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ARTE, CULTURAARTE, CULTURA
E ESTÉTICAE ESTÉTICA
Me. Thais Kawamoto Amarães
IN IC IAR
introdução
Introdução
O que diferencia a Arte Moderna da Arte Contemporânea? Muitas vezes,
quando não estamos habituados à história da arte é comum acharmos
que tais momentos são o mesmo, inclusive usando estes termos como
sinônimos. Como iremos perceber em nossas análises, apesar da
pequena distância temporal que as separa, Arte Moderna e Arte
Contemporânea apresentam várias diferenças. No entanto, embora a arte
nesses dois momentos tenha caminhado para direções distintas, ainda
assim aponta para objetivos em comum, como a busca por novas formas
de representações e a reconexão entre arte e artista. Com o objetivo de
compreender tais aproximações e distanciamentos, iremos agora analisar
a arte produzida pelas Vanguardas, a arte do Pós-Guerra e a Arte
Contemporânea.
A arte no início do século XX é marcada pela ruptura com os modelos
acadêmicos promovidos pelos estilos dos séculos anteriores. Tal
fenômeno pôde ser observado não apenas na Europa, mas também no
Brasil.
Entre o século XVI e XIX, a arte produzida no Brasil apresentou um
distanciamento temporal com os modelos criados na Europa. O Barroco,
por exemplo, desenvolveu-se na Europa durante a transição entre os
séculos XVI e XVII. Já no Brasil, esse estilo manifestou-se entre os séculos
XVII e XIX. . Nesse período, os estilos desenvolvidos na Europa serão
assimilados em nosso país de modo síncrono.
Surrealismo e Abstracionismo
O termo abstracionismo é usualmente empregado para se referir às
formas de artes nas quais não existe a pretensão de imitar o mundo.
Vanguardas IIVanguardas II
Desse modo, o abstracionismo é um tipo de arte em oposição à �guração.
O conceito de arte abstrata está ligado ao período de experimentações
promovido pelas Vanguardas Europeias, no início do século XX. É
importante lembrarmos que tais representações inicialmente não foram
bem aceitas, pois chocaram o público e os críticos, que estavam
habituados com os modelos da arte acadêmica.
Neste sentido, existem dois principais movimentos que se organizaram de
modo assumido frente às composições abstratas: o Expressionismo e o
Fauvismo. Enquanto o Expressionismo manifestou-se principalmente na
Alemanha, o Fauvismo surgiu na França, em 1905, e teve curta duração,
extinguindo-se em 1907.
O Surrealismo surge em um cenário posterior, em 1924. O início desse
estilo remonta à publicação do Manifesto do Surrealismo, de André
Breton. Em seu manifesto, Breton propôs a restauração dos sentimentos
humanos e do instinto como modo de reestruturar a arte a partir das
ruínas do Dadaísmo.
A relação estabelecida entre o Surrealismo e o estilo Dadá é complexa, já
que os dois são semelhantes sob diversos pontos. Embora ambos os
movimentos atacassem as formas tradicionais de arte, enquanto o
Dadaísmo propunha apenas a destruição, o Surrealismo pregou a
destruição e a criação de novas formas, organizadas a partir de novas
bases.
Para os surrealistas, o automatismo seria capaz de revelar a verdadeira
natureza individual do artista de modo mais completo e sincero do que as
criações feitas de maneira consciente e premeditadas. O automatismo é
uma técnica que é empregada tanto na escrita quanto na pintura. Esse
método se baseia na suspensão do controle da razão, dessa forma o
subconsciente é liberado. O Surrealismo buscou, então, a representação
do irracional e do subconsciente, realizando a livre associação e a análise
dos sonhos, métodos importados da psicanálise. Desse modo, o
Surrealismo apresentou um forte caráter anti-racionalista, se
posicionando de forma contrária aos modelos construtivistas e
formalistas (STANGOS, 1991).
Outro processo utilizado pelos surrealistas foi o frottage, que deriva da
palavra frotter , e em francês signi�ca friccionar. Nessa técnica o artista
fricciona o lápis sobre uma superfície texturizada, copiando assim o relevo
da face utilizada como base.
Figura 4.1 – Desenho com a técnica de frotagge.
Fonte: Nicola L.K. / Wikimedia Commons.
Até 1936 o Surrealismo se con�gurou como um movimento
predominantemente francês, concentrado em Paris, apenas após esse
ano ele tornou-se internacional. A Segunda Guerra Mundial (1938-1945)
dispersou diversos artistas europeus, muitos deles se instalaram em Nova
Iorque, onde deram prosseguimento a suas atividades dentro do
Surrealismo. Esse fenômeno ajudou no surgimento dos movimentos
americanos no pós-guerra, como o Expressionismo Abstrato e o Pop Art.
Entre os principais representantes do Surrealismo, destacamos dois
nomes: Joan Miró (1893-1983) e Salvador Dali (1904-1989). Joan Miró foi
um pintor e escultor catalão que fez uso do automatismo como forma de
criação. Suas pinturas contam com traços nítidos e formas difíceis de
serem elucidadas. A arte popular catalã, os desenhos infantis e as pinturas
de Jeroen Bosch foram fontes de inspiração para este artista (STANGOS,
1991).
O também catalão Salvador Dalí juntou-se ao grupo dos Surrealistas em
1929, período em que o movimento estava sacudido por con�itos
pessoais e políticos, que posteriormente iriam fazer com que Miró se
afastasse do grupo. A psicanálise foi de grande importância para a obra
de Dalí, que contou com diversos elementos simbólicos nas composições.
Figura 4.2 – A esperança de um homem condenado III, por Miró.
Fonte: Yigruzeltil / WikiArt.
Figura 4.3 – A persistência da memória, por Dalí.
Fonte: Elton Luz / WikiArt.
Vanguardas no Brasil
Embora os estilos que estiveram inseridos nos movimentos de vanguarda
tivessem características distintas, todos apresentavam um propósito
semelhante, buscar novas formas e signi�cados na arte. Se na Europa
estilos como Cubismo, Surrealismo, Expressionismo, Dadá e Futurismo se
manifestaram, no Brasil grupos como o Movimento Antropofágico e o
Movimento Pau Brasil irão �gurar como vanguardas.
O Modernismo no Brasil tem como marco inicial a Semana de Arte
Moderna, que ocorreu em fevereiro de 1922, um evento que contou com
exposições de pinturas e espetáculos. No entanto, cabe ressaltar que em
1917, Anita Malfatti (1889-1964) em sua exposição já apresentava obras
que caminhavam para o estilo Modernista.
Embora existisse uma busca por uma estética propriamente brasileira, o
Modernismo, em seu momento inicial, não estabeleceu uma ruptura
completa com a tradição. Estilos da Vanguarda Européia foram
“importados” pelos artistas brasileiros, reforçando a “dependência
cultural” dos modelos europeus (NASCIMENTO, 2015).
Em 1924, Oswald de Andrade (1890-1954) publica o Manifesto da Poesia
Pau Brasil, o qual desencadeou o Movimento Pau Brasil, de caráter
nativista. Embora esse grupo tenha apresentado relações com a
valorização da identidade nacional, foi apenas em 1928, com o Manifesto
Antropófago , também de autoria de Oswald de Andrade, que a cultura
brasileira passa a ser entendida como detentora de valor próprio, e não
apenas uma mercadoria de exportação, como era vista pelo Movimento
Pau Brasil.
Segundo Nascimento (2015), o Movimento Antropofágico entendia que
desde a chegada dos portugueses ao Brasil, a cultura nacional foi feita a
partir do deglutir da cultura alheia. Para o movimento, as culturas
internacionais deveriam ser trans�guradas em um novo estilo nacional, e
não apenas assimiladas e copiadas. Nesse sentido, a arte desse
movimento volta-se para o primitivismo e a abolição do eruditismo.
Tanto o Movimento Pau Brasil quanto o Movimento Antropofágico tiveram
suas ideias reverberadas em diversos campos, como a literatura e as artes
visuais, tal qual a pintura e a escultura.
Figura 4.4 – Abaporu, por Tarsila do Amaral.
Fonte: Yigruzeltil / WikiArt.
Entre os principais artistas no Brasil, nesse período, destacam-se Anita
Malfatti (1889-1964), Cândido Portinari (1903-1962), Tarsila do Amaral
(1886-1973), Di Cavalcanti (1897-1976) e Victor Brecheret (1894-1955). As
obras Modernistas Brasileiras são marcadas pela presençade temas
regionais, discussões e críticas sociais, linhas curvas e sinuosas, assim
como liberdade tonal e compositiva.
praticar
Vamos Praticar
O Surrealismo surgiu em 1924, com a publicação do Manifesto do Surrealismo,
por André Breton. Um dos pontos destacados nesse manifesto foi a restauração
dos sentimentos humanos. A partir do apresentado e considerando o
Surrealismo nas artes visuais, assinale a alternativa correta.
a) No Surrealismo as obras apresentam grande rigidez formal.
b) No Surrealismo as composições eram feitas de modo premeditado.
c) No Surrealismo, técnicas como o automatismo eram empregadas.
d) No Surrealismo o sentimento do artista é reprimido nas composições.
e) No Surrealismo a �gura era representada de modo �el ao real.
Caro(a) estudante, conforme apontamos ao decorrer de nossos estudos, o
contexto social, econômico e político no qual uma sociedade está inserida
irá in�uenciar no modo como a sua arte é produzida. Dessa maneira,
con�itos como a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) determinaram não
apenas os caminhos que as civilizações seguiram, mas também os rumos
tomados pela arte.
Segundo Daldegan e Dottori (2016), após a Segunda Guerra Mundial o
centro de cultura artística deixa de ser a Europa e se torna os Estados
Unidos. No entanto, ao contrário do que ocorrera no cenário europeu, a
arte nas Américas assumiu um espaço apartado do resto da comunidade.
Cabe ressaltar que, diferente da Europa, a arte no continente americano
não derivava do espaço dentro da comunidade, o que permitiu que ela se
visse livre de censuras e ostentasse a coragem do excessivo.
Neste sentido, o Expressionismo Abstrato surgiu nos Estados Unidos em
1952, o primeiro estilo pictórico norte-americano a ganhar
A Arte do Pós-GuerraA Arte do Pós-Guerra
reconhecimento internacional. Uma das principais características desse
movimento foi a recusa dos estilos técnicas tradicionais.
Um dos mais importantes nomes dentro do Expressionismo Abstrato foi
Jackson Pollock (1912-1956). Em sua obra, esse artista abandonou a
pintura de cavalete, colocando uma tela de grandes dimensões no chão
sobre a qual adotava as técnicas de tinta respingada e jogada, além de
pincéis secos, varetas e colheres de pedreiro como ferramentas de
pintura. As pinturas de Pollock são marcadas pelo radicalismo técnico e
pelo radicalismo ideológico. A técnica empregada por Pollock,
denominada action painting, na qual a tinta é atirada ao ritmo do gesto do
artista, torna a obra de arte fruto da relação corporal estabelecida pelo
artista com a pintura. Desse modo, a arte, criada de forma espontânea,
torna-se a expressão de uma personalidade individual (STANGOS, 1991).
Ainda neste cenário, o Pop Art surgiu em 1955 nos Estados Unidos e na
Inglaterra, convertendo-se em estilo em 1960. Embora o Pop Art tenha
avançado por etapas lentas em meio ao predominante Expressionismo
Abstrato nos Estados Unidos, foi nesse país que esse estilo ganhou raízes
mais sólidas do que em qualquer outro lugar. A pintura norte-americana
do segundo Pós-Guerra foi sistematicamente nacionalista, a arte pop
Figura 4.5 - n. 5, por Pollock.
Fonte: Alberto / WikiArt.
tornou-se o instrumento ideal para enfrentar o ambiente humano norte-
americano.
Nas obras do Pop Art existe o retorno à arte �gurativa, em oposição ao
Expressionismo Abstrato. Elementos da iconogra�a da televisão,
fotogra�a, quadrinhos, cinema e publicidade eram explorados. Os signos
estéticos massi�cados da publicidade eram empregados com o objetivo
de criticar ironicamente o bombardeamento da sociedade pelos objetos
de consumo (STANGOS, 1991).
As temáticas retratadas eram extraídas do meio ambiente urbano das
grandes cidades e da ausência de planejamento crítico. Os artistas tinham
preferências por referências ao status social, à fama, à violência, aos
símbolos da tecnologia industrial e à sociedade de consumo.
Figura 4.6 - Che Guevara, por Andy Warhol.
Fonte: Yigruzeltil / WikiArt.
Nas telas, é possível notar a combinação de pintura com objetos reais em
escala natural ou ampliada, como uma nova forma dadaísta. A primeira
vista há um ressurgimento das técnicas desse estilo, no entanto não existe
o respaldo da �loso�a Dadá. Os artistas pop encontraram um aspecto
positivo na oposição à arte que o Dadaísmo propunha, viram nela alguma
coisa a partir da qual fosse possível construir. O contexto para a criação
do Pop Art é o estilo de vida pop, esse estilo artístico é um subproduto do
estilo de vida da época, re�exo da Revolução Industrial e a da série de
revoluções tecnológicas que lhe sucederam (STANGOS, 1991).
Um dos artistas mais expressivos dentro desse movimento foi o pintor e
cineasta norte-americano Andy Warhol (1927-1987). Andy Warhol mostrou
o seu ponto de vista da produção mecânica da imagem em substituição
ao trabalho manual. Produziu uma série de imagens na qual retratou
�guras conhecidas como Marilyn Monroe. A técnica da serigra�a foi
empregada para produzir grande parte de suas obras.
praticar
Vamos Praticar
Jackson Pollock (1912-1956) foi um dos grandes pintores dentro do
Expressionismo Abstrato desenvolvido nos Estados Unidos. Uma das técnicas
empregadas por Pollock foi o action painting. Considerando a obra desse artista,
assinale a alternativa correta.
a) As obras de Pollock registram cenas do cotidiano da vida moderna.
b) Na técnica action painting a arte surge como fruto da ação corporal do
artista.
c) As obras de Pollock demonstram similaridades formais com as pinturas
do Renascimento.
d) Na técnica action painting Pollock dispõe a tela diretamente sobre a
parede na qual ela será exposta.
e) As obras de Pollock trazem signos da cultura em massa em escala
aumentada.
Não existe uma data exata que determine a partir de que ponto inicia-se a
Arte Contemporânea. De forma geral, convenciona-se adotar o início da
Arte Contemporânea na década de 1960 com os estilos como Pop Art e a
ruptura com a pauta do Modernismo. Desse modo, em nossos estudos
iremos compreender a Arte Contemporânea como a arte produzida entre
a década de 1960 até os dias atuais.
A arte criada nesse cenário também é denominada como Pós-
modernismo ou Pós-vanguardas, como uma forma de designar uma
mudança pragmática nas artes. No entanto, Heinich (2014) nos convida a
fazer a seguinte re�exão: seria a arte contemporânea um novo paradigma
artístico, ou então, apenas um novo período na história da arte?
Na Arte Contemporânea uma das maiores mudanças diz respeito ao
status da obra de arte. Em períodos anteriores a obra de arte era
entendida como o objeto proposto pelo artista, já na atualidade, o
Arte Contemporânea,Arte Contemporânea,
Cultura e Estética ICultura e Estética I
conjunto de operações provocadas por sua proposição, pode ser
entendido como arte. Um exemplo são as performances e os happenings.
Ainda que a obra de arte apresente materialidade física, assim como na
Fonte, de Duchamp, a arte não reside apenas no material, mas sim no
contexto em que a obra foi proposta. Desse modo, o discurso sobre a
obra é também parte da obra de arte.
A partir da década de 1960, em decorrência dos novos meios de
comunicação e novas tecnologias, assim como o rompimento com as
linguagens tradicionais, a arte passou a se instalar em ambientes comuns,
integrando-se ao cotidiano da sociedade. Nesse sentido, a arte passa a se
preocupar com novas questões, como despertar ideias, sensações e
emoções no observador, que agora já não é mais um simples espectador,
mas também um coautor da obra. Outra característica comum às obras
de arte da atualidade é a incorporação de materiais inusitados, bem como
a inserção das novas tecnologias (HEINICH, 2014).
Segundo Pieri (2012), a partir de 1960 diversos artistas empregaram em
suas obras os novos materiais que passaram a ser comercializados, como
o acrílico, nylon, polietileno e poliestireno. No entanto, a autora destaca
que a Arte Contemporânea vai além em sua busca por novos materiais.Matérias-primas inusitadas como os materiais efêmeros, degradáveis,
matérias “vivas” (como insetos) e até mesmo alimentos vêm sendo
explorados nas composições contemporâneas.
Diante do apresentado, é possível concluir que a Arte Contemporânea, de
fato, se con�gura como um novo paradigma. Desse modo, tais obras de
arte devem ser contempladas dentro desse novo modelo. O que
percebemos, na atualidade, é o con�ito entre obra e o modo como ela é
apreendida, que quase sempre é feito remetendo ao modelo clássico ou
moderno.
Ao observarmos um tipo de arte sem percebermos o paradigma sob o
qual foi criado, sofremos o risco de não conseguir entendê-la como arte e
aceitar suas razões. Desse modo, não é incomum ouvirmos comentários
criticando a Arte Contemporânea, que muitas vezes desencadeiam até
mesmo protestos violentos.
praticar
Vamos Praticar
A Arte Contemporânea compreende as obras de arte produzidas entre a década
de 1960 até os dias atuais. A arte desse período é marcada pela pluralidade,
reflita
Re�ita
Pensar e fazer Arte Contemporânea traz diversos desa�os.
A proximidade temporal faz com que se torne mais
complexa a identi�cação do que é arte. Estamos
habituados a pensar a arte a partir do que já está de�nido
pela sua própria história. No entanto, a Arte
Contemporânea, aquela que acontece hoje, ainda não
chegou aos livros. Ela faz parte do tempo vivido e não do
tempo passado, desse modo, a sua análise demanda nossa
constante interpretação.
tanto com relação aos temas tratados quanto às técnicas e materiais
empregados. A partir do apresentado, assinale a alternativa correta.
a) A Arte Contemporânea deve ser interpretada assim como a Arte
Moderna.
b) A Arte Contemporânea recusa a tecnologia, criticando-a duramente.
c) A Arte Contemporânea caminha para o retorno dos modelos clássicos.
d) A Arte Contemporânea emprega materiais inusitados em suas
composições.
e) A Arte Contemporânea insere-se cada vez mais distante da sociedade.
A Arte Contemporânea se distancia dos modelos de arte produzidos até
então não apenas no que diz respeito aos meios e técnicas empregadas,
como discutimos no tópico anterior. Segundo Heinich (2014), a Arte
Contemporânea se encontra relacionada com o tempo de modo bastante
distinto do apresentado nas artes de períodos anteriores.
Mas a�nal, como a temporalidade in�uencia o mundo da arte? Um dos
primeiros pontos a considerarmos é o tempo de reconhecimento de uma
obra de arte, que sofreu uma aceleração nas últimas décadas. No
passado, muitos artistas tinham sua obra reconhecida apenas após a sua
morte. Hoje, o intervalo entre a �nalização de uma obra e o seu
reconhecimento é muito mais curto, esse processo é mais rápido e
dinâmico do que era no passado.
Outro ponto que cabe ressaltar é a proximidade temporal na qual nos
encontramos com relação a tais obras. Ao contrário da arte produzida até
meados do século XX, muitas das produções contemporâneas ainda não
Arte Contemporânea,Arte Contemporânea,
Cultura e Estética IICultura e Estética II
foram sistematizadas e catalogadas. Por esse motivo, muitas vezes as
obras de Arte Contemporânea fogem de nossas classi�cações, tornando
suas análises mais complexas. Desse modo, iremos agora traçar um
panorama sobre as principais manifestações da Arte Contemporânea no
mundo e no Brasil. No entanto, caro(a) estudante, lembre-se de que a Arte
Contemporânea engloba tudo aquilo que é produzido nos dias atuais.
Arte Contemporânea no Mundo
O período em que vivemos é marcado pelo desenvolvimento tecnológico e
pela globalização. Deste modo, as referências visuais, os estilos e as
tendências no mundo da arte reverberam de maneira muito mais
dinâmica do que era no passado. Se por um lado tais características
implicam na uniformização do acesso às informações, por outro, elas
também di�cultam no discernimento entre o que é arte e o que é
entretenimento.
Segundo Kunzler (2010), a Arte Contemporânea está inserida em um
contexto complexo e inde�nido, o que resulta em uma arte múltipla que
encontra os mais diversos canais para se manifestar. Desse modo, na Arte
Contemporânea iremos encontrar novas manifestações como:
1. Happenings : um acontecimento ou fenômeno de estrutura
�exível se con�gura como arte, e não o seu produto �nal.
2. Performances: apresentação ao público no qual o espectador
participa da cena.
3. Land Art: trabalhos criados fora do atelier, no qual o entorno é
transformado.
4. Instalações: obras que integram o espaço da exposição como
componente da obra de arte.
5. Vídeo-Art: obras que usam o vídeo como suporte e recurso de
linguagem.
Entre os principais artistas contemporâneos destacam-se a alemã Eva
Hesse (1936-1970), o norte-americano Walter de Maria (1935-2013) e o
inglês Richard Long (1945).
Arte Contemporânea no Brasil
A Arte Contemporânea no Brasil é marcada por nomes como Lygia Clark
(1920-1988), Ferreira Gullar (1930-2016), Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia
Pape (1927-2004).
Embora as primeiras obras de Lygia Clark, do �nal da década de 1940,
fossem pinturas tradicionais sobre tela, essa artista consolidou sua
produção por meio de objetos tridimensionais, como esculturas e
instalações. A série de esculturas Bichos, na década de 1960, marca a
transição da obra de Lygia. Essas esculturas foram concebidas para
permitir que o espectador manipulasse as peças, desse modo, a arte só
acontece quando o espectador interage com a obra tornando-se também
coautor (PIERI, 2012).
Hélio Oiticica, pintor e escultor, também propôs em suas criações que o
espectador e a arte interagissem. Na instalação Tropicália o público é
convidado a caminhar descalço por um cenário com vegetação, areia,
brita e água. Desse modo, o artista procura estimular não apenas a visão,
mas também os demais sentidos do ser humano.
A artista Lygia Pape, em sua instalação Divisor, na qual o público “veste”
um enorme tecido suspenso, colocando a cabeça nas aberturas criadas
para essa �nalidade, explora as relações que a arte estabelece com a ação
coletiva. A obra dessa artista também é marcada pela ironia e as críticas
políticas. Em Caixas de Baratas , Pape dispôs baratas en�leiradas em uma
caixa de acrílico, com o fundo em espelho. Ao observar a obra, o público
vê não apenas os insetos, mas também o seu próprio re�exo.
Segundo Pieri (2012), o Neoconcretismo no Brasil foi o responsável por
separar Arte Moderna da Arte Contemporânea no país. Cabe ressaltar que
o Modernismo, que teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna,
em 1922, foi essencial para a formação da identidade artística nacional.
Além dos artistas apresentados, ao tratarmos da Arte Contemporânea no
Brasil é importante apontarmos o papel das Bienais. A primeira Bienal
Internacional de São Paulo ocorreu em 1951, no entanto, desde o �nal de
1948 já existia uma articulação para criar um evento capaz de selecionar
as obras dos artistas nacionais mais signi�cativos dentro das tendências
da Arte Moderna. Além das obras nacionais, na primeira Bienal foram
expostos também trabalhos de Modernistas consagrados, como Pablo
Picasso e René Magritte. No entanto, cabe frisar que a Bienal não teve
como propósito popularizar o acesso à arte. Esse evento surgiu como um
produto cultural re�exo das relações sociais entre produtores culturais,
para atender às demandas das elites culturais (AMARAL, 2003).
Arte Pública
A arte pública está voltada para o espaço, seja ele nas galerias, nas áreas
naturais ou urbanas. Nesse sentido, diversas linguagens são
desenvolvidas, como performances, instalações, gra�ti, land art, entre
outros.
Segundo Curi (2004), o land art teve ligações diretas com o movimento
Minimalista que surgiu nos Estados Unidos. Essa relação é evidenciada
pela defesa da indissociação entre arte, natureza e realidade. Os artistas
de land art buscavam explorar a articulação entre exterior e interior
arquitetônico. Desse modo, tanto os artistas do Minimalismo quanto os
do land art propuserama experiência da espacialidade sem a implantação
de objetos.
Um dos nomes da Arte Pública contemporânea no Brasil é o artista
plástico Nelson Félix (1954). Entre suas principais obras destacam-se
Grande Budha e Mesa , ambos idealizados pelo projeto Fronteiras, do Itaú
Cultural.
saiba mais
Saiba mais
O artista plástico Nelson Félix nasceu no
Rio de Janeiro, em 1954. Desde 1980 esse
artista realizou exposições individuais, não
apenas no Brasil, mas também
internacionalmente. Entre as suas obras,
Nelson Félix explora diversas formas de
expressão, como esculturas, desenhos e
fotogra�as. Para saber mais sobre o
trabalho desse artista, acesse:
ACESSAR
praticar
Vamos Praticar
A Arte Contemporânea é marcada pela variedade de canais encontrados como
linguagem. Além das tradicionais pinturas e esculturas, a arte nos dias de hoje
pode ser concebida em novos veículos como os happenings, que são:
http://nelsonfelix.com.br/
a) Apresentações que contam com a participação do público.
b) Intervenções urbanas em ambientes fora do atelier.
c) Obras que incorporam o espaço de exposição como parte da arte.
d) Acontecimentos de estrutura �exível e sem interação do público.
e) Obras exibidas em vídeo que apresentam a tela digital como suporte.
indicações
Material
Complementar
LIVRO
Surrealismo
Cathrin Klingsohr-Leroy
Editora: Taschen
ISBN: 383-65-1422-2
Comentário: Caro(a) estudante, como vimos ao
decorrer de nossos estudos, o Surrealismo foi um
dos estilos da Vanguarda Européia que se
manifestou no início do século XX. Na leitura
indicada você poderá aprofundar os seus
conhecimentos sobre esse estilo. Neste livro, além
de nos apresentar artistas como Joan Miró, René
Magritte, Salvador Dalí e Giorgio de Chirico, a autora
também discorre sobre as manifestações desse
movimento dentro do cinema, teatro e literatura.
FILME
Cidade cinza
Ano: 2013
Comentário: A Arte Contemporânea se manifesta
sobre diversas formas. Na arte urbana uma das
expressões mais signi�cativas da arte brasileira se dá
pelo gra�tti. Apesar disso, é possível notar que ainda
existe uma “guerra” entre artistas e poder público.
A�nal, o gra�tti é arte ou apenas um ato de
vandalismo? Essas e outras re�exões são debatidas
no �lme indicado. Nessa obra você poderá conhecer
um pouco mais sobre como o assunto é tratado na
cidade de São Paulo, que em 2008 iniciou uma
política de “limpeza urbana” na qual diversos muros
foram pintados de cinza para cobrir as intervenções
em gra�tti. Para conhecer mais sobre o �lme, acesse
o trailer disponível em:
TRA ILER
conclusão
Conclusão
O século XX é caracterizado por diversas transformações no campo das
artes. Em nossas análises foi possível perceber como os eventos da
história geral da humanidade in�uenciaram no desenvolvimento das
artes. Nesse sentido, notamos que não apenas os avanços tecnológicos e
os novos materiais determinaram os caminhos seguidos pela arte, mas
também, os eventos negativos como as Guerras Mundiais re�etiram sobre
o modo de pensar e produzir arte. Em nossas investigações observamos o
quanto as correntes artísticas se transformaram em um curto espaço de
tempo. Os estilos, que antes duravam séculos, passaram a ter vida curta,
sofrendo mutações em menos de uma década. Do mesmo modo, o
reconhecimento de uma obra de arte também se tornou mais rápido. A
partir disso, veri�camos o quanto a Arte Contemporânea é marcada pelo
dinamismo.
referências
Referências
Bibliográ�cas
AMARAL, A. A. Arte para quê? 3. ed. São Paulo: Studio Nobel, 2003.
CURI, I. T. Arte pública contemporânea no Brasil e o problema de
lugar. Dissertação (Mestrado em Artes) - Instituto de Artes, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
DALDEGAN, V.; DOTTORI, M. Elementos de história das artes. 1. ed.
Curitiba: Intersaberes, 2016.
HEINICH, N. Práticas da Arte Contemporânea: uma abordagem pragmática
a um novo paradigma artístico. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro,
v. 4, n. 2, p. 373-390, out. 2014.
KUNZLER, N. A. A arte visual no mundo contemporâneo. Revista Digital
do laboratório de Artes Visuais, Santa Maria, n. 5, p. 1-24, 2010.
NASCIMENTO, E. A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo
Brasileiro: atualização cultural e “primitivismo” artístico. Gragoatá, Niterói,
n. 39, p. 376-391, 2. sem. 2015.
PIERI, M. A. B. Conservação-restauração: possibilidades e limites na arte
contemporânea. Especialização em História da Arte - Universidade da
Região de Joinville, Joinville, 2012.
STANGOS, N. Conceitos de Arte Moderna. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1991.
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