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FTM_Língua_Portuguesa_DI

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Prévia do material em texto

1 
 
ALESSANDRA BARBOSA 
 
 
FTM DA LÍNGUA 
PORTUGUESA 
FACULDADE SÃO BRAZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA/PR – 2018 
 
 
 
2 
 
Sumário 
Apresentação ................................................................................... 03 
Iconografia ....................................................................................... 04 
Aula 1 – Língua, Linguagem e Gramática ........................................ 05 
Aula 2 – O ensino da gramática na escola ........................................ 16 
Aula 3 – O texto ................................................................................ 26 
Aula 4 – Leitura e seus processos .................................................... 35 
Aula 5 – Gêneros textuais ................................................................. 45 
Aula 6 – Sequência didática e ensino da língua portuguesa ............. 54 
Aula 7 – Literatura ............................................................................ 62 
Aula 8 – O trabalho com o texto literário ............................................ 69 
Referências ...................................................................................... 76 
 
 
 
 
 
3 
 
Apresentação 
Olá, estudante. Seja bem-vindo à disciplina de Fundamentos da Língua 
Portuguesa. 
A partir de agora, você aprender algumas estratégias de como ensinar 
Língua Portuguesa para a educação infantil. Alguns dos nossos tópicos de 
estudos serão voltados para o ensino da gramática; outros para a literatura; 
enquanto que outros abordarão contação de história, escrita e leitura. 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
 
4 
 
ICONOGRAFIA 
 
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de 
linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. 
 
 
VOCABULÁRIO 
Indica a utilização de um termo, palavra ou expressão no 
texto. 
 
 
IMPORTANTE 
Indica pontos de maior relevância no texto. 
 
 
 
REFLITA 
Questionamentos e reflexões sugeridas pelo autor, mas não 
é necessário respondê-los. 
 
 SAIBA MAIS 
Oferece novas informações que enriquecem o assunto: 
textos, artigos, reportagens escritas etc. 
 
 CURIOSIDADES 
Indica alguma curiosidade a respeito do tema de estudo, mas 
que não está contemplado na ementa. 
 
 MÍDIAS 
Indica sugestões de vídeos ou reportagens para 
conhecimento complementar. 
 
 LINK 
Vídeos e textos para aprofundar o assunto. 
Dica: Para facilitar clique com o botão direito do mouse e abra 
uma nova janela. 
 
 
5 
 
Aula 1 – Língua, Linguagem e Gramática 
 
 
 
Olá, estudante! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina de 
Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Língua Portuguesa. Nesta aula, 
faremos uma abordagem sobre as concepções de língua e linguagem no 
decorrer do tempo. Além de conhecer alguns conceitos fundamentais, você será 
convidado a refletir a respeito das diferentes situações de comunicação e da 
importância da linguagem nas relações humanas. 
Vamos lá! Bom estudo! 
 
 
 
 
 
6 
 
 
Existe diferença entre língua e linguagem? As modalidades oral e escrita estão 
dissociadas? Para que haja eficiência na comunicação é necessário que 
dominemos a gramática? Para responder a essas e a diversas outras 
indagações sobre o tema, veremos os conceitos a seguir. 
 
 
Concepções de Língua 
Como veremos a seguir, não há um consenso a respeito da definição de 
língua. Há diferentes vertentes e abordagens que apontam para características 
específicas do estudo da língua. 
No texto “Gramática e Política”, que faz parte do livro O Texto na Sala de 
Aula (GERALDI, 2006), Sírio Possenti traz três conceitos de gramática que, 
consequentemente levam a três conceitos de língua. Vamos a eles. 
 
Conceito de língua 
Para entendermos o conceito desse nosso objeto de estudo, é importante 
você saber que língua não é um conceito óbvio. Possenti afirma que há 
diferentes formas de conceituação de língua, de acordo com a forma com que o 
fenômeno é observado. 
 
 
O primeiro conceito é o mais usual entre os membros de uma comunidade 
linguística, pelo menos em comunidades como as nossas: o termo língua recobre 
apenas uma das variedades linguísticas utilizadas pelas pessoas cultas. É a 
chamada língua padrão, ou norma culta. As outras formas de falar (ou escrever) 
são consideradas erradas, não pertencentes à língua. (POSSENTI, 2006. p. 49) 
 
Essa concepção, bastante elitista, exclui de forma preconceituosa 
diferentes classes sociais, além de desconsiderar um princípio básico de 
 
 
7 
 
 
comunicação: se fazer entender. É considerada padrão por levar em 
consideração as normas gramaticais, sendo que os desvios cometidos em 
relação a essas regras são apontados como erros. Contudo, é importante 
ressaltar que o objetivo da escola é ensinar o português padrão. O essencial é 
sempre considerarmos as situações de comunicação. 
 
O segundo conceito de língua, ligado à gramática do tipo 2, também é 
excludente, em relação aos fenômenos, não tanto por só incluir partes, mas por 
incluí-las apenas de certo modo. Aqui língua equivale a um construto teórico, 
necessariamente abstrato. Como tal, é considerado homogêneo, não prevê 
variações no sistema. O que faz é prever sistemas coexistentes, mas não 
incorpora, embora trabalhe com base em enunciados da fala, as flutuações da 
fala. Não se quer pôr em dúvida a necessidade da construção do objeto teórico 
para a tarefa científica de descrever línguas. (POSSENTI, 2006. p. 49) 
 
Antes de aprofundarmos um pouco mais nossas reflexões, é interessante 
que retomemos o que o autor considera como gramáticas do tipo 2: “Gramáticas 
do tipo 1 preocupam-se mais com como se deve dizer; as do tipo 2 ocupam-se 
exclusivamente de como se diz.”. (POSSENTI, 2006, p. 48). Com isso, temos 
que a principal distinção entre essas abordagens está entre como se deve dizer, 
ou seja, a que regras se deve “obedecer”, e como se diz, o que de fato ocorre. 
É evidente que nenhuma das vertentes é capaz de abranger o fenômeno 
em toda a sua completude. Ambas apresentam uma visão parcial do que é 
língua. 
Ao considerar a língua como algo homogêneo, deixa-se de lado um 
importante aspecto da língua, que é o fato de ela ser ativa, estar em constante 
processo de mudança. 
 
 
 
8 
 
 
Por fim, vamos ao terceiro conceito: 
 
Considerando-se que os falantes não falam uma língua uniforme e não falam 
sempre da mesma maneira, a terceira concepção de gramática opera a partir de 
uma noção de língua mais difícil de explicitar. Digamos, em poucas palavras, 
que, nesse sentido, língua é o conjunto das variedades utilizadas por uma 
determinada comunidade, reconhecidas como heterônimas. Isto é, formas 
diversas entre si, mas pertencentes à mesma língua. 
 
 
De forma bastante simplificada, podemos dizer, com isso, que língua é 
um conjunto de variedades. Sendo assim, engloba uma grande quantidade de 
variedades linguísticas, que carregam consigo valores sociais, históricos, 
culturais e ideológicos. 
Para dar sequência às nossas discussões a respeito das concepções de 
língua, como futuro professor ou futura professora, é interessante que você, 
estudante, esteja atento para o que aparece no texto relacionado ao ensino de 
língua portuguesa em Estrutura dos Parâmetros Nacionais para o Ensino 
Fundamental: 
 
“a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem 
significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as 
palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos 
pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade 
e a si mesmas.” (p. 22) 
 
 
Com base nessa concepção, vemos que a língua é muito mais que 
apenas um sistema de signos. É preciso apreendê-los e significá-los histórico, 
cultural e socialmente. Assim, a língua não é um ato isolado. Mais que isso, a 
língua é abstrata, aopasso que a linguagem é a parte ativa. 
Sobre esse aspecto, passemos agora à concepção de linguagem. 
 
 
 
9 
 
 
Concepções de Linguagem 
Podemos destacar, em meio a linguísticos, três concepções distintas de 
linguagem, que serão apresentadas na sequência. 
Primeira Concepção de Linguagem 
A linguagem é a expressão do pensamento: essa concepção atrela, em 
relação de interdependência, o pensamento e a expressão. Logo, o fato de não 
saber pensar impede as pessoas de se expressarem, ou seja, aquele que não 
se expressa, não pensa. Portanto, pensar é requisito para escrever, utilizando-
se da linguagem como tradução do pensamento. 
Essa concepção prevê a existência de regras a serem seguidas para a 
organização do pensamento e, portanto, da linguagem. É o que aparece nos 
chamados estudos linguísticos tradicionais, ou, como conhecemos, gramática 
normativa ou tradicional. 
 
 
Figura 1: Linguagem – Expressão do pensamento 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
 
 
10 
 
Segunda Concepção de Linguagem 
A linguagem é instrumento de comunicação: de acordo com GERALDI 
(2006. P. 41), essa concepção se liga à Teoria da Comunicação, considerando 
a língua como sistema organizado de sinais organizados e combinados através 
de regras, capazes de permitir ao receptor certa mensagem. Ou seja, o emissor 
tem organizada mentalmente uma mensagem que deseja transmitir a um 
receptor e, para isso, utiliza um código. Contudo, para que haja comunicação, é 
necessário que emissor e receptor conheçam as convenções do código utilizado. 
 
Figura 1.2: Linguagem – Instrumento de Comunicação 
Fonte: Freepik (2018) 
 
Terceira Concepção de Linguagem 
A linguagem é uma forma ou um processo de interação: nessa concepção, 
o indivíduo (emissor) não só traduz ou exterioriza um pensamento transmitindo 
informações, mas também realiza ações capazes de atuar sobre o receptor. 
Dessa forma, vemos que esta concepção situa a linguagem como lugar de 
interações humanas, de relações sociais. 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
É possível, então, concluir que a linguagem é caracterizada pelo diálogo. 
A fim de aproximar os conceitos trazidos às proposições de ensino da língua 
portuguesa na escola, tomemos por base esta concepção de linguagem. 
Mais uma vez recorramos a um dos documentos norteadores do processo 
de ensino-aprendizagem na escola. 
Consta no texto dos PCN’s de Língua Portuguesa (p. 22): 
 
“A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade 
específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais 
existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da 
sua história. Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, 
entre amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir uma carta 
— diferentes práticas sociais das quais se pode participar. Por outro lado, a 
conversa de bar na época atual diferencia-se da que ocorria há um século, por 
exemplo, tanto em relação ao assunto quanto à forma de dizer, propriamente — 
características específicas do momento histórico. Além disso, uma conversa de 
bar entre economistas pode diferenciar-se daquela que ocorre entre professores 
ou operários de uma construção, tanto em função do registro e do conhecimento 
linguístico quanto em relação ao assunto em pauta.” 
 
 
12 
 
É, portanto, na linguagem que existe a significação, ou seja, o sentido é a 
função da linguagem, utilizando o contexto como auxílio à significação. 
Para Bakhtin (1986, p. 123), o sujeito é constituído pela linguagem, que é 
histórica e ideológica. Entende-se, por consequência, que nós somos o que 
falamos, como organizamos e constituímos o nosso discurso. 
 
É a linguagem que organiza nossa realidade. Passamos a vida 
repetindo e/ou resistindo e/ou rompendo nossa existência por meio 
da linguagem. Todo leitor tem sua história (de leituras). 
 
Um sujeito, na história, se constitui sempre na coletividade. A 
interpretação da realidade, por meio da linguagem, certamente, se dá a partir de 
memórias pessoais e coletivas. Estas, constituintes da realidade que, como já 
vimos, é organizada por meio da linguagem. 
Concepções de gramática 
Gramática normativa 
De acordo com essa concepção, 
gramática é um conjunto de normas a 
serem seguidas para um bom uso da 
língua. Assim, o falar e escrever bem se 
restringem ao uso das regras, sendo “certo” 
o que atende, obedece às normas e 
“errado” tudo o que foge a elas. Dessa 
forma, só se considera a norma culta da 
língua, descartando todas as demais 
variedades. 
 
Figura 2: Gramáticas e o 
mundo 
Fonte: Freepik (2018) 
 
http://br.freepik.com/index.php?goto=27&opciondownload=2&id=aHR0cDovL3d3dy5zeGMuaHUvcGhvdG8vMTE5NTk5Mw==&fileid=18318
 
 
13 
 
Gramática descritiva 
Para essa concepção, não há um julgamento de “certo” e “errado” e, 
portanto, destituída de qualquer preconceito linguístico. Sua visão e mais ampla 
e prevê uma descrição da estrutura e funcionamento da língua, considerando 
sua forma e função. 
Gramática internalizada 
Essa concepção aborda a língua como um conjunto de variedades de fato 
aprendidas pelo falante de uma determinada sociedade, que o torna capaz de 
comunicar-se. Para isso, não se faz necessária a escolarização do falante, uma 
vez que o aprendizado se dá no próprio processo, na atividade linguística. Aqui, 
destaca-se a ideia de “adequação/inadequação” na escolha da variedade 
linguística para cada situação comunicativa. 
 
Clique aqui para assistir ao vídeo que explica melhor todos os tipos 
de gramáticas. 
 
É necessário considerarmos os conceitos até agora apresentados 
para a constituição de uma competência discursiva, a saber: É 
adquirida pelo estudante na e pela atividade de linguagem em 
atividades de leitura e de produção de textos inseridas em situações 
linguisticamente significativas, nas quais é considerada a dimensão discursivo-
pragmática da linguagem. 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=EB68quSVLgw
 
 
14 
 
Gramática e o estudo da língua 
Para que alcancemos melhores resultados e proficiência no estudo da 
língua portuguesa, a reflexão acerca dos mecanismos da língua e suas 
manifestações é primordial. 
Não podemos, portanto, deixar de pensar nas relações língua-gramática, 
tão necessárias para um bom planejamento no ensino da língua materna. 
De acordo com ANTUNES (2007): 
 é uma atividade interativa, 
 entre dois ou mais interlocutores, 
 se realiza sob a forma de textos orais ou escritos. 
 veiculados em diferentes suportes, 
 com diferentes propósitos comunicativos, 
 e em conformidade com fatores socioculturais e contextuais. 
 
Para que o trabalho do professor de língua esteja sempre vinculado à 
realidade, faz-se necessária a organização e o planejamento de nossas aulas 
predominantemente a partir de textos contemporâneos, trazidos da realidade 
que nos circunda. 
 
 
 
Uma ótima sugestão de filme para você assistir e saber mais a 
respeito da língua portuguesa, é o documentário Língua – Vidas 
em português (2001), de Victor Lopes, o qual mostra como se dá 
o uso da língua portuguesa em várias partes do mundo. 
 
 
 
 
 
15 
 
O Brasil tem aproximadamente 180 línguas indígenas, faladas por 225 
etnias. Dessas, 110 são consideradas em extinção, pelo fato de serem 
faladas por menos de 500 pessoas. 
Em 1500, cerca de 6 milhões de índios falavam 1078 idiomas. Hoje, entre 
440 mil e 500 mil índios. 
Fonte: Revista Língua Portuguesa, n. 26. 
 
Síntese 
Pensar nas concepções e relações de língua, linguagem e gramática é 
apenas um pequeno passo para iniciarmos nossas reflexões acerca do ensino 
de língua portuguesa. 
É fundamental conhecermos a teria e dela nos apropriarmos para a 
construção de um diálogo constante com a prática. 
Na próxima aula, aprofundaremos nosso debate, tratando de por que e 
como se ensinar gramática na escola. Até lá!16 
 
Aula 2 – O ensino da gramática na escola 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
Na aula anterior, tratamos de alguns conceitos fundamentais para 
entendermos as manifestações linguísticas, o que é essencial para um bom 
planejamento das aulas de língua portuguesa. 
Passemos agora às reflexões sobre o estudo da língua portuguesa. 
 
 
 
 
17 
 
 
Em uma entrevista, Ferreira Gullar, ao ser perguntado: “Você começou 
estudando gramática. É preciso isso para escrever bem?”, responde: “Não (com 
ironia). E nem é preciso saber português. É ler os jornais e ver a TV para 
perceber, outro dia ouvi ‘as quinhentas milhões de pessoas’. Eles não sabem 
que ‘quinhentos’ é palavra masculina. Confundem ‘este’ com ‘esse’. Esse 
programa que estão vendo...’. Para eles é tudo a mesma coisa. Ignoram que as 
palavras têm sentido preciso e, para escrever bem, é preciso saber o significado, 
as relações entre elas, quais combinam, como convivem. Para isso é preciso ter 
lido algo”. 
Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 1, n. 5. 2006. 
 
 
 
 
Relações do ensino da gramática na escola 
Para instigarmos nossa conversa sobre o que já vimos na aula anterior o 
que será discutido nesta, partamos para a leitura do trecho de um artigo 
publicado na Revista Nova Escola intitulado “O que ensinar em Língua 
Portuguesa”. 
 
Concepções de linguagem alteram modo de ensinar 
Na década de 1970, uma nova transformação conceitual mudou as 
práticas escolares. A linguagem deixou de ser entendida apenas como a 
expressão do pensamento para ser vista também como um instrumento de 
comunicação, envolvendo um interlocutor e uma mensagem que precisa ser 
compreendida. Todos os gêneros passaram a ser vistos como importantes 
instrumentos de transmissão de mensagens: o aluno precisaria aprender as 
características de cada um deles para reproduzi-los na escrita e também para 
identificá-los nos textos lidos. 
Então por que 
estudar 
gramática? 
 
 
18 
 
Ainda era essencial seguir um padrão preestabelecido, e qualquer 
anormalidade seria um ruído. Para contemplar a perspectiva, o acervo de obras 
estudadas acabou ampliado, já que o formato dos textos clássicos não servia de 
subsídio para a escrita de cartas, por exemplo. 
Em pouco tempo, no entanto, as correntes acadêmicas avançaram mais. 
Mikhail Bakhtin (1895-1975) apresentou uma nova concepção de linguagem, a 
enunciativo-discursiva, que considera o discurso uma prática social e uma forma 
de interação – tese que vigora até hoje. A relação interpessoal, o contexto de 
produção dos textos, as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a 
interpretação e a intenção de quem o produz passaram a ser peças-chave. 
A expressão não era mais vista como uma representação da realidade, 
mas o resultado das intenções de quem a produziu e o impacto que terá no 
receptor. O aluno passou a ser visto como sujeito ativo, e não um reprodutor de 
modelos, e atuante - em vez de ser passivo no momento de ler e escutar. 
Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/303/o-que-ensinar-em-lingua-
portuguesa>. Acesso em: 23/10/2018, às 17h14min (fins pedagógicos). 
 
Portanto, podemos inferir que o ensino de gramática se relaciona com a 
concepção de linguagem do professor. Nós vemos a linguagem como forma de 
interação, portanto o ensino de gramática precisa considerar as teorias 
linguísticas que estudam esse tema. 
 
É importante considerarmos as contribuições de várias correntes: 
linguística textual, da teoria do discurso, da análise do discurso, da 
análise da conversação, da semântica argumentativa e dos estudos 
sobre a língua em geral. 
 
Os apontamentos se iniciam através da retomada conceitual do que seria 
o “ensino da língua”, tendo em vista que, os estudantes, em si, já iniciam as 
atividades escolares “sabendo a língua”, ou seja, se comunicando através dela. 
Um passo inicial do ensino do Português seria desenvolver a atividade de 
se comunicar. 
 
 
19 
 
 
Mas como interagir em um caso onde as crianças já se fazem 
entender por meio da língua? Mais do que isso, se comunicam de 
forma eficaz e autossuficiente? 
 
Saídas possíveis seriam tornar a escola o espaço onde o aluno consiga 
compreender a língua além do seu alcance primário, que é, simplesmente, falar 
a língua, transmitindo algum sentido ao ouvinte. 
Por que ensinar português a falantes da língua portuguesa? 
 
Figura 3: Pensar os motivos do ensino 
Fonte: Freepik (2018) 
 
O questionamento lançado nos leva a um debate sobre os motivos do 
ensino da língua portuguesa na escola. É essencial que pensemos de que forma 
o ensino da língua pode exercer algum tipo de desenvolvimento social do 
 
 
20 
 
 
indivíduo, a partir do momento que o insere criticamente nos meandros da língua 
materna enquanto fala (comunicação) e escrita (gramática). 
 
Não se deve, sob qualquer aspecto, desconsiderar que os estudantes são 
falantes de língua portuguesa e não entrarão em contato com a língua pela 
primeira vez, como no ensino de línguas estrangeiras. O que precisa ser 
ensinado na escola são os mecanismos necessários para o entendimento da 
língua em suas diversas manifestações. 
 
De acordo com Travaglia (2009), tanto o ensino das habilidades de uso 
da língua, quanto o conhecimento teórico e factual de casos que a envolvam, 
corroboram para que os estudantes tenham maior domínio da língua e apliquem 
tais habilidades ao campo comunicativo e analítico. 
Portanto, é fundamental discutir o papel da escola, na figura do professor, 
no ensino da adequação da língua em contextos distintos que vão desde as 
situações mais informais, com simples conversas, até aquelas que exigem o uso 
da norma padrão. 
Uso eficiente da língua 
Valorizar a língua é, antes de tudo, fazer uso consciente dela. Saber que 
tipo de variedade é a mais adequada para cada situação de uso é ter bom 
domínio da língua. Entendê-la como fenômeno social e dar aos estudantes a 
oportunidade de compreendê-la enquanto tal é tarefa fundamental de todo 
professor, sobretudo nas aulas de língua portuguesa. Dessa forma, o docente 
estará oportunizando ao estudante pensar sobre a língua em suas diversas 
manifestações. 
É justamente por esse motivo que devemos pensar o ensino da gramática 
na escola para que não o tornemos meras reproduções dos modelos tradicionais. 
Nas aulas de Língua Portuguesa, devemos mostrar que a língua é um 
sistema aberto e em construção, oferecendo aos alunos variações de uso. 
Assim, o estudo da língua deve se dar de maneira a considerar sempre o 
contexto, situações de uso e as relações possíveis. 
 
 
21 
 
Uma nova proposta para o ensino de gramática 
O ensino dos conceitos gramaticais, desde que a serviço da leitura e da 
escrita, devem possibilitar que os alunos adquiram domínio melhor da língua 
como ferramenta para a produção e a interpretação dos textos em diversas 
situações comunicativas. 
É imperativo ao professor que contemple em seu planejamento em quais 
situações os estudantes poderão refletir sobre a gramática, ou seja, refletir sobre 
organização e manifestações da língua em seu contexto de uso, analisando, 
sobretudo, seus efeitos de sentido. 
Um bom exemplo de situação de reflexão gramatical seria solicitar aos 
estudantes que analisem casos em que necessitem adequar o discurso (a 
variedade linguística) ao contexto da situação discursiva. Deve-se, nesse caso, 
elaborar questões que permitam aos estudantes pensarem em: 
 que efeitos querem produzir nos leitores/ouvintes; 
 o que será necessário para que atinjam seus propósitos 
comunicativos; 
 que modificações ou adequações poderiam ser feitas para que 
haja compreensão da mensagem? 
 
Assim, estaremos propiciando momentos de análise e reflexão para o uso 
eficiente da língua em diferentes situações. 
 
 
 
 
22 
 
Listagem de conteúdos gramaticais 
 
Figura 4: Seleção de conteúdos 
Fonte: Freepik(2018) 
 
Os conteúdos gramaticais devem ser eleitos levando-se em consideração 
a frequência com que aparecem nas situações propostas. Ressalta-se a 
importância da seleção adequada de conteúdos a partir do texto e não o 
contrário. Ou seja, os conteúdos gramaticais devem emergir do texto e serem 
trabalhados de forma a contribuírem para a compreensão das ideias no dado 
contexto. 
O objetivo principal do ensino é levar os estudantes a perceber que termos 
ou frases não são aleatórios ou cristalizados e sim condicionados pela situação 
em que são produzidas. Por isso a importância de se estudar os conteúdos 
gramaticais a partir dos textos, considerando o que eles exigem de esforço 
do leitor para sua compreensão. 
Os conteúdos gramaticais, portanto, podem ser sistematizados caso 
sejam postos em uso no exercício das práticas de linguagem como objeto de 
 
 
23 
 
reflexão. É somente a partir do uso efetivo, em uma situação dada que se pode 
promover a reflexão. 
 
 
Clique aqui para assistir à entrevista de Irandé Antunes, uma das 
grandes personalidades de ensino de gramática de língua portuguesa. 
 
 
No processo de ensino-aprendizagem, às vezes vamos dando as coisas 
em sequência, mas, ao final do processo não se retém informações 
significativas. 
Por isso, a sequência de uso-reflexão-sistematização-uso é um critério 
central para programarmos os conteúdos. 
Quando da seleção de um texto como objeto de estudo das aulas de 
língua portuguesa, deve-se observar cautelosamente os obstáculos que ele 
oferece. É necessário que haja um problema no texto para que seja passível de 
análise, contudo esse não pode ser um obstáculo grande demais a ponto de o 
estudante não ser capaz de transpô-lo. 
Para isso, pensemos em alguns pontos a serem explorados na seleção 
de textos e, consecutivamente dos conteúdos de análise, por exemplo: 
 Adequação lexical a distintos contextos. 
 A diferença entre usos orais e escritos. 
 Formas de marcar pessoas do discurso (enunciador e 
enunciatário): verbos e pronomes. 
 Formas de introduzir distintas vozes no discurso: discurso direto, 
indireto. 
 Situações lexicais para manter a referência e evitar repetições 
desnecessárias. 
 Conexão e organização do texto: isso dos sinais de pontuação 
como elementos de coesão. Conectores e marcadores e 
organizadores textuais. 
 Coesão verbal na narração. 
https://www.youtube.com/watch?v=Lqz9Jjbr5gA&t=1337s
 
 
24 
 
 Elipse do sujeito. 
 Distintas maneiras de apresentar os eventos na narração: ações, 
descrições, sentimentos, pensamentos dos personagens etc. 
 
Desta maneira, o aluno que internalize o aprendizado da língua de forma 
dinâmica, comunicativa e linguístico-gramatical, terá na pluralidade de situações 
que envolvam o seu cotidiano, ferramentas para melhor se comunicar e analisar 
casos em que a língua seja melhor aplicada, já no campo gramatical e linguístico. 
Todos os aspectos da discussão até o momento apontam para o ensino 
da gramática como algo além do ensino da norma culta (cuja importância está 
ligada ao alcance social do indivíduo), já que o verdadeiro conhecimento extraído 
do ensino da gramática, neste caso, deve formar alunos com habilidades de 
desenvolver analise gramatical da língua a partir de seu próprio recurso 
intelectual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
 
 
25 
 
Síntese 
O objetivo maior a ser conquistado é fazer com que o aluno domine a 
língua de tal forma que consiga julgar por si próprio quais seriam as ocasiões em 
que o trato da língua deva ser mais ou menos regrado. Num certo sentido, o 
estudante deve dominar o Português além das formas orais, aprendendo a julgar 
as situações que o uso coloquial da língua materna deva ser praticado. 
 
 
 
 
 
26 
 
Aula 3 – O texto 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
Olá, estudante! A partir de agora, discutiremos os fatores envolvidos na 
escolha de textos e processos de leitura. Para isso, faz-se necessária, também, 
uma profunda reflexão sobre a importância da palavra como constituinte da 
espécie humana e, consequentemente, do estudante enquanto sujeito imerso 
em um contexto cultural. 
Sendo assim, iniciemos pela relevância da palavra escrita nos processos 
de ensino-aprendizagem e leitura de mundo. 
 
 
 
 
 
27 
 
O que é texto? 
 
Além disso, é essencial que pensemos o texto como algo mutável e a 
leitura como atividade não passiva, ela exige do leitor esforços e diálogo 
constante para a produção de sentidos. 
Harold Bloom, em seu texto “Cabala e crítica”, diz que textos não têm 
significados, a não ser na relação que estabelecem com outros textos, de 
maneira que existe algo estranhamente dialético. 
Há diferentes procedimentos para a leitura e compreensão de um texto, 
como uma espécie de “desleitura” – leitura de maneira diferente, ampliando o 
olhar para diferentes aspectos do texto. Há, por exemplo, uma maneira de ler um 
livro impresso e outra de ler no computador. 
A “desleitura” deve ser capaz de decompor – significar – construir outro 
texto – socializar. Assim, poderemos construir significativamente a compreensão 
leitora. 
É vital ainda entendermos que o texto, todo e qualquer texto, é constituído 
de significados – sejam eles claramente expostos (explícitos) ou engendrados 
nas entrelinhas (implícitos) –, ideologias e intenções que não devem ser 
desvinculadas de seu contexto de produção no momento de leitura e 
interpretação. 
 
 
28 
 
Vejamos agora algumas implicações do ato de ler para melhor 
compreendermos esse fenômeno. 
 
Ler 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
A palavra ler tem muitos sentidos. O Dicionário Houaiss da língua 
portuguesa apresenta as seguintes definições, entre outras: 
1. percorrer com a vista (texto, sintagma, palavra), interpretando-o por 
uma relação estabelecida entre as sequências dos sinais gráficos escritos 
(alfabéticos, ideográficos) e os sinais linguísticos próprios de uma língua natural 
(fonemas, palavras, indicações gramaticais); 
2. ter acesso a (texto, obra etc.) através de sistema de escrita, valendo-
se de outro sentido que não o da visão; 
3. conhecer, através de exame mais ou menos extenso (o conteúdo de 
um texto, obra etc.); 
4. dedicar-se, entregar-se à leitura como hábito ou como paixão; 
 
 
29 
 
5. interpretar (ideia, conceito mais ou menos complexo ou pensamento de 
um autor, pensador etc.); compreender; 
6. atribuir (significado, sentido ou forma) a (algo que se vê); interpretar; 
7. perceber, adivinhar, interpretar (sentimentos, pensamentos não 
formulados ou ocultos) guiando-se por indícios mais ou menos subjetivos; 
decifrar o que não se revela facilmente, o que está além do literal; 
8. deduzir, guiando-se por indícios objetivos (alguma coisa não explícita, 
não declarada mas indiretamente constatável); inferir; 
9. prever, presumir (algo), formular (hipóteses), a partir de dados 
objetivos, conjecturar. 
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, 2016. (Adaptado) 
 
A partir dessas acepções, podemos perceber a complexidade do ato de 
ler. Tal ato pode se consolidar desde uma simples tarefa de decodificação até a 
compreensão da mensagem textual em todas as suas nuances. 
É por meio da linguagem que ocorrem as aproximações entre os seres 
humanos, bem como suas relações comunicacionais. 
A leitura é, portanto, muito mais ampla do que parece. Fazemos leituras 
o tempo todo das mais variadas formas possíveis. Ao analisarmos as 
atitudes das pessoas que nos cercam, por exemplo, estamos fazendo uma 
leitura da situação. Lemos as expressões faciais das pessoas, lemos rótulos dos 
produtos para os avaliarmos, verificarmos sua utilidade etc. Logo, concluímos 
que a leitura se faz presente em todos os momentos de nossa vida. 
A partir disso, consideremos leitor competente aquele que extrapola os 
limites do que está dito, ou seja, aquele capaz de compreenderas entrelinhas, 
seguindo as pistas dadas pelo texto. E vai além disso, é necessário desenvolver 
criticidade diante do que foi lido, assumindo papel ativo de construtor de sentido 
através da leitura. 
 
A capacidade de análise do texto deve considerar fatores externos a 
ele sem extrapolar os limites da interpretação dados pelo texto. 
 
 
30 
 
Portanto, é necessário, ler além das palavras. O contexto é fundamental 
para a compreensão da mensagem. A situação de produção, intencionalidade, 
contexto histórico, entre tantos outros fatores, contribuem para a apreensão da 
mensagem. O leitor competente e crítico não pode deixar de lado qualquer 
desses elementos que compõem o texto. 
Com isso, teremos efetivamente a tarefa de ler, o que implica respeito ao 
texto e a todas as suas especificidades, além da tomada de uma atitude ativa 
diante dele. 
 
Leitura 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
Leitura é uma prática cultural. Por isso, faz-se necessário compreender o 
papel do leitor diante dessa prática. 
A leitura também deve ser considerada em sua face de entretenimento – 
objeto que represente para o leitor uma saída do trabalho, do esforço. Contudo, 
 
 
31 
 
num esquema de interação e mediação de leitura, o professor necessita 
considerar todas as dimensões da leitura. Tais como: 
 
 
 
Para que alcancemos a plenitude do ato de leitura na escola é 
fundamental que pensemos em estratégias de interação entre leitor e mediador, 
propiciando diálogo construtivo com o texto. 
 
 
A formação de um leitor proficiente é um dos principais objetivos do 
ensino de língua portuguesa e uma proposta de alfabetização com 
vistas aos multiletramentos precisa levar em conta o caráter multimodal 
dos textos e a multiplicidade de sua significação. (LORENZI; PÁDUA, 2012) 
 
 
Então, de que maneira se deve proceder para que a leitura passe de mero 
instrumento de informação para ser ferramenta de formação do sujeito fazendo 
com que este exerça sua criticidade de forma proficiente para construção de sua 
cidadania, extrapolando os limites da escola? 
 
 
Clique aqui para ler o texto de Magda Soares “O que funciona na 
alfabetização?” 
 
 
 
Informação
Crítica 
(julgamento)
Formação Escolar
http://www.revistapatio.com.br/sumario_conteudo,aspx?id=647
 
 
32 
 
 
Alfabetização e Letramento 
 
 Fonte: Freepik (2018) 
 
Antes de tratarmos das diferenças básicas entre alfabetização e 
letramento, devemos considerar a essencialidade do papel do professor como 
agente de letramento. 
 
“[...] é importante pensar nas possibilidades de acesso das pessoas que sabem 
ler e escrever a uma cultura letrada. A alfabetização intermedia o acesso do 
indivíduo que utiliza a leitura e a escrita para fins sociais, e não meramente como 
decodificação. Existem pessoas analfabetas que fazem uso da leitura de mundo 
em seu contexto social em práticas cotidianas como pegar um ônibus, ir ao 
banco, fazer compras, entre outras.” (SOUZA; SERAFIM, 2012, p. 23) 
 
 
A escola, portanto, deve dar, além do acesso à alfabetização, condições 
para o letramento. Nesse aspecto, Costa (2009) apresenta as seguintes 
concepções: 
 Alfabetização consiste na inserção do indivíduo no mundo da 
escrita e se dá por meio da aquisição de uma tecnologia: a de 
traduzir letras em sons, por exemplo. 
 
 
33 
 
 O letramento pressupõe que a aquisição da escrita se dá por meio 
do desenvolvimento das competências (habilidades, 
conhecimentos, atitudes) de uso efetivo da alfabetização em 
práticas sociais que usam textos escritos. 
 
Logo, podemos considerar todas as nuances do processo de leitura 
descritas anteriormente para o letramento. Sobre esse aspecto, é crucial o 
trabalho do professor, dando as condições necessárias para o desenvolvimento 
das habilidades leitoras para desenvolver o letramento. 
 
Alfabetização em multiletramentos 
Não basta pensarmos apenas em leitura, num sentido restrito da palavra. 
É necessário considerar “Leituras de Múltiplas Linguagens” para a formação de 
leitores competentes e críticos. É fundamental, portanto, promovermos, 
enquanto professores mediadores dos processos de leitura, experiência de 
leituras de múltiplas linguagens propiciando e desenvolvendo a capacidade de 
interpretar e decifrar o que está além do literal. 
Podemos perceber que muito estudantes estão desmotivados para 
frequentar a escola e demonstram receptividade negativa às atividades 
propostas convencionais para o trabalho de língua portuguesa em sala. Sabe-se 
também que os estudantes de escolas públicas, em geral, não contam com 
muitos recursos e, por isso, não têm acesso a leituras diversificadas. 
 
 
Clique aqui para assistir ao vídeo de Viviane Mosé abordando mais 
sobre esse tema e falando de alguns problemas que temos hoje na 
realidade educacional brasileira. 
 
É comum vermos casos de crianças em nossas escolas que, ao terem 
contato com determinados textos por obrigação escolar, costumam dizer que 
https://www.youtube.com/watch?v=EigUj_d5n80
 
 
34 
 
não gostam de ler ou que ler é muito chato. A escola também é responsável, 
em parte, pelo afastamento do hábito da leitura. 
Com muita frequência tomamos conhecimento de estudantes que 
preferem assistir filmes a ler livros. Esse outro tipo de texto, de linguagem mista, 
sem dúvida é muito atrativo ao público jovem. Com isso, percebemos a 
necessidade de apresentar aos alunos a grande variedade de possibilidades de 
leitura que podemos ter considerando-se diferentes linguagens. 
Presume-se que propondo leituras diversificadas passando pelas 
linguagens orais, escritas, mistas e visuais, possamos despertar o olhar crítico 
de nossos estudantes e viabilizar o desenvolvimento de habilidades necessárias 
para a formação de um leitor competente, pronto para viver em comunidade, 
exercendo seu papel de cidadão. 
Lá você encontrará interessantes debates acerca de leitura e letramentos, 
tais como: “Os estudos de letramento e a formação do professor de língua 
materna”, de Angela B. Kleiman; “Avanços e retrocessos nas propostas de 
ensino de Língua Portuguesa: questões de ideologia e de poder”, de Maria Sílvia 
Cintra Martins; “O letramento escolar e os textos da divulgação científica – a 
apropriação dos gêneros de discurso na escola”, de Roxane Rojo, entre outros. 
 
 
 
 
 
35 
 
Aula 4 – Leitura e seus processos 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
Olá, estudante! nesta aula faremos uma abordagem sobre os textos nas 
aulas de língua portuguesa e sua importância para o processo de ensino-
aprendizagem. Conversaremos ainda sobre as formas de trabalho como os 
textos e as diferentes estratégia de leitura que poderão (e deverão) ser utilizadas 
em nossas futuras aulas para que possamos ajudar nossos estudantes a 
atingirem competência leitura. 
 
 
 
 
 
36 
 
Aula de leitura 
Aula de leitura 
Ricardo Azevedo 
 
A leitura é muito mais 
do que decifrar palavras. 
Quem quiser parar pra ver 
pode até se surpreender: 
vai ler nas folhas do chão, 
se é outono ou se é verão; 
nas ondas soltas do mar, 
se é hora de navegar; 
e no jeito da pessoa, 
se trabalha ou se é à-toa; 
na cara do lutador, 
quando está sentindo dor; 
vai ler na casa de alguém 
o gosto que o dono tem; 
e no pelo do cachorro, 
se é melhor gritar socorro; 
e na cinza da fumaça, 
o tamanho da desgraça; 
e no tom que sopra o vento, 
se corre o barco ou vai lento; 
também na cor da fruta, 
e no cheiro da comida, 
e no ronco do motor, 
e nos dentes do cavalo, 
e na pele da pessoa, 
e no brilho do sorriso, 
vai ler nas nuvens do céu, 
vai ler na palma da mão, 
vai ler até nas estrelas 
e no som do coração. 
Uma arte que dá medo 
é a de ler um olhar, 
pois os olhos têm segredos 
difíceis de decifrar. 
AZEVEDO, R. Dezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática,1999. 
 
 
 
 
37 
 
Já vimos na aula 3 que a leitura é bastante ampla. Como nos mostra 
brilhantemente o poeta,a leitura é uma ação que ultrapassa os limites das 
correspondências entre letras e sons. Fazemos leituras a todo momento, desde 
as situações mais rotineiras, como “vai ler nas folhas do chão / se é outono ou 
se é verão”, as quais requerem níveis mais objetivos de compreensão, até 
àquelas “difíceis de decifrar”. 
Também é papel do professor ler as expressões nos rostos dos alunos-
leitores para averiguar a receptividade do estudante às atividades/leituras 
propostas. Tal leitura permite ao professor perceber eventuais estranhamentos, 
rejeição ou aceitação das crianças e, a partir dessa percepção, validar ou 
reprogramar suas aulas. 
É crucial a discussão acerca dessa “arte que dá medo” para que, 
desvelando nossas próprias percepções, possamos transpor os obstáculos 
existentes no processo de ensino-aprendizagem da leitura. 
 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
 
38 
 
O papel do texto na formação dos estudantes 
Sabe-se que, no Brasil, o índice 
de analfabetismo ainda é grande 
e, talvez por esse histórico 
acumulativo de não leitores, não 
se desenvolveu uma tradição de 
leitura espontânea, “leitura de 
férias”. Assim, a leitura ainda é 
caracterizada como obrigatória, 
ou seja, lê-se porque o professor 
pede ou para fazer um trabalho, 
uma prova e, dificilmente, como 
atividade de lazer ou entretenimento. É, portanto, na escola que devem ocorrer 
a formação do leitor. 
Pesquisas recentes mostram o desestimulante índice de livros lidos 
anualmente por cada brasileiro. Mas o fracasso não é somente da escola. 
Sabemos que, especialmente na rede pública, não se pode contar com um bom 
acervo local, ou seja, o leitor em potencial (nesse caso a criança que está 
descobrindo o mundo da leitura) não conta com obras que possam lhe despertar 
interesse e então desistem definitivamente de cultivar esse hábito. 
 
A dificuldade maior está em o professor conseguir obter bons 
resultados contando com tão poucos recursos. É, usando o famoso 
ditado popular, “tirar leite de pedra”. Assim, o trabalho com o texto em 
seus mais variados tipos e suportes têm um papel fundamental de destaque na 
comunicação e transformação de indivíduos. 
 
Assim sendo, a melhor maneira de promover a aproximação das crianças 
com o conhecimento é por meio dos textos. Os primeiros contatos devem dar-se 
com textos compostos apenas por imagens, que devem ser coloridas e 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
39 
 
 
chamativas. A criança poderá ler o texto, ainda que não alfabetizada, vendo-o 
como algo interessante e divertido e, logo, terá na leitura uma referência positiva. 
As leituras podem propiciar ao pequeno leitor uma enriquecedora 
experiência de uso da imaginação, de criação de personagens, lugares, tempos, 
mundos e enredos diversos. 
 
É importante que a escolha dos textos feita pelo professor seja bastante 
criteriosa, optando por aqueles que contenham um enredo bastante envolvente. 
 
O contato com textos, sobretudo os literários, permite à criança mergulhar 
no mundo da imaginação onde poderá encontrar seus sonhos, medos, 
ansiedades, preocupações, dificuldades, desafios e vivenciá-los através dos 
personagens. Com isso concretiza-se um processo de autoconhecimento, que 
garante a esse leitor a aquisição de uma experiência feliz com o ato da leitura. 
Contudo, ao explorar a atividade de leitura em salas de aula é preciso 
enfatizar que ela deve ser vista como uma experiência individual, nunca coletiva. 
Cada criança interpretará a estória à sua maneira e somente ela, enquanto 
indivíduo, poderá identificar e selecionar os significados mais importantes para 
si mesma. Afinal, ler é um ato solitário. 
Apesar disso, faz-se necessário um momento 
de compartilhamento das experiências de leitura. 
Porém de nada adianta, mesmo sabendo a 
magnitude de tal leitura, enfiar goela abaixo dezenas 
de textos nas crianças e obrigá-las a uma 
interpretação “adequada”. A descoberta dos elementos escondidos no texto, a 
magia que há por trás da estória, deverá ser experienciada pela própria criança. 
Pois, como diz Eco (2006, p. 9), “todo texto é uma máquina preguiçosa pedindo 
ao leitor que faça uma parte de seu trabalho”. 
Também é importante que a criança veja na leitura uma atividade 
desafiadora e não uma simples decodificação. O texto deve surpreender e até 
mesmo romper com as expectativas do leitor para que ele perceba o caráter 
desafiador da leitura. 
Sobre esse aspecto, 
trataremos na aula 6 ao 
falarmos de sequências 
didáticas. 
 
 
40 
 
A descoberta feita pela própria criança é que proporcionará a ela bons 
momentos de aprendizado. É necessário que a leitura ocorra a partir de uma 
problematização, para, a partir dela, identificar as 
particularidades do texto, estabelecer relações e 
construir significados. 
A orientação do professor pode ajudar o 
estudante a compreender melhor o texto para que ele 
desenvolva mais amplamente a sua capacidade crítica 
e sua visão de mundo. 
Para isso, as aulas de Língua Portuguesa devem contemplar um trabalho 
sistematizado de estratégias de leitura. 
 
Estratégias de leitura 
Pensemos inicialmente em algumas fases para o trabalho com a leitura 
de textos na escola. 
Em primeiro lugar, é necessário que o professor se posicione diante dos 
textos lidos previamente e estabeleça paradigmas. A partir deles é que se deverá 
traçar um planejamento que contemple diferentes etapas para a aula de leitura, 
como as aqui propostas: 
 Ativação de conhecimentos prévios; 
 Estabelecimento de conexões; 
 Criar imagens mentais; 
 Inferência; 
 Questões ao texto. 
 
Veja a seguir cada uma delas. 
 
 
O que veremos com 
aprofundamento na 
aula 6 quando 
trataremos de 
sequência didática. 
 
 
41 
 
Ativação de conhecimentos prévios 
A aula poderá iniciar com uma série de questionamentos lançados à 
turma, tais como: 
 
 
 
 O que já conhecem sobre o gênero do texto em estudo? 
 Já viram ou leram algo sobre o tema? 
 O que sabem sobre o autor? 
 
 
 
 
A partir disso, o professor deverá instigar os estudantes a pensarem em 
como descobrir algumas informações que possam ajudar a ler o texto. 
 
Estabelecimento de conexões 
O estabelecimento de objetivos para cada uma das etapas deve decorrer 
dos conhecimentos prévios apresentados pelos estudantes sem descartar sob 
qualquer aspecto o que for trazido pelos alunos. A valorização dos 
conhecimentos de mundo por eles trazidos pode suscitar a curiosidade e a 
vontade de conhecer mais a respeito do assunto. 
As conexões a serem estabelecidas podem ser sugeridas por qualquer 
um dos participantes da aula. Caso nenhum estudante se manifeste 
voluntariamente, o professor deverá lançar possibilidades para que eles 
prossigam. 
São possíveis conexões com outros textos, de diferentes gêneros, 
suportes e linguagens; com experiências dos leitores, vivências, conhecimentos 
enciclopédicos e com as relações com o mundo em que vivemos. 
 
 
 
42 
 
Criar imagens mentais 
Como qualquer estratégia de leitura, a criação de imagens mentais deve 
ser ensinada aos estudantes. Apesar de nos parecer bastante óbvia à criança, 
nem sempre está tão evidente a ideia de que é fundamental imaginarmos o que 
estamos lendo. 
Antes mesmo de iniciar uma leitura, o professor poderá solicitar às 
crianças que façam o levantamento de hipóteses, já construindo mentalmente as 
cenas que poderão ocorrer, visualizando imagens que poderão ou não se 
confirmar durante a leitura. 
Uma sugestão seria pedir aos estudantes que, após uma leitura breve (de 
um conto, de um poema), façam a representação por meio de desenhos. A 
utilização de uma outra linguagem pode abrir espaço para melhor compreensão 
do texto. 
O procedimento inverso também deve ser valorizado, ou seja, a leitura de 
imagens para a construção do enredo e, consequentemente, de significados. 
 
Inferência 
Uma importante estratégia paraque os estudantes busquem 
entendimento é inferir o significado de palavras desconhecidas através do 
contexto. Para isso é vital a interação professor-aluno. O professor não deve 
responder de imediato às perguntas dos estudantes, mas sim lançar novos 
questionamentos como mecanismos para que eles próprios infiram o significado 
de termos, expressões, passagens do texto etc. 
Dessa forma, o estudante poderá ser levado a construir conhecimentos e 
estabelecer as significações a partir de pistas deixadas pelo texto. É essencial 
que se retorne ao texto sempre que necessário para confirmar, justificar as 
inferências e não se basear em simples “achismos”. 
 
 
 
 
43 
 
Questões ao texto 
Nesse momento, é importante considerar a complexidade de cada leitura 
realizada e organizar as questões em momentos e níveis diferentes de 
aprofundamento. 
Deve-se organizar perguntas a serem realizadas antes da leitura do texto, 
que instigarão à leitura, aguçarão a curiosidade para a realização do ato de ler; 
durante a leitura, o que pode ser realizado, por exemplo, com uso de pausas 
programadas para averiguação da compreensão leitora dos sujeitos em 
processo de leitura; e após a leitura, quando se verificarão ou não as hipóteses 
levantadas no início do processo. 
O grau de dificuldade das questões elaboradas também deve ser levado 
em conta. Há a necessidade de construção de perguntas desde aquelas de fácil 
identificação até as que exigem maior reflexão e estabelecimentos de diversas 
relações. 
Tal como metaforizou Silva (2014) em sua tese de mestrado, há perguntas 
magras e perguntas gordas, ou seja, há questões que exigem respostas simples, 
objetivas e há as que exigem profundidade na explicitação, explicar os motivos, 
justificar etc. 
 
Síntese 
Embora existam diversos programas de incentivo à leitura, é na escola 
que as crianças e os adolescentes devem aprender e desenvolver o gosto pela 
leitura. Para isso é necessário um projeto bem elaborado e preocupado com a 
formação de leitores, composto por uma diversidade de títulos onde o leitor pode 
encontrar tanto leituras consideradas fáceis para eles quanto aquelas que 
romperão com seu universo de expectativas. 
Para se ensinar uma criança a ler, entender, compreender e gostar de ler 
é necessário incentivá-la de maneira adequada, especialmente, com o uso de 
estratégias como as aqui descritas. É essencial a todo profissional da educação 
como mediador de leitura o uso de estratégias para a obtenção dos objetivos. 
 
 
44 
 
É claro que as sugestões aqui dadas representam uma ínfima parte da 
enorme quantidade de estratégias para o ensino de língua portuguesa por meio 
de textos. Os objetivos a serem atingidos é que nortearão tanto a escolha de 
textos para as aulas quanto as estratégias necessárias para atingi-los. 
 
 
 
 
 
45 
 
Aula 5 – Gêneros textuais 
 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
Até agora tecemos considerações acerca dos atos comunicativos e suas 
relações nos textos. Considerando o que foi exposto até agora, faz-se necessária 
uma reflexão sobre as práticas educativas e os caminhos tomados no trabalho 
com texto na escola. 
É isso o que você verá nesta aula! 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
46 
 
 
O que são gêneros textuais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É fundamental partirmos dessa definição para pensarmos o conteúdo em 
estudo. Consideremos a noção apresentada a partir das características comuns 
que determinados textos têm para serem agrupados de acordo com sua 
familiaridade. Existe um incontável número de gêneros textuais, tantas quantas 
são as necessidades comunicativas do ser humano. 
O trabalho com os gêneros textuais na escola é uma oportunidade de 
desenvolvimento da capacidade interpretativa, crítica e comunicacional que o 
estudante pode ter, se conduzido adequadamente pelo mediador a perceber as 
finalidades do texto. Tal atividade permite ainda um momento de aprendizagem 
significativa da linguagem, procurando entendê-la como prática comunicativa, 
dentro de sua esfera social. 
 
Ao solicitar, por exemplo, que o estudante identifique sinais de pontuação ou 
identifiquem marcas linguísticas para que reconheçam o gênero textual em 
estudo, estaremos promovendo um momento de reflexão e construção do 
conhecimento. 
 
Fonte: Freepik (2018) 
 
Usamos a expressão gênero textual 
como uma noção propositalmente 
vaga para referir os textos 
materializados que encontramos em 
nossa vida diária e que apresentam 
características sociocomunicativas 
definidas por conteúdos, 
propriedades funcionais, estilo e 
composição característica. 
(MARCUSCHI, 2007) 
 
 
 
47 
 
O estudo da língua portuguesa, tomando por instrumento os gêneros 
textuais, tem maior garantia de êxito quanto à aquisição e desenvolvimento das 
capacidades linguísticas. 
Contudo, não se deve desconsiderar os elementos extrínsecos ao texto 
no momento de sua análise. Fatores sociais, culturais e históricos são 
características que contribuem para a formação de cada gênero textual. Ignorá-
los seria deixar de ensinar parte de sua composição. 
 
Funções da escrita de diferentes gêneros textuais 
Função utilitária 
 “que diz respeito aos textos redigidos na escola (exclusive textos 
criativos), tais como: resumos, relatórios, anotações da lousa, provas, 
exercícios etc., e aos textos que remetem aos usos sociais da escrita, 
voltados a informar, formar opinião, explicar, argumentar, documentar, orientar, 
divulgar, instruir etc.” (PASSARELLI, 2012) 
 
Retomemos agora as concepções trabalhadas até então. Considerando 
as funções da linguagem e os propósitos e intenções comunicativas que 
pretendermos considerar no processo de ensino-aprendizagem, devemos 
entender o caráter e a função utilitária da escrita. 
Escrevemos sempre com um propósito e visamos fazer com que a 
nossa mensagem chegue a seu destinatário de maneira clara e eficaz. 
Perceber as nuances do gênero textual em estudo é analisar a função da 
linguagem naquele dado contexto e, consequentemente, daquele gênero textual 
em sua especificidade. 
 
 
 
 
48 
 
Função estética 
Um bom exemplo de texto com finalidade estética é o literário, capaz de 
despertar emoções. É o gênero que logo percebemos que sempre há uma 
intencionalidade na escrita, ainda que essa não seja de ordem prática, objetiva. 
Assim como nenhum leitor vai despretensiosamente a um texto, nenhum 
texto é totalmente despretensioso. Tal fator deve, sem sombra de dúvidas, ser 
considerado no momento de sua leitura e análise. 
Já que sempre há uma intenção, um motivo para a escrita, veja a seguir 
um quadro ilustrativo que organiza as funções acima descritas. 
 
Tabela 1 – Funções sociais da escrita: para que escrevemos 
E
s
c
re
v
e
r 
p
a
ra
 
Função social e/ou 
propósito 
comunicativo 
Gênero 
Fornecer/obter 
informações e resolver 
problemas práticos do dia 
a dia. 
cheque; carta comercial; ofício, memorando, 
relatório técnico, circulares; curriculum vitae; 
textos de procedimentos; e-mails; provas, 
redações e trabalhos escolares; convites; textos 
para mural; regras de jogos; manuais de 
instrução; receita médica; bula de remédio. 
Partilhar vivências. 
depoimentos em redes sociais, em colunas de 
revistas; blog etc. 
Reivindicar, manifestar 
e/ou formar opinião. 
carta de leitor; carta de reclamação; artigo de 
opinião; editorial. 
Não esquecer 
Fornecer suporte à 
memória. 
fichamentos, resumos, resenhas etc.; anotações 
pessoais em calendários; páginas de agendas; 
receita; datas de aniversários; listas. 
Formalizar registros 
permanentes. 
convites; certidões; certificados; diplomas; frases 
em tatuagens. 
Substituir comunicações 
próprias do contato face a 
face. 
bilhetes, cartas; telegramas, mensagens 
eletrônicas [via computador, telefone]. 
 
 
49 
 
Satisfazer curiosidades, 
inteirar-se. 
folhetos religiosos; mensagens queorientam 
papéis sociais; propagandas institucionais; 
cadernos de perguntas pessoais dos 
adolescentes. 
Passar o tempo, ter 
momentos de lazer. 
poemas; pichações em muros, cadernos 
pessoais. 
Obter informações, 
esclarecimentos ou trocar 
mensagens atinentes a 
relações sociais com 
parentes, amigos e 
namorados. 
torpedo; telegrama; carta; e-mail ou outra 
correspondência eletrônica; cartões de Natal, de 
aniversário. 
Produzir literatura. 
acrósticos, crônicas, contos, romances, poemas, 
haicais, limeriques. 
Fonte: PASSARELLI, 2012. 
 
É interessante vermos como a escola, enquanto representação da vida 
em sociedade, propicia o desenvolvimento do trabalho com os mais diversos 
gêneros textuais. Essencial é perceber e explicitar as relações que os textos 
traçam com a realidade social e histórica que nos cerca para fazer com que a 
aprendizagem por parte do estudante seja significativa. 
Em outras palavras, a escola é o local adequado para a “simulação” da 
vida real, trazendo para o seu cotidiano as situações (textos em seus mais 
variados gêneros) que transcendem esse ambiente, mas ao mesmo tempo o 
compõem uma vez que a escola é feita de sujeitos que não estão desvinculados 
da sociedade. 
 
 
 
 
50 
 
Gêneros textuais na escola 
 
Fonte: Freepik (2018) 
 
Por que trabalhar com gêneros? 
Já tecemos algumas reflexões sobre a importância de gêneros textuais, 
apontando sua relevância social. É por meio do contato constante com os textos 
de determinado gênero que podemos desenvolver a nossa capacidade de 
identificar a intencionalidade discursiva de cada produção. 
Desse modo, devemos considerar a relevância do trabalho com gêneros 
textuais na aula de língua portuguesa não considerando apenas os aspectos 
linguísticos, mas como forma de realização linguística extratextual, na vida 
social. 
 
Como trabalhar com gêneros? 
Passemos agora a pensar em questões metodológicas do trabalho com 
gêneros textuais nas aulas de Língua Portuguesa. É fundamental que a escolha 
de qualquer gênero textual para abordagem em sala de aula esteja de acordo 
 
 
51 
 
com os objetivos das aulas dessa disciplina, especialmente os propósitos 
comunicativos. Lembremos sempre que o texto não deve ser pretexto para 
nada. 
O texto deve ser selecionado para atender às necessidades educativas, 
mas sem desconsiderar as peculiaridades do texto em estudo, ou seja, uma vez 
escolhido o gênero, não se deve desconsiderar as características de circulação 
social ou trabalhar exclusivamente seus aspectos linguísticos. 
Uma maneira apropriada para trabalhar as características de um gênero 
é apresentando aos estudantes vários exemplos para que eles construam o 
conceito. As características e semelhanças serão apreendidas por eles se forem 
levados a identificá-las e percebê-las, seguindo algumas pistas que devem ser 
dadas pelo professor. 
 
 
Clique aqui para assistir ao vídeo de Yara Maria Miguel, formadora do 
programa Ler e Escrever, explicando como trabalhar a leitura 
dramática na sala de aula. Ela fala sobre as características dessa 
leitura e a importância do texto. 
 
Tipos textuais 
Embora relacionados aos gêneros textuais, a tipologia textual é um pouco 
diferente. Veja a seguir em que consiste essa diferença. 
Os gêneros textuais são classificados considerando os objetivos 
sociocomunicativos. Existe um número indefinido de gêneros literários, tantos 
quantos são os objetivos de comunicação dos seres humanos; ao passo que 
existem poucos tipos textuais, a saber: 
 Narrativo – apoia-se em fatos, personagens e suas relações no tempo e 
espaço. 
 Descritivo – enumera, simultaneamente, aspectos físicos e psicológicos. 
https://www.youtube.com/watch?v=PDHJlv81qXg
 
 
52 
 
 Dissertativo – faz uma espécie de relação de ideias ou conceitos, com 
predominância de termos abstratos, conceituais. 
 Injuntivo – também conhecido como instrucional, está presente nos 
manuais de instrução, por exemplo. 
 Argumentativo – procura defender uma tese, opinião ou ponto de vista, 
visando convencer o leitor/ouvinte. 
 
A fim de esclarecer essa definição, veja a seguir um quadro explicativo. 
 
Tabela 2 - Relações entre gêneros e tipologias textuais 
Tipos textuais Exemplos gêneros orais e escritos 
Narrativas 
Conto, fábula, narrativa de aventura, 
romance, narrativa de ficção 
científica, crônica literária, romance 
histórico, narrativa de enigma, novela 
fantástica, conto maravilhoso, entre 
outros. 
Relatos 
Relato de experiência, diário íntimo, 
reportagem, crônica social, anedota 
ou caso, autobiografia, biografia, 
curriculum vitae, notícia, relato 
histórico etc. 
Argumentativos 
Textos de opinião, carta de eleitor, 
carta de reclamação, carta de 
solicitação, debate regrado, artigo de 
opinião, editorial, resenha crítica, 
assembleia, ensaio, discurso de 
defesa e de acusação (em se 
tratando da área jurídica), 
deliberação formal, entre demais 
exemplos. 
 
 
53 
 
Expositivos 
Exposição oral, seminário, 
conferência, palestra, resumo de 
textos explicativos, relatório científico, 
relato oral de experiência, verbete, 
entre outros. 
Descritivos 
Instruções de montagem, receita, 
regulamento, instruções de uso, 
textos prescritivos, regras de jogo, 
comandos diversos etc. 
 
Devemos aproveitar as situações do dia a dia para mostrar aos estudantes 
que a todo momento, mesmo que não percebamos, estamos em contato com 
situações sociocomunicativas que nos remetem a gêneros e tipos textuais 
diversos. Refletir sobre essas manifestações e relacioná-las à prática discursiva 
propicia aprendizagem significativa. 
 
Síntese 
O ensino dos gêneros textuais deve levar em consideração várias 
características. Os aspectos discursivos são apenas alguns deles, devemos 
considerar os demais, como o tema, suporte e práticas discursivas e sociais 
envolvidas. 
O contexto de produção e intencionalidade discursiva devem ser 
identificados pelo professor-mediador para garantir a eficácia das atividades a 
serem desenvolvidas pelos estudantes. 
 
 
 
 
 
54 
 
Aula 6 – Sequência didática e ensino da língua portuguesa 
 
Fonte: Flickr (2018) 
 
 
Ao pensarmos na elaboração de sequências didáticas, estaremos 
retomando constantemente os conceitos vistos até agora, tais como: o uso da 
linguagem de forma significativa para gerar aprendizado e questões que nos 
cercam no mundo. Por isso, não basta planejar, é preciso uma constante 
reavaliação do projeto em andamento. Readequar, reprogramar, reconstruir são 
etapas constituintes do planejamento, que deve visar a construção do 
conhecimento. 
 Você vai ver, a partir de agora, mais detalhes sobre isso. 
 Bom estudo! 
 
 
 
55 
 
 
Algumas ações didáticas 
 
A escola tem a função precípua de socializar o conhecimento. Socializar implica 
que todo indivíduo, de qualquer sociedade, pode ter acesso aos saberes 
historicamente construídos pela humanidade e apropriar-se deles. Tal função 
ocorre por meio de seleções de conteúdos – o currículo – e pela adoção de 
procedimentos que visam levar o indivíduo à apropriação de conhecimentos – a 
ação pedagógica. (CUNHA, 2009) 
 
Para que essa construção do conhecimento se dê na escola, é 
fundamental o papel do professor enquanto mediador desse processo. 
Ao pensar atividades, o professor deve considerar a necessidade de 
construir representações adequadas das situações de escrita. Para isso, os 
exercícios devem ser elaborados com objetivo de desenvolver habilidades de 
refletir sobre o que se está estudando, as finalidades do texto, suportes em que 
foram veiculados etc. 
 
 
 
Clique aqui para ler o texto de Marcos Bagno trazendo reflexões de 
como devem ser as aulas modernas de Língua Portuguesa. 
 
 
 
https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/repensar-o-objeto-de-ensino-de-uma-aula-de-portugues
 
 
56 
 
Valorização dos conhecimentosprévios dos estudantes 
Para iniciarmos o trabalho com contos de fada, deveremos considerar 
alguns aspectos discursivos pertencentes a esse gênero, tais como: 
 Estrutura externa – disposição do título e do texto, por exemplo. 
 Estrutura interna – apresentação de personagens, e ambientes; 
conflito; resolução de conflito e desfecho. 
 Linguagem formal e rebuscada – preocupação estética. 
 Presença de descrições – uso de adjetivos ou locuções adjetivas. 
 Presença de marcadores temporais difusos (era uma vez, 
algum tempo depois, de repente) – advérbios e adjuntos adverbiais 
de tempo. 
 Presença de discurso direto. 
 Pontuação típica de discurso direto. 
 Tempo verbal – pretérito perfeito e imperfeito. 
 Verbos de elocução (ex.: dizer, falar, responder, murmurar etc.) 
 Substituições lexicais (“a princesa”, a “bela jovem”) e verbais 
(“disse”, “falou”). 
 Pronomes e omissão do sujeito. 
 Conectivos (e, então etc.) 
 
Para iniciarmos o trabalho, seria interessante usar a técnica do brainstorm 
(tempestade cerebral), ou seja, lançar aos estudantes o gênero contos de fadas 
e perguntar a eles o que já sabem sobre o tema. O professor deverá anotar no 
quadro todas as sugestões e ideias propostas pelos estudantes, procurando 
valorizar cada uma delas. O resultado pode ser surpreendente. 
 
 
Clique aqui para saber mais sobre a técnica de brainstorm. 
 
 
https://www.portalcmc.com.br/tecnica-de-brainstorm/
 
 
57 
 
Proposição de atividades desafiadoras que estimulam reflexão 
 
Figura 5: Atividades que estimulam a reflexão 
Fonte: © freepik 
 
 
Tomaremos por base as descrições presentes nos contos de fada 
(terceiro item dos aspectos discursivos elencados). 
O professor poderá solicitar aos estudantes que escolham um 
personagem de sua preferência, indicando o nome e a qual conto de fadas ele 
pertence. A atividade consistirá em solicitar que as crianças listem palavras que 
usariam para descrevê-lo. 
 
Nesse momento não se deve atribuir conceito de adjetivos, nem fazer 
esse tipo de classificação. O estudante deverá apenas atentar-se ao 
uso de “palavras que descrevem” o personagem escolhido. 
 
Uma forma de ampliar os conhecimentos seria pedir que alguns 
estudantes mostrassem sua lista, sem antecipar o nome do personagem 
escolhido, nem o título do conto. Pelas características informadas por eles, os 
 
 
58 
 
colegas conseguem relacionar à qual personagem estão relacionadas? Caso 
não descubram com facilidade, o estudante autor da lista poderá dizer o título da 
história. 
Num segundo momento dessa outra atividade, os colegas poderão 
contribuir, ampliando as palavras usadas para descrever. 
Para trabalhar com a flexibilização de gênero das palavras, o professor 
pode pedir aos estudantes que reelaborem a lista considerando, por exemplo, 
se era personagem feminina inicialmente, mudança para o gênero masculino. 
Quais foram as alterações? Todas as palavras foram utilizadas? Que 
modificações sofreram? Quais precisaram ser substituídas? 
É válido lembrar novamente que não se deve falar em nomenclaturas, 
nem solicitar que os estudantes façam exercícios puramente classificatórios. 
 
Ensino centrado na problematização 
 
Figura 6: Realização de atividades em pequenos grupos 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
Nas atividades propostas anteriormente, o foco está na reflexão sobre a 
função dos adjetivos. A ampliação pode se dar no momento em que solicitarmos 
 
 
59 
 
aos estudantes que façam as flexões de gênero (masculino/feminino) e de 
número (singular/plural). 
A partir das discussões realizadas, oriundas dessas atividades, os alunos 
poderão trabalhar em duplas ou pequenos grupos para construírem 
coletivamente o conceito: o que são adjetivos e quais suas funções no texto? 
 
Deverão ser consideradas as proposições a partir do gênero textual 
em estudo, portanto a definição elaborada será parcial. 
 
Construindo o conceito, os estudantes terão a oportunidade de uma 
aprendizagem significativa! 
 
Estímulo à explicação verbal dos conhecimentos pelos estudantes 
 
Figura 7: Apresentação das conclusões à classe 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
 
60 
 
A partir das reflexões levantadas pelos pequenos grupos, cada 
representante poderá expor suas respectivas conclusões para toda a classe. O 
professor poderá fazer as anotações no quadro, aproximando as ideias expostas 
pelos grupos, evidenciando o que os estudantes encontraram em comum e 
ajudando-os a construir o conceito a partir das opiniões compartilhadas. 
 
Ênfase na sistematização dos saberes 
É essencial que se façam registros em todas as etapas de forma a 
sistematizar o que foi apreendido. O caderno é fonte de registro e deverá ser 
organizado com o auxílio do professor, com as indicações de atividades 
desenvolvidas e as conclusões do estudante, suas reflexões particulares, em 
grupos e compartilhadas com a classe toda por mediação do professor. 
Assim, quando o estudante tiver dúvidas, poderá consultar seu próprio 
material e relembrar os conteúdos anotados, por isso é essencial que o 
estudante saiba por que está fazendo as anotações, que não deverão ser meras 
cópias. 
Ensino centrado na interação entre alunos 
Como já explicitado em etapas anteriores, os trabalhos em equipe podem 
gerar bons resultados. Quando um estudante compreender o processo, poderá 
agir como mediador desse conhecimento. Por vezes, a linguagem utilizada por 
alguém com proximidade etária, de gostos e costumes, poderá atingir aos outros 
estudantes de forma mais eficaz do que a explicação dada apenas pelo 
professor. 
Progressão entre as atividades, com demandas crescentes quanto ao grau 
de complexidade 
Vimos que em apenas uma atividade já é possível estimular a emergência 
de diferentes habilidades. Mas para garantirmos sucesso no processo de ensino-
aprendizagem, deveremos considerar uma progressão nas propostas feitas, 
 
 
61 
 
estimulando diferentes habilidades e interligando-as para assegurar uma 
religação dos saberes. 
A construção do conhecimento não seve ser fragmentada e as atividades 
não podem ser elaboradas pensando-se apenas em objetivos específicos. Para 
isso, deveremos propor estímulo a diferentes linguagens, contextos e demandas, 
interligando-as para a efetivação dos saberes. 
 
Síntese 
As sequências didáticas devem contar com muitas atividades de leitura, 
com propósitos diferentes e finalidades significativas, até mesmo fora da escola. 
Além disso, as sequências didáticas devem contemplar vários eixos, como: 
leitura, produção de textos escritos, oralidade, análise linguística – e deve ocorrer 
de modo integrado. 
Também devemos considerar a possiblidade de algumas pedras no 
caminho, o que exige do professor decisões a serem tomadas durante os 
processos, visando avaliar para planejar, e não o contrário. 
Nosso dever enquanto professores é estimular que os estudantes 
realizem ações dirigidas a provocar efeitos na sociedade, em todas as esferas 
sociais. Para isso, é necessário incitarmos nos estudantes: modificações, 
reflexão, autonomia e, consequentemente, competência discursiva para o 
exercício da cidadania. 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
Aula 7 – Literatura 
 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
Apesar de ser um tema recorrente em discussões nos âmbitos 
acadêmicos e escolares, pensar a respeito do trabalho com o texto literário é 
uma reflexão precípua. 
O que é mais importante: 
 Ler ou contar histórias? 
 Qual a função da literatura? 
 Quais são os conteúdos literários? 
 
Indagações como essas inundam as salas de aula constantemente e nos 
levam a repensar constantemente nossas práticas educativas. 
 
 
 
63 
 
 
A leitura literária: percepção e envolvimento do leitor 
Ideias? Vamos pô-las em ordem! Uma sugestão com o jogo POLAS 
A atividade que será aqui proposta é apenas uma sugestão para o 
trabalho com o texto literário em sala de aula.Este exercício é uma importante 
ferramenta para assegurar que o estudante compreenda e acompanhe a leitura 
literária, especialmente quando se tratam de textos mais longos. 
O jogo consiste numa forma de sintetizar as ideias contidas no capítulo de 
determinado livro (um conto, uma fábula etc.) lido pelos estudantes, reunindo os 
principais elementos narrativos. A atividade, uma espécie simplificada de 
fichamento, consiste em organizar em conjunto, ao final de cada leitura realizada, 
a retomada do conteúdo lido. 
 
Trata-se de um quadro-resumo denominado POLAS, sigla que corresponde a 
Personagens (P), Objetos (O), Lugares (L), Ações dos personagens (A) e 
Sentimentos (S). 
 
Como as aulas destinadas à leitura literária podem ocorrer apenas uma 
vez por semana, há a necessidade de retomar com os estudantes o que foi lido 
na aula anterior. Nesse momento, geralmente percebe-se o alheamento de 
alguns alunos à história sendo resgatada, ainda que estivessem presentes na 
aula anterior e tivessem participado da leitura do texto. 
O que ocorre por muitas vezes é que os estudantes leem o livro, ouvem a 
história, participam do momento literário e até o apreciam, mas seu nível de 
compreensão da leitura pode ser demasiado superficial, apresentando certa 
fragilidade na retomada de elementos da narrativa e da própria condução da 
história trazida pelo texto literário. 
A organização do POLAS contribui significativamente para a melhoria na 
qualidade da leitura dos alunos. Ao final de cada aula destinada à leitura literária, 
aconselha-se a fazer o POLAS coletivamente. Nas primeiras vezes em que tal 
atividade for adotada, poderá haver muita necessidade de mediação para que 
os alunos não se percam nos pormenores do texto, tão pouco deixem de registrar 
 
 
64 
 
momentos essenciais da narrativa. Com a constância da prática nas aulas de 
literatura, os estudantes, provavelmente, necessitem cada vez menos de 
mediação, contudo ainda o deverão fazer de forma coletiva, com contribuição da 
maior parte dos estudantes envolvidos. 
A atividade pode ser bem aceita pelos estudantes, que vêm orgulhosos 
de sua produção exibir o “seu” POLAS. Este exemplo pode servir tanto para 
textos literários lidos pelos próprios estudantes, como para aqueles lidos pelo 
professor. 
 
Leitura e Letramento Literário 
 
Figura 8: Leitura e compreensão 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
Vemos com frequência pesquisas a respeito de leitura no Brasil com 
resultados ainda insatisfatórios, especialmente em relação a crianças e 
adolescentes em idade escolar. 
É importante considerar que, de acordo com Zilberman (2004, p. 6), 
 
 
 
65 
 
 ler assume hoje um significado tanto literal, sendo, nesse caso, um problema da 
escola, quanto metafórico, envolvendo a sociedade (ou, ao menos, seus setores 
mais esclarecidos) que busca encontrar sua identidade pesquisando as 
manifestações da cultura. 
 
 
Destaca-se a importância da utilização de um método que valorize o 
estudante em sua singularidade pois, ao pensar o leitor como sujeito ativo no 
processo de criação do texto literário e as possíveis relações com o mundo, 
permite ao sujeito constituir-se socialmente. 
É importante considerar que o homem é, além de animal social, um animal 
estético que necessita da arte para viver. Sob esse aspecto, a literatura, por ter 
como matéria-prima a palavra, é a mais capaz de aprofundar nossa reflexão 
sobre a condição humana. 
 
Dessa forma, o domínio da língua é fundamental para que o sujeito 
exerça com plenitude seu papel como cidadão. As habilidades da 
leitura e da escrita promovem um ser capaz de decodificar o código da 
língua, mas é dever da escola ir além, desenvolvendo simultaneamente o 
processo de letramento. 
 
Dados da pesquisa Retratos de Leitura no Brasil (que visa conhecer o 
comportamento do leitor medindo: intensidade, forma, limitações, motivação, 
representações e as condições de leitura) demonstram que os índices de leitura 
de crianças e adolescentes em idade escolar ainda são insatisfatórios. A 4.ª 
edição da Retratos traz uma informação que, em uma primeira análise, parece 
contradizer a importância da mediação, foi elevada a proporção de leitores que 
não reconheceram quem influenciou seu gosto ou interesse pela leitura. 
Apesar de o percentual daqueles que disseram que ninguém os 
influenciou ser menor entre leitores (55%) do que em relação aos não leitores 
(83%), e de termos esclarecido que o resultado apresentado incluía a população 
adulta, o número causou estranheza pois não reflete o que dizem vários estudos 
sobre a importância da mediação na formação de novos leitores. 
 
 
66 
 
 
A importância da mediação é confirmada quando se comparam respostas 
de leitores e não leitores: 
 83% dos não leitores não receberam a influência de ninguém. 
 55% dos leitores tiveram experiências com a leitura na infância 
pela mediação de outras pessoas – especialmente mãe e 
professor. 
 60% dos entrevistados na referida edição da revista indicam 
dificuldade de compreensão ou habilidade leitora como fator que 
impede a leitura. 
Atualmente a definição mais difundida de letramento é a apresentada por 
Magda Soares: 
 
“Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, o 
estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como 
consequência de ter-se apropriado da escrita.” 
 
Aliando-se essa definição à prática de leitura literária na escola, há a 
importante contribuição de Cosson (2006) na definição de letramento literário 
como o processo de apropriação da literatura enquanto linguagem. 
Para o teórico, o letramento literário começa com as cantigas de ninar e 
continua por toda nossa vida a cada romance lido, a cada novela ou filme 
assistido. Depois, que é um processo de apropriação, ou seja, refere-se ao ato 
de tomar algo para si, de fazer alguma coisa se tornar própria, de fazê-la 
pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto daquela coisa ser sua. É isso que 
sentimos quando lemos um poema, e ele nos traz conhecimento para dizer o 
que não conseguíamos expressar antes. 
O letramento literário não é apenas algo diferenciado pelas atividades 
desenvolvidas com textos literários, mas permite a construção de habilidades, 
comportamentos e conhecimentos, desenvolvidos somente com a literatura 
através do trabalho estético e único da palavra 
 
 
 
67 
 
É preciso adequar a escolarização da leitura literária na escola, 
evitando-se aulas voltadas para o ensino moralizante e utilitarista. O 
professor deve conduzir seus alunos para o uso das práticas de leitura 
literária vividas no contexto social, dando subsídios para que encontre o sentido 
nos textos lidos, provocando interesse pela literatura que, enquanto arte e 
experiência estética tem a capacidade de nos levar a uma reflexão de mundo. 
 
 
 
 
68 
 
Síntese 
Diante do que foi discutido até agora, devemos considerar que é 
fundamental o papel do professor-leitor para a formação do aluno-leitor, 
especialmente quando se trata de textos literários. Também é essencial 
pensarmos nos processos de seleção e abordagem da leitura literária na escola. 
 
 
 
 
69 
 
Aula 8 – O trabalho com o texto literário 
 
Fonte: Freepik (2018) 
 
 
Na aula passada, iniciamos nossa conversa acerca da leitura literária na 
escola e alguns de seus fundamentos. Nesta nossa última aula, aprofundaremos 
um pouco as discussões acerca do trabalho com o texto literário, explicitando 
alguns pressupostos para o letramento literário. 
 
 
 
 
70 
 
 
Letramento literário na escola 
Nos estudos acerca do letramento literário, consideraremos os processos 
de formação do leitor literário, analisando e refletindo sobre diferentes práticas 
de leitura literária na escola, bem como a atuação do professor como mediador 
dessa leitura. 
Ao iniciarmos os estudos sobre letramento literário,

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