as atuais 800 mil pessoas, em função das violências 
9
físicas e simbólicas que esses povos têm sofrido ao 
longo da nossa história. Durante os dois primeiros 
séculos de colonização, a taxa de população foi bru-
tal. Guerras, expedições para captura de escravos, 
grandes epidemias causadas por agentes patogê-
nicos, ainda desconhecidos do novo continente tra-
zidos pelos europeus e a fome gerada pela deses-
truturação de suas redes sociais dizimaram grande 
parte dos povos indígenas que habitavam o conti-
nente a essa época.
 O processo de escravização determinou no homem branco europeu a justificativa 
de se apropriar de vidas, “destruir” saberes, vivênciais, valores, memórias e histórias que 
foram (re)construídas a partir de processos ancestrais milenares. Assim, o “outro” foi con-
siderado um ser sem alma, sem identidade, sem humanidade, sem inteligência. Um ser 
equiparado aos animais, sem razão, inferior e incompleto. A escravização seria a condição 
que o levaria a alcançar um suposto estágio civilizatório de humanização e salvação (SILVA, 
1997).
 Princípios que sustentaram visões e representações culturais estigmatizadas dos 
povos africanos e indígenas e, consequentemente, provocou a construção de uma históra 
única. Diante desses fatores o que prevaleceu foi uma representação negativa em relação 
às alteridades. Visão que se cristalizou no campo das mentalidades e provocou um estra-
go social profundo e difícil de ser ressignificado.
 O termo Antropologia (anthropus, homem; logos, estudo)signifca o estudo do ho-
mem na sua totalidade. Seu objeto de análise são as culturas humanas e suas especifi-
cidades. A Antropologia tem o homem em sua completude. Por isso é considerada uma 
ciência do homem e das suas ações, enquanto agente construtor do processo histórico.
 A proposta é (re)pensar o homem como um todo (cultural, social e biológico) e com-
preender as relações humanas e suas origens em todos os aspectos que o constitui no 
tempo e no espaço (MARCONI; PRESOTTO, 1985).
Discriminação: significa “distinguir”, “diferençar”, “discernir”. A discriminação racial pode 
ser considerada como a prática do racismo e a efetivação do preconceito. Enquanto o 
racismo e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e dos julgamentos, das con-
cepções de mundo e das crenças, a discriminação é a adoção de práticas que os efetivam 
(GOMES; MUNANGA, 2006, p. 55). 
Racismo: por um lado, é um comportamento, uma ação resultante da aversão, por vezes, do 
ódio em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de 
sinais, tais como: cor da pele, tipo de cabelo etc. Ele é por outro lado um conjunto de ideias e 
imagens referentes aos grupos humanos que acreditam na existência de raças superiores e 
inferiores. O racismo também resulta da vontade de se impor uma verdade ou uma crença 
particular como única e verdadeira (GOMES; MUNANGA, 2006, p. 52).
GLOSSÁRIO
10
 Sem pretender fazer uma recuo extenso na História sobre a filosofia iluminista e o 
Romantismo, convém em linhas gerais algumas reflexões. Uma vez que essas correntes de 
pensamentos apresentaram significativa contribuição na institucionalização da Antropo-
logia enquanto disciplina. 
 O Iluminismo foi um movimento filósofico que surgiu na Europa no século XVIII 
e rompeu com a visão teocêntrica e teológica judaico-cristã, sendo um período que se 
construiu uma nova visão: do homem, das culturas, da sociedade, além da propagação de 
ideias e representações atreladas ao racionalismo científico. 
 Em outros termos, para a filosofia Iluminista a razão era a saídapara tirar o homem 
do estágio de aprisionamento imposto pelo regime absolutista e pela igreja. Instituições 
que comandavam via relações de poder político e das mentalidades o desenvolvimento da 
sociedade como um todo.Assim, o objetivo era alcançar: liberdade econômica, política e, 
sobretudo, avançar no campo das ciênciais. Já que a razão era a única sáida para o progres-
so da humanidade.
 Sobre a filosofia Iluminista e a concepção de homem é explicado que:
1.2 A FILOSOFIA ILUMINISTA E O ROMANTISMO 
A perspectiva iluminista do homem era, natural-
mente, a de que ele constituía uma peça com a na-
tureza e partilhava da uniformidade geral da com-
posição que a ciência natural nhavia descoberto sob 
o incitamento de Bacon e a orientação de Newton. 
Resumindo, há uma natureza tão regularmente or-
ganizada, tão perfeitamente invariante e tão mara-
vilhosamente semples como o universo de Newton. 
Algumas de suas leis talvez sejam diferentes, mas 
existem leis; parte da sua imutabilidade talvez seja 
obscurecida pelas armadilhas da moda local, mas 
ela é imutável(GEERTZ, 2012, p. 25).
 As palavras do autor são muito esclarecedoras. Parafraseando com Rocha e Tosta 
(2009)é possível afirmar que a proposta do pensamento ocidental foi a busca de um con-
senso universal para interpretar a humanidade. Princípio que nasce no século XIX em diá-
logo com o Iluminismo e com as ciênciais sociais e naturais do período. 
 Para a filosofia iluminista o homem é constituído por níveis. Cada nível é sopreposto 
aos níveis inferiores e, consequentemente, reforça os que estão acima dele. Nesse sentido 
ao analisar a natureza humama é necessário considerar camada por camada; e cada ca-
mada apresenta sua completude. Nessas camadas é possível identificar as regularidades 
estruturais e funcionais da organização social, os fatores psicológicos, as necessidades bá-
sicas humanas, os fundamentos biológicos, anatômicos, fisiológicos, neurológicos e toda a 
estrutura do humano (GEERTZ, 2012).
 Mas a proposta iluminista de interpretar o homem a partir de uma perspectiva imu-
tável esbarrou-se nas diversidades culturais humanas, ou seja relativizou-se a perspectiva 
absoluta do humano, a noção de natureza, da cultura e, consequentemente, apontou a 
complexidade que o homem apresenta no cenário social (ROCHA; TOSTA, 2009).
 Ao contrário do Iluminismo, o Romantismo teve por objetivo o estudo das coletivi-
11
1.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ANTOPOLOGIA NO SÉCULO XIX 
dades e das emoções humanas. Nasceu na Alemanha entre o final do século XVII e mea-
dos do século XIX. É uma corrente que se opôs aos princípios defendidos pelo Iluminismo, 
sendo eles: universalidade, objetividade e racionalidade. Nesse processo, apresentou um 
novo modo de pensar as relações humanas, já que explorou os conflitos, as contradições e 
valorizou modos de vida da vida comum. 
 Como uma forma de criticar o universalismo defendido pela filosofia iluminista, 
Johann GottFried Von Herder criou o conceito de (Volk = povo) . Para o filósofo todo Volk 
tem seus valores, costumes, língua e “espíritos” (Volksgeist). Ademais, valorizava as emo-
ções humanas, linguagem e interpretava a sociedade como um território sólido e mítico. 
A crítica de Herder ao universalismo está relacionada à crítica dos antropólogos do século 
XX à distinção entre cultura e civilização, ou seja, a cultura era considerada experimental e 
orgânica e a civilização cognitiva e superficial(ERIKSEN; NIELSEN, 2007).
 Durante longos anos o conceito de cultura esteve relacionado ao sinônimo de civili-
zação. Mas os significados atribuídos à cultura durante o século XIX foram preponderantes 
na ressignifcação do termo ao longo da História.
A busca iluminista da natureza(imutável) do homem esbarra – se no problema da diversida-
de cultural dos homens. Relativiza – se, então, a perspectiva absolutista sobre o homem. Em 
consequência, também as concepções sobre a natureza e cultura serão relativizadas, reafir-
mando a complexidade da ideia de homem(ROCHA; TOSTA, 2009, p. 26).
FIQUE ATENTO
 No final do seculo XIX e início do século XX a Antropologia passou por um rigoroso 
processo de ressignificação conceitual e metodológica. Nesse processo o trabalho do an-
tropólogo Bronislaw Malinowski na obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental foi prepon-
derante, já que elefoi a campo interpretar a cultura dos Trombiandeses na Nova Guiné. 
As pesquisas antropológicas anteriores a esse período eram realizadas em gabinetes atra-
vés de materiais coletados por informantes. Sendo estudos que não revelavam as intera-
ções dos antropólogos com as culturas pesquisadas.
 Conforme Frazer no prefácio da renomada obra “Argonautas do Pacífico ocidental: 
um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné 
melanésia” do também renomado antropólogo Malinowski(1978, p. 10):
O cientista, assim como o literato, tende a ver humanida-
de somente em abstrato, selecionando para suas consi-
derações apenas uma aspecto dos muitos que caracte-
rizam o ser humano em sua complexidade. Das grandes 
obras literárias , a de Molière pode ser usada como um 
exemplo típico dessa visão parcial. Todas as persona-
gens de Molière são projetdas num só plano; uma delas 
é o avarento,outra a hipócrita, outra o pretensioso – e as-
sim por diante;masnehuma delas é humana. São todas 
bonecos, vestidos de modo a parecerem seres humanos 
. A semelhança, porém , é apenas superficial.
12
 Fazer pesquisa também consiste trabalhar em diálogo com as abstrações. Ademais, 
toda a produção de conhecimento envolve generalizações que fazem parte do contexto de 
vida do ser humano, sejam elas marcas do presente ou do passado. Mas que, indiscutivel-
mente, diz de processos culturais eidentitários. (MALINOWSKI, 1978).
 Nicodemos (2014, p. 3) complementa que:
Malinowski, quando de suas viagens às Ilhas Tro-
briand, buscou analisar detalhadamente os fenô-
menos característicos da cultura estudada, sem 
privilegiar somente aspectos que lhes transmitam 
admiração e estranheza em detrimento de fatos ro-
tineiros. Mas sim, compreender a cultura nativa em 
sua totalidade. Haja vista que a lei, a ordem e a co-
erência que prevalecem no objeto de estudo são as 
mesmas que os unem e fazem dele um todo coe-
rente.
 O trabalho de campo é primordial àqueles que almejam compreender a cultura 
alheia em sua totalidade, por isso, o trabalho do antropólogo BronislawMalinowski às Ilhas 
Trobriand foi um divisor de águas no campo das ciências humanas. Conhecer, interpretar, 
estudar e analisar as alteridades, exige o convívio com o grupo estudado em sua totalida-
de. 
 Segundo Rocha e Tosta (2009, p. 30):
Nessa perspectiva, o homem não pode ser visto se-
parado ou fragmentadamente senão enquanto um 
sistema complexo de cérebro, ecologia, genética e 
cultura. Mas, ainda sim, não se pode dizer que essa 
seja uma prática comum e estabelecida nos qua-
dros do pensamento antropológico.
 A Antropologia tem por objetivo o estudo do homem na sua totalidade. O desafio e 
a desconstrução do princípio que pensava o homem e suas ações, a partir de estágios, ou 
seja, dividido entre corpo, alma, natureza e cultura. O desafio é pensar o homem enquanto 
um ser total, conforme defende Maus (2003), por isso, a importância da passagem da An-
tropologia evolucionista para a Antropologia que reconhece os seres humanos a partir des 
suas alteridades e na interação com seus pares. 
 Ainda nas palavras de Rocha e Tosta (2009, p. 33): 
Aos poucos, a cultura foi sendo separada da nature-
za, porém, múltiplas vozes ainda reclamam a unida-
de natural do homem. Um sensível deslocamento a 
passagem a natureza física para a natureza huma-
na começa a ser implantado, mesmo que durante 
o iluminismo essas duas ordens da natueza se con-
fundissem.
 A institucionalização da Antropologia foi um divisor de àguas no debate sobre a 
concepção de homem e de sua condição enquanto agente construtor do processo históri-
co. Haja vista que representouuma mudança de perspectiva no que se refere ao humano, 
13
O livro “Antropologia” de Mércio Gomes Pereira (2008) retrata a antropologia no ce-
nário brasileiro, o processo evolutivo e o sentido ético-moral do homem. Disponível 
em: https://bit.ly/2OXUsK9. Acesso em: 20 de mar. de 2020.
BUSQUE POR MAIS
ou seja “o homem deixa de ser o sujeito transcendental da filosofia metafísica para tornar-
-se objeto de investigação científica” (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 32).
 Nesse processo a Antropologia sendo ciência da humanidade e da cultura passa a 
ter um campo de investigação ampliado, pois considera o homem a patir da sua totali-
dade, ou seja o homem é visto como um ser pensante, produtor de culturas e atuante na 
sociedade. Por isso, o objeto de estudo da Antroplogia é interpretar a maneira de viver do 
homem, seja através de um grupo, sociedade, país, comunidade etc. Vivências que são (re)
construídas a partir de valores simbólicos que refletem nas identidade dos grupos cultu-
rais.
Um dos princípios defendidos pela Antropologia é a centralidade do conceito de cultura para 
compreender o humano. Por isso, a importância de assumir a diversidade cultural e romper 
com o etnocêntrismo(LARAIA, 2008).
De quais modos tal afirmação permite pensar o exercício da docência a partir das culturas 
que fazem parte do cenário educativo?
VAMOS PENSAR?
https://bit.ly/2OXUsK9
14
1. Em suas origens a Antropologia foi considerada uma ciência da natureza física do 
homem e dos seus processos ao longo da História. Concepção que partiu do princípio de 
que o ser humano passaria por estágios evolutivos, sendo ____________, ___________________ 
e _____________________________________.
Das alternativas abaixo escolha a opção correta e complete a frase.
a) Culturalismo, bárbarie e etnocentrismo. Já que o objetivo era enaltecer a diversidade 
cultural, vista como o padrão a ser seguido enquanto modelo de civilização. 
b) Relativismo, etnocentrismo e civilização até alcançar o padrão hegêmico de humanidade. 
c) Selvageria, bárbarie e civilização até alcançar um suposto “estágio de perfeição”. 
d) Evolucionismo, culturalismo e historicismo. Já que as diversidades culturais eram 
relevantes, ao passo que o conceito de cultura teve grande importância, estando articulado 
à noção de alteridade.
e) Etnocêntrismo, iluminismo e racionalismo até alcançar um suposto “estágio de perfeição”.
2. Oetnocêntrismo na sua forma e ação mais radical e cruel considera como valores 
universais aqueles que são próprios da sociedade a que o indivíduo pertence. Já que é um 
princípio que parte de particularidades e generalizações que, acima de tudo, devem ser 
encontrados no outro. Sendo assim, analise a charge a seguir: 
A charge apresenta um comportamento que diz que o ser humano:
a) Valoriza os padrões culturais como expressões simbólicas universais a todos os seres 
humanos.
b) Considera que a humanidade é diversa e que todos tem o direito de viver suas alteridades 
nas diferenças.
c) Internaliza que somos todos iguais e que devemos respeitar o outro em todos os aspectos: 
social, cultural, racial e sexual.
d) Interpreta a humanidade como o berço da diversidade, por isso constroí uma visão 
teocêntrica do mundo.
e) Interpreta as práticas e os modos de vida diferentes a partir de uma visão etnocêntrica. 
Por isso valoriza os padrões culturais do seu local de origem.
FIXANDO O CONTEÚDO
15
3. A não conviência com as alteridades gerou relações de discriminação, hierarquização, 
classificação, racismo, preconceito, homicídio, violência e a subjugação de grupos culturais 
diferentes. Realidade que poderia ter sido diferente se o dito “civilizado” não tivesse se 
colocado como o modelo de homem a ser seguido e interpretado as diversidades culturais 
como algo inerente do humano. 
Sendo assim,das alternativas abaixo, marque a opção que foi exemplo da subjugação das 
comunidades indígenas.
a) O homem branco europeu em terras brasileiras rompeu com o determinismo biológico, 
defendeu que não há raças na espécie humana, e, portanto, não há superiores e inferiores. 
Do mesmo modo, as diferenças entre os sexos não explicam aptidões diferenciais entre 
homens e mulheres. 
b) Vários grupos indígenas foram escravizados e mortos na América, em nome de um 
modelo universalista do homem branco, cristão e ocidental, como dominante e superior. 
Cenário que explica o nãoreconhecimento do direito dos povos indígenas, considerados 
como objetos vivos e explorados como mão de obra escravizada.
c) No processo de colonização da América o colonizador defendeu que não há homens 
sem culturas. Uma vez que considerou todas as culturas como entidades iguais, por isso, 
jamais estabeleceu hierarquias no que se refere à existência de sociedades superiores e 
inferiores.
d) Os ditos “civilizados” sempre foram capazes de compreender universalmente o 
significado profundo dos elos que ligam o mundo em escala global. Por isso, suas histórias 
marcadas pela valorização das alteridades.
e) As ações do colonizador no continente americano contribuíram com a construção de 
uma representação positiva em relação às alteridades. Visão que se cristalizou no campo 
das mentalidades e integrou os grupos culturais presentes na humanidade. 
4. O termo Antropologia (anthropus, homem; logos, estudo), signifca o estudo do homem 
na sua totalidade. Seu objeto de análise são as culturas humanas e suas especificidades. 
Sobre o objeto de estudo da Antropologia, marque a alternativa correta.
a) A Antropologia tem o homem e suas culturas em sua completude. Por isso,é considerada 
uma ciência do homem, das ações, dos registros e memórias que são (re)construídas ao 
longo do processo histórico.
b) A Antropologia entende que a cultura é sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de 
educação no sentido restrito do termo. Quer dizer, quando falamos que “Maria não tem 
cultura” e que “João é culto” estamos nos referindo a um certo estado educacional destas 
pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de compreender ou organizar certos 
dados e situações.
c) Para a Antropologia a cultura é equivalente ao volume de leituras, ao controle de 
informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundida com inteligência, 
sendo a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a 
inteligência), como se fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma 
pessoa leu e as línguas que pode falar.
d) Segundo a teoria antropológica a cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas 
e, às vezes, grupos sociais, servindo como uma arma discriminatória contra algum sexo, 
16
idade, etnia ou mesmo sociedades inteiras,quando se diz que “os franceses são cultos e 
civilizados” em oposição aos americanos que são “ignorantes e grosseiros”.
e) Para a Antropologia a cultura não é um conceito chave para a interpretação da vida social. 
Porque ‘’cultura” é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de “civilização.
5. O Iluminismo foi um movimento filósofico que surgiu na Europa no século XVIII e 
rompeu com a visão ______________________________________, sendo um período que se 
construiu uma nova visão: do homem, das culturas, da sociedade, além da propagação de 
ideias e representações atreladas ao racionalismo científico. Das opções abaixo, escolha a 
alternativa correta e complete a frase.
a) Antropocentrica e teocêntrista.
b) Teocêntrica e teológica judaico-cristã.
c) Eurocentrista e teológica judaico-cristã.
d) Oculacentrista e teocêntrista.
e) Etnocentrista e teocêntrista.
6. No final do seculo XIX e início do século XX a Antropologia passou por um rigoroso processo 
de ressignificação conceitual e metodologica. O trabalho do ____________________________: 
os Argonautas do Pacífico Ocidental foi preponderante. Já que ele foi a campo interpretar 
a cultura dos Trombiandeses na Nova Guiné. Complete a lacuna com a opção correta.
a) Antropólogo Bronislaw Malinowski.
b) Evans – Pritchard.
c)Roberto da Matta.
d) Lévi – Strauss.
e) Clifford Geertz.
7. Sobre a institucionalização da Antropologia é correto afirmar que:
a) A Antropologia sendo ciência da humanidade e da cultura não passou a ter um campo 
de investigação ampliado para interpretar as culturas humanas.
b) Não representou uma mudança de perspectiva no que se refere ao humano, ou seja, “o 
homem deixa de ser o sujeito transcendental da filosofia metafísica para tornar-se objeto 
de investigação científica”.
c) Foi um divisor de águas no debate sobre a concepção de homem e de sua condição 
enquanto agente construtor do processo histórico. 
d) Desconsiderou o estudo do homem a patir da sua totalidade, ou seja, o homem não era 
visto como um ser pensante, produtor de culturas e atuante na sociedade.
e) Desconsiderou as representações das alteridades e o sentido humano das diversas 
experiênciais, (re)contruídas nas relações cotidianas.
8. Ao contrário do Iluminismo o ____________________ teve por objetivo o estudo das 
coletividades e das emoções humanas. Nasceu na Alemanha entre o final do século 
XVII e meados do século XIX. É uma corrente que se opôs aos princípios defendidos pelo 
Iluminismo: universalidade, objetividade e racionalidade. Nesse processo apresentou um 
novo modo de pensar as relações humanas, já que explorou os conflitos, as contradições e 
17
valorizou modos de vida da vida comum.
 Complete a frase com a opção correta.
a) Positivismo.
b) Romantismo.
c) Evolucionismo.
d) Determinismo biológico.
e) Marxismo.
18
A ANTROPOLOGIA, A CULTURA 
E O HOMEM 
UNIDADE
02
19
2.1 A CULTURA E A HISTÓRIA 
 A História é uma ciência que permite a reconstrução das culturas a partir dos regis-
tros deixados pelos homens ao longo do processo histórico. Na história da humanidade o 
homem sempre teve curiosidade de si mesmo, bem como de tudo que esteve à sua volta. 
Nesse processo o ser humano observou e registrou costumes e vivênciais (re)construídos 
pelas culturas. 
 No período clássico os gregos reuniram informações de diversas culturas. Assim nas-
ce a Antropologia do século V a.c com a figura de Herodóto, pai da História. Ele registrou, 
sistematicamente, as marcas e memóriais dos grupos culturais. Ademais até o século XVIII 
a Antropologia passou por um processo tímido de desenvolvimento. Assim as contribui-
ções dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes foram preponderantes 
(MARCONI; PRESOTTO, 1985).
 Marconi e Presotto(1985, p. 31)explicam que:
A partir de meados do século XVIII, a Antropologia 
passa a adquirir sua categoria de ciência, quando 
Lineu, ao classificar os animais, relaciona o homem 
entre primatas. Foi um dos primeiros a descrever as 
raças humanas. No século XIX, à medida que os fós-
seis humanos e os restos arqueológicos foram des-
cobertos, a Antropologia progrediu cada vez mais. 
Na década de 1840, o investigador francêsBoucher 
de Perthes, pela primeira vez, refere – se ao homem 
pré – histórico, baseado em seus achados (utensílios 
de pedra) de idade bastante recuada. John Lubock 
recompilou dados exisentes sobre a Cultura da Ida-
de da Pedra e estabeleceu as diferentes culturas do 
Paleolítico e Neolítico.
 A sistematização da Antropologia como ciência ocorreu com os estudos de Char-
les Darwin através da teoria da evolucão e com suas obras: Origem das espécies (1859) e 
A descendência do homem (1871). Nesse processo a Antropologia Física ganha força e se 
desenvolveu a partir dos trabalhos dos seguintes antropólogos: Tylor, Morgan, Bachofen, 
Maine e Bastian (MARCONI; PRESOTTO, 1985).
 A teoria evolucionista sofreu várias críticas, haja vista que era uma teoria que defen-
dia a existência de uma lei universal e natural do humano. Assim, os estudiosos que defen-
diam essa teoria avaliavam os costumes e modos de vida do homem através de valores 
considerados padrões a serem seguidos, ou seja, superiores. Nessa perspectiva o conceito 
de cultura se confundia com o conceito de civilização, devido à interpretação do humano 
ocorrer a partir do princípio da universalidade. As palavras de Lopes e Arnaut(2008)são es-
clarecedoras, pois explicam que: 
A dificuldade de entender e identificar o “outro” 
produziu leituras que tentavam interpretar o desco-
nhecido segundo códigos europeus, em sua maio-
ria cristãos. [...]a vastidão do território dificultou 
20
muito a sua penetração, pois a África tem aproxima-
damente trinta mil quilômetros quadrados de área 
e apenas vinte e oito mil e quinhentos quilômetros 
de costa, o que significa que a área do continente 
é três vezes maior do que a da Europa; [...], a exten-
são de sua costa é três vezes menor. As dificulda-
des, fabulações e o desinteresse fizeram com que 
o investimento num conhecimento organizado ra-
cionalmente viesse apenas com a necessidade de 
colonizar e demarcar territórios durante o expan-
sionismo europeu a partir do final do século XVII. 
No entanto, a África foi, e em certa medida ainda 
é, qualificada como uma unidade selvagem, pobre 
e inculta. Ao que parece, a perspectiva de Hegel de 
que “os povos negros são incapazes de se desenvol-
ver e receber uma educação” ainda prevalece(LO-
PES; ARNAUT, 2008, p. 13-14).
 O desafio é a construção de uma leitura do humano em suas dimensões: identitá-
rias, sociais e culturais. Por isso, a necessidade de ampliar os horizontes de análises e as 
diferentes fontes de estudo como as memórias, o cotidiano e as cultura. Sendo a busca 
pela valorização da pluralidade humana para além da lei universal. Hoje os estudiosos das 
culturas buscam estudar o homem e seus códigos a partir das suas alteridades, sendo um 
outro tratamento e leitura no que se refere às diversidades.
 Fato é que o desenvolvimento da Antropologia no século XX é reflexo dos estudos 
anteriores. E um fator preponderante nesse processo foi o trabalho de campo nos cotidia-
nos das culturas analisadas. Método que permitiu uma análise mais ampliada das comple-
xas tramas de “relações totais” presentes nas culturas humanas. 
O livro“Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo”de Pietra-
Diwan(2007) aborda o contexto histórico sobre “pureza” e sua relação com a socie-
dade atual que busca a perfeição a qualquer custo. 
Disponível em: https://bit.ly/3sB2I0YAcesso em: 30 de mar. de 2021.
BUSQUE POR MAIS
 A Antropologia tem como problema de estudo a cultura como tradução do conjunto 
dos comportamentos, saberes e memórias, adquiridos através das vivências e aprendiza-
gens dos grupos humanos de uma determinada sociedade. Sendo valores adquiridos e 
transmitidos através de longos processos de interação (LAPLATINE, 2009). 
 Diz o francês Laplantine(2009, p. 12-13):
2.2 A CULTURA E A EDUCAÇÃO
 https://bit.ly/3sB2I0YA
21
A antropologia não é apenas o estudo de tudo que com-
põe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as socieda-
des humanas (a nossa inclusive), ou seja, das culturas 
da humanidade como um todo em suas diversidades 
históricas e geográficas. Visando constituir os” arquivos 
“da humanidade em suas diferenças significativas, ela, 
inicialmente privilegiou claramente as áreas de civiliza-
ção exteriores à nossa. Mas a antropologia não poderia 
ser definida por um objeto empírico qualquer (e, em es-
pecial, pelo tipo de sociedade ao qual ela a princípio se 
dedicou preferencialmente ou mesmo exclusivamente). 
Se seu campo de observação consistisse no estudo das 
sociedades preservadas do contato com o Ocidente, ela 
se encontraria hoje, como já comentamos, sem objeto. 
[...] Aos poucos, notamos que o menor dos nossos com-
portamentos (gestos, m´mimicas, posturas, reações afe-
tivas) não tem realmente nada de ”natural”. Começamos, 
então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a 
nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológi-
co) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhe-
cimento das outras culturas; e devemos especialmente 
reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas 
outras, mas não a única.
 E tendo em vista asbarreiras dadas pelas fronteiras e espaços temporais que defi-
nem os limites entre “eu” e “outro” é preciso considerar que os “horizontes limitados” das 
pessoas mantêm entre si uma relação de ligação e sobreposição. Assim, o fato de saber-
mos que visões são parciais não diminui a importância de se entender as realidades que os 
atores sociais (re)constroem ao longo da vida. A tarefa do Antropólogo é interpretar, anali-
sar e compreender como esse processo ocorre e adquire visibilidade e plasticidade. 
 Gomes e Silva (2002, p. 22-23)explicam que:
A sociedade brasileira é pluriétnica. Alunos, professores 
e funcionários de estabelecimentos de ensino são, an-
tes de mais nada, sujeitos sociais – homens e mulheres, 
crianças, adolescentes, jovens e adultos, pertencentes 
a diferentes grupos étnico – raciais, integrantes de dis-
tintos grupos sociais. São sujeitos com histórias de vida, 
representações, experiências, identidades, crenças, valo-
res e costumes próprios que impregnam os ambientes 
educacionais por onde transitam com suas particulari-
dades e semelhanças, compondo o contexto da diversi-
dade. Por isso ao planejar, desencadear e avaliar proces-
sos educativos e formadores, não podemos considerar a 
diferença como um estigma. Ela é, sim, mais um cons-
tituinte do nosso processo de humanização. Por meio 
dela, nós nos tornamos partícipes do complexo processo 
da formação humana.
22
 Por isso, a construção de uma educação pluricultural sem reproduções de padrões 
estereotipados e exclusões é a chave fundamental de combate às desigualdades e o al-
cance para o exercício da alteridade. Haja vista que a educação como fato da cultura e em 
constante diálogo com a cultura permitirá a construção de um conhecimento democráti-
co e que chegue a todos os atores sociais. A escola é lugar de construção do conhecimento 
e, também, o lugar de construção de identidades, valores e afetos. Desta forma, o sistema 
de ensino não pode se silenciar diante dessa adversidade das questões culturais.
 É na dimensão da cultura que compreendemos as práticas humanas enquanto prá-
ticas significativas viabilizando, assim, diferentes formas de interpretação da experiência 
humana. A relativização dos saberes e a conexão entre os diversos saberes somente são 
possíveis em razão das experiências vividas entre sujeitos de cultura e a partir da integra-
ção no mundo e na cultura de cada um deles, seja de raça, gênero, escolha sexual, idade 
etc. É necessário que o processo educacional estabeleça diálogos com as realidades cultu-
rais, (GOMES; SILVA, 2002).
 Tosta (1998, p. 15)explica que:
Saberes comuns a um ou mais ramos do conheci-
mento, têm sido colocados como dimensão neces-
sária a qualquer projeto pedagógico que se queira 
implementar visando alcançar avanços em termos 
teóricos e práticos em todos os campos. Dessa for-
ma, os encontros disciplinares têm sido tema cons-
tantes debates por pesquisadores de diversas mati-
zes. E a ciência antropológica acaba se constituindo 
na esfera mais privilegiada e que mais possibilida-
des oferecem para o aprofundamento desses deba-
tes, por sua reconhecida capacidade de privilegiar e 
bem abordar a cultura como dimensão fundadora 
da sociedade e, historicamente, tomar como objeto 
de estudo o homem.
 E nesse processo o diálogo da educação com a cultura é essencial. Haja vista que as 
instituições escolares precisam fomentar o diálogo da educação com as culturas. Cultura 
compreendida, conforme teoriza Geertz (2012), como uma teia de significados, linguagens, 
códigos (re)construídos pelos atores sociais ao longo da vida. 
 Fato é que uma educação à favor da pluralidade cultural demanda de todos os ato-
res envolvidos no cenário educacional a consciência de que as práticas educativas não 
podem ser um veículo de dominação e regulação. Escolarizar crianças, jovens e adultos 
exige ações educacionais que permitam que os atores sociais construam reflexão críticas 
das relações humanas. Assim, será possível a desconstrução e problematização das visões 
distorcidas das culturas e das histórias. 
 Dayrell(2001, p. 127)estabelece que a educação:
[...] portanto, ocorre nos mais diferentes espaços e si-
tuações sociais, num complexo de experiências, re-
lações e atividade, cujos limites estão afixados pela 
estrutura material e simbólica da sociedade, em de-
terminado momento histórico. Nesse campo edu-
cativo amplo estão incluídas as instituições (família, 
23
escola, igreja etc.), assim como também o cotidiano 
difuso do trabalho, do bairro, do lazer etc.
 Segundo Geertz(2012)a cultura pode ser entendida como um princípio que oferece 
ao homem as condições necessárias para construir-se e representar-se historicamente.
Ademais, a cultura diz respeito ao humano em sua totalidade sem nenhuma distinção.
 Nesse sentido, a cultura é uma construção humana que se efetua e se faz explíci-
ta a partir do conhecimento produzido socialmente pela experiência humana, na relação 
dialética homem-natureza e na tentativa histórica de compreender os contextos físicos e 
espirituais em que se dão as relações e realizações humanas particulares. Por isto mesmo, 
quando falamos de cultura estamos sempre operando com o conceito no plural – culturas 
(GEERTZ, 2012).
A alteridade revela-se no fato de que o que eu sou e o outro é não se faz de modo linear e 
único, porém, constitui jogo de imagens múltiplo e diverso. Saber o que eu sou e o que o ou-
tro é depende de quem eu sou, do que acredito que sou, com quem vivo e por quê. Depende 
também das considerações que o outro tem sobre isso, a respeito de sim mesmo, pois é nesse 
processo que cada um se faz pessoa e sujeito, membro de um grupo, de uma cultura e uma 
sociedade. Depende também do lugar a partir do qual nós nos olhamos. Trata-se de proces-
sos decorrentes de contextos cuturais que nos formam e informam, deles resultando nossa 
compreensão de mundo e nossas práticas frente ao igual e ao diferente(GUSMÃO, 2003, p. 
87).
FIQUE ATENTO
2.3 A EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA NA COMPREENSÃO
 DAS ALTERIDADES
 A Etnografia (ethnos, povo: graphein, escrever) consiste na descrição densa das cul-
turas. Sendo a observação e análise dos grupos humanos em suas particularidades de 
modo a reconstituir um registro fiel da vida dos mesmos. 
 Segundo Marconi e Presotto(1985, p. 26):
O etnógrafo é o especiaista dedicado ao conheci-
mento exaustivo da cultura material e imaterial dos 
grupos. Observa e descreve, analisa e reconstitui 
culturas. Trata - se de um investigador de campo 
dedicado à coleta do material referente a todos os 
aspectos culturais passíveis de serem observados e 
descritos – primeiro passo da pesquisa antropoló-
gica. Relaciona – se intimamente com a Etnologia, 
de tal forms que o pesquisador deve ser, ao mesmo 
tempo, etnógrafo e etnólogo.
 A prática etnográfica é fundamental paraa compreensão mais ampliada das alteri-
dades. Por isso, exige do pesquisador uma ressignificação dos sentidos, dos saberes e de 
tudo que é interpretado como condição humana. Nesse processo a pesquisa de campo, 
24
compreendida como um rital de passagem, objetiva a apreensão das práticas culturais, 
para identificar como os atores de culturas se acomodam, revelam e modificam, a partir 
do contexto vivenciado com seus pares e suas respectivas percepções. 
 Para Geertz(2012, p. 7):
A etnografia é uma descrição densa. O que o etnó-
grafo enfrenta, de fato – a não ser quando (como 
deve fazer, naturalamente ) está seguindo as rotinas 
mais automizadas de coletar dados – é uma mul-
tiplicidade de estruturas conceptuais complexas, 
muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às 
outras, que são simultaneamente estranhas, irre-
gulares e inexplícitas, e que ele tem de, de alguma 
forma, primeiro apreender e depois apresentar. E 
isso é verdade em todos os níveis de atividade do 
seu trabalho de campo, mesmo o mais rotimeiro: 
entrevistar informantes, observar rituais, deduzir os 
termos ,parentesco, traçarr as linhas de proprieda-
de, fazer o censodoméstico ... escrever seu diário. 
Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido 
de “construir uuma leitura de”) um manuscrito es-
tranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, 
emendas suspeitas e comentários tendenciosos, 
escrito não como os sinais convencionais do som, 
mas com exemplos transitórios de comportamento 
modelado.
 Por isso, o ofício de antropólogo é uma condição inerente às práticas de todos os 
profissionais comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. 
Nesse sentido, indiscutivelmente, as instituições de ensino, sejam elas da educação básica, 
públicas ou privadas, bem como do ensino superior, precisam assumir o compromisso em 
oferecerreflexões, debates e saberes que contribuam, substancialmente, com a emancipa-
ção humana de forma integral. 
 Nesse processo, conforme defende Oliveira (2000) é fundamental a reflexão no que 
se refere a três condições preponderantes no contato com o “outro”, sendo: o olhar, o ouvir 
e o escrever.
 Tanto o olhar , quanto o ouvir são condições (re)elaboradas no trabalho de campo, a 
partir das vivenciais do pesquisador com os atores de culturas. Assim, o escrever é reflexo 
das percepções internalizadas pelo pesquisador, em diálogo com essas duas faculdades 
cognitivas.
O Olhar, o Ouvir e o Escrever antropológicos, [...] 
está presente em toda e qualquer escrita no interior 
das ciências sociais. Mas no que tange à Antropolo-
gia, como procurei mostrar, esses atos estão previa-
mente comprometidos com o próprio horizonte da 
disciplina, onde Olhar, Ouvir e Escrever estão des-
de sempre sintonizados com o “sistema de idéias 
25
e valores” que são próprios dela. O quadro concei-
tual da antropologia abriga, nesse sentido, idéias e 
valores de difícil separação. [...] unindo assim, numa 
única expressão, idéias que possuam uma carga va-
lorativa extremamente grande. Trazendo essa ques-
tão para a prática da disciplina, diríamos que pelo 
menos duas dessas “idéias - valor” marcam o fazer 
antropológico: “a observação participante” e a “rela-
tivização”. [...] o relativizar é constituinte do próprio 
conhecimento antropológico. Pessoalmente, enten-
do aqui por relativizar uma atitude epistêmica, emi-
nentemente antropológica, graças à qual o pesqui-
sador logra escapar da ameaça do etnocentrismo 
- essa forma habitual de ver o mundo que circunda 
o leigo, cuja maneira de olhar e de ouvir não foi dis-
ciplinada pela antropologia. E se poderia estender 
isso ao Escrever na medida em que [...] o Escrever 
etnografia é uma continuação do confronto” inter-
cultural, portanto entre pesquisador e pesquisado. 
Por conseguinte, uma continuidade do Olhar e do 
Ouvir no Escrever, este último igualmente marcado 
pela atitude relativista(OLIVEIRA, 2000, p. 29-30).
 Assim,a Antropologia em diálogo com a educação viabiliza o debate, a reflexão e a 
intervenção que poderão acolher desde o contexto da aprendizagem, a diversidade cultu-
ral em sua totalidade. Haja vista que a Antropologia como ciência, em particular como ci-
ência aplicada, nospermite compreender a complexidade do universo das diferenças, bem 
como das práticas educativas nele imersas.
 Segundo Gusmão (2003, p. 83):
A alteridade revela-se no fato de que o que eu sou e 
o outro é não se faz de modo linear e único, porém 
constitui um jogo de imagens múltiplo e diverso. 
Saber o que eu sou e o que o outro é depende de 
quem eu sou, do que acredito que sou, com quem 
vivo e por quê. Depende também das considerações 
que o outro tem sobre isso, a respeito de si mesmo, 
pois é nesse processo que cada um se faz pessoa 
e sujeito, membro de um grupo, de uma cultura e 
uma sociedade. Depende também do lugar a partir 
do qual nós nos olhamos. Trata-se de processos de-
correntes de contextos culturais que no formam e 
informam, deles resultando nossa compreensão de 
mundo e nossas práticas frente ao igual e ao dife-
rente.
26
 A pesquisa de campo é primordial, haja vista que a experiência etnográfica repre-
senta uma oportunidade única na compreensão do “outro”. Processo que exige do pes-
quisador certo esforço constante de estranhamento além da conjugação do universal com 
o particular na análise cultural e do “outro” (ator pesquisado) a experiência etnográfica 
permite uma “fusão de horizontes” a partir do ponto de vista do nativo e do pesquisador 
(ROCHA; TOSTA, 2009).
No texto “Antes o mundo não existia”, Ailton Krenak(1992) defende a seguinte questão:
Um intelectual, na tradição indígena, não tem tantas respon-
sabilidades institucionais, assim tão diversas, mas ele tem 
uma responsabilidade permanente que é estar no meio do seu 
povo, narrando a sua história, com seu grupo, suas famílias, os 
clãs, o sentido permanente dessa herança cultural (KRENAC, 
1992, p. 201). 
Comente o trecho destacado e explique como você o compreendeu. De que modos tal afirma-
ção permite refletir sobre a importância de um currículo escolar que valorize a pluriculturali-
dade de saberes e os valores culturais presentes na sociedade brasileira?
VAMOS PENSAR?
27
1. (MPF/PARANÁ - adaptado) Sobre a importância das metodologias de pesquisa que 
caracterizam a pesquisa antropológica, em especial o trabalho de campo, assinale a 
alternativa que explica a sua relevância no campo das pesquisas antropológicas.
a) O trabalho de campo e a observação participante foram fundamentais para compreender 
as diversidades culturais. 
b) Provavelmente o maior defensor da observação participante, embora não a tenha 
experimentado na prática, foi Malinowski.
c) O trabalho de campo não é uma das características do trabalho do Antropólogo.
d) Uma das características da forma como se faz trabalho de campoé a imersão em períodos 
de tempo curtos na cultura analisada.
e) A observação participante inviabiliza o trabalho do Antropólogo, pois não permite o 
registro das culturas vivenciadas pelo grupo pesquisado. 
2. A experiência etnográfica constitui-se em um momento privilegiado no que tange à 
compreensão das verdades e da produção do conhecimento social. Além do mais, o trabalho 
de campo entendido como um “rito de passagem” exige uma reeducação dos sentidos, 
articulada a uma atitude fenomenológica do conhecimento. Das opções abaixo,qual 
alternativa se refere as três faculdades primordiais no trabalho do antropólogo conforme 
explica Oliveira (2000).
a) Olhar, ouvir e registraro olhar.
b) Descrever, ouvir e analisar.
c) Olhar, ouvir e escrever.
d) Etnografar, registrar e cataligar.
e) Descrever, detalhar e registrar.
3. _______________________. O que o etnógrafo enfrenta, de fato, a não ser quando (como 
deve fazer, naturalmente ) está seguindo as rotinas mais automizadas de coletar dados, é 
uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou 
amarradas umas às outras que são, simultaneamente, estranhas, irregulares e inexplícitas 
e que ele tem de alguma forma primeiro apreender e depois apresentar.
Complete a frase com a opção correta.
a) A etnografia é uma descrição densa.
b) A história é uma descrição densa.
c) A antropologia é uma descrição densa.
d) A etnologia é uma descrição densa
e) A sociologia é uma descrição densa. 
4. (MPF/PARANÁ - adaptado) A experiência etnográfica representa uma oportunidade 
única na compreensão do “outro”. Sobre essa afirmação, assinale a opção que explica a 
FIXANDO O CONTEÚDO
28
importância da experiência etnografica no ofício do Antropólogo.
a) A imersão no campo e o diálogo entre História e teoria são as características principais 
da experiência etnográfica.
b) A experiência etnografica compõe um sistemas de valores que não perpassa todos os 
aspectos dos grupos culturais.
c) A pesquisa de campo objetiva a apreensão das práticas culturais, para identificar como 
as culturas se acomodam, revelam e modificam a partir do contexto vivenciado pelos 
atores sociais e suas respectivas percepções.
d) A pesquisa de campo não condiciona diretamente o trabalho do antropólogo.
e) A Antropologia de gabineteé que permite uma análise densa das alteridades.
5. _________________________, em particular como ciência aplicada, nospermite 
compreender a complexidade do universo das diferenças, bem como das práticas 
educativas nele imersas.
Das opções que seguem, complete a frase com a opção correta.
a) A Antropologia como ciência
b) A Sociologia como ciência
c) A História como ciência
d) A Etnologia como ciência
e) A Arqueologia como ciência
6. Classifique as informações sobre o ofício do Etnógrafo com V (verdadeiro) e F (Falso).
( ) O etnógrafo é o especialista dedicado ao conhecimento da cultura dos grupos analisados.
( ) O etnógrafo observa e descreve, analisa e reconstitui culturas.
( ) O etnógrafo é um investigador de campo, dedicado à coleta do material referente a 
todos os aspectos culturais passíveis de serem observados e descritos.
( ) Não relaciona-se intimamente com as culturas e suas alteridades.
a) V – V – V – V.
b) F – V – V –F.
c) F – F – F – F.
d) V- V- F – V.
e) V – V- V – F.
7. Sobre o “ Trabalho do Antropólogo”, Oliveira (1993) explica sobre a importância de:
 [...] alguns problemas que comumente passam despercebidos, não apenas para o jovem 
pesquisador, mas, multas vezes, para o profissional maduro, quando não se debruça para as questões 
epistemológicas que condicionam as investigações empíricas, tanto quanto a construção do texto 
resultante da pesquisa. Desejo, assim, chamar atenção para três maneiras - melhor diria três etapas 
– de apreensão dos fenômenos sociais, tematizando-as - o que significa dizer: questionando- as - 
como algo merecedor de nossa reflexão no exercício da pesquisa e da produção de conhecimento. 
Tentarei mostrar como o olhar o ouvir e o escrever podem ser questionados em si mesmos, embora, 
em um primeiro momento, possam nos parecer tão familiares e, por isso, tão triviais, a ponto de 
29
sentirmo-nos dispensados de problematizá-los; todavia, em um segundo momento - marcado por 
nossa inserção nas ciências sociais -, essas “faculdades” ou, melhor dizendo, esses atos cognitivos 
delas decorrentes assumem um sentido todo particular, de natureza epistêmica, uma vez que é 
com tais atos que logramos construir nosso saber. Assim procurarei indicar que enquanto no olhar 
e no ouvir “disciplinados” - a saber, disciplinados pela disciplina - realiza-se nossa percepção, será 
no escrever que o nosso pensamento exercitar-se-á da forma mais cabal, como produtor de um 
discurso que seja tão criativo como próprio das ciências voltadas à construção da teoria social. 
(OLIVEIRA, 2000, p. 18).
Sendo assim, marque a opção correta sobre o trabalho do antropólogo:
a) Somente o ato de escrever que permite ao pesquisador interpretar a cultura do outro e 
suas especificidades.
b) Apenas o falar permite ao pesquisador interpretar a cultura do outro, a partir de sua 
lógica interna de realização e expressão. 
c) O olhar e o ouvir permitem ao pesquisador interpretar a cultura do outro a partir de sua 
lógica interna de realização e expressão. 
d) Os atos de olhar, ouvir e escrever permitem ao pesquisador interpretar a cultura do 
outro a partir de sua lógica interna de realização e expressão.
e) O ato de registrar é magistral na ofício do antropólogo, já que a antropologia é uma 
ciência da descrição densa. 
8. Na contemporaneidade, ante a experiências que diversos campos do saber têm nos 
apresentado, dentre eles a antropologia, é inevitável reconhecer que as escolas se compõem 
de realidades experimentadas e vividas que se fazem e se refazem continuamente por 
meio de processos culturais que engendram a vida humana em seu interior (GUSMÃO, 
1997).
Sobre as contribuições da antropologia na educação, marque a alternativa correta.
I. Reconhece a escola enquanto um espaço sociocultural que não está isolado da vida social 
e que, dentre outros aspectos, seu interior é perpassado e constituído por diferentes atores, 
de diferentes culturas, com diversos saberes e múltiplas formas de ver e experimentar o 
mundo. 
II. Trata-se de examinar, por exemplo, como os(as) professores(as) se constroem enquanto tais, 
conhecer suas vivências dentro e fora do ambiente educacional, suas expectativas, medos e 
anseios, a fim de trazer novos elementos sobre quem são, o que pensam e como vivenciam 
sua profissão, os modos que experimentam suas interações com o conhecimento, com seus 
pares, os alunos e a instituição escolar.
III. Indica a necessidadede compreender os lugares dos sujeitos na dinâmica educacional que 
constitui as escolas e outros espaços de formação, sendo imprescindível se ouvir e reconhecer 
as diferentes vozes, sentidos, saberes, valores e comportamentos que engendram suas 
práticas, suas percepções e as representações que fazem parte da educação escolar.
IV. As escolas são iguais, visto que possuem culturas particulares, com sistemas de classificação 
e produção de simbologias próprios, constituídas de sujeitos plurais, com distintas formas 
de sociabilidades e rituais que compõem seu cotidiano, como também diferentes modos 
de hierarquizar seus agentes na construção suas práticas.
30
Dentre as alternativas, estão corretas.
a) Todas.
b) Nenhuma. 
c) Apenas I, II e III 
d) Apenas I, III, e IV.
e) Apenas I.
31
INTERCULTURALISMO E 
MULTICULTURALISMO 
UNIDADE
03
32
3.1 DIVERSIDADE, IGUALDADE E DIFERENÇA
 A Antropologia é a ciência que oferece as condições necessárias para pensar o ho-
mem e suas relações cotidianas a partir do exercício da alteridade, ou seja, parafraseando 
Gusmão (2003)a Antropologia é uma ciência que considera as especificidades das diver-
sidades culturais que são (re)construídas ao longo do processo histórico. Assim o saber 
antropológico permite a reflexão dos mecanismos de formação identitárias perante socie-
dades multiculturais, como no caso da sociedade brasileira.
 Ademais:
A tendência a homogeneizar, própria das socieda-
des plurais, e permanentemente contrariada pelo 
renascimento das singularidades e especificidades, 
aponta para o que de fato somos: múltiplos e diver-
sos, mas nem por isso desiguais. É nesse contexto 
que a Antropologia como ciência busca avaliar o 
social e proporcionar alternativas de intervenção na 
realidade de modo a que as diferenças não sejam 
negadas. Ao evidenciar as relações sociais entre dife-
rentes como parte de um contexto de poder social-
mente construído, a Antropologia possibilita a com-
preensão do campo de tensão em que as prpáticas 
sociais e, principalmente, as educativas operam e 
permite a emergência de um processo reflexivo ca-
paz de consubstanciar uma pedagogia plenamente 
emancipatória e plural(GUSMÃO, 2003, p. 06-07).
 Por isso a importância do debate sobre: Diversidade, Igualdade e Diferença. Termos 
que oferecem uma compreensão mais ampliada do humano e de suas representações no 
cenário social. 
 Segundo Barros (2008, p. 18-19):
A Diversidade Cultural é diversa, ou seja, não se 
constitui como um mosaico harmônico, mas um 
conjunto de opostos, divergentes e contraditórios. 
A Diversidade Cultural é cultural e não natural, ou 
seja, resulta das trocas entre sujeitos, grupos sociais 
e instituições a partir de suas diferenças, mas tam-
bém de suas desigualdades, tensões e conflitos. A 
Diversidade Cultural se apresenta, portanto, como 
uma resposta, uma procura deliberada, e não ape-
nas uma constatação antropológica. É o resultado 
de uma construção deliberada, e não apenas um 
pressuposto, um ponto de partida. Um projeto, e 
não apenas um inventário.
 Corroborando com Gomes (2002)a diversidade é uma condição do humano. Haja 
vista que somos homens e mulheres que (re)construímos nossas identidades, a partir das 
relações sociais, históricas e culturais, condições que somadas nos fazem diferentes. Nesse 
33
sentido a sociedade precisa pensar sobre o trato em relação às diferentes presenças exis-
tentes nos diversos espaços sociais.
 Para mais, Silva (2011, p. 14)explica:
A abordagem da diversidade cultural na escola se 
realiza, portanto, a partirdo encontro de nossos va-
lores simbólicos, sociais, econômicos, culturais e do 
outro, (criança, adolescente, jovem, adulto e idoso), 
o diferente. Por fazer parte de uma construção só-
cio-histórica imersa na cultura, tratando-se especifi-
camente da diversidade étnico-racial, torna-se cada 
vez mais necessária a revisão de determinados pa-
drões éticos, estéticos e formativos.
 O reconhecimento das diversidades, sejam elas: sociais, raciais, culturais e econômi-
cas oferecem as condições necessárias para rever o pensamento hegêmonico, construído 
a partir da propogação de uma história única que de uma forma cruel , excluiu e ainda 
exclui cidadãos considerados outsiders, como no caso dos cidadãos: negros, indígenas, po-
bres, mulheres, idosos, homosexuaisetc(SILVA, 2011).
 Para ampliar esse debate, convém uma análise do termo diferença. Nesse sentido, 
as palavras defendidas por Hofbauer (2011)permitem a construção de uma compreensão 
mais ampliada do termo diferença:
É lícito afirmar que todas as sociedades reconhe-
cem diferenças de diversas ordens (peculiaridades 
físico fenotípicas, (des)habilidades especiais, dife-
renças em termos de idade e gênero, assim como 
de status, de poder etc.) e possuem noções de jus-
tiça ancoradas em determinadas concepções do 
mundo (em forma de cosmologias e/ou ideologias). 
Quais diferenças são vistas como justas e quais 
como injustas frequentemente varia, porém, entre 
as sociedades. E existem, evidentemente, também 
disputas internas a respeito de tais avaliações. Ge-
ralmente há, no entanto, algumas concepções que 
se impõem como discursos hegemônicos e que 
buscam explicar e justificar certas diferenças como 
benignas para a coesão e a integridade do corpo so-
cial, bem como condenar outras como socialmente 
malignas ou imorais, que podem vir a ser identifica-
das e reprovadas como “desigualdade” (HOFBAUER, 
2011, p. 71-72)
 Por isso, o desafio são ações do poder público, movimentos sociais, intelectuais e da 
sociedade civil em prol do direito à diferença. A proposta é que essas ações enxerguem o 
outro em suas alteridades, ou eja, nas suas semelhhanças e diferenças. Olhar que não pode 
ser preconceituso, discriminatório e livre de crenças pautadas em um único padrão de ser 
gente. Haja vista que a tão perversa padronização cria um compreensão das diferenças 
como: desvio, patologia, anormalidade, deficiência, defasagem, entre outros conceitos que 
34
segregam, humilham e em alguns casos até matam(GOMES, 2011).
 Outrossim, explica a Antropóloga: 
O trato desigual das diferenças produz práticas in-
tolerantes, arrogantes e autoritárias. E essa postura 
está longe do tipo de educação que os profissionais 
de educação vêm defendendo ao longo dos anos. 
A escola possui a vantagem de ser uma das insti-
tuições sociais em que é possível o encontro das 
diferentes presenças. Ela é também um espaço so-
ciocultural marcado por símbolos, rituais, crenças, 
culturas e valores diversos. Essas possibilidades do 
espaço educativo escolar precisam ser vistas na sua 
riqueza, no seu fascínio. Sendo assim, a questão da 
diversidade cultural na escola deveria ser vista no 
que de mais fascinante ela proporciona às relações 
humanas (GOMES, 2011, p. 3).
 É urgente que as aprendizagens dos valores culturais que constituem as identida-
des do outro não sejam construídas de forma hierárquizada, homogênea e classificatória. 
Mas sim, a partir de um processo intercultural e dialógico(SILVA, 2011).
 Em outros termos, é preciso “ [...] repensar as relações étnico- raciais, sociais, econô-
micas, políticas, pedagógicas e culturais na sociedade de maneira sensível, investigativa e 
responsável” (SILVA, 2011, p. 21).
 Além do mais em uma socidade multicultural como no caso da brasileira, é urgen-
te e necessário a construção de um debate consistente sobre as diversas culturas que 
movimentam e ressignifcam diariamente o cenário social. A falta desse debate provocou 
e ainda provoca uma construção reduzida das culturas. E, consequentemente, a falaciosa 
propagação da dita história única. 
 Nessa linha de reflexão é necessário incluir o debate sobre a igualdade. Para Barros 
a igualdade é: 
A humanidade comum a todos os homens — inde-
pendente das desigualdades sociais contra as quais 
tenhamos de resistir ou das diferenças pelas quais 
tenhamos de lutar — autoriza a que o ser humano 
pense na igualdade social como um de seus maio-
res valores. Os mundos superpostos do desigual e 
do diferente, dessa forma, são atravessados a todo 
instante pelo imaginário da igualdade. O mais pe-
culiar, para a nossa reflexão, é que podemos evocar 
como pares conceituais opostos tanto a dicotomia 
entre igualdade e desigualdade como a dicotomia 
entre igualdade e diferença. De fato, [...] , a igualdade 
pode ser contraposta tanto em relação à desigual-
dade como em relação à diferença, porém configu-
rando, em cada caso, campos de significados intei-
ramente distintos(BARROS, 2008, p. 5).
35
 As palavras do autor apresentam uma valor importante, pois levam à reflexão que na 
luta contra a desigualdade de classe social, outras formas de discriminação e preconceito, 
como racial, étnica, orientação sexual , gênero etc, precisam ser consideradas (NICODE-
MOS, 2014).
 Gusmão (2003, p. 94) fortalece essa afirmação, pois defede que:
Nem a igualdade absoluta, nem a diferença relativa 
são efetivamente adequadas para compreender e 
solucionar o problema da diversidade social e cultu-
ral. Nisso residem o paradoxo e o desafio de nossas 
práticas e propostas educativas. Nelas o que está em 
jogo, mais que as diferenças e a imensa diversidade 
que nos informa, é a alteridade – espaço permanen-
te de enfrentamento, tensão e complementaridade. 
Nessa medida a escola, mais que um espaço de so-
cialização, torna – se um espaço de sociabilidades, 
ou seja, um espaço de encontros e desencontros, de 
buscas e de perdas, de descobertas e de encobri-
mentos, de vida e de negação da vida. A escola por 
essa perspectiva é, antes de mais nada, um espaço 
sociocultural.
 Reflexões preponderantes para entender os seres humanos como atores de culturas 
e suas representatividades no que se refere aos saberes, valores e princípios acumulados 
ao longo das suas interações interculturais que foram e serão (re)construídas ao longo da 
vida. Mas para isso é preciso que as políticas da igualdade levem em consideração as dife-
renças, nesse sentido, criaremos bases sólidas na luta contra uma suposta homogeneida-
de que persiste na vida dos atores multiculturais (NICODEMOS, 2014).
A palestra do Prof. Dr. Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves, “As relações étnico-ra-
ciais e as novas demandas para o campo educacional”discorre sobre a liderança 
negra em contextos sociourbanos no final do Séc. XX e o surgimento de movimen-
tos e ações no Brasil. O vídeo está disponível na plataforma do YouTube através do 
link: https://bit.ly/3c8Ugim. Acesso em:06 de nov. de 2020. 
BUSQUE POR MAIS
Assista a aula do “Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira” 
onde o professor aborda alguns aspectos gerais sobre o racismo, biologização das 
línguas, cultura e criminalidade. 
Disponível em:https://bit.ly/2O7ZUcP. Acesso em: 05 de fev. de 2020.
A obra organizada por Moreira e Candau(2013) discorre sobre a diversidade pre-
sente em ambientes escolares e levanta discussões acerca à identidade, sexua-
lidade, cultura, gênero etc. “Multiculturalismo: Diferenças culturais e práticas pe-
dagógicas”está disponível em: https://bit.ly/3fqqIjL. Acesso em: 30 mar. de 2021. 
https://bit.ly/3c8Ugim
https://bit.ly/2O7ZUcP
https://bit.ly/3fqqIjL
36
3.2 DIREITOS UNIVERSAIS E DIREITOS DE ESPECIFICAÇÃO
 A dívida do Estado e da sociedade brasileira em relação a grupos historicamente ex-
cluídos, como no caso dos cidadãos e cidadãs negros, indígenas, mulheres, pobres, etc. é 
imensa. Na medida em que estes foram e ainda são submetidos a um processo secular de 
exclusão social, cultural e econômica(NICODEMOS, 2016).As desigualdades de trabalho, renda, segurança, saúde, educação e expectativa de 
vida são motivadas pelo preconceito e discriminações, sejam de ordens raciais, étnicas, 
classe, gênero e de orientação sexual . Devido a essa realidade a reivindicação por direitos 
de especificação é um dos eixos norteador na luta dos movimentos sociais e sociedade ci-
vil, dada a premência da construção de uma sociedade justa e democrática (NICODEMOS, 
2016).
 No munddo pós-moderno, embora exista um debate consistente sobre a verda-
deira inclusão de cidadãos que foram excluídos dos principais setores da sociedade, ainda 
faltam informações e conhecimentos para que se compreenda a real contribuição desses 
na edificação da sociedade brasileira(NICODEMOS, 2016).
 É importante destacar parafraseando Bobbio (2004)que o processo de multiplica-
ção dos direitos do homem ocorreu a partir de três modos: aumento da quantidade de 
bens considerados merecedores de tutela, extensão da titularidade de direitos típicos do 
homem, já que o homem não é mais visto como um ser genérico, em outros termos, o 
homem é visto em suas especificidades e em suas diversas maneira de ser em sociedade, 
como: criança, velho, doente, mulher etc.
 Assim: 
[...] igualdade e diferença têm uma relevância diversa 
conforme estejam em questão direitos de liberdade 
ou direitos sociais. Essa, entre outras, é uma das ra-
zões pelas quais, no campo dos direitos sociais, mais 
do que naquele dos direitos de liberdade, ocorreu 
a proliferação dos direitos [...]; através do reconhe-
cimento dos direitos sociais, surgiram - ao lado do 
homem abstrato ou genérico, do cidadão sem ou-
tras qualificações-novas personagens como sujeito 
de direito, personagens antes desconhecidos nas 
Declarações dos direitos de liberdade: a mulher e a 
criança, o velho, o doente e a demente etc(BOBBIO, 
2004, p. 72).
 Os três processos pontuados por Bobbio (2004)permitem identificar uma relação 
de interdependência, pois o reconhecimento de novos direitos sociais contribuiu para o 
aumento dos direitos; assim, as três causas dessa multiplicação revelam a necessidade de 
fazer referência a contextos sociais específicos. Portanto, o processo de multiplicação dos 
direitos sociais a partir da especificação ocorreu, principalmente, no âmbito dos direitos 
sociais.
 Lewandowski (2012) defende que:
37
Para possibilitar que a igualdade material entre as 
pessoas seja levada a efeito, o Estado pode lançar 
mão seja de políticas de cunho universalistas, que 
abrangem um número indeterminado de indivídu-
os, mediante ações de natureza estrutural, seja de 
ações afirmativas, que atingem grupos sociais de-
terminados, de maneira pontual, atribuindo a estes 
certas vantagens, por um tempo limitado, de modo 
a permitir-lhes a superação da desigualdades de-
correntes de situações históricas particulares.(BRA-
SIL, 2012, p. 05).
 Sobre o modelo constitucional brasileiro, Lewandowski(2012)afirma que o mesmo 
não esteve alheio ao princípio da justiça distributiva ou compensatória; pois incorporou 
ações institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação puramente 
formal de igualdade; assim, a aplicação do princípio da igualdade, a partir da política distri-
butiva precisa levar em consideração a realidade dos grupos sociais.
 A questão não é a negação da importância das direitos universais no processo de 
inclusão social, mas a reflexão de dados extraídos de estudos e pesquisas, desenvolvidos 
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(MUNANGA, 2001; SILVA JÚNIOR, 2000).
 Tais informações apontam que as políticas universais aplicadas sozinhas não têm 
dado conta da tamanha disparidade social; por isso, torna-se necessário pensar os direitos 
universais articulados com as políticas de especificação, de forma que as políticas públicas 
em geral garantam o aceso de todos à educação,universidade, saúde, cultura, alimenta-
ção, entre outros espaços e acima de tudo respeite as diferenças existentes na sociedade.
Segundo Domingues (2005), no Brasil existe uma legislação baseada no princípio das ações 
afirmativas, beneficiando índios, mulheres e deficientes físicos. Mas, ao serem implementa-
das, como no caso das cotas raciais, houve resistência por parte de vários segmentos da so-
ciedade. Por quê?
VAMOS PENSAR?
 As ações afirmativas são um dos maiores desafios a serem alcançados no contexto 
social brasileiro, em destaque para as cotas étnico-raciais que visam a garantia de direitos 
historicamente negados, como no caso da educação, saúde, moradia etc. 
 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e teóricos, que pesquisam so-
bre as desigualdades educacionais no Brasil, como: Gomes e Munanga(2006), Henriques 
(2001), Jaccoud e Beghin(2002), Wedderburn(2005), dentre tantos outros, se encarregaram 
e encarregam de fazer uma análise crítica sobre a importância da implantação das políti-
cas de ações afirmativas para a população negra.
3.3 AÇÕES AFIRMATIVAS: O INÍCIO DE UMA REPARAÇÃO HISTÓRICA 
PARA A POPULAÇÃO NEGRA 
38
 De modo geral, suas análises defendem que as políticas de reparações, reconheci-
mento e valorização de ações afirmativas explicitam a exclusão social e o racismo que foi 
implantado na sociedade brasileira a partir da subjugação dos cidadãos negros. Processo 
que reflete nos cenários educacional, político, cultural e histórico de nosso país. 
 Segundo estudos desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatisti-
ca(2019),a população negra (soma de cidadãos autodeclarados pretos e pardos, quanto à 
cor) é a maioria na sociedade brasileira, sendo (55,8%). Todavia, no ano de 2018 representou 
somente 27,7% dos cidadãos no que se refere aos 10% com os maiores rendimentos. Em 
contrapartida, entre os 10% com os menores rendimentos, é visível tamanha desigualdade 
em relação ao grupo negro, somando 75,2% dos cidadãos que estão em situação de vune-
rabilidade social.
 O rendimento da população branca em 2018 alcançou duas vezes o da população 
preta ou parda, sendo: R$ 1846 contra R$ 934. Quando à análise é a pobreza monetária, o 
percentual de cidadãos pretos ou pardos com rendimento abaixo da linha de pobreza é 
maior, praticamente o dobro da população branca. No ano de 2018, a partir da linha de US$ 
5,50 por dia, o índice de pobreza das pessoas brancas era 15,4%, e 32,9% entre as pretas ou 
pardas. Analisando a linha de US$ 1,90 diários, a diferença é tamanha, ou seja, na medida 
que 3,6% das pessoas brancas, apresentavam rendimentos inferiores a esse valor, 8,8% das 
pessoas pretas ou pardas situavam-se abaixo desse nível (INSTITUTO BRASILEIRO DE GE-
OGRAFIA E ESTATISTICA, 2019).
 Entre os anos de 2016 a 2018 no que se refere à taxa de analfabetismo da população 
autodecladara preta ou parda, os cidadão com 15 anos ou mais de idade, sofreu uma alte-
ração de 9,8% para 9,1%, e o percenttual de cidadãos com 25 anos ou mais de idade, com 
ensino médio concluído, ampliou de 37,3% para 40,3% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-
GRAFIA E ESTATISTICA, 2019).
 Mas nesses indicadores ainda persiste em uma condição inferior se comparada com 
os dados referentes à realidade dos cidadãos brancos, uma vez que a taxa de analfabetis-
mo era 3,9%, e a proporção de pessoas com ensino médio completo era 55,8%, sendo os 
mesmos grupos etários citados em 2018. E o cenário mais alarmante é a taxa de analfabe-
tismo de cidadãos pretos ou pardos que residem em áreas rurais (INSTITUTO BRASILEIRO 
DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2019).
 Cidadãos pretos e pardos representam a maior parte da força de trabalho no Brasil. 
Em 2018 o total foi de 57,7 milhões de pessoas, ou seja, 25,2% a mais do que os cidadãos 
brancos na força de trabalho, que somou 46,1 milhões. Mas, no que se refere à população 
desocupada e subutilizada, que representa a soma dos cidadãos desocupados, subocupa-
dos e a força de trabalho potencial, homens e mulheres pretos ou pardos são considera-
velmente mais representados. Mesmo sendo pouco mais da metade

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