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PROFESSORAS Dra. Cristiane Batistioli Vendrame Me. Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici Me. Marcia Maria Previato de Souza Metodologia da Língua Portuguesa ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17114 EXPEDIENTE Coordenador(a) de Conteúdo Marcia Maria Previato de Souza Projeto Gráfico e Capa André Morais, Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Dario Mercado Design Educacional Jociane Karise Benedett Curadoria Fabiana Bruna Gozer Dias Revisão Textual Carla Cristina Farinha Ilustração André Azevedo Fotos Shutterstock NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. VENDRAME, Cristiane Batistioli; SOUZA, Marcia Maria Previato de; BONNICI, Cristiane Gonçalves de Aguiar. Metodologia da Língua Portuguesa. Cristiane Batistioli Vendrame, Marcia Maria Previato de Souz Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici. Maringá - PR: Unicesumar, 2022. 204 p. ISBN 978-85-459-2325-1 “Graduação - EaD”. 1. Metodologia 2. Lígua Portuguesa 3. Ensino. 4. Título. CDD - 22 ed. 460 FICHA CATALOGRÁFICA 02511328 Cristiane Batistioli Vendrame Olá, acadêmico(a) do curso de licenciatura em Pedagogia EaD da Unicesumar, tudo bem com você? Antes de iniciar a apresentação do livro de Metodologia da Língua Portuguesa, gostaria de relatar a minha experiência com a educação. Con- fesso que, a princípio, não tinha como pretensão ser profes- sora, mas os ventos sopravam nesta direção. Não existia na família, até então, professores, contudo havia uma tia muito querida e próxima interessada em cursar pedagogia e assim o fez. Motivada por esse exemplo de pessoa na minha vida, ao finalizar o Ensino Fundamental, optei por cursar o magisté- rio. Nesse período, vivenciei momentos que foram decisivos, professores exemplares, detentores de saberes inimagináveis; crianças interessadas em desbravar conhecimentos; além de, à minha frente, uma sociedade clamando por transformação. Mas, como toda decisão não é tão simples de ser tomada, ainda tentei fugir da docência e assumi uma ocupação na área da saúde, diretamente em hospitais. A experiência com a saúde foi crucial e, realmente, conclusiva: meu espaço seria na educação. Assim, definida a minha carreira profissional, cursei Pedagogia e acredite: eu me apaixonei pelas discussões, certa de que havia tomado a melhor decisão. Prossegui com os estudos, especializei-me em Língua Portuguesa: teoria e prática; em seguida, cursei Teoria Histórico-Cultural, realizei o mestrado em educação, na linha de ensino e aprendizagem e, por fim, defendi o doutorado na linha de ensino, aprendi- zagem e formação de professores, cujo objetos de conheci- mento foram a escrita e a reescrita de texto nos anos iniciais de escolarização http://lattes.cnpq.br/5992283457678740 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12423 Você, estudante do curso de Pedagogia, provavelmente, já se imaginou atuando nas diferentes modalidades de ensino, certo? Acredito, também, ter conjecturado sobre a sua atuação em sala de aula com a Língua Portuguesa, acertei? Pois bem, junto a essa aspiração, suponho que existam algumas inquietações. Temos muitos materiais publicados que demonstram um quadro de preocupação sobre a formação do leitor, índices que comprovam que o brasileiro, no geral, lê muito pouco. Por que isso aconte- ce? O que precisamos fazer para desenvolver a capacidade leitora em nossas crianças? Nessa perspectiva, encontram-se inúmeros estudos, investigações e pesquisadores (GERALDI, 1984, 1997; MATENCIO, 1994; COELHO, 2009; MASSINI-CAGLIARI, 2001; DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO, 2010) dedicados a compreender o fenômeno da educação e, em específico, da apropriação da linguagem escrita pelas crianças nos anos iniciais de escolarização. Provavelmente, você já deve ter se deparado com materiais produzidos por estudio- sos da área ou, até mesmo, analisado os indicadores sobre os índices baixos de leitores em nosso país. Como professores, temos o dever de refletir sobre estes e outros tantos questionamentos e buscar caminhos que possam nortear uma prática que sinalize para mudanças significativas neste quadro. A responsabilidade também é nossa em agir com competência para reverter esse cenário. Digo, também, que não estamos sozinhos, o trabalho deve ser pensado em conjunto e envolve a sociedade de forma geral. Nesse sentido, procuramos, no decorrer deste livro, apresentar alternativas metodo- lógicas que oportunizem a reflexão e possibilitem subsídios para sua prática como educa- dor(a). Você, estudante, pensando no mundo da leitura, como foi a sua trajetória até aqui? Quantos livros você teve a oportunidade de ler durante o último ano? Já pensou nisso? Como você, futuro(a) pedagogo(a), vê-se dentro de uma sala de aula, atuando frente ao ensino de língua portuguesa nos anos iniciais de escolarização? De que forma você deseja despertar em seus alunos o gosto pela leitura e pela escrita? Para o(a) ajudar nesta trajetória, trataremos de temas distintos, mas que se com- plementam. A relevância do professor em promover práticas educativas, a partir de textos orais e escritos, permitindo ao aluno produzir sua própria escrita e refletir a respeito da linguagem empregada, é o foco da primeira unidade. Na segunda unidade, veremos a importância da mediação do professor para o processo de escrita e reescrita de textos pelos alunos, além de estratégias a serem implementadas em sala de aula para aprimorar a escrita. Na terceira unidade, abordaremos a importância da leitura na constituição de sujeitos autônomos e transformadores. A essencialidade do texto, na condução do ensino da ortografia e da gramática, uma vez que o entendemos como ponto de partida e ponto de chegada para a apropriação da língua, é a discus- são para a quarta unidade. Por fim, na quinta unidade, você poderá refletir sobre as contribuições da literatura infantil para o desenvolvimento da aquisição linguística da criança. Trataremos acerca do ensino sistematizado da linguagem escrita por meio de procedimentos decorrentes de Sequência Didática (SD) e apresentamos uma propo- sição de sequência didática a partir da literatura selecionada como possibilidade de encaminhamento em sala de aula. O objetivo com a produção deste material é que você, enquanto aluno(a), conscientize- -se da importância do aprendizado constante e desenvolva, se ainda não possui, o hábito e o amor pela leitura. E claro, no ambiente de sala de aula, como fomentar em seus alunos o gosto pela leitura? Convido você a descobrir, por meio da leitura das próximas páginas, uma ferramenta que o(a) ajudará a fazer a diferença na vida intelectual do seu aluno. Espero que esta disciplina o(a) permita desenvolver as capacidades e potencialidades necessárias para atuação em sala de aula, a fim de promover o ensino da linguagem oral ou escrita, considerando-a instrumento vivo entre humanos, e não como pronta e acabada. IMERSÃO RECURSOS DE Ao longo do livro, você será convida- do(a) a refletir, questionar e trans- formar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda, você pode aces- sar conteúdos online que amplia- ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec- nologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien- ce. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur- sos em Realidade Aumentada. Ex- plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera- ção de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi- go, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento, você encontrará di- versas informações que serão apre- sentadas na forma de infográficos, esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con- teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi- dados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discu- tido, de forma mais objetiva. Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 3 4 5 LINGUAGEM ORAL E ESCRITA: O TEXTO COMO ELEMENTO NORTEADOR E OBJETO EMANCIPADOR 9 INTERVENÇÕES DIDÁTICO- PEDAGÓGICAS: PROCESSO DE ESCRITA E DE REESCRITA DE TEXTO 43 81 LEITURA: DO PROCESSO DE DECODIFICAÇÃO À INTERAÇÃO COM O MUNDO 119 O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA ORTOGRAFIA E DA GRAMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 155 SEQUÊNCIA DIDÁTICA: APRESENTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO A PARTIR DA LITERATURA INFANTIL 1Linguagem Oral e Escrita: O Texto como Elemento Norteador e Objeto Emancipador Dra. Cristiane Batistioli Vendrame Me. Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici Me. Marcia Maria Previato de Souza Na unidade 1, você terá a oportunidade de apropriar-se de uma série de conceitos acerca do ensino da linguagem para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Traçamos, como marco inicial, o trabalho com o texto. Discorreremos sobre a relevância do professor promover práti- cas educativas a partir de textos orais e escritos, permitindo ao aluno produzir sua própria escrita e refletir a respeito da linguagem empre- gada. Esperamos que você se encante com a leitura deste material e que ele contribua para sua prática e organização do ensino da língua e, sobretudo, subsidie suas ações, propiciando aos seus alunos produzi- rem textos com função social, sentido e significado, simultaneamente. UNIDADE 1 10 Em uma situação cotidiana, enquanto caminhava pelo corredor de um dos blocos da escola em que atuo, avistei uma porta aberta e a professora estava explorando uma situação de escrita com seus alunos. Toquei a porta e solicitei à docente permissão para adentrar o espaço e acompanhar aquele momento. A turma encontrava-se en- volvida naquele contexto, atenta, mobilizada, quando, de repente, um aluno, em alto tom, mencionou: professora, como você quer que eu escreva? Eu nasci sem saber ler e escrever! A professora, na ocasião, procurou explicar ao aluno que não só ele nasceu sem saber ler e escrever, mas todas as pessoas também. Logo, estava na escola para aprender a técnica da escrita e utilizá-la em situações sociais. Diante desse relato, convido você a retornar alguns anos no tempo e refletir sobre o seu processo de aprendizagem da escrita: como foi essa etapa? Foi um processo fácil ou demandou esforços? As lembranças desse período são positivas ou negativas? O(A) seu(sua) professor(a) utilizava textos para explorar a escrita? Acredito que você tenha muitas histórias para contar a respeito dessa etapa inicial de formação, algumas recordações positivas, mas outras que, talvez, prefira nem mesmo recordar. Para além dessas reflexões iniciais, o que podemos considerar como texto? O ensino da escrita sempre teve o texto como ponto de partida? Em quais situações cotidianas o texto está presente? Por que devemos partir do texto para promover o ensino da escrita aos nossos alunos? 11 Questões dessa natureza, tem mobilizado estudiosos da língua, professores, acadêmicos e demais interessados pelo assunto a dedicar-se à investigação desse fenômeno, reconhecido como apropriação da linguagem escrita por meio do texto. Ao longo da história da educação brasileira, especificamente no que concerne à es- crita, momentos distintos de compreensão do texto para a aprendizagem da escrita ocorreram. Até meados da década de 1970, ao texto eram atribuídas funções, como objeto de leitura vozeada, objeto de imitação e objeto de fixação de sentidos. No primeiro caso — objeto de leitura vozeada —, a leitura era realizada pelo professor a toda turma, em voz alta, e, ao término, requeria de cada aluno a reprodução de partes do texto. A melhor leitura era aquela que se aproximava do modelo, ou seja, daquela realizada pelo professor. No segundo caso — objeto de imitação —, o pro- fessor se mantinha lendo o texto à turma, mas para que este sirvisse de modelo para produção de textos dos alunos. Na última situação — objeto de fixação de sentidos —, o significado atribuído ao texto vinha da leitura privilegiada do professor ou de determinado crítico, portanto, ao aluno caberia ler a leitura do outro. A partir da década de 1980, com a implementação de diversos programas e propostas curriculares em diferentes estados do Brasil, propagou-se a ideia de que o texto é a base do ensino e aprendizagem da língua portuguesa no Ensino Funda- mental. Visto como material concreto para a apropriação dos domínios de leitura e de produção escrita, o texto exerce função essencial nas atividades propostas em sala de aula. Decorrido, aproximadamente, quatro décadas, os resultados apresen- tados pelas avaliações externas (SAEB) têm demonstrado que o texto, no encami- nhamento da prática pedagógica, não alcançou a notoriedade devida, uma vez que as avaliações aplicadas em massa não têm revelado índices suficientes. Ao se apropriar da escrita, a criança expressa seu pensamento por meio dela; po- rém, quando está no início da alfabetização, seus textos acabam sendo “desajeitados”, ou seja, não apresentam forma adequada para o tipo de texto que quer produzir. Isso acontece quando a criança não tem noção que a forma interfere no que ela quis es- crever. Com a intervenção do professor e das leituras diversificadas oportunizadas à criança, ela passará a compreender, também, a necessidade da forma e entenderá que ambos, conteúdo e forma, são essenciais para a qualidade de seus trabalhos escritos. Tomarei emprestado um evento de sala de aula, mencionado por Soares (2020), em sua obra Alfaletrar, na qual relata uma experiência com o texto e a leitura vivenciada pela aluna Sofia, nos anos iniciais de escolarização. UNICESUMAR UNIDADE 1 12 A professora pede à Sofia, que, recentemente, tornar-se-á alfabética, que leia para a turma um pequeno texto de, apenas, duas frases que discuti- riam em seguida. Sofia lê devagar, atrasando-se em uma ou outra palavra mais longa, a qual lia de forma silabada. - Muito bem, Sofia, agora, diga-nos: esse texto fala sobre o quê? Sofia olha surpresa para a professora e diz: - Como é que eu vou saber, “fessora”? Você não viu que eu estava lendo? Imagine-se professor(a) de Sofia. Como você organizaria suas próximas ações pedagógicas para ajudar a aluna a identificar o conteúdo do texto? Elabore uma lista com as possíveis intervenções que poderia adotar. A partir da leitura inicial, das problematizações e de acordo com as situações de ensino apresentadas, reflita: promover momentos sistemáticos de leitura de textos colabora para que nosso aluno se desenvolva na prática leitora, tenha capa- cidade de reflexão e se aproprie de conhecimento vocabular? Estudar acerca da composição das palavras, de modo que a leitura se torne fluente, é recomendado? Anote as suas reflexões no seu Diário de Bordo. 13 Ao consultarmos o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), refe- rente ao período de 2005 a 2019, disponível no portal do Ministério da Educação (MEC), verificamos que os resultados nacionais demonstrados pelos alunos do 5º ano, do 9º ano e do Ensino Médio são muito preocupantes, principalmente se analisarmos o processo de escolarização. Nos anos iniciais do Ensino Fundamen- tal, saímos de 3,8 para 5,9. Nos anos finais do Ensino Fundamental, fomos de 3,5 para 4,9, porém nos chama a atenção o fato de haver uma queda em comparação ao início do processo de escolarização. O mesmo acontece com o Ensino Médio: embora o índice tenha subido de 3,4 para 4,2, a diferença, em relação aos anos iniciais do Ensino Fundamental, é gritante. Outros dados divulgados pelo MEC, quanto à proficiência em Língua Portuguesa dos alunos do 5º ano, do 9º ano e do ensino médio, são apresentados por Martins (2015, p. 2): “ Os índices da 4ª série do ensino fundamental (5º ano) indicam que a proficiência em língua portuguesa caiu de 188 pontos (1995) para 172 pontos (2005). Se observarmos os resultados da 8ª série (9º ano), poderemos verificar uma queda de 256 pontos (1995) para 232 pon- tos (2005) e no 3º ano do ensino médio, a pontuação reduz de 290 para 258 pontos. Os resultados demonstram que, no período analisado, os índices foram alarman- tes e se agravaram ao longo da escolarização, gerando pontuações cada vez mais baixas entre os períodos observados. Outro dado destacado por Martins (2015) diz respeito à organização da Prova Brasil de Língua Portuguesa para os alunos do 5º ano do Ensino Fundamental. Para aqueles que já se depararam com a prova no momento de aplicação, caso façam, apenas, uma observação superficial, poderão considerar que se trata de uma boa estratégia de avaliação externa, pois: Que tal conversarmos um pouco mais sobre as práticas pedagógicas em sala de aula na formação de sujeitos leitores e escritores de texto? Acesse o podcast e conheça mais sobre o assunto. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12418 UNIDADE 1 14 “ A Prova Brasil (Avaliação Nacional do Rendimento Escolar), que compõem o SAEB [Sistema de Avaliação da Educação Básica], apresenta, para o aluno do 5º ano do ensino fundamental, questões envolvendo textos dos gêneros: informativo, instrucional (bula de remédio), comercial (bilhete de ônibus), poesia, fábula, conto, histó- ria em quadrinhos, biografia e científico (o fragmento de um texto com três parágrafos e outros dois textos de um parágrafo cada numa mesma questão). Relacionando os gêneros assim, parece uma prova bastante rica (MARTINS, 2015, p. 2-3). Ao nos debruçarmos profundamente para avaliá-la, no entanto, o desapontamento nos abarca. Nas palavras de Martins (2015, p. 3), “[...] uma análise mais atenta permi- tirá perceber que não é bem isso. As questões elaboradas são simplórias, os textos são de baixa complexidade e a exigência para enquadramento nos níveis, menor ainda”. Nesse sentido, algumas indagações nos levam a refletir: os textos selecionados e o modo como os temos explorados em sala de aula têm contribuído para a formação de sujeitos leitores e produtores de textos? O que proporcionamos aos nossos alunos que os constituem, de fato, sujeitos leitores e produtores de textos? Primeiramente, devemos entender que a leitura e a escrita são processos independentes e, consequen- temente, as operações mentais presentes nessas habilidades são distintas. Todavia podemos tomar o texto como elemento norteador da escrita e objeto emancipador, logo, compreender um texto e extrair, dele, o conteúdo significa mais que decodificar símbolos. Sendo assim, torna-se notório que o trabalho com leitura e escrita, para ter sentido e significado, precisa estar atrelado ao texto. Quando nos referimos a texto, precisamos contemplar duas modalidades: oral e escrita. Apesar de serem modalidades diversas, ambas são fundamentais para o desenvolvimento linguístico dos alunos. Mas, afinal, o que é texto? Segundo Bakhtin (2000, p. 340), “O texto é a expressão de uma consciência que reflete algo. Quando o texto se torna objeto de cognição, podemos falar do reflexo de um refle- xo. A compreensão de um texto é precisamente o reflexo exato do reflexo. Através do reflexo do outro, chegamos ao objeto refletido”. Em outras palavras, o texto é o resultado da nossa subjetividade diante de um mundo que é objetivo. Por meio de ações sobre a natureza, interrogamo-nos a fim de obter respostas e significação. 15 Para Geraldi (2003), o texto precisa ser compreendido como um produto da atividade discursiva por meio do qual se diz algo a alguém. É, portanto, “[...] uma sequência verbal escrita coerente formando um todo acabado, definitivo e publicado: onde publicado não quer dizer ‘lançado por uma editora’” (GERALDI, 2003, p. 100). Para o autor, publicado significa “[...] dado a público, isto é, cum- prindo sua finalidade de ser lido, o que demanda o outro” (GERALDI, 2003, p. 100). Assim como discutimos o conceito de texto, faz-se necessário discorrermos sobre o conceito de leitura. De acordo com Lajolo (1982, p. 59), “ Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. Portanto, o ato de leitura exige que o leitor seja ativo, participe ativamente do pro- cesso, desconstruindo e reconstruindo, por diversas vezes, o texto, gerando sentido e compreensão da mensagem. Nesse movimento — desconstruir e reconstruir —, é capaz de apreender o conjunto de ideias trazido pelo texto e preencher as lacunas identificadas. O preenchimento de lacunas permite ao leitor ultrapassar a superfície do texto e mergulhar nas brechas deixadas pelo autor. Isto, por sua vez, exige que examine o seu repertório e dialogue com suas descobertas. Assim como apropriar- -se da leitura não é uma tarefa simples, exige do leitor uma série de habilidades, capacidades e potencialidades, no caso da escrita, não é diferente. Em relação às habilidades de escrita, Soares (2004, p. 69) afirma que “[...] a habilidade de escrita estende-se da habilidade de registrar unidade de som até a capacidade de transmitir significado de forma adequada a um leitor potencial”. Segundo a autora, o aluno, ao produzir seus textos, deve ter em mente que não está escrevendo simplesmente para ser avaliado pelo professor, mas que essa produção apresenta um interlocutor. Para que isto ocorra, o aluno deve ter alguns conhecimentos, como: UNICESUMAR UNIDADE 1 16 Além disso, para que produza textos com função social, o professor precisa in- tervir antes, durante e depois da produção de seus alunos. Então, você deve es- tar se perguntando: mas como podemos fazer isso? Vamos entender como isso acontece: antes da produção, o professor precisa identificar o gênero textual a ser trabalhado; os enunciados, também, devem ser claros e os temas, agradá- veis e devem fazer parte do repertório do aluno, isto é, assuntos que possam ter argumentos suficientes para dar qualidade à produção. Durante a produção, o professor precisa mediar e atender às dificuldades de cada aluno e, depois, fazer as devidas correções para tornar o texto coerente e organizado, assunto que trata- remos na Unidade 2. Partindo dos pressupostos citados, o aluno/autor conseguirá expressar-se por escrito e relatará acontecimentos, ideias, opiniões, sentimentos, histórias etc. O importante é que enxergue a escrita como atividade social e, por meio dela, consiga interagir e expor sua visão de mundo. O QUE precisa dizer, qual o assunto ou tema que irá escrever; PARA QUE está escrevendo, qual será a função social desse texto; A QUEM se pretende dizer, quem é o leitor do seu texto; SITUAÇÃO DE CIRCULAÇÃO do texto, de que maneira chegará ao leitor; COMO será escrito e em que gênero textual será elaborado seu texto. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 16 – Sem legenda INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a uma escada helicoidal com cinco degraus, no terceiro degrau há o desenho de um homem com uma maleta indicando sua subida, cada degrau contém um item e um conceito, em ordem crescente: O QUE: precisa dizer, qual o assunto ou tema que irá escrever; PARA QUE: está escrevendo, qual será a função social desse texto; A QUEM: se pretende dizer, quem é o leitor do seu texto; SITUAÇÃO DE CIRCULAÇÃO: do texto, de que maneira chegará ao leitor; COMO: será escrito e em que gênero textual será elaborado seu texto. FIM DESCRIÇÃO. 17 A depender de nossos encaminhamentos em sala de aula, pecamos pela finalidade e pelo sentido que imprimimos à escrita, ao determinarmos treinos e cópias de textos alheios às experiências vividas pelas crianças. Para além de propormos situações em que o aluno reflita sobre a escrita do outro, devemos considerar momentos em que seja permitido a ele analisar a sua própria escrita. PENSANDO JUNTOS A ESCRITA DE TEXTO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Você já parou para pensar que tudo aquilo que falamos ou escrevemos está li- gado a um contexto? Sempre haverá uma situação a ser entendida ou explicada, à medida que novas ideias vão emergindo em nosso cotidiano. Saiba por que isto acontece e de que forma. A linguagem ocupa papel de destaque nas relações sociais. Na sociedade em que estamos inseridos, a participação social está inteira- mente ligada e mediada pelo texto oral e escrito. De acordo com Geraldi (2003), é exatamente nas fontes produtoras da linguagem que ela se localiza, ou seja, é efetivamente no seu acontecimento que se constitui. Ela se dá na interação entre a linguagem, os sujeitos envolvidos (interlocutores) e o próprio universo discursivo. Ainda na concepção do referido autor, é preciso previamente, antes de se falar no ensino da língua propriamente dito, esclarecer e apreender alguns conceitos, “ A língua (no sentido sociolinguístico do termo) não está de ante-mão pronta, dada como um sistema de que o sujeito se apropria para usá-la segundo suas necessidades específicas do momento de interação, mas que o próprio processo interlocutivo, na atividade de linguagem, a cada vez a (re)constrói; Os sujeitos se constituem como tais à medida que interagem com os outros, sua consciência e seu conhecimento de mundo resultam como “produto” deste mesmo processo. Neste sentido, o sujeito é social já que linguagem não é o trabalho de um artesão, mas trabalho social e histórico seu e dos outros e é para os outros e com os outros que ela se constitui. Também não há um sujeito dado, pronto, que entra na inte- ração, mas um sujeito se completando e se constituindo nas suas falas; UNICESUMAR UNIDADE 1 18 As interações não se dão fora de um contexto social e histórico mais amplo; na verdade, elas se tornam possível enquanto acontecimentos singulares, no interior e nos limites de uma determinada formação so- cial, sofrendo as interferências, os controles e as seleções impostas por esta. Também não são, em relação a estas condições, inocentes. São pro- dutivas e históricas e como tais, acontecendo no interior e nos limites do social, constroem por sua vez limites novos (GERALDI, 2003, p. 6-7). O que se constata, a partir das concepções apresentadas pelo autor, é que a lin- guagem se torna produto da interação social, e esta necessidade parte das pes- soas. Essa necessidade, por sua vez, gera outra: a de comunicação, e todas essas ações (interação e comunicação) acontecem por meio dos textos, sejam eles verbais, sejam não verbais. Nesse sentido, vale retornar ao conceito de texto, porém, agora, estabelecido por Koch, uma vez que está em concordância com o que explicamos anteriormente. Para Koch (1997), o texto pode ser considerado uma manifestação verbal (oral ou escrita) constituída de elementos linguísticos pré-selecionados e ordenados pelos falantes/escritores no ato da atividade co- municativa. Dessa forma, ninguém mais pode discutir ou negar a necessidade de ensinar a Língua Portuguesa a partir de textos. Essa afirmação pode ser cons- tatada com o posicionamento de Cagliari, o qual explica que, “ Na vida real, as pessoas não pronunciam palavras isoladas. Quando al-guém se propõe a falar, sua intenção é dar uma informação completa, e isso acontece através de um texto. Somente em circunstâncias especiais, num contexto específico, as pessoas dizem palavras isoladas, mas sempre elas estão inseridas num texto maior ou são inesperadas como resultado de ações ocorridas (CAGLIARI, 2003, p. 198). Você pode perguntar: e se respondo apenas à pergunta com uma só palavra, esta palavra não ficou solta? Para Cagliari (2003), esta palavra não ficou solta, porque a resposta faz parte de um texto maior que proporcionou tal resposta. A fala é diferente da escrita, porém ambas são inerentes à criança. Ao entrar na escola, em séries de alfabetização, a criança já sabe lidar com textos orais e sua intenção é que lhe ensinem a língua escrita. Calçados com alguns conhecimentos prévios, cabe à escola não negar o valor do que a criança já sabe, mas ampliá-lo, passando do co- nhecimento sincrético para o científico, e este só será significativo se for realizado 19 por meio de textos. Assim, afirma Cagliari (2003, p. 202) “uma criança deve levar a sua habilidade de produzir textos orais para a sala de alfabetização e usar isso como ponte para aprender a produzir os textos escritos nos estilos esperados pela escola e pela cultura”. Sobre isso, podemos colocar as contribuições de Geraldi (2003, p. 135): “considero a produção de textos (orais e escritos) como ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo ensino/aprendizagem da língua”. Desenvolver trabalhos, a partir de textos já prontos ou produzidos pelas crianças, significa construir, nelas, estruturas cognitivas necessárias para a lei- tura e para a escrita de diferentes gêneros textuais. O aluno deve ser levado a ler, produzir e sistematizar conhecimentos. O grande objetivo, ao fazer o aluno se deparar com diversos gêneros de textos, não é apenas reconhecer cada um, mas levá-lo a produzir essa variedade textual. Para Bozza e Batista (2000), a criança que tem contato com várias experiências de escrita desde a Educação Infantil consegue entender os textos, interpretá-los e atribuir a eles função social. Para isto, as autoras promovem algumas sugestões para a ampliação das possibilidades de produções. O aluno poderá escrever com propósitos variados, mas sempre considerando que seu texto terá algum sentido, assim, poderá escrever para: UNICESUMAR UNIDADE 1 20 ■ Ele próprio. ■ Outras turmas da escola. ■ Família. ■ O mural da sala de aula ou da escola. ■ Um jornal da escola. ■ Periódicos. ■ Jornal da cidade. ■ Revistas de grande circulação. ■ Direção, orientação, supervisão ou outros da equipe pedagógica da escola. ■ Autoridades locais. ■ Ídolos artísticos ou esportistas. ■ Amigos. ■ Autores de obras infantis. ■ Programas de TV. ■ Autores de livros didáticos. ■ Blogs, roteiro para produção de vídeos e redes sociais. A criatividade do professor em fazer o aluno escrever com função social pode variar. O educador deve ser o elo entre o texto, o interlocutor e o leitor. A criança está in- serida em uma sociedade grafocêntrica, na qual a escrita a cerca por todos os lados. A variedade de textos presentes no seu dia a dia remete a perceber a necessidade de ler e escrever. Nas ruas, a criança se depara com placas de trânsito, outdoors, placas de carro, nomes de lojas, supermercados etc. Em casa, tem contato com bulas de re- médios, revistas, jornais, receitas culinárias e outros. Frente a isso, a escola deve estar preparada para dar continuidade ao contato com a leitura. Até pouco tempo atrás, o ensino da produção textual se restringia a um procedimento único e global, como se todos os tipos de textos fossem iguais e não apresentassem suas especificidades. A fórmula tradicional de ensino de redação, que, ainda hoje, é extremamente praticada em nossas escolas, tinha sua base na narração, descrição e dissertação. Essa maneira de se trabalhar tolhe o real aprendizado da produção textual e as outras formas de aprendizagem que estão implícitas em produção eficaz, por meio de gêneros que circulam socialmente. Tradicionalmente, ela apresenta uma maneira estanque e estática de se produzir textos, e o aluno não se interessa pela produção, pois não há uma real motivação para que ela aconteça. 21 Como se não bastasse esse contexto de restrição em um ambiente em que estamos tão carentes de alunos leitores e produtores de textos, essa visão equi- vocada de que narrar e descrever são ações mais simplistas do que dissertar ou mais adequadas a determinadas faixas etárias, as dissertações são compreendidas como apropriadas para as séries finais. Pouco se explora a grandeza do ato de narrar, descrever e dissertar como base para diversos gêneros de diferentes esferas. Diante disso, a proposta de mudança está lançada, principalmente, para nós, pro- fessores. Ela consiste no ensino de língua materna por meio dos gêneros, desde os anos iniciais da vida escolar do aluno. A aprendizagem da produção de texto, por meio dos gêneros, compreende um resultado mais satisfatório quando se põe o aluno, desde cedo, em contato com os diferentes gêneros que circulam socialmente, inclusive aqueles que expressam opinião. A partir daí, o papel da escola, no que tange ao ensino da Língua Portuguesa, é ir aprimorando e aprofundando esse trabalho à medida que o aluno evolui. Assim sendo, você deve estar se perguntando: mas o que são os gêneros textuais ou os textos que circulam socialmente? Chamamos de gêneros textuais toda essa variedade de textos que nos depa- ramos cotidianamente. Por serem textos que circulam socialmente, estarão pre- sentes na vida de qualquer indivíduo, e este deverá estar apto a compreendê-los e produzi-los, portanto, como afirmado anteriormente, não há como se pensar no ensino da língua sem levar em consideração o texto como ponto de partida e de chegada, pois é a partir dele que se deve trabalhar a concepção de língua para que, também, chegue-se à produção eficaz, quando necessário. “ As práticas de linguagem implicam dimensões, por vezes, sociais, cog-nitivas e linguísticas do funcionamento da linguagem numa situação de comunicação particular. Para analisá-las, as interpretações feitas pelos agentes da situação são essenciais. Estas interpretações depen- dem da identidade social dos atores e das representações que eles têm dos usos possíveis da linguagem e das funções que eles privilegiam de acordo com sua trajetória (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 5). Até determinado tempo, a expressão “gênero” mantinha forte ligação com a teoria literária para identificar os gêneros clássicos (o lírico, o épico e o dramático) e os gêneros modernos, como o romance, a novela, o conto, o drama etc. Um nome a ser destacado, em relação à teoria dos gêneros, que, cada vez mais, tem sido UNICESUMAR UNIDADE 1 22 Descrição da Imagem: a figura retrata a fotografia, em branco e preto, do pen- sador Mikhail M. Bakhtin. Vemos, da metade do cor- po para cima, um homem jovem, com uma camisa escura, barba comprida, expressão séria sob um fundo escuro. Ao sul de Moscou, na Rússia, em uma pequena cidade, denominada Orel, nascia, em 1895, Mikhail Mikhailovitch Bakhtin. Filho de família aristocrática empobrecida, o seu pai era empregado de um banco. Aos nove anos, junto à família, mudou-se para Vilna, capital da Lituânia, convivendo com diversas línguas, diferentes grupos étnicos e variadas classes sociais. Nessa convivência, deparou-se com a variedade de línguas, tais como o polonês, o lituano e o iídiche (falada, predominantemente, pelos judeus da Europa Central e Euro- pa Oriental), tendo, desde cedo, uma vivência com a poliglossia, o que marcou sua obra. Formou-se em História e Filologia (estudo de uma língua por meio de seus documentos escritos). Atuando como professor em Nével, conheceu um grupo de estudiosos de dife- rentes formações, interesses intelectuais e atuações profissionais, e eles passaram a se reunir, regularmente, em um período de dez anos (1919–1929). Além de Mikhail Mikhailo- vitch Bakhtin, compunham o grupo Valentin Nikolaevich Voloshinov e Pável Nikolaévitch Medvedev, que, a posteriori, passaram a ser conhecidos como o Círculo de Bakhtin. EXPLORANDO IDEIAS introduzido no trabalho com Língua Portuguesa, é de Mikhail Mikhailovitch Bakhtin (Figura 1), pensador russo que, no início do século XX, dedicou-se aos estudos da linguagem e da literatura. Ele apresentou uma amplitude muito maior à palavra gênero e de forma mais simplificada para o registro, aqui, neste material. É possível dizer que, ao utilizar o termo gênero, o referido teórico indicava, então, a ideia de textos que empregamos nas situações cotidianas de comunicação. Figura 1- Mikhail Mikhailovitch Bakhtin / Fonte: Wikimedia Commons (1920, on-line). 23 De acordo com Bakhtin (1984 apud SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 7), “ [...] os gêneros são instrumentos que fundam a possibilidade de comunicação. Trata-se de formas relativamente estáveis tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades culturais inter- mediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das práticas de linguagem. Todos os textos que produzimos, orais ou escritos, apresentam um conjunto de características relativamente estáveis, tenhamos, ou não, consciência delas. Ainda de acordo com esses autores, essas características configuram diferentes textos ou gêneros do discurso, que podem ser caracterizados por três aspectos básicos: o tema, o modo composicional (a estrutura) e o estilo (usos específicos da língua): “ Para definir um gênero como suporte de uma atividade de lin-guagem três dimensões parecem essenciais: 1) os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis através dele; 2) os elementos das estruturas comunicativas e semióticas partilhadas pelos textos reconhecidos como pertencentes ao gênero; 3) as configurações específicas de unidades de linguagem, traços, principalmente, da posição enunciativa do enunciador e dos conjuntos particulares de sequências textuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 6). Quando o indivíduo se encontra em uma situação de interação verbal, a escolha do gênero não é aleatória, pois, ao fazer a sua escolha, ele leva em consideração (de forma consciente ou não) um conjunto de fatores da própria situação de produção que foi solicitada a ele, tais como quem fala, sobre o que se fala, com quem se fala UNICESUMAR UNIDADE 1 24 e com qual finalidade. Quando se deseja contar um fato a alguém, por exemplo, pode se fazer uso do relato pessoal. O jornal, ao apresentar as informações gerais do cotidiano, faz uso da notícia e, caso seus editores queiram apresentar a opinião do referido meio de comunicação sobre determinado fato, eles se utilizaram do editorial e, se o leitor quiser manifestar-se acerca de determinado assunto, fará isso por meio da carta do leitor. Ao transmitir informações sobre um prato culi- nário, por exemplo, será utilizada a receita e, ao se apresentar instruções sobre o manuseio de determinado objeto, será utilizado o manual de instruções. No contexto acadêmico, as informações podem ser transmitidas por meio de seminários, resumos, manuais didáticos e outros. Isso prova que, todo o tempo e em situações diversas, somos solicitados a nos comunicar e interagir. Tudo isso sempre acontecerá por meio de determinado texto que está inserido em uma esfera social e atenderá a uma situação comunicativa adversa. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o trabalho com gêneros não só qualifica e amplia a capacidade de produção textual dos alunos, mas também os leva a percepções diferenciadas, uma vez que outros sentidos serão aguçados para a recepção desses mesmos gê- neros. É nesse momento que a interação e a capacidade comunicativa são enrique- cidas. A cada novo gênero trabalhado, uma gama muito grande de novos aspectos pode ser observada, desde um ponto de vista linguístico até um ponto de vista da aquisição do conhecimento e, consequentemente, da aprendizagem. O ensino de produção de texto, feito por esse viés, não despreza os tipos tex- tuais tradicionalmente trabalhados em cursos de redação, a narração, a descrição e a dissertação, até porque eles estão embutidos nos variados textos que circulam socialmente. Em uma notícia, por exemplo, temos a prevalência da narrativa, mes- mo com alguns elementos essenciais dela (personagem, lugar, tempo e espaço), contudo temos trechos de descrição e, em alguns casos, trechos dissertativos. A esse fenômeno, Marcuschi (2008) denomina de heterogeneidade tipológica do gênero, ou seja, quando determinado gênero realiza sequências de vários tipos textuais, por exemplo, em um artigo de opinião, temos, como predomínio, a argumentação, porém há uma mescla com outras sequências, como a narração e a descrição. Assim, o processo com os gêneros torna-se cíclico, pois, se, por um lado, am- plia as habilidades linguísticas e discursivas do aluno, por outro, fá-lo inserir-se socialmente, por meio da linguagem, como cidadão. Quando se trabalha o gênero carta argumentativa, por exemplo, além de toda a estrutura e características próprias do gênero, o aluno aprenderá, ainda, a exigir o exercício de seus direi- 25 tos e os caminhos mais adequados para isso. Situações parecidas são, também, observadas quando esse aluno é convidado a aprender o gênero carta do leitor e tem, na prática, a oportunidade de manifestar sua opinião crítica em relação a de- terminado assunto debatido no meio de comunicação escolhido; aí, várias ações de formação de um cidadão serão suscitadas: sua capacidade crítica e reflexiva, sua ideologia, sua capacidade de julgamento e interferência em questões sociais diversas, é a linguagem a serviço da aprendizagem em ação. O trabalho com gêneros textuais, ainda, proporciona que o aluno entenda a função e o uso de cada texto, o que o motiva a aprendê-lo, uma vez que o professor apresentará situações práticas de uso e os motivos pelos quais eles devem ser aprendidos. Nesse sentido, vale dizer que, se é importante o aluno compreender a estrutura de gêneros diversos para produzi-los diante das mais variadas situações comunicativas, também é fundamental compreender tal estrutura para interpretar os textos que venha a se deparar. Trabalhamos intensamente para potencializar a alfabetização, no entanto a sociedade contemporânea exige muito mais do que pessoas alfabetizadas, ou seja, pessoas que simplesmente decodificam os códigos linguísticos. Vivemos em uma sociedade letrada, por isso, a escola deve preparar o aluno para o letramento e precisa ensiná-lo a fazer uso da leitura e da escrita na sua prá- tica social. Na teoria, o domínio da escrita é o grande objetivo da escola, porém, na prática, muitas vezes, esse objetivo deixa a desejar. A escola é o local onde a criança deve construir seus conceitos de leitura e escrita, tornando-se capaz de ter autonomia e desempenho para escrever dentro dos pressupostos exigidos com finalidade social. Assim, na perspectiva de Schneuwly e Dolz (2004, p. 7), “o funcionamento da escola pode ser transformado de tal maneira que as ocasiões de produção de textos se multipliquem: na classe, entre alunos; entre classes de uma mesma escola; entre escolas”. Ao trabalhar com a língua escrita, os alunos devem ser levados a compreender os seus diferentes usos e a função que ela desempenha na sociedade. O objetivo principal do trabalho com texto na escola é possibilitar ao aluno a transmissão de alguma ideia crítica, informação, instrução ou emoção ao público. Mesmo não dominando a escrita ortográfica das palavras em início de alfabetização, a criança não pode ser impedida de realizar tentativas de escrita. Todo trabalho de produ- ção de texto deve ser pautado em discussões e leituras para que a criança tenha referenciais daquilo que quer escrever, pois não será possível escrever partindo UNICESUMAR UNIDADE 1 26 do “nada”. O professor deve viabilizar momentos de reflexões que despertem, na criança, o gosto para expor, no papel, suas ideias de maneira mais clara possível. Segundo Marcuschi (2008), o ensino da escrita, desde as séries iniciais, deve se pautar no agrupamento dos gêneros. Para isso, o professor precisa selecionar os gêneros por séries e escolher um deles por vez para ser explorado. O quadro, a seguir, contempla as cinco modalidades correspondentes aos tipos textuais, existentes no interior de cada gênero. Domínios sociais de comunicação Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gêneros orais e escritos Cultura literária ficcional NARRAR Mimeses da ação por meio da cria- ção de intriga • Conto maravilhoso • Conto de fadas • Fábula • Lenda • Narrativa de aventura • Narrativa de ficção científica • Narrativa de enigma • Narrativa mítica • Sketch ou história engraçada • Biografia romanceada • Romance • Romance histórico • Novela fantástica • Conto • Conto parodiado • Crónica literária • Adivinha • Piada 27 Domínios sociais de comunicação Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gêneros orais e escritos Documentação e memorização de ações humanas RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo • Relato de experiência vivida • Relato de viagem • Relato histórico • Testemunho • Curriculum Vitae • Notícia • Reportagem • Crônica esportiva • Ensaio biográfico • Diário íntimo • Autobiografia • Anedota ou caso • Biografia Discussão de problemas sociais controversos ARGUMENTAR Sustentação, refutação e nego- ciação de toma- das de posição • Texto de opinião • Diálogo argumentativo • Carta do leitor • Carta de reclamação • Carta de solicitação • Deliberação informal • Debate regrado • Discurso de defesa (advocacia) • Discurso de acusação (advo- cacia) UNICESUMAR UNIDADE 1 28 Domínios sociais de comunicação Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gêneros orais e escritos Transmissão e construção de saberes EXPOR Apresentação textual de dife- rentes formas dos saberes • Texto expositivo (em livro didático) • Exposição oral • Seminário • Conferência • Palestra • Artigo ou verbete de enciclo- pédia • Entrevista de especialista • Tomada de notas • Resumo de textos expositivos e explicativos • Relatório científico • Relato de experiência científica Instruções e pres- crições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comporta- mentos • Instruções de montagem • Receita • Regulamento • Regras de jogo • Instruções de uso • Comandos diversos Quadro 1 - Agrupamento de gêneros e capacidades de linguagem dominantes / Fonte: adaptado de Marcuschi (2008) e Schneuwly e Dolz (2004). Importante destacar, de acordo com o quadro, que os agrupamentos propostos não são estanques uns em relação aos outros, o que dificulta a classificação de determinado gênero absolutamente em um único agrupamento sugerido. Para exemplificar, exibiremos um fragmento (Quadro 2) da carta pessoal menciona- da por Marcuschi (2008), no qual demonstra-se, com clareza, essa composição interna dos gêneros textuais. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 26 – Quadro 1 - Agrupamento de gêneros e capacidades de linguagem dominantes DESCRIÇÃO DE IMAGENS INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere à agrupamento de gêneros e capacidades de linguagem dominantes, ilustrada por um quadro com três colunas e cinco linhas, conforme: Domínios sociais de comunicação: Cultura literária ficcional Capacidades de linguagem dominantes: NARRAR Mimeses da ação por meio da criação de intriga Exemplos de gêneros orais e escritos: Conto maravilhoso; Conto de fadas; Fábula; Lenda; Narrativa de aventura; Narrativa de ficção científica; Narrativa de enigma; Narrativa mítica; Sketch ou história engraçada; Biografia romanceada; Romance; Romance histórico; Novela fantástica; Conto; Conto parodiado; Crônica literária; Adivinha; Piada. Domínios sociais de comunicação: Documentação e memorização de ações humanas Capacidades de linguagem dominantes: RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo Exemplos de gêneros orais e escritos: Relato de experiência vivida; Relato de viagem; Relato histórico; Testemunho; Curriculum Vitae; Notícia; Reportagem; Crônica esportiva; Ensaio biográfico; Diário íntimo; Autobiografia; Anedota ou caso; Biografia. Domínios sociais de comunicação: Discussão de problemas sociais controversos Capacidades de linguagem dominantes: ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição Exemplos de gêneros orais e escritos: Texto de opinião; Diálogo argumentativo; Carta do leitor; Carta de reclamação; Carta de solicitação; Deliberação informal; Debate regrado; Discurso de defesa (advocacia); Discurso de acusação (advocacia). Domínios sociais de comunicação: Transmissão e construção de saberes Capacidades de linguagem dominantes: EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes Exemplos de gêneros orais e escritos: Texto expositivo (em livro didático); Exposição oral; Seminário; Conferência; Palestra; Artigo ou verbete de enciclopédia; Entrevista de especialista; Tomada de notas; Resumo de textos expositivos e explicativos; Relatório científico; Relato de experiência científica. Domínios sociais de comunicação: Instruções e prescrições Capacidades de linguagem dominantes: DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos Exemplos de gêneros orais e escritos: Instruções de montagem; Receita; Regulamento; Regras de jogo; Instruções de uso; Comandos diversos. FIM DESCRIÇÃO. 29 Sequências Tipológicas Gênero Textual: carta pessoal Descritiva Rio 11/08/1991 ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ' Injuntiva Amiga A.P Oi! ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Descritiva Para ser mais preciso estou no meu quarto, escrevendo na escrivaninha, com um Micro System ligado na minha frente (bem alto, por sinal). Quadro 2 - Tipologias textuais na composição dos gêneros textuais / Fonte: Marcuschi (2008, p. 156). De acordo com o Quadro 2, é possível visualizar que, em uma única parte do gênero textual, há a variedade de sequências tipológicas compondo o discurso. Admitimos que todo gênero textual tenha uma ou duas tipologias predominan- tes, no caso da carta pessoal, aqui, exposta, as tipologias textuais predominantes foram as descrições e exposições, o que não impediu o autor de recorrer a outras sequências tipológicas para formular o texto. Isto posto, esclarecemos que não há uma dicotomia entre gênero e tipologia, ambos se complementam, portanto, NOVAS DESCOBERTAS Título: Sociedade dos poetas mortos Ano: 1990 Sinopse: dirigido por Peter Weir, com roteiro de Tom Schulman, tem, como protagonista, o saudoso Robin Williams. O filme conta a histó- ria de um professor de literatura, apaixonado por poesias, que utiliza méto- dos de aprendizagem muito diferenciados da escola onde passa a atuar. Por meio da poesia, inspira seus alunos, impulsiona-os à expansão de ideias e os encoraja a viver de maneira extraordinária para além daquele ambiente autoritário e rígido que vivenciavam. UNICESUMAR DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 29 – Quadro 2 - Tipologias textuais na composição dos gêneros textuais INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a tipologias textuais na composição dos gêneros textuais, ilustrada por um quadro com duas colunas, uma sobre sequências tipológicas e outra sobre gênero textual: carta pessoal, contendo três exemplos, conforme: Sequências Tipológicas: Descritiva Gênero Textual: carta pessoal: Rio 11/08/1991 (com duas linhas abaixo como continuidade) Sequências Tipológicas: Injuntiva Gênero Textual: carta pessoal: Amiga A.P, Oi! Sequências Tipológicas: Descritiva Gênero Textual: carta pessoal: Para ser mais preciso estou no meu quarto, escrevendo na escrivaninha, com um Micro System ligado na minha frente (bem alto, por sinal). FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 1 30 todos os textos realizam um gênero, e todos os gêneros produzem sequências tipológicas diversificadas. Nesse sentido, em sala de aula, quando o professor se propõe a trabalhar com textos e o faz de maneira significativa aos alunos, permite a estes escreverem textos não como exercícios de redação, mas produzirem textos recorrendo à língua viva, com a função de comunicação (função social). DO EXERCÍCIO DE REDAÇÃO À PRODUÇÃO TEXTUAL Antes de começarmos a dialogar sobre esse assunto, gostaríamos de fazer uma pergunta a você: existe diferença entre fazer uma redação e produzir um texto? Se você respondeu que sim, está coberto(a) de razão. Qual é, entretanto, a diferença? Isso é o que veremos a partir de agora. O termo produção textual, a partir da década de 1980, tornou-se uma nova maneira de desenvolver a escrita, ou seja, é um conglomerado de características que vem sendo discutido e estudado por vários pesquisadores. Em sua essência, o que mudou foi a nomenclatura, o que, antigamente, dizia-se ser redação, atual- mente, recebe o nome de produção textual. Nessa nova concepção, há muitas implicações que demandam conceitos. Geraldi (2003) descreve as características dessa produção textual e o papel do professor nesse contexto. Segundo o autor, deve haver um deslocamento da figura de avaliador do pro- fessor na direção de um perfil próprio de leitor, que, aliado ao sujeito produtor, possa tecer análises e compartilhar conhecimentos. Nessa nova visão, o professor não monopoliza o saber, mas faz inferências necessárias para melhorar a produ- ção escrita, primando pela organização e clarificação das ideias, visando garantir a qualidade do trabalho escrito. Dessa forma, o professor será visto como um leitor crítico das produções textuais. Para o autor, na realização da produção de textos, o interlocutor deve estar bem definido para o locutor, isto é, a quem será dirigido o texto, por que ele está produzindo e qual será a situação de circulação. Assim, o professor deve intervir conscientemente, questionando, sugerindo e atuando como leitor, apontando vertentes que estimulem os alunos a aprimorar a maneira como se expressam. 31 A produção textual não se limita a escrever para ninguém. Após ter passado pela “correção”, o aluno tem a chance de reescrevê-la uma ou mais vezes após o professor propor novas elaborações, organizações e expansão de ideias. Para Geraldi (2003), nessa proposta de reescrita, o aluno age como seu próprio avalia- dor, pois observa os questionamentos e as sugestões feitas pelo professor. Nesse sentido, o aluno se depara com situações de conflito referentes a sua escrita e tenta reescrever o texto da melhor forma. Assim, torna-se o real avaliador do seu texto. No que diz respeito ao termo redação, as características, anteriormente cita- das, não são observadas. Nas redações, o professor é o único avaliador do texto do aluno. O produtor tem contato com sua produção apenas uma vez, ou seja, no momento da construção, assim sendo, não é dada oportunidade para reescrevê-la. O professor corrige os supostos erros, não faz inferências, para que o aluno tenha oportunidade de perceber suas falhas, e atribui uma nota. Muitas vezes, o texto é arquivado ou entregue para o aluno sem as devidas condições para a reescrita. Segundo Geraldi (2003), a diferença entre redação e produção textual é cla- ra. Na redação, o aluno se preocupa em escrever para a escola e, nesse ato, per- cebemos muita escrita e pouco conteúdo, deficiências de ideias e a mensagem não é clara. Mesmo o aluno recém-alfabetizado tem a preocupação em escrever quantidade e evitar erros ortográficos, pois o professor “dará nota”. O propósito dessa redação está centrado predominantemente na avaliação que o professor realizará. Nas produções textuais, o aluno se preocupa em escrever apenas o que sabe, procurando enfatizar as ideias e a mensagem que quer transmitir. Sabe que terá oportunidade de rever e reescrever o seu texto, partindo das inferências do professor, que, nesse caso, torna-se leitor crítico, e não avaliador. A prática da produção textual tem como objetivo ensinar os alunos a passa- rem seus conhecimentos sobre a linguagem oral para a forma escrita. Com isso, mesmo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, aprenderão a produzir textos de todos os gêneros, conforme as demandas culturais e escolares posteriores. Como já citado, o texto é o ponto de partida e chegada de todo o processo de ensino e aprendizagem da língua. Para Geraldi (2003), a produção de um texto de qualidade deve abordar alguns fatores, como: UNICESUMAR UNIDADE 1 32 A B C “Que se tenha o que dizer”: os alunos precisam ter claro sobre o que irão escrever. Isso, geralmente, deve ser discutido antes da produção. Desta forma, será dada oportunidade para que os alunos possam expor o conhecimento prévio e estabelecer relações com a proposta de trabalho. “Que tenha uma razão para dizer”: neste caso, o aluno precisa ter o conhecimento da razão pela qual irá escrever, o porquê e qual o motivo de escrever sobre aquele assunto proposto pelo professor. “Que tenha para quem dizer”: ao escrever, o aluno precisa saber que está escrevendo para um ou mais leitores. Assim, irá se preocupar em escrever de maneira clara para o interlocutor. D E “Que o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz”: desta forma, o aluno se sentirá obrigado a escrever, construindo argumentos que comprovarão o que quis dizer e que convença o leitor sobre seu ponto de vista. “Que se escolham as estratégias para a realização dos itens anteriormente citados”: o aluno deve ter a oportunidade de escolher qual a melhor maneira de desenvolv- er seu texto para que possa persuadir seu interlocutor. Os fatores citados fazem com que os alunos se sintam incentivados a produzir tex- tos com qualidades, pois existirá um propósito ao escrever. Assim, professor e aluno buscarão caminhos para tornar esse ato um momento prazeroso, uma contínua construção e diálogo entre quem escreve e quem lê. Na produção textual, a escrita tem a sua real função: a comunicação. Soares (2004) ressalta que a função primor- DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 32 – Sem legenda INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a uma sequência de A até E, cada letra contém um conceito, conforme: A: “Que se tenha o que dizer”: os alunos precisam ter claro sobre o que irão escrever. Isso, geralmente, deve ser discutido antes da produção. Desta forma, será dada oportunidade para que os alunos possam expor o conhecimento prévio e estabelecer relações com a proposta de trabalho. B: “Que tenha uma razão para dizer”: neste caso, o aluno precisa ter o conhecimento da razão pela qual irá escrever, o porquê e qual o motivo de escrever sobre aquele assunto proposto pelo professor. C: “Que tenha para quem dizer”: ao escrever, o aluno precisa saber que está escrevendo para um ou mais leitores. Assim, irá se preocupar em escrever de maneira clara para o interlocutor. D: “Que o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz”: desta forma, o aluno se sentirá obrigado a escrever, construindo argumentos que comprovarão o que quis dizer e que convença o leitor sobre seu ponto de vista. E: “Que se escolham as estratégias para a realização dos itens anteriormente citados”: o aluno deve ter a oportunidade de escolher qual a melhor maneira de desenvolver seu texto para que possa persuadir seu interlocutor. FIM DESCRIÇÃO. 33 NOVAS DESCOBERTAS Livro: Portos de Passagem Autor: João Wanderley Geraldi Editora: Martins Fontes Sinopse: nesta obra, o estudioso João Wanderley Geraldi relata sua trajetória como professor e nos mostra a forma de se pensar o ensino da Língua Portuguesa dentro de um cenário educacional tão complexo quanto o nosso. Trata-se de um panorama geral sobre a formação do profissional de língua materna, o contexto de atuação e tudo que nos envolve, enquanto pensadores e professores. A MEDIAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO DA LINGUAGEM Provavelmente, você deva se perguntar: Como a escola e o professor(a) poderão mediar o ensino da linguagem escrita para garantir a formação desse aluno crítico e reflexivo? Para alcançar seu objetivo, a escola precisa colocar em ação as capacidades in- telectuais dos alunos e direcionar a utilização dessas capacidades desenvolvidas, a fim de que, em interação com o meio social, utilize essas potencialidades em todas as direções. Ao professor cabe organizar o ensino, promovendo não uma única capacidade de pensar, mas inúmeras capacidades particulares de pensar sobre di- ferentes campos, também, e não reforçar a faculdade geral de prestar atenção, mas desenvolver diversas capacidades de centralizar a atenção em distintas situações. Desenvolver essas capacidades exige do professor alguns preceitos: a forma- ção de ações mentais adequadas. Para apropriar-se de conceitos, generalizações, conhecimentos, a criança precisa desenvolver ações mentais adequadas. A prin- cípio, essas ações são externas e se transformam em ações mentais internas. Isto tudo só é possível porque existe a colaboração de um adulto mediando o processo. Para compreender, de fato, o conceito de mediação, recorremos a Vigotsky (2000), dial da escola e dos educadores seria propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendam, de forma consciente, os mecanismos de apropriação de conhecimentos. Estes devem ser a mola propulsora para que seus alunos atuem criticamente em seu espaço social. Uma escola transformadora é aquela que está consciente de seu papel político na luta contra as desigualdades e na formação do aluno crítico. UNICESUMAR UNIDADE 1 34 que o caracteriza como a atividade mediadora entre o emprego de ferramentas/ instrumentos e o emprego de signos, mediante a internalização. Para ilustrar, trouxemos o esquema apresentado por Vendrame (2021) e acrescentamos a fun- ção da internalização no processo e o que dessa decorre: Descrição da Imagem: a figura representa o esquema elaborado para compreensão do conceito de mediação. Ela é composta por cinco retângulos conectados por setas. Em um dos retângulos, está escrito “Atividade Mediadora”, e ele se conecta a outros dois, nos quais há o seguinte texto: “emprego de fer- ramentas” e “emprego de signos”. Estes se conectam a outro, no qual está escrito “internalização”, e ele aponta para um outro, no qual está escrito “desenvolvimento de funções psicológicas”. Figura 2 - Mediação / Fonte: adaptada de Vendrame (2021, p. 54). Ao introduzir o conceito de mediação, Vigotsky não o apresentou simplesmente como ponte, elo ou meio entre coisas, mas evidenciou que a mediação responde pela interposição que conduz a transformação, logo, ela encerra a intencionali- dade socialmente construída e promove desenvolvimento, isto é, uma condição externa ao indivíduo é internalizada e passa a potencializar o ato de trabalho — prático ou teórico — do sujeito. Temos muitas interpretações em relação ao conceito de mediação, alguns compreendem o professor como elemento crucial 35 da mediação, outros o veem como portador dos signos e, portanto, responsável pela atividade mediadora. Em relação à mediação no desenvolvimento da linguagem, Luria (2006, p. 99), sublinha: “Escrever é uma das funções culturais típicas do comportamento hu- mano [...]. A acomodação direta à tarefa é substituída por uma técnica complexa que se realiza por mediação”. Portanto, para formarmos o aluno crítico e reflexi- vo tão almejado pelo corpo docente, é preciso dispormos de signos adequados, termos domínio dos conteúdos a serem transmitidos e reconhecermos a função dos instrumentos culturais para a elaboração da aprendizagem da linguagem escrita. Ademais, não é possível concebermos a aprendizagem da escrita como espontânea, a ocorrer em um passo de mágica; diversamente, apropriar-se da escrita demanda trabalho e energia de ambos os sujeitos envolvidos no processo, professor e aluno, logo, a escrita é desenvolvida, ensinada, e não inata ao sujeito. Em seu artigo “Ensinar e aprender a linguagem escrita na perspectiva histórico-cultural”, Mello (2010, p. 338-339) nos mobiliza a pensar: “Ao vivenciar procedimentos artificiais e ao gastar parte do tempo na escola com tarefas que não fazem sentido, a criança percebe a escrita como uma técnica que relega a linguagem viva a um segundo plano. Ainda que sem uma intenção explícita, a escola cria condições para a criança perceber a escrita como uma tarefa desagradável, que pode fazer sentido para a professora ou o professor, mas não faz sentido para criança, uma vez que não nasce de e não responde a sua necessida- de de expressão”. Fonte: adaptado de Mello (2010). EXPLORANDO IDEIAS DISTINÇÃO ENTRE LÍNGUA E LINGUAGEM Ao longo da leitura desta unidade, você se deparou com as expressões “língua” e “linguagem”; então, pergunto a você: existem diferenças entre elas? Representam conceitos distintos? Se você respondeu que sim, tem razão. Prosseguiremos para compreendermos tais definições. Muito tem-se falado acerca do ensino de língua e linguagem. Afinal, será que os(as) professores(as) têm clareza desses conceitos? Conseguem distinguir um do outro, a fim de organizar, intencionalmente, sua prática pedagógica? Recorremos a Capello (2009, p. 174), a qual defende: “Para que se pense em um trabalho efetivo de UNICESUMAR UNIDADE 1 36 desenvolvimento do pensamento, fruto de um investimento no desenvolvimento da linguagem, é importante ter em mente a distinção entre linguagem e língua”. Comungando das ideias de Capello e reconhecendo que as indagações são inúme- ras, organizamos a discussão no intuito de apresentar o que compreendemos por língua e linguagem, com base em autores que se debruçaram a explicar a questão. Inicialmente, recorremos às definições expressas em dois dicionários, um de língua portuguesa (FER- REIRA, 2010) e outro específico de alfabetização (HARRIS, 1999). Em Ferreira (2010, p. 468), uma das definições atribuídas à palavra língua é esta: “conjunto de palavras e expressões, faladas ou escritas, por um povo, por uma nação, e o conjunto das regras da sua gramática”. Em Harris (1999), também, encontramos várias explicações para o termo língua. Dentre elas, destacamos a definição de língua ao longo do currículo: “ [...] um movimento iniciado na metade da década de 60 na Ingla-terra, e adotado em outros países, no intuito de incentivar: a. os alunos a construírem sua própria compreensão do conhecimento por meio da manipulação verbal de informações. b. os professores a levarem em consideração o fato de que a língua(gem) desenvolve-se no indivíduo à medida que este cresce, bem como as exigências em termos de língua(gem) feitas nas escolas e em disciplinas escolares específicas, como composição (HARRIS, 1999, p. 168). Para o termo linguagem, Ferreira (2010, p. 468) traz duas definições: “uso da voz e de outros sons que se articulam formando palavras (as quais podem articular- -se em frases maiores), para expressão e comunicação entre pessoas” e “forma de expressão [...] própria de um indivíduo, um grupo, uma classe”. Para Harris (1999), é um problema ter que definir a palavra linguagem, uma vez que ela é o próprio meio de descrevê-la. Apresenta, contudo, alguns dos principais pontos de vista históricos e atuais referentes ao significado do termo; assim, linguagem é “ [...] o uso convencional e sistemático de sons, sinais ou símbolos escritos em uma sociedade humana para fins de comunicação e auto-expressão [...]’; ‘um sistema de símbolos usados na comunica- ção’; ‘código linguístico’; ‘em um sentido amplo, [...] um sistema em cujos termos algo pode ser apresentado por um usuário e entendido por outro [...] um sistema de comunicação’ (HARRIS, 1999, p. 169). 37 Com base nas definições apresentadas pelos dicionários, podemos afirmar que a linguagem seria o conjunto mais complexo de domínio do sujeito para apro- priação da língua. Assim, língua e linguagem se inter-relacionam, ou seja, a língua está para a linguagem, assim como a linguagem está para a língua. Logo, torna-se difícil existir a língua, sem o mínimo de domínio da linguagem. Segundo Bakhtin (2000) a língua não é aprendida em dicionários e gramáticas, ela é adquirida por meio de enunciados concretos ouvidos e reproduzidos durante a comunicação verbal viva que ocorre entre sujeitos. Nesse sentido, o autor afirma: “ Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas. As formas da língua e as for-mas típicas de enunciados, isto é, os gêneros do discurso, introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente e sem que sua estreita correlação seja rompida (BAKHTIN, 2000, p. 301-302). Ainda, em relação à língua, o estudioso menciona que muitas pessoas, mesmo dominando grandiosamente a língua, sentem-se desamparadas em certos mo- mentos da comunicação verbal, por não não dominarem, na prática, as formas do gênero de dada esfera. Assim, “ Não é raro o homem que domina perfeitamente a fala numa esfera da comunicação cultural, saber fazer uma explanação, travar uma discussão científica, intervir a respeito de problemas sociais, calar-se ou então intervir de uma maneira muito desajeitada numa conversa social. Não é por causa de uma pobreza de vocabulário ou de estilo (numa acepção abstrata), mas de uma inexperiência de dominar o UNICESUMAR UNIDADE 1 38 repertório dos gêneros da conversa social, de uma falta de conhe- cimento a respeito do que é o todo do enunciado, que o indivíduo fica inapto para moldar com facilidade e prontidão sua fala e de- terminadas formas estilísticas e composicionais; é por causa de uma inexperiência de tomar a palavra no momento certo, de começar e terminar no tempo correto (BAKHTIN, 2000, p. 303-304). Semelhantemente a Bakhtin, Luria (2006) se debruçou em investigar a linguagem. Para ele, “[...] é com base na linguagem que se formam complexos processos de regulação das próprias ações do homem” (LURIA, 2006, p. 197). Não obstante, a princípio, concebida como “uma forma de comunicação entre o adulto e a criança, a linguagem vai assim gradualmente se transformando em uma forma de orga- nização da atividade psicológica humana” (LURIA, 2006, p. 197). No decurso da história humana, a linguagem aparece atrelada ao pensamento, no processo do trabalho social, logo, é um produto histórico, constitutivo da atividade mental humana, sendo um processo pessoal e social, pois tem origem e se realiza nas relações entre indivíduos organizados socialmente. É um dos fatores que determina a passagem da conduta animal à atividade consciente do Homem. Foi no processo do trabalho socialmente dividido que se criou, nas pessoas, a necessidade da comunicação, ocasionando a produção da linguagem (VENDRAME, 2015). O nascimento da linguagem permitiu que, pro- gressivamente, fosse criado um sistema de códigos que nomeasse ações e objetos, a ponto de transformar a linguagem em instrumento decisivo para o conheci- mento humano, graças ao qual o Homem pode superar os limites da experiência sensorial e formular determinadas generalizações. Para Luria (2006, p. 26), “ A linguagem carrega consigo os conceitos generalizados, que são a fonte do conhecimento humano. Instrumentos culturais especiais, como a escrita e a aritmética, expandem enormemente os poderes do homem, tornando a sabedoria do passado analisável no presente e passível de aperfeiçoamento no futuro. Portanto, a linguagem tem papel fundamental na existência e constituição dos sujeitos, uma vez que, por meio dela, é possível conhecer o passado, compreender o presente e transformar o futuro. Comungando desses ideais, Geraldi (1997) afirma que a língua não está previamente pronta, como um sistema em que o 39 sujeito se apropria e passa a usá-la de acordo com suas necessidades nos momen- tos de interação. É no processo de interlocução entre indivíduos, em atividade de linguagem, que a língua se reconstrói. Contribuindo com a discussão, Zuin e Reyes (2010, p. 28-29) mencionam que “[...] a linguagem não é apenas a língua e seu sistema de códigos; ao contrário, é uma criação cultural viva e que permite aos indivíduos interagir com o meio e consigo mesmo”. Defendem, ainda, que “a linguagem é dinâmica, dialética e transformadora. Nesta concepção, a língua é o resultado da produção histórica e coletiva que constitui o ser humano” (ZUIN; REYES, 2010, p. 28-29). Quanto a constituir-se humano, Geraldi (1997) pontua que é na interação com os ou- tros que o sujeito se constitui, além de adquirir consciência e conhecimento de mundo. Destaca que “[...] o sujeito é social já que a linguagem não é o trabalho de um artesão, mas trabalho social e histórico seu e dos outros e é para os outros e com os outros que ela se constitui” (GERALDI, 1997, p. 6). Ressalta, ainda, que não há um sujeito dado, pronto e acabado, mas um sujeito se completando e se construindo em suas falas no processo de interação. Portanto, compreender que a interação precisa fazer-se presente em sala de aula é fundamental, já que, por meio dela, é possível trocar informações, dar su- gestões e, sobretudo, conscientizar-se acerca das normas e dos usos da escrita, po- dendo, assim, partilhar estratégias que auxiliarão a coordenar as ações ao longo das atividades de escrita. Por fim, inferimos que a língua responde pelos signos, pelos símbolos, pelos códigos elaborados/convencionados por determinada sociedade/ cultura. A linguagem, por sua vez, é um instrumento/ferramenta utilizado pelos indivíduos para interagir com o meio social e consigo mesmo. Desse modo, entre língua e linguagem, existe um processo de interdependência, ou seja, a língua está para a linguagem, assim como a linguagem está para a língua. Com base nos estudos realizados, é possível afirmar ou negar a ideia de que seja superfi- cial e técnico utilizar a produção textual para, tão somente, avaliar os conceitos ortográfi- cos? Reflita sobre outras possibilidades de feedback que esse instrumento oferece. PENSANDO JUNTOS UNICESUMAR UNIDADE 1 40 Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da nossa primeira unidade. A partir das ideias expostas, evidenciamos a importância do trabalho com textos no Ensino Fundamental, sendo este elemento norteador da prática pedagógica do(a) pro- fessor(a) e objeto emancipador de condições sociais e individuais. Verificamos, também, que leitura e escrita são processos independentes, mas se relacionam. Portanto, para compreender um texto e extrair dele o conteúdo, é necessário mais do que o simples ato de decodificar, é preciso ser capaz de atribuir significação e estabelecer relação com outros textos já apropriados. Apresentamos, ainda, de forma bastante breve, a importância do trabalho com os gêneros nas salas de aula, pois, se os gêneros são instrumentos que utilizamos para falar e escrever e, consequentemente, para agir em sociedade, nosso intuito é garantir- mos ao aluno a compreensão da Língua Portuguesa. Uma das alternativas mais correta para a eficácia dessa empreitada é o trabalho desses textos que circulam socialmente. Procuramos, também, mostrar e exemplificar a diferença entre redação e pro- dução textual, enfatizando a necessidade de não analisar a escrita da criança, apenas, como ato avaliativo, mas interagir, orientar e apresentar metodologias que sejam capa- zes de garantir as competências necessárias, em relação à comunicação e à linguagem, pois, como vimos, essas circunstâncias de aprendizagem da língua podem levar a outras circunstâncias de aprendizagem do aluno que o transformam, à medida que ele evolui, em um cidadão capaz de assumir seu papel como tal na sociedade. Esclarecemos, na ocasião, qual seria o seu papel, como futuro(a) professor(a) me- diador(a), antes, durante e depois do processo de produção textual do aluno, uma vez que, em todo esse percurso, encontram-se em formação as ações mentais da criança, que, a princípio, são externas e se transformam em ações mentais internas. Pautados em estudos, também, definimos que o aluno precisa escrever com função social, mas, para que isso ocorra, ele precisa ter propósitos ao escrever, ou seja, conhecer alguns fatores, como: o assunto a tratar, o motivo da escrita, o(s) seu(s) interlocutor(es) e os argumentos empregados para convencer o leitor acerca de seu posicionamento. Para encerrar esta primeira unidade, expusemos acerca da distinção entre língua e linguagem, expressões comumente empregadas em nossos discursos e nas produções dos estudiosos. Inferimos que, entre ambas, existe um processo de interdependência, ou seja, a língua está para a linguagem, assim como a lin- guagem está para a língua. Na próxima unidade, encontrar-nos-emos novamente para discutirmos as intervenções didático-pedagógicas no processo de escrita e de reescrita de textos pelas crianças. Continue lendo, você verá o quanto seu papel, como mediador(a) desse processo, é importante. Bons estudos! Caro(a) aluno(a), agora, convido-o(a) a refletir acerca da linguagem escrita por meio do texto em sala de aula. Para isso, preencha o Mapa de Empatia a seguir. Nesse mapa, você organizará suas ideias e refletirá sobre as práticas pedagógi- cas propulsoras do ensino da escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Medite sobre as respostas e as anote nos campos. Agora é com você! O que você PENSA E SENTE em relação ao trabalho com o texto na sala de aula? O que você VÊ de positivo e negativo nas práticas pedagógicas com a escrita de texto no ensino fundamental? O que você FALA e faz que poderá garantir práticas pedagógicas diferenciadas em relação à escrita? O que você ESCUTA acerca desse tema, que lhe permite considerá-lo relevante para a formação dos alunos? DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 42 – Imagem sem legenda INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a um quadro, dividido em quatro partes por um X, com uma carinha feliz ao meio, na parte superior do desenho, aponta a seguinte frase: O que você PENSA E SENTE em relação ao trabalho com o texto na sala de aula?, do lado esquerdo do desenho, a frase é: O que você ESCUTA acerca desse tema, que lhe permite considerá-lo relevante para a formação dos alunos?, do lado inferior do desenho, a frase que acompanha é: O que você FALA e faz que poderá garantir práticas pedagógicas diferenciadas em relação à escrita?, e por fim, do lado direito a frase é: O que você VÊ de positivo e negativo nas práticas pedagógicas com a escrita de texto no ensino fundamental?. FIM DESCRIÇÃO. 2Intervenções Didático-Pedagógicas: Processo de Escrita e de Reescrita de Texto Corrigir, ou não, a escrita do aluno? Eis a questão! Nesta unidade, refletiremos acerca de intervenções didático-pedagógicas no proces- so de escrita e reescrita de texto, nos anos iniciais do Ensino Funda- mental, a partir de estratégias a serem implementadas em sala de aula, para aprimorar a escrita dos alunos: autocorreção, codificação, reestruturação e refacção. Abordaremos possíveis tendências de cor- reção adotadas por docentes, mediante intencionalidade, e, por fim, discutiremos a avaliação e a autoavaliação da produção textual do aluno, sugerindo fichas que servirão de registro para identificar as necessidades, as dificuldades ou os conteúdos já apropriados pela criança. Vamos conhecer? Dra. Cristiane Batistioli Vendrame Me. Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici Me. Marcia Maria Previato de Souza UNIDADE 2 44 Provavelmente, em algum episódio de sua vida, você já tenha ouvido a seguinte expressão: “aprende-se a ler, lendo, e a escrever, escreven- do”. De fato, não podemos negar tal afirmação, porém é preciso fazer algumas ressalvas: a escrita, por ela mesma, propicia a aprendiza- gem? Que escrita é essa que temos ensinado? Será o(a) aluno(a) capaz de interpretar o mundo e lançar sobre ele sua palavra? Que condições temos oportunizado ao discente para que, por meio da escrita e da reescrita, interfira no mundo pela ação? Considero pertinente, nessa ocasião, mencionar alguns relatos que acompanhei ao longo de minha experiência profissional, enquanto coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental, advindos de diá- logos com docentes, quanto à prática de escrita e reescrita de texto em sala de aula. Durante momentos de estudo e discussão de planejamen- tos, algumas indagações se faziam presentes: “produzir textos dá mui- to trabalho, leva muito tempo, a sala fica agitada, perco o controle da turma, fico muito nervosa, eles me chamam o tempo todo, parece não saber escrever, o pior é o resultado, péssimo, é só decepção”. Importante lembrarmos que essas capacidades não são inatas ao ser humano, e, sim, 45 desenvolvidas ao longo de sua escolarização, então, consequentemen- te, necessitam de ensino intencional, organizado e sistematizado para ocorrer. Logo, por ser algo ensinado, requer mediação e, aqui, ratifica- mos a relevância do papel do professor na condução desses processos. Ao longo da primeira unidade, ressaltamos que a mediação é fundamental na produção textual do aluno, seja antes, durante e de- pois. O que, todavia, significa mediar? Mediar é subsidiar e auxiliar o aluno no processo de construção do conhecimento, é fazer com que transforme as informações que adquiriu no seu contexto social em conhecimento, é fazê-lo refletir sobre seus erros e retomar, da melhor maneira possível, a sua escrita. No Brasil, durante algumas décadas, interpretações equivocadas, em relação aos “erros” produzidos pelos alunos em situações de escrita de texto, ocorreram. Algumas institui- ções concebiam o erro como uma construção da criança e, portanto, não era permitido ao professor intervir. UNIDADE 2 UNIDADE 2 46 Ao docente caberia ser a fonte para que o educando observasse seu entorno e per- cebesse as características do que designava, no caso, a escrita. Era compelido a ele a função de apresentador, em que possibilitaria à criança, por meio de diferentes situações, pensar e descobrir as particularidades do sistema de escrita. Ao aluno caberia, por ele mesmo, alcançar a escrita correta, mesmo que isso levasse alguns anos. Mediante essa concepção equivocada de compreender os erros produzidos, tivemos, por determinado período, aqui, arrisco-me a dizer, aproximadamente, por duas décadas, estudantes sem o mínimo de domínio da escrita, pois, como não houve intervenção docente, eles saíram da escola sem apropriarem-se desses conhecimentos linguísticos. Que tal conhecer um pouco mais acerca dos diversos siste- mas de escrita criados pela humanidade ao longo da História? Realize uma pesquisa sobre os sistemas de escrita e compare as principais diferenças. Aproveite e anote suas percepções no diário de bordo. A partir do material analisado, verificamos que a escrita é um bem cultural socialmente constituído e historicamente produzido. De acordo com o conteúdo dos vídeos, reflita a respeito das questões a seguir e anote, em seu Diário de Bordo, as elocuções decorrentes: ■ O que motivou a humanidade a elaborar formas iniciais de registros? ■ Em quais locais os registros eram expostos? ■ Como estes registros eram produzidos? ■ Com o passar do tempo, ocorreu a evolução no modo, ainda que primi- tivo, de comunicação. Que evolução foi essa? ■ Existe apenas um sistema de escrita possível de ser utilizado? Qual é a base do nosso sistema de escrita? https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13586 47 UNIDADE 2 UNIDADE 2 48 Ao falarmos em reescrita de texto nos anos iniciais do Ensino Fundamental, imediatamente, vem-nos à cabeça a palavra correção e, aí, perguntamos: podemos corrigir a criança quando ela não escrever de maneira correta? Se você respon- deu que sim, parabéns! Você acertou. Realmente, a criança precisa ser corrigida para saber onde errou e conhecer a forma correta de escrever. Permitir ao aluno reescrever e progredir em seu texto de maneira prazerosa é um desafio para o professor comprometido com o processo de ensino e aprendizagem. Quando nos referimos à reescrita de texto, reportamo-nos a algo mais complexo, ou seja, ao texto enquanto forma e conteúdo, não nos detendo, apenas, às partes, mas ao que explana o texto na sua complexidade. Nesse sentido, o professor pode, ao propor tal ação, ter a totalidade da produção do aluno, refletindo sobre a maior necessidade do discente, naquele momento, para reescrever a produção, tendo em vista o processo de aprendizagem e apropriação da língua. De acordo com Almeida (2008), a falta de estrutura textual demonstrada por alunos nos anos iniciais do processo de escolarização é o maior problema da escola fundamental brasileira. Por vezes, deparamos com alunos que produ- zem amontoados de frases desconexas, sem coesão, coerência e pontuação, sem compreenderem o que escreveram e o que leram. O autor postula, ainda, que tal problema é resultado da falta de investimento em educação, da desqualificação do professor, da escassez de recursos materiais e da violência. Tais fatores cola- boram para o cenário alarmante em que se encontra a educação brasileira, em específico, a leitura e a escrita dos alunos, levando-os, muitas vezes, a se assumi- rem como incapazes e incompetentes diante de tal fato. No entanto essa prática precisa ser superada no âmbito escolar, de modo que os discentes compreendam o verdadeiro sentido e significado da escrita em suas vidas e dela façam uso em seu cotidiano. Para tanto, cabe ao professor promover momentos sistemáticos de reescrita, coletiva ou individual, de texto. 49 Para a prática pedagógica de reescrita coletiva de texto, faz-se necessário, antes, po- rém, selecionar um texto que apresente os problemas relacionados ao domínio da língua mais comuns aos da turma. Na sequência, ele deve ser transcrito no quadro ou digitalizado, de modo que a turma visualize ou o tenha em mãos para iniciar a pro- posta conjuntamente (NASPOLINI, 1996). A princípio, é pertinente conversar com os alunos sobre o motivo pelo qual essas atividades estão sendo propostas, evitando o entendimento de que determinado texto foi reproduzido no quadro porque é o pior ou o melhor da turma. Vale destacar que todos os alunos merecem a oportunidade de ver seus textos sendo trabalhados pelo professor e de compartilhar com os colegas suas dúvidas. Ao reescrever o texto, devemos ter o cuidado de não modificar a ideia central do aluno, de modo que ele não reconheça mais seu texto. Uma opção seria reproduzi-lo no quadro sem a referência do autor, sendo escolha dele se manifestar, ou não (NASPOLINI, 1996). Ao prosseguir com a reescrita, compete ao professor realizar a leitura do texto em alto tom e, simultaneamente, com a participação dos alunos, ordená-lo de acordo com a língua materna. Ao final dessa ação, os alunos poderão copiar o texto na sua forma elaborada ou o professor poderá entregá-lo digitado no dia seguinte. A cópia, nesse caso, torna-se significativa, uma vez que é produto de uma ação realizada com uma intenção clara: registrar o texto reescrito coletivamente (NASPOLINI, 1996). Os estudos de Fiad (2006) seguem essa direção e nos trazem algumas alternativas metodológicas para a prática de reescrita de texto em sala de aula, dentre elas, a rees- crita coletiva. Para explorar tal proposição, a autora inicia abordando oito princípios básicos. Dentre os princípios defendidos, destacamos seis que enfatizam essa questão: NOVAS DESCOBERTAS Título: Escrever é reescrever Autora: Raquel Salek Fiad Editora: Ceale/UFMG Sinopse: a obra trata da reescrita como prática essencial para o ensi- no e a aprendizagem da escrita, apoiando-se tanto em conceitos teóricos re- lacionados à linguagem e à escrita como em exemplos de textos escritos por crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O objetivo é desenvolver a reflexão a partir dessas duas bases, o que já se conhece sobre a linguagem escrita e sua produção e as situações concretas de escrita vivenciadas por crianças que estão aprendendo a escrever. UNIDADE 2 UNIDADE 2 50 Tanto Fiad (2006) como Naspolini (1996) consideram a prática da reescrita co- letiva de texto como um princípio fundamental no início do processo de escrita. Acreditamos que, após participar de momentos sistemáticos envolvendo tal ação, a criança se aproprie de conhecimentos sobre o sistema de escrita, o que a permi- tirá empenhar-se na reescrita de textos individuais. Quanto à reescrita individual de texto, vale salientar que ela poderá ocorrer sobre o texto todo ou em parte dele. Naspolini (1996) destaca alguns encaminhamentos a serem utilizados pelos docentes como possibilidade de intervenção, contudo sabemos que outros pode- O trabalho de reescrita deve ser feito na sala de aula, coletivamente, com o professor questionando antes de fornecer respostas; as respostas dos alunos são incorporadas e elaboradas pelo professor, para se chegar a algumas possibilidades de escrita; Na realidade, o trabalho de reescrita começa com a preparação pelo professor, dessa atividade, ao selecionar os textos que serão tomados como ponto de partida para a prática em sala de aula; 1 2 3 É parte fundamental dessa preparação a seleção, pelo professor, dos aspectos linguísticos que serão trabalhados, em cada aula de reescrita, ou seja, o professor seleciona, dentre vários, os aspectos relevantes, a partir da leitura dos textos dos alunos. Não é interessante propor a reescrita que inclua vários problemas simultaneamente; 4 A reescrita coletiva pode ser feita a partir da escrita, na lousa, do texto selecionado pelo professor; é essencial que a atenção da classe esteja focalizada em um único texto, ao menos durante um período da aula; Além da reescrita coletiva, podem ser propostos, após a iniciação das crianças nessa prática, outras modalidades, como: reescrita em duplas (em que um colega lê o texto do outro e propõe alterações), reescrita em grupos de quatro a cinco crianças (em que haja rodízio dos textos dos membros do grupo, com sugestões de alterações por parte de todos os leitores);5 6Além da reescrita de um texto completo, podem ser propostas reescritas de trechos de vários textos visando um mesmo problema; neste caso, o professor deve ter elaborado previamente uma coletânea formada de trechos de textos de diferentes crianças, focalizando o mesmo aspecto lingüístico (FIAD, 2006, p. 53). DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 50 – Sem legendas INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem retrata o desenho de um lápis na vertical, com seis ícones, os ícones 1,3 e 5, posicionados do lado esquerdo, e do lado direito, estão posicionados os ícones 2,4 e 6. Conforme: 1- O trabalho de reescrita deve ser feito na sala de aula, coletivamente, com o professor questionando antes de fornecer respostas; as respostas dos alunos são incorporadas e elaboradas pelo professor, para se chegar a algumas possibilidades de escrita; 2- Na realidade, o trabalho de reescrita começa com a preparação pelo professor, dessa atividade, ao selecionar os textos que serão tomados como ponto de partida para a prática em sala de aula; 3- É parte fundamental dessa preparação a seleção, pelo professor, dos aspectos linguísticos que serão trabalhados, em cada aula de reescrita, ou seja, o professor seleciona, dentre vários, os aspectos relevantes, a partir da leitura dos textos dos alunos. Não é interessante propor a reescrita que inclua vários problemas simultaneamente; 4- A reescrita coletiva pode ser feita a partir da escrita, na lousa, do texto selecionado pelo professor; é essencial que a atenção da classe esteja focalizada em um único texto, ao menos durante um período da aula; 5- Além da reescrita coletiva, podem ser propostos, após a iniciação das crianças nessa prática, outras modalidades, como: reescrita em duplas (em que um colega lê o texto do outro e propõe alterações), reescrita em grupos de quatro a cinco crianças (em que haja rodízio dos textos dos membros do grupo, com sugestões de alterações por parte de todos os leitores); 6- Além da reescrita de um texto completo, podem ser propostas reescritas de trechos de vários textos visando um mesmo problema; neste caso, o professor deve ter elaborado previamente uma coletânea formada de trechos de textos de diferentes crianças, focalizando o mesmo aspecto linguístico (FIAD, 2006, p. 53). FIM DESCRIÇÃO. 51 rão ser elaborados pelo professor. Dentre as estratégias, têm-se a autocorreção, a codificação, a reestruturação e a refacção. Todas, segundo a autora, não poderão ser utilizadas em uma única correção, cabendo ao professor identificar a maior necessidade do aluno para dessas fazer uso. Analisaremos cada uma dessas formas para usá-las na prática de sala de aula e contribuir com a escrita de nossos alunos. NOVAS DESCOBERTAS Acessando o QR Code a seguir, você encontrará vídeos e indicações de textos que tratam da produção textual, correção, intervenções, en- tre outros assuntos relacionados ao que estudamos, que contribuirão para o seu entendimento sobre o que discutimos nesta unidade. Con- sidero importante que você acesse a playlist e conheça. ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA APRIMORAR A ESCRITA DO ALUNO Mediante a necessidade de explorarmos a escrita de texto produzida pelo aluno, tendo em vista o uso da língua viva, revestida de sentido e significado, trataremos de algumas estratégias a serem implementadas, pelo professor, em sala de aula, para desenvolver o conhecimento linguístico dos educandos. AUTOCORREÇÃO Para Naspolini (1996), o procedimento de autocorreção tem, por objetivo, a cons- trução da imagem mental das palavras. Nessa estratégia, a ação da criança é sobre as palavras. Uma forma de organizar a autocorreção é escrever a palavra correta- mente, a lápis, acima do termo que deve ser corrigido, como indicado na Figura 1. Na sequência, a criança deve observar as diferenças entre a palavra escrita por ela e a que o professor escreveu, comparando-as letra por letra. Ao identificar uma diferença, a criança apaga, apenas, a letra distinta e a substitui. A comparação deve continuar, uma vez que é possível existir mais de uma diferença em uma mesma palavra. Ao final, a palavra escrita pelo professor é apagada pelo aluno. UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13703 UNIDADE 2 52 Outro modo de autocorreção a ser utilizado pelo professor é quando as palavras são assinaladas com um sinal, um número, e sua forma correta é escrita no se- guimento do texto, no banco de palavras. Na maioria das vezes, os números são escritos sobre as palavras erradas e indicados de maneira correta por meio do banco de palavras. No ato de reescrever o texto, o aluno observa sua escrita e faz comparações com as palavras que se encontram no banco de palavras e as substi- tui. O objetivo desse trabalho é a construção da ortografia correta. Veja o exemplo: Descrição da Imagem: a figura apresenta um texto produzido por um aluno de 3º ano, registrado em folha pautada e composto por cinco linhas. Ao longo do texto, há algumas palavras escritas pelo aluno que foram sublinhadas por conterem problemas na escrita e, acima delas, a escrita convencionalizada, feita pelo professor, sendo elas: Guarda - Guardas; Protejendo - Protegendo; Soutando - Soltando; Cairen - Cairem; Invadiren - Invadirem; O - Os; Tiam - Tinham; Protejer - Proteger; Gueras - Guerras. Figura 1 – Exemplo de autocorreção 1 / Fonte: as autoras. 53 Ao prosseguir no processo de autocorreção, quando a criança já tem domínio sobre o uso do dicionário, o professor pode, simplesmente, assinalar as palavras que não estão escritas corretamente. Ao reescrever o texto, o aluno deverá pro- curar essas palavras no dicionário e analisar o que errou. A correção é a mesma da citada anteriormente, o que muda é que, antes, a criança tinha o banco de palavras para observar, agora, ela terá que buscar a forma certa de escrever no dicionário, no computador, no celular. Sendo assim, não é aplicável às crianças recém-alfabetizadas ou àquelas que, ainda, têm dificuldade de fazer tais buscas. Observe o exemplo: Descrição da Imagem: a figura representa uma produção de texto de um aluno de 4º ano produzida em folha pautada. No decorrer do texto, há palavras assinaladas com números, sendo: 1 - tenpo; 2 - espeses; 3 - moutanhas; 4 - prinsipamente; e 5 - pasou. Ao final da página, há um banco de palavras para comparação do aluno com a escrita convencional: 1. tempo; 2. espécies; 3. montanhas; 4. principalmente; e 5. passou. Figura 2 - Exemplo de autocorreção 2 / Fonte: as autoras. UNIDADE 2 UNIDADE 2 54 Avançando na estratégia da autocorreção, trazemos uma outra possibilidade, a das marcas registradas na lateral do texto. Caso haja, na primeira linha, uma pa- lavra escrita incorretamente, o professor assinará um X à margem dessa linha. Se houver duas ou mais palavras com erros, fará XX, como demonstrado na Figura 4. Assim, a criança precisará analisar todas as palavras da linha, buscando aquela que deve ser alterada. Para confirmar, ela poderá consultar o dicionário. Descrição da Imagem: a figura exibe, em folha pautada, a escrita de texto de um aluno de 4º ano. Nela, é possível observar algumas palavras sinalizadas pelo professor(a), sendo elas: sensasionais; atarde; area; omem; auto; dechado; e nem um. Ao final, há um encaminhamento para correção delas: “reescreva seu texto observando as palavras que não estão escritas corretamente, para auxiliá-lo consulte o dicionário”. Figura 3 - Exemplo de autocorreção 3 / Fonte: as autoras. 55 Como você deve ter percebido, nos quatro textos expostos como exemplo, na autocorreção, o conteúdo, a coerência e a mensagem do autor não serão alterados com a reescrita. O propósito desse trabalho é fazer com que o aluno se aproxime, cada vez mais, da escrita convencional, dando maior qualidade ao que escreve: “ A autocorreção não modifica o conteúdo da mensagem, mas aper-feiçoa a forma de comunicá-la. É bom que seja realizada em todos os textos que as crianças produzem. Cabe ao professor escolher a melhor forma de autocorreção para a sua série. Registrar marcas a margem do texto, por exemplo, não é apropriado para uma primeira série (NASPOLINI, 1996, p. 112). A correção realizada por meio da autocorreção, se bem planejada pelo professor, fará com que a criança analise e repense a maneira correta de escrever. Essa forma de correção viabiliza o processo de correção ortográfica, aproximando, cada vez mais, a criança da escrita ortograficamente correta. Descrição da Imagem: a figura expressa a produção de texto de uma aluna de 3º ano, organizado em folha pautada. Na lateral, à direita da página, há alguns códigos “X”, assinalados pelo(a) professor(a) para identificação de erros ortográficos. Figura 4 - Exemplo de autocorreção 4 / Fonte: as autoras.. UNIDADE 2 UNIDADE 2 56 CODIFICAÇÃO O uso de códigos ou símbolos em nosso cotidiano facilita, muitas vezes, a nossa aprendizagem, concorda? Vivemos um momento em que somos muito visuais e intuitivos em nossas atividades, sejam elas escolares, ou não. A criança, desde muito cedo, convive em um cenário cada vez mais colorido, com imagens, ícones, aplicativos de celulares, entre outros, que a leva a reconhecer as coisas com muito mais facilidade. Sendo assim, trabalhar com códigos pode nos ajudar a fazer a criança repensar sobre sua escrita. O uso da codificação, para levar seus alunos à compreensão do que deve ser corrigido em sua escrita, pode ser um grande aliado do seu trabalho em sala de aula. Segundo Naspolini (1996), em relação à codificação, professor e aluno atua- rão sobre o texto, alterando a acentuação, a pontuação bem como a concordância nominal e verbal. Para tanto, deve-se iniciar com a elaboração da tabela de códi- gos, convencionada com os alunos, com base no que se pretende trabalhar. Esses códigos devem ser expostos na sala de aula, fixados em seus cadernos, agendas ou outros lugares que o aluno consiga visualizar com facilidade. A seguir, você encontrará um exemplo de tabela para codificação. São códigos que deixamos como sugestão para o seu trabalho junto a seus alunos: Você já parou para pensar em como é importante a criança produzir textos? No entanto será que todas as escolas e todos os professores estão preparados para realizar um tra- balho com a criança para que ela produza seus textos e, posteriormente, debruce sobre ele para analisar as correções que deve fazer para melhorar? PENSANDO JUNTOS 57 Parágrafo Travessão Ponto de interrogação Ponto final seguido de letra maiúscula Reticências Concordância Verbal Vírgula Acentuação Dois Pontos Ponto de exclamação Concordância nominal Quadro 1 - Tabela para codificação / Fonte: adaptado de Vendrame (2021, p.155). No momento da correção do texto, o professor dispõe os códigos, e a criança os decodifica, adicionando as modificações necessárias. Em seguida, apaga os códigos colocados pelo professor. Destaca-se que essa estratégia é uma variação da forma desenvolvida e, preferivelmente, deve ser aplicada sobre o texto já sub- metido à autocorreção, tal como demonstrado na Figura 5. No entanto existe a possibilidade de desenvolvê-la concomitante à autocorreção. Existem itens, como acentuação e concordância nominal e verbal, que podem ser trabalhados tanto na autocorreção como na codificação. UNIDADE 2 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 57 – Quadro 1 - Tabela para codificação INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a tabela para codificação, ilustrado por dez desenhos, cada desenho representando algum código, conforme: Seta branca com travessão na base, apontando para direita: parágrafo; Quadrado preto: ponto final seguido de letra maiúscula; Triângulo preto: vírgula; Estrela preta: ponto de exclamação; Quadrado branco: travessão Losango: reticências; X preto: acentuação; Asterisco: concordância nominal; Círculo preto: ponto de interrogação; Círculo branco: concordância verbal “Mais” em negrito: dois pontos. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 2 58 Descrição da Imagem: a figura expõe a escrita de texto de uma aluna de 4º ano. O texto encontra-se organizado em folha pautada e, nele, há alguns códigos que sinalizam a ausência de pontuação ou pon- tuação incorreta. Na sequência da escrita da aluna, tem-se uma legenda com os códigos implementados: triângulo, na cor laranja, que corresponde à ausência de pontuação, e círculo, na cor verde, que corres- ponde à pontuação incorreta. Figura 5 - A correção por codificação / Fonte: Vendrame (2021, p. 287). Ao observar a Figura 5, verificamos que alguns códigos foram empregados du- rante a correção (pontuação incorreta ou ausência de pontuação). Para que a reescrita ocorra, o aluno, ao receber o texto, deve analisar os códigos aplicados em sua produção, consultar a tabela elaborada pela turma e iniciar a reescrita de seu texto justapondo os sinais correspondentes aos códigos elencados. No entanto essa não é uma tarefa fácil a ser realizada pelo aluno, pois são necessárias, nesse momento, algumas capacidades, as quais, no início do processo, ele não terá de- senvolvido. Nesse caso, são imprescindíveis o acompanhamento do professor e as intervenções individuais nas carteiras no momento da reescrita. Caso contrário, de fato, manter-se-á o discurso de que a escrita ou a reescrita de texto em sala é um caos, tumultua a sala, e o resultado é péssimo. 59 REESTRUTURAÇÃO Prosseguindo com as estratégias, Naspolini (1996) explica que a reestruturação é uma variante da codificação em que predomina a ação reflexiva, sendo esta a diferença entre elas: na codificação, o trabalho realizado é individual e, na rees- truturação, a ação é coletiva e sobre um único texto previamente selecionado. A autora ressalta, ainda, que o texto deverá estar escrito na lousa, em transparência, em papel, exposto em Powerpoint, entre outros, de modo que seja possível apa- gá-lo, riscá-lo ou sobrescrevê-lo. Outro aspecto importante é quanto à escolha do texto, o professor deve atentar-se para a seleção dele, a fim de que não seja muito longo, evitando que os alunos se cansem antes mesmo do término da proposição. Ao final da reestruturação, um aluno poderá copiar o resultado e, posterior- mente, o professor providenciará cópias dos dois textos — antes e após a reestru- turação — para comparar, colorir as modificações, analisar a nova organização e verificar a clareza obtida com as alterações efetivadas. É pertinente mencionar que a estratégia da reestruturação permite ao aluno refletir sobre a forma do texto, intervindo, indiretamente, no conteúdo, já que, ao empregarmos a pontuação, organizamos ideias que respondem pela compreensão da escrita. REFACÇÃO Ao avançarmos, Naspolini (1996) destaca outra estratégia: a refacção, como ex- posto na Figura 6. Nesse momento, o professor age, basicamente, sobre o con- teúdo do texto da criança, visando clarear e complementar ideias bem como dar coerência e coesão ao texto. Consiste em fazer intervenções, isto é, fazer pergun- tas, sugerir substituições, cortes e inserção de novos parágrafos. UNIDADE 2 UNIDADE 2 60 Nesse momento da correção, em que o professor se utiliza da refacção, é pertinente ressaltar o modo como essa estratégia ocorre. Notamos que, ao longo do texto, exis- tem muitos balões com diversos questionamentos, elaborados para que a produção seja reescrita. Contudo essas indagações precisam colaborar para a ampliação das ideias contidas no texto, não sendo algo já expresso na produção apresentada. Tomemos o primeiro parágrafo do texto da figura, como exemplo. Nele, há inúmeros balões no qual o professor apresenta sua intervenção por meio das seguintes questões: quando isso ocorreu na floresta? Que floresta era essa? Qual era a espécie de macaco? Por que a onça teve uma ideia? Quando ela teve essa ideia? Quais eram as travessuras que o macaco costumava fazer? O que o papa- gaio contou para toda floresta? Qual a reação dos animais ao ouvir o relato do papagaio? É evidente que tais indagações não constam na primeira versão do texto produzida pelo aluno. Logo, ao professor cabe promover problematizações que o faça pensar sobre o conteúdo do texto, a fim de que, ao expandir essas ideias, sua produção tenha progredido textualmente. Avancemos para o décimo segundo parágrafo do texto, cuja intervenção apre- sentada traz um balão questionando: qual a vergonha vivida pela onça? Verifica- Descrição da Imagem: a figura expressa a escrita de texto de uma aluna de 4º ano, disposto em folha pautada. Ao longo do texto, há balões com questionamentos elaborados pelo(a) professor(a). Figura 6 - Exemplo de refacção / Fonte: as autoras. 61 mos que a intenção do professor, diante dessa estratégia, é que o aluno perceba que outras informações podem ser inseridas em seu texto, e essas ideias farão da sua produção algo mais elaborado e de maior compreensão por parte de seu interlocutor. Outra possibilidade a ser utilizada nessa estratégia é o professor lançar, ao final da produção do aluno, as questões às quais ele precisa expandir. Todavia essa intervenção exige do aluno um pouco mais de domínio da língua, uma vez que ele precisa retornar ao texto e identificar em que local da produção determinada questão corresponde. Tais estratégias coadunam com os ensinamen- tos de Tavares (2013). Para a autora, a prática da reescrita textual é indispensável no processo de ensino e aprendizagem da linguagem, pois é por meio dela que o aluno adquire conhecimento ao longo da formação escolar. Portanto, “ Ao elegermos a revisão textual como objeto de estudo, por conseguin-te, consideramos que escrever é fator relevante à formação de nossos alunos como cidadãos. Diante disso, sugerimos que as revisões pro- duzidas dentro de certas condições desencadeiam processos capazes de levar à constituição de conhecimentos. Ao escrever, mobilizamos conhecimentos de várias ordens e somos compelidos a pensar sobre o que sabemos e sobre como expressá-lo (TAVARES, 2013, p.134-135). Ademais, para Naspolini (1996, p. 114), é aceitável “fazer a refacção de um texto co- letivamente”. Para isso, o professor “seleciona um texto bem significativo, fazendo as devidas intervenções por escrito; providencia cópias para todas as crianças; discute cada intervenção com a classe, levantando as possibilidades de transformação”. Na sequência, os alunos escrevem o texto, registrando as modificações necessárias. No entanto, como afirma a autora, a refacção é, preferentemente, uma atividade individual, uma vez que cada aluno tem uma maneira própria para criar e encadear ideias. Assim sendo, as res- postas às intervenções se tornam específicas e distintas de pessoa para pessoa. Comungando dessas ideias, temos Moraes (2009), que defende a reescrita de texto como sendo uma oportunidade de o professor promover a aprendizagem da língua escrita. Para tanto, a princípio, compete ao professor fazer uma análise cuidadosa ao identificar os problemas do texto e ao definir as questões que con- duzirão a reflexão da turma. Nessa direção, esclarece que UNIDADE 2 UNIDADE 2 62 “ [...] ele precisa planejar suas etapas e avaliar qual aspecto do texto seria mais necessário, no momento, tornar objeto de reflexão dos alunos, pois não é produtivo que eles tenham que se preocupar com tudo o que precisa ser revisado ao mesmo tempo (ortografia, pon- tuação, organização discursiva) (MORAES, 2009, p. 18-19). Se o momento é oportuno para refletir sobre a organização do discurso do texto, o professor poderá se responsabilizar pela revisão ortográfica, enquanto o aluno deterá sua atenção para um único aspecto. Nos primeiros anos do Ensino Fundamental, a criança apresenta dificuldade de produ- zir um texto. Além da escrita ortograficamente correta, há a dificuldade de articular e organizar suas ideias, de forma que a pessoa que ler possa compreender. A releitura do texto que produziu é fundamental para que haja reflexão e análise. “Será que o receptor compreenderá o meu texto?” Esta deve ser uma pergunta frequente de quem escreve. O trabalho de reescrita de texto deve começar quando a criança está alfabetizada, pois, a partir daí, ela conseguirá fazer a retomada e compreender, de fato, onde errou. Aprendemos muito com os nossos erros. Se ninguém apontar onde está o erro, como deixaremos de errar? Por isso, não deixe de aplicar, em sala de aula, o que discutimos so- bre reescrita, codificação, reestruturação e refacção, pois só assim conseguiremos formar alunos produtores de textos que dialoguem com o leitor. Lembre-se que ninguém escreve a partir do nada ou de algo que é desconhecido: se você quer que seus alunos produzam bons textos, faça propostas que sejam significativas para eles. EXPLORANDO IDEIAS TENDÊNCIAS DE CORREÇÃO DE TEXTO ADOTADAS POR DOCENTES Primeiramente, pensemos nos seguintes termos: correção e revisão. Você conse- gue dizer se existem diferenças entre eles? Seriam ambos o mesmo procedimento adotado pelos professores? Será que, quando empregamos a correção, estamos adotando procedimento distinto da revisão? Se você respondeu que existem di- ferenças entre esses procedimentos, está correto(a). Para esclarecer tais conceitos, recorremos a Ruiz (2001, p. 26-27), que define o que seria a correção: “ [...] é o nome mais corriqueiro que se dá àquela tarefa comum, típica de todo professor de Português, de ler o texto do aluno marcando nele, geralmente com a tradicional caneta vermelha, eventuais “er- 63 ros” de produção e suas possíveis soluções. O que estou chamando de correção é o trabalho que o professor (visando à reescrita do tex- to do aluno) faz nesse mesmo texto, no sentido de chamar a atenção para algum problema de produção. Correção é, pois, o texto que o professor faz por escrito no (e de modo sobreposto ao) texto do aluno, para falar desse mesmo texto. Quanto à revisão, a autora esclarece: “ [...] não é apenas uma das fases de produção de um texto, mas, sobretu-do, aquela que demonstra esse caráter processual da escrita [...]. Estou, por essa razão, entendendo revisão como o trabalho de reescrita, refac- ção, reelaboração textual, retextualização [...], realizado pelo aluno em função de intervenções escritas do professor, via correção, com vistas a uma melhor legibilidade de seu texto (RUIZ, 2001, p. 35-36). Nesse sentido, é possível evidenciarmos que são procedimentos distintos a serem implementados a partir da intencionalidade do docente na condução de ações voltadas à reescrita de textos pelos alunos. Ao ter claro os conceitos anteriormente descritos, partimos, alicerçados em Serafini (2003), a compreender alguns prin- cípios para correção de texto. Esses princípios objetivam tornar a correção mais eficaz, oferecer ao aluno ferramentas que o possibilite aproveitar as correções e elencar atitudes que o professor deve assumir. São seis os princípios: ■ A correção não deve ser ambígua. ■ Os erros devem ser reagrupados e catalogados. ■ O aluno deve ser estimulado a rever as correções feitas, compreendê-las e trabalhar sobre elas. ■ Deve-se corrigir poucos erros em cada texto. ■ O professor deve estar predisposto a aceitar o texto do aluno. ■ A correção deve ser adequada à capacidade do aluno. UNIDADE 2 UNIDADE 2 64 Tais princípios são fundamentais, e todo professor deve considerá-los em prá- ticas de correção, pois, caso contrário, acaba por assinalar, apontar uma série de problemas no texto do aluno que, em vez auxiliá-lo no ato da escrita, distancia-o, ainda mais, dessa prática. Para Ruiz (2001), geralmente, a tarefa de corrigir acaba por se tornar uma espécie de caça erros, em que o professor dirige a sua atenção ao que o texto tem de ruim, e não ao que há de bom. Parece buscar os defeitos, e não as qualidades na escrita, que são apontadas com raríssimas exceções. Para a estratégia de correção ou revisão de texto, existem algumas tendências de correções a serem adotadas por docentes para analisar a escrita da criança. De acordo com Serafini (2003) e Ruiz (2001), algumas possibilidades de intervenções empregadas são da ordem: indicativa, resolutiva, classificatória e textual-interati- va. A correção indicativa é aquela que o professor marca, junto à margem do texto, as palavras, as frases e os períodos que apresentam erros. O professor, nesse caso, limita-se a indicar o erro e pouco altera o texto. Quando faz alguma alteração, está relacionada a erros ortográficos e lexicais, como vemos na Figura 7. Obs. (1ª versão) :C. traça vários “X”, na margem do texto de Patrícia, para apontar os erros ortográficos. Descrição da Imagem: a figura representa a produção de texto da aluna Patrícia, organizada em folha pautada com sinalizações de correção realizada pelo professor(a), em que ele fez um traçado na palavra incorreta e escreveu, acima dela, a forma convencional. Na lateral da página, ao final de cada linha, temos a inserção de “X”, o qual aponta para a escrita inadequada de palavras Figura 7 - Correção indicativa / Fonte: Ruiz (2001, p. 54). 65 A correção resolutiva incide na correção de todos os erros, ou seja, há a reescrita de palavras, frases e períodos completos. Nesse caso, observa-se a tentativa do professor em assumir o lugar do aluno. Ele separa no texto aquilo que é aceitável e procura interpretar as intenções do aluno em trechos que requer correção. Esses trechos são reescritos pelo docente, que entrega ao aluno um texto correto, como expõe a Figura 8. Descrição da Imagem: a figura expõe a escrita de texto de Nelzita, com inserção de palavras pelo pro- fessor(a) e sinalização de outras correções. Figura 8 - Correção resolutiva / Fonte: Ruiz (2001, p. 58). Obs. (1ª versão): I. acrescenta “de Geografia” à sequência “Com o livro na mão”, para especificar melhor a referência feita por Nelzita. Em relação à correção classificatória, empregada mais raramente, o professor identifica os erros, com o cuidado de não trazer ambiguidade, e sugere as mo- dificações, todavia é comum solicitar ao educando que corrija sozinho os erros apontados. Esse tipo de correção exige interpretação de símbolos anotados, ge- ralmente, na lateral do texto, como exibe o Quadro 2. UNIDADE 2 UNIDADE 2 66 SÍMBOLO SIGNIFICADO A Acentuação Amb D Ambiguidade Coes Coesão Coer ? Coerência Confuso CP/Col Pron Colocação pronominal CN Concordância nominal C Concordância Quadro 2 - Correção classificatória / Fonte: Ruiz (2001, p. 61). No que diz respeito à correção textual-interativa, Ruiz (2001) explica que são feitos comentários mais longos registrados pelo professor na sequência do texto do aluno, conhecidos como “bilhetes” que aparecem no pós-texto. A finalidade dos bilhetes vai além de incentivar ou cobrar o aluno, busca ultrapassar as for- mas corriqueiras e tradicionais de intervir na escrita da criança para tratar dos problemas identificados no texto. Segundo a autora, essa é a opção encontrada por professores para apontar, classificar e resolver questões do texto do aluno que não seriam suficientes trazer no corpo ou na margem do texto nem recorrer ao emprego de símbolos. Vejamos a Figura 9: DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 66 – Quadro 2 - Correção classificatória INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a correção classificatória, ilustrada por um quadro com duas colunas e sete exemplos, conforme: SÍMBOLO: A SIGNIFICADO: Acentuação SÍMBOLO: Amb D SIGNIFICADO: Ambiguidade SÍMBOLO: Coes SIGNIFICADO: Coesão SÍMBOLO: Coer ? SIGNIFICADO: Coerência Confuso SIMBOLO: CP/Col Pron SIGNIFICADO: Colocação pronominal SÍMBOLO: CN SIGNIFICADO: Concordância nominal SÍMBOLO: C SIGNIFICADO: Concordância. FIM DESCRIÇÃO. 67 Obs. (1ª versão): Em 5 de abril S. escreve um “bilhete” e obtém uma resposta de M. Laura (Vou tentar melhorar). Em 10 e 11 de abril, escreve outros dois “bilhetes” e uma nova resposta surge (Obrigada). Descrição da Imagem: a figura representa o diálogo estabelecido entre professor(a) e aluna, em relação à produção de texto organizada. Na parte superior da figura, há o encerramento do texto da aluna, com- posto por três linhas, e, na sequência, o primeiro bilhete deixado pelo(a) professor(a): “Maria Laura, faça as correções com calma, utilizando o dicionário, se for preciso. Sua história está bem estruturada, mas é preciso cuidar da pontuação”. Como resposta ao bilhete organizado, a aluna expõe: “Vou tentar melhorar”. O(a) professor(a) expressa: “Melhorou. Corrija o que falta”, e ele finaliza parabenizando: “Gosto de ver a sua dedicação ao estudo de Português”. Figura 9 - Correção textual-interativa / Fonte: Ruiz (2001, p. 65). É relevante proferir, como identificamos na Figura 9, respaldados em Ruiz (2001), que, quando há a troca de bilhetes entre interlocutores, no caso, aqui, professor e aluna, temos a expressão máxima da dialogia em que os sujeitos assumem o texto e o trabalho com o texto como objeto de discurso. Na intenção de aprofundar a discussão, trouxemos, também, outras estratégias de correções a serem imple- mentadas pelo professor, a depender da intencionalidade para com a escrita do aluno. Tais estratégias já foram apresentadas anteriormente, quais sejam: a au- UNIDADE 2 UNIDADE 2 68 tocorreção, a codificação, a reestruturação e a refacção. Mesmo não tendo como objetivo, nesse ato, que você implemente essas correções em textos de alunos, acreditamos que, na próxima oportunidade, poderá adotar esses encaminhamen- tos para conduzir as suas práticas pedagógicas em relação à linguagem escrita e esperamos que logre êxito em todas as ações. Escrever e reescrever textos não pode ser considerado um bicho-papão por alunos e professores! Vamos conversar um pouco mais sobre as estratégias de reescrita de texto em sala de aula, desmistificando essa ideia que tem ronda- do as práticas de linguagem nas escolas? Acesse o podcast e fique sabendo. AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO TEXTUAL DO ALUNO Como você já deve saber, avaliar faz parte de todo processo escolar. Assim, a avaliação deve ser feita para que possamos verificar o progresso dos alunos. Na produção textual, é importante e necessário ver esse desenvolvimento com rela- ção a como nossos alunos estão, ou não, progredindo em sua aprendizagem, para poder intervir em suas produções. Compreenderemos, então, como fazer isso. Bozza e Batista (2000) afirmam que todo texto oral e escrito, produzido pela crian- ça, serve de parâmetro de avaliação. Por meio deles, o interlocutor demonstra os con- teúdos linguísticos que já não são de seu domínio, e o professor, individualmente, faz a avaliação. Lembre-se, sempre, de que a escrita ortograficamente correta não é a única avaliação a ser feita, o importante é a verificação, em relação à concatenação das ideias bem como à sua ampliação e criatividade, que depende ao escrever. Com o intuito de subsidiar o trabalho docente, as autoras citadas sugerem uma ficha de avaliação da produção textual da criança para ser usada o ano todo, podendo obter uma visão totalizada do progresso do aluno, servindo de registro para verificar, de forma científica, as necessidades ou dificuldades mais urgentes da criança ou, ainda, os conteúdos por ela já apropriados. Vamos conhecer! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12419 69 FICHA PARA ANÁLISE INDIVIDUAL DO ALUNO DURANTE TODO ANO A ficha que segue (Quadro 3) é para que você consiga observar o crescimento e as dificuldades de maneira individual:w Nome do Aluno 1° BIM 2° BIM 3° BIM 4° BIM 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Conteúdo e estrutura do texto Direção da escrita Espaçamento entre as palavras Unidade temática Paragrafação Sequência lógica Elementos coesivos Sinais de pontuação Expansão de ideias Argumentação Ampliação vocabular Função social da escrita Concordância verbal Concordância nominal Ortografia Acentuação Sinais gráficos Segmentação das palavras Quadro 3 - Ficha de avaliação individual / Fonte: adaptado de Bozza e Batista (2000). Nessa ficha, existem vários itens a serem avaliados, porém ela poderá ser modifi- cada de acordo com o nível da criança. Vale ressaltar que as habilidades cobradas UNIDADE 2 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 69 – Quadro 3 - Ficha de avaliação individual INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a ficha de avaliação individual, ilustrada por um quadro com cinco colunas, da esquerda para a direita, a primeira coluna aponta para nome do aluno, a segunda coluna aponta para 1° Bim, com espaços para 1,2 e 3; a terceira coluna aponta para 2° Bim, com espaços para 1,2 e 3; a quarta coluna aponta para 3° Bim, com espaços para 1,2 e 3; a quinta coluna aponta para 4° Bim, com espaços para 1,2 e 3, abaixo da coluna para nomes do aluno, há uma sequência de dezoito itens, sendo: Conteúdo e estrutura do texto; Direção da escrita; Espaçamento entre as palavras; Unidade temática; Paragrafação; Sequência lógica; Elementos coesivos; Sinais de pontuação; Expansão de ideias; Argumentação; Ampliação vocabular; Função social da escrita; Concordância verbal; Concordância nominal; Ortografia; Acentuação; Sinais gráficos; Segmentação das palavras; abaixo dos espaços para 1°,2°, 3° e 4° bimestre, sendo na frente de cada item, os espaços estão em branco, para posterior preenchimento. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 2 70 para uma criança de primeiro ano, por exemplo, não devem ser as mesmas de uma criança de quarto ou quinto ano. Ao observar a ficha, você verá que fize- mos a sugestão desse trabalho com, pelo menos, três textos durante o bimestre. Dessa forma, cada aluno tem a sua ficha. Ao final do ano, você conseguirá ter um parâmetro notável do progresso ou da dificuldade de cada aluno de sua turma. FICHA PARA ANÁLISE DO TEXTO DE TODOS OS ALUNOS Na ficha que segue (Quadro 4), você encontrará os mesmos itens cobrados na anterior. No entanto, aqui, você verificará o nível da turma toda e conseguirá perceber onde estão as lacunas que devem ser trabalhadas com mais intensidade. Em consequência disso, para cada produção, uma ficha. Se, ao preencher a ficha, por exemplo, você verificar que seus alunos estão tendo dificuldade na pontuação, é hora de realizar atividades para que eles superem isso. Veja: Conteúdo e estrutura do texto AN D RÉ BR U N O CA RL O S Legibilidade Direção da escrita Espaçamento entre as palavras Unidade temática Paragrafação Sequência lógica Elementos coesivos Sinais de pontuação Expansão de ideias Argumentação Ampliação vocabular 71 Conteúdo e estrutura do texto AN D RÉ BR U N O CA RL O S Função social da escrita Concordância verbal Concordância nominal Ortografia Acentuação Sinais gráficos Segmentação das palavras Quadro 4 - Ficha para a análise de uma turma / Fonte: adaptado de Bozza e Batista (2000). Realizar essa avaliação com, aproximadamente, três textos por bimestre facilita a visão da realidade individual ou coletiva da turma. Tal afirmação pode ser cons- tatada por Bozza e Batista (2000, p. 103), as quais sustentam que: “ [...] a análise do preenchimento da ficha apresentada permite ao profes-sor uma visão bem real da situação de cada aluno, pois ao diagnosticar e registrar os conteúdos já assimilados, estará tomando ciência do nível de aprendizagem de cada aluno. Ao realizar esse diagnóstico, fica mais fácil a continuidade do processo de ensino/aprendizagem, porquanto é possível encaminhar o trabalho pedagógico no sentido de eliminar as dificuldades através de atividades variadas e avançar nos conteúdos ainda necessários para conferir melhor clareza ao texto produzido pelo aluno, possibilitando, assim, um maior desenvolvimento. As fichas sugeridas podem ser modificadas de acordo com o gênero textual enca- minhado para a produção e série que a criança está. Cabe ao professor encontrar a melhor forma e uso adequado da ficha para avaliar os textos de seus alunos. No próximo item, você perceberá o quanto é importante a análise da criança sobre suas produções. Como fazer isso? Acompanhe! UNIDADE 2 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 71 – Quadro 4 - Ficha para a análise de uma turma INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a ficha para a análise de uma turma, ilustrado por um quadro com dez colunas, a primeira, da esquerda aponta para conteúdo do texto, as outras nove colunas apontam para nomes dos alunos, tendo as três primeiras apenas preenchidas como os nomes de André, Bruno e Carlos, abaixo da coluna de conteúdo e estrutura do texto, estão listados itens relacionados a estrutura do texto, sendo: Legibilidade; Direção da escrita; Espaçamento entre as palavras; Unidade temática; Paragrafação; Sequência lógica; Elementos coesivos; Sinais de pontuação; Expansão de ideias; Argumentação; Ampliação vocabular; Função social da escrita; Concordância verbal; Concordância nominal; Ortografia; Acentuação; Sinais gráficos; na frente de cada item os espaços estão em branco, combinado com os espaços dos nomes dos alunos. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 2 72 AUTOAVALIAÇÃO DO TEXTO PRODUZIDO A autoavaliação permite ao aluno revisar seu texto após escrevê-lo. O apoio de um roteiro com perguntas para ir respondendo permite, a ele, realizar uma análise do que está bom e o que precisa melhorar na produção de texto individual. A ficha também poderá variar de acordo com o gênero textual e nível da criança. O professor pode criar sua própria ficha, conforme a necessidade da turma. O exemplo a seguir (Quadro 5) é para um texto de gênero narrativo, podendo ser aplicado para alunos que já apresentam um bom nível de compreensão da língua escrita. Contudo você poderá aplicar para alunos já alfabéticos em qualquer nível, desde que cobre habilidades que já tenham sido trabalhadas. Essa tabela é, apenas, um exemplo, você poderá, a partir dela, montar a sua de acordo com o nível que trabalha: ESTRUTURA DO TEXTO SIM NÃO 1. Coloquei personagem principal e secundário? 2. Caracterizei os personagens? 3. Descrevi o ambiente? 4. Marquei o tempo? 5. Criei conflito? 6. Escrevi o clímax? 7. Coloquei o desfecho? 8. Conservei o foco narrativo? 9. O texto está de acordo com a proposta? FORMA SIM NÃO 1. Coloquei título? 2. Fiz parágrafos? 3. Utilizei o ponto final? 4. Utilizei o ponto de exclamação, se necessário? 73 FORMA SIM NÃO 5. Utilizei o ponto de interrogação, se necessário? 6. Utilizei o travessão e os dois pontos, se neces- sário? 7. Fiz uso da letra maiúscula em nomes próprios, depois do ponto final e início de frase? 8. Fiz substituições de nomes por pronomes? 9. Usei elementos conectivos? 10. Fiz substituições por sinônimos para não repetir, muitas vezes, a mesma palavra? 11. Separei corretamente as palavras nos finais de linha? APRESENTAÇÃO SIM NÃO 1. Minha letra está legível? 2. Meu trabalho está limpo? 3. Destaquei o título? Quadro 5 - Ficha para autoavaliação / Fonte: adaptado de Bozza e Batista (2000). Realizar trabalhos como esse faz com que o aluno entenda melhor o que é avaliado em relação ao que escreve. Analisar sua escrita possibilita que ele mesmo melhore sua produção. Vale ressaltar, aqui, que, mesmo o aluno realizando a autoavaliação de seu texto, os ensinamentos e a mediação do professor, neste momento, são importantes para que se sinta confiante em revisar sua escrita. De acordo com Calkins et al. (2008, p. 86), “se a criança recém terminou de escrever, ensine-se a reler e revisar. Se a criança corrigiu, ensine-a a iniciar uma nova produção textual”. A análise textual possibilita uma visão mais ampla, dando condições para que produza textos com qualidade e segurança e, depois, realize a autoavaliação. Para tanto, não se pode deixar de realizar propostas de trabalhos em que o aluno sinta prazer em escrever. Planeje propostas com objetivos claros, trabalhe produções de texto de gêneros variados, dê subsídios para que seus alunos escrevam e incentive-os a escreverem com função social. UNIDADE 2 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 72– Quadro 5 - Ficha para auto avaliação INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a ficha para auto avaliação, sendo ilustrada por três quadros. O primeiro quadro, se refere a estrutura do texto, com espaços para sim e não e abaixo do título estrutura de texto, estão listados nove itens, conforme: Coloquei personagem principal e secundário? Caracterizei os personagens? 3- Descrevi o ambiente? 4- Marquei o tempo? 5- Criei conflito? 6- Escrevi o clímax? 7- Coloquei o desfecho? 8- Conservei o foco narrativo? O texto está de acordo com a proposta? O segundo quadro, se refere a forma, na frente da palavra forma, há campos para sim e para não, abaixo da palavra forma, estão listados onze itens que vão de acordo a forma, conforme: 1- Coloquei título? 2- Fiz parágrafos? 3- Utilizei o ponto final? 4-Utilizei o ponto de exclamação, se necessário? 5- Utilizei o ponto de interrogação, se necessário? 6- Utilizei o travessão e os dois pontos, se necessário? 7- Fiz uso da letra maiúscula em nomes próprios, depois do ponto final e início da frase? 8- Fiz substituições de nomes por pronomes? 9- Usei elementos conectivos? 10- Fiz substituições por sinônimos para não repetir, muitas vezes, a mesma palavra? DESCRIÇÃO DE IMAGENS 11- Separei corretamente as palavras nos finais de linha? O terceiro quadro, se refere a apresentação, na frente da palavra há espaços para sim e não, abaixo da palavra apresentação, estão listados três ícones, sendo: 1 - Minha letra está legível? 2- Meu trabalho está limpo? 3- Destaquei o título? FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 2 74 Estamos chegando ao final desta unidade e, antes de encerrá-la, gostaríamos de dizer que muito do que escrevemos até então faz parte da nossa prática como educadoras, que, aliada à teoria, leva-nos a garantir que um trabalho consistente e consciente, por parte do professor, faz a criança refletir sobre sua produção escrita, permitindo a produção de textos coerentes e criativos. Nesse sentido, observa- mos o quanto a mediação do professor é importante para o desenvolvimento da aprendizagem, mas lembre-se que, para tanto, não podemos deixar de intervir antes, durante e depois. Fique atento(a) a isso. OLHAR CONCEITUAL Apropriar-se da linguagem escrita exige que vivenciemos situações de ensino de escrita de texto e de reescrita de texto. A escrita de texto pode se dar de forma coletiva ou individual, a depender da intencionalidade do docente. Sendo a opção do professor a escrita individual, necessário se faz a adoção da correção, podendo ser: indicativa, resolutiva, classificatória e textual-interativa. Estas ações, por sua vez, vislumbram a reescrita de texto, coletiva ou in- dividual. Se o professor adotar a reescrita coletiva, recorrerá à estratégia da reestruturação para estruturar os textos, mas, caso opte pela reescrita individual, poderá adotar a autocor- reção, a codificação ou a refacção. 75 NOVAS DESCOBERTAS Título: O carteiro e o poeta Ano: 1994 Sinopse: Michael Radford baseou-se no livro Ardiente Paciencia, de Antonio Skármeta. O filme conta a história de Pablo Neruda, quando vivia na Itália, por volta de 1950. A história relata a vida do poeta, quando ele começou a se relacionar com Mário, o carteiro responsável por sua cor- respondência. Mário, que era analfabeto, aos poucos, aprendeu a escrever, revelando seus sentimentos por Beatrice, e Neruda ganhou, em troca, um ouvinte compreensivo para as lembranças saudosas do Chile. Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da segunda unidade do nosso li- vro. Nela, discutimos que oportunizar ao aluno refletir sobre a escrita garante maior envolvimento com o texto produzido e, a partir desta ação desafiadora a que é submetido, realiza análise sobre a escrita con- vencional, o conteúdo e a forma nas suas produções textuais. Saber o quê e para quem escreve faz com que a criança consiga expressar suas ideias de maneira coerente, ao contrário de quando escreve apenas para ser avaliada. Quando o aluno recebe seu texto para elaborar a reescrita, assume o papel de reescritor e sujeito leitor da sua própria escrita. Partindo desse princípio, você conheceu diferentes formas de corrigir textos no Ensino Fundamental. Vamos relembrar? Auto- correção, codificação, reestruturação e refacção, cada uma com suas características e formas de serem trabalhadas, mas todas de extrema importância na formação de alunos produtores de textos. Vimos, ain- da, estratégias de correção/revisão a ser implementada nas escritas dos alunos a depender da intencionalidade do professor. Estudamos, também, algumas formas de avaliar o progresso das produções tex- tuais e colocá-las em prática, quando estiver em sala de aula, permitirá perceber o quanto esse trabalho é frutífero. Porém não se esqueça: submeter à criança a escrever palavras oriundas de treinos não facilita o desenvolvimento da aprendizagem, pelo contrário, faz com que se obtenha uma visão distorcida da linguagem escrita. UNIDADE 2 UNIDADE 2 76 Para que a aprendizagem se torne, realmente, signifi- cativa em qualquer fase da vida da criança, professor e aluno devem ser sujeitos ativos no processo, ou seja, colocarem-se em condições de ensino e aprendiza- gem, a fim de garantir a questão fundamental da es- crita, a interlocução, bem como dominarem a língua escrita com propriedade e desta fazer uso em seu co- tidiano. Esperamos que, com os estudos realizados aqui, você tenha ficado com vontade de colocar em prática o que aprendeu, contudo vale a pena pesqui- sar mais sobre o assunto. Continue lendo, as próxi- mas unidades estão bastante interessantes e temos certeza de que contribuirão para sua prática docente. 77 1. De acordo com Naspolini (1996), é necessário que o professor faça a correção do texto do aluno para aproximá-lo, cada vez mais, da escrita convencional, contribuindo para que o texto seja compreendido pelo leitor. Por meio da autocorreção, é possível fazer isso. Diante disso, analise as afirmativas que seguem e considere V para verda- deiras e F para falsas, em relação às características da autocorreção: ( ) Na autocorreção, a ação do aluno é somente sobre o conteúdo para melhorar o sentido do texto. ( ) Na autocorreção, a construção da imagem mental das palavras é seu principal objetivo. ( ) Na autocorreção, o professor apaga a palavra errada, escrevendo-a de maneira correta, sem permitir que o aluno verifique seu erro. ( ) A autocorreção permite diversas formas do professor corrigir o texto, como: escrita correta próxima à escrita do aluno, banco de palavras ou sinalização de erros para procura no dicionário. A sequência correta para a resposta da questão é: a) F, V, F, V. b) V, V, V, V. c) V, F, V, F. d) F, V, F, F. e) F, V, V, V. 78 2. Na refacção do texto, o professor pode trabalhar de forma individual e, se necessário, coletiva, a fim de levar o aluno a clarificar e compreender ideias. Sobre a refacção individual, analise as alternativas que seguem e assinale a correta: a) Na refacção, não há interferência no conteúdo, apenas na escrita ortograficamente correta. b) Por meio das intervenções feitas pelo professor, o aluno faz modificações neces- sárias no texto, a fim de ampliar, organizar e dar clareza às ideias bem como corrigir a ortografia e a pontuação. c) Por meio da refacção, o professor sugere que o aluno copie palavras novas do dicionário para ampliar a gama de diferentes significados para a mesma palavra. d) A pontuação não é uma preocupação na refacção, uma vez que ela não influencia na compreensão geral do texto, o foco da refacção é somente o conteúdo, a ideia do aluno. e) Na refacção, o aluno não é levado a refletir sobre o texto, o foco é, apenas, na pontuação e estrutura. 3. O professor Fernando, no início do ano letivo, estabeleceu, com seus alunos, uma tabela com os códigos que serão utilizados para demarcar as correções realizadas por ele nos textos entregues aos alunos, a fim de estimulá-los a reescrever, com atenção, sobre a pontuação. Esses códigos construídos, junto a seus alunos, foram apresentados em um cartaz, o qual foi colado na parede da sala. Cada aluno, também, deixou-os expostos na capa de seus cadernos para que tivesse sempre em mãos nos momentos de reescritas de seus textos. Após uma proposta de produção, seus alunos escreveram um texto de tipologia narrativa. Ao fazer a correção dos textos, o professor Fernando colocou os códigos convencionados previamente com os alunos, indicando o que precisava ser revisado para a reescrita do texto com os devidos ajustes/modificações. Considerando o contexto, apresente a estratégia de correção utilizada pelo professor Fernando e explique qual foi o objetivo do docente ao escolher essa metodologia. 79 4. O texto, a seguir, é uma reprodução de um texto escrito por uma criança na fase de alfabetização. Faça a correção dele por meio da autocorreção (utilizando números e banco de palavras), codificação e refacção. Utilize os códigos citados nesta unidade. Em um domigo de manha eu tava com meu pai emfrente a mia casa apendendo souta pipa derrepente veio um vendavau e arrebetou a linha do meu papagainho ela vuou pra bem longe e meu pai saiu corendo para busca quando voutou com a pipa dise que tava cansado porque ela foi parar tres ruas lonje da mia casa e ele dise vamos gardar o papagaio para otro dia e esse dia foi muinto divertido 3Leitura: Do Processo de Decodificação à Interação com o Mundo A escola contemporânea tem um grande desafio em relação ao ensi- no da língua materna, precisa aprimorar a capacidade de leitura, de produção e interpretação de textos orais e escritos, transmitir conhe- cimentos gramaticais, habilidades que, a cada dia, são mais exigidas pela sociedade. Definir o conteúdo a ser trabalhado e a metodologia adequada para promover essas capacidades faz parte desta tarefa desafiadora. Nesta unidade, você terá a oportunidade de refletir acer- ca da importância da leitura na constituição de sujeitos autônomos e transformadores, além de encontrar estratégias didáticas que auxiliam o professor nesta complexa atividade de formar leitores proficientes. Dra. Cristiane Batistioli Vendrame Me. Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici Me. Marcia Maria Previato de Souza UNIDADE 3 82 De acordo com dados apresentados pela Revista Retratos da Leitura no Brasil, em 2020, estamos perdendo leitores. Tais indicativos nos revelam algo e pode- ríamos pensar: como o ensino da leitura tem ocorrido na escola? Será que os encaminhamentos didáticos para o ensino da leitura no espaço escolar promo- vem sujeitos leitores? Enquanto professores, somos modelo leitor aos nossos alu- nos? Os leitores formados são capazes de ler para além do explícito nos textos? Formar leitores capazes de ler o mundo é uma tarefa fácil? Essas indagações, de fato, provocam-nos e, até mesmo, incomodam. Nesse sentido, precisamos rever concepções, metodologias, estratégias, ações, atitudes e posturas em relação ao ensino da leitura de nossas crianças. O Brasil tem, aproximadamente, 100 milhões de leitores, o que corresponde a 52% da população, no entanto houve uma queda de cerca de 4,6 milhões de leitores, entre 2015 e 2019 (ALVES, 2020). E aí perguntamos: o que isso significa? Seria algo a me preocupar? Qual a relação desses números com a minha formação docente? Quais os impactos deste percentual na formação intelectual, cultural e 83 social dos sujeitos, que, ao ler e escrever, exercem seu papel de cidadão? Talvez acredite que isto tudo, por sua vez, esteja bem longe dos espaços aos quais convive, no entanto posso lhe garantir que essa ideia não procede. Não precisamos ir muito longe para refletirmos sobre a leitura. Por exemplo, sobre as suas experiências com a leitura, você seria capaz de, nesse momento, elencar quantos livros leu no ano anterior? Teria condições de relatar o conteúdo deste(s) livro(s)? Saberia dizer o motivo pelo qual leu-o(s)? Poderia avaliar essa leitura: trouxe alguma contribuição ou foi apenas deleite? Se avançarmos um pouco mais em relação às nossas experiências enquanto leitor(a): considero-me um(a) leitor(a) proficiente? Quantos livros costumo ler por ano? Leio somente para cumprir tarefas acadêmicas ou existe um outro motivo para as minhas lei- turas? O modo como concebo o ensino da leitura fará das minhas ações docentes propulsoras de sujeitos reflexivos, críticos, questionadores e emancipados? Assim como Paulo Freire, acreditamos que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. O que isso significa? Significa que, na leitura do mundo, com- preendemos o verdadeiro sentido do ato de ler e, ao escrevê-lo ou reescrevê-lo, é possível transformá-lo a partir de uma prática consciente. Vejamos uma reportagem, por meio do QR Code a seguir, apresentada pela Tv Brasil, no episódio Caminhos da Repor- tagem, em que é possível acompanhar histórias de pessoas que romperam barreiras para alcançar a capacidade leitora e resolveram compartilhar com outros a possibilidade de, por meio da leitura, enxergarem o mundo e pensarem em transformação. Na reportagem exibida, conhecemos o personagem de nome Evandro que, res- paldado em Monteiro Lobato, relata a seguinte frase: “o livro tem que ser sentido, cheirado, aberto e lido”. A partir do exposto, registre suas reflexões, em seu Diário de Bordo, acerca dos seguintes questionamentos: ■ O que o personagem procurou ressaltar com essa afirmação? ■ A leitura pode transformar vidas? De que modo? ■ Como os personagens da reportagem modificaram suas vidas por meio da leitura? ■ O que nos impede, realmente, de sermos leitores proficientes? ■ Qual o papel da escola frente ao ensino da leitura? UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15013 UNIDADE 3 84 85 Assim que nascemos, deparamo-nos com sujeitos falantes e com uma sociedade gra- focêntrica, ou seja, centrada em imagens gráficas e na escrita. Desde muito pequenos, construímos saberes sobre a leitura e a escrita. À medida que desenvolvemos, é nos exigido o conhecimento de signos, códigos, símbolos, a fim de que estabeleçamos entre pares a interlocução. A interlocução entre pares requer algumas capacidades linguísticas que são desenvolvidas no processo comunicativo, sobretudo nas práti- cas intencionais de linguagem oportunizadas em sala de aula pelo(a) professor(a). Para que, de fato, a comunicação ocorra exitosamente entre sujeitos, faz-se neces- sário conhecermos os signos e decodificá-los. No entanto, apenas, a habilidade de decodificar não é o suficiente para compreensão de determinada enunciação nem tampouco fazer-se compreendido diante de uma circunstância. NOVAS DESCOBERTAS Título: O livro e a leitura no Brasil Autora: Alessandra El Far Editora: Zahar Sinopse: neste livro, o leitor encontra um panorama abrangente da história do livro e da leitura no Brasil, desde a proibição da impressão no período Colonial, passando pela chegada de livreiros estrangeiros, a partir de 1808, até os dias de hoje, quando presenciamos a venda de livros em bancas de jornal em estações de metrô. Recupera e esclarece alguns pontos da história do livro e da leitura em nosso país. Acreditamos, todavia, que uma das primeiras habilidades a ser promovida na escola, para que o aluno adquira a capacidade leitora, refere-se à decodificação. Para aqueles que já sabem ler, parece algo inócuo, pois a decodificação ocorre au- tomaticamente, assim como o emprego de fonemas acontece naturalmente para quem já aprendeu a falar. Segundo Cagliari (1999), ao nos depararmos com um outro idioma, por exemplo, a escrita chinesa, se eu não souber chinês, até farei es- forços para descobrir o que está escrito, mas jamais conseguirei ler. Portanto, para aprender a ler, o primeiro requisito é conhecer a língua. Parece simples essa tarefa, não é? Se você respondeu que não é, tem razão! As relações entre letras e sons são complexas. Decodificar nosso sistema de escrita exige muito conhecimento, UNICESUMAR UNIDADE 3 86 haja vista que as relações entre letras e sons não são, exatamente, as mesmas entre sons e letras. O que isso quer dizer? Para ler, precisamos de algumas capacidades e, para escrever, além das capacidades inerentes à leitura, são necessários outros conhecimentos complementares. É compreensivo que uma criança que esteja aprendendo a ler encontre dificuldades logo de início, uma vez que o simples reconhecimento das letras requer dela um aparato de conhecimentos ainda em desenvolvimento. Cagliari (1999, p. 125) ilustra essa situação: “ Para saber que som uma letra tem, é preciso relacioná-la com seu nome e em seguida estudar o contexto em que ocorre (letras que vem antes e depois), para saber se existe alguma regra especial que modifica o som básico em função do contexto – por exemplo, S entre duas vogais tem o som de ‘zê’; C diante de A, O, U tem o som de ‘ka’ e não de ‘cê’, etc. Por outro lado, é preciso levar em conta o dialeto do leitor. Por exemplo, para alguns falantes, a letra T tem os sons de ‘tche’ e ‘tê’, mas para outros tem apenas o dom de ‘tê’. Alguns falantes dizem “catano” em vez de “catando” e, para esses, a letra D não tem som, nesses contextos verbais. Observe que, na citação exposta, o autor deixa claro que existem regras que con- trolam os valores fonéticos que as letras assumem em uma língua, em específico, na ocasião, a língua portuguesa. Assim, para decodificar e ler, é essencial conhecer essas relações. Está claro para você o que é decodificar? Decodificar, segundo Cafiero (2005, p. 31), corresponde: “ [...] basicamente, o reconhecimento de palavras e o processamento sintático. Isto é, juntamos letras para formar sílabas, as sílabas em palavras e as palavras em frases. À medida que vai processando as informações, o leitor as armazena em sua memória (é uma memória temporária, ou memória de trabalho), para que possa ir organizan- do as informações em unidades cada vez maiores. Logo, as habilidades de decodificação expressam a fase inicial da aprendizagem da leitura e são apropriadas conforme o leitor se alfabetiza. Cafiero (2005, p. 40) 87 expõe algumas habilidades que representam o processo de como os leitores se apropriam da leitura desde o início, vejamos: 1º Conhecer a direção da escrita, saber que, em nossa cultura, escrevemos da esquerda para a direita. 2º Diferenciar letras de outros sinais gráficos, como distinguir números e sinais de pontuação. 3º Identificar letras do alfabeto. 4º Relacionar letras do alfabeto aos sons de início, meio e fim de palavras. 5º Relacionar a palavra à figura. 6º Comparar palavras e perceber semelhanças e diferenças sonoras entre elas. 7º Identificar palavras e frases novas a partir de pistas, como a primeira letra. 8º Reconhecer textos pelo seu formato gráfico. 9º Identificar, ao ouvir uma palavra, o número de sílabas que ela tem. 10º Identificar palavra composta por sílabas canônicas, do tipo consoan- te-vogal (ex.: bala). 11º Identificar palavras compostas por sílabas não-canônicas, como em GRUTA, QUEIJO, ELEFANTE. 12º Distinguir diferentes tipos de letras (a cursiva, a de fôrma etc.). 13º Ler palavras em voz alta. 14º Ler, em voz alta, uma sentença. 15º Ler fluentemente com entonação, boa pronúncia, ritmo adequado. Importante mencionar que o professor pode iniciar o trabalho com a leitura, não, necessariamente, com letras e palavras escritas ortograficamente, é possível propor aos alunos a leitura de outros materiais, por exemplo: logotipos, placas UNICESUMAR UNIDADE 3 88 de sinalização, símbolos, etiquetas, pictogramas, fachadas de comércios, cartazes, outdoors, propagandas, entre outros, explicando que podemos associar palavras a essas formas gráficas, o que nos permite ler a mensagem empregada. É fundamental, no processo inicial de aquisição da leitura, que o professor incentive os alunos a lerem todos os tipos de materiais possíveis, seja na sua forma gráfica, seja variados tipos de textos. Cagliari (1999, p. 175) expõe: “ Devem ler coisas impressas e coisas manuscritas, devem ler propagandas ou outro material semelhante. O professor precisa mostrar aos alunos materiais escritos com os mais variados tipos de letras. Usos artísticos da escrita merecem um destaque. Usos especiais em propaganda também são interessantes, como palavras decoradas com desenhos que ilustram seu significado, por exemplo, a palavra incêndio escrita com letra pegando fogo. Na mesma direção, encontramos Solé (1998, p. 65), defendendo o uso de materiais diversos no ensino da leitura. “ É preciso que as crianças interajam com material de diferentes características, o que lhes permitirá fazer diferentes coisas com a leitura. Assim, nos inícios da leitura serão de grande utilidade os livros ilustrados que contém coisas desconhecidas – para escutar como outro lê - e as histórias tradicionais – nas quais as crianças, graças ao seu conhecimento, poderão tentar adivinhar o que vai acontecer. O trabalho com rimas e adivinhação permitirá a análise fonética; as notícias do jornal lhes apresentam textos diferentes, de características específicas; as instruções, cartas, receitas, notas... tudo aquilo que possa ser lido (pela criança ajudada pelo professor, ou independentemente quando for possível) pode estar em uma classe dedicada ao ensino inicial da leitura. Como sempre, porém, mais importante que o material é a atividade que se suscita em torno dele. Nesse sentido, é pertinente mencionar que o papel do professor, enquanto me- diador do processo de apropriação da leitura pela criança, é fundamental. Diante de nossa explanação inicial, respaldados nos autores citados, clarificamos que aprendemos a ler à medida que somos colocados em condições objetivas e ins- truídos à aquisição dessa capacidade. Indiscutivelmente, a aprendizagem da lei- 89 tura se edifica no âmago/base/cerne de proposições compartilhadas, logo, não é adequado esperar da criança competência leitora sobre algo que, ainda, não foi ensinado. Ao encontro dessa explanação, temos Solé (1998, p. 61) afirmando que: “Aprende-se a ler e a escrever lendo e escrevendo, vendo outras pessoas lerem e escreverem, tentando e errando, sempre guiados pela busca do significado ou pela necessidade de produzir algo que tenha sentido”. Temos, nesse excerto da autora, dois termos que merecem destaque: sentido e significado. Importante registrar que compreendemos por significado aquilo que é estável em cada palavra e, portanto, igualmente, para todas as pessoas. Junto a este conceito, temos o sentido, o qual designa o significado individual da palavra e tem relação com o momento empregado e a situação vivenciada. Em outras palavras, poderíamos mencionar que o significado é social e o sentido, individual. Pois bem, estamos nos referindo ao sentido e ao significado em práticas de leitura, mas será que está claro para você o que é ler? Ler, segundo Solé (1998), é um processo de interação entre o leitor e o texto. Para isso, é necessário a presença de um leitor ati- vo que processa e examina o texto, a fim de estabelecer com ele uma comunicação. A formação desse leitor ativo requer do professor a seleção adequada de textos e a clareza dos objetivos a serem alcançados com determinada proposta de leitura. Lemos sempre para alcançar algo, para atender a uma finalidade: UNICESUMAR UNIDADE 3 90 “ [...] devanear, preencher um momento de lazer e desfrutar; procurar uma informação concreta; seguir uma pauta ou instruções para rea-lizar uma determinada atividade (cozinhar, conhecer as regras de um jogo); informar-se sobre um determinado fato (ler o jornal, ler um livro de consulta sobre a Revolução Francesa); confirmar ou refutar um conhecimento prévio; aplicar a informação obtida com a leitura de um texto na realização de um trabalho, etc (SOLÉ, 1998, p. 22). Dito isto, é pertinente esclarecer que, enquanto leitores, a interpretação que pro- duzimos, a partir dos textos que lemos, depende do objetivo que traçamos para com a leitura. Assim, quando leitores distintos leem o mesmo texto, contudo com finalidades diferentes, provavelmente elaborarão interpretações distintas, extraindo informações também diferentes. Interessante considerarmos como esse processo ocorre nos sujeitos. Respaldados em Cagliari (1999), quando lemos, primeiramente, organizamos as ideias na mente para estruturarmos linguistica- mente o que vamos dizer em voz alta ou permanecer enquanto reflexão pessoal ou pensamento. A passagem pela estrutura linguística é essencial, já que, sem isso, não existiria linguagem nem tampouco fala e leitura de qualquer tipo. Desse modo, conhecer, plenamente, a língua oportuniza ao leitor condições adequadas para realizar uma leitura que una decodificação e compreensão. Não basta de- cifrar os sons da escrita nem mesmo reconhecer os significados individuais das palavras, compreender um texto exige mais que isso, já que ele é resultado das relações entre palavras, frases, orações, períodos, em todos os níveis linguísticos. De acordo com Cagliari (1999, p. 314), “ O correto é uma leitura na qual o leitor decifra o que está escrito, se apropria das idéias que descobriu no texto, elabora todos esses conhecimentos como se fossem seus e, seguindo a lei da fidelidade ao literal do texto, passa a dizer o que leu, numa fala que traduz o texto e revela seu modo de interpretá-lo. Não me parece tarefa difícil, não é mesmo? De fato, é algo possível a ser alcançado, desde que haja ensino intencional, organizado, planejado e mediado pelo docente. Para que o ensino da leitura ocorra, é preciso que conheçamos estratégias de lei- tura a serem implementadas em sala de aula pelo professor, independentemente 91 da turma em que atua. Entendamos, inicialmente, o conceito de estratégia. Para Soares (2020, p. 242), “as estratégias são ações planejadas pela(o) professora(o) visando ao desenvolvimento de habilidades de compreensão e interpretação de textos”. Quando nos referimos a compreender um texto ou interpretá-lo, estamos versando sobre características que são próprias, específicas. Fundamentados, ainda, na autora anteriormente mencionada, convém abordar que “Compreender um texto é entender o que foi escrito: captar o significado das palavras, identificar os fatos e ideias que estão no texto” (SOARES, 2020, p. 242). Quanto a interpretar, é exigido do leitor algo a mais, ou seja, “Interpretar um texto é estabelecer conexões entre os fatos e ideias que estão subentendidas no texto” (SOARES, 2020, p. 242). Nesse sentido, as estratégias de leitura precisam ser ensina- das, já que não nascem com as crianças nem brotam, nem surgem no estudante por conta de um desejo do professor. Nessa ocasião, você pode se perguntar: por que devemos ensinar estratégias de compreensão? Porque almejamos formar leitores autônomos, reflexivos, pensantes, críticos, capazes de interpretar textos diversos, para além daqueles que são trabalhados no contexto escolar. Para Solé (1998, p. 72), “ Formar leitores autônomos também significa formar leitores capazes de aprender a partir dos textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interro-gar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes. Isto posto, passamos, então, a tratar das estratégias de leitura fundamentais para a compreensão de textos pelos alunos, as quais enfatizamos: a seleção, a antecipa- ção, a inferência e a verificação. Na estratégia de seleção, o leitor seleciona apenas o que é útil para compreender o texto lido, abandonando ideias que considera irrelevantes. Menegassi (2005, p. 79-80) traz um exemplo que ilustra o contexto: “ Ao ler uma revista, um jornal, o leitor inicia a leitura pela seleção dos textos que estão ali dispostos. Primeiro, o leitor folheia todo o pe-riódico, lendo cada título e observando as figuras que acompanham o texto. Se o título lhe chamar a atenção, despertando interesse, ele acaba lendo o lide, aquela parte introdutória da matéria jornalística UNICESUMAR UNIDADE 3 92 que resume o fato objetiva e sinteticamente, respondendo as ques- tões: o quê, quem, quando, onde, como e por que sobre o assunto do texto. Entretanto, o leitor não lê a reportagem, ele continua a folhear a revista ou o jornal, selecionando o que irá ler após a investigação preliminar, nessa seleção, o leitor determina quais textos lhe servem para leitura naquele momento de sua vida. Feita a seleção inicial, lança-se à leitura dos textos escolhidos. Quanto à estratégia de antecipação, o leitor estabelece hipóteses e previsões sobre o texto que está lendo, a partir das informações explícitas e implícitas identificadas. Importante enfatizar que tais antecipações poderão ser comprovadas, ou não, a partir da leitura efetivada. Quando comprovadas, trazem segurança ao leitor que acredita ter escolhido bem as estratégias e permanece no caminho. Quando não comprovadas, obrigam o leitor a rever suas estratégias e, até mesmo, readequá-las. Para ilustrar, recorremos a Menegassi (2005, p. 80), que prossegue com o exemplo: “ [...] De imediato, a partir da leitura do título, o leitor antecipa algu-mas previsões sobre o conteúdo do texto. Ao ler o lide, o leitor pode comprovar ou não sua predição iniciada no título, possibilitando a continuação da estratégia escolhida ou a sua readequação. Ao aden- trar à leitura do texto, o leitor vai, gradativamente, comprovando suas antecipações e, se são adequadas, continua a produzir novas predições, dando prosseguimento à leitura. Porém, se suas anteci- pações não são comprovadas, o leitor, conscientemente, procura adequar uma nova estratégia à leitura realizada, mostrando sua ca- pacidade e competência no trato com o texto. No que concerne à estratégia de inferência, as ações do leitor ocorrem no intuito de captar o que não está explícito no texto com o conhecimento que já possui sobre o assunto. Na verdade, o leitor ativa os conhecimentos prévios que têm internalizado em sua memória acerca da temática e complementa com os indí- cios oferecidos pelo autor do texto. No exemplo de Menegassi (2005, p. 81), no qual expõe o título da reportagem “Menino de 1 ano é morto com tiro na cabeça no colo da mãe”, é possível que o leitor realize algumas inferências: o menino e 93 a mãe foram vítimas de violência; o menino teve morte instantânea, devido ao tiro na cabeça e à sua idade; a mãe do menino também foi atingida pela bala, que pode ter perfurado a cabeça do menino e alcançado alguma parte do corpo da mãe; a bala que atingiu o menino era perdida de um tiroteio; a bala que atingiu o menino pode ter sido disparada por um conhecido; a mãe pode ter atirado no próprio filho. As inferências evidenciadas resultam da junção dos conhecimentos prévios do leitor sobre o assunto em pauta com o conteúdo que o texto apresenta. No decorrer da leitura, o leitor verifica as hipóteses levantadas, por meio das in- ferências que elencou na antecipação, podendo ser comprovadas ou descartadas. Quanto à estratégia de verificação, esta responde por verificar a eficácia das estratégias selecionadas pelo leitor. No exemplo anteriormente mencionado, ao ter antecipado o conteúdo do texto com a identificação do título, do lide e das in- ferências produzidas, o leitor insere-se na leitura procurando comprovar suas hi- póteses e inferências, cujo propósito consiste em constatar se os objetivos traçados de leitura, predeterminados pelas estratégias precedentes, foram obtidos, ou não. Consideramos pertinente registrar que as estratégias descritas serão eficazes em sala de aula, se forem preparadas, antecipadamente, pelo professor. Aprender a ler e a escrever de forma convencional exige procedimentos que, necessariamente, precisam ser explorados por professores como condição prévia à prática inde- pendente. Solé (1998, p. 63) defende que, “assim como os professores e professoras mostram como misturar as tintas para obter uma cor determinada, ou como se deve proceder para registrar as observações sobre o crescimento de uma planta, deveriam poder mostrar o que eles fazem quando leem e escrevem”. A defesa da autora é precisa. Enquanto professores, devemos assumir o papel de modelo leitor aos alunos, ou seja, aquele que oferece as técnicas e os segredos adotados quando lê, de modo que, progressivamente, o educando possa apropriar-se desses usos e tornar-se leitor fluente e competente perante as escritas que o cercam. A fluência na leitura advém das vivências com a leitura oral e releituras realizadas pelo professor em sala de aula que mobilizam/impulsionam o reco- nhecimento rápido e correto de palavras, de conjuntos de palavras, o ritmo e a entonação adequada, decorrentes da compreensão do texto. Para exemplificar, apresentamos um quadro exposto por Soares (2020), no qual sugere atividades para o desenvolvimento da fluência na leitura de textos. UNICESUMAR UNIDADE 3 94 Tipos de leitura Atividades Leitura comparti- lhada 1. A/O professora/or lê oralmente o texto, os alunos apenas ouvem. 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver. 3. Os alunos recebem o texto (impresso ou apresentado em cartaz quando é bem curto, como um poema, uma par- lenda) e acompanham a segunda leitura da/o professora/ or, que chama a atenção para a pontuação e seu efeito na entonação. 4. A/O professora/or relê oralmente o texto, em partes: após cada parte, os alunos repetem o trecho, realmente, como um eco. Leitura em coro 1. A/O professora/or lê oralmente o texto, os alunos apenas ouvem. 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver. 3. Os alunos recebem o texto (impresso ou apresentado em cartaz quando é bem curto, como um poema, uma parlen- da) e a leitura é feita oralmente por todos, em coro, sob a regência da/o professora/or. Uma variante é dividir a turma em dois ou três grupos e desenvolver a atividade com um grupo de cada vez. Leitura dialogada 1. A/O professora/or lê oralmente um texto com diálogos entre dois ou três personagens, diferenciando pelo tom de voz e fala do narrador (se houver) e as falas dos diferentes personagens, com atenção para a entonação adequada à natureza da fala. 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver. 3. Os alunos recebem o texto, a/o professora/or distribui as fa- las (narrador e personagens) para grupos de alunos e cada grupo lê, obedecendo a sequência do texto, a fala que lhe foi atribuída. Após a leitura de cada grupo, a/o professora/ or e os colegas avaliam, dão sugestões. A atividade pode ser repetida, alterando-se os grupos ou a distribuição das falas. 95 Tipos de leitura Atividades Leitura por duplas 1. A/O professora/or lê oralmente o texto, os alunos apenas ouvem. 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver. 3. Os alunos recebem o texto (impresso ou apresentado em cartaz quando é bem curto, como um poema, uma par- lenda) e organizam-se em duplas (por escolha livre ou por escolha da.o professora/or: aluno mais fluente com aluno menos fluente). 4. Cada membro do par lê, alternadamente, o texto para o colega, que acompanha e dá sugestões, quando for o caso. Quadro 1 - Atividades para desenvolvimento de fluência na leitura / Fonte: Soares (2020, p. 247). O quadro exposto ressalta o papel do professor enquanto modelo para leitura das crianças. Propõe, ainda, que tais sugestões sejam realizadas, com regularida- de, em sala de aula, reservando, pelo menos, duas vezes por semana, até que as crianças desenvolvam a capacidade de ler um texto com rapidez e precisão de decodificação, com ritmo e entonação adequados. UNICESUMAR DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 94 – Quadro 1 - Atividades para desenvolvimento de fluência na leitura INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a atividades para desenvolvimento de fluência na leitura, ilustrado por um quadro com duas colunas e quatro linhas, a coluna da esquerda se refere a tipos de leitura e a da direita a atividades, conforme: Tipos de leitura: Leitura compartilhada Atividades: 1. A/O professora/or lê oralmente o texto, os alunos apenas ouvem; 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver; 3. Os alunos recebem o texto (impresso ou apresentado em cartaz quando é bem curto, como um poema, uma parlenda) e acompanham a segunda leitura da/o professora/ or, que chama a atenção para a pontuação e seu efeito na entonação; 4. A/O professora/or relê oralmente o texto, em partes: após cada parte, os alunos repetem o trecho, realmente, como um eco. Tipos de leitura: Leitura em coro Atividades: 1. A/O professora/or lê oralmente o texto, os alunos apenas ouvem; 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver; 3. Os alunos recebem o texto (impresso ou apresentado em cartaz quando é bem curto, como um poema, uma parlenda) e a leitura é feita oralmente por todos, em coro, sob a regência da/o professora/or. Uma variante é dividir a turma em dois ou três grupos e desenvolver a atividade com um grupo de cada vez. Tipos de leitura: Leitura dialogada DESCRIÇÃO DE IMAGENS Atividades: 1. A/O professora/or lê oralmente um texto com diálogos entre dois ou três personagens, diferenciando pelo tom de voz e fala do narrador (se houver) e as falas dos diferentes personagens, com atenção para a entonação adequada à natureza da fala; 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver; 3. Os alunos recebem o texto, a/o professora/or distribui as falas (narrador e personagens) para grupos de alunos e cada grupo lê, obedecendo a sequência do texto, a fala que lhe foi atribuída. Após a leitura de cada grupo, a/o professora/ or e os colegas avaliam, dão sugestões. A atividade pode ser repetida, alterando-se os grupos ou a distribuição das falas. Tipos de leitura: Leitura por duplas Atividades: 1. A/O professora/or lê oralmente o texto, os alunos apenas ouvem; 2. A/O professora/or esclarece dificuldades de compreensão do texto, se houver; 3. Os alunos recebem o texto (impresso ou apresentado em cartaz quando é bem curto, como um poema, uma parlenda) e organizam-se em duplas (por escolha livre ou por escolha da.o professora/or: aluno mais fluente com aluno menos fluente); 4. Cada membro do par lê, alternadamente, o texto para o colega, que acompanha e dá sugestões, quando for o caso FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 3 96 O incentivo à leitura Quando se pensa em incentivo à leitura, é importante refletir sobre o papel da escola e do professor. Certamente, o ideal, para se formar uma cultura leitora em nosso país, é que o incentivo aconteça em casa e na escola. Cabe considerar que, desde bebê, ao ouvir histórias, iniciam-se os conceitos introdutórios da literatura infantil e, após isso, o manuseio de livros e a leitura destes por parte dos pais com seus filhos (contação de histórias). O que ocorre é que essa é uma situação, é um hábito conservado em poucas famílias e isso acontece por uma série de fatores que, neste momento, não serão debatidos neste material, porém esse contexto é preciso ser terminantemente pensado pelo professor. Visto que essa iniciação não se dá em casa, o papel da escola se torna, ainda mais, latente para que isso aconteça. Primeiramente, vale destacar a importância que tem o exemplo do professor que lê e fala sobre a leitura e livros para seus alunos. Afinal, não basta o professor comunicar que a leitura é legal e atrativa se ele mesmo não for o exemplo para seus alunos. Na escola, desde o primeiro dia de sua entrada, a criança precisa ser exposta ao contato com histórias e poemas contados oralmente pelo professor ou mostrados em livros ao alcance dos olhos e do manuseio da criança. Além disso, a criação de um ambiente favorável à leitura construirá, pouco a pouco, na mente da criança, a imagem de uma atividade enriquecedora e prazerosa. A criança aprende a temporalidade dos contos, aprende a reconhecer herói, a importância da ação narrativa, as imagens do movimento, de espaços e caráter dos personagens, bem como a presença de imagens de comparações, metáforas e sinestesias. A criança, mesmo antes de ter o domínio da leitura, munida de um livro, realiza a pseudoleitura; dessa forma, por meio das imagens, formula sua própria história, interage com a ilustração e descreve a história de acordo com a sua imaginação. Mesmo antes que a alfabetização confira certa independência de leitura à criança, o contato individual e silencioso com o livro tem função educativa, porque prepara o leitor para os contatos diretos entre as imagens li- Você já parou para pensar que a forma com que a criança lê um texto pode influenciar em sua compreensão? O professor deve estar atento para que possa intervir, a fim de aprimorar a sua leitura. Sendo assim, como o professor pode conduzir essa intervenção? PENSANDO JUNTOS 97 das e o desenvolvimento de emoções do imaginário sem que haja intervenção e invasão do adulto. Os livros de literatura infantil, na atualidade, são compostos pelo texto es- crito e pela ilustração, e isso permite que as crianças ainda não alfabetizadas convivam harmoniosamente com livros apenas de imagens ou, mesmo, de textos escritos. Em suas hipóteses de leitura, elas exercitam o olhar e a imaginação em um trabalho que prepara a leitura de textos de maiores extensão e complexidade nos anos futuros. A escola precisa ter professores qualificados, acesso à biblio- teca, planejamento e metodologia necessários ao trabalho eficaz e eficiente com a aprendizagem da leitura, a formação do leitor e o desenvolvimento, de forma gradativa, de habilidades e competências para a leitura e extensão e a escrita. NOVAS DESCOBERTAS Título: O contador de histórias Ano: 2009 Sinopse: história real de Roberto Carlos Ramos, pedagogo mineiro e um dos maiores contadores de história da atualidade. De infância problemática, criado na Febem, ele conhece, aos 13 anos, a pedagoga fran- cesa Margherit Duvas, que mudou sua vida. Segundo Zilberman (2003), a literatura infantil tem função formadora, e cabe à escola incentivar o gosto pelo livro, com o propósito de desenvolver o hábito da leitura, de maneira prazerosa para a criança. Na sala de aula, o professor é o responsável por indicar livros que possam despertar o interesse e a preferência do seu alunado, por isso, cabe ao docente reconhecer os tipos de livros que desper- tarão o interesse e a curiosidade nos alunos. Ainda, segundo Zilberman (2003), quando se trata do uso do livro para crianças, o professor deve estar apto: a) À escolha de obras apropriadas ao leitor infantil. b) Ao emprego de recursos metodológicos eficazes, que estimulem a leitura, suscitando a compreensão das obras e a verbalização, pelos alunos, do sentido apreendido. UNICESUMAR UNIDADE 3 98 Para contar com a realização dessas tarefas, as disciplinas universitárias precisam oferecer ao futuro docente o seguinte instrumental proveniente dos campos, respectivamente, literário e pedagógico: a) o conhecimento de um acervo literário representativo; b) o domínio de critérios de julgamento estético, que permitam a seleção de obras de valor; c) o conhecimento do conjunto literário destinado às crianças, conside- rando-se sua trajetória histórica (origem e evolução), assim como os autores atuais, nacionais e estrangeiros, mais representativos; d) a manipulação de técnicas e métodos de ensino que socorrem e au- xiliam o mestre no processo de incremento e estímulo à leitura. Isto significa, por parte do professor, o reconhecimento de que a leitura é uma atividade decisiva na vida dos alunos, na medida em que, como se viu, permite a eles um discernimento do mundo e um posicionamento perante a realidade. Pela mesma razão, invalidam-se a concepção e o emprego do livro como instrumento de transmissão de normas, sejam linguísticas e comportamentais, ressaltando-se, em lugar disso, o seu destino inquiridor e cognitivo (ZILBERMAN, 2003, p. 27). 99 O professor, devidamente preparado, deve ler e contar, em voz alta, os textos da tra- dição e os textos contemporâneos para as crianças alfabetizadas ou, ainda, em pro- cesso de alfabetização. É o momento das narrativas curtas, das fábulas, dos contos populares, das parlendas, dos poemas curtos, das histórias do gênero maravilhoso com fadas ou animais. O repertório infantil vai, aos poucos, constituindo-se e arma- zenando estruturas narrativas e poéticas que, mais tarde, servirão de embasamento para a leitura individual de cada criança. É imprescindível ao professor apresentar livros que sejam significativos para a criança, escolher as melhores e mais enrique- cedoras opções literárias dentre as possibilidades que tiverem à sua disposição. A literatura infantil deve ser utilizada como instrumento para sensibiliza- ção da consciência, expansão da capacidade e interesse de analisar o mundo de acordo com as fases do desenvolvimento da criança. Os textos e os materiais devem ser modificados de acordo com a idade e o interesse, determinados pelas estruturas mentais da criança. Reconhecer a literatura infantil como instrumento pedagógico que torna a aprendizagem mais significativa e contextualizada fará com que o professor desempenhe sua função pedagógica com caráter inovador. Evidentemente, seu trabalho deverá pautar-se em um sólido planejamento, de tal modo que o aluno tenha o direcionamento e os estímulos adequados, sem sentir-se forçado à leitura, mas atraído por ela — pois é assim que a prática do- cente formará o hábito leitor na criança e, consequentemente, poderá utilizar-se da leitura enquanto instrumento de aprendizagem eficaz. A leitura traz consequências sociais, econômicas e culturais para o indivíduo e é na escola que o aluno tem a possibilidade de compreender, com maior respaldo, o co- nhecimento historicamente produzido. Não podemos deixar de considerar a família e outros ambientes que a criança frequenta como fator importante, mas a escola é a principal instituição capaz de levar o conteúdo científico de maneira sistematizada. A literatura infantil, principalmente nos primeiros anos escolares da vida da criança, é fundamental para torná-la uma leitora ativa durante toda sua vida: UNICESUMAR UNIDADE 3 100 “ A literatura infantil desenvolve não só a imaginação das crianças, como também permite que elas se coloquem como personagens das histórias, das fábulas e dos contos de fadas, além de facilitar a expressão de ideias. Sendo assim, o objetivo da literatura infantil é o de formar leitores, por uma série de características e fatores ela desempenha esse papel melhor do que a literatura adulta, uma vez que é mais convidativa. O que se procura hoje é assegurar ao maior número de pessoas possíveis o direito de ler (CAGNETI, 1996, p. 23). Atualmente, a escola tem concorrentes muito fortes. A grande variedade de mídia, como a televisão, o videogame e, principalmente, o computador, atrai mais a aten- ção das crianças que os livros. Pensando nisso, a escola deve propiciar momentos que façam com que a criança se sinta estimulada a ler; dessa forma, a literatura infantil torna-se um caminho para que isso ocorra. Nesse sentido, a escolha do livro em cada fase é muito importante. A literatura infantil se diferencia das demais produções culturais pela assi- metria: é produzida por adultos para destinatários crianças. Muitas vezes, essa assimetria produz alguns equívocos: escritores constroem uma sociedade e um mundo que estão distantes demais da ótica da criança atual ou tratam crianças leitoras como adultos, porque desconhecem as aspirações e a visão de mundo infantil. Em qualquer um desses casos, a produção literária tende a desencon- trar-se de seu leitor. Outros fatores podem, ainda, causar um distanciamento maior entre o leitor e a obra promovida, pelo fato de o adulto fazer obras para o leitor infantil, pois a não preocupação com a qualidade estética-literária produz obras repetitivas, excessivamente pedagógicas, utilitaristas e sem criatividade, o que pode acabar ocasionando um efeito contrário, pois, em vez de encantar, acaba por distanciar a criança do verdadeiro universo da literatura infantil. O que ocorre é que a criança, nessa fase, depende, na grande maioria das vezes, da indicação feita pelo professor ou pela escola, e, ao se optar por obras que apresentem as falhas mencionadas, corre-se o risco de que a criança seja refém de um modelo de pouca expansão em relação ao pensamento, à interpretação do mundo, à opinião e aos valores. Segundo Costa (2007, p. 97), “há, portanto, nas atividades de leitura valores que ultrapassam o exercício de implementação e sedimentação da alfabetização e do letramento. Esse conjunto bastante abrangente de consequências está relacionado 101 ao ato de ler”. Ainda de acordo com Costa (2007), existem fases de leitura que devem ser levadas em consideração no trabalho com literatura infantil. A referida autora classifica a primeira fase como pré-leitura, a segunda, como leitura com- preensiva e a terceira, como leitura interpretativa. Vale considerar que existem mais duas fases, porém essas não se tratam do leitor mirim propriamente dito, são elas a iniciação da leitura crítica e a leitura crítica, que se dão na adolescência. Conforme explicita Costa (2007), a pré-leitura acontece durante a pré-escola e o período preparatório para a alfabetização, em que a criança desenvolve ca- pacidades e habilidades que a tornarão apta à aprendizagem da leitura. A leitura compreensiva é o período correspondente ao momento da alfabetização, em que a criança começa a decifrar o código escrito e faz leitura silábica e de palavras. A terceira fase caracteriza-se pela leitura interpretativa; nela, o aluno evolui da simples compreensão imediata à interpretação das ideias do texto, adquirindo fluência no ato de ler. Após a verificação de uma série de conceitos importantes sobre o incentivo à leitura por meio da literatura, vale retomar um conceito fundamental: o profes- sor como leitor. O professor, antes de agir pedagogicamente, deve ser um leitor. Transferir a leitura pessoal para uma prática docente de formação de leitores é uma passagem suave e prazerosa da ação leitora. Obviamente, devem acontecer momentos antecedentes de leitura por parte do professor, pois, se eles não exis- tirem, a tarefa do professor se torna um fardo, acumula dificuldades, assusta e desestimula. Com docentes que não leem, a formação de novos leitores fica na dependência de receitas, fórmulas, preceitos criados por outros, e dos quais o professor se faz intermediário, sem compromisso, nem crença. No trabalho de formação de leitores, o professor tem o importante papel da mediação; para que ela se torne efetiva, o docente precisa estar em contínua busca de informações e realizar observações sobre a realidade de seus alunos para entender, cada vez mais, como se dá todo processo de interação entre o leitor e o texto. Uma prática que leva o professor ao caminho adequado neste trabalho é intensificar a pesquisa no campo da leitura e da recepção de textos. Esse obje- tivo é sustentado pela ideologia de que não existe bom docente em sala de aula se não estiver apto a essa constante atividade de pesquisa; o professor deve estar motivado pela curiosidade e pela necessidade de aprender a todo momento. UNICESUMAR UNIDADE 3 102 No quadro, a seguir, há várias atividades possíveis de serem trabalhadas a par- tir de um texto literário. Analise e estabeleça novas ideias a partir destas propostas, pois, assim, além de conhecer atividades, você exercitará a capacidade criativa e de planejamento de ações voltada à prática pedagógica. ■ Baú de histórias, com vários livros para serem lidos, trocados, contados, desenhados, reescritos. ■ Baú da fantasia para que possam dramatizar a(s) histórias(s) contada(s). ■ Contar a vida do autor e aproveitar para explicar como se faz uma biografia. ■ Criar suspense antes de contar a história, explorar a capa do livro, suas ilustrações, título. ■ Colocar nas costas de um aluno (ou mais de um se quiser colocar várias palavras), um papel com uma palavra escrita, para que a turma tente ler o que está escrito(o aluno evita a leitura) e adivinhe do que se trata o livro. ■ Usar voz expressiva, animando a leitura, fazendo perguntas e comentários, imitando e inventando vozes para cada um dos personagens, montando cenários e enfatizando situações emocionantes. ■ Organizar a turma em grupos e distribuir uma folha em branco, ou com a parte escrita para que ilustrem, ou, ao contrário, com a ilustração, para que pintem e escrevam e montem um “livrão” coletivo. ■ Contar uma história e pedir à turma, em grupos, para que reescrevam, ilustrem e contem a turma. ■ Recontar a história com fantoches; com o uso de “microfone” de fantasia; na “televisão”. ■ Caracterizar personagens (bom momento para identificar valores huma- nos). ■ Analisar o assunto principal da história. ■ Desenhar, recortar, colar, montar cenas da história e produzir textos. ■ Cantar, recitar, músicas e poemas relacionados à história. ■ Produzir um texto que conta como seria se a Bela Adormecida acordasse hoje (o que não existia há cem anos atrás/como ela viveria). 103 ■ Distribuir contos de fadas diferentes aos alunos, organizados em grupos. Entregar um envelope com palavras que representem objetos da moder- nidade. Pedir que leiam o conto e retornem introduzindo o elemento da modernidade, por exemplo, a história da Cinderela que tinha um telefone celular. ■ Contar a história e não dizer o fim, pedir aos alunos que em grupo, organi- zem um fim para a história, contar para todos. ■ Recontar a história em quadrinhos ■ .Contar a história retirada de um livro, mostrar também em CD ou fita cas- sete e ainda em vídeo. Traçar comparações e ao final ilustrar ou montar um livro. ■ Em roda colocar os livros no meio da sala ou distribuir um para cada um. Pedir que leiam e, ainda na roda, recontem a parte que mais gostaram da história. Ilustrar ao final. ■ Usar um objeto qualquer que tenha na história a ser contada, colocar numa caixinha para que as crianças adivinhem o que tem e qual é a história. Dar dicas e pistas. ■ Teatro de fantoches, teatro de sombras, teatro de palitoche e dramatiza- ções. ■ Utilizar a mesma história contada em épocas e autores diferentes para que façam comparações: elaborar novas versões dos contos de fadas. ■ Distribuir aos grupos, num envelope, quatro a cinco poemas ou textos do autor trabalhado. Enquanto lêem os poemas, podem manusear livros do autor. Finalizando a leitura, distribuir materiais de desenho para os alunos. Cada componente do grupo escolhe um poema para ilustrar, montar um cartaz com fragmentos dos poemas ou os poemas inteiros e os desenhos. Quadro 2 - Proposta para o trabalho com a literatura / Fonte: Coutinho (2010, on-line). UNICESUMAR UNIDADE 3 104 Leitura e interpretação de texto no Ensino Fundamental Embora esse quadro venha sofrendo alterações, ainda é comum observar o trabalho com a leitura e interpretação de texto realizado em uma perspectiva tradicional de ensino. Os livros e manuais didáticos trazem perguntas que não levam o aluno a uma reflexão sobre o texto e, muitas vezes, o professor também limita seu trabalho à mera aplicação das perguntas apresentadas no livro didático. Assim, esta acaba sendo mais uma tarefa sem objetivos mais atraentes que o simples ato de fazê-la para cumprir uma determinação, um conteúdo, e não pelo prazer que proporciona e pela impor- tância que representa na leitura do mundo. Em muitos casos, os objetivos de leitura de professores e alunos se restringem à busca de informações que estão explícitas no texto, gerando uma atividade mecânica não reflexiva e sem criticidade. Nessa perspectiva, o bom leitor é aquele que consegue reproduzir as ideias do texto, tal qual foram apresentadas. Nesses casos, o professor, que já leu o texto, espera que o aluno lhe dê as respostas lineares em função da leitura que fez. Esse ciclo, praticamente vicioso, vai estendendo-se durante a vida escolar do aluno. Amplas discussões devem ser realizadas no momento do trabalho com de- terminado texto, explorar todos os aspectos possíveis dele: aspectos gramaticais, semânticos, informacionais, estruturais, situação de produção relacionada ao autor do texto, esfera social de circulação etc. Esse conhecimento aprofunda- do das mensagens trazidas nos textos é que pode despertar o desejo da leitura de outros textos para a complementação das ideias do primeiro. Isso criará um novo ciclo, que, por sua vez, contribuirá para a formação de leitores mirins que, consequentemente, tornar-se-ão adultos leitores. Mais do que isso, tornar-se-ão A literatura, quando bem trabalhada, favorece a formação do aluno leitor, e seu trabalho contínuo possibilitará que esse leitor seja crítico e reflexivo quanto aos textos que lê e à realidade que vivencia, por isso, é tão importante que o momento do trabalho com a literatura seja convidativo e leve o aluno a envolver-se e participar ativamente. Por esse e outros fatores, é de grande valia que o professor alie a esse trabalho às tecnologias que estão ao dispor do processo educativo. Trabalhar com hipertextos, acessar sites que contenham essas literaturas infantis com animações e sites que contenham atividades relacionadas a esses textos é uma ferramenta que, além de complementar esse processo formativo, tornará as aulas mais atualizadas e participativas. EXPLORANDO IDEIAS 105 leitores críticos, com hábito da análise e, com isso, as informações e intenções dos textos em geral, que forem verificadas, sempre terão sua veracidade checada por esse leitor e não lhe serão impostas como únicas. A aquisição do hábito de leitura é um processo. Ler é um ato que mo- biliza o pensamento, os sentimentos, a sensibilidade, a avaliação crítica e a visão de mundo do leitor. Desenvolver o hábito de ler envolve a história de cada indivíduo e suas relações com a família, com a escola, com os lugares que frequenta e consigo. Ao travar contato com diferentes textos, o leitor amplia a capacidade leitora e a autonomia de escolha perante um amplo universo de novos textos, além de despertar para a diversidade de temáticas e recursos linguísticos em textos literários e não literários, usos formais e informais da língua, textos orais e escritos, verbais e não verbais. NOVAS DESCOBERTAS No artigo disponível por meio do QR Code a seguir, são levantados os aspectos relevantes para a formação do leitor e que envolvem toda a comunidade acadêmica. Uma importante reflexão acerca da respon- sabilidade que todos os envolvidos com a educação possuem, visto que formar leitores não é responsabilidade apenas do profissional da Língua Portuguesa. Segundo os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), o ensino da Língua Por- tuguesa tem o objetivo de fazer com que o aluno amplie o uso da linguagem para facilitar a expressão, diferenciar o conteúdo das mensagens, compreender textos orais e escritos, descobrir a variedade e diversidade da língua falada no país, construir imagens diversas com as palavras e transformar a linguagem em instrumento para a aprendizagem. Assim, a leitura e a compreensão de textos diversos incluem-se no trabalho com a língua materna na escola. Para melhor ilustrar os conceitos que serão apresentados neste tópico, é in- teressante apresentar o entendimento de Geraldi (2004, p. 91) sobre a leitura: “[...] a leitura é um processo de interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto. Encontro com o autor, ausente, que se dá pela sua palavra escrita”. Portanto, compreender textos deve fazer parte do conteúdo a ser trabalhado em Língua Portuguesa no Ensino Fundamental, desde os anos iniciais. A necessidade, con- tudo, de não atrelar a interpretação textual à formulação de questionários em UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14170 UNIDADE 3 106 textos de qualquer gênero, principalmente informativos, elaborando perguntas em que as respostas são lineares e muito explícitas no texto. Cagliari (2003) aponta que a interpretação de texto ostenta várias formas e sig- nificados. Em alguns casos, a interpretação é colocada para o aluno apenas com o propósito de analisar literalmente as palavras, frases ou temas tratados. Em outros casos, para o estudo etimológico ou, ainda, para comentários pessoais dos mais diver- sos tipos, análise do discurso de base ideológica, argumentativas e estrutura, em que é realizada a análise apenas de elementos linguísticos determinados pela gramática. Ainda, segundo o autor, cada uma dessas abordagens tem seu valor, mas, quando apenas uma prevalece, o trabalho com texto acaba tornando-se ineficaz. Atividades como essas acabam desmotivando os alunos, pois se tornam uma rotina em que ele é pouco estimulado a realmente interagir com o texto. Tal interação pode ser conside- rada como uma necessidade básica no trabalho com as leituras diversas, pois, mesmo que seja para apontar que o texto não lhe agradou, a criança precisa manifestar-se em relação à leitura que fez. Como a proposta é o trabalho com gêneros diversos que circulam no cotidiano, também, é preciso trabalhar a leitura de textos diversos, e, a cada texto, o professor precisa estar preparado para explorá-lo por completo e trazer à tona toda a discussão possível dos aspectos das ideias do texto, relacioná-lo ao co- nhecimento de mundo que a criança possui e procurar ampliá-lo a partir de novos conhecimentos que possam ser suscitados a partir do texto trabalhado. Na concepção de Colomer e Camps (2002), alguns fatores incorrem sobre a leitura, são eles: a intenção da leitura e os conhecimentos trazidos pelo leitor. Neste último item, ainda de acordo com as autoras, incluem-se os conhecimentos sobre o escrito e os conhecimentos de mundo. No conhecimento sobre o escrito, as autoras apresentam a necessidade de alguns conceitos sobre a organização das frases em seu sentido gramatical e sobre as intenções apresentadas em de- terminadas construções dos falantes, denominado, assim, no estudo da Língua Portuguesa, semântica. Uma criança recém-alfabetizada, porém, ainda não possui esses conhecimentos, então, o papel do professor, neste caso, é explorar cada texto de forma a aproximá-la desses conhecimentos de acordo com cada nível. Explorar o significado das palavras, o contexto de produção de cada texto, o meio de circulação e divulgação, as possíveis intenções do seu produtor, a função do gênero que foi utilizado e assim por diante pode aproximar, cada vez mais, a criança do universo de organização linguística e gramatical do texto. Lembre-se sempre que este último é o ponto de partida e o ponto de chegada para o ensino da língua mater- 107 na, pois, ao analisarmos os objetivos dos PCN, constatamos que o ensino da Língua Portuguesa na escola é justamente para aprimorar as capacidades de comunicação e interação do indivíduo no sentido de esse exercer sua cidadania. Outro aspecto fundamental na exploração da leitura de textos é o conheci- mento de mundo que cada indivíduo tem, relacionado às situações que os textos apresentam. O professor precisa estar preparado para lidar com situações diversas em salas de aula e escolas diferentes. Essas circunstâncias interferem diretamente no conhecimento de mundo e nas experiências que as crianças trazem para a sala de aula. Isso pode prevalecer ou complicar a compreensão de determinados tex- tos, pois seus conhecimentos prévios podem ser suficientes para a compreensão e interpretação de determinados textos, mas também podem ser insuficientes. Neste último caso, esse distanciamento do que o texto apresenta, também, pro- picia o distanciamento da criança do texto, dificultando ou, até mesmo, propor- cionando uma falha na compreensão. Assim, o professor precisa saber agir para suprir a falha deixada e aproximar, novamente, a criança do texto em questão, privilegiando uma leitura produtiva. Essas concepções podem ser confirmadas ao citarmos Colomer e Camps (2002, p. 60): “ [...] o grau de conhecimento compartilhado entre emissor e receptor é essencial para a compreensão de um texto, já que, se é insuficiente, a comunicação não tem nenhuma possibilidade de ocorrer, porque o leitor não poderá tornar presente para si uma informação da qual desconhece os pressupostos e, portanto, não poderá seguir o pro- cesso de interferências previsto pelo autor. Ao trabalhar com interpretações de textos, temos que tomar cuidado para não fazer uso somente de perguntas de cunho livresco. Esses tipos de perguntas re- produzem palavras usadas no texto, limitando-se a pedir informações explícitas, não relevantes para a compreensão. Dessa forma, não há um envolvimento do aluno com aquilo que lê, uma vez que as respostas não o fazem refletir. Solicitar apenas respostas mecânicas e com cópias suspende a comunicação entre pro- fessor e aluno. Um exemplo desse tipo de avaliação, em relação à compreensão do aluno, é quando, após ler e ouvir uma história, como a da Branca de Neve e os Sete Anões, o professor limitar-se a fazer perguntas que estão prontamente identificadas no texto: UNICESUMAR UNIDADE 3 108 ■ Qual é o título da história? ■ Quantos são os anões da história? ■ Quem deu a maçã a Branca de Neve? ■ Quem salvou Branca de Neve da morte? Podemos dizer que trabalhos como estes são tradicionais e não promovem a aprendizagem do aluno. Cagliari (2003) compara atividades como essa a exercí- cios de cópia e ditado. A grande maioria dos educadores pensa que interpretar textos é uma atividade essencial na vida escolar da criança. Na verdade, ela se tor- na importante desde que não se limite só aos trabalhos apresentados nos manuais didáticos, estruturas gramaticais ou, ainda, que façam listas de questionários que não dão chance ao aluno para raciocinar sobre o que leu. Ao realizar trabalhos assim, o aluno acaba condicionado a procurar respostas prontas no texto e, se o professor lançar perguntas que necessitam de um pouco mais de reflexão e infe- rência, será comum o aluno dizer: “professor, eu não achei essa resposta, em que parágrafo ela está?”. Isso acontece porque ele quer ter a certeza de que, se copiar as respostas tal, a qual está no texto, não correrá o risco de “errar”. Até a década de 1960, o que se cobrava na escola era exatamente que o aluno respondesse a questionários que tinham como finalidade reproduzir para atender às expectativas do professor e do livro didático. Nos manuais do professor, que acompanhavam e, ainda, acompanham muitos livros, as respostas vinham pron- tas, e o aluno que conseguisse “interpretar”, reproduzindo o que estava colocado no livro, era entendido como um aluno provido de bom nível de interpretação. Em relação a materiais como esses, Cagliari (2003, p. 329) reforça que “obviamente tal atividade deveria ser abolida da escola, em todas as matérias. Simplesmente reproduzir um modelo não é um procedimento pedagógico recomendável quan- do os alunos podem e devem usar da reflexão para aprenderem”. Nosso objetivo não é criticar tal metodologia com muita proeminência, achando que os professores estavam totalmente errados em utilizar esse tipo de material, pois, atendiam às necessidades políticas, sociais e educacionais da épo- ca, porém, atualmente, essa metodologia deve ser descartada, mas, infelizmente, ainda são encontrados materiais que carregam resquícios dessa época. 109 Quando tratamos da importância do trabalho com gêneros textuais e das propostas de en- sino da língua com vistas a potencializar atividades de leitura, compreensão, interpretação e, até mesmo, debates que levem ao entendimento da relevância desse trabalho, a apre- sentação de metodologias torna-se fundamental. Para Fiorin e Savioli (2003), ao introduzir uma ideia sobre a forma de pressuposto, o escritor/falante transforma o leitor/ouvinte em cúmplice, uma vez que essa ideia não é posta em discussão, e todos os argumentos subsequentes só contribuem para confirmá-la. É claro que esses conceitos, propriamente ditos, devem ser reconhecidos em um texto pelo professor, que deverá fazer a mediação de forma que as crianças, aos poucos, acostumem-se com a identificação desses detalhes linguísticos nos enunciados e tenham um nível de leitura bastante qualitativo. EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR UNIDADE 3 110 As novas exigências em relação à leitura e à compreensão de textos A sociedade atual exige das pessoas o desenvolvimento de uma boa capacidade leitora para que o indivíduo consiga compreender o que leu, pois ler não é um ato mecânico de decodificação, é atribuir significado ao que leu. Para Teberosky e Colomer (2003, p. 96), “ler equivale buscar significados no texto”. Conforme apresentamos no item anterior, para que a compreensão do que se lê seja signifi- cativa, deve haver um equilíbrio entre a informação que o leitor já tem e as novas trazidas no texto. Nesse caso, a mediação do professor será fundamental. Segundo Cagliari (2003), é natural que os professores se preocupem com o progresso do aluno e queiram realizar interpretações de textos para verificar se entenderam o que leram. O autor afirma que a interpretação textual é necessária, principalmente, em textos científicos, como os de Matemática, História, Geografia e Ciências, e, até mesmo, em textos literários. A análise linguística não pode ser deixada de lado por nós professores. “Um aluno pode e deve memorizar procedi- mentos científicos, a cronologia histórica, as características geográficas, mas não são exercícios de preencher lacunas que vão lhe dar condições para isso: estudar envolve estratégias mais inteligentes” (CAGLIARI, 2003, p. 335). Ainda, segundo o autor, uma forma de fazer o aluno aprender a estudar é fornecer a ele não apenas um texto ou livro sobre determinado conteúdo a ser trabalhado, mas outros que tratam do mesmo assunto. O trabalho de pesquisa, também, traz oportunidades de realizar comparações e análise em relação ao conteúdo e à forma, pois, uma carta apresenta forma diferente de um texto in- formativo, que, também, é diferente de uma notícia de jornal etc. Promover debates em sala sobre o assunto estudado é uma forma de realizar a interpretação do que ouviu ou leu. Essa atividade leva à reflexão e proporciona ao aluno expor seus argumentos e defender seu ponto de vista, podendo apoiar ou rejeitar a ideia do autor. Dessa forma, o professor conseguirá avaliar se os alunos entenderam o que leram, visto que podem realizar comentários sobre o que pensam e registrar isso sem que seja em forma de perguntas e respostas. Outra proposta para interpretação de texto é pedir para que os alunos façam um levantamento das ideias principais do texto, procurando perceber as ideias implícitas do autor. Fazer resumos, também, pode ser uma alternativa de traba- lho. Deixar o aluno escrever resumidamente o que entender da leitura e, depois, 111 realizar discussões ajuda no processo de avaliação da compreensão, pois, se o professor perceber que a essência do texto não ficou explícita, o assunto deve ser retomado e o professor deverá ensinar o que for necessário. Uma prática escolar que substitui a interpretação de texto tradicional (apenas perguntas e respostas) é o professor propor ao aluno que, a partir de um texto, faça outro, isto é, contar uma história com as próprias palavras, mudar o final conforme a sua vontade, transformar um texto poético em uma narrativa ou vice-versa, uma carta em uma notícia ou em uma narrativa. A realização de leitura de antecipação, títulos de manchetes de jornais, inter- pretação de imagens, capas de livros, opiniões pessoais, reflexões para entendi- mento das entrelinhas e argumentações após determinada pergunta, promove a compreensão e o desenvolvimento de um leitor competente. Em uma atividade de interpretação de texto, os enunciados devem ser claros, porém precisam exigir muito raciocínio por parte do aluno. Nesse processo, o professor tem seu papel de mediador, viabilizando a promoção da aprendizagem de seus alunos. Nesse sentido, o professor precisa estar atento, já que nem sempre seu questionamento é realizado de forma que leve o aluno a chegar à resposta que se quer. Ainda, diante das propostas de leitura e compreensão textual, vale destacar os conceitos apresentados por Geraldi (2004, p. 91) sobre as leituras possíveis de um texto: “ É por isso que se pode falar em leitor maduro e a maturidade de que se fala aqui não é aquela garantida constitucionalmente aos maiores de idade. É a maturidade de leitor, construída ao longo da intimidade com muitos e muitos textos. Leitor maduro é aquele para quem cada nova leitura desloca e altera o significado de tudo o que ele já leu, tornando mais profunda sua compreensão dos livros, das gentes e da vida. Esse autor, ao discutir seu conceito de leitura e compreensão textual, relata que existem leituras possíveis para os textos, e estas dependem muito dos conheci- mentos prévios que o leitor apresenta de sua postura como leitor ante ao texto. De acordo com Geraldi (2004, p. 92), o leitor pode, diante de um texto, apresentar as seguintes posturas: UNICESUMAR UNIDADE 3 112 “ A leitura – busca de informações, a leitura – estudo do texto, a leitu-ra – pretexto, a leitura – fruição do texto. Diante de qualquer texto, qualquer uma dessas relações de interlocução com o texto/autor é possível. Mais do que o texto definir suas leituras possíveis, são múltiplos tipos de relação que com eles nós, leitores, mantivemos e mantemos, que o definem. Nesse sentido, vale também esclarecer que as possíveis leituras de um texto se referem ao objetivo de leitura do estudante. Quando se pensa em com- preensão e interpretação textual, realmente, admite-se que os textos, em geral, podem sofrer uma pequena variação de sentido para cada leitor, contudo seus parâmetros funcionais e ideológicos precisam ser mantidos, e é essa percepção que deve ser despertada em nossos alunos. NOVAS DESCOBERTAS Documentário: Nas Entrelinhas da Leitura Ano: 2016 Sinopse: o documentário disponibilizado para acesso trata-se de uma apresentação sobre a biblioteca, sua função e sua importância no cenário social de formação da humanidade. Nesta oportunidade, conhe- ceremos acerca de algumas bibliotecas de representação em nosso país, como a Biblioteca Padre Euclides, de Ribeirão Preto. Comentário: este documentário trata sobre a leitura e da importância dos livros e da pesquisa. Para assistir, acesse o QR Code a seguir. Nos textos de caráter literário, prevalece uma interpretação mais subjetiva, pois sua principal função é a exploração estética e sentimental das palavras, ou seja, a fruição pode dar margem à compreensão e à interpretação mais variadas. O gê- nero instrucional, como uma receita de bolo ou bula de remédio, não dá margens a uma interpretação subjetiva, uma vez que sua função principal, como gênero textual, é instruir quanto à realização de uma atividade específica. O mau enten- dimento de uma instrução pode causar problema na realização da referida ati- vidade efetivamente. No processo de compreensão, o leitor realiza muitas ações sobre o texto, como percepção, análise, síntese, estabelecimento de relações entre partes, previsão, levantamento de hipóteses, associações, verificação de hipóteses, 113 inferências, generalização e avaliação. Essas ações que o leitor realiza podem se tornar conscientes com a utilização de estratégias para ler. O aluno pode apren- der a fazer uma exploração do texto e de seu contexto de circulação, percebendo marcas que o auxiliarão na compreensão. Por meio de perguntas claras, simples e bem colocadas, é possível orientar o aluno a perceber as relações que o texto tece, chamando-lhe a atenção para ver e relacionar as marcas ou pistas que o texto apresenta e, a partir delas, fazer suposições sobre qual será o assunto tratado. Continuando na perspectiva de prática de leitura eficaz, Geraldi (2004) des- taca o conceito de pretexto, que pode ser utilizado como metodologia em sala de aula e se assemelha a ideias já expostas neste item sobre o trabalho de leitura e compreensão de textos. Segundo Geraldi (2004), o pretexto envolve uma rede muito grande de questões, já que essas podem funcionar tanto a partir do pro- fessor como do aluno. Dramatizar uma narrativa, transformar um poema em coro falado, ilustrar uma história são apenas alguns dos múltiplos pretextos que podem definir o tipo de interlocução do leitor/autor. “ Não vejo por que um texto não possa ser pretexto (para dramati-zações, ilustrações, desenhos, produção de outros, etc.). Antes pelo contrário: é preciso retirar os textos dos sacrários, dessacralizando- -os com nossas leituras, ainda que venham marcadas por pretextos. Prefiro discordar do pretexto e não do fato de o texto ter sido pre- texto (GERALDI, 2004, p. 97). Para ele, a utilização de textos, como ponto de partida para outras atividades, é importante e é uma prática que deve ser utilizada, uma vez que proporciona o contato direto com o texto e, consequentemente, influencia no processo de modo geral. Sendo assim, é na aula de leitura que se constroem múltiplos sentidos e se discute como o texto possibilita, ou não, os sentidos produzidos. Cabe, também, ao leitor o direito de escolha quanto à aceitação, ou não, das ideias contidas em um texto. Ao contrário de um posicionamento passivo, o leitor poderá propor outras formas de leitura, suscitando novas discussões. A mediação do professor é no sentido de orientar o aluno a respaldar, no texto, a leitura que faz. Para que isso aconteça, o trabalho não pode ser impositivo, não pode haver uma só leitura autorizada. Negociações, conversas, troca de opiniões, tendo como base o texto, nortearão as aulas de leitura. UNICESUMAR UNIDADE 3 114 Caro(a) acadêmico(a), alcançamos o final da terceira unidade e, sinceramente, espero que tenha compreendido quão valorosa é a leitura na formação humana de nossas crianças. Durante a elaboração da seção, procuramos evidenciar que in- centivar a leitura em alunos do Ensino Fundamental é essencial para a formação do leitor proficiente, pois é o alicerce da educação, logo, se estimulamos o aluno a ler, mobilizamos também a curiosidade e o interesse por agregar novos saberes. É fundamental que a escola e os professores compreendam que o trabalho de leitura e compreensão de textos vai além de decodificar símbolos e responder a perguntas com respostas prontas, claramente expostas no texto. A má formu- lação de questões faz com que haja uma falsa percepção de que a criança está entendendo o que leu, ou seja, quando o professor formula questões pautando-se apenas nos descritores dos materiais didáticos, impede que ela venha a inferir e compreender as entrelinhas do texto. O processo de leitura inicia-se no período de alfabetização, mas não se esgota nessa fase escolar, o professor deve assumir a responsabilidade de ampliar as capacidades de leitura dos alunos ao longo dos anos escolares. Um excelente recurso é a literatura infantil. Além de desenvolver a criatividade e trabalhar valores, contribui para a ampliação vocabular e para a formação de competência leitora, pois amplia a visão crítica, levando o aluno a interpretar situações que permeiam o seu cotidiano. Ao longo da unidade, mencionamos sobre a formação do leitor proficiente e do leitor competente, seria a mesma ca- pacidade leitora? Vamos conversar um pouco mais acerca dessas definições? Para isso, escute nosso podcast e tome conhecimento! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12420 Desse modo, aprender a ler ultrapassa o simples ato de decodificar palavras e textos. Para compreender, o leitor decodifica, constrói coerência, percebe múl- tiplos sentidos e critica. O ato de ler deve ser carregado de significado para que o aluno possa entender o mundo, construir conhecimento, interpretar textos, orais e escritos, sem ser influenciado, adquirir senso crítico e participar da vida em so- ciedade. Frente a essas exigências, a escola e você, enquanto futuro(a) professor(a), deve priorizar atividades de ensino e aprendizagem que promovam a reflexão, a imaginação, a criatividade e o interesse dos alunos pela leitura. O trabalho com 116 interpretação de texto deve fazer parte do conteúdo do Ensino Fundamental, po- rém você, como professor(a), deve fazê-la de maneira que leve o aluno a raciocinar sobre o que leu. Com isso, a interpretação textual em que se prioriza perguntas e respostas lineares não fomenta o desenvolvimento da aprendizagem e a formação do leitor proficiente. 1. O estreitamento da relação entre leitura e aprendizagem são processos interligados, pois, na maioria das vezes, após o processo de alfabetização, a criança parte da leitura para a aquisição e a assimilação de outros conteúdos. Considerando as informações, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I - Muitas discussões devem ser realizadas no momento do trabalho com determi- nado texto, de forma que sejam explorados todos os aspectos possíveis, grama- ticais, semânticos, informacionais, estruturais, situação de produção relacionada ao autor, esfera social de circulação etc. PORQUE II - O conhecimento aprofundado das mensagens trazidas nos textos é que pode despertar o desejo da leitura de outros textos para a complementação das ideias do primeiro, e isso criará um novo ciclo, que, por sua vez, contribuirá para a formação de leitores. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta: a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. b) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. c) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. d) As asserções I e II são proposições. e) As asserções I e II não são proposições. 117 2. Considerando a interpretação livresca e os cuidados que o professor deve ter com trabalhos deste cunho, a atividade com os alunos, frente à interpretação de textos, precisa fugir do método tradicional (que contempla perguntas cujas respostas serão encontradas e copiadas prontas no corpo do texto). Considerando que ler não deve ser um ato mecânico de decodificação, mas, sim, atribuição de significado ao que leu, apresente três exemplos de práticas que contribuem para o desenvolvimento da leitura e interpretação de textos. 3. Ainda nesta unidade, foi possível refletir sobre a importância da literatura para a for- mação leitora. Dessa forma, qual é o papel do professor na formação do aluno leitor? 4. O trabalho com interpretação de texto assume várias formas e significados. A partir dos estudos da disciplina, realizar uma síntese, enfocando as novas exigências da sociedade contemporânea. Escolha um gênero sugerido anteriormente e elabore uma atividade de interpretação de texto, seguindo as orientações desta unidade. 4O Ensino e a Aprendizagem da Ortografia e da Gramática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Inicialmente, gostaríamos de fazer alguns questionamentos a você: como foi ensinada a gramática na época em que era criança? Você fazia listas de exercícios do tipo “preencha a lacuna, complete com a letra certa”? Decorava regras, sem mesmo saber para que elas ser- viam? Quais são a sua experiência e as lembranças de quando estudou ortografia e gramática? E, hoje, como é ensinada a ortografia? Nesta unidade, discutiremos sobre o ensino da ortografia e da gramática por meio do texto, pois entendemos que o texto é o ponto de partida e de chegada para o ensino da língua. Veremos que o ensino da ortografia não deve estar vinculado a exercícios de treinos e cópias, uma vez que não propicia desenvolvimento psíquico dos alunos. Dra. Cristiane Batistioli Vendrame Me. Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici Me. Marcia Maria Previato de Souza UNIDADE 4 120 A dúvida paira entre os docentes quando o tema é o ensino da ortografia e da gramática. Por vezes, ocorrem os seguintes questionamentos: é importante ensi- nar ortografia? E a gramática? Quando devo começar a ensinar ortografia? Devo corrigir os textos espontâneos de meus alunos? Como devo reagir, ao ver a criança escrevendo incorretamente? Devo corrigir tudo que os alunos escrevem? Devo considerar os erros na hora de avaliar os alunos? Como proceder com o ensino da ortografia e da gramática em sala de aula? Tais indagações rondam a prática pedagógica do professor, que, diante de incer- tezas, quanto aos encaminhamentos dessas capacidades, acaba por não promover situações de ensino em sala de aula, ao impossibilitar que esses conhecimentos sejam apropriados pelos alunos. Dessa forma, estes não se desenvolvem linguisticamente nem utilizam esses conhecimentos nas diversas situações comunicativas vivenciadas Quando questionamos a função da escola para com as nossas crianças, a res- posta é uníssona: ensinar a leitura e a escrita. Para promover essas capacidades, a escola emprega a ortografia e a gramática como ponto de partida, que acabam por assumir papel central no processo de ensino e aprendizagem, pois acredita-se que, para a criança aprender a ler e escrever, faz-se necessário dominar, ortografi- 121 camente e gramaticalmente, a língua. No entanto existem algumas críticas quanto ao modo como o ensino da ortografia e da gramática vem ocorrendo em sala de aula, visto que determinados encaminhamentos — listas imensas de exercícios, complete as lacunas, cópias extensivas — não contribuem com os objetivos da Língua Portuguesa, que consiste em desenvolver a competência linguística de nossos alunos, tornando-os sujeitos ativos, capazes de dominar a linguagem em suas variadas formas de comunicação e interação humana. Peço permissão a Magda Soares (2020), para tomar emprestado um exem- plo citado em sua obra Alfaletrar, cujo texto (bilhete) pertence a uma criança, Caroline, de, aproximadamente, seis anos de idade, cursando o 1º ano do Ensino Fundamental. Para contextualizá-lo(a), é importante mencionar que a proposta apresentada teve, como ponto de partida, o estudo do gênero bilhete, de uso frequente na escola. Diante da motivação e do interesse das crianças, ao avista- rem uma grande teia de aranha em sala de aula, a professora conversou sobre as aranhas e a construção de teias para capturar insetos de que se alimentam e pro- pôs que produzissem um bilhete aos insetos alertando-os acerca dos riscos que corriam de serem apanhados e devorados pela aranha. Confira o bilhete da aluna. UNIDADE 4 UNIDADE 4 122 Com base no texto exibido, podemos afirmar que Caroline encontra-se no nível alfabético de escrita, uma vez que é possível lermos o texto produzido com facili- dade. Porém algumas questões de ordem ortográfica são identificadas na escrita, o que demanda o ensino de algumas regras. Considerando a situação exibida, reflita sobre a experiência relatada. Para isso, imagine-se professor(a) da aluna, quais regras ortográficas, ainda, não foram apropriadas por Caroline? A partir dessa experiência: quais procedimentos você tomaria para auxiliar a aluna? Qual seria sua postura perante o contexto apresentado? Anote, em seu Diário de Bordo, as enunciações derivadas. Descrição da Imagem: a figura apresenta um texto produzido por uma aluna de 1º ano, registrado em papel sulfite com a presença de cinco linhas. Na parte superior da folha, temos uma ilustração, composta por uma teia e uma aranha, e, ao lado da teia, um mosquito. O texto traz o seguinte registro: “SENHO MOSCITO TOME CUIDADO COM AS ARANHA VOSE ISTA CORENDE DÉ PIRIGO AS ARANHAS ISTÃO PRONTAS PARA SUGAR SEU SAEQUE. TOME COIDADO ELA CÉ FASE A REIFESÃO COM VOSE?”. Figura 1- Bilhete / Fonte: Soares (2020, p. 150). 123 Para o ensino e a aprendizagem da ortografia, faz-se necessário identificar se a criança já se apropriou do princípio alfabético, ou seja, se é capaz de relacionar fonemas com letras. Embora, já alfabética, a criança comete erros ao escrever, e você pode se perguntar: isso é esperado? Podemos aceitar que uma criança alfabé- tica tenha, em sua escrita, palavras ortograficamente incorretas? Podemos sim! O fato de a criança ter alcançado o nível de escrita alfabética não significa que tenha se apropriado de todas as regras e irregularidades básicas da ortografia da língua, em que as relações fonemas e grafemas não são sempre unívocas, isto é, a cada letra, nem sempre temos um mesmo fonema e, a cada fonema, uma única letra. UNIDADE 4 UNIDADE 4 124 No processo de apropriação da linguagem escrita, outra dificuldade ortográfica encontrada pela criança refere-se à distinção dos fonemas vocálicos, uma vez que a ela é ensinado que as vogaWis são cinco, quando, na verdade, são 12. Geralmen- te, são apresentadas, na modalidade oral, sendo: a, é, i, ó, u, já em outras regiões do país: a, ê, i, ô, u, abandonando-se a modalidade nasal. Acompanhe, no quadro a seguir, as relações fonema e grafema considerando as 12 vogais. FONE- MA GRAFEMAS EXEMPLOS /a/ [a] ave, mata, macaco, fubá /ã/ [an],[am], [ã] anzol, manta, campo, bambu, irmã, maçã /e/ [ê] equipe, medo, cabelo, você, ipê // [é] pedra, médico, canela, café /ẽ/ [en], [em] enfermo, mente, avenca, tempo, sem- pre /o/ [ô] ovo, boca, garoa, problema, avô, tricô 125 FONE- MA GRAFEMAS EXEMPLOS [ó] ócio, foca, corda, pobre, serrote /õ/ [on], [om], [õ] onda, bondoso, bomba, compra, ba- lões /u/ [u] juba, mudo, chuva, rubi /ữ/ [un], [um] junto, mudo, chuva, rubi /i/ [i] ideal, cidra, pino, apito, saci /ⴢ/ [in], [im] índio, cinto, pingo, faminto, assim Quadro 1 - Relações Fonema - Grafema - Vogais / Fonte: Soares (2020, p. 168). A representação da nasalidade, no processo de apropriação da língua escrita, em re- lação às vogais, é um dos aspectos mais difíceis a ser enfrentado pelos alunos. Alguns erros perduram ao longo do ciclo de alfabetização, em que acabam por omitir a marca de nasalidade, embora a percebam na fala. Segundo Soares (2020, p. 170), “Uma das razões para isso é a frequência no ensino, e mesmo no contexto familiar e social, da listagem das vogais como a, e, i, o, u, sem que se faça a distinção entre as vogais orais e as vogais nasais”. Basta consultar um livro didático para encontrar situações como a descrita, por exemplo, para o fonema /a/, usam-se palavras cujo fonema é /ã/, no caso de anjo, anta, antena e antigo, ou no caso do fonema /i/, o apoio em palavras, como índio e inseto, quando realmente o fonema inicial é /ĩ/, e não /i/; e, ainda, no caso de palavras iniciadas pelo fonema /o/, como onça, onda, ontem e onze. Existe, ainda, outra dificuldade encontrada pelas crianças, quanto à marca de nasalidade, que é o fato de as vogais nasais serem representadas por dígrafos — exceção da representação por um sinal gráfico, o til, por exemplo, em maçã. Nos demais casos, a representação é feita por uma consoante, M ou N, que acompanha a vogal, porém não corresponde a um fonema, tendo apenas a função de nasalizar a vogal. Isso se torna confuso para a criança no processo inicial de apropriação da escrita, pois lhe é ensinado que cada letra da palavra corresponde a um fonema, quando o que percebe é a representação da vogal nasal por duas letras, sendo uma vogal e uma consoante, no caso, M ou N. Sendo este conhecimento, ainda, introdutório para a criança, ela acaba por utilizar apenas a vogal nos registros, pois, embora perceba que exista o som na- /e/ UNIDADE 4 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 124 – Quadro 1 - Relações Fonema - Grafema - Vogais INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a relações Fonema - Grafema - Vogais, ilustrado por um quadro com três colunas, com doze linhas, a primeira coluna aponta para fonemas, a segunda coluna representa grafemas e a terceira coluna representa exemplos, conforme: FONEMA: /a/; GRAFEMAS: [a]; EXEMPLOS: ave, mata, macaco, fubá. FONEMA: /ã/; GRAFEMAS: [an],[am], [ã]; EXEMPLOS: anzol, manta, campo, bambu, irmã, maçã. FONEMA: /e/; GRAFEMAS: [ê]; EXEMPLOS: equipe, medo, cabelo, você, ipê. FONEMA: //; GRAFEMAS: [é]; EXEMPLOS: pedra, médico, canela, café. FONEMA: /ẽ/; GRAFEMAS: [en], [em]; EXEMPLOS: enfermo, mente, avenca, tempo, sempre. FONEMA: /o/; GRAFEMAS: [ô]; EXEMPLOS: ovo, boca, garoa, problema, avô, tricô. FONEMA: /e/; GRAFEMAS: [ó]; EXEMPLOS: ócio, foca, corda, pobre, serrote. FONEMA: /õ/; GRAFEMAS: [on], [om], [õ]; EXEMPLOS: onda, bondoso, bomba, compra, balões. FONEMA: /u/; GRAFEMAS: [u]; EXEMPLOS: juba, mudo, chuva, rubi. FONEMA: /ữ/; GRAFEMAS: [un], [um]; EXEMPLOS: junto, mudo, chuva, rubi. FONEMA: /i/; GRAFEMAS: [i]; EXEMPLOS: ideal, cidra, pino, apito, saci. FONEMA: /ⴢ/; GRAFEMAS: [in], [im]; EXEMPLOS: índio, cinto, pingo, faminto, assim. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 4 126 salizado, não se encontra segura quanto ao uso desse aspecto linguístico e, assim, escreve: FATASMA, VAPIRO, LARAJA, MOSTRO, MOTANHA, quando lhe é solicitado que leia, pronuncia: fantasma, vampiro, laranja, monstro, montanha (SOARES, 2020). Outro recurso utilizado pela criança é o uso do til (~), uma explicação para isso seria porque este não representa uma letra, e, sim, um sinal gráfico, por exemplo, em BALÃSO por balanço, ELEFÃTE por elefante, PÕTI por ponte. Talvez, você esteja se questionando: como encaminhar a prática pedagógi- ca, de modo a garantir a aprendizagem desses aspectos linguísticos às crianças nos anos iniciais de escolarização? Respaldados em Soares (2020, p. 171), ressaltamos: “ [...] para que as crianças aprendam a representar a nasalidade na escrita, é necessário desenvolver atividades fonológicas que as levem a distinguir vogais orais de vogais nasais, e a aprender a grafia destas últimas [...] o procedimento é sempre o confronto de fonemas que se diferenciam e que são representados por grafemas diferentes. Nesse sentido, é importante promover situações, em sala de aula, de análise da composição das palavras, de reflexão acerca da estrutura organizativa dos vocá- bulos. Para isso, a autora, anteriormente mencionada, exibe um quadro de apoio ao professor, que poderá explorá-lo em ambiente institucional, propiciando aos alunos a leitura das palavras nas colunas referentes à cada vogal, comparando a pronúncia das sílabas orais (fechadas ou abertas — E e O) com as nasais e identi- ficando o que, na escrita, modifica uma vogal oral em nasal. Observe o Quadro2: a ã an, am ê é en, em i in im ô ó on o m õ u un um maca maça medo mente igreja indio ovo onda mudo mundo ave anjo terra tempo idade ímpar boca bom- ba chuva chum- bo capa campo pele pente iate imbé bola balões nuca nunca Quadro 2 - Pronúncia das sílabas orais (fechadas ou abertas — E e O) / Fonte: Soares (2020, p. 171). DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 126 – Quadro 2 - Pronúncia das sílabas orais (fechadas ou abertas — E e O) INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a pronúncia das sílabas orais (fechadas ou abertas — E e O), ilustrado por um quadro com dez colunas e três linhas, as colunas se referem as sílabas e as linhas se referem as palavras que dão exemplo às sílabas, sendo: a: maca, ave, capa. ã; an; am: maça, anjo, campo. ê; é: medo, terra, pele. en, em: mente, tempo, pente. i: igreja, idade, iate. in, im: índio, ímpar, imbé. ô, ó: ovo, boca, bola. on; o; m; õ: onda, bomba, balões. u: mudo, chuva, nuca. un; um: mundo, chumbo, nunca. FIM DESCRIÇÃO. 127 Segundo Soares (2020), por meio da análise do quadro, os alunos poderão se guiar pelo som das vogais, ao registrar as palavras, diferenciando sons orais e nasais, o que os auxiliará na decisão de qual grafia usar. Como sugestão ao professor, assim como a autora, indicamos a exposição do quadro em sala de aula até a apropriação pelas crianças das marcas de nasalidade, sendo, portanto, material de consulta, em caso de dúvida, ou, mesmo, apoio, para correção dos erros, quando cometidos na representação das vogais nasais. Para a compreensão dessa convenção da escrita, faz-se necessário que haja sistematização e permanência dessas situações de ensino. Digo isto porque, como não é algo de entendimento explícito, requer do professor sistematicidade e con- tinuidade de propostas que, efetivamente, garantam a consolidação da aprendi- zagem linguística de nossos alunos. Uma possibilidade é recorrer a jogos que oportunizem orientar as crianças a compararem palavras com sílabas nasais e inferir a regra do uso de M ou N para nasalizar a sílaba. Outra possibilidade é utilizar o alfabeto móvel para que componham palavras com vogais nasais — im- portante, nesse contexto, inserir o sinal gráfico til — ou, ainda, promover ditados com palavras que incluam vogais orais e nasais. Outro destaque a pontuar, acerca da questão ortografia apresentada pelos alunos nos anos iniciais de escolarização, encontra-se no uso das terminações AM e ÃO. Muito parecidas na pronúncia, AM e ÃO identificam-se e levam as crianças a usar um pelo outro, por exemplo, CHAM por chão, BOTAM por botão, VIOLAM por violão. O texto a seguir é de uma criança de 2º ano e expressa bem essa questão. UNIDADE 4 UNIDADE 4 128 Descrição da Imagem: a figura traz uma cópia de um texto escrito à mão e, ao lado dele, uma gravura composta por três quadros. No primeiro quadro, vemos dois meninos jogando bola em frente a um muro, sobre o qual estão posicionados dois vasos de flores. No segundo quadro, vemos a bola em movimento, atingindo o vaso mais à direita, e ambos os meninos com caras de surpresos. No terceiro quadro, vemos o vaso espatifado no chão em pedaços e os meninos com a mão na boca com expressão de tensão. O texto transcrito é: PEDRO E O LUÃ. UM DIA PEDRO E LUÃ ESTAVÃO JOGANDO FUTIBOL PEDRO ERA O GOLERO E LUÃ ERA O JOGADOR E AI O LUÃ CHUTOU E ACERTOU O VASO DE FLOR E ELE QUEBROU MAS ELES PANTARÃO A FLOR DE NOVO LÁ NO JARDIM E DE POIS ELES COMTINUARÃO A JOGAR FUTEBOL. Figura 2 - Texto / Fonte: Soares (2020, p. 172). No texto apresentado, encontramos a grafia de tempos verbais, no caso, ESTAVÃO por estavam, PLANTARÃO por plantaram, CONTINUARÃO por continuaram. Isso ocorre porque palavras com terminação nasal — ão — são frequentes na língua portuguesa e constantemente ouvidas, faladas e até escritas pelas crianças, entretan- to a terminação am é de uso próprio para tempos verbais, como presente (ganham, falam, cantam) e pretérito imperfeito (ganhavam, cantavam, falavam). Já em verbos, a terminação ão é própria do futuro (ganharão, cantarão, falarão) e, eventualmente, utilizada na linguagem cotidiana, tanto na oralidade quanto na escrita. Nesta ocasião, você pode até se questionar: mas, então, devo ensinar tempos verbais aos alunos no processo inicial do ciclo de alfabetização? A resposta é não. No início do processo de alfabetização, levar as crianças a distinguir o uso de am e ão, para diferenciarem tempos verbais, é inadequado e, como expõe Soares 129 (2020), “prematuro”, já que é algo a ser proposto nas séries seguintes e porque as crianças, raramente, ouvem, falam ou escrevem a forma futura com a termina- ção ão. Importante esclarecer que as crianças escrevem com frequência, nesse processo inicial de apropriação da linguagem escrita, palavras com o sufixo ão, como coração, violão, caldeirão, refeição, lição etc. Uma excelente estratégia para o ensino de verbos com am é recorrer à dis- tinção entre palavras oxítonas e paroxítonas. Tal distinção pode ser explorada no trabalho com a classificação de palavras quanto à posição da sílaba tônica, partindo de atividades de consciência fonológica, assim que as crianças se tor- narem alfabéticas. Escrevemos ão na terminação de palavras oxítonas (exceções: órfão, órgão...) e escrevemos am na terminação de palavras paroxítonas. De modo a exemplificar essa proposta, citamos algumas sugestões indicadas por Soares (2020, p. 174), a fim de clarificar tais proposições. “ Realizar atividades fonológicas diferenciando oralmente palavras pa-roxítonas de palavras oxítonas, usando verbos no presente ou preté-rito imperfeito com a terminação – am e palavras com a terminação – ão, enfatizando a sílaba tônica e escrevendo as palavras na lousa, grifando a sílaba tônica e a terminação. Por exemplo: adivinham – adivinhação, agitam – agitação, botam – botão, ganham – ganharão. Ditar frases da linguagem escolar incluindo palavras com – am (verbos no presente e no passado) e com -ão. Por exemplo: todos já terminaram a produção de texto; duas turmas completaram a lotação do ônibus. Podem também ser utilizadas frases selecionadas em textos destinados a crianças. Propor atividades de preenchimento de lacunas com -ão ou -am em pequenos textos, ditado, ou entregues por escrito. Por exemplo: As crianças brincav___ no pátio, quando as professoras pediram atenç___ e chamar___ para que voltassem sem confus___ para a sala. Em seguida for___ para a biblioteca e escolher___ livros para ler nas mesinhas. UNIDADE 4 UNIDADE 4 130 Importante termos clareza de que as regras ortográficas são apropriadas pelos alu- nos ao longo do processo de alfabetização e de acordo com as dificuldades e com a participação em situações de ensino oportunizadas pelo professor. Novamente, evidenciamos o papel de protagonista do ensino executado pelo professor e do aluno enquanto sujeito ativo, partícipe das condições objetivas de ensino. Na oca- sião, acreditamos ser oportuno discorrermos sobre as estruturas silábicas na orto- grafia do português, para além do padrão CV. Alguns padrões bastante frequentes devem ser compreendidos e adquiridos pelas crianças assim que dominam a sílaba CV. Veja o quadro com todos os padrões silábicos da língua portuguesa. Quadro 3 - Padrões Silábicos / Fonte: Soares (2020, p. 178). DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 130 – Quadro 3 - Padrões Silábicos INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a padrões silábicos, retratado por um quadro com duas colunas e onze linhas, a primeira coluna se refere aos padrões silábicos, e a segunda coluna apontando a exemplos, os padrões silábicos estão organizados em C e V consoantes e vogais, sendo: CV: gi-ra-fa, ga-lo, ga-li-nha,ma-la,ma-lha,ma-ta, man-ta. CVV: sau-da-de,pai, ban-dei-ra, mu-seu, noi-te, pou-co, cui-dar. V: a-mi-go, ti-o, u-va, o-vo, to-a-lha, ca-ri-o-ca, i-gre-ja, sa-í-da. CVC: car-ta, gos-tar, ver-de, re-vis-ta, ces-to, mo-der-no. CCV: pra-to, pe-dra, brin-co. cli-ma, ca-pri-cho, te-cla, fle-cha. VC: er-vi-lha, ár-vo-re, ur-na, as-fal-to, es-to-jo, is-ca. VV: au-la, ai-po, oi-to, ou-ro, ei-xo, eu-ro-peu, ui-vo. CCVV: frau-de, trau-ma, clau-su-ra, grau, flau-ta, frou-xo, breu. CCVC: cruz, a-trás, cres-po, tris-te, tras-te, fras-co, ma-dras-ta. CCVVC: claus-tro, fleug-ma. CVCC: pers-pec-ti-va, pers-cru-tar, sols-tí-cio. FIM DESCRIÇÃO. 131 Desde pequenas, as crianças são capazes de segmentar uma palavra em sílabas, se- jam elas simples, sejam complexas. As sílabas na língua portuguesa são facilmente identificadas na oralidade e, por ter sua estrutura silábica bem-marcada, contribuem para que a ortografia se aproxime da transparência. Contudo são os padrões silábicos, denominados complexos, que podem constituir-se em dificuldade para as crianças no ciclo de alfabetização, o que exigirá do professor ensino explícito. Por padrão si- lábico complexo, compreendemos aquele em que se acrescenta ao padrão canônico CV um segmento consonantal pré-vocálico, ou seja, duas consoantes anteriores à vogal — CCV — (por exemplo: bra-ço, li-vro, blu-as) ou, ainda, uma consoante antes e outra após a vogal — CVC — por exemplo: tar-de, car-ta, for-mi-ga). O padrão silábico CCV é entendido como o mais difícil no processo de aprendizagem da escrita, pelo fato de causar estranheza à criança ao trazer duas consoantes juntas. Todavia essa dificuldade pode ser atenuada pelo professor ao ensinar que são apenas duas as consoantes que podem ocupar a segunda posi- ção, sendo a letra R (prova, trabalho, graveto) e a letra L (bloco, flexível, globo). Geralmente, os erros mais frequentes cometidos por crianças, no processo de apropriação da linguagem escrita, está na omissão da segunda consoante — em vez de escreverem graveto, escrevem GAVETO — ou na troca de posição da segunda consoante — GARVETO. O quadro apresenta os 11 padrões silábicos do português brasileiro, listados em ordem de- crescente de frequência: a sílaba CV é a mais frequente, constituindo cerca de dois terços das sílabas do português brasileiro, por isso, denominada sílaba canônica. Observe que a vogal é sempre o núcleo da sílaba, podendo constituir, ela sozinha, uma sílaba: localize a sílaba V no quadro e veja os exemplos. Se precedida de uma só consoante, a vogal constitui a sílaba canô- nica CV, a primeira no quadro, por ser a mais frequente. Mas há sílabas constituídas de duas vogais, sem nenhuma consoante: veja os exemplos de palavras com sílaba VV no quadro. A sílaba CV pode tornar-se mais complexa se seguida de mais uma vogal — CVV — ou precedida ou sucedida por mais de uma consoante, padrões silábicos chamados “complexos”. Os quatro últimos padrões silábicos do quadro são os mais complexos, por isso, não os incluiremos na discussão sobre padrões silábicos no ciclo de alfabetização — não só por sua complexidade, mas também porque aparecem em palavras pouco frequentes no vocabulário da criança, com raras exceções. Vamos discutir a aprendizagem pela criança dos sete primeiros padrões do quadro. Analise cada um e observe sua presença nas palavras apresentadas como exemplo. Fonte: adaptado de Soares (2020). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 UNIDADE 4 132 De qualquer modo, parafraseando Cagliari (1998), inicialmente, o objetivo con- siste apenas em escrever. Portanto, o professor não precisa se preocupar com a ortografia, mas isso não significa abandoná-la. À medida que o aluno adquire a técnica da escrita e escreve com fluência, o docente poderá introduzir o segun- do aspecto do nosso sistema de escrita, a grafia das palavras de acordo com o modelo ortográfico estabelecido. Importante dizer que o ensino da ortografia se inicia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas não se encerra nele. É função do professor das demais etapas oportunizar a aprendizagem da ortografia, esclarecer dúvidas e ensinar tudo aquilo que o aluno precisa saber. Ensinar é a palavra-chave. A ortografia precisa ser ensinada na escola, e não apenas avaliada. A escola exige do aluno a escrita correta do que escreve, porém oferece poucas situações em que aluno e professor reflitam acerca das dificuldades ortográficas de nossa língua. Assim, “[...] é preciso superar esse desvio: em vez de se preocupar basicamente em avaliar, verificando o conhecimento ortográfico dos alunos, a escola precisa investir mais em ensinar, de fato, a ortografia” (MORAIS, 2002, p. 1). 133 Quando o professor apaga uma palavra escrita incorretamente pelo aluno e escreve corretamente no lugar, acaba gerando atitudes ineficientes, pois o aluno não mais se preocupa com a ortografia, já que o professor corrige. Outra prática pedagógica comumente aplicada pelos docentes em sala de aula refere-se às longas cópias para decorar a ortografia. Esse tipo de tarefa é mais um castigo do que subsídio à aprendizagem. O que se espera do aluno é que conheça a ortografia das palavras mais frequentes e consiga resolver suas dúvidas ortográficas, quando necessário. Não podemos compactuar com a ideia de que os erros ortográficos sejam fon- tes de censura e de discriminação entre crianças e adultos, seja dentro da escola, seja fora dela. Você já vivenciou situações em que pessoas se sentiram constrangidas, ao precisarem escrever seus próprios textos e demonstrarem medo de errar? Acredito que muitos de nós já vivemos e acompanhamos situações como a descrita, portanto, enquanto educadores, devemos rever princípios e concepções que oportunizam o ensino da ortografia, de modo que esta seja, realmente, uma ferramenta de emanci- pação de nossos alunos, e não um instrumento de punição nas mãos de professores. Quando nos referimos à escrita correta de uma palavra, estamos tratando de convenção, ou seja, algo definido socialmente. Foram muitas as reformas orto- gráficas que vivenciamos, atualmente, temos uma norma para letras e dígrafos e para o emprego de acentuação e a segmentação de palavras. Para Morais (2002, p. 4), “A ortografia é uma convenção social que ajuda a estabelecer a comunica- ção escrita”. O autor prossegue ao afirmar que: “A ortografia funciona como um recurso para cristalizar na escrita diferentes maneiras de falar dos usuários da mesma língua. Escrever de forma unificada facilita a tarefa de se comunicar por escrito” (MORAIS, 2002, p. 4). A aprendizagem da escrita que considera a relação grafema e fonema é importante? Como deve ser o trabalho do professor para que o aluno possa aprender a ler e escrever de maneira prazerosa? PENSANDO JUNTOS UNIDADE 4 UNIDADE 4 134 Dito isto, não é cabível defendermos a ideia de que cada pessoa deveria escrever a seu modo, já que a comunicação entre sujeitos ficaria comprometida. Talvez, você esteja se perguntando: então, como devo conduzir o ensino da ortografia? Uma boa estratégia é promover situações permanentes de escrita de textos. Quando o ensino da escrita é sistematizado, permite ao aluno refletir sobre suas dificulda- des ortográficas e, consequentemente, tornar-se melhor escritor. À medida que passa a automatizar a escrita correta de determinadas palavras, a criança investe mais atenção na composição do texto, preocupando-se, a partir de então, com a organização das ideias e como registrá-las no papel. Segundo Morais (1998, p. 20), “ A criança inicialmente se apropria do sistema alfabético; num pro-cesso gradativo [...] aos poucos ‘domina a base alfabética’. [...] O que o aprendiz nessa fase ainda não domina, porque desconhece, é a norma ortográfica [...] ainda não internalizou as formas escritas que a norma ortográfica convencionou serem as únicas autorizadas. Nesse cenário, cabe ao professor, para além da aprendizagem do sistema de escrita alfabética, oportunizar a aprendizagem das convenções que conferem determina- da grafia em situações em que outras grafias são, também, possíveis, permitindo, com isso, a aprendizagem da norma ortográfica na criança, para além de alfabética. NOVAS DESCOBERTAS Título: Alfabetizando sem o Bá-Bé-Bi-Bó-Bu Autor: Luiz Carlos Cagliari Editora: Scipione Sinopse: um panorama crítico da alfabetização no mundo e no Brasil e seu reflexo na vida escolar dos alunos são o que oferece essa obra, que reúne teoria e prática da alfabetização, com produção de textos espontâneos, alfabe- tos, erros, ditado, cópia, leitura, interpretação de textos e ortografia. Todos esses tópicos são acompanhados de suporte técnico para aplicação das sugestões, dos exemplos e dos comentários metodológicos, pedagógicos e linguísticos. 135 O nosso sistema de escrita é alfabético, porém não ocorre sempre uma única relação entre a letra e o som. O ideal, para uma escrita alfabética pura, seria a relação de ambas, ou seja, que cada letra correspondesse a um som e cada som correspondesse a uma letra. No entanto, de todo nosso alfabeto, poucas letras apresentam essa regularidade simples. No livro intitulado Guia Teórico do Alfa- betizador, Lemle (1999) expõe que, apenas, as letras P, B, T, D, F, V e A são casos de correspondência biunívoca, ou seja, cada uma dessas letras possui apenas um som independentemente do lugar que está na palavra. Alguns autores, como Morais (2000), denominam os casos de correspondência biunívoca de fonográficas. As Imagine-se em sala de aula e alguns alunos, todas as vezes que escrevem palavras em que a letra L tem som de U, utilizam somente a letra U. Quais estratégias você, enquanto profes- sor(a), utilizaria para que o aluno compreendesse a forma correta da escrita dessas palavras? PENSANDO JUNTOS UNIDADE 4 UNIDADE 4 136 outras letras do nosso alfabeto fazem parte do segundo tipo de relação existente, chamada poligamia, ou poliandria, ou, ainda, correspondência não biunívoca. “Chama-se poligamia o casamento de um homem com várias mulheres, e po- liandria o casamento de uma mulher com vários homens” (LEMLE, 1999, p. 18). A autora relaciona esses termos às letras que apresentam mais que um som. Analisaremos alguns casos: a vogal E, no final da palavra, em muitas regiões do país, apresenta o som de I: Exemplos: Leiti, para leite Penti, para pente Corti, para corte O mesmo acontece com a vogal O em posição final de palavras, em algumas regiões, são pronunciadas com som da vogal U. Exemplos: Copu, para copo Muru, para muro Socu, para soco No caso da letra L, podemos verificar como o seu som pode ser alterado de- pendendo da posição que está. Se o L se encontra diante de uma vogal, deve ser pronunciado com o som de uma consoante lateral, como em: lugar, limão e lata. Todavia, se esta mesma letra estiver no final da palavra ou no final de uma sílaba, terá o som de U, como em: altura, calçado, sol e difícil. Ao encontro dessa discus- são, trazemos as contribuições de Soares (2018), ao postular que as relações fone- ma-grafema, na ortografia do português brasileiro, são classificadas em: regulares, regulares contextuais e irregulares. Provavelmente, você esteja se questionando: mas o que isso significa? Como identificar essas relações na escrita da criança? Segundo a autora, as relações regulares são aquelas cujo fonema é representado DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 137 – Quadro 4 - Relações regulares fonema-grafema consoantes INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a relações regulares fonema-grafema consoantes, retratada por um quadro com três colunas, a primeira para fonemas, a segunda para grafema, e a terceira para exemplos, sendo: FONEMA: /p/; GRAFEMA: p; EXEMPLOS: pato, sapo, prato, placa FONEMA: /b/; GRAFEMA: p; EXEMPLOS: beco, cabo, bravo, bloco FONEMA: /t/; GRAFEMA: t; EXEMPLOS: tela, mato, letra, troco. FONEMA: /d/; GRAFEMA: d; EXEMPLOS: dado, lodo, caderno, padre. FONEMA: /f/; GRAFEMA: f; EXEMPLOS: fato, frase, garfo, flanela. FONEMA: /v/; GRAFEMA: v; EXEMPLOS: vida, novo, livro, navio. FONEMA: /m/; GRAFEMA: m; EXEMPLOS: mala, camelo, amora, amigo. FONEMA: /n/; GRAFEMA: n; EXEMPLOS: navio, canil, cenoura, nuvem. FONEMA: /ɲ/; GRAFEMA: nh; EXEMPLOS: ninho, farinha, vinho, banho. FONEMA: /ʎ/; GRAFEMA: lh; EXEMPLOS: ilha, milho, trilho, ervilha. FIM DESCRIÇÃO. 137 por um, e apenas um, grafema consonantal, independentemente de sua posição na palavra (relações biunívocas), e não oferece dificuldade à criança que já se encontra alfabética. No quadro a seguir, é possível identificar essas relações: FONEMA GRAFEMA EXEMPLOS /p/ p pato, sapo, prato, placa /b/ p beco, cabo, bravo, bloco /t/ t tela, mato, letra, troco /d/ d dado, lodo, caderno, padre /f/ f fato, frase, garfo, flanela /v/ v vida, novo, livro, navio /m/ m mala, camelo, amora, amigo /n/ n navio, canil, cenoura, nuvem nh ninho, farinha, vinho, banho lh ilha, milho, trilho, ervilha Quadro 4 - Relações regulares fonema-grafema consoantes / Fonte: Soares (2018, p. 297). Em se tratando das relações regulares contextuais, podemos ter um mesmo fone- ma representado por mais de um grafema, porém essa representação é previsível, ou seja, determinada pelo contexto, logo, a denominação regular contextual. Im- portante mencionar que não temos muitos casos de relações regulares contextuais em relação à representação de fonemas por consoantes. Acompanhe essas regras: FONEMA GRAFEMAS CONTEXTO EXEMPLOS /k/ • c • qu • antes de a, o,u • antes de e, i • cavalo, sacola, cubo, campo, compra • queda, pequeno, quilo, esquina /g/ • g • gu • antes de a, o, u • antes de e, gato, gota, agudo, ganso, gongo guerra, guitarra, guindaste UNIDADE 4 UNIDADE 4 138 FONEMA GRAFEMAS CONTEXTO EXEMPLOS /h/ • r no início da palavra no fim de sílaba entre vogais rato, rua rio, real, roda carta, morte, berço, curva carro, marreco, pirraça, morro • r • entre vogais • em sílaba CCV cara, fera, ferida, censura prata, cobra, tigre, greve /l/ • l • no início de sílaba • no fim de sílaba lua, bola, vale, camelo, lírio mel, sal, calma, canil, farol, soldado Quadro 5 - Relações regulares contextuais - consoantes / Fonte: Soares (2018, p. 299). No que tange às relações fonema-grafema irregulares, também denominadas relações arbitrárias, são representadas pelos fonemas /z/, /s/, , . Lemle (1999 apud SOARES, 2018) explica que existe, nestes casos, uma situação de concorrência em que mais de uma letra, na mesma posição, pode servir para representar o mesmo som. Tais relações estão expressas no quadro que segue: FONEMA GRAFEMA EXEMPLOS /Ӡ/ j (diante de qualquer vogal) g (diante de e ou i) jeito, jejum, jiló, canjica, caju, jovem, laranja gente, gelo, gelatina, girafa, mágico, gibi /z/ s z x casar, mesa, asilo, cesta, mês, famoso azar, zebra, azul, paz, cruz, anzol, certeza exemplo, exame, texto, sexta DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 137 – Quadro 5 - Relações regulares contextuais - consoantes INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a relações regulares contextuais - consoantes, retratada por um quadro, com quatro colunas e seis linhas, a primeira coluna se refere a fonema, a segunda sobre grafemas, a terceira sobre contexto e a quarta sobre exemplos, sendo: FONEMA:/k/; GRAFEMAS: c, qu; CONTEXTO: antes de a, o,u; antes de e, i; EXEMPLOS: cavalo, sacola, cubo, campo, compra, queda, pequeno, quilo, esquina. FONEMA: /g/; GRAFEMAS: g, gu; CONTEXTO: antes de a, o, u, antes de e; EXEMPLOS: gato, gota, agudo, ganso, gongo guerra, guitarra, guindaste. FONEMA:/h/; GRAFEMAS: r, qu; CONTEXTO: no início da palavra no fim de sílaba entre vogais; EXEMPLOS: rato, rua rio, real, roda carta, morte, berço, curva carro, marreco, pirraça, morro. FONEMA: /r/; GRAFEMAS: r; CONTEXTO: entre vogais, em sílaba CCV; EXEMPLOS: cara, fera, ferida, censura prata, cobra, tigre, greve. FONEMA: /l/; GRAFEMAS: l; CONTEXTO: no início de sílaba, no fim de sílaba; EXEMPLOS: lua, bola, vale, camelo, lírio mel, sal, calma, canil, farol, soldado. FIM DESCRIÇÃO. 139 FONEMA GRAFEMA EXEMPLOS /s/ ss c ç sc sç x xc assento, pressa, posse, possei- ro, fóssil acento, prece, precoce, roceiro, dócil ruço, açúcar, paço, roça, justiça, peça crescer, crescimento, descer, nascente cresço, cresça, desço, desça máximo, auxílio, sintaxe exceção, excelente, excesso, excedente ch x chuva, chave, chinelo, bicho, boliche enxuto, enxada, faxina, lixo, maxixe Quadro 6 - Relações irregulares fonema-grafema - consoantes / Fonte: Soares (2018, p. 302). Para o alfabetizando, essa complicada relação entre som e letra é algo complexo e difícil de ser assimilada. Primeiro, ele capta a ideia de que cada letra é simbolizada por um som e cada som é simbolizado por uma letra (correspondência biuní- voca), mas, conforme as palavras vão jorrando, ele percebe que esse casamento monogâmico não era tão perfeito como pensava. O professor alfabetizador deve ter claro cada uma dessas variedades de correspondência grafema/fonema e es- tar apto para explicar, de forma clara, para o aluno que uma mesma letra pode representar sons diferentes, dependendo da posição que ocupa na palavra, pois o aluno, com certeza, terá dúvidas e irá querer saná-las com a ajuda do educador. UNIDADE 4 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 138– Quadro 6 - Relações irregulares fonema-grafema - consoantes INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a relações irregulares fonema-grafema - consoantes, ilustrado por um quadro com três colunas sendo a primeira sobre fonemas, a segunda sobre grafemas e a terceira sobre exemplos, contendo quatro linhas, sendo: FONEMA: /Ӡ/; GRAFEMA: j (diante de qualquer vogal) g (diante de e ou i); EXEMPLOS: jeito, jejum, jiló, canjica, caju, jovem, laranja gente, gelo, gelatina, girafa, mágico, gibi FONEMA: /z/; GRAFEMA: s, z, x; EXEMPLOS: casar, mesa, asilo, cesta, mês, famoso azar, zebra, azul, paz, cruz, anzol, certeza exemplo, exame, texto, sexta. FONEMA: /s/; GRAFEMA: ss, c, ç, sc, sç, x, xc; EXEMPLOS: assento, pressa, posse, posseiro, fóssil acento, prece, precoce, roceiro, dócil ruço, açúcar, paço, roça, justiça, peça crescer, crescimento, descer, nascente cresço, cresça, desço, desça máximo, auxílio, sintaxe exceção, excelente, excesso, excedente. FONEMA: /ʃ/ GRAFEMA: ch, x; EXEMPLOS: chuva, chave, chinelo, bicho, boliche enxuto, enxada, faxina, lixo, maxixe. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 4 140 O nosso sistema de escrita é alfabético, porém não ocorre sempre uma única relação entre a letra e o som. O terceiro tipo de relação existente entre sons e letras é a relação de concorrência, que, também, é um caso de poligamia, ou po- liandria, em que duas ou mais letras podem representar o mesmo som, estando no mesmo lugar. Veremos alguns exemplos de letras que se rivalizam: C, S, Ç e SS. Veja os exemplos: macieira, ansiedade, caçador e assalto. Além dessas, podemos destacar, também, as letras G/J e a letra X, que tem vários sons: SS, S, CS, CH e Z. Para clarificar e exemplificar o trabalho de análise grafema/fonema que pode ser feito com a criança usando termos que ela possa entender, procuramos cons- truir uma tabela explicativa com exemplos, usando as letras que não apresentam correspondência biunívoca. C Antes das vogais A, O e U, apresenta um som (casa, coisa, curió) e, antes das vogais E e I, seu som rivaliza com a letra S (cebola, cine- ma). Pode, ainda, aparecer em palavras, como: cacto e conectado. E/I No final de muitas palavras, algumas regiões pronunciam I no lugar de E: redi, para rede, genti, para gente. NOVAS DESCOBERTAS Título: Guia Teórico do Alfabetizador Autora: Miriam Lemle Editora: Ática Sinopse: poucos períodos da vida são tão importantes quanto os momentos iniciais de alfabetização. O contato com as primeiras letras será decisivo em mais de um aspecto — nele, estará traçado o futuro do aluno e do cidadão. O livro apresenta ao professor os fundamentos teóricos para a compreensão dos fatos da língua. Na sala de aula, durante essa incursão inaugural no universo letrado, é que é preciso falar da língua, de suas unida- des, de seus mecanismos, de sua representação. Comentário: no livro Guia Teórico do Alfabetizador, você encontrará uma vasta riqueza de detalhes em relação à escrita das palavras. Atualmente, é um dos melhores livros para o professor alfabetizador. 141 G/J Antes das vogais A, O e U, apresenta um som (gato, gota, guri) e, antes das vogais E e I, seu som rivaliza com J (gelo, jeito, girafa, jiló). Podemos encontrar também a letra G acompanhada de duas vogais juntas (água, alguém, linguiça) ou, ainda, em palavras, como: significado e signo. H No início da palavra, não tem som: herói, hora. Podemos encon- trá-lo junto das consoantes N, L e C: ninho, palha, cheio. Quando está junto ao C, seu som rivaliza com X: chacará, cheiro. L Antes das vogais (lápis, letra, linha); acompanhado pelo H (olho, ilha); ou, ainda, no final de palavras ou sílabas com som de U (animal, almoçar). M Antes das vogais (maçã, esmola); no final da sílaba, provocando a nasalidade da vogal precedente (atum, alguém), e antes de p/b também (bomba, também). N Antes das vogais (anta, negócio); no final da sílaba, provocando a nasalidade da vogal precedente (antena, entrada) e junto ao H (anjinho, pinha). O No final de muitas palavras, algumas regiões pronunciam U no lugar de O: duru, para duro, ouru, para ouro. Q Após o Q, sempre está a letra U, ambos só podem aparecer ante- cedendo as vogais A, E, I, O: quarenta, querido, quiabo, quociente. R Seu som é diferente, dependendo do lugar em que aparece na palavra. No início, a letra R tem som forte (remédio, rato) e, entre duas vogais, seu som é brando (aranha, careta). Para que seu som seja forte no meio de duas vogais, usa-se RR (carroça, mar- rom) e, ainda, pode aparecer no final da sílaba (erva, amor). S Antes das vogais (sapo, sola) e, antes de E e I, seu som, porém, rivaliza-se com a letra C (semente, sinal). No meio de duas vogais, tem som de Z (casa, pesado). Também, podemos encontrar SS, que tem o mesmo som de C e de Ç (assado, osso, caçador, açúcar). Aparece, ainda, antes de C e Ç (nascer, desça). No final da sílaba ou para indicar plural das palavras: esmeralda, cadeiras. UNIDADE 4 UNIDADE 4 142 X Antes das vogais (xale, xícara) e apresenta, também, o mesmo som de: CH: chácara, chinelo. S: texto, extra. SS: máximo, aproximado. CS: crucifixo, táxi. Z: exame, exato. Z Antes das vogais (azedo, azar) e no final da sílaba (luz, infelizmente). Quadro 7 - Relação entre letra e som / Fonte: as autoras. É claro que o professor não poderá realizar estudos como este apresentado no quadro todos de uma única vez. Conforme as dúvidas vão aparecendo ou o professor vai percebendo que sua turma apresenta dificuldade em determina- das relações, sons e letras, deve, dentro de um contexto, sistematizar a escrita e analisar. Como já citado anteriormente, atividades de pesquisas são uma forma aconselhável, porém a criança não deve parar neste ato. Após os alunos terem pesquisado, o professor poderá, coletivamente, classificar todos os sons que a letra faz. Trabalhos de análises como este também podem ser feitos em grupos ou, até mesmo, individualmente. O professor deve sempre mediar e indicar caminhos para que a criança construa regras e tire suas conclusões em relação à escrita. Quanto mais uma letra apresentar relação de concorrência com outra, mais dúvida haverá na hora de escrever. Todos nós estamos sujeitos a momentos de insegurança, por isso, muitas vezes, temos que recorrer ao dicionário para saná- -las. Imagine uma criança que se depara com tantas palavras e tantos sons para relacionar. Esse aprendiz, para construir seu conhecimento do sistema de escrita, tem uma árdua tarefa, que poderá ser amenizada se tiver o apoio do professor para proporcionar a ele atividades elaboradas a partir de planejamentos conscien- tes e muito contato com a leitura e a escrita. Dessa forma, construirá, de maneira significativa, tais capacidades, ao fazer uso delas na sua prática social. 143 Diante dessa explanação, você pode se perguntar: quais os desafios da escola na cons- trução da escrita convencional? São nas aulas de Português e nas salas de alfabetização que a ortografia tem seu papel de destaque e, muitas vezes, serve como padrão de avaliação do aluno. Para Cagliari (2003, p. 350), “as pessoas gostam de dar pontos para a ortografia porque é uma questão que exige memorização e é do gosto delas exigir dos alunos que mostrem que decoraram o que foi ensinado”. O autor, ainda, explica que a ortografia nunca deveria ser objeto de avaliação, já que mesmo quem escreve muito corre o risco de se deparar com dúvidas na hora de escrever. As pessoas que não escrevem ou falam seguindo um padrão ortográfico são tratadas com certo precon- ceito pela sociedade e pela escola, principalmente quando o aluno faz uma produção textual e o que o professor avalia é apenas a escrita ortográfica, deixando de lado o conteúdo, a estrutura, as ideias e a criatividade de quem escreve. Entretanto será que a escrita ortograficamente correta tem mais valor do que toda a compreensão que o aluno depositou no momento que escreveu? Se formos analisar a grande maioria dos materiais que as escolas usavam e, ainda, usam, diríamos que sim. Ferreiro e Teberoski (1999), no livro Psicogênese da Língua Escrita, estudaram o desenvolvimento da língua escrita a partir da abordagem construtivista piagetiana e da psicolinguística contemporânea, descobriram as diversas fases, ou níveis, que envolvem a escrita pela criança (pré-silábico, inter- mediário I, silábico, silábico-alfabético e alfabético). Essa nova teoria veio con- testar a pedagogia tradicional, que considerava a aprendizagem da escrita como uma mera questão de associação grafema/fonema, ou seja, sons e letras. Ensinar Em relação às atribuições e às práticas da escola no processo de aquisição e compreensão da ortografia por parte do aluno, Neves (2014, p. 94) pontua que: “[...] cabe à escola dar a vivência plena da língua materna. Todas as modalidades têm de ser “valorizadas” (falada e escrita, padrão e não padrão), o que, em última análise significa que todas as práticas discursivas devem ter o seu lugar na escola. E mais uma vez se afirma, por outro lado, que à escola, particularmente, cabe o papel de oferecer ao usuário da língua materna o que, fora dela, ele não tem: o bom exercício da língua escrita e da norma padrão. E o que isso significa? Significa, especialmente, que à escola compete capacitar o aluno a produzir enunciados adequados, eficientes, “melhores”, nas diversas situações de discurso, enfim, nas diversas modalidades de uso”. Fonte: adaptado de Neves (2014). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 UNIDADE 4 144 o aluno a escrever corretamente, seguindo a escrita convencional, era papel do professor. A ortografia era alvo das grandes preocupações da escola. Com a descoberta da psicogênese da escrita, ou seja, a compreensão de como a escrita ocorre na cabeça da criança desde o início, fez com que os educadores passassem a reconhecer, nos erros da criança, o resultado de um trabalho in- telectual, em que ela é levada a descobrir a natureza do sistema da escrita que permeia sua vida. Dessa forma, se for feito um trabalho consciente por parte da escola, a criança conseguirá construir conceitos e sistematizar sua aprendizagem de forma significativa, sem que seja feita a lista de exercícios de fixação para o entendimento da ortografia. Frente a essa descoberta, a memorização de letras e sons, da mesma maneira que a ortografia como principal forma de avaliação, passou a ser tratada como metodologia ultrapassada e tradicional. Atualmente, exercícios de gramática e treinos ortográficos, para fixação, devem ser descartados do conteúdo de língua portuguesa. Exercícios soltos, repetitivos e fora de contextos pouco contribuem para o domínio da escrita convencional. Atividades de preencher lacunas, completar palavras com determinadas letras, completar orações, entre outras, para treinos, não prova que o aluno aprendeu a ler e escrever bem. Para Sérkes e Martins (1996), o professor não deve trabalhar com conteúdos estruturais, mas, sim, com análise de textos impressos e textos produzidos pelos próprios alunos. A partir do que a criança escreveu, o professor pode trabalhar a ortografia, por meio da autocorreção, bem como a coesão e coerência, por meio da codificação e reestruturação. A construção de conceito pela criança também ajuda no trabalho com a ortogra- fia. Por exemplo, se o professor percebe que muitas crianças da sala estão usando a letra N antes de P e B, poderá propor para a turma uma pesquisa de palavras com a letra M. Assim, o professor viabiliza a possibilidade de a criança perceber os diversos lugares onde essa letra aparece e faz a mediação para que descubra e construa o conceito de que deve usar M antes de P e B. Dessa forma, a criança é levada a refletir sobre a regra ortográfica e passará a ter mais cuidado na hora de escrever. Por meio de trabalhos como este e reescritas de textos em que a criança tem a chance de corrigir o que errou, pode-se perceber que a ortografia não será deixada de lado, mas estará garantida sem que se faça lista de exercícios de fixação para memorização. O ensino da ortografia passou a ser interpretado pelas escolas de forma errônea, com isso, muitos professores e pedagogos não sabiam que metodologia usavam para poder levar o aluno à escrita convencional. Como afirma Cagliari (2003, p. 351): 145 “ A situação de algumas escolas tem piorado recentemente por causa da ação de alguns professores e pedagogos que passaram de um extremo a outro. Antigamente exigiam a ortografia com todo rigor: se o aluno não soubesse tudo o que a cartilha apresentava, não saia da primeira série. Depois, com as novas idéias pedagógicas, passaram a entender que a ortografia não era mais tão importante assim, ou melhor, que o aluno podia escrever do jeito que quisesse desde que escrevesse. A ortografia seria aprendida depois, como parte do desenvolvimento escolar. Com base na segunda ideia colocada pelo autor, muitos educadores passaram a não corrigir mais a escrita da criança, deixando que ela escrevesse como pensa, sem mediar o processo de construção da escrita. Sendo assim, muitos alunos chegavam e, ainda, chegam aos anos mais adiantados do Ensino Fundamental com erros ortográficos “gritantes”. Com certeza, a forma que a escola via o ensino da ortografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, principalmente na alfa- betização, precisava ser revista, porém não mediar e mostrar ao aluno a forma correta de escrever é desacreditar na capacidade que ele tem de aprender. Enfim, dúvidas em relação à escrita sempre surgirão. Cabe ao professor traba- lhar com reescrita de textos, instigar o aluno a usar o dicionário, fazer pesquisas, análises fonéticas, montar cartazes e estimular a leitura, que podem ser caminhos para o trabalho de ortografia com crianças do Ensino Fundamental. Não será por meio de listas de exercícios que o aluno conseguirá alcançar a escrita convencional. NOVAS DESCOBERTAS Título: Escritores da Liberdade Ano: 2007 Sinopse: quando chega numa escola corrompida pela violência e ten- são racial, a professora Erin Gruwell combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula faça a diferença na vida dos estudantes. Ago- ra, contando suas próprias histórias e ouvindo as dos outros, uma turma de adolescentes supostamente indomáveis descobrirá o poder da tolerância, recuperará suas vidas desfeitas e mudará seu mundo. UNIDADE 4 UNIDADE 4 146 Outro grande desafio enfrentado pelos professores refere-se ao trabalho com a gramática em sala de aula. A prática de reflexão linguística, para o ensino da gra- mática, nem sempre é bem quista pelos docentes, que acabam por manter, apenas, o estudo da gramática normativa. Podemos dizer que, até alguns anos atrás, o ensino da Língua Portuguesa se resumia ao ensino da gramática normativa. Na maioria das vezes, tratava-se de uma tarefa mecanizada e repetitiva que visava à memorização das regras gramaticais. Tal metodologia não priorizava a reflexão, em relação ao uso da língua, e a aplicação dos conceitos e regras se dava em frases prontas e elaboradas exclusivamente para explicá-las. O texto, como unidade fundamental da língua materna, era ignorado. Assim, o ensino da gramática e o ensino da língua propriamente dito se distanciam con- sideravelmente, e a real aplicabilidade dessas regras não acontecia na produção textual, tanto oral quanto escrita. Atualmente, embora, ainda, existam divergências, o estudo da gramática tem ganhado uma roupagem nova, a contextualização tem sido muito difundida, alguns teóricos continuam a defender o uso e o ensino da gramática normativa, e outros defendem o uso de uma gramática descritiva que parta das construções linguística dos falantes. Essa polêmica e indecisão podem causar sérios proble- mas se o professor não estiver preparado e em constante trabalho de pesquisa e reflexão de suas práticas pedagógicas, em relação ao ensino da Língua Portuguesa. De acordo com Chacorowski e Hintze (2010, p. 115): “ Há muito se discute o porquê do ensino da gramática na escola. De um lado, estão os que defendem o retorno dos manuais de gramática às salas de aula, com regras e normas a serem memorizadas pelos alunos. Há também, os que defendem que o trabalho com a gramática seja feito apenas a partir da análise linguística dos textos dos alunos, correndo o risco de se realizar um trabalho assistemático que deixa de contemplar grande número de recursos gramaticais da língua. Com um enfoque diferente do adotado pela gramática tradicional, que se vol- ta, quase exclusivamente, à classificação gramatical (morfológica e sintática), a educação, na atualidade, não propõe eliminar esse tipo de conteúdo, mas redire- cionar as aulas de Língua Portuguesa de forma que levem à aquisição de outras noções, tais como: enunciado, texto e discurso, intencionalidade linguística, papel 147 da situação de produção na construção do sentido dos enunciados, preconceito linguístico, variedades linguísticas, semântica, variações de registro etc. Nesse sentido, a língua deve ser tomada não como um sistema fechado e imutável de unidade e leis combinatórias, mas, sim, como um processo dinâmico e interativo. Assim, o trabalho linguístico não pode se restringir ao nível de uma única frase ou sentença. Ele deve ir muito além, deve atingir o texto e, por con- sequência, o discurso, ou seja, deve acontecer de acordo com o contexto em que se dá o enunciado linguístico, uma vez que existe um processo de produção em interlocutores que estão envolvidos. Diante disso, um processo variado é o mais indicado. É importante que o trabalho pedagógico intercale algumas noções da gramática normativa, como seus aspectos prescritivos, e uma gramática descri- tiva. Além disso, são fundamentais as metodologias que contemplem a reflexão sobre a semântica e o discurso. De acordo com Travaglia (2013), para ensinar gramática e explorar os co- nhecimentos linguísticos, devemos recorrer à gramática de uso e à gramática reflexiva. Quanto à gramática de uso, são atividades em que os alunos utilizam os recursos linguísticos em frases e em textos, tanto nos momentos de produção textual como na compreensão. Nessas situações, ela emprega os mecanismos já internalizados da língua que são utilizados automaticamente. Como exemplos de atividades, incluem-se: modificação de frases e textos, exercícios estruturais, de vocabulário e de variedades de língua e seu uso, entre outros. Em relação à gramática reflexiva, os alunos desenvolvem atividades que tra- balham, essencialmente, com a significação dos recursos linguísticos e sua apli- cação em situações de interação comunicativa. Para tanto, eles são orientados a explicar como entendem determinados recursos da língua, em quais situações devem ser utilizados, a finalidade ao ser empregados e quais efeitos de sentido produzem. Ao encontro da explanação, temos os estudos de Possenti (1996), o qual postula que, antes de qualquer discussão referente ao tema, é necessário que compreendamos o conceito de gramática. O estudioso procura simplificar a definição de gramática como sendo o conjunto de regras linguísticas: as que devem ser seguidas, as que são seguidas e as regras que o falante domina e faz uso ao falar. Diante dessa definição, apresenta três tipos de gramática: gramática normativa, gramática descritiva e gramática internalizada. Por gramática normativa, considera a língua como um conjunto de regras que devem ser seguidas e obedecidas. O domínio das regras visa à aquisição da UNIDADE 4 UNIDADE 4 148 variedade padrão na escrita e na oralidade. Essa concepção de gramática valoriza a modalidade escrita, logo, a fala deve respaldar-se nas estruturas que regem a escrita. Quanto à gramática descritiva, trata-se de um conjunto de regras que são seguidas e, portanto, regem a estrutura real de enunciados produzidos pelos falantes. A oralidade é o principal objeto de estudo da gramática descritiva, e ela oportuniza uma série de possibilidades no processo de ensino e de aprendizagem. Em relação à gramática internalizada, explana que é o conjunto de regras domi- nadas pelo falante que permitem a interação entre indivíduos de uma mesma língua, ou seja, “refere-se a hipóteses que habilitam o falante a produzir frases ou seqüências de palavras de maneira tal que essas frases e seqüências são compreen- síveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua” (POSSENTI, 1996. p. 69). Campos (2014) contribui com a discussão, ao defender que o trabalho com a gramática deve ser proposto, tendo, como objetivo, a reflexão sobre a linguagem e as estruturas linguísticas, bem como colaborar na leitura, na interpretação, na produção e na reescrita textual, no intuito de promover a aprendizagem e o de- sempenho linguístico dos estudantes. Assim sendo, a prática de análise linguística em sala de aula constitui-se um importante instrumento docente para auxiliar os alunos nas reflexões acerca dos distintos usos da língua. Nessa direção, en- contram-se os estudos de Mendonça (2006), o qual expõe, no quadro a seguir, as diferenças entre o ensino isolado de gramática e a aquisição dos conhecimentos linguísticos por meio da análise linguística. ENSINO DE GRAMÁTICA PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e invariável. Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita às inter- ferências dos falantes. Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de gramática não se relacionam necessariamente com as de leitura e de produção textual. Integração entre os eixos de ensino: a Análise Linguística é ferramen- ta para a leitura e a produção de textos. Metodologia transmissiva, baseada na exposição dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento. Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação dos casos particulares para a conclusão das regularidades/regras). 149 ENSINO DE GRAMÁTICA PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA Privilégio das habilidades metalin- guísticas. Trabalho paralelo com habilidades metalinguísticas e epilinguísticas. Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de ensino, abordando isoladamente e em sequência mais ou menos fixa. Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de leitura e escrita), que remetem a vários ou- tros objetos de ensino (estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e retomados sempre que necessário. Centralidade na norma padrão. Centralidade dos efeitos de sentido. Ausência de relação com as especi- ficidades dos gêneros, uma vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando normativa, desconsidera o funcionamento desses gêneros nos contextos de interação verbal. Fusão com o trabalho com os gêne- ros, na medida em que contempla justamente a intersecção das con- dições de produção dos textos e as escolhas linguísticas. Unidades privilegiadas: a palavra, a frase e o período. Unidade privilegiada: o texto. Quadro 8 - Ensino de gramática x prática de análise linguística / Fonte: Mendonça (2006, p. 207) Nesse sentido, compete ao professor, nas aulas de gramática, propiciar aos alunos que aprendam de forma reflexiva, o que os tornará mais eficientes no uso oral e escrito da língua. Os estudos de gramática devem possibilitar aos discentes pensar sobre a língua, além de experimentarem, trocar ideias, criar alternativas, buscar respostas, levantar hipóteses, enfim produzir conhecimentos coletivamente. Na ocasião, você pode até se perguntar: é preciso mesmo propor o ensino da gramática em sala de aula? Eu afirmo que sim, pois oportuniza à criança um nível mais elevado de desenvolvimento da fala, proporcionando autonomia dos pensamentos, das funções mentais, entre outras capacidades. Respaldados em Campos (2014, p. 20), sublinhamos UNIDADE 4 DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 148 – Quadro 8 - Ensino de gramática x prática de análise linguística INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a ensino de gramática x prática de análise linguística, ilustrada por um quadro com duas colunas e oito linhas, a coluna da esquerda sobre ensino de gramática e da direita sobre prática de análise linguística, conforme: ENSINO DE GRAMÁTICA: Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e invariável. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita às interferências dos falantes. ENSINO DE GRAMÁTICA: Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de gramática não se relacionam necessariamente com as de leitura e de produção textual. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Integração entre os eixos de ensino: a Análise Linguística é ferramenta para a leitura e a produção de textos NSINO DE GRAMÁTICA: Metodologia transmissiva, baseada na exposição dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação dos casos particulares para a conclusão das regularidades/regras). ENSINO DE GRAMÁTICA: Privilégio das habilidades metalinguísticas. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Trabalho paralelo com habilidades metalinguísticas e epilinguísticas. ENSINO DE GRAMÁTICA: Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de ensino, abordando isoladamente e em sequência mais ou menos fixa. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de leitura e escrita), que remetem a vários outros objetos de ensino (estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e retomados sempre que necessário. ENSINO DE GRAMÁTICA: Centralidade na norma padrão. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Centralidade dos efeitos de sentido ENSINO DE GRAMÁTICA: Ausência de relação com as especificidades dos gêneros, uma vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando normativa, desconsidera o funcionamento desses gêneros nos contextos de interação verbal. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Fusão com o trabalho com os gêneros, na medida em que contempla justamente a intersecção das condições de produção dos textos e as escolhas linguísticas. ENSINO DE GRAMÁTICA: Unidades privilegiadas: a palavra, a frase e o período. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: Unidade privilegiada: o texto. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 4 150 “ [...] o ensino da gramática, desde que feito de forma adequada, tem um papel fundamental na melhoria do desempenho linguístico dos alunos. O estudo bem orientado da gramática possibilita aos alunos aprenderem a pensar por si mesmos e a formularem os seus pontos de vista sobre a língua de forma mais criteriosa, racional e consequente. Assim, com o desenvolvimento de sua competência linguística, abre-se para eles um caminho mais seguro para a apren- dizagem efetiva de novos conhecimentos. Para isso, o que deve ocorrer, então, é a alteração na prioridade dada aos conteú- dos, inclusão de novos conceitos e maior dimensão aos conteúdos linguísticos. Isso, consequentemente, implicará uma mudança de postura e aceitação por parte do professor, haja vista que ele deverá compreender a estrutura complexa da língua materna para, então, desenvolver as práticas gramaticais de forma que o aluno consiga, realmente, aplicar o que aprendeu em situações discursivas reais. 151 Que tal conhecer um pouco mais sobre o ponto de articu- lação dos fonemas e sobre pregas, ou cordas vocais, e sua função na emissão dos sons surdos e sonoros? Acesse o podcast e conheça mais sobre o assunto. Caro(a) acadêmico(a), nesta quarta unidade, destacamos o trabalho com a gramática no Ensino Fundamental e os conceitos básicos em relação ao ensino da ortografia na escola — essa que é uma das grandes preocupações dos profes- sores que trabalham com alfabetização e Ensino Fundamental. A grande dúvida, porém, é: como ensinar para atender às exigências educacionais atuais? Como trabalhar conteúdos que sejam atraentes para as crianças e façam sentido em sua vida? São essas e muitas outras as indagações que temos que fazer em nosso momento de preparar aulas e refletir acerca da gramática em situação real de ensino e aprendizagem. Assim, vimos que a ortografia não pode ser deixada de lado ou atrelada a exercícios de fixação como muitos educadores pensam quando alguns autores propõem trabalhar a ortografia de maneira contextualizada, dentro do texto, e não como um ato mecânico, de memorização ou, ainda, como instrumento de avaliação. O trabalho de ortografia com crianças é um desafio constante, pois nosso sistema de escrita é complexo. Levar a criança a entender as complicadas relações entre sons e letras é uma tarefa árdua, que exige muito preparo e conhe- cimento do sistema da escrita por parte do educador. Esperamos, no entanto, ter levado você a refletir e agregar conhecimentos em relação a esse tema e ter contribuído para sua prática pedagógica. Além disso, o que se deve deixar claro, diante do exposto, é que os conteúdos gramaticais devem ser trabalhados no Ensino Fundamental, contudo essa prática precisa ser realizada de forma funcional, em que a aplicabilidade dos conteú- dos seja justificada pelo uso real da língua, contribuindo sempre para que todas as situações de produção sejam eficientes. O mais importante, neste contexto, é que você, aluno(a), tenha claro que, quanto mais sentido o conteúdo fizer para a criança, mais próximo estaremos de uma aprendizagem significativa com trans- formação e desenvolvimento humano. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12421 152 1. Desenvolva um pequeno texto dissertativo que trate dos principais desafios que a escola atual enfrenta em relação ao ensino da ortografia. Em seu texto, evidencie o papel do professor nessa circunstância. 2. O nosso sistema de escrita é alfabético, porém não ocorre sempre uma única relação entre a letra e o som, e ela se mostra como algo complexo e de difícil assimilação para o alfabetizando. Nesse sentido, o professor alfabetizador precisa ter claro cada uma dessas variedades de correspondência para que possa explicá-las, de forma clara, para o aluno. Sobre esse contexto, explique a correspondência biunívoca e apresente um exemplo de aplicação. 3. Dentre as concepções de linguagem que permeiam o ensino da língua portuguesa, considerando o ensino e o trabalho com a gramática, alguns aspectos devem ser considerados, visando à formação do aluno com vistas a uma comunicação que se efetive na prática. Analisando o fragmento de texto exposto, ressalta-se que: I - Trabalhar com a escrita requer conhecimentos gramaticais e estes devem ser trabalhados concomitantemente ao desenvolvimento das atividades práticas. II - O profissional docente deve primar pelo ensino da leitura e produção textual, os ele- mentos gramaticais não são importantes no vocabulário nem na estrutura do texto. III - No ensino tradicional da língua, o professor trabalha a teoria visando à formação de alunos que saibam falar corretamente, haja vista que é a linguagem verbal a mais significativa. É correto o que se afirma em: f) I, apenas. g) II, apenas. h) III, apenas. i) II e III, apenas. j) I, II e III. 5Sequência Didática:Apresentação de um Procedimento a Partir da Literatura Infantil Na unidade 5, você terá a oportunidade de refletir sobre as contribui- ções da literatura infantil para o desenvolvimento da aquisição linguís- tica da criança, além de seu papel na formação do sujeito leitor, crítico e reflexivo. Discorreremos sobre o ensino sistematizado da linguagem escrita, por meio de procedimentos decorrentes de Sequência Didática (SD), e, por fim, apresentaremos uma proposta de sequência didática a partir de uma literatura como possibilidade de encaminhamento em sala de aula. Dra. Cristiane Batistioli Vendrame Me. Cristiane Gonçalves de Aguiar Bonnici Me. Marcia Maria Previato de Souza UNIDADE 5 156 Não é de hoje que circula, no Brasil, a ideia de que devemos trabalhar com se- quência didática, seja como material concreto, para o domínio da leitura e da produção de texto, seja como objeto de ensino propriamente dito. Ao longo da minha experiência enquanto profissional da educação, deparei-me com alguns obstáculos, dentre eles, o fator “tempo”. Este, por sua vez, era escasso à quantidade de conteúdo determinado no programa e, consequentemente, insuficiente para ministrar o que desejava ensinar em cada etapa escolar. Diante dessa proble- mática, indagamos: como podemos organizar o ensino de modo a atender ao programa proposto? Existe a possibilidade de otimizar nossas ações didáticas em sala de aula, a fim de promover as máximas elaborações humanas aos educandos? Tendo, como ponto de partida, a pergunta inicial proposta, selecionar os con- teúdos a serem abordados e os procedimentos pelos quais estes serão conduzidos é imprescindível para efetivação de práticas docentes exitosas. O caminho para isso perpassa a elaboração do planejamento, em que consideramos a proposta curricular da instituição, atrelada à progressão de conhecimentos dos alunos, isto é, a evolução de um patamar elementar para o científico. Sendo assim, é essen- cial elaborar procedimentos didáticos variados e, ao mesmo tempo em que se avance com o conhecimento, retomar aqueles ainda não consolidados. Para isso, 157 a elaboração e implementação de sequência didática são um excelente recurso a contribuir com o desenvolvimento das capacidades de expressão oral e escrita dos alunos, em situações de comunicação diversas. Assim como Dolz-Mestre et al. (2001), acreditamos que ensinar consiste em transformar os modos de pensar, falar e fazer dos estudantes. Mas como promo- ver isso? Esta pode ser a sua dúvida nesse momento. Realmente, não é uma função simplista, requer do docente estudo, pesquisa, formação inicial e continuada e, sobretudo, apropriação de conhecimento científico. Diante dessa explanação, convido-o(a) a assistir ao vídeo do Professor Doutor Geraldo Peçanha de Almei- da, sobre sequência didática para o Ensino Fundamental I, disponibilizado por meio do QR Code. No vídeo indicado, temos uma proposta de sequência didática a ser desenvolvida entre as diversas áreas do conhecimento. A partir do exposto, selecione um tema gerador, como apresentado por Almeida, e elabore um es- quema ou nuvem de palavras de sequência didática como mostrado no vídeo. Frente ao conteúdo exibido no vídeo, destacamos o papel preponderante do professor enquanto autor de práticas educativas significativas e consistentes ao aprendizado dos discentes. Assim, ponderamos: é possível que a proposta expressa por Almeida seja efetivada em sala de aula? Registre suas reflexões e percepções em seu Diário de Bordo. UNICESUMAR UNIDADE 5 158 A partir de uma breve análise histórica, compreende-se que foi somente no final do século XVII e durante o século XVIII que começaram a produção de livros voltados para o público infantil. Tal fato se deu a partir da preocupação crescente de psicólogos e estudiosos da educação com o processo de aprendizagem e, con- sequentemente, com a construção da leitura e da escrita por parte das crianças. Partindo da premissa de que contar e ouvir histórias faz parte da nossa vida, estamos sempre conhecendo algo novo por meio de relatos que acontecem no nosso cotidiano. Assim, “todos temos necessidade de contar aquilo que vivencia- mos, sentimos, pensamos, sonhamos [...]” (KAERCHER; CRAID, 2001, p. 81). É bem verdade que todos nós lembramos de alguma história que ouvimos e sempre terá alguém que lembrará de alguma que contamos. Se alguém lhe perguntar qual a história infantil que você lembra, é bem provável que venha à cabeça histórias, como: Chapeuzinho Vermelho, Patinho Feio, Cinderela, Pinóquio, Os Três Porquinhos e várias outras. Seja ela qual for, você se lembrará do que aconteceu com os personagens e tudo que se passa no seu desenrolar. As his- tórias nos remetem a momentos mágicos, por isso, contar histórias para as crianças é tão importante, seja em casa, seja, principalmente, na escola. No ambiente escolar, ela precisa estar em contato com as histórias, pois são ferramentas essenciais para que o trabalho docente seja efetivamente atrativo e estimule um ensino eficaz. Atualmente, trabalhar com a literatura infantil na educação infantil e nos anos iniciais é um recurso que, em via de regra, ninguém contesta. Os livros infantis contribuem para o desenvolvimento da aquisição linguística da criança de manei- ra progressiva, tanto na oralidade quanto na escrita. Segundo Resende (1997), a utilização da literatura infantil deve ser de forma prazerosa e lúdica, isso significa que “dar o livro a criança como brinquedo é cultivar nela uma relação prazerosa, agradável e afetiva com o que ele veicula de valioso, em emoção e fantasia, para a interioridade humana” (RESENDE, 1997, p. 22). A literatura, quando bem trabalhada, favorece a formação do aluno leitor, e seu trabalho contínuo possibilitará que esse leitor seja crítico e reflexivo quanto aos textos que lê e à realidade que vivencia, por isso, é tão importante que o momento do trabalho com a lite- ratura seja convidativo e leve o aluno a envolver-se e participar ativamente. PENSANDO JUNTOS 159 Ler história para crianças é poder exercitar imaginação, envolver-se em emoções, sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever do autor, poder inserir-se nas brincadeiras das personagens e vivenciar a história adentrando um mundo de fantasia, além de sentir o que os personagens sentem, passar pelos perigos, tristezas, incertezas e, também, por suas vitórias e alegrias. Além disso, o contato com a literatura infantil faz com que o interesse pela leitura se aguce e, quando, mais tarde, forem solicitadas à criança leituras mais complexas, de textos didáticos ou clássicos da literatura, por exemplo, ela esteja preparada para isso. Na literatura em geral, como na literatura infantil, prevalece a aprimoração da cultura dos indivíduos, pois, por meio de uma história, é possível descobrir outros lugares, outras culturas e seus aspectos, enfim, outras formas de pensar e de agir. Pode levar também a compreensão da história, geografia, filosofia, política, sociologia, sem precisar saber que está aprendendo ciências tão im- portantes para o acúmulo de conhecimentos, visto que esses conceitos acabam se internalizando a partir do momento que o contato com eles é feito. Nesse sentido, vale dizer que, embora a literatura seja um importante instrumento pedagógico, ela o é pela diversidade de aspecto que apresenta, e não para que se trabalhe com cunho didático. NOVAS DESCOBERTAS Título: Coração de tinta - O livro mágico Ano: 2008 Sinopse: Mo Folchart e sua filha, Meggie, são apaixonados por livros. Desde pequena, Meggie teve o hábito de leitura estimulado pelo pai, que trabalha como encadernador de livros. Além disso, eles têm o poder de trazer à vida personagens dos livros caso o leia em voz alta, mas, sempre que isso acontece, uma pessoa real é inserida nos livros. Até que um dia, ao passear por um sebo, Mo ouve vozes de Coração de Tinta, um livro que não lhe traz boas recordações. Sua história possui castelos medievais e es- tranhas criaturas e, com esse universo, aprisionou a mãe de Meggie quando ela tinha apenas três anos. Mo sempre desejou encontrar o livro e salvar a esposa, mas, agora, precisa lidar também com o sequestro de Meggie por Capricórnio (Andy Serkis), que deseja dar vida a diversas criaturas. UNICESUMAR UNIDADE 5 160 A leitura prazerosa, sem compromisso com determinadas atividades, supre a ne- cessidade de fantasia; portanto, ela deve ser explorada como forma de fruição da realidade, e não com cunho exclusivamente didático. O que ocorre é que, por sua riqueza de detalhes da vida cotidiana e de mundos totalmente fantásticos e ad- versos ao nosso, ela é capaz de enriquecer o conhecimento de qualquer indivíduo. Abramovich (2003) salienta a importância da contação da história de forma que atraia a criança. De acordo com a autora, é preciso saber como contar histórias: “ Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o rit- mo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com os jogos das palavras... Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso é nem re- motamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz (ABRAMOVICH, 2003, p. 18). É, no entanto, necessário considerar que não basta simplesmente, de súbito, escolher um livro na biblioteca, na sala de leitura ou, até mesmo, na sala de aula e resolver preencher o tempo ocioso da turma com a contação de uma história. Essa deve ser uma atividade planejada no sentido de que o professor deve conhecer a obra escolhida e estar preparado para as palavras desconhecidas que possam aparecer, para a leitura adequada das construções frasais do texto sem “tropeços” que possam interromper o curso normal da leitura. Diante disso, também deve estar preparado para as devidas pausas representadas pela pontuação adequada. Compreende-se, assim, que a leitura precisa fluir naturalmente, sem interrupções desnecessárias para que o fio condutor não seja perdido e para que os objetivos elencados em seu planejamento sejam alcançados. Além dos pontos já apresenta- dos para a contação de histórias, Abramovich (2003, p. 20) salienta que: “ Mas claro que não é apenas no terreno da leitura das palavras que a dificuldade pode surgir... E o conteúdo da história, as relações entre as personagens, as mentiras que ela pode colocar, os preconceitos que pode passar, fragilidade de uma narrativa onde não acontece 161 absolutamente nada??? Como enfrentar a própria decepção ou cara de lástima??? Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita... Assim, quando chegar o momen- to de narrar a história, que se passe a emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que, por isso, chega ao ouvinte. Como foi dito anteriormente, na atividade da literatura, deve se dar o caráter da fruição da arte e, quando a criança ouve uma história, na grande maioria das vezes, ela é incitada à leitura de outras histórias, e isso se torna um ciclo. A contação de histórias é uma atividade extremamente válida para as crianças que, ainda, não foram alfabetizadas e para aquelas que já são. O ambiente e o contato com os livros também são fatores preponderantes nessa caminhada de incentivo e trabalho com a leitura no ambiente escolar. A criança precisa ter ao seu alcance a possibilidade de tocar os livros, manuseá-los, folheá-los e, mais que isso, senti-los, pois, à medida que o contato e a vivência com os livros se tornam uma rotina, a leitura deles também o será. Organizar um espaço adequado e estimulante é essencial, como salas de leitura com tapetes, almofadas e sofás, e é uma alternativa bastante eficaz quando se pensa em ambiente propício para a leitura. Nesses am- bientes, o compromisso didático com a leitura fica mais distante e diluído, dando espaço para uma leitura mais libertária como realmente deve ser. É essencial que o professor planeje muito bem a contação de histórias. Enriquecer esse momento com inovações e criatividades possibilita desenvolver nas crianças a criação e a imaginação. Contar com o apoio de recursos variados é de grande valia. É o envolvimento do professor que levará as crianças a se imaginarem dentro daquele contexto. PENSANDO JUNTOS Como mencionado nesta unidade, a literatura infantil é um instrumento pe- dagógico fundamental no trabalho com Língua Portuguesa, contudo é preci- so esclarecer que as atividades com a literatura infantil devem ser planejadas, para que este se torne um momento de prazer e fruição da imaginação. Sen- do assim, uma série de atividades devem ser desenvolvidas nesse trabalho. O que não se deve confundir é que tais atividades não devem se restringir a ati- vidades didáticas para se ensinar estes ou aquele conteúdo específico, mas, sim, UNICESUMAR UNIDADE 5 162 uma série de conteúdos que são apresentados nas variadas histórias lidas, que são implicitamente internalizadas e serão utilizadas quando necessárias para construir a visão cultural e mundana de cada indivíduo, caracterizando, então, a função formadora e humanizadora da literatura. O trabalho com a literatura infantil, enquanto instrumento pedagógico, pre- cisa de cuidado por parte do professor, por isso, o planejamento é imprescindível à boa prática profissional. Planejar, nesse sentido, levará o docente a promover, em seus alunos, momentos de interação e criatividade, possibilitando o desen- volvimento da curiosidade, atenção, imaginação, ou seja, um aprendizado suave e prazeroso para as crianças, de modo a tornar esse processo humanizado e significativo em relação ao envolvimento da criança e à sua aprendizagem. É de conhecimento de todos que a literatura infantil é muito valiosa para as crianças e, também, para a educação delas. Podemos considerá-la uma forma de arte que proporcio- na cultura e desenvolvimento humano? PENSANDO JUNTOS 163 É possível que, nesse momento da leitura, suas ideias estejam em ebulição e você se questione: mas como organizar o planejamento de forma a promover nos alunos a imaginação, a criatividade e a interação? Uma possibilidade para isso é o trabalho com gêneros textuais orais e escritos. Pouquíssimas vezes, o ensino dos gêneros orais ocupa o espaço da sala de aula, como se não tivessem a sua importância para o desenvolvimento da linguagem (SCHNEUWLY, 2004). Para consolidar essa posição, recorremos a Luria (1987), o qual afirma que o processo de compreensão da linguagem oral se diferencia do processo de escrita; ambas seguem linhas distintas que se complementam, ou seja, a aprendizagem da linguagem oral (simbolismo de primeira ordem) influencia a escrita (simbolismo de segunda ordem), e a apropriação da escrita confere consciência à linguagem. Isto posto, revela a necessidade de promovermos, em sala de aula, práticas peda- gógicas que contemplem as diversas linguagens. O autor elucida, “ Quando aprende a escrever, a criança opera, no início, não com ideias, mas sim com os instrumentos de sua expressão exterior, com os meios de representação dos sons, etc. Somente mais tarde, o ob- jeto das ações conscientes da criança é a expressão da ideia. Desta forma, a linguagem escrita, diferente da oral, a qual se constitui no processo de comunicação viva, é, desde o início um ato voluntário consciente, no qual os instrumentos de expressão se configuram com o principal objeto da atividade [...]. Somente depois da auto- NOVAS DESCOBERTAS Título: Dicionário de gêneros textuais Autor: Sérgio Roberto Costa Editora: Autêntica Sinopse: é no quadro atual de mudança paradigmática no ensino do português que a produção desse dicionário de gêneros textuais se revela extremamente oportuna e valiosa. Pesquisador em Linguística Aplicada e professor de Língua Portuguesa, o autor combina precisão analítica e com- prometimento pedagógico, constrói um dicionário que é, ao mesmo tempo, um estudo sério e exaustivo de gêneros, um instrumento fundamental para o ensino. UNICESUMAR UNIDADE 5 164 matização dessa linguagem escrita, estas ações conscientes trans- formam-se em não-conscientes e ocupam um mesmo lugar que as operações correspondentes (separação dos sons, procura das articulações, etc.) possuem na linguagem oral (LURIA, 1987, p. 170). Até as décadas de 1970 e 1980, no Brasil, acreditava-se que quem conhecia as regras gramaticais dominava a escrita. Todavia há uma mudança na concepção de linguagem, no que diz respeito à função do texto em sala de aula, a partir dos programas e das propostas curriculares oficiais implementados no final da dé- cada de 1990 com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS), que passam a preconizar o ensino da linguagem e de gêneros orais bem como a valorização dos contextos de uso e de circulação dos gêneros textuais escritos (BRASIL, 1998). No entanto, embora os gêneros tenham sido incorporados aos PCNs, não foram compartilhadas orientações metodológicas que permitissem ao professor im- plementar tais propostas em sala de aula, o que gerou dúvidas e incertezas, que, talvez, arriscamo-nos em postular, persistem até hoje. Assim sendo, por não ter domínio dessas questões, o professor opta por não promover momentos sistemáticos de estudo dos gêneros, principalmente os orais, pois não reconhece a finalidade desse estudo em sala. Isso é tão real que o próprio Schneuwly (2004) enfatiza que, no âmbito das pesquisas, temos poucas análises sobre o que é o oral, ou seja, a linguagem oral. Na maioria das vezes, a oralidade trabalhada em sala é aquela que prepara a escrita, e não o “oral puro”, como destaca o autor, “[...] o oral ‘puro’ escapa de qualquer intervenção sistemática; aprende-se naturalmente, na própria situação” (SCHNEUWLY, 2004, p. 112). Portanto, as práticas de oralidade promovidas em sala de aula são sempre para atender às necessidades advindas da escrita, logo, “ O oral que se aprende é o oral da escrita; aquele que prepara a escrita, pois permite encontrar ideias, elaborar uma primeira formulação; aquele que, por meio das correspondências grafofonêmicas, permite passar ao código escrito; finalmente e principalmente, aquele que não é senão a oralização de um escrito (SCHNEUWLY, 2004, p. 112). A verdadeira linguagem oral, de acordo com o autor, é aquela em que o aluno se exprime espontaneamente, sem se preocupar com a escrita, expressa seus senti- 165 mentos em relação ao mundo e estabelece a comunicação com o professor. De modo geral, algumas práticas de linguagem se aproximam da escrita e dela de- pendem, como a exposição oral, o teatro e a leitura para outros, já outras podem distanciar-se, como o debate e a conversação cotidiana. De acordo com Schneuwly (2004), é possível mencionar que o oral não existe, o que existem são os orais, ou seja, atividades de linguagem efetivadas oralmente e gêneros que praticamos essencialmente na oralidade. Frente a essa compreensão, implica adotarmos uma concepção mais rica e complexa do oral em sala de aula, oportunizando aos alunos que conheçam e dominem sua língua nas mais diversas situações, fornecendo-lhes instrumentos eficazes que contribuam com o desen- volvimento de suas capacidades de escrever e falar e propiciando representações de atividades de escrita e de fala, em situações complexas, enquanto produto de um trabalho (SCHNEUWLY, 2004). Desse modo, não é possível concebermos o trabalho com os gêneros escritos em sala de aula desconsiderando a relevância dos gêneros orais, uma vez que cada um tem a sua especificidade e, quando promovi- dos em conjunto, permitem ao aluno apropriar-se de ambas as linguagens, utili- zando-as em diversas situações comunicativas e aprimorando-se linguisticamente. UNICESUMAR UNIDADE 5 166 Parece-nos muito próximo das práticas pedagógicas executadas pelos professores o trabalho com os gêneros textuais. Diante dessa compreensão, elencamos a se- guinte problematização: há gêneros textuais ideais para o ensino da linguagem? Talvez, alguns dizem que sim, outros afirmam que não. Respaldados em Marcus- chi (2008, p. 207), reafirmamos o posicionamento daquelas que responderam não: “Tudo indica que a resposta seja não. Mas é provável que se possam identificar gêneros com dificuldades progressivas, do nível menos formal ao mais formal, do mais privado ao mais público e assim por diante”. NOVAS DESCOBERTAS Título: Produção textual, análise de gêneros e compreensão Autor: Luiz Antônio Marcuschi Editora: Parábola Sinopse: este livro encontra-se organizado em temas, distribuídos em três partes com tópicos interligados, a saber: Produção textual com ên- fase na linguística de texto de base cognitiva; Análise sócio-interativa de gê- neros textuais no contínuo fala-escrita; e Processos de compreensão textual e produção de sentido. As noções de língua, texto, gênero, compreensão e sentido bem como o enfoque geral da abordagem situam-se na perspectiva da visão sociointeracionista da língua. Esse tipo de visão recusa-se a consi- derar a língua como um sistema autônomo e como simples forma. Aqui, a linguagem é vista como um conjunto de atividades e uma forma de ação. Mas será que temos clareza acerca do conceito de gêneros textuais? Segundo Köche, Boff e Marinello (2014, p. 11), os gêneros são “tipos relativamente está- veis de enunciados produzidos pelas mais diversas esferas da atividade humana”. Enfatizamos que a expressão “relativamente estáveis” indica que os gêneros tex- tuais podem sofrer modificações de acordo com a situação comunicativa a ser empregada. Ao organizar um e-mail e enviá-lo a um professor, utilizamos uma linguagem mais elaborada. O mesmo gênero textual (e-mail), porém, em outra situação comunicativa, encaminhado a um colega, por exemplo, pode ser escrito com uma linguagem mais informal. Quanto às diversas esferas da atividade humana em que os gêneros circulam, é pertinente ressaltar que alguns autores preferem a nomenclatura domínio dis- cursivo; outros, formações discursivas, em vez de esfera discursiva, para referir-se 167 ao local de origem dos gêneros. A fim de aclarar tal questão, recorremos a Costa (2020), que nos apresenta uma possibilidade quanto à disposição dos gêneros textuais e sua gênese. Aproveitamos para conhecer algumas esferas discursivas bem como os gêneros que circulam em dado espaço. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo Gêneros do discurso/Gêneros textuais RELIGIOSO Hagiografia Homilia Ladainha Parábola Prece/oração Reza Sermão, etc. JORNALÍSTICO Artigo jornalístico Breves/curtas Carta de leitor Crônica Debate Editorial Entrevista Manchete Notícia Reportagem Tirinha, etc. ACADÊMICO Abstrato Artigo científico Conferência Dissertação Ensaio Hand-out Resenha Resumo Palestra Paper Sumário Tese, etc. UNICESUMAR UNIDADE 5 168 Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo Gêneros do discurso/Gêneros textuais LITERÁRIO Autobiografia Biografia Comédia Conto Crônica Dedicatória Diário Epopeia Fábula Folhetim Lenda Romance Novela Poema Tragédia, etc. ELETRÔNICO/DIGITAL Aula chat Bâner/Banner Barra Blog Chat/bate-papo virtual E-mail/endereço eletrônico Fotoblog, etc. PUBLICITÁRIO Anúncio Cartaz Filmete Jingle Outdoor/Busdoor/Bikedoor/Taxidoor Panfleto Spot, etc. 169 Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo Gêneros do discurso/Gêneros textuais COTIDIANO Conversação e seus tipos Bilhete Diário Anedota Piada Anotação Recado Convite, etc. ESCOLAR Aula Prova (escrita/oral) Ditado Protocolo Resumo, etc. Quadro 1 - Domínios discursivos / Fonte: Costa (2020, p. 25-27). Dentre as esferas discursivas apresentadas, discorreremos sobre os gêneros tex- tuais pertencentes à esfera escolar/acadêmica, a qual tem, como local de origem, a escola. Logo, são gêneros que nascem na escola e circulam nesse espaço. No entanto temos outros gêneros que adentram o espaço escolar, com o propósito de atender a um objetivo do professor, sendo uma decisão didática levá-los para sala de aula. É preciso esclarecer que, quando determinado gênero é retirado de seu local social de origem, acaba sofrendo modificações, não tendo mais o mesmo sentido. Passa, então, a ser gênero a aprender, embora continue gênero a comunicar. Para Schneuwly e Dolz (2004, p. 70), “[...] toda introdução do gênero na escola faz dele, necessariamente, um gênero escolar, uma variação do gênero de origem”. Podemos recorrer a esses gêneros para desenvolver o trabalho com a linguagem na escola, contudo é preciso colocar os alunos em situações de comunicação mais próximas das verdadeiras, a fim de que tenham sentido para eles e possam dominá-los como são utilizados na realidade, como dizem os autores mencio- nados. Acreditamos ser relevante considerar também a identidade dos gêneros textuais. Existem três dimensões que formam a identidade de um gênero e, na nossa concepção, reconhecê-las muda a condução da prática pedagógica, sendo elas: o conteúdo temático, a estrutura composicional e o estilo. Por conteú- UNICESUMAR DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 167 – Quadro 1 - Domínios discursivos DESCRIÇÃO DE IMAGENS INÍCIO DESCRIÇÃO – A Imagem se refere a domínios discursivos, ilustrado por um quadro com duas colunas e oito itens, a coluna da esquerda se refere a discursos (formações discursivas/ domínio discursivo, e a da direita se refere a Gêneros do discurso/Gêneros textuais, conforme: Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: RELIGIOSO Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Hagiografia; Homilia; Ladainha; Parábola; Prece/oração; Reza; Sermão; etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: JORNALÍSTICO Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Artigo jornalístico; Breves/curtas; Carta de leitor; Crônica; Debate; Editorial; Entrevista; Manchete; Notícia; Reportagem; Tirinha; etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: ACADÊMICO Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Abstrato; Artigo científico; Conferência; Dissertação; Ensaio; Hand-out; Resenha; Resumo; Palestra; Paper; Sumário; Tese, etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: LITERÁRIO Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Autobiografia;Biografia; Comédia; Conto; Crônica; Dedicatória; Diário; Epopeia; Fábula; Folhetim; Lenda; Romance; Novela; Poema; Tragédia, etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: ELETRÔNICO/DIGITAL Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Aula chat; Bâner/Banner; Barra; Blog; Chat/bate- papo virtual; E-mail/endereço eletrônico; Fotoblog; etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: PUBLICITÁRIO Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Anúncio; Cartaz; Filmete; Jingle; Outdoor/Busdoor/Bikedoor/Taxidoor; Panfleto; Spot, etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: COTIDIANO Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Conversação e seus tipos; Bilhete; Diário Anedota; Piada; Anotação; Recado; Convite, etc. Discursos (formações discursivas/ domínio discursivo: ESCOLAR Gêneros do discurso/Gêneros textuais: Aula; Prova (escrita/oral); Ditado; Protocolo; Resumo; etc. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 5 170 do temático, entendemos o que podemos dizer por meio do gênero; a estrutura composicional responde pela organização do que vamos dizer; e o estilo são os recursos linguísticos que utilizaremos para dizer. Ao pensarmos em recursos linguísticos para compor determinado gênero textual, aproximamo-nos do que denominamos tipologias textuais. Se alguém lhe perguntar o que você entende por tipologia textual, saberia responder? Acredito que a resposta se edificaria na seguinte ideia: as tipologias são narração, des- crição, dissertação, entre outras. No intuito de aprofundar a discussão, esclare- cemos que, assim como os gêneros textuais, as tipologias têm papel importante na produção da linguagem. Consideradas ferramentas essenciais a serviço dos gêneros, recomenda-se que elas sejam estudadas no interior de cada gênero tex- tual. Segundo Marcuschi (2010, p. 23), as tipologias textuais são “ [...] uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumen- tação, exposição, descrição, injunção. Em outras palavras, as tipologias textuais respondem pela composição interna do texto, as partes, tais como: palavras, frases, parágrafos, desenhos, cores. Envolvem tudo que organiza o discurso, isto é, os elementos que organizam, internamente, o gênero textual. A expressão tipologia textual, muito usada no cotidiano da sala de aula e, frequentemente, empregada em livros didáticos, acaba sendo utilizada equivocadamente, por designar um gênero, e não um tipo de texto específico. Reconhecemos que, em todos os gêneros textuais, estão presentes as tipologias textuais, podendo até encontrar, em um único gênero, duas ou mais tipologias textuais compondo o discurso. Para exemplificar, trazemos parte da carta pessoal mencionada por Marcuschi (2010), em que demonstra essa composição interna dos gêneros. 171 Sequências tipológicas Gênero textual: carta pessoal Descritiva Rio, 11/08/1991 Injuntiva Amiga A.P. Oi! Descritiva Para ser mais preciso estou no meu quarto, escrevendo na escrivaninha, com um Micro System ligado na minha frente (bem alto, por sinal). Quadro 2 - Carta pessoal / Fonte: Marcuschi (2010, p. 26). É possível observar que, em uma única parte do gênero textual carta pessoal, há variedade de sequências tipológicas compondo o discurso. Importante mencio- narmos que todo gênero textual possui uma ou duas tipologias predominantes. Nesta ocasião, você pode questionar: seria fácil identificar isso em um texto? E quando não conseguimos nem mesmo classificar determinado texto? O que fazer? Por diversas vezes, deparamo-nos com a impossibilidade de classificar alguns textos pelo fato de eles terem, simultaneamente, características e funções específicas de gêneros textuais distintos. É importante sublinhar que existem algumas designações empregadas por autores para expressar esse conhecimento. No caso de Marcuschi (2008), optou-se pela expressão intergenericidade, para traduzir esse fenômeno, porém outros preferem a expressão “intertextualidade tipológica”, outros usam “hibridização” ou “hibridismo”. Todos os termos explicam a existência de gêneros textuais que, a depender do contexto e dos ob- jetivos, adotam funções de outro. Hibridismo é diferente de heterogeneidade tipológica, isto é, quando um gênero se utiliza de várias sequências tipológicas, por exemplo, uma carta pessoal pode conter partes em que nos deparamos com a narrativa, com a descritiva e com a argumentativa, entre outras. Com o propó- sito de esclarecer o fenômeno hibridismo, apresentaremos o seguinte esquema: UNICESUMAR DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 171 – Quadro 2 - Carta pessoal INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a carta pessoal, sendo ilustrado por um quadro com duas colunas e três itens, a coluna da esquerda para sequência tipológicas e a coluna da direita sobre gênero textual: carta pessoal; conforme: Sequências tipológicas: Descritiva Gênero textual- carta pessoal: Rio, 11/08/1991 Sequências tipológicas: Injuntiva Gênero textual- carta pessoal: Amiga A.P. Oi! Sequências tipológicas: Descritiva Gênero textual- carta pessoal: Para ser mais preciso estou no meu quarto, escrevendo na escrivaninha, com um Micro System ligado na minha frente (bem alto, por sinal). FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 5 172 Ante o exposto, apresentamos um exemplo de texto em que a presença do hibri- dismo é identificada. Temos, portanto, o gênero publicidade ocupando a estrutura de uma bula de remédio (MARCUSCHI, 2008). Descrição da Imagem: a figura apresenta as designações empregadas por autores para explicar o fenô- meno em que um gênero assume a função de outro. Na parte superior, há o desenho de três retângulos demonstrando as designações: intertextualidade tipológica, hibridização e intergenericidade. De cada retângulo, sai uma seta que aponta para um retângulo no centro com a frase: UM GÊNERO ASSUME A FUNÇÃO DE OUTRO, e, desse retângulo, sai uma seta maior que aponta para o último retângulo localizado na parte inferior da imagem, no qual está escrito: EXEMPLO: ARTIGO DE OPINIÃO NA FORMA DE POEMA. Figura 1 - Designações empregadas por autores / Fonte: Vendrame (2021, p. 235). 173 Viva saudável com os livros DIOGENES Os livros Diogenes acham-se internacionalmente introduzidos na biblio- terapia Posologia As áreas de aplicação são muitas. Principalmente resfriados, corizas, dores de garganta e rouquidão, mas também nervosismo, irritações em geral e di- ficuldade de concentração. Em geral, os livros Diogenes atuam no processo de cura de quase todas as doenças para as quais prescreve-se descanso. Sucessos especiais foram registrados em casos de convalescença. Propriedades O efeito se faz notar pouco tempo após iniciada a leitura e tem grande durabilidade. Livros Diogenes aliviam rapidamente a dor, estimulam a circulação sanguínea e o estado geral melhora. Precauções/riscos Em geral, os livros Diogenes são bem tolerados. Para miopia, aconselham- -se meios de auxílio à leitura. São conhecidos casos isolados nos quais o uso prolongado produziu dependência. Dosagem Caso não haja outra indicação, sugere-se um livro a cada dois ou três dias. Regularidade no uso é o pressuposto essencial para a cura. Leitura diago- nal ou desistência prematura podem interferir no efeito. Composição Papel, cola e cores na impressão. Os livros Diogenes são ecologicamente produzidos. Neles são usados somente papéis fabricados sem cloro e sem ácidos, o que garante alta durabilidade. Também, no caso de qualidade de vida, garante-se ótima distração. LIVROS DIOGENES São menos aborrecidos Quadro 3 - Hibridização / Fonte: Marcuschi (2008, p. 165-166). UNICESUMAR UNIDADE 5 174 Segundo o autor, é muito comum encontrarmos essas contaminações de gêneros em órgãos da imprensa, cujo interesse está em chamar, ainda mais, a atenção e motivar a leitura. Enfatiza, ainda, que essa estratégia parece trazer resultado, uma vez que um poder quase mágico leva as pessoas a interpretarem muito mais e com maior intensidade o que está sendo ofertado. Em contrapartida, é incomum encontrarmos textos híbridos sendo lidos e analisados na escola, circunstância que justifica o desconhecimento por parte dos professores em relação ao assunto. Tal evidência indica o quão necessário é esse conhecimento para a implemen- tação de práticas pedagógicas que primam pela interação dos alunos com a lin- guagem. Para isso, há que se expandir a linguagem empregada em sala de aula para situações objetivas vivenciadas pelo aluno em outros ambientes que não a escola, já que, em algum momento de sua formação, deparar-se-á com gêneros dessa natureza. Tendo em vista a importância desse conhecimento para formação de nossos alunos, consideramos o trabalho com as sequências didáticas uma excelente es- tratégia para promoção da aprendizagem da linguagem oral e escrita. Mediante as reflexões iniciais, deter-nos-emos, na ocasião, a discorrer acerca da apresentação de um procedimento de sequência didática e, para isso, respaldamos em Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Estes conceituam sequência didática como “[...] conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 82). Nesse sentido, convém enfatizar que nem todos os procedimentos didáticos encaminhados em sala de aula podem ser considerados uma sequência didática. Uma sequência didática tem como finalidade ajudar o aluno a dominar me- lhor determinado gênero textual, permitindo que escreva ou fale, de maneira mais adequada, em situações de comunicação vivenciada. Portanto, é importante que o professor tenha, como objetivo, o trabalho com gêneros que o aluno não domina ou que faz de forma insatisfatória, logo, “As sequências didáticas servem, portanto, para dar acesso aos alunos a práticas de linguagem novas ou dificilmen- te domináveis” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 83). No intuito de aprofundar a discussão, conheceremos as principais características de uma se- quência didática, a fim de identificarmos o que difere uma ação da outra, ou seja, quando realmente as ações pertencem a uma sequência didática e quando não representam tal encaminhamento. São características de uma sequência didática: 175 – Trabalhar com gêneros textuais. – Auxiliar o aluno a dominar melhor um gênero de texto para escrever ou falar mais adequadamente em uma situação de comunicação. – Propor gêneros textuais não dominados pelo aluno ou por ele feitos de maneira insuficiente. – Oportunizar aos discentes práticas de linguagem novas ou de difícil apropriação. De acordo com estas características, podemos asseverar que nem todos os pro- cedimentos encaminhados em sala de aula são provenientes de uma sequência didática, que, por sua vez, deve prever os seguintes componentes ilustrados na figura a seguir: Descrição da Imagem: a figura exibe as etapas do esquema de sequência didática, sendo: da esquerda para a direita, representada por retângulos, a “apresentação da situação” indicando para a “produção Inicial”. Em formas circulares, há três elementos, “módulo 1”, “módulo 2” e “módulo n”. Finalizando, com a “produção final” dentro de uma forma, também retangular. Estas formas são todas interligadas por setas direcionando para a direita. Em sentido horário, uma linha sai da parte superior do retângulo da “produção inicial” e passa pela parte superior dos módulos e recorta a representação da forma da “produção final”, voltando para o ponto inicial. Figura 2 - Esquema de sequência didática / Fonte: Vendrame (2021, p. 257). A imagem exibida indica quatro componentes de uma sequência didática, quais sejam: apresentação da situação, produção inicial, módulos e produção final. Debruçamos a entender todas essas etapas, haja vista podermos, futuramente, implementá-las em nossas práticas educativas. UNICESUMAR UNIDADE 5 176 A apresentação da situação tem como objetivo expor, detalhadamente, a tarefa de expressão oral ou escrita a ser realizada pelos alunos. É a ocasião em que se constrói uma representação da situação comunicativa e da atividade de linguagem que será executada pela turma, considerado, pelos autores, momento crucial e difícil dentro da proposição, porque exige que o problema de comuni- cação seja apresentado com clareza e definição e os conteúdos dos textos a serem produzidos sejam preparados para tal. Nesse sentido, algumas questões devem orientar o pensamento dos alunos, como: a) Qual é o gênero que será abordado? b) A quem se dirige a produção? c) Que forma assumirá a produção;? d) Quem participará da produção? Importante esclarecer, segundo os autores, que, inicialmente, poderá ser solicitado aos alunos que leiam ou escutem um exemplo do gênero visado e apresentem os múltiplos destinatários, tais como os pais, a turma, outras turmas da escola, um grupo de alunos, pessoas do bairro, entre outros. A produção poderá ser em áudio, vídeo, folheto, carta, apresentação em palco e todos os alunos da turma participarão, todos juntos ou parte deles, individual ou em grupos. Quanto ao conteúdo dos textos, é necessário que percebam a importância deste para a escrita e saibam com qual pretendem trabalhar. Desse modo, “ A fase inicial de apresentação da situação permite, portanto, forne-cer aos alunos todas as informações necessárias para que conheçam o projeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a que está relacionado. Na medida do possível, as sequências didáticas devem ser realizadas no âmbito de um projeto de classe, elaborado durante a apresentação da situação, pois este torna as atividades de aprendizagem significativas e pertinentes (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 85). Isso não significa que, necessariamente, o docente deve finalizar a elaboração da sequência didática para iniciar o trabalho com os alunos. Portanto, ao ter apresentado a situação, o professor pode acrescentar ideias na sequência por ele planejada e extrair aquelas que não considerar pertinentes. Em outras palavras, 177 é possível adequar ou modificar a sequência didática mesmo após ter iniciado a sua proposição com os educandos. Finalizada a primeira etapa da sequência didática, acreditamos que o alu- no tenha subsídios para pensar a sua primeira produção textual. Contudo não podemos esquecer que essa primeira produção consiste em uma tentativa de elaborar um texto, revelando para si e para o professor as representações que obteve da atividade. É bem possível que, nesse momento de estudo, você emita o seguinte questionamento: será o aluno capaz de produzir o seu primeiro tex- to a partir desse encaminhamento de sequência didática? Com base em nossas experiências e respaldados em Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), podemos afirmar que sim, os alunos são capazes de produzir esse primeiro texto a partir desse encaminhamento. Para fundamentar nosso posicionamento, recorremos aos autores, os quais explicam que, “ Contrariamente ao que se poderia supor, a experiência nos tem mostrado que esse encaminhamento não põe os alunos numa si-tuação de insucesso; se a situação de comunicação é suficientemente bem definida durante a fase de apresentação da situação, todos os alunos, inclusive os mais fracos, são capazes de produzir um texto oral ou escrito que responda corretamente à situação dada, mesmo que não respeitem todas as características do gênero visado (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 86). Prosseguindo em relação às reflexões, postulamos que a primeira produção constitui-se um momento privilegiado ao professor, uma vez que essa ação pode evidenciar inúmeros encaminhamentos, como: identificar as capacidades e as potencialidades que os alunos já dispõem; definir quais aspectos da língua escrita requer intervenção e traçar o caminho que o aluno deve percorrer; diferenciar e, até mesmo, individualizar o ensino; avaliar em que ponto está a turma e quais as dificuldades encontradas pelos alunos; e, se necessário, aprimorar a sequência didática, moldá-la e adaptá-la às reais necessidades demonstradas pela turma. É pertinente ratificar o papel relevante da produção inicial como reguladora da sequência didática, logo, não é esperada uma produção inicial completa, com todos os dados explanados. Isso se dará na produção final, com toda riqueza e complexidade exigida por determinado gênero. UNICESUMAR UNIDADE 5 178 A próxima etapa da sequência didática refere-se à elaboração dos módulos, cuja finalidade consiste em promover reflexões acerca da linguagem relacionadas aos problemas identificados na primeira produção textual dos alunos, oferecen- do-lhes instrumentos para superá-los. Frente a esse propósito, faz-se necessário variar as atividades e os exercícios elaborados bem como o modo de realizá-los. É possível oportunizar trabalhos em grupos, no coletivo ou individual, isso é importante porque permite “[...] a cada aluno a possibilidade de ter acesso, por diferentes vias, às noções e aos instrumentos, aumentando suas chances de suces- so” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 89) na produção do texto final. Isto posto, os módulos devem conter atividades e exercícios diferentes. Segun- do os referidos autores, existem três grandes categorias de atividades e exercícios: as atividades de observação e de análise de textos, as tarefas simplificadas de produção de textos e a elaboração de uma linguagem comum. As atividades de observação e de análise de textos, orais ou escritos, pode- rão ocorrer em textos autênticos ou fabricados. O objetivo é evidenciar aspectos do funcionamento textual, a partir de um texto completo ou parte dele; também, é possível comparar vários textos de um mesmo gênero ou de diferentes gêneros. As tarefas simplificadas de produção de textos propiciam ao aluno centrar-se em um aspecto da elaboração do texto, por exemplo, acrescentar uma parte que falta, revisar o texto a partir de critérios definidos, entre outros. A elaboração de uma linguagem comum é fundamental, pois permite ao aluno falar dos textos, comentar, criticar, melhorar, seja sobre seu próprio texto, seja de outrem. Ao variar os modos de trabalhar as atividades e os exercícios, conforme ex- posto, a execução dos módulos propicia ao aluno falar sobre o gênero estudado, adquirir vocabulário e linguagem técnica, elaborar, progressivamente, conhe- cimento acerca do gênero e desenvolver atitude reflexiva e controle do próprio comportamento (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004). A última etapa da sequência didática, refere-se à produção final. Esta, por sua vez, representa o fechamento do trabalho e possibilita ao aluno colocar em prática as noções e os instrumentos explorados nos módulos. Além disso, permite ao professor avaliar o processo, observando as aprendizagens efetuadas e, quiçá, o retorno a pontos, ainda, não assimilados completamente. Por meio de sequências didáticas, promovemos as quatro práticas de linguagem indispensáveis à formação de sujeitos falantes, a saber: a prática de oralidade, a prá- tica de leitura, a prática de análise linguística e a prática de produção textual. 179 Apesar de cada prática ter a sua especificidade e promover determinada potenciali- dade no sujeito, é preciso esclarecer que elas se encontram interligadas. O que ocorre é que, a depender do objetivo do professor em determinado contexto, predomina-se a leitura, por exemplo, enquanto as demais estão como suporte. OLHAR CONCEITUAL UMA POSSIBILIDADE DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA A PARTIR DA LITERATURA Consideramos pertinente, nesta ocasião, retomarmos o conceito de sequência didática, a fim de prosseguirmos com o estudo em questão. As sequências didáticas são entendidas como o conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual, seja ele oral, seja escrito. Tendo em vis- ta tal concepção, apresentaremos, a seguir, uma proposição de sequência didática correspondente ao gênero conto, circulado por meio da literatura Fiz o que Pude (2003), de Lucília Junqueira de Almeida Prado, da Editora Moderna. Para ilustrar nossa proposição, organizamos um esquema de sequência didática respaldada no exemplo apresentado pelos autores anteriormente mencionados, confira: UNICESUMAR DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 179 – Sem legenda INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a um organograma, tendo como título principal “sequência didática”, essa sequência possui quatro subtítulos, da esquerda para direita, conforme: prática de oralidade, prática de leitura, prática de análise linguística e prática de produção textual, para cada subtítulo, existem características divididas em duas partes, sendo: PRÁTICA DE ORALIDADE: primeira parte: Deve ser sistemática, relevante e intencional, estudante integrante do processo comunicativo, segunda parte: organiza e desenvolve pensamento, forma, sujeito falante, participativo e crítico da sociedade. PRÁTICA DE LEITURA: primeira parte: Domínio de signos, decodificação, compreensão, interpretação e retenção. Segunda parte: desenvolve o aspecto mental e psicológico do ser humano. PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: primeira parte: Observar o uso da língua em textos, refletir sobre os conhecimentos linguísticos empregados e aplicar em seu próprio texto e nos textos de outro. Segunda parte: formar usuário competente da língua. PRÁTICA DE PRODUÇÃO TEXTUAL: primeira parte: Deve ser permanente, sistemática e considerar situações concretas de uso da língua. Segunda parte: desenvolve a expressão por meio de diferentes linguagens e a comunicação nas diferentes práticas discursivas. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 5 180 Descrição da Imagem: a figura exibe as etapas do esquema de sequência didática, sendo: da esquerda para a direita, representada por retângulos, a “apresentação da situação” indicando para a “produção Inicial”. Em formas circulares, há quatro elementos, sendo o primeiro indicando “módulo 1 - sistematiza- ção da escrita alfabética”, o segundo, “módulo 2 -compreensão e interpretação da literatura”, o terceiro, “módulo 3 - análise linguística” e o quarto, “módulo 4 - intervenções na primeira produção”. Finalizando com a “produção final” dentro de uma forma retangular. Estas formas são todas interligadas por setas seguindo para a direita. Em sentido horário, uma linha sai da parte superior do retângulo da “produção Inicial” e passa pela parte superior dos módulos e recorta a representação da forma da “produção final”, voltando para o ponto inicial. Figura 3 - Esquema de sequência didática / Fonte: as autoras.. 1. Apresentação da situação Primeiramente, professor(a), converse com a turma e verifique se existe em fa- mília o hábito da leitura. Questione-os, também, sobre a importância dos livros para as pessoas. Prossiga com a discussão, ao enfatizar que as pessoas possuem a necessidade de viver em sociedade e interagir com o outro. Para isso, muitas vezes, produzem livros com a intenção de comunicar, propalar, resgatar determi- nado conhecimento produzido ao longo dos anos. Na ocasião, elenque algumas problematizações que movimente o pensamento dos alunos, tais como: – É importante aprender a ler e escrever? Para quê? – Você costuma ler livros? Quais tipos de livros? – Existem outras pessoas na sua família que leem? O que elas leem? – Você já pensou em escrever um livro? – Conhece alguém que já tenha escrito um livro? – Se pudesse escrever um livro, que assunto escolheria tratar? 181 Após essa conversa inicial, solicite aos alunos, para o dia seguinte, que tragam para a sala de aula um livro que tenha em casa de qualquer assunto. Permita que apresentem esses materiais e manipulem os demais. Deixe-os dialogar sobre o material. Na sequência, selecione um aluno da turma para apresentar seu livro, iniciando pela capa: título, autor, ilustrador, editora, imagem gráfica etc. Posterior- mente, solicite que conte ou leia a história para a turma, a fim de que conheçam a obra. Diante de todo material exibido pela turma, estabeleça alguns critérios para selecioná-los, por exemplo: contos de fadas, livros religiosos, gibis, livros de receitas, entre outros. É oportuno, também, que o professor tenha as suas obras a apresentar e, dentre essas, insira a literatura que pretende explorar em forma de sequência didática. Mobilize os alunos para ouvir a história, instigue-os de forma que se interessem pelo saber. Sugerimos iniciar pela capa, questionando: – Qual é o título da literatura? – Quem escreveu esta história? – Quem a ilustrou? – O que é possível observar na capa? – Onde você imagina que a história aconteceu? – Analisando o título e a imagem da capa, o que você imagina que o livro tratará? – O que indica a expressão facial do passarinho? – Em que local o personagem se encontra? – Ele aparenta observar algo? O que será que o passarinho está observando? É chegado o momento de ouvir a leitura da literatura pela professora. Destacamos, nesse momento, a necessidade de preparação antecipada pelo professor para a leitura. É fundamental que o professor não só leia a história, mas, em determi- nados momentos, conte sobre o enredo, o que exige clareza do conteúdo. Outro aspecto a considerar é a apresentação, ainda que breve, da autora e ilustradora da obra. Tendo finalizado a contação, direcione a atenção da turma para análise do gênero textual que compõe a história, no caso, conto. Aproveite para explicar que o conto tem, como estrutura de base, a tipologia narrativa, portanto, é composto por personagens, tempo, espaço, narrador, enredo e conflito. Importante mencionar que o conto é um gênero textual narrativo literário de curta duração, com um só conflito, um número limitado de personagens e UNICESUMAR UNIDADE 5 182 uma situação condensada e completa, isto é, enfatiza apenas o essencial, não se detém a análises profundas. No caso da literatura em questão, a autora procurou representar, na história do livro, a importância de cada ser vivo para a manuten- ção e preservação do meio ambiente. 2. A primeir produção Ao final da literatura, a autora expõe: “Sei disso, mas, quando o fogo se apagar e o chão estiver coberto de cinzas, se me perguntarem o que fiz para evitar a destruição, posso responder: ‘Fiz o que pude!’”. A fala registrada pertence ao personagem principal da história, o passarinho. Nela, evidenciamos a impor- tância de ações que propiciem soluções para os problemas enfrentados. Dian- te dessa reflexão, professor(a), convide a turma a escrever, perguntando: você já sonhou em escrever um livro? Como seria o seu livro? Sobre qual assunto gostaria de escrever? Não esqueça que o livro tem a capacidade de armaze- nar nossas ideias, memórias e histórias. Que tal ser o autor/escritor? Vamos à produção? Anteriormente à escrita, é importante ouvir os alunos sobre o as- sunto ao qual pretendem escrever. Poderá, para isso, professor(a), elaborar um roteiro que auxiliará na organização das ideias. 3. Os módulos 3.1 Sistematização da escrita alfabética a partir da literatura 1. Na floresta, existem muitos_____________________. 2. Encontre, no caça-palavras, os nomes de alguns animais da floresta (profes- sor(a), os animais são: coelho, formiga, abelha, raposa, besouro, cigarra, arara e sapo). 183 3. Utilizando as letras da palavra FLORESTA, forme outras palavras. 4. Escolha duas palavras da atividade anterior e escreva uma frase. Descrição da imagem; a figura exibe um retângulo maior em cuja parte interna há algumas letras maiús- culas espalhadas aleatoriamente. À esquerda do retângulo, temos quatro imagens enfileiradas, sendo a primeira um coelho, a segunda, uma formiga, a terceira, uma abelha e a quarta, uma raposa. À direita do retângulo, há mais quatro imagens, também enfileiradas, sendo a primeira um besouro, a segunda, uma cigarra, a terceira, uma arara e a quarta, um sapo. Figura 4 - Caça-palavras / Fonte: adaptada de Canva ([2022]). UNICESUMAR UNIDADE 5 184 5. Ilustre, no quadro, palavras que rimam com os animais citados na história e, em seguida, escreva seus nomes. Descrição da imagem: a figura exibe oito retângulos organizados em pares. No primeiro par, à esquerda, encontra-se a imagem de uma abelha e, ao lado, um retângulo aguardando uma ilustração que rime com a abelha. Abaixo dos retângulos maiores, há retângulos menores para inserção de palavras correspondentes às imagens. À direita, encontra-se a imagem de um pato e, ao lado, o retângulo vazio para ilustração da rima. Abaixo, há uma imagem de um coelho e um gavião, ambos com retângulos vazios para inserção das ilustrações que rimam. Figura 5 - Palavras que rimam / Fonte: as autoras. 6. Observe a frase e separe as palavras. NELAMORAVAMANIMAISGRANDESEPEQUENOSALÉMDEMILHA- RESDEAVESEINSETOS. Reescreva a frase inserindo espaços entre as palavras. 185 7. Organize as palavras e forme a frase. CADA PENSANDO BEM-ESTAR FLORESTA UM SEMPRE AFINAL ERA DAVA TODOS SEU DE PALPITE NO DA QUE A CASA Quadro 4 - Composição de frases / Fonte: as autoras (2022). Resposta: cada um dava seu palpite, pensando sempre no bem-estar da floresta, que, afinal, era a casa de todos. Observação: professor(a), as vírgulas não apare- cem nos quadros. Então, assim que a turma organizar a frase, é importante propor a leitura e a identificação das vírgulas compondo o período. 8, Elabore frases com as seguintes palavras: 1. RIACHO-PEIXE-SAPO. 2. ABELHAS-FLORES-ÁRVORES. Observação: a frase deverá conter as três palavras. 9. Preencha a cruzadinha com as palavras do quadro. 10. Leia a frase retirada da história: UNICESUMAR DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 185 –Quadro 4 - Composição de frases INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a composição de frases, sendo ilustrado por um quadro com sete colunas e três linhas, ao todo somando vinte e um quadrados com uma palavra em cada quadrado, conforme: cada; pensando; bem-estar; floresta; um; sempre; afinal; era; dava; todos; seu; de; palpite; no; da; que; a; casa; os três últimos quadrados estão vazios. FIM DESCRIÇÃO. UNIDADE 5 186 Classifique as palavras com: 1 LETRA 2 LETRAS 3 LETRAS 4 LETRAS 5 LETRAS 6 LETRAS 7 LETRAS Quadro 5 - Classificação de palavras / Fonte: as autoras. O RIACHO ESTÁ SECANDO POR FALTA DE CHUVA MESMO. Descrição da imagem: a figura exibe uma série de quadrinhos unidos à disposição das letras corres- pondentes às palavras. Os quadrinhos estão dispostos na horizontal e na vertical e se entrecruzam para compor as palavras, por isso, estão todos em branco. No total, há seis palavras compondo a cruzadinha. Os primeiros quadrinhos trazem números que direcionam a escrita. Na parte inferior direita da imagem, estão dispostas as palavras para compor a cruzadinha, sendo elas: 1 - papagaio, 2 - jabuticaba, 3 - inverno, 4 - riacho, 5 - fogo e 6 -floresta. Figura 6 - Cruzadinha / Fonte: as autoras. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 186 – Quadro 5 - Classificação de palavras INÍCIO DESCRIÇÃO – A imagem se refere a classificação de palavras, ilustrado por um quadro com sete colunas e duas linhas; formando quatorze casas, as sete casas que estão alocados na linha de cima, em cada casa está escrito: 1 letra, 2 letras, 3 letras, 4 letras, 5 letras, 6 letras, 7 letras, na linha abaixo, os respectivos espaços então em branco. FIM DESCRIÇÃO. 187 11, Quantas palavras há em cada linha? Para descobrir, separe as palavras com um traço. São sempre as árvores da floresta que nos dão alimento e proteção. Os sapos coaxavam a beira do riacho. O sabiá cantava em tom agradecido. Agora, reescreva as frases com letra cursiva (professor(a), momento oportuno para acompanhar o traçado dos alunos e apresentar o movimento correto das letras àqueles que, ainda, apresentam dificuldades). 3.2 Compreensão e interpretação da literatura 1. Após ouvir a leitura do livro Fiz o que Pude, realizada pela professora, res- ponda às questões a seguir: 2. Na floresta, existiam animais grandes e pequenos, além de aves e insetos. Uma vez por mês, eles se reuniam para fazer o quê? Registre. De acordo com a literatura, o ambiente onde ocorre a história é: a) Um campo. b) Uma floresta. c) Um bosque. d) Uma cidade. e) Um sítio. 3, O personagem principal da história é um: a) Mosquito. b) Passarinho. c) Coelho. d) Gambá. e) Lobo. UNICESUMAR UNIDADE 5 188 4. Os animais que ali viviam reconheciam que a floresta era a casa de todos, porque era ela quem os protegia. Assinale a alternativa que indica o que eles fizeram quando a floresta começou a ser queimada. a) Reuniram-se para apagar o fogo. b) Convocaram os homens para ajudar. c) Expulsaram da floresta os pássaros. d) Decidiram deixá-la queimar toda. e) Fugiram apavorados para longe. 5. Naquele ambiente, existia um passarinho que era muito sábio. Retire da his- tória uma de suas falas em que aconselhava os demais animais. 6. O único animal a não fugir da floresta, ao ver o fogo, foi o passarinho. O que ele fez para ajudar a controlar o fogo? Assinale a alternativa correta. a) Convocou o elefante com sua tromba. b) Construiu uma ponte para transportar água. c) Pediu ajuda ao caçador. d) Carregou, em seu bico, a água do riacho. e) Emprestou uma mangueira do gambá. 7. Ao diminuir o fogo da floresta, os animais admirados com a valentia do pas- sarinho voltaram para dizer que ele não conseguiu apagá-lo. Escreva o que disse o passarinho aos colegas. 8. De acordo com o enredo, existe um ensinamento a ser transmitido. O que essa história nos ensina? 9. O tema do texto é: a) Persistência. b) Covardia. c) Alegria. 189 d) União. e) Tristeza. 10) A finalidade dessa literatura é: a) Emocionar e divertir. b) Informar e descrever. c) Instruir e listar. d) Vender e argumentar. e) Convencer e instruir. 11. Os animais, ao se reunirem, davam palpites sobre a floresta, menos o passa- rinho. Questionado pelo avestruz, qual foi a resposta dada pelo passarinho? 12) Com sua atitude, o passarinho demonstrou ser: a. Desconfiado. b. Valente. c. Medroso. d. Invejoso. e. Egoísta. 13) Ao analisar a expressão corporal dos animais, percebe-se: a.) Raiva. b.) Medo. c.) Coragem. d.) Valentia. e.) Alegria. 14. Geralmente, quando escrevemos um livro, uma literatura, uma carta, uma reportagem, uma notícia, é porque temos uma intencionalidade. Há, com a escrita da literatura, uma intenção da autora. Você imagina qual seja a inten- ção da autora ao produzir essa obra? UNICESUMAR UNIDADE 5 190 15. Ao longo da história, verificamos que ocorreu uma queimada na floresta. Você já ouviu ou vivenciou alguma situação de queimada/incêndio? Caso a resposta seja positiva, relate como foi. 16. Em determinada estação do ano, as queimadas são mais frequentes. Você saberia dizer que estação é essa e por que isso ocorre? 17. As queimadas provocam a destruição da fauna e da flora do ambiente atin- gido. Quais são as consequências e os prejuízos causados pelas queimadas? Observação: professor(a), aprofunde a discussão acerca do tema queimadas/in- cêndios no Brasil causados pelo Homem de modo ilegal, trazendo reportagens e notícias para serem estudadas e debatidas pelos alunos. 3.3 Análise linguística Leia o trecho a seguir retirado da história. Em seguida, faça o que se pede: 1. “Com a chuva, o esterco vai penetrar fundo na terra e atingir as raízes da árvo- re — reforçou o cachorro do mato. E o jequitibá, recebendo esse fortificante, vai agradecer…”. A palavra destacada se refere a quê? 2. Imagine que a autora tivesse organizado este trecho assim: “Nela, moravam animais grandes e pequenos, além de milhares de aves e insetos. Uma vez por mês, os animais grandes e pequenos se reuniam e cada um podia dar seu palpite…”. Quais palavras se repetem no trecho anterior? 191 3. De que outra maneira poderia escrever esse trecho para não repetir essas palavras? 4. Quais outras palavras aparecem no texto com a função de substituir nomes, evitando repetições? Anote, pelo menos, duas delas. 5. Observe os seguintes trechos da história, atentando-se às palavras destacadas. Em seguida, retorne ao texto e identifique a quem ou a que estes termos se referem: - “Ele anda perdendo muitas folhas”. - “Ela é a mãe que nos protege”. - Ninguém gosta dele!”. Observação: professor(a), nas duas primeiras situações, temos o emprego de pro- nomes, momento oportuno para explorar esse aspecto linguístico. Explique que os pronomes são palavras que substituem os substantivos ou os determinam, indicando, assim, a pessoa do discurso. 6. Em determinado momento da história, a autora menciona: “Assim, naquele ano, como sempre acontece desde que o mundo é mundo, depois da primavera cheia de cores, veio o verão ardente, o dourado outono e, por fim, o inverno gelado”. a. As palavras destacadas são adjetivos, isto é, características que acompanham um nome. Por que a autora se utilizou desses adjetivos para caracterizar as estações do ano? b. É possível encontrar outros adjetivos na história. Volte a ela e registre, pelo menos, três exemplos. 7. Na frase “As árvores davam flores em diferentes meses e, assim, o ano inteiro havia, aqui e ali, árvores coloridas”, a expressão em destaque indica: a) Dúvida. b) Tempo. UNICESUMAR UNIDADE 5 192 c) Intensidade. d) Lugar. e) Modo. 8. Na frase “Vejam as flores amarelas daquele ipê!”, o ponto de exclamação ex- pressa: a) Decepção. b) Entusiasmo. c) Susto. d) Vitória. e) Tristeza. 9. Na história, o narrador utiliza a expressão “Pernas, para que te quero!”. O que isso significa? 3.4 Intervenções na primeira produção Nesta etapa da sequência didática, o professor já terá em mãos a primeira produ- ção dos alunos, o que exigirá possíveis encaminhamentos para escrita da segunda versão ou escrita definitiva. A primeira tarefa do professor, ao receber os textos dos alunos, é lê-los com olhar de interlocutor, e não apenas de avaliador. Quando o professor se propõe a interagir com a escrita da criança, deixa de enxergar so- mente os aspectos negativos e passa a identificar o que já é de domínio linguístico daquele discente. Ao analisar as produções textuais da turma, é preciso estabelecer o que será prioridade naquele contexto de estudo. Digo isso, porque, diante da necessidade expressa pelos alunos, o professor acredita ter que atender a todas, e isso é humanamente impossível. Identificado as dificuldades, selecione, dentre todas, aquela de maior urgência e a priorize. Talvez, exista em sala outros alunos com a mesma necessidade, permitindo que se estabeleçam práticas em grupos ou duplas para efetivação da atividade. Outra possibilidade, sendo uma dificuldade da turma, é a proposição de escrita coletiva refletindo sobre a organização textual. 4. Produção final 193 Após os alunos escreverem seus textos — produção final —, fazem-se necessárias a leitura atenciosa e a análise das produções pelo professor. Para isso, o docente poderá estabelecer critérios para intervenção em cada produção. No entanto, após a correção, é preciso explicar aos alunos as observações registradas nas pro- duções, a fim de que compreendam os apontamentos trazidos pelo professor e apropriem-se de aspectos linguísticos, ainda, não internalizados. Com a reescrita em mãos, o professor verificará se é preciso uma nova correção, ou não. Tendo, pois, definido, decidirá, junto à turma, se o texto será exposto em mural ou uma coletânea será organizada para circular entre as demais salas e famílias. Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da nossa quinta unidade. De acordo com a temática abordada, evidenciamos a importância de promovermos, em sala de aula, procedimentos didáticos que, realmente, oportunizem aos alunos desenvol- verem-se maximamente, e não apenas em determinados aspectos. Verificamos que os livros infantis contribuem para o desenvolvimento da aquisição linguística da criança de maneira progressiva, tanto na oralidade quanto na escrita. Ver- Que tal conhecer uma outra proposição de sequência didática articulada às discussões da unidade? Acesse o pod- cast e conheça mais sobre o assunto. samos que a literatura infantil é um instrumento pedagógico fundamental no trabalho com a Língua Portuguesa, contudo é preciso que haja planejamento do professor para que este se torne um momento de prazer e fruição da imaginação pela criança. Nessa vertente, acreditamos na contribuição que procedimentos decorrentes de sequência didática podem trazer para o ensino, seja ele direcionado para a linguagem oral e escrita, seja para as demais áreas do conhecimento. Todavia é preciso esclarecer que a sequência didática a qual comungamos oportuniza tan- to ao professor quanto ao aluno serem sujeitos ativos do processo, vivenciando UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12422 UNIDADE 5 194 condições de uso social da língua viva, e não como pronta e acabada. A elabora- ção e implementação de sequência didática em sala de aula permitem, ainda, ao professor, explorar situações de ensino permanentemente, ou seja, à medida que o docente identifica necessidades expressas pela turma, em relação a determinado aspecto da língua, é possível elencar e inserir, a qualquer momento, estratégias que viabilizem a apropriação do conhecimento. Por fim, expomos um exemplar de sequência didática, elaborado a partir das etapas decorrentes do estudo apresentado, no intuito de evidenciar que a proposta defendida é viável, é possível de ser desenvolvida em sala de aula em qualquer etapa de escolarização. Assim, finalizamos convidando professores(as) e futuros(as) docentes a pensarem suas práticas educativas por meio de sequências didáticas propulsoras das máximas elaborações construídas historicamente pela humanidade. 1. Ler histórias para crianças e proporcionar o incentivo à leitura, desde a mais tenra idade, poderá refletir na formação desses seres. Dentre vários aspectos, podemos considerar a emoção, a imaginação e a reflexão que as histórias proporcionam às crianças. Nesse sentido, apresente motivos que confirmem a premissa de que o trabalho com a literatura infantil pode possibilitar o desenvolvimento crítico e reflexivo da criança. Feito isso, apresente uma estratégia de trabalho com esse recurso e que possibilite esse desenvolvimento. 195 2. O contato com a literatura faz com que o interesse pela leitura se aguce e, quando, mais tarde, forem solicitadas à criança leituras mais complexas, de textos didáticos ou clássicos da literatura, por exemplo, ela esteja preparada para isso. A partir da leitura dessa unidade, foi possível refletir sobre a importância da literatura para a formação leitora. Dessa forma, qual é o papel do professor na formação do aluno leitor? 3. A implementação de sequência didática em sala de aula, pelo professor, permite es- tabelecer práticas pedagógicas que oportunizem o desenvolvimento de capacidades linguísticas pelo aluno. Assim, analise as afirmativas a seguir, considerando V para o que for verdadeiro e F para o que for falso: ( ) A oralidade, a leitura, a reflexão sobre a língua e a produção de textos são opor- tunizadas por meio de sequências didáticas. ( ) A sequência didática desenvolve, apenas, a habilidade de produzir textos. ( ) Situações de ensino que envolvem a oralidade desenvolvem a fala, e não o pen- samento. ( ) Ao oportunizar práticas de análise linguística como procedimento de sequência didática, o professor tem como objetivo formar usuários competentes da língua. A sequência correta para a resposta da questão é: k) a) V, V, V, V. l) b) V, V, F, F. m) c) V, F, F, V. n) d) F, F, V, V. o) e) F, V, V, V. 196 UNIDADE 1 BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 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Na hora de corrigir o texto dos alunos, o professor insere os códigos já elaborados com eles, indicando o que precisa ser revisto. O aluno, no momento da reescrita, troca os códigos sinalizados pelo professor pelo que ele corresponde. 4. Ao elaborar a correção do texto, os alunos devem se utilizar da autocorreção, codi- ficação e refacção, ou seja, terão que corrigir a ortografia e a pontuação bem como realizar intervenções no conteúdo do texto. UNIDADE 3 1. C. 2. O aluno deverá dissertar acerca da interpretação de textos baseada em técnicas repetitivas de trabalho que não levam o aluno à reflexão. O professor que sabe da importância de formar alunos leitores deve repensar seu trabalho com vistas a evi- tar métodos tradicionais que priorizam o simples copiar e colar de respostas. Nessa oportunidade, o aluno deverá apresentar três exemplos de metodologia de trabalho com a leitura e que fomentem a pesquisa, a argumentação e demais aspectos do trabalho com a leitura com função social. 202 3. O papel do professor na formação do aluno, enquanto leitor crítico e reflexivo, é muito importante, pois deve ele mesmo ser o exemplo de leitor para seus alunos, lendo para eles textos condizentes com a faixa etária e interesse. É necessário deixar livros à disposição das crianças, planejar momentos que sejam prazerosos e significativos para que elas possam ter acesso a livros e às histórias neles contidas. O professor precisa ser o mediador desse processo de formação do aluno leitor e, por isso, deve estar sempre atento e atualizado em conteúdo e, também, na realidade dos alunos, para possibilitar os estímulos adequados a essa formação. 4. Interpretar textos é uma atividade que influenciará a vida do indivíduo para o trabalho com interpretação de texto, e isso assume várias formas e significados. A partir dos estudos da disciplina, realize uma síntese enfocando as novas exigências da sociedade contemporânea. Escolha um tipo de texto sugerido anteriormente (Unidade 2) e ela- bore uma atividade de interpretação de texto seguindo as orientações desta unidade. UNIDADE 4 1. Nessa questão, o(a) aluno(a) poderá desenvolver um texto dissertativo acerca dos desafios da escola frente ao ensino e sobre o professor e sua função como mediador desse processo de formação. Em relação aos desafios encontrados pela escola, poderá mencionar que o ensino da língua materna extrapola o ensino das regras gramaticais, da memorização e da repetição de exercícios, sendo necessário que haja reflexão por parte do docente e do aluno e que este último seja capaz de aplicar os conhecimentos adquiridos em suas práticas linguísticas cotidianas. 2. No livro intitulado Guia Teórico do Alfabetizador, sugerido como leitura complementar aqui neste material, Lemle (1999) expõe que, apenas, as letras P, B, T, D, F, V e A são casos de correspondência biunívoca, ou seja, cada uma dessas letras possui apenas um som, independentemente do lugar que está na palavra. Alguns autores, como morais (2000), denominam os casos de correspondência biunívoca de fonograficas. Há muitos exemplos a serem apresentados: pedra, bota, tataravô, viúva, azul etc. 3. A. O trabalho do professor deve ser conjunto, aliando o ensino da língua às práticas de leitura e produção de textos. Assim, torna-se fundamental que o aluno tenha conhecimento da estrutura gramatical necessária para uma escrita de qualidade. A alternativa II está incorreta, pois os elementos gramaticais são importantes no vo- cabulário e na estrutura do texto, portanto, o professor deve oportunizar situações de ensino que considerem leitura, produção de texto e análise linguística acerca dos aspectos gramaticais. A alternativa III está incorreta, pois enfatiza que a linguagem verbal é a mais significativa para o ensino tradicional da língua, desconsiderando a apropriação da escrita como relevante. 203 UNIDADE 5 1. O trabalho com a literatura infantil possibilita à criança adentrar o mundo da imagina- ção. Além disso, as histórias envolvem as crianças em emoção e afetividade bem como possibilitam a reflexão, a socialização e o aprendizado de fatos da própria história, como a ética de princípios morais e a criatividade. O professor levará o aluno a par- ticipar e interagir com os demais a respeito dos aspectos que contempla a história e, a partir da mediação do professor, compreender novos conteúdos. As estratégias de trabalho são inúmeras, como recontar a história com novo final, elaborar um cartaz em grupo, apresentar um teatro sobre a história etc. 2. O papel do professor na formação do aluno, enquanto leitor crítico e reflexivo, é muito importante, pois deve ele mesmo ser o exemplo de leitor para seus alunos, lendo para eles textos condizentes com a faixa etária e interesse. É necessário deixar livros à disposição das crianças, planejar momentos que sejam prazerosos e significativos para que elas possam ter acesso a livros e às histórias neles contidas. O professor precisa ser o mediador desse processo de formação do aluno leitor e, por isso, deve estar sempre atento e atualizado em conteúdo e, também, na realidade dos alunos, para possibilitar os estímulos adequados a essa formação. 3. C. A alternativa II é falsa, pois o uso de sequência didática desenvolve também a habilidade de produzir textos. A alternativa III é falsa, porque as situações de ensino que envolvem a oralidade desenvolvem a fala e o pensamento. _Hlk111557267 _Hlk111581601 _Hlk111581841 _Hlk111582212 _Hlk111582607 _Hlk111584651 _Hlk111630665 _y0t8kyt10w3b _Hlk111585523 _Hlk111585571 _wn0r0wuwtd3f _Hlk111586270 _hysle25mxc41 _Hlk111590554 _Hlk111590645 _Hlk111590684 _Hlk111591132 _Hlk111591362 _Hlk111591502 Linguagem Oral e Escrita: O Texto como Elemento Norteador e Objeto Emancipador Intervenções Didático-Pedagógicas: Processo de Escrita e de Reescrita de Texto Leitura: Do Processo de Decodificação à Interação com o Mundo O Ensino e a Aprendizagem da Ortografia e da Gramática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Sequência Didática: Apresentação de um Procedimento a Partir da Literatura Infantil _Hlk111593342 _Hlk111593575 _Hlk111726163 _us1dbkirq3ne _wtuhve3pzmon _Hlk111594373 _6vq6mfqe7ixb _Hlk111726473 _wuoh1g6h7nla _5m92cqlcq0pp _Hlk111717582 _Hlk111802347 _Hlk111802486 _Hlk111803217 _Hlk111803724 _Hlk111804188 _Hlk111804440 _Hlk111804512 _Hlk111804733 _Hlk111804784 _Hlk111804863 _j8w7qqy6vthj _Hlk111805102 _Hlk111805154 _Hlk111805268 _Hlk111805438 _Hlk111805916 _Hlk111806080 _Hlk111806248 _Hlk111806385 _Hlk111806508 _1pwaerte6w2i _Hlk111806843 _Hlk111806873 _Hlk111807190 _Hlk111807259 _Hlk111807457 _Hlk111807649 _Hlk111807892 _Hlk111808027 _Hlk111808141 _Hlk111808336 _Hlk111809228 _Hlk111809257 _Hlk111809336 _u0319ems7xng _Hlk111810301 _Hlk111810810 _Hlk112197733 _Hlk112197793 _Hlk112197853 _Hlk112196558 _Hlk114420770 _Hlk114421994 _Hlk114423144 _Hlk114424731 _Hlk114429085 _Hlk114444579 _Hlk114444910 _Hlk114445102 _Hlk114445255 _Hlk114445489 _Hlk114445764 _Hlk114446076 _Hlk114446708 _Hlk114448140 _Hlk114448593 _gjdgxs _Hlk114471869 _y444yrkjtplz _4wo1gx79o5x2 _1rb00z5va95u _kfy85ihdqsje Button 26: Button 16: Página 7: Botão 21: Botão 22: Botão 23: Botão 24: