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Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 1 🩺 Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental Índice Introdução Técnicas de vínculo: Técnicas para perguntas: Técnicas facilitadoras: Técnicas para temas sensíveis: Aspectos éticos Estrutura da entrevista Dados de identificação Nome completo Sexo / gênero Cor da pele / etnia Data de nascimento / idade atual Procedência Residência Grau de escolaridade Estado civil Profissão / ocupação Religião / credo / prática religiosa Endereço Forma de contato Queixa principal e duração Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 2 História da doença atual (HDA) Início dos sintomas (ordem cronológica) Evolução do quadro Episódios anteriores semelhantes Fatores de melhora ou piora Tratamentos anteriores e sua eficácia História patológica pregressa / Antecedentes pessoais patológicos Doenças clínicas pregressas História psiquiátrica Antecedentes pessoais / Curva de vida e personalidade pré-mórbida Pré-natal e nascimento (SN) Desenvolvimento na infância, adolescência e idade adulta Personalidade pré-mórbida História familiar Situação sócio-econômica Hábitos de vida Exame do Estado Mental Avaliação geral do paciente Aparência Postura e atitudes durante a consulta Exame das funções mentais Nível de consciência Estado cognitivo (OAMI) Pensamento Linguagem Sensopercepção Humor / afeto Volição, impulso e prospecção Psicomotricidade Capacidade de insigths Exame Clínico / Físico Geral Instrumentos de avaliação psiquiátrica Inventário neuropsiquiátrico Escala de avaliação de depressão de Hamilton Escala de depressão geriátrica Escala Barratt de impulsividade Escala geral de atividades de vida diárias Instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida Escala de satisfação com a vida Questionário de falhas cognitivas Escala de avaliação de mania de Young Escala de depressão pós parto de Edimburgo Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 3 https://www.youtube.com/watch?v=0wtgr9wyXTo Introdução Eurípedes, poeta grego do século V a.C., escritor de clássicas tragédias, dizia que “um mau começo leva a um mau final”. Técnicas de vínculo: Vínculo de autenticidade → apresentar-se de modo simples e empático, com humanidade. Exemplo - Iniciar a conversa falando sobre algo casual, sem relação aparente com o motivo do encontro (cidade, tempo, religião). Vínculo da empatia → demonstrar compreensão acerca do sentimento apresentado pelo paciente. Exemplo - Expressar pelo olhar, expressão facial, postura corporal e/ou afirmações empáticas. “Imagino como isso deve estar sendo difícil para você e como deve estar querendo voltar a se sentir alegre.” Vínculo do conhecimento → validar os sintomas trazidos pelo paciente e elaborar perguntas Técnicas para perguntas: Perguntas abertas → para estimular o paciente a se expressar. Exemplos - “Como posso ajudá-lo? O que fez o senhor procurar um especialista?”. Perguntas focadas → para explorar alguns tópicos específicos. Exemplo - “Como está seu sono ultimamente?” Perguntas fechadas → para explorar sintomas não discutidos ao longo da entrevista. Se for feita com opções, importante ter mais de duas para evitar influenciar nas respostas do paciente. Exemplo - “Qual é a sua principal dificuldade no sono: demora para adormecer, acorda várias vezes durante a noite ou desperta muito cedo?” Questionário CAGE Teste de Fagerstrom https://www.youtube.com/watch?v=0wtgr9wyXTo Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 4 passando a ideia de “eu conheço o seu caso”. Aliança terapêutica → passar o sentimento de confiança, de ambas as partes, com cortesia, sensibilidade e acolhimento. Exemplo - “eu estou com você e quero lhe ajudar”. Técnicas facilitadoras: Incentivos não verbais → estimulando o paciente a continuar falando, como manter o contato visual, sorrir discretamente, assentir com a cabeça ou um leve movimento de inclinação do corpo. Incentivos verbais → demonstrando que está acompanhando e registrando o que está sendo relatado. a. Expressões reforçadoras - “entendo”, “continue”, “compreendo”, “prossiga”. b. Escuta reflexiva - repetindo as últimas palavras do paciente com uma interrogação. c. Elaboração de um breve resumo - pequena revisão do assunto para o paciente esclarecer possíveis dúvidas ou para transicionar para outro tema. Técnicas para temas sensíveis: Normalização → introduzir a pergunta com uma afirmação “normalizadora”, sugerindo que o comportamento é compreensível, ou até esperado, no contexto vivenciado. Exemplo - “Algumas pessoas, quando estão vivenciando um intenso sofrimento emocional, pensam em tirar a própria vida. Já aconteceu alguma vez com você?” ou “Muitos pacientes com depressão que acompanho já me relataram pensamentos de suicídio. Em algum momento, isso já passou pela sua cabeça?”. Expectativa de sintomas → questionar, dando a entender que já espera uma resposta afirmativa. Exemplo - “Como você se diverte com seus amigos?”, “Vou para algumas festas raves com eles”, “E quantas balas Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 5 você toma em uma dessas festas?”, “Nem seu Dr, umas duas ou três”. Exagero dos sintomas → ver se o paciente, por achar que o comportamento será mal visto ou que será julgado, está minimizando-o. Exemplo - ‘Você bebe todo dia?”, “Sim Dr, apenas meia garrafa por dia”. Redução da culpa → elaborar a pergunta de modo a expressar que não será feito juízo de valor sobre as ações do paciente. Exemplo - “Você me falou que seu amigo ficou irritado e agressivo com você.”, “Sim, ele perde o controle algumas vezes.”, “E você revidou? Bateu nele?”, “Tive que me defender e o empurrei contra a parede”. Aspectos éticos Confidencialidade: Pressuposto ético fundamental da entrevista. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 6 Mesmo que implícito, deve ser firmado no primeiro encontro. Faz com que o paciente sinta mais confiança para expor seus conteúdos mais íntimos. Quebra do sigilo médico-paciente de acordo com o Código de Ética Médica (CFM) e a legislação vigente: Motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente - Capítulo IX, artigo 73. Quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente - Capítulo IX, artigo 74, ou a terceiros. Exemplo - risco elevado de suicídio ou ideação homicida. Notificação compulsória de doenças transmissíveis (Lei nº 6259/75 e decreto 49.974-A/69). Estrutura da entrevista https://s3-us-west-2.amazonaws.com/secure.notion-static.com/49d20811-c8c 4-414e-9fc5-14217bd229cc/ORIENTACOES_PARA_EXAME_PSIQUITRICO. pdf Dados de identificação Perguntar ativamente os dados pré-clínicos, mesmo que já escritos, pois pode- se extrair informações importantes sobre a patologia do paciente. Na presença de elementos errôneos colhidos neste tópico, já se pode iniciar a pressuposição diagnóstica (vendo o comprometimento da cognição, áreas de memória e orientação auto e alopsíquica). Nome completo Sexo / gênero Cor da pele / etnia Estado civil Não necessariamente o estado legal. Na psiquiatria é importante saber se o paciente tem uma rede de https://www.notion.so/signed/https%3A%2F%2Fs3-us-west-2.amazonaws.com%2Fsecure.notion-static.com%2F49d20811-c8c4-414e-9fc5-14217bd229cc%2FORIENTACOES_PARA_EXAME_PSIQUITRICO.pdf?table=block&id=49534af1-6b6f-47ba-8b13-433cc3c1a937&spaceId=25073d3c-94ad-49b1-807d-6b5e539f166a&userId=3aa7ebee-98f9-4c3c-b9fa-691102cdd001&cache=v2 Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 7 Data de nascimento / idade atual Procedência Residência Grau de escolaridade apoio e um pilar nessa rede são as relações afetivas. Profissão / ocupação Religião / credo / prática religiosa Endereço Forma de contato Queixa principal e duração Motivo da consulta ou queixa que mais lhe incomoda no momento, na presença de várias queixas. Outra opção quando há um conjunto mais amplo de sintomas e comportamentos e/ou imprecisão no tempo deinício, o registro pode ser iniciado na HDA. Escrita entre aspas e nas palavras do paciente. História da doença atual (HDA) Apenas da doença psíquica. Coletar queixas, sintomas mais significativos, sinais, comportamentos diretamente do paciente. Acompanhantes podem auxiliar a elucidar a HDA nos casos de pacientes confusos, com processos demenciais, deficiência intelectual ou quadros psicóticos. Início dos sintomas (ordem cronológica) Agudo ou insidioso; Possíveis fatores psicossociais ocorridos antes do aparecimento do transtorno; Relação com evento passível para causalidade ou não. Evolução do quadro Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 8 Como vem se apresentando no passar do tempo. Piora e melhora, mantém piora, mantém melhora … Episódios anteriores semelhantes Fatores de melhora ou piora Eventos que pioram ou melhoram os sintomas ao longo do tempo; Relação com ritmos circadianos: 💡 - Variação dos sintomas ao longo do dia, dos meses/anos. - Relação com o período pré-menstrual, menarca ou menopausa. Uso de medicamentos. Tratamentos anteriores e sua eficácia Conhecer a sensibilidade do paciente a medicamentos, efeitos adversos; Adesão ao tratamento prévio; Concepção do paciente a respeito das doenças e suas terapêuticas (nível de insigth). Se houve internação, se sim, qual foi a causa. História patológica pregressa / Antecedentes pessoais patológicos Doenças clínicas pregressas TCEs, convulsões, disfunções tireoidianas, infecção no SNC. Doenças crônicas e/ou debilitantes. Uso de medicações “não psiquiátricas”. Alergias, cirurgias e/ou internações anteriores. História psiquiátrica Caso passe algum ponto importante da HDA. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 9 Antecedentes pessoais / Curva de vida e personalidade pré-mórbida Pré-natal e nascimento (SN) Gestação: Gravidez planejada, desejada, pré-natal, infecções ou doenças durante a gestação, uso de medicações durante a gestação, uso de drogas durante a gestação. Parto: Via de parto, Apgar, peso, icterícia neonatal, distúrbio metabólico, hipóxia, intercorrências, uso de fórceps. Desenvolvimento na infância, adolescência e idade adulta Infância: Condições de saúde, desenvolvimento motor, da linguagem e controle esfincteriano. Efetivação do calendário vacinal. Vida escolar, socialização e aprendizagem. Comportamento ante frustrações / limites. Indícios de abuso físico ou sexual. Adolescência: Vida escolar, rendimento escolar, bulliyng, sexualidade, relacionamentos. Relacionamento com os pais ou figuras de autoridade. Vivência de perdas ou separações precoces. Vida adulta: Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 10 Relacionamento conjugal, vida social, vida laboral/acadêmica. Personalidade pré-mórbida Como o paciente era antes do adoecimento. Temperamento, padrões habituais de comportamento, funcionamento laboral/acadêmico, relacionamentos interpessoais. Impacto do transtorno mental em sua trajetória de vida. “Em que nível isso está prejudicando a sua vida?” História familiar Parentes e círculo social mais próximos → Pai, mãe, irmãos, cônjuge, filhos, etc. Histórico de doenças psiquiátricas, história de suicídio, violação da lei. Uso de psicofármacos e seus efeitos clínicos: Possíveis similaridades genéticas quanto a resposta e tolerabilidade. Funcionamento social, antecedentes importante e atmosfera familiar. Genograma e ecomapa. Situação sócio-econômica Importante para avaliar outros fatores que interferem no processo saúde- doença e possibilidade de compra de medicamentos. Hábitos de vida Tabagismo, etilismo, uso de drogas lícitas ou ilícitas: Frequência, quantidade, material de uso, locais de uso, motivação para parar, quando parou, início, interferência no cotidiano. Sono: Número de horas por dia, satisfação, sono diurno, insônia (demora para pegar no sono, sono intercalado ou período curto de sono), hipersonia, sonambulismo, etc. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 11 Apetite/dieta: Alimentação quantitativa e qualitativa. Avaliar aumento ou diminuição do peso. Sexualidade: Diminuição ou aumento do desejo sexual, incapacidade de experimentar o prazer, ejaculação precoce ou retardada, necessidade de obter informações sobre o assunto, sexo seguro, planejamento familiar, etc. Exame do Estado Mental Avaliação geral do paciente Aparência 1. Quanto à idade e saúde; 2. Presença de deformidades e peculiaridades físicas; 3. Modo de vestir-se e os cuidados pessoais, incluindo ordem, asseio e excentricidades. 4. Expressão facial, através da mímica e enquanto sinais sugestivos de doença orgânica, depressão, ansiedade, alegria exagerada ou sem motivo aparente. Marcha, tipo de roupas, maquiagem, adornos, higiene pessoal, cabelos alinhados ou em desalinho. Postura e atitudes durante a consulta Relação e atitude para o entrevistador. Cooperativo, opositor, hostil, suspicaz, reivindicante, arrogante, inibido, desinibido, sedutor, invasivo, evasivo, jocoso, irônico, dramático, teatral, pueril, dissimulado, indiferente, passivo, fóbico, agressivo, petulante, cabisbaixo, inseguro, histriônico, expansivo, submisso, maneirismo… Exame das funções mentais Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 12 Nível de consciência Estado de lucidez em que a pessoa se encontra. Na neurologia avaliamos apenas o nível de vigilância, na psiquiatria avaliamos o aspecto quantitativo (nível de vigilância) + aspecto qualitativo (contato com a realidade, percepção, reconhecimento). Inclui o reconhecimento da realidade externa ou de si mesmo em determinado momento, e a capacidade de responder a estímulos. 💡 Alterações quantitativas (do nível de vigilância ou estado de alerta): Vigil → abertura ocular espontânea, estado alerta e responsivo. Sonolento → lentificação dos processos ideacionais com resmungos incoerentes ou movimentos desorganizados. Obnubilado → semelhante à letargia, o paciente tem interesse diminuído pelo ambiente, respostas lentas ao estímulo e tende a dormir mais que o normal, com torpor entre os estados do sono. Torporoso / estuporoso → estado de alerta profundamente reduzido, exceto quando há um estímulo doloroso e fala incompreensível. Coma → não pode ser acordado, estado de inconsciência profunda. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 13 💡 Alterações qualitativas (do campo da consciência): Estados crepusculares → estreitamento transitório da consciência, com conservação de uma atividade relativamente coordenada (ex. na epilepsia, quadros de embriaguez, esquizofrenia). Dissociação da consciência → perda momentânea da unidade psíquica (fragmentação da consciência), (ex. recebeu uma notícia de CA terminal - passa a não focar consciente na doença). Transe → perda da consciência da identidade, conservação da consciência do ambiente. Uma espécie de sonho acordado. Estado segundo → semelhante ao estado crepuscular, mas a atividade psicomotora é estranha à personalidade do sujeito. Atos extravagantes, em contradição com a educação e conduta habitual do paciente, mas quase nunca graves e violentos. Mais frequentemente provocada por choques emocionais intensos. Possessão → substituição da sua realidade por outra. Estado hipnótico → atenção fixada para coisa única e a forma de reagir à realidade fica prejudicada. Experiência de quase morte → experiência transcultural e sugerem ou um mecanismo cerebral similar ou acesso a uma realidade transcedente. Estado cognitivo (OAMI) ORIENTAÇÃO Autopsíquica → em relação a pessoa (dados pessoais, se reconhece familiares e pessoas com quem está em contato). Mais difícil de ser alterada. Alopsíquica → quanto ao tempo e espaço. A criança se orienta melhor no espaço primeiro - a temporal é mais sofisticada. ATENÇÃO → capacidade de centrar-se em uma atividade. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 14 💡 Hipoprosexia → diminuição global da atenção. Hiperprosexia → muita tenacidade ou muita vigilância. Vigilância(atenção espontânea)→ capacidade não intencional de redirecionar o foco de atenção para estímulos externos. 💡 Hipervigilante → vigilância aumentada. Hipovigilante → vigilância diminuída. Tenacidade (atenção voluntária) → “colar”, “fixar” - capacidade de manter-se em uma tarefa específica, resistindo à fadiga. 💡 Hipotenacidade → não consegue manter sua atenção em uma tarefa específica. Hipertenacidade → mantém sua atenção de maneira intensa e duradoura, sobre um determinado fato/tarefa em detrimento das demais. ⚠ Tenacidade e vigilância são qualidades opostas: se uma aumenta, a outra tende a diminuir de intensidade. Concentração → capacidade de manter a atenção voluntária, em processos internos de pensamento ou em alguma atividade mental. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 15 💡 Examinar pedindo para se subtrair, consecutivamente, o número 7 a partir do 100 (Mini Exame do Estado Mental - MEEM). MEMÓRIA → capacidade de registrar, fixar, reter, evolar e reconhecer objetos, pessoas, experiências ou estímulos sensoriais. Imediata → últimos 5 minutos. Recente → últimos dias e horas. Remota → desde os primeiros anos de vida. INTELIGÊNCIA → conjunto de habilidades cognitivas resultante dos diferentes processos intelectuais. Inclui raciocínio, planejamento, resolução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizagem rápida e aprendizagem a partir da experiência. Compara-se a média esperada para o grupo social, cultural e para a faixa etária. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 16 💡 Raciocínio lógico; Capacidade de fazer contas; Dificuldades em estudar; Capacidade de abstração (analogias e metáforas); Capacidade de generalização; Juízo crítico (perceber e avaliar adequadamente a realidade externa e separar do mundo interno e subjetivo). Pensamento Conjunto de funções integrativas capazes de associar conhecimentos prévios e novos, integrar a estímulos externos e internos, analisar, abstrais, julgar, concluir, sintetizar e criar. Forma → relação e nexo das ideias entre si. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 17 💡 Coerência → em relação à sintaxe. Logicidade → fundado na realidade. Circunstancialidade → expressão do pensamento por meio de detalhes irrelevantes e redundantes, mas o paciente consegue chegar no objetivo. Tangencialidade → o objetivo nunca é alcançado, ou não é claramente definido, embora o paciente fique perto da meta. Arborização do pensamento → as ideias se encadeiam mas os pensamentos tendem a se distanciar do foco original, com mudanças progressivas do tema do discurso (ex. quadros maniformes, alguns quadros psicológicos). Fuga de ideias → associações tênues ou livres, o paciente muda de tema do discurso de forma muito mais rápida que na arborização (ex. fase maníaca do TAB). Prolixidade → incapacidade de distinguir o que é fundamental. Perseveração → dificuldade em abandonar o tema do discurso (ex. transtornos mentais orgânicos). Desagregação do pensamento → as ideias tendem a não se encadearem uma nas outras, sendo o discurso composto por frases desconexas, ou às vezes frases desconexas (salada de palavras) (ex. quadros psicóticos). Fluxo / curso → velocidade em que as ideias passam pelo pensamento. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 18 💡 Acelerado, lentificado, adequado, bloqueado. Conteúdo → conceitos emitidos pelo paciente e sua relação com a realidade. 💡 Conteúdo predominante / ideias prevalentes → conteúdo que em função de sua carga afetiva, ocupa maior parte do pensamento. Preocupações. Obsessões → pensamentos de caráter intrusivo, reconhecidos pelo próprio paciente como absurdas, mas de difícil controle. Ideação suicida ou homicida. Presença de delírios → crenças irreais podendo ser de referência, persecutória, mística, grandiosidade, de ruína, ciúme. # Convicção irremomível e crença inabalável. # Deve ser impenetrável e incompreensível para o indivíduo normal. # Impossibilidade de conteúdo plausível. Linguagem Modo de se comunicar. Envolve linguagem verbal, gestos, olhar, expressão facial e escrita. Quantidade → espontânea, não espontânea, apenas em resposta a perguntas, mutismo, monossilábico, etc. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 19 Velocidade → rápida, lenta, hesitante, latência para iniciar as respostas. Qualidade → conteúdo do discurso (pobre, elaborado), alterações na articulação das palavras (disartria), prejuízo na compreensão ou transmissão de ideias (afasia), neologismos, ecolalia, gagueira, rouquidão. Volume → alto ou baixo. Sensopercepção Capacidade de perceber e interpretar os estímulos que se apresentam aos órgãos dos cinco sentidos. Ilusões → ocorrem quando os estímulos reais são confundidos ou interpretados erroneamente. Alucinações → ocorrem quando há percepção sensorial na ausência de estímulos externos (percepção sem objeto). Despersonalização → alteração da percepção de si próprio, manifestada por sentimento de estranheza ou irrealidade. Desrealização → alteração na percepção do meio ambiente. Humor / afeto HUMOR OU ESTADO DE ÂNIMO Estado emocional de longa duração, interno, não dependente de estímulos externos. É a tonalidade de sentimento predominante. Pode influenciar a percepção de si mesmo e do mundo ao seu redor. - Exemplo → depressivo, ansioso, eufórico, disfórico. AFETO Experiência imediata e subjetiva das emoções sentidas em relação à situação. Inclui a manifestação externa da resposta emocional do paciente a eventos. Acompanha uma ideia ou representação mental. Pode ou não ser congruente com o humor. - Exemplos → tristeza, culpa, alegria, vergonha. EMOÇÕES Movimentos afetivos intensios, com apresentação brusca e de curta Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 20 duração. Momentâneas, desencadeadas por estímulos importantes. - Exemplo → tristeza, raiva, alegria, medo. SENTIMENTOS Conjunto amplodas experiências afetivas. Vivências afetivas constituídas pela fusão entre emoções, humor, sentimentos, sensações corporais, conteúdos intelectuais, valores e representação. - Exemplos → amizade, paixão, amor, agressividade, perigo. Avalia-se pela expressão facial, gestos, tonalidade afetiva da voz, conteúdo do discurso e psicomotricidade, choro fácil, risos imotivados, etc. Qualidade do afeto → tristeza, culpa, alegria, vergonha, etc. Modulação do afeto → capacidade de variar entre afetos. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 21 💡 Hipermodulação → aumento da modulação afetiva esperada em determinada situação existencial. Hipomodulação → diminuicão da modulação afetiva esperada em determinada situação existencial. Labilidade afetiva → emoções e estados de ânimos modificam-se constantemente com ou sem a influência dos estímulos externos (ex. deficiência mental, personalidades imaturas, lesões cerebrais, mania). Embotamento → praticamente nenhum sinal de expressão afetiva, a voz é monótona e o rosto imóvel. Rigidez → indivíduo não deseja/tem dificuldade ou impossibilidade de modular e mudar as emoções. Ambivalência afetiva → apresentação simultânea de sentimentos contraditórios sobre um mesmo objeto ou situação (ex. amor e ódio simultâneos sem que um anule o outro - obsessões, esquizofrenia, TAB). Paratimia ou afetos inadequados → incongruência afetiva. Desajuste entre as emoções e o conteúdo das vivencias (ex. chorar e lamentar-se ao receber uma boa notícia - síndromes orgânico-cerebrais, esquizofrenia residual). Incontinência afetiva → falta de controle sobre as emoções, que susgem de modo brusco e exagerado, diante de pequenos estímulos, sem que se possa controlar (ex. demência senil). Tonalidade afetiva Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 22 💡 Hipotimia → sintomas depressivos. Hipertimia → euforia. Disforia → tonalidade afetiva desagradável, mal- humor. Apatia → diminuição da excitabilidade emotiva eafetiva, subjetiva (ex. depressão, esquizofrenia). Anedonia → paciente percebe sua perda da capacidade de sentir prazer (ex. depressão melancólica). Indiferença ou frieza afetiva → falta ou perda da capacidade de produção de respostas emocionais, não manifestam sentimentos pelos outros, não sentem afetos, podem ser brutos, sem culpa ou remorso (ex. personalidades antissociais, dependentes de heroína, dependentes de álcool com lesões cerebrais). Volição, impulso e prospecção Volição/vontade → normobulia, hipobulia, abulia, hiperbulia. Psicomotricidade Integração das funções motrizes e mentais sob o efeito da educação e do desenvolvimento do sistema nervoso. Exibidos pelo paciente durante a entrevista. Velocidade e intensidade da mobilidade geral da marcha, quando sentado e na gesticulação. Agitação ou retardo Acatisia → movimento de “amassar o barro”. Maneirismos → movimentos involuntários e esteriotipados. Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 23 Tiques → movimentos involuntários e espasmódicos. Presença de sinais de catatonia → obediência automática, flexibilidade cérea. Capacidade de insigths Não é uma condição estática, podendo haver uma modificação nas consultas subsequentes. a) Consciência do problema: Consciência de apenas um problema; Consciência de que tal problema pode ser um transtorno mental; b) Capacidade de nomear ou renomear os sintomas. c) Adesão aos tratamentos propostos. Exame Clínico / Físico Geral TÓPICO AVALIAÇÃO E RELAÇÃO COM A PSIQUIATRIA Estado geral (Ectoscopia) Nível de consciência, orientação, postura, fáscies, tegumento, fâneros, tecido subcutâneo, edemas e presença ou não de linfonodomegalias. - Presença de lesões elementares de pele podem ser sugestivas de lesões autoinfringidas, comportamento de skin pickin ou cicatrizes de automutilações. - Quantidade e distribuição de pelos, assim como espessura das unhas, pois a alopecia pode ser induzida por estabilizadores de humor e outros psicofármacos ou pode sugerir comportamento de tricotilomania. Medidas antropométricas Peso, altura e IMC podem revelar algumas condições medicas. - IMC < 18,5 pode sugerir recusaalimentar ou diminuição do apetite. - IMC < 17 e associado a outros sintomas pode indicar anorexia nervosa. - IMC elevado também é importante pois pode influenciar a escolha de agentes terapêuticos e análise de efeitos colaterais de algumas medicações que levam ao ganho ponderal. Aferição da Pressão Arterial (PA) - Pacientes com transtorno de ansiedade podem apresentar comorbidades com HAS e risco CVC mais elevado quando comparados à população geral. - Sindrome serotoninérgica associada a alguns medicamentos que aumentam o nível de serotonina no SNC pode aumentar a PA. Temperatura corporal - Para descartar alterações em doenças infecciosas que cursem Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 24 com quadros confusionais ou alterações associadas a alguns psicofármacos (ex. clozapina). Frequência Cardíaca (FC) - É comum haver taquicardia em razão de efeitos anticolinérgicos ou bloqueio alfa-1-adrenérgico de antipsicóticos e dos ADT. - A síndrome da taquicardia ortostática postural é um diagnóstico diferencial para sintomas de ansiedade e crise de pânico. Cabeça - Condições psiquiátricas como depressão, ansiedade, transtorno do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo são comorbidades frequentes em indivíduos com enxaqueca e cefaleia tensional. - Pacientes com migrânea têm maior prevalência de ansiedade generalizada e/ou depressão maior, principalmente nos casos com aura. - Tontura e vertigem pode ocorrer como efeito colateral de alguns psicofármacos. Olhos, ouvidos, nariz e garganta - Glaucoma é um alerta na escolha de medicações com efeito anticolinérgico. - Visão borrada ou turva pode ser efeito colateral de ADTs, trazodona e clozapina. - Zumbidos podem ser induzidos por psicofármacos, assim como fazer parte da síndrome de retirada de antidepressivo. - Afonia pode ser desencadeada por episódios dissociativos. Sistema respiratório - Diferenciar doenças pulmonares ou obstruções de dispneias psicogênicas. Sistema cardiovascular - Palpitações e taquicardia podem ser sintomas ansiosos mas devem ser avaliados para verificar a ocorrência de ritmo cardíaco irregular ou sopros. Trato gastrointestinal - Gosto amargo ou metálico podem ocorrer pelo uso de ADT e lítio. - Constipação e diarréia podem ser efeitos colaterais de medicamentos ou sintomas ansiosos. Exame neurológico Avaliar nervos cranianos, equilíbrio, marcha, motricidade, coordenação e sensibilidade. Instrumentos de avaliação psiquiátrica Inventário neuropsiquiátrico Escala de avaliação de depressão de Hamilton Escala de depressão geriátrica Anamnese Psiquiátrica e Exame do Estado Mental 25 Escala Barratt de impulsividade Escala geral de atividades de vida diárias Instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida Escala de satisfação com a vida Questionário de falhas cognitivas Escala de avaliação de mania de Young Escala de depressão pós parto de Edimburgo Questionário CAGE Teste de Fagerstrom