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DEFINIÇÃO O Diário Oficial da União (23 de novembro de 2017) define os critérios do diagnóstico de morte encefálica. FISIOPATOLOGIA Lesão neuronal grave ➛ edema vasogênico ➛ aumento da PIC ➛ herniação de estruturas ➛ diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e diminuição da pressão de perfusão cerebral. EPIDEMIOLOGIA - 47% - AVC - 39% - TCE grave - 4% - Tumores do SNC - 10% -Outros POTENCIAIS MÍMICAS DE MORTE ENCEFÁLICA ❖ Bloqueio neuromuscular: ➢ Síndrome de Guillain-Barré ➢ Botulismo ❖ Hipotermia ❖ Intoxicações por drogas: ➢ Tricíclicos ➢ Lidocaína ➢ Baclofeno ➢ Sedativos, incluindo barbitúricos ➢ Bloqueadores neuromusculares ➢ Anticolinérgicos ➢ Ácido valpróico ❖ Lesão na coluna/medular alta ❖ Síndrome de Locked-in QUEM DEVE SER AVALIADO? ✔ Paciente em coma não perceptivo; ✔ Com ausência de atividade supraespinal; ✔ Com apneia persistente. Associado a: I. Lesão encefálica de causa conhecida, irreversível, capaz de causar morte encefálica. II. Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de ME. III. Tratamento e observação hospitalar por no mínimo 6 horas (24h se a causa for encefalopatia hipóxico-isquêmica). IV. Temperatura corporal (esofageana, vesical ou retal) > 35ºC. V. Saturação de O2 > 94%. VI. PAS > ou igual a 100 mmHg ou PAM > 65 mmHg. COMO AVALIAR? ❖ 2 exames clínicos com no mínimo 1 hora de diferença, realizados por médicos capacitados diferentes; ❖ Teste de apneia; ❖ Exame complementar. COMA NÃO PERCEPTIVO O paciente deve ser irresponsivo a estímulos sensoriais, incluindo dor e fala. Escala de Coma de Glasgow Subtrair 1 para cada pupila sem reflexo fotomotor presente. O estímulo álgico em face, na região supraorbitária ou temporomandibular, tem como objetivo avaliar a via aferente do nervo trigêmeo, se houver qualquer reação motora ao estímulo, isso significa que o tronco encefálico ainda apresenta atividade. Outros estímulos dolorosos podem ser testados, como a compressão do leito ungueal, mas esse só terá resposta considerada caso haja alteração da mímica facial ao estímulo. O estímulo esternal ou dos mamilos não são adequados para o teste pois podem significar um reflexo medular, que não exclui o diagnóstico de morte encefálica. AUSÊNCIA DE REFLEXOS DE TRONCO O tronco encefálico é uma parte do sistema nervoso central, localizado entre a medula espinhal e o diencéfalo, anteriormente ao cerebelo. Ele é composto pelo mesencéfalo, ponte e bulbo, no sentido cranial para caudal. ● O bulbo é o local onde se encontram os centros respiratório, vasomotor e do vômito. ● A ponte contém fibras descendentes do córtex para a medula e cerebelo em sua base e seu tegmento, fibras ascendentes, descendentes, transversais e núcleos dos nervos cranianos. ● No mesencéfalo, o teto está relacionado com funções sensoriais e motoras, enquanto sua base é formada por fibras descendentes do córtex cerebral. No interior do tronco encefálico estão alojados a formação reticular e os núcleos da maioria dos nervos cranianos (exceto o NC I e II), os quais: ● O III par craniano é o oculomotor, que é responsável pela motricidade ocular extrínseca e intrínseca (controla os músculos reto medial, reto superior, reto inferior, oblíquo inferior e o elevador da pálpebra superior, como também o músculo ciliar e esfíncter da pupila). ● O IV par craniano é o troclear, ele controla parte da motricidade extrínseca do olho, o músculo oblíquo superior. ● O V par craniano é o trigêmeo, possui função mista, inervação motora dos músculos mastigatórios e, sensitiva da face e sensitiva geral da língua (2/3 anteriores). ● O VI par craniano é o abducente, ele controla o músculo reto lateral, que faz parte da motricidade extrínseca do olho. ● O VII par craniano é o facial, também é um nervo misto, o qual possui como função a gustação dos 2/3 anteriores da língua, motricidade dos músculos mímicos e inervação autonômica parassimpática das glândulas submandibulares, sublinguais e lacrimais. ● O VII par craniano é o vestibulococlear, nervo sensitivo, responsável pela audição e equilíbrio (parte coclear e vestibular). ● O IX par craniano é o glossofaríngeo, misto, responsável pela sensibilidade geral e gustação do 1/3 posterior da língua, motricidade da faringe e inervação autonômica parassimpática da parótida. ● O X par craniano é vago, também chamado de pneumogástrico, nervo misto, visceral, responsável pela sensibilidade da faringe, laringe, traqueia, esôfago e vísceras toracoabdominais, motricidade da faringe e laringe e inervação autonômica parassimpática das vísceras toracoabdominais. ● O XI par craniano é o acessório, nervo motor, seu ramo externo (raiz espinhal) inerva os músculos ECM e trapézio, enquanto o ramo interno (raiz bulbar) se junta ao nervo vago e distribui-se com ele, inervando os músculos da faringe e laringe. ● O XII par craniano é o hipoglosso, nervo motor, responsável pela motricidade da língua. 1. Reflexo fotomotor direto ou consensual: No paciente com morte encefálica, as pupilas devem estar midriáticas, com dilatação média ou completa (3 a 9 mm) e devem estar centradas na linha média. A forma da pupila não é importante para o diagnóstico de morte encefálica, mas sim sua reatividade. As pupilas devem ser iluminadas e não devem apresentar contração como resposta ao estímulo luminoso por 10 segundos. Devemos estar atentos a ausência de resposta direta (na mesma pupila iluminada), como também na resposta consensual (reatividade da pupila contralateral). A íris é composta por dois músculos, o músculo esfíncter da pupila, com inervação parassimpática, responsável pela miose (contração) pupilar, e o músculo dilatador da pupila, com inervação simpática, responsável pela midríase (dilatação pupilar). Puramente aferente, o nervo óptico de cada olho se projeta medialmente até encontrar o nervo óptico contralateral, logo acima da sela túrcica do osso esfenóide e abaixo do hipotálamo. Nesse ponto, ambos os nervos ópticos se fundem macroscopicamente, formando o quiasma óptico. Em formato de “x”, trata-se de estrutura anatomicamente pertencente ao hipotálamo, onde as projeções retinofugais apenas das retinas nasais decussam (cruzam). Logo após o quiasma óptico, as fibras retinofugais continuam a se projetar posteriormente, agora segregadas em fibras da retina lateral ipsilateral e da retina nasal contralateral, em uma estrutura conhecida como trato óptico . O trato óptico se projeta até a porção posterior do diencéfalo, fazendo sinapse com o corpo geniculado lateral do tálamo (CGL) . Os neurônios do CGL, finalmente, projetam seus axônios, através das radiações óticas, diretamente para o córtex visual primário , na fissura calcarina do lobo occipital. A via retino-pré-tectal consiste na sinapse de projeções retinofugais com um par de núcleos pré-tectais, situados justamente na região pré-tectal do mesencéfalo, na altura dos colículos superiores. Cada um dos núcleos pré-tectais irá projetar axônios para ambos os lados do mesencéfalo, para outro par de núcleos, os núcleos de Edinger-Westphal. Estes núcleos, por sua vez, compõem o núcleo do III par de nervos cranianos, o nervo oculomotor, a via eferente dos reflexos pupilares fotomotores. Cada núcleo é composto, por sua vez, por outros dois núcleos, o (1) núcleo motor principal e (2) núcleo de Edinger-Westphal, ou núcleo parassimpático. Cada um dos núcleos pré-tectais, que recebem projeções retinofugais, irão projetar axônios tanto ipsilaterais quanto contralaterais aos núcleos de Edinger-Westphal, de forma que os dois núcleos, cada um de um nervo oculomotor, irão receber uma aferência, mesmo que o estímulo luminoso tenha sido projetado em apenas um dos olhos. A partir de agora, cada nervo oculomotor – tanto o esquerdo quanto o direito – irá gerar uma eferência parassimpática ao estímulo luminoso percebido por apenas um dos olhos. As fibras parassimpáticas seguem perifericamenteno nervo oculomotor até fazerem sinapse com o gânglio ciliar, de localização retrobulbar, dentro da órbita. As fibras pós-ganglionares projetam seus axônios, através dos nervos ciliares curtos, que irá finalmente inervar o músculo ciliar e o músculo esfíncter da pupila, causando finalmente uma miose pupilar parassimpática frente a um estímulo luminoso. Conhecer o trajeto dessas fibras parassimpáticas, com projeção periférica no nervo oculomotor, torna-se fundamentalmente importante no contexto, por exemplo, de trauma cranioencefálico (TCE), onde uma possível herniação de lobo temporal, secundária a um hematoma epidural, por exemplo, pode comprimir tais fibras, causadas em uma midríase ipsilateral à hérnia. 2. Reflexo córneo-palpebral ou corneano: Para se testar esse reflexo, utilizamos uma gaze ou algodão para se fazer um leve estímulo tocando a córnea do paciente, sem causar injúria. Quando presente, a resposta é de defesa, com fechamento ocular. O impulso aferente desse estímulo vem do ramo oftálmico do nervo trigêmeo, passando pelo gânglio trigeminal e raiz sensitiva do trigêmeo (V); e o impulso eferente, do nervo facial (VII). Esse reflexo é um mecanismo de defesa contra corpos estranhos que caem no olho, que é seguido também pelo aumento do lacrimejamento. 3. Reflexo óculo-cefálico: O reflexo óculo cefálico também tem como via aferente o nervo vestíbulo coclear (NC VIII), que tem seus núcleos na ponte, mas sua via eferente se da pelos nervos da musculatura extrínseca do olho, NC III, IV e VI. Como este é um exame que demanda mobilização da cabeça, ele não deve ser performado em casos de lesão cervical. Para iniciar o teste, o paciente deve estar com a cabeça e pescoço alinhados e centrados na linha média. Então, o reflexo é testado com a movimentação rápida em rotação lateral da cabeça. Caso o reflexo esteja preservado, espera-se que os olhos se mantenham com olhar centrado na linha média, indicando movimentação da musculatura extrínseca do olho. Os movimentos devem ser performados para ambos os lados. Na morte encefálica, ou seja, na ausência do reflexo, o olhar do paciente acompanhará a movimentação cefálica realizada. 4. Reflexo vestíbulo-calórico: Sua via aferente é através do nervo vestíbulo coclear (NC VIII), que tem seus núcleos na ponte e sua via eferente se dá pelos nervos responsáveis pela musculatura extrínseca do olho. São os nervos oculomotor (NC III), abducente (NC VI) e troclear (NC IV). Ele têm seus núcleos localizados no fascículo longitudinal medial, que se encontra na transição entre o mesencéfalo e a ponte. Para se testar esse reflexo, primeiramente devemos realizar uma otoscopia para verificar ausência de obstruções do canal auditivo. Então, o paciente deve ser posicionado com a cabeceira do leito a 30o, com pescoço e cabeça centrados, sem qualquer flexão ou extensão e com os olhos abertos. Então, devemos introduzir de forma lenta com seringa ou equipo 50 ml de soro fisiológico 0,9% na temperatura de 0oC no meato acústico externo, através de uma sonda fina, em ambos os ouvidos, um de cada vez. Quando preservado o reflexo, o olhar é desviado para o lado em que foi injetada a solução gelada. 5. Reflexo de tosse: O reflexo de tosse também pode ser testado, pois este também se dá a nível de tronco encefálico. Ele tem como via aferente de reflexo o nervo glossofaríngeo (NC IX), que tem seus núcleos localizados no bulbo e sua via eferente se dá via nervo vago (NC X), com seus núcleos também em bulbo. Como o está é a porção mais baixa do encéfalo, em casos de lesões superiores, muitas vezes esse pode ser um dos últimos reflexos a serem perdidos na evolução do paciente com morte encefálica. Como esses pacientes estarão em suporte ventilatório por ventilação mecânica, o estímulo para a tosse pode ser feito pela introdução de uma sonda através to tubo orotraqueal, ou através de traqueostomia, até que a árvore traqueobrônquica seja tocada ao nível da carina. Pacientes com o reflexo preservado terão como reação tosse, náuseas, movimentação facial e/ou movimento de deglutição. O paciente ainda pode apresentar movimentações aleatórias e não coordenadas mesmo com lesão irreversível do encéfalo. Esses movimentos são fruto de reflexos a nível medular, uma vez que o encéfalo está lesado, não há inibição pelo controle cortical motor sobre a medula. Entretanto, esses movimentos não excluem a morte encefálica nesses pacientes. Após o diagnóstico de morte encefálica, quanto mais longo for o período em que o paciente se mantém sob suporte, maior a possibilidade de surgirem reflexos medulares. São reflexos medulares que não excluem morte encefálica: ● Reflexos osteotendinosos ● Reflexo cutâneo abdominal ● Reflexo cutâneo plantar em extensão ou flexão ● Reflexo cremastérico superficial e produndo ● Ereção peniana ● Reflexos flexores de retiradad e membros superiores e inferiores ● Reflexo tônico-cervical ● Sinal de Lázaro
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