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Tema 3 Passagem da cultura impressa para a digital módulo 1

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Módulo 1 
McLuhan cunhou a expressão “o meio é a mensagem”, partindo da premissa de que os meios de comunicação não são tecnologias neutras. Até então, os estudos no campo da Comunicação davam mais ênfase ao conteúdo das mensagens do que à forma como elas se apresentavam e eram veiculadas. McLuhan se deteve nas características materiais dos suportes em que as mensagens eram transmitidas para verificar a influência que exerciam sobre nós.
Um exemplo: a mesma informação veiculada em um jornal, ouvida em uma rádio ou assistida na televisão acionaria diferentes percepções nos leitores, ouvintes e telespectadores. Os meios influenciam o modo como sentimos e pensamos
Um dos maiores historiadores da leitura, o francês Roger Chartier também acentua a importância da forma na comunicação, ressaltando a influência dos suportes materiais na compreensão dos significados das mensagens. Chartier (1998) observa, por exemplo, que um romance de Balzac pode ser recebido de maneira diferente, mesmo sem que uma linha do texto tenha sido mudada, caso ele seja publicado em um folhetim, em um livro ou em uma coletânea.
O alfabeto fonético é capaz de traduzir o audível e o tátil no visível e no abstrato.
Segundo Barbosa (2017), McLuhan sustenta que a consequência da adoção da escrita reconfigurou nossa cultura para um mundo visual, baseado na abstração, na linearidade e no individualismo. Todos os sentidos continuaram a ser acionados ainda para a obtenção de conhecimento, mas a confirmação passou a ser pela visão: é preciso ver escrito para crer.
Se, por um lado, a cultura escrita permitiu a expansão do conhecimento, por outro reduziu a comunicação ao aspecto visual.
MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOS
McLuhan acreditava que a mudança na comunicação da forma tátil-acústica, característica das práticas orais, para a visual poderia ser sistematizada pelos conceitos de meios quentes e meios frios. Essa divisão foi apresentada no livro Os meios de comunicação como extensões do homem (1974). O que determina se os meios são quentes ou frios é o grau de participação dos indivíduos e os sentidos que são acionados no ato da comunicação.
Veja alguns exemplos desses meios e tente identificar as razões pelas quais eles foram definidos como quentes ou frios.
	Meios quentes
	Meios frios
	Alfabeto
	Caricatura
	Filme
	Desenho
	Fotografia
	Fala
	Jornal
	Hieróglifos
	Palestra
	Telefone
	Rádio
	Televisão
O pensamento de McLuhan vai contra o senso comum em relação ao que nos acostumamos a perceber como “quente” e “frio”. Os meios quentes, para ele, seriam os que prolongam um dos nossos sentidos e em “alta definição”, ou seja, nos suprem com uma elevada clareza de informação. Se o meio nos proporciona uma mensagem de fácil compreensão ou “mastigada”, como diríamos na gíria, os nossos sentidos são pouco requisitados para a recepção da mensagem. O rádio, por exemplo, pela definição de McLuhan, estenderia a audição. Já o telefone, embora dependa da audição, seria “frio” porque tanto o emissor como o receptor precisam participar da conversa para completar a mensagem.
Quando recebemos uma informação por um meio frio, precisamos acionar mais de um sentido para compreendê-la. É o que acontece com a televisão, em que visão e audição se articulam. Além disso, as observações de McLuhan se referem aos primórdios da televisão, quando a baixa definição da imagem exigia do telespectador um esforço maior para decodificar a mensagem. A título de exemplo, veja como era a definição da imagem do Gato Félix em 1928.
McLuhan entende que os meios – ou as tecnologias – expandem a existência, as capacidades e o corpo humano. O telefone seria a extensão do ouvido. O livro, por exemplo, a da visão. Ao estender nossos sentidos, os meios seriam prolongamentos de nosso corpo, como uma projeção de nosso sistema nervoso central para restabelecer o equilíbrio sensorial que foi modificado pela introdução de um novo meio. Para o teórico, os meios seriam tanto extensões quanto “amputações”, entorpecendo-nos com seus efeitos
Outra crítica comumente dirigida a McLuhan gira em torno de seu aforismo “o meio é a mensagem”. De acordo com o teórico, são os meios que determinam as mudanças culturais em nossos comportamentos. Essa visão, para muitos críticos, privilegia o aspecto tecnológico e menospreza o cultural, ou seja, a ação humana. Sem referir-se ao canadense, o filósofo Pierre Lévy (2000) indiretamente questionou suas afirmações ao voltar-se contra o determinismo tecnológico. 
A televisão seria um meio mais frio em relação ao rádio. E, mesmo assim, em determinado período. Seguindo os argumentos de Carey, seria mais produtivo enxergar essa classificação entre meios quentes e meios frios como relativa, dependendo das mudanças que os meios sofressem em sua estrutura e seu conteúdo.
Módulo 2
HIBRIDISMO E REMEDIAÇÃO
Vimos que a classificação de McLuhan sobre os meios quentes e frios ficou datada. Entretanto, seu pensamento voltou a ser valorizado com a internet pelo fato de o meio permitir um hibridismo entre as linguagens impressa, sonora, audiovisual e tátil se as consumirmos nos smartphones.
Assim, cada meio tornava-se o conteúdo do que substituía:
O manuscrito tornou-se o conteúdo do impresso
A fotografia e o romance tornaram-se o conteúdo do filme
O filme tornou-se o conteúdo da TV
O termo hibridização foi usado por McLuhan na década de 1960 para caracterizar as mudanças provocadas pela introdução e disseminação da televisão. No século XXI, voltou a ficar atual com a convergência entre as mídias possibilitada pela rede mundial de computadores.
Meios quentes e meios frios
Ver artigo principal: Meios quentes e meios frios
McLuhan classifica os meios de comunicação como quentes E frios.
Os quentes são os meios que prolongam um de nossos sentidos e possuem alta saturação de dados ("alta definição"). Estes meios nos oferecem um excesso de informação sem precisar de intervenção dos demais sentidos humanos. Já os meios frios requerem um maior engajamento do espectador, fazendo-o usar vários sentidos simultaneamente. Menos informação é disponibilizada ("baixa saturação") e é necessário a intervenção dos demais sentidos para preencher os vazios deixados pelo meio.[13]
Os meios de comunicação como extensão do ser humano
O autor defende a ideia de que todos os meios são extensões dos sentidos humanos (chamado por ele de "prótese técnica"). Meio é definido por McLuhan como toda forma de interação social e as formas pelas quais se estabelecem relações de poder, ora por dependência, ora por cooperação e ora por dominação. Essas formas de extensões são simbióticas e nos explicam a transformação da sociedade frente às novas tecnologias que mudou nossa percepção de espaço e de tempo.[carece de fontes]
O papel e a caneta são extensões do sentido da memória (que hoje já evoluíram para os palmtops,[14] a roda seria extensão dos nossos pés e da habilidade de locomoção e o telefone seria a ampliação da nossa fala.[13]
O híbrido, ou encontro de dois meios, constitui um momento de verdade e revelação, do qual cresce a forma nova. Isto porque o paralelo de dois meios nos mantém nas fronteiras entre formas (...). O momento de encontro dos meios é um momento de liberdade e libertação do entorpecimento e do transe que eles impõem aos nossos sentidos.
MCLUHAN apud DEL BIANCO, 2005
Na época do surgimento da TV, dizia-se que ela acabaria com o rádio. Entretanto, a previsão não se concretizou. Com a era digital, a profecia ficou ainda mais distante porque meios e práticas convergem. Quando navegamos por um website, estamos experimentando o encontro de todas as mídias anteriores. Para Del Bianco, a hibridização entre os meios realinha o sistema de comunicação:
É possível entender hoje que as mutações emergentes por hibridização desencadeiam um realinhamento do sistema de comunicação, abrindo caminho para a convergência de processos e práticas. E nesse ambiente de modificações e reciclagens, onde uma forma não subsiste sem a outra, é que estão sendo moldadas na contemporaneidade as bases do processo de convergênciaou integração entre novos e velhos meios. Revolucionário e visionário, o pensamento de McLuhan saiu do ostracismo para inspirar pesquisadores em todo mundo.
Quantas vezes você já deve ter visto diálogos de aplicativos de mensagens projetados na tela de cinema, simulando o diálogo entre os personagens que estão usando seus smartphones em cena? Ou tweets reproduzidos em páginas impressas? Na visão de Bolter e Grusin, o processo de remediação é inevitável: todo meio estaria absorvendo o outro.
Manovich (2003), ao analisar as chamadas novas mídias – ou mídias digitais – observou que elas se nutrem das características das velhas, tornando-se, assim, metamídia. O grande divisor de águas entre elas seria a migração das mídias para o software, que permite novas formas de distribuição e interatividade.
Walter Ong (1982) afirma que o texto, por ser literalmente conservador (ele se conserva), liberaria a mente de tarefas conservadoras. Ele acredita que escrever fortalece a consciência. Para o teórico, o uso de uma tecnologia pode enriquecer a psique, alargar o espírito humano e intensificar sua vida interior, e a escrita é uma tecnologia ainda mais profundamente interiorizada
O meio, com seu poder de envolver, teria alargado a audição, como notam Del Bianco e Meditsch (2005). McLuhan, apontam os autores, recorreu à metáfora do tambor tribal para definir o rádio como uma tecnologia que fortalece a conexão do homem com o grupo, com a comunidade, que foi capaz de reverter rapidamente o individualismo do homem tipográfico para o coletivismo. O rádio, para Del Bianco, trouxe à tona ecos de antigos tambores tribais.
 O rádio elenca a linguagem oral, a penetração, a mobilidade, o baixo custo, o imediatismo, a autonomia (a pessoa pode receber a mensagem em qualquer lugar que esteja) e a sensorialidade. Segundo Ortriwano (1985), ele envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio da criação de um “diálogo mental” com o emissor e faz a imaginação ser ativada mediante a emocionalidade das palavras e dos recursos da sonoplastia, permitindo que as mensagens tenham nuances individuais, de acordo com as expectativas de cada um.
Palácios e Cunha (2012), ao analisarem os impactos desses novos dispositivos sobre o jornalismo, enumeraram a tactilidade como mais um atributo do ciberjornalismo contemporâneo, além da multimidialidade, hipertextualidade, interatividade, customização, memória e da instantaneidade.
Palácios e Cunha (2012), ao analisarem os impactos desses novos dispositivos sobre o jornalismo, enumeraram a tactilidade como mais um atributo do ciberjornalismo contemporâneo, além da multimidialidade, hipertextualidade, interatividade, customização, memória e da instantaneidade.
A LINGUAGEM HIPERMÍDIA E A INTERATIVIDADE
Interação é a palavra-chave para a compreensão da mudança radical de um consumo mais passivo de informação que caracterizou a era dos meios de comunicação de massa para um mais ativo na era digital. Bardoel e Deuze (2001) identificaram quatro características do jornalismo online que se aplicam de modo geral aos produtos veiculados na rede mundial de computadores: a hipertextualidade, a interatividade, a mutimidialidade e a customização de conteúdo
A interatividade na web pode acontecer de várias formas. Para alguns autores, ela é múltipla, de modo que não é possível falar de interatividade no singular. Segundo Mielniczuk (2001), ela estaria presente em uma série de processos.
A customização tem duas outras faces: em muitos sites e aplicativos, o usuário configura os produtos de acordo com suas preferências. Entretanto, existe ainda uma customização algorítmica nas redes sociais e nos mecanismos de busca. Por meio do nosso comportamento ao navegarmos na web, os algoritmos presentes nessas plataformas filtram o que nos será mostrado e ocultado
Por fim, resta descrever os efeitos da hipertextualidade. A conexão entre os textos por meio de links rompe com a linearidade da leitura tal como no texto impresso. Essa característica da linguagem digital também contribui para a personalização do conteúdo, já que cada leitor escolherá seu caminho de leitura. É claro que, no jornal impresso, você também poderia ler apenas o primeiro parágrafo de uma notícia, abandoná-la e decidir pular da Política para o Caderno de Esportes, por exemplo. Ainda assim, o “cardápio” de notícias ofertado a você seria composto apenas pelas notícias que aconteceram no dia anterior.
Na televisão e no rádio, o telespectador poderia trocar de canal ou estação quantas vezes quisesse. Portanto, já havia interatividade, mas as escolhas do leitor, ouvinte e telespectador eram limitadas pela grade de programação ou pelo tamanho do jornal. Na web, a liberdade de escolhas é infinita.
Módulo 3
Você já assistiu a Black Mirror: Bandersnatch? No filme, os usuários podem decidir cinco finais possíveis para o personagem Stefan, um jovem programador que desenvolve um game nos anos 1980 que começa a misturar a realidade com o mundo virtual. O destino do personagem principal é fruto das escolhas dos usuários. Foi a primeira experiência interativa do serviço de streaming Netflix.
Outro exemplo são os QR codes que têm aparecido em intervalos comerciais de TV, para que se saiba mais sobre alguma oferta.
 A mídia broadcast seria representada pelos meios analógicos de comunicação de massa: jornais, cinema, rádio e televisão. A intercast seria composta pelos meios na internet. 
No sistema broadcast, que consideram mais hierarquizado, as decisões são centralizadas e comunicadas para o público de cima para baixo. Os meios analógicos teriam consolidado um modelo de relacionamento com suas audiências dentro do conceito clássico de emissor-receptor. Como se fosse “eu falo e vocês escutam”. Tal modelo se baseava numa amostragem do público que era possível de ser obtida com pesquisas quantitativas e qualitativas de mercado. No caso dos jornais, a aferição era feita pelo Índice de Verificação de Circulação (IVC), que recentemente foi renomeado e agora se chama Instituto Verificador de Comunicação, passando a medir também os assinantes digitais
No modelo nomeado por eles de intercast, o feedback do público é instantâneo. É possível saber em tempo real quais são as notícias mais lidas em determinado site ou as mais compartilhadas em redes sociais, acompanhar o termômetro de votações de reality shows na TV ou ainda saber quais são os filmes mais assistidos numa plataforma de streaming.
Broadcast
· Meios analógicos de comunicação de massa
· Decisões centralizadas
· Comunicação vertical
Intercast
· Dispositivos digitais, conectados à internet
· Feedback instantâneo
· Comunicação horizontal
A FALSA OPOSIÇÃO ENTRE MÍDIA ONLINE E OFFLINE
Como visto no vídeo, não há mais como separar os mundos físico e virtual, que se entrelaçam cada vez mais na sociedade em rede. Isso também vale para as mídias. Elas não se excluem, mas se complementam. Quantas vezes você se sentou no sofá diante da TV com o celular na mão e ficou navegando no Twitter e comentando o programa a que assistia?
QUANTO MAIS INFORMAÇÃO, MAIS NECESSIDADE DE MEDIAÇÃO
E como lidar com tanta informação? A internet registra o maior crescimento entre as mídias na história. No clássico A Sociedade em rede – A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, Manuel Castells afirma que, em 1973, quando a internet estava em seus primórdios, havia 25 computadores conectados à rede. Durante os anos 1970, o número aumentou para 256 e, na década seguinte, para alguns milhares de usuários. Em 1999, nove anos após o surgimento da World Wide Web (www), a interface gráfica que permitiu a criação de sites, a internet já conectava 63 milhões de computadores, 950 milhões de telefones (a internet era discada) e cinco milhões de sites e era usada por 179 milhões de pessoas em todo o mundo.
Em 2019, éramos 3,9 bilhões de pessoas conectadas à rede ao redor do globo, ou 51% da população mundial, segundo estudo da UIT, agência das Nações Unidas. A empresa Visual Capitalist mensurou o que isso quer dizer em um minuto na internet:
	
	· 1 milhãode logins no Facebook
	
	· 41,6 milhões de mensagens enviadas no Facebook Messenger e no WhatsApp
	
	· 3,8 milhões de buscas no Google
	· 4,5 milhões de vídeos assistidos no YouTube
Em um mundo onde tudo o que você precisa é de um celular com câmera para mostrar o que está acontecendo à sua volta, não é mais tão simples limitar o papel de uma pessoa.
TAPSCOTT e WILLIAMS, 2006.
Esse apagamento das linhas entre público e autor, fato e ficção, invenção e realidade obscurece ainda mais a objetividade. O culto do amador tornou cada vez mais difícil determinar a diferença entre leitor e escritor, artista e relações-públicas, arte e publicidade, amador e especialista. O resultado? O declínio da qualidade e da confiabilidade da informação que recebemos, distorcendo assim, se não corrompendo por completo, nosso debate cívico nacional.
KEEN, 2009.
No caso do jornalismo, diversos autores já apontaram para o risco da falta de curadoria da informação que trafega na internet e sustentam que a era digital fortalece o papel do profissional. Neveu (2006) acredita numa revalorização da função do jornalista, diante da abundância de informação na web. Ele afirma que o caos da oferta de informação na internet pode devolver sentido à necessidade de uma forma de certificado de garantia para o profissionalismo dos jornalistas.
Wolton (2010) vai na mesma linha de pensamento. Para ele, a informação se tornou abundante, mas a comunicação é uma raridade no cenário contemporâneo. Daí a necessidade do intermediário, que seria o jornalista
Módulo 4
O HIPERTEXTO: CAMINHOS MÚLTIPLOS
De acordo com Fachinetto (2005), o termo hipertexto foi criado nos anos 1960, por Theodor H. Nelson, com seu projeto Xanadu. Ele foi concebido para ser um processador de textos capaz de lidar com várias versões de um texto e mostrar as diferenças entre elas.
O objetivo de Nelson, que era estudante em Harvard, era facilitar a escrita não linear. Por meio de um documento eletrônico, o usuário poderia escolher seu próprio caminho de leitura. No livro O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço, Lúcia Leão (1999) expõe o pensamento de Nelson: para ele, o hipertexto se constitui de escritas associadas não sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leitura em diferentes direções.
 Refletindo sobre as diferenças entre hipertexto e hipermídia, George Paul Landow afirma que o hipertexto é composto de fragmentos de texto e dos links que os conectam entre si. Para ele, o termo hipermídia estende a noção de hipertexto, ao adicionar informação visual, sonora, animação e outras formas de informação, além do texto (apud FACHINETTO, 2005).
Diferentemente da narrativa linear, o leitor tem mais liberdade de abandonar a ordem prevista pelo autor e escolher seu próprio caminho de leitura no hipertexto. Nos meios digitais, o texto pode ser fragmentado e retirado de uma sequência que obedece à lógica da escrita, de causalidade entre as orações. A linearidade, como já visto, caracterizou o homem tipográfico, segundo McLuhan
O hipertexto é, portanto, uma inovação narrativa anterior à era digital. Mas o cenário digital acelerou o processo. As histórias impressas, os filmes, os áudios e os vídeos estão transformando os formatos lineares do passado. Aguiar e Barsotti (2010) sustentam que seria ingênuo acreditar no purismo do texto impresso atualmente porque ele se interpenetra profundamente com o eletrônico, a começar pelo meio em que são escritos.
Umberto Eco, assim como fez em Apocalípticos e Integrados, em que expôs os argumentos dos críticos e dos defensores dos meios de comunicação de massa, buscou o equilíbrio ao analisar os efeitos do hipertexto no livro Sobre a literatura. Para ele, os contos “imodificáveis”, ou seja, os já consagrados pelos livros impressos, ao contarem uma história, também contam a de cada indivíduo. Por isso, sustentou, são amados. Por outro lado, Umberto Eco viu valor no hipertexto, que pode educar para a liberdade e para a criatividade.
A narrativa multimídia pode abrigar vários campos artísticos, entre eles as artes plásticas, o design, o vídeo e a música, os games e a programação. Flusser (2010) observou que a fronteira entre a categoria “arte” e a categoria “ciência e técnica” é eliminada pela produção multimídia: a Ciência evidencia-se como forma artística e a Arte, como fonte de conhecimento científico.
No jornalismo, um marco inaugural desse uso de diferentes mídias foi o especial Snow Fall, do New York Times, publicado em 2012. No ano seguinte, a reportagem, sobre uma avalanche ocorrida no estado de Washington com vítimas fatais, ganhou o Prêmio Pulitzer. Dividida em seis capítulos, a história foi contada utilizando recursos multimídia: infográficos animados, vídeos aéreos, animações, fotografias e hiperlinks.
Durante seis meses, uma equipe de reportagem e de especialistas em programação e design planejou o projeto. A iniciativa foi considerada um divisor de águas no jornalismo online e foi replicada no mundo todo. O Brasil também começou iniciativas do gênero, como o especial Belo Monte, sobre a usina hidrelétrica, na Folha de S. Paulo. Na edição impressa, mereceu duas páginas. Ou seja, nos meios analógicos, permanece a especificidade de cada um. Nos meios digitais, as fronteiras ficam cada vez mais esmaecidas
MULTIMÍDIA, CROSS-MEDIA E TRANSMÍDIA
No artigo Interfaces e linguagens para o documentário transmídia, Renó (2013) procura demonstrar a confusão que há entre os conceitos multimídia, cross-media e transmídia, embora muitas vezes eles sejam aplicados sem distinção. Ele lembra que cross-media é um termo que significa a transmissão de um mesmo conteúdo por plataformas diferentes, segundo demarcou Henry Jenkins (apud RENÓ, 2013). Ou seja, você pode assistir a um filme na televisão aberta, na tela do seu smartphone ou na sala de cinema. O conteúdo será exatamente o mesmo, embora as experiências sejam bem diferentes
Enquanto a estratégia cross-media distribui a mesma mensagem em multiplataforma, a narrativa transmídia oferta mensagens distintas, ainda que relacionadas e complementares, em ambiente multiplataforma
Na passagem da cultura impressa para a digital, estamos assistindo a um longo caminho de adaptações e mudanças que envolvem tanto o modo como produzimos quanto como consumimos informação, o que engloba transformações tecnológicas, mas também culturais. Se atribuirmos toda a revolução a que estamos assistindo no mundo contemporâneo à evolução das máquinas, reduziremos o protagonismo dos humanos nesse cenário.
A grande mudança de paradigma da cultura impressa para a digital reside na migração da escrita linear para o hipertexto. Em vez de seguir uma ordem de leitura sequencial, inaugurada pelo alfabeto fonético, o usuário agora decide seu próprio caminho de consumo da informação. Na contemporaneidade, o conceito de hipertexto foi estendido para hipermídia.
Para analisar esse cenário, estudamos os conceitos de meios quentes e meios frios, hibridismo, mídia de massa e mídia de nicho, transmídia e cross-media. Assim, buscamos entender os efeitos das novas mídias sobre nós, mas também as possibilidades que trazem para os produtores de conteúdo do século XXI, que podem se valer das potencialidades de todas elas.

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