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02 - TEXTO DE APOIO AO ESTUDO

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1 Raciocínio Lógico 
 
 
DISCIPLINA: RACIOCÍNIO LÓGICO 
 
TEMA 2: A ATIVIDADE RACIONAL E ORIGENS DA RAZÃO. 
 
TEXTO PARA APOIO AO ESTUDO 
 
 
Objetivos: Diferenciar atividade racional discursiva e intuitivas; conceituar empirismo e idealismo, 
estabelecer um pensamento crítico e comparativo entre eles; conhecer e relacionar as bases filosóficas da razão; 
distinguir as diferentes concepções de razão e emoção. 
 
A atividade racional: a intuição e a razão discursiva (indução, dedução, abdução) 
Como vimos na aula anterior a Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional, 
realizadas pela razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento: a intuição (ou razão intuitiva) e o raciocínio (ou 
razão discursiva). 
A atividade racional discursiva, como a própria palavra indica, discorre, percorre uma realidade ou um 
objeto para chegar a conhecê-lo, isto é, realiza vários atos de conhecimento até conseguir captá-lo. A razão 
discursiva ou o pensamento discursivo chega ao objeto passando por etapas sucessivas de conhecimento, 
realizando esforços sucessivos de aproximação para chegar ao conceito ou à definição do objeto. 
A razão intuitiva ou intuição, ao contrário, consiste num único ato do espírito, que, de uma só vez, capta 
por inteiro e completamente o objeto. Em latim, “intuitos” significa ver. 
A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento, um contato direto e imediato com 
ele, sem necessidade de provas ou demonstrações para saber o que conhece. 
A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade, de um objeto, de um fato. Nela, de 
uma só vez, a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. É um ato 
intelectual de discernimento e compreensão, como, por exemplo, quando um médico faz um diagnóstico e 
apreende de uma só vez a doença, a sua causa e o modo de tratá-la. Os psicólogos se referem à intuição usando o 
termo insight, para referirem-se ao momento em que temos uma compreensão total, direta e imediata de alguma 
coisa, ou o momento em que percebemos, num só lance, um caminho para a solução de um problema científico, 
filosófico ou vital. 
Um exemplo de intuição pode ser encontrado no romance de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. 
Riobaldo e Diadorim são dois jagunços ligados pela mais profunda amizade e lealdade, companheiros de lutas e 
cumpridores de uma vingança de sangue contra os assassinos da família de Diadorim. Riobaldo, porém, sente-se 
cheio de angústia e atormentado, pois seus sentimentos por Diadorim são confusos, como se entre eles houvesse 
muito mais do que a amizade. Diadorim é assassinado. Quando o corpo é trazido para ser preparado para o funeral, 
Riobaldo descobre que Diadorim era mulher. De uma só vez, num só lance, Riobaldo compreende tudo o que 
sentia, todos os fatos acontecidos entre eles, todas as conversas que haviam tido, todos os gestos estranhos de 
Diadorim e compreende, instantaneamente, a verdade: estivera apaixonado por Diadorim. A razão intuitiva pode 
ser de dois tipos: intuição sensível ou empírica e intuição intelectual. 
 
2 Raciocínio Lógico 
 
1. A intuição sensível ou empírica é o conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida. Assim, 
com um só olhar ou num só ato de visão percebemos uma casa, um homem, uma mulher, uma flor, uma mesa. 
Num só ato, por exemplo, capto que isto é uma flor: vejo sua cor e suas pétalas, sinto a maciez de sua textura, 
aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de uma só vez diante de mim. 
A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do objeto externo: cores, 
sabores, odores, paladares, texturas, dimensões, distâncias. É também o conhecimento direto e imediato de 
estados internos ou mentais: lembranças, desejos, sentimentos, imagens. 
A intuição sensível ou empírica é psicológica, isto é, refere-se aos estados do sujeito do conhecimento 
sendo um ser corporal e psíquico individual - sensações, lembranças, imagens, sentimentos, desejos e percepções 
são exclusivamente pessoais. 
Assim, a marca da intuição empírica é sua singularidade: por um lado, está ligada à singularidade do objeto 
intuído (ao “isto” oferecido à sensação e à percepção) e, por outro, está ligada à singularidade do sujeito que intui 
(aos “meus” estados psíquicos, às “minhas” experiências). A intuição empírica não capta o objeto em sua 
universalidade e a experiência intuitiva não é transferível para um outro objeto. Riobaldo teve uma intuição 
empírica. 
 
2. A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e necessidade. Quando 
penso: “uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo”, sei, sem necessidade de provas ou demonstrações, 
que isto é verdade. Ou seja, tenho conhecimento intuitivo do princípio da contradição. Quando digo: “o amarelo é 
diferente do azul”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que há diferenças. Vejo, na intuição sensível, 
a cor amarela e a cor azul, mas vejo, na intuição intelectual, a diferença entre cores. Quando afirmo: “o todo é 
maior do que as partes”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que isto é verdade, porque intuo uma 
forma necessária de relação entre as coisas. 
A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão (identidade, contradição, 
terceiro excluído, razão suficiente), das relações necessárias entre os seres ou entre as ideias, da verdade de uma 
ideia ou de um ser. 
Na história da Filosofia, o exemplo mais célebre de intuição intelectual é conhecido como o cogito 
cartesiano, isto é, a afirmação de Descartes: “penso (cogito), logo existo”. De fato, quando penso, sei que estou 
pensando e não é preciso provar ou demonstrar isso, mesmo porque provar e demonstrar é pensar e para 
demonstrar e provar é preciso, primeiro, pensar e saber que se pensa. 
Quando digo: “penso, logo existo”, estou simplesmente afirmando racionalmente que sei que sou um ser 
pensante ou que existo pensando, sem necessidade de provas e demonstrações. A intuição capta, num único ato 
intelectual, a verdade do pensamento pensando em si mesmo. 
A intuição da essência é a apreensão intelectual imediata e direta de uma significação, deixando de lado as 
particularidades dos representantes que indicam empiricamente a significação. É assim que tenho intuição 
intelectual da essência ou significação: “triângulo”, “imaginação”, “memória”, “natureza”, “cor”, “diferença”, 
“Europa”, “pintura”, “literatura”, “tempo”, “espaço”, “coisa”, “quantidade”, “qualidade” etc. Intuímos ideias. 
Fala-se também de uma intuição emotiva ou valorativa. Trata-se daquela intuição na qual, juntamente com 
o sentido ou significação de alguma coisa, captamos também seu valor, isto é, com a ideia intuímos também se a 
coisa ou essência é verdadeira ou falsa, bela ou feia, boa ou má, justa ou injusta, possível ou impossível e etc. Ou 
seja, a intuição intelectual capta a essência do objeto (o que ele é) e a intuição emotiva ou valorativa capta essa 
essência pelo que o objeto vale. 
 
 
3 Raciocínio Lógico 
 
A razão discursiva: dedução, indução e abdução 
A intuição pode ser o ponto de chegada, a conclusão de um processo de conhecimento, e pode também ser 
o ponto de partida de um processo cognitivo. 
O processo de conhecimento, seja o que chega a uma intuição, seja o que parte dela, constitui a razão 
discursiva ou o raciocínio. 
Ao contrário da intuição, o raciocínio é o conhecimento que exige provas e demonstrações e se realiza 
igualmente por meio de provas e demonstrações das verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas. Não é 
um ato intelectual, mas são vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados, formando um processo de 
conhecimento. 
Um caçador sai pela manhã em busca da caça. Entra no mato e vê rastros: choveu na véspera e há pegadas 
no chão; pequenos galhos rasteiros estão quebrados; o capim está amassado emvários pontos; a carcaça de um 
bicho está à mostra, indicando que foi devorado há poucas horas; há um grande silêncio no ar, não há canto de 
pássaros, não há ruídos de pequenos animais. 
O caçador supõe que haja uma onça por perto. Ele pode, então, tomar duas atitudes. Se, por todas as 
experiências anteriores, tiver certeza de que a onça está nas imediações, pode preparar-se para enfrentá-la: sabe 
que caminhos evitar, se não estiver em condições de caçá-la; sabe que armadilhas armar, se estiver pronto para 
capturá-la; sabe como atraí-la, se quiser conservá-la viva e preservar a espécie. 
O caçador pode ainda estar sem muita certeza se há ou não uma onça nos arredores e, nesse caso, tomará 
uma série de atitudes para verificar a presença ou ausência do felino: pode percorrer trilhas que sabe serem 
próprias de onças; pode examinar melhor as pegadas e o tipo de animal que foi devorado; pode comparar, em sua 
memória, outras situações nas quais esteve presente uma onça etc. 
Assim, partindo de indícios, o caçador raciocina para chegar a uma conclusão e tomar uma decisão. Temos 
aí um exercício de raciocínio empírico e prático (isto é, um pensamento que visa a uma ação) e que se assemelha à 
intuição sensível ou empírica, isto é, caracteriza-se pela singularidade ou pela individualidade do sujeito e do objeto 
do conhecimento. 
Quando, porém, um raciocínio se realiza em condições tais que a individualidade psicológica do sujeito e a 
singularidade do objeto são substituídas por critérios de generalidade e universalidade, temos a dedução, a 
indução e a abdução. 
 
A dedução 
A dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não conhecido, 
isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a conhecimentos já adquiridos. Por isso, se costuma 
dizer que, no raciocínio, o intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e 
necessários entre as ideias ou entre os fatos. 
A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por uma demonstração 
anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a 
partir dela. 
Em outras palavras, na dedução parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a 
todos os casos particulares iguais. 
Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual. O ponto de 
partida de uma dedução é: ou uma ideia verdadeira ou uma teoria verdadeira. 
Por exemplo, se definirmos o triângulo como uma figura geométrica cujos lados somados são iguais à soma 
de dois ângulos retos, dela deduziremos todas as propriedades de todos os triângulos possíveis. Se tomarmos como 
4 Raciocínio Lógico 
 
ponto de partida as definições geométricas do ponto, da linha, da superfície e da figura, deduziremos todas as 
figuras geométricas possíveis. 
No caso de uma teoria, a dedução permitirá que cada caso particular encontrado seja conhecido, 
demonstrando que a ele se aplicam todas as leis, regras e verdades da teoria. Por exemplo, estabelecida a verdade 
da teoria física de Newton, sabemos que: 
1. as leis da física são relações dinâmicas de tipo mecânico, isto é, se referem a relações de força 
(ação e reação) entre corpos dotados de figura, massa e grandeza; 
2. os fenômenos físicos ocorrem no espaço e no tempo; 
3. conhecidas as leis iniciais de um conjunto ou de um sistema de fenômenos, poderemos prever os 
atos que ocorrerão nesse conjunto e nesse sistema. 
 
Assim, se eu quiser conhecer um ato físico particular - por exemplo, o que acontecerá com o corpo lançado 
no espaço por uma nave espacial, ou qual a velocidade de um projétil lançado de um submarino para atingir um 
alvo num tempo determinado, ou qual é o tempo e a velocidade para um certo astro realizar um movimento de 
rotação em torno de seu eixo -, aplicarei a esses casos particulares as leis gerais da física newtoniana e saberei com 
certeza a resposta verdadeira. 
A dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particulares são conhecidos por inclusão numa 
teoria geral. 
Costuma-se representar a dedução pela seguinte fórmula: 
 todos os x são y (definição ou teoria geral); 
 A é x (caso particular); 
 Portanto, A é y (dedução). 
 
Exemplos 
1. Todos os homens (x) são mortais (y); Sócrates (A) é homem (x); portanto, Sócrates (A) é mortal (y). 
 
2. Todos os metais (x) são bons condutores de eletricidade (y); o mercúrio (A) é um metal (x); portanto, o 
mercúrio (A) é bom condutor de eletricidade (y). 
 
A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e, se tais regras não forem respeitadas, a 
dedução será considerada falsa. 
 
A indução 
A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução. 
Com a indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a definição 
geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares. 
 A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso. E a razão também oferece um 
conjunto de regras precisas para guiar a indução; se tais regras não forem respeitadas, a indução será considerada 
falsa. 
Por exemplo, colocamos água no fogo e observamos que ela ferve e se transforma em vapor; colocamos 
leite no fogo e vemos também que ele se transforma em vapor; colocamos vários tipos de líquidos no fogo e vemos 
sempre sua transformação em vapor. Induzimos desses casos particulares que o fogo possui uma propriedade que 
produz a evaporação dos líquidos. Essa propriedade é o calor. 
5 Raciocínio Lógico 
 
Verificamos, porém, que os diferentes líquidos não evaporam sempre na mesma velocidade; cada um 
deles, portanto, deve ter propriedades específicas que os fazem evaporar em velocidades diferentes. Descobrimos, 
porém, que a velocidade da evaporação não é o fato a ser observado e sim quanto de calor cada líquido precisa 
para começar a evaporar. Se considerarmos a água nosso padrão de medida, diremos que ela ferve e começa a 
evaporar a partir de uma certa quantidade de calor e que é essa quantidade de calor que precisa ser conhecida. 
Podemos, a seguir, verificar um fenômeno diferente. Vemos que água e outros líquidos, colocados num 
refrigerador, endurecem e se congelam, mas que, como no caso do vapor, cada líquido se congela ou se solidifica 
em velocidades diferentes. 
Procuramos, novamente, a causa dessa diferença de velocidade e descobrimos que depende tanto de 
certas propriedades de cada líquido quanto da quantidade de frio que há no refrigerador. Percebemos, finalmente, 
que é essa quantidade que devemos procurar. 
Com essas duas séries de fatos (vapor e congelamento), descobrimos que os estados dos líquidos variam 
(evaporação e solidificação) em decorrência da temperatura ambiente (calor e frio) e que cada líquido atinge o 
ponto de evaporação ou de solidificação em temperaturas diferentes. Com esses dados podemos formular uma 
teoria da relação entre os estados da matéria - sólido, líquido e gasoso - e as variações de temperatura, 
estabelecendo uma relação necessária entre o estado de um corpo e a temperatura ambiente. Chegamos, por 
indução, a uma teoria. 
A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência, isto é, concluir alguma coisa a partir de 
outra já conhecida. Na dedução, dado X, infiro (concluo) a, b, c, d. Na indução, dados a, b, c, d, infiro (concluo) X. 
 
A abdução 
O filósofo inglês Peirce considera que, além da dedução e da indução, a razão discursiva ou raciocínio 
também se realiza numa terceira modalidade de inferência, embora esta não seja propriamente demonstrativa. 
Essa terceira modalidade é chamada por ele de abdução. 
A abdução é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo passo a passo para chegar a 
uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais, de indícios, de signos.O exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais, o 
modo como os detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o caso que investigam. 
Segundo Peirce, a abdução é a forma que a razão possui quando inicia o estudo de um novo campo 
científico que ainda não havia sido abordado. Ela se aproxima da intuição do artista e da adivinhação do detetive, 
que, antes de iniciarem seus trabalhos, só contam com alguns sinais que indicam pistas a seguir. Os historiadores 
costumam usar a abdução. 
De modo geral, diz-se que a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos para a 
aquisição de conhecimentos, enquanto a dedução é o procedimento racional que empregamos para verificar ou 
comprovar a verdade de um conhecimento já adquirido. 
 
Realismo e idealismo 
Vimos anteriormente que muitos filósofos distinguem razão objetiva e razão subjetiva, considerando a 
Filosofia o encontro e o acordo entre ambas. 
Falar numa razão objetiva significa afirmar que a realidade externa ao nosso pensamento é racional em si e 
por si mesma e que podemos conhecê-la justamente por ser racional. Significa dizer, por exemplo, que o espaço e o 
tempo existem em si e por si mesmos, que as relações matemáticas e de causa-efeito existem nas próprias coisas, 
que o acaso existe na própria realidade etc. 
6 Raciocínio Lógico 
 
Chama-se realismo a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou em si da realidade externa como 
uma realidade racional em si e por si mesma e, portanto, que afirma a existência da razão objetiva. 
Há filósofos, porém, que estabelecem uma diferença entre a realidade e o conhecimento racional que dela 
temos. Dizem eles que, embora a realidade externa exista em si e por si mesma, só podemos conhecê-la tal como 
nossas ideias a formulam e a organizam e não tal como ela seria em si mesma. Não podemos saber nem dizer se a 
realidade exterior é racional em si, pois só podemos saber e dizer que ela é racional para nós, isto é, por meio de 
nossas ideias. 
Essa posição filosófica é conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a existência da razão 
subjetiva. 
A razão subjetiva possui princípios e modalidades de conhecimento que são universais e necessários, isto é, 
válidos para todos os seres humanos em todos os tempos e lugares. O que chamamos realidade, portanto, é 
apenas o que podemos conhecer por meio das ideias de nossa razão. 
 
Origens da razão: inatismo ou empirismo? 
De onde vieram os princípios racionais (identidade, não-contradição, terceiro-excluído e razão suficiente)? 
De onde veio a capacidade para a intuição (razão intuitiva) e para o raciocínio (razão discursiva)? Nascemos com 
eles? Ou nos seriam dados pela educação e pelo costume? Seriam algo próprio dos seres humanos, constituindo a 
natureza deles, ou seriam adquiridos através da experiência? 
Durante séculos, a Filosofia ofereceu duas respostas a essas perguntas. A primeira ficou conhecida como 
inatismo e a segunda, como empirismo. 
O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência não só os princípios racionais, mas 
também algumas ideias verdadeiras, que, por isso, são ideias inatas. 
O empirismo, ao contrário, afirma que a razão, com seus princípios, seus procedimentos e suas ideias, é 
adquirida por nós através da experiência. 
Em grego, experiência se diz: empeiria – donde, empirismo, conhecimento empírico, isto é, conhecimento 
adquirido por meio da experiência. 
 
O inatismo 
Vamos falar do inatismo tomando dois filósofos como exemplo: o filósofo grego Platão (século IV a.C.) e o 
filósofo francês Descartes (século XVII). 
 
Inatismo platônico 
Platão defende a tese do inatismo da razão ou das ideias verdadeiras em várias de suas obras, mas as 
passagens mais conhecidas se encontram nos diálogos Mênon e A República. Nelas Platão explicita que as verdades 
vão surgindo no espírito de um indivíduo à medida que o Mestre vai lhe fazendo as perguntas certas e assim 
raciocinando com ele. Expõe que nascemos com a razão e as ideias verdadeiras, e a Filosofia nada mais faz do que 
nos relembrar essas ideias. 
 
Inatismo cartesiano 
Descartes discute a teoria das ideias inatas em várias de suas obras, mas as exposições mais conhecidas 
encontram-se em duas delas: no Discurso do método e nas Meditações metafísicas. 
Nelas, Descartes mostra que nosso espírito possui três tipos de ideias que se diferenciam segundo sua 
origem e qualidade: 
7 Raciocínio Lógico 
 
1. Ideias adventícias (isto é, vindas de fora): são aquelas que se originam de nossas sensações, 
percepções, lembranças; Por exemplo, a ideia de árvore, de pássaro, de instrumentos musicais etc. São nossas 
ideias cotidianas e costumeiras, e que podem ser enganosas ou falsas. 
2. Ideias fictícias: são aquelas que criamos em nossa fantasia e imaginação, compondo seres 
inexistentes com pedaços ou partes de ideias adventícias que estão em nossa memória. Por exemplo, cavalo-alado, 
fadas, elfos, duendes, dragões, Super-homem etc. 
3. Ideias inatas: são aquelas que não poderiam vir de nossa experiência sensorial porque não há 
objetos sensoriais ou sensíveis para elas, nem poderiam vir de nossa fantasia, pois não tivemos experiência 
sensorial para compô-las a partir de nossa memória. 
4. A tese central dos inatistas é a seguinte: se não possuirmos em nosso espírito a razão e a verdade, 
nunca teremos como saber se um conhecimento é verdadeiro ou falso, isto é, nunca saberemos se uma ideia 
corresponde ou não à realidade a que ela se refere. Não teremos um critério seguro para avaliar nossos 
conhecimentos. 
 
O empirismo 
Contrariamente aos defensores do inatismo, os defensores do empirismo afirmam que a razão, a verdade e 
as ideias racionais são adquiridos por nós através da experiência. 
Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma 
“tábula rasa”, onde nada foi gravado. Somos como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a 
experiência venha escrever na folha, gravar na tábula, dar forma à cera. 
 
Os empiristas ingleses 
No decorrer da história da Filosofia muitos filósofos defenderam a tese empirista, mas os mais famosos e 
conhecidos são os filósofos ingleses dos séculos XVI ao XVIII, chamados, por isso, de empiristas ingleses: Francis 
Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume. 
Os empiristas defendem que nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com 
as sensações. Os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sentimos sabores e odores, 
ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio etc. 
As sensações se reúnem e formam uma percepção; ou seja, percebemos uma única coisa ou um único 
objeto que nos chegou por meio de várias e diferentes sensações. 
As percepções, por sua vez, se combinam ou se associam. A associação pode dar-se por três motivos: por 
semelhança, por proximidade ou contiguidade espacial e por sucessão temporal. A causa da associação das 
percepções é a repetição. Ou seja, de tanto algumas sensações se repetirem por semelhança, ou de tanto se 
repetirem no mesmo espaço ou próximas umas das outras, ou, enfim, de tanto se repetirem sucessivamente no 
tempo, criamos o hábito de associá-las. Essas associações são as ideias. 
As ideias, trazidas pela experiência são levadas à memória e, de lá, a razão as apanha para formar os 
pensamentos. 
A experiência escreve e grava em nosso espírito as ideias, e a razão irá associá-las, combiná-las ou separá-
las, formando todos os nossos pensamentos. Segundo Hume a razão é o hábito de associar ideias, seja por 
semelhança, seja por diferença. 
 
 
 
 
8 Raciocínio Lógico 
 
Problemas do inatismo 
1. A própria razão pode mudar o conteúdo de ideias que eram consideradas universais e verdadeiras. 
2. A própria razão pode provar que ideiasracionais também podem ser falsas. 
 
Se as ideias são racionais e verdadeiras, é porque correspondem à realidade. Ora, a realidade permanece a 
mesma e, no entanto, as ideias que a explicam perderam a validade. Ou seja, o inatismo se depara com o problema 
da mudança das ideias, feita pela própria razão, e com o problema da falsidade das ideias, demonstrada pela 
própria razão. 
 
Problemas do empirismo 
O empirismo, por sua vez, se defronta com um problema insolúvel. Se as ciências são apenas hábitos 
psicológicos de associar percepções e ideias por semelhança e diferença, bem como por contiguidade espacial ou 
sucessão temporal, então, as ciências não possuem verdade alguma, não explicam realidade alguma, não alcançam 
os objetos e não possuem nenhuma objetividade. 
A ciência, mero hábito psicológico ou subjetivo, torna-se afinal uma ilusão, e a realidade tal como é em si 
jamais poderá ser conhecida por nossa razão. Basta, por exemplo, que um belo dia eu ponha um líquido no fogo e, 
em lugar de vê-lo ferver e aumentar de volume, eu o veja gelar e diminuir de volume, para que toda a ciência 
desapareça, já que ela depende da repetição, da frequência, do hábito de sempre percebermos uma certa sucessão 
de fatos à qual, também por hábito, demos o nome de princípio da causalidade. 
Assim, do lado do empirismo, o problema colocado é o da impossibilidade do conhecimento objetivo da 
realidade. 
 
As bases fisiológicas da razão: sensação, percepção, memória e categorização 
 SENSAÇÃO: é a reação física do corpo ao mundo físico, sendo regida pelas leis da física, da química, 
da biologia etc., que resulta na ativação das áreas primárias do córtex do cérebro. 
 PERCEPÇÃO: é o processo através do qual o ser humano conhece o mundo à sua volta de forma 
total e complexa. 
 MEMÓRIA: é o processo de retenção de informações no qual nossas experiências são arquivadas e 
recuperadas quando as chamamos. 
 CATEGORIZAÇÃO: é o processo pelo qual ideias e objetos são reconhecidos, diferenciados e 
classificados. Em linhas gerais, a categorização consiste em organizar os objetos de um dado universo em grupos ou 
categorias, com um propósito específico. 
 
Razão e emoção 
A Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos seres 
humanos. Dissemos que ela confia na razão e que, hoje, ela também desconfia da razão. 
Mas, até agora, não dissemos o que é a razão, apesar de ser ela tão antiga quanto a Filosofia. 
Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos. Dizemos, por exemplo, “eu estou com 
a razão”, ou “ele não tem razão”, para significar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com 
certeza alguma coisa. 
Também dizemos que, num momento de fúria ou de desespero, “alguém perde a razão”, como se a razão 
fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter, possuir e perder, ou recuperar, como na frase: “Agora ela está 
lúcida, recuperou a razão”. 
9 Raciocínio Lógico 
 
Assim, usamos “razão” para nos referirmos a “motivos” de alguém, e também para nos referirmos a 
“causas” de alguma coisa, de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos dotados de “razão”, mas em sentido 
diferente. 
Esses poucos exemplos já nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razão possui: certeza, lucidez, 
motivo, causa. E todos esses sentidos encontram-se presentes na Filosofia. 
Por identificar razão e certeza, a Filosofia afirma que a verdade é racional; por identificar razão e lucidez 
(não ficar ou não estar louco), a Filosofia chama nossa razão de luz e luz natural; por identificar razão e motivo, por 
considerar que sempre agimos e falamos movidos por motivos, a Filosofia afirma que somos seres racionais e que 
nossa vontade é racional; por identificar razão e causa e por julgar que a realidade opera de acordo com relações 
causais, a Filosofia afirma que a realidade é racional. 
É muito conhecida a célebre frase de Pascal, filósofo francês do século XVII: “O coração tem razões que a 
razão desconhece”. Nessa frase, as palavras razões e razão não têm o mesmo significado, indicando coisas diversas. 
Razões são os motivos do coração, enquanto razão é algo diferente de coração; este é o nome que damos para as 
emoções e paixões, enquanto “razão” é o nome que damos à consciência intelectual e moral. 
Falamos também frases como: “Se você me disser suas razões, sou capaz de fazer o que você me pede”, 
querendo dizer com isso que queremos ouvir os motivos que alguém tem para querer ou fazer alguma coisa. 
Fazemos perguntas como: “qual a razão disso?”, querendo saber qual a causa de alguma coisa e, nesse caso, a 
razão parece ser alguma propriedade que as próprias coisas teriam, já que teriam uma causa. 
Assim, usamos “razão” para nos referirmos a “motivos” de alguém, e também para nos referirmos a 
“causas” de alguma coisa, de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos dotados de “razão”, mas em sentido 
diferente. 
Esses poucos exemplos já nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razão possui: certeza, lucidez, 
motivo, causa. E todos esses sentidos encontram-se presentes na Filosofia. 
Ao dizer que o coração tem suas próprias razões, Pascal está afirmando que as emoções, os sentimentos ou 
as paixões são causas de muito do que fazemos, dizemos, queremos e pensamos. Ao dizer que a razão desconhece 
“as razões do coração”, Pascal está afirmando que a consciência intelectual e moral é diferente das paixões e dos 
sentimentos e que ela é capaz de uma atividade própria não motivada e causada pelas emoções, mas possuindo 
seus motivos ou suas próprias razões. 
Assim, a frase de Pascal pode ser traduzida da seguinte maneira: Nossa vida emocional possui causas e 
motivos (as “razões do coração”), que são as paixões ou os sentimentos, e é diferente de nossa atividade 
consciente, seja como atividade intelectual, seja como atividade moral. 
A consciência é a razão. Coração e razão, paixão e consciência intelectual ou moral são diferentes. Se 
alguém “perde a razão” é porque está sendo arrastado pelas “razões do coração”. Se alguém “recupera a razão” é 
porque o conhecimento intelectual e a consciência moral se tornaram mais fortes do que as paixões. A razão 
considerada como consciência moral, é a vontade racional livre que não se deixa dominar pelos impulsos 
passionais, mas realiza as ações morais como atos de virtude e de dever, ditados pela inteligência ou pelo intelecto. 
Além da frase de Pascal, também ouvimos outras que elogiam as ciências, dizendo que elas manifestam o 
“progresso da razão”. Aqui, a razão é colocada como capacidade puramente intelectual para conseguir o 
conhecimento verdadeiro da Natureza, da sociedade, da História e isto é considerado algo bom, positivo, um 
“progresso”. 
Por ser considerado um “progresso”, o conhecimento científico é visto como se realizando no tempo e 
como dotado de continuidade, de tal modo que a razão é concebida como temporal também, isto é, como capaz de 
aumentar seus conteúdos e suas capacidades através dos tempos. 
10 Raciocínio Lógico 
 
Algumas vezes ouvimos um professor dizer a outro: “Fulano trouxe um trabalho irracional; era um caos, 
uma confusão. Incompreensível. Já o trabalho de Beltrano era uma beleza: claro, compreensível, racional”. Aqui, a 
razão, ou racional, significa clareza das ideias, ordem, resultado de esforço intelectual ou da inteligência, seguindo 
normas e regras de pensamento e de linguagem. 
Todos esses sentidos constituem a nossa ideia de razão. Nós a consideramos a consciência moral que 
observa as paixões, orienta a vontade e oferece finalidades éticas para a ação. Nós a vemos como atividade 
intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. 
Nós a concebemos segundo o ideal da clareza, da ordenação e do rigor e precisão dos pensamentos e das 
palavras. 
Para muitos filósofos, porém, a razão não é apenas a capacidade moral e intelectualdos seres humanos, 
mas também uma propriedade ou qualidade primordial das próprias coisas, existindo na própria realidade. Para 
esses filósofos, nossa razão pode conhecer a realidade (natureza, sociedade, história) porque ela é racional em si 
mesma. 
Fala-se, portanto, em razão objetiva (a realidade é racional em si mesma) e em razão subjetiva (a razão é 
uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos). A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do 
conhecimento ou a realidade é racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da 
ação é racional. 
Para muitos filósofos, a Filosofia é o momento do encontro, do acordo e da harmonia entre as duas razões 
ou racionalidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 Raciocínio Lógico 
 
Bibliografia: 
 
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: Moderna, 2000. 
CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006. 
POINCARÉ, H. O valor da ciência. Rio de Janeiro: Contraponto, 1995.

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