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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UFU PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE MENTAL THAIS BARBOSA RIBEIRO RELATÓRIO DE ANÁLISE DO VÍDEO:HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Trabalho apresentado à disciplina de Políticas Públicas de Saúde Mental, ministrada pelo professor Ricardo Silveira, como requisito avaliativo. UBERLÂNDIA, 30 DE ABRIL DE 2021 1."POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: Um século de luta pelo direito à saúde" O documentário “POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: Um século de luta pelo direito à saúde" aborda a história da saúde pública no país (desde as Casas de misericórdia até a criação do SUS-Sistema Único de Saúde) ,ao mesmo tempo em que tem como pano de fundo os críticos cenários políticos que desestabilizam a sociedade, corroboram com a precariedade vivida pelas classes menos abastadas e coexistem junto ao caos provocado pelas diversas epidemias: da febre amarela, da malária, da gripe espanhola, da varíola, entre outras. Uma das primeiras cenas do documentário já causa um incômodo: dois operários conversam em um local que parece ser uma fábrica e se perguntam como farão caso sejam contaminados pela peste e um deles conclui : “Os ricos têm os seus médicos, os seus doutores, os pobres têm as benzedeiras e a caridade”, impossível já não começar a pensar no que estamos vivendo atualmente- a pandemia do Covid- e ao longo de todo o documentário essa pensamento de comparação persiste e embora o Brasil retratado seja o do século passado, a impressão que fica é de que a história se repete. É interessante pensar sobre a pergunta do operário em relação ao cuidado caso adoecesse, pois se naquela época não existiam órgãos públicos que se ocupavam da questão da saúde, os pobres eram totalmente cuidados pela Igreja - por piedade e por caridade- a saúde não era um direito básico garantido pelo Estado, era um direito apenas dos ricos que podiam pagar os “seus médicos e os seus doutores”. Ao longo da narrativa sobre as diversas epidemias que assolaram o país - febre amarela, malária, gripe espanhola, entre outras- vê-se que o governo então se engaja no processo de vacinação da população, instituindo a obrigatoriedade dos indivíduos se vacinarem (o que faz pensar que a saúde surge nesse cenário mais como um dever do que como um direito), a necessidade da quarentena para os doentes,tudo isso não pensando como um simples propósito de cuidar do povo, mas sim com o propósito utilitarista de prevenir o adoecimento, de manter as pessoas fortes para que pudessem trabalhar e produzir- na época a exportação do café era muito importante para o Brasil e para as relações com o exterior - então esse cuidado é muito diferente do cuidado por “pena cristã”, este é um cuidado “estratégico”; inclusive para endossar isso também são mostradas no documentário algumas cenas de políticos e empresários preocupados sobre o fato dos europeus se recusarem até mesmo a passarem perto do Brasil devido às epidemias. A lei da criação das Caixas de aposentadoria e de pensão (Lei Elói Chaves) também é abordada, esta surgiu após as diversas greves operárias e é considerada a primeira lei de previdência social do Brasil e concedia aos trabalhadores associados às Caixas: auxílio médico, direito a aposentadoria, pensões para os seus dependentes e auxílio funerário. Em 1930 Getúlio Vargas assume a presidência e em 1933 cria as IAPs (Instituto de Aposentadoria e de Pensões), que também visavam a proteção do trabalhador, garantia das aposentadorias e das pensões, assistência no caso de adoecimento, incapacidade ou morte, as IAPs substituíram as Caixas de aposentadoria e de pensão; ele criou também o “Ministério da Educação e da Saúde Pública”, bem como consolidou uma série de leis trabalhistas, considerando o cenário inicial retratado, percebe-se que no governo Vargas a classe trabalhadora ganhou visibilidade, ganhou um espaço social de cuidado e garantia de saúde que antes não possuía e ainda que essa preocupação com a saúde da classe pobre esteja relacionada ao trabalho, não deixa de ser um avanço importante para o Brasil, pois abre caminho para mais conquistas de direitos. No ano de 1945 Getúlio Vargas é deposto, Dutra assume o poder e acontecem mudanças significativas: criação de grandes hospitais, médicos especializados “em cada parte da gente”, equipamentos modernos e importados, novos remédios, tudo isso baseado no modelo americano de saúde. Em 1950 Vargas retorna à presidência e durante o seu segundo mandato cria o “Ministério da Saúde”, fortalecendo as ações em saúde pública e tendo o foco na medicina preventiva, em 1964 Jânio Quadros e João Goulart tentam instaurar uma reforma na saúde, porém o poder político é tomado pelos militares dando início a Ditadura Militar. Outros fatos importantes são abordados: a unificação das IAPs em 1967, a criação do INPS (Instituto Nacional da Previdência Social), a criação do INAMPS (Instituto Nacional de Atenção Médica da Previdência Social), a revolução sanitarista em 1980 (que reivindicava o direito à saúde para todas as pessoas e não somente para os trabalhadores com carteira assinada); no ano de 1985, através do movimento “Diretas já!”, Tancredo Neves foi eleito, o que pôs fim à Ditadura Militar, em 1986 foi aprovada a constituinte sobre o SUS (Sistema Único de Saúde) durante a 8° Conferência Nacional de Saúde, o SUS tem como os seus princípios: universalidade, integralidade e equidade. São longas décadas de luta até a criação do SUS, ou seja, ele é uma conquista do povo e portanto deve ser mantido e receber mais investimentos governamentais para a sua melhoria, infelizmente o cenário atual é de precarização, desmonte e forte intenção de privatização do SUS e estas ideias tem tomado força entre a população, um retrato de quão pode ser manipulado um povo que desconhece a sua própria história. O texto “ABC do SUS e os seus princípios” traz que na Constituição de 1988 foi estabelecido que a saúde se relaciona a três aspectos: o meio físico (condições geográficas, água, alimentação, habitação, etc..), o meio sócio-econômico e a cultura (incluindo ocupação, renda, educação, etc.); os fatores biológicos ( tais como idade, sexo, herança genética, etc.); e a oportunidade de acesso aos serviços que possibilitem a proteção, promoção da saúde e recuperação, o que indica que a saúde está ligada a diversos setores e fatores, vai muito além do trabalho do SUS, dos profissionais do SUS, do Ministério da saúde e suas secretarias e que só uma política governamental integrada pode garantir a saúde. Isso leva a pensar nas primeiras leis trabalhistas que foram criadas para garantir alguns direitos ao trabalhador, entre eles a saúde e abre um questionamento para o sentido de saúde que elas abrangiam e parece que este era bem diferente do que é trazido no referido texto, pois soa como “saúde= não estar doente= conseguir trabalhar”, ao passo que no texto “ABC do SUS e os seus princípios” saúde soa como uma harmonia na existência do indivíduo, como um todo e portanto não se relaciona apenas a tratamento ou a remediar algo, mas sim a prevenir, a proporcionar uma vida digna para evitar que adoeça e não apenas por isso. As doutrinas do SUS: universalidade, equidade e integralidade, validam a grande conquista que o SUS é para a população como um todo, pois não discrimina ninguém, num país tão diverso como o Brasil, em que muitas minorias são alvo de exclusão, de perseguição e de privação, ainda no século XX, foi criado um dispositivo de atenção à saúde que não privilegia ninguém, que vai oferecer cuidados a todos que o busquem e que também vai buscar as pessoas que, por diversas razões (por exemplo falta de conhecimento, falta de transporte, impedimento físico ou psicológico, etc.) não tem condições de ir até lá procurar por “cuidado”. Além das doutrinas bem estabelecidas, o SUS ainda conta com uma organização muito bem estruturada, como é trazido no referido texto, os princípios de organização eregionalização guiam o funcionamento do SUS para garantir a população todas as modalidades de assistências, bem como a resolubilidade, a descentralização, a participação dos cidadãos, a complementariedade do setor privado, tudo isso pensado em prol do bem estar do indivíduo e também da população como um todo, orientando o trabalho dos governantes e dos gestores (definindo muito bem o papel destes e as suas responsabilidades), levando em consideração também a participação dos cidadãos na formulação das políticas de saúde e controle da execução. As ações a serem desenvolvidas pelo SUS são muito bem descritas, claras e necessárias, são elas: ações de promoção e proteção da saúde (que envolve educação em saúde, orientação sobre alimentação e nutrição, adoção de estilo de vida saudável, aconselhamento sobre a prevenção de DST, métodos contraceptivos, vacinação, saneamento básico, vigilância sanitária, atendimento médico, etc..), ações de recuperação (diagnosticar e tratar doenças, reabilitação, consultas médicas e odontológicas) e ações de reabilitação (recuperação total ou parcial em casos de doenças, reeducação e treinamento, reemprego do reabilitado, etc.). O artigo “Estratégias para a consolidação do SUS e do direito à saúde” em um determinado trecho aborda sobre a importância de alguns movimentos sociais para a implementação de novas políticas e programas, tais como a Reforma Psiquiátrica, a luta contra a AIDS, o movimento pró-humanização e as mudanças que a influência desses movimentos trouxe ao SUS,ampliando e melhorando a sua forma de operar junto a população, adicionando novas formas de pensar, novos profissionais, entidades, associações acadêmicas e políticas. Apesar de tudo isso, o SUS ainda enfrenta muitos problemas de acesso e de efetividade em suas ações, o atual contexto político e econômico não favorece o SUS, mas a existência do SUS já é por si só uma resistência, fala-se muito sobre o desmonte do SUS e a sua precariedade, defendem por isso a privatização dos serviços, ao invés de investirem dinheiro no serviço querem retirar um direito essencial de milhares de pessoas. O autor do referido artigo afirma que são necessários a criação de projetos políticos em defesa do SUS, novos apontamentos sobre a luta pelo financiamento do SUS e das políticas públicas, ampla e radical reforma do modelo de gestão e de organização do SUS, ampliação da cobertura e qualidade de atenção no SUS, tudo isso para evitar o desmonte deste importante dispositivo, que é uma das conquistas mais importantes de um povo que diariamente lida com a privação de inúmeros de seus direitos básicos. O documentário e os textos se relacionam de tal forma que permitem a visualização de uma linha do tempo, desde quando o que havia era somente a Igreja e os seus atos de piedade para cuidar dos doentes, até a criação de um sistema exclusivo para cuidar da saúde e que tem saúde como um conceito amplo, social e de harmonia entre vários fatores, em contraposição a uma visão limitada e generalizada que tem saúde como um estado de ausência de doença e quer as pessoas “saudáveis” para que possam trabalhar e produzir. O SUS é muito mais que um sistema de saúde, é uma concepção nova de saúde, humanizada, que concebe uma existência harmônica para os indivíduos e não os enxerga apenas como corpos que são úteis ao sistema porque trabalham. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Brasil, Ministério da Saúde (1990) ABC do SUS: Doutrinas e Princípios. Brasília: Ministério da Saúde. (disponível online) 2.Santos, G. W. (2016) Estratégias para consolidação do SUS e do direito à saúde. Ensaios e Diálogos em Saúde Coletiva, no. 3 (disponível online) 3. História das Políticas Públicas de Saúde no Brasil. Brasil, Ministério da Saúde. 4.Mereles, Carla. A história da saúde pública no Brasil e a evolução do direito à saúde. Politize, 2018.Disponívelem:<https://www.politize.com.br/direito-a-saude-historia-da-saude-publica-no- brasil>Acesso em 28 de abril de 2021.
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