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DESCRIÇÃO As políticas de Saúde no Brasil, a construção histórica para a sociedade brasileira e a formação do Sistema Único de Saúde (SUS). PROPÓSITO Compreender o processo histórico das políticas de Saúde no Brasil, bem como a Reforma Sanitária Brasileira (RSB). OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período pré-colonial (até 1500) até a Era Vargas (1930 a 1945) MÓDULO 2 Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período de redemocratização (1945 a 1964) até o período da Reforma Sanitária Brasileira (início na década de 1970 até os dias atuais) INTRODUÇÃO Todos nós temos direito de acessar o Sistema Único de Saúde (SUS), seja por serviços ou ações de saúde, como vacinas, consultas e exames, seja pelo restaurante que você frequenta, que tem ação da Vigilância Sanitária, ou pela medicação que você usa, que tem participação do SUS na formulação, entre tantas outras áreas. A concepção ampliada de saúde ultrapassa o entendimento meramente biológico. Dessa forma, é necessário um sistema de saúde com ações de promoção, prevenção e recuperação, incluindo no cuidado as questões sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outras. Assim, é preciso um sistema complexo e universal, ou seja, todos devem ter acesso sem qualquer limitação. Você acha que sempre foi assim? Atualmente, o nosso direito é garantido pela Constituição Federal de 1988. Para chegar a essa grande conquista, existiu um longo caminho histórico de construção e desconstrução na área da Saúde. Veremos ao longo desse material os diversos períodos históricos, as dificuldades, as mudanças e as consequências de todo o processo até chegar ao atual momento. A proposta principal desse conteúdo é que você possa refletir sobre o impacto de toda a construção histórica das políticas de Saúde sobre o atual sistema de saúde e que consiga ter uma atuação profissional reflexiva baseada no conteúdo teórico trabalhado, considerando a realidade da prática. MÓDULO 1 Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período pré-colonial (até 1500) até a Era Vargas (1930 a 1945) CONCEITOS Fonte: Billion Photos / Shutterstock.com Para começarmos esse módulo, é importante fazer a seguinte reflexão: POR QUE PRECISAMOS ESTUDAR HISTÓRIA? Existem muitas respostas possíveis para essa pergunta, mas uma resposta costuma ser consenso: estudamos História para aprender com o passado e planejar o futuro, evitando a ocorrência dos mesmos equívocos. Uma parte significativa dos que escolhem cursar uma graduação na área da Saúde relata não ter grande apreço por estudar conteúdos históricos e filosóficos. No entanto, ao trabalhamos com o conceito ampliado de saúde, é preciso compreender todo o contexto em que vive cada sujeito e, para isso, é imprescindível pensar nas questões históricas que geram as iniquidades e a dificuldades de acesso aos serviços e ações públicas de saúde. É primordial, por exemplo, conhecermos a história da profissão que escolhemos exercer, pois isso fortalece a identidade profissional, auxiliando a configurar cada uma delas como corpo político e social. Na mesma proporção, é essencial conhecermos a história das políticas de Saúde, como o processo foi se construindo, desconstruindo e reconstruindo, para chegar ao momento atual, que traz dificuldades significativas e avanços importantes. Nesse módulo, o foco será na evolução das políticas de Saúde no Brasil. O QUE SERIA UMA POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE? Podemos dizer de maneira bem simples que uma política pública de saúde diz respeito a uma resposta do Estado para uma necessidade encontrada na sociedade. Ou seja, para enfrentar os problemas relacionados à saúde, são criadas as políticas públicas, que trarão impactos à vida da população. Fonte: WAYHOME studio / Shutterstock.com É importante ter clareza sobre um ponto: as políticas públicas de saúde nascem a partir de questões social e coletiva e não a partir de algo individual. Não podemos utilizar situações pontuais e isoladas para justificar uma política de saúde. A coletividade é o foco, porém, obviamente, ocorrerão também impactos nos indivíduos de maneira singular. O Brasil apresenta uma desigualdade social muito significativa. O Estado precisa garantir um sistema de saúde que busque diminuir as iniquidades, aumentar o acesso, pensando muito além da construção de hospitais. Grande parte da nossa população vive em condições precárias e, certamente, tal fato é resultado de um processo histórico de distribuição de renda fortemente desigual. O SUS existe a partir da premissa de que saúde é direito da população e deve ser garantida pelo Estado. Mesmo ainda com tantos desafios, podemos observar muitos avanços. Até chegarmos ao SUS, tivemos um longo caminho de construção das políticas de Saúde. Vamos ver, a partir de agora, como se dava essa questão em períodos históricos específicos. BRASIL PRÉ-COLONIAL Fonte: celio messias silva / Shutterstock.com Quando falamos em Brasil pré-colonial, estamos abordando o período em que o país ainda não havia sido colonizado por Portugal, ou seja, o período anterior ao ano de 1500. Nessa época, milhões de indígenas viviam em diversas tribos distribuídas por todo o território nacional. Os indígenas tinham suas próprias culturas, crenças e formas de organização social. Os rituais e práticas curativas com uso de plantas e chás eram realizados nas aldeias e conviviam com as questões que atravessavam a saúde, podendo realizar cuidados conhecidos até hoje. Quando os portugueses chegaram, a população indígena foi dizimada pelas novas doenças trazidas pelos europeus, como cólera e varíola, e sofreram inúmeras intervenções em sua cultura e crença, sendo alfabetizados em português, catequizados pelos líderes católicos e servindo de mão de obra escrava. As pesquisas mostram que, na década de 1970, o país não chegava a ter 100 mil indígenas. Lembra que vimos que milhões de indígenas moravam aqui antes da chegada dos portugueses? Alguns estudos apontam que eram aproximadamente cinco milhões. Pense em quantas vidas se perderam. Como seria possível responder a tal tragédia? Através de políticas públicas voltadas para a população indígena. Em função dessas políticas públicas, o censo de 2010 apontava que o país tinha uma população de cerca de 800 mil indígenas. Ou seja, é preciso investir nas políticas de Saúde para que essa população tenha melhores condições de vida. Fonte: jiunn / Shutterstock.com BRASIL COLÔNIA Fonte: esfera / Shutterstock.com A partir do momento que Portugal chegou ao Brasil, iniciamos o período chamado de Brasil Colônia, que vai de 1500 a 1822, quando sofremos grandes mudanças culturais, sociais, políticas e econômicas. Apesar das intervenções e perdas envolvendo os indígenas, muitas práticas utilizadas pelas tribos nativas foram aproveitadas pelos boticários no período colonial. Você sabe quem eram os boticários? Atualmente, entende-se que foram os precursores dos farmacêuticos. Eles viajavam por todo o país, prescrevendo remédios, poções e misturas para pessoas consideradas doentes. É importante reforçar que, naquele período, os médicos eram praticamente inexistentes no país e que a população ficava muito desamparada em relação à assistência em saúde. Para algumas doenças como a hanseníase, conhecida popularmente como lepra, as medidas tinham muito mais relação com afastar o chamado leproso do convício social do que em tratar sua questão de saúde. Cabe falar que as pessoas acometidas por essas doenças infectocontagiosas eram direcionadas para locais isolados, coordenados por religiosos. Outra questão importante diz respeito à chegada dos escravos africanos ao Brasil. Depois de algum tempo, o local de desembarque dos navios negreiros passou a ser realizado em local afastado para permitir a separação de escravos considerados saudáveis dos escravos considerados doentes. PERCEBE QUE NÃO EXISTIA MEDIDA DECUIDADO EM SAÚDE, MAS UMA EXCLUSÃO HIGIENISTA E PRECONCEITUOSA? Fonte: Davi Sales Batista / Shutterstock.com Somente em 1808, com a chegada da corte portuguesa no Brasil, percebemos um estímulo maior para a presença médica, diante da necessidade de cuidar da nobreza. Foram inauguradas a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro e o Colégio Médico-Cirúrgico em Salvador. Alguns estudos apontam tentativas de construção de escolas de ensino superior para formação médica antes da chegada da corte portuguesa no Brasil, mas possuir formação em nível superior era considerado algo proibido por Portugal nos tempos do Brasil Colônia. VOCÊ CONSEGUE PERCEBER QUE O AVANÇO QUE COMEÇA A ACONTECER, COM A VINDA DAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO MÉDICA, TEM RELAÇÃO DIRETA COM A PRESENÇA E INTERESSES DE UM GRUPO PRIVILEGIADO E NENHUMA RELAÇÃO COM AS NECESSIDADES DA POPULAÇÃO? Veremos adiante que essa lógica está sempre atravessando a construção de ações e serviços de saúde em nosso país. BRASIL IMPERIAL Esse período histórico começou com a proclamação da independência do Brasil por D. Pedro I em 1822 e foi até 1889, quando aconteceu a proclamação da república. É importante reforçar que pouco se tem para relatar sobre avanços ou mudanças na área da saúde. As ações limitavam-se a manter certa higienização no Rio de Janeiro, a capital do Império, em função da grande disseminação de doenças e condições precárias de vida e da proteção da nobreza portuguesa. Essas ações eram realizadas principalmente com intuito de evitar grandes perdas financeiras diante do aumento significativo de doenças, já a questão da qualidade de vida para população não era levada em consideração. Fonte: Tiago Santos de Souza / Shutterstock.com Algumas tentativas foram feitas como a criação da Junta de Higiene Pública para unificar os serviços sanitários do império a partir do surgimento de casos de febre amarela. Mesmo com essa criação, alguns anos depois a situação sanitária do país ainda continuava muito frágil; posteriormente foi instituído o Conselho Superior de Saúde Pública, que também não surtiu grandes efeitos práticos sobre a situação da salubridade do país. VOCÊ CONSEGUE PERCEBER A FRAGILIDADE E DESINTERESSE NESSE PERÍODO EM CUIDAR DA SAÚDE DA POPULAÇÃO? Considerando nossa sociedade escravocrata, a saúde da maior parte da população não era objeto de preocupação. Por isso, temos pouco a relatar em relação a mudanças positivas para a saúde em seu significado amplo: biológico, social, econômico, político, entre outros. Fonte: tereza ferreira / Shutterstock.com PRIMEIRA REPÚBLICA Esse período histórico, que começou em 1889 com a proclamação da República e terminou em 1930, também é conhecido como “República Velha”. Tivemos nesse período uma alternância no governo do país entre os estados mais ricos: Rio de Janeiro; São Paulo; Minas Gerais. Fonte: kasama Watanapran / Shutterstock.com Houve um grande incentivo à cafeicultura, que se tornou o setor de destaque na economia, com boa parte do seu lucro direcionada para a industrialização e urbanização. Tal fato proporcionou um grande aumento da população nas cidades, com grande êxodo rural nesse período. Aconteceu também significativo aumento da imigração de europeus, principalmente, para trabalhar como mão de obra assalariada nas lavouras de café, tendo em vista que a escravidão foi abolida em 1888. Diante desse aumento da população urbana, tivemos também um crescimento na transmissão de doenças e o surgimento de novos agravos de saúde, o que prejudicava fortemente a economia brasileira. Apesar de parecer estranha, essa lógica do mercado prevalecia e ganhava mais força ao longo do tempo. A preocupação com a saúde da população era muito inferior em relação à preocupação com as finanças do país. Existia forte ameaça com a javascript:void(0) presença significativa de varíola e febre amarela e, para isso, era necessária a adoção de ações voltadas para o enfrentamento dessas doenças. Nesse período, a saúde pública começava a ter um desenvolvimento mais acelerado no país, com práticas fortemente pautadas na Bacteriologia e Microbiologia. A partir da descoberta de microrganismos patogênicos, as práticas sanitaristas começaram a se estruturar. As campanhas sanitárias agiram fortemente nos portos, no controle de doenças e no saneamento, organizando serviços de saúde pública. Cada vez mais, no final do século XIX, ganhava visibilidade a necessidade de ampliar as ações de comércio no exterior e contratar imigrantes para trabalhar no país. Com uma estrutura pouco eficaz para enfrentar a questão epidemiológica, foram criados laboratórios de saúde pública e serviços sanitários foram organizados. ÊXODO RURAL Migração da população do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida. SAIBA MAIS Nessa época, importantes atores no processo de fortalecimento da Saúde Pública, como Vital Brasil, que testou soros e vacinas, e Emílio Ribas, que atuou fortemente no combate a epidemias e endemias, principalmente em relação à febre amarela, que vinha apresentando uma taxa de mortalidade muito alta. Muitos sabiam que, ao chegar no Rio de Janeiro, poderiam adoecer gravemente ou até morrer. Então, nosso país ganhou fama de ser um local altamente insalubre. Em função dessa situação, no ano de 1900, foi criado o Instituto Soroterápico Municipal. Fonte: Janusz Pienkowski / Shutterstock.com No governo de Rodrigues Alves (1902-1906), tivemos a presença marcante do sanitarista Oswaldo Cruz à frente da Diretoria Geral de Saúde Pública, com foco em ações higienistas para responder às questões de saúde no Brasil. O principal papel de Oswaldo Cruz era erradicar a febre amarela, sendo necessário convencer a população sobre a as intervenções de controle do vetor e vigilância das pessoas adoecidas. Imagine a seguinte cena: Fonte: happymay / Shutterstock.com Você ouve alguém bater na porta de sua casa e, ao abrir, uma equipe invade seu espaço e começa a destruir colchões e cortinas e limpar possíveis reservatórios de mosquitos. Ou ainda lhe expulsa de sua moradia, alegando que sua casa está impossibilitada de continuar habitada. Qual seria sua reação? REFLEXÃO Essa cena foi proposta para dar dimensão das reações populares diante do que foi chamado de modelo campanhista de intervenção, implementado por Oswaldo Cruz para enfrentar as epidemias da época. É importante ressaltar que essas campanhas sanitárias eram altamente repressivas, interditando e invadindo casas, sempre com a presença da chamada polícia sanitária. Agora vamos imaginar outra situação: javascript:void(0) Fonte: FishCoolish / Shutterstock.com Algum profissional de saúde se aproxima de você e aplica uma vacina, sem a menor explicação. O que você faria? REFLEXÃO Atualmente, recorremos à vacinação porque temos acesso à informação e sabemos que as vacinas são potentes para a erradicação de muitas doenças. Porém, nem sempre a população teve acesso a essas informações. Veja como a vacinação era vista: Em 1904, foi aprovada uma lei que tornava obrigatória a vacinação contra varíola, medida também coordenada por Oswaldo Cruz. A forma violenta e invasiva desse processo, com a ação da polícia sanitária novamente, provocou uma revolta sangrenta da população em relação à medida governamental. Esse movimento ficou conhecido como Revolta da Vacina, tendo duração de aproximadamente seis dias, no Rio de Janeiro, até ser reprimido pelo governo. Em javascript:void(0) seguida, a lei que tornava a vacina obrigatória foi revogada. Houve significativa queda no número de pessoas com varíola, mas a maneira como a ação foi realizada trouxe outros prejuízos para a população. Em 1920, houve a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública e foi implementada a chamada Reforma Carlos Chagas, que trouxe uma separação entre saúde pública e previdência. É importante que você saiba que, nesse período, as famílias que tinham uma posição socialprivilegiada recorriam aos médicos que iam às suas casas e recebiam pagamento pelos serviços prestados. Já a maior parte da população, pobre, precisava buscar cuidados em instituições filantrópicas ou religiosas. Em 1923, foi criada Lei Eloy Chaves, que representou o início da previdência social e trouxe as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP) – que eram responsáveis pelos benefícios dos funcionários e organizadas por cada empresa, de natureza privada. O financiamento das CAP era feito a partir de um desconto do valor recebido pelos funcionários e de recursos dos empregadores. A arrecadação variava de acordo com cada empresa. Naquele momento, a iniciativa pública somente atuava na resolução de conflitos. A partir da criação da previdência social, podemos perceber uma mudança política do Estado diante das questões de saúde e de trabalho, com maior atenção às questões sociais, porém ainda muito distante das necessidades da população. ERA VARGAS No período conhecido como Era Vargas, que foi de 1930 a 1945, tivemos importantes mudanças jurídicas e de proteção social no país. A perda de importância da cafeicultura trouxe prejuízos políticos para a classe dominante da época. Houve um movimento de pessoas da elite não ligadas à cafeicultura para fim da hegemonia da chamada “política do café com leite”, que contou com grande apoio de diversos grupos da sociedade. Com esse movimento, que ficou conhecido como Revolução de 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder, trazendo importantes avanços sociais. Mas seu governo também foi extremamente autoritário, o que fez com que se tornasse um dos políticos mais enigmáticos da história brasileira. A Era Vargas foi marcada por forte perseguição à oposição e teve como um dos principais marcos a criação do Estado Novo, em 1937 – um regime de ditadura, com forte centralização de poder, que durou até 1945. Fonte: Arthimedes / Shutterstock.com O cenário da saúde no Brasil nesse momento era composto pela medicina previdenciária, pelas instituições filantrópicas e por profissionais médicos liberais. Houve também algum avanço com a construção de departamentos de saúde no interior do país e a criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), que focava em áreas com pouca ou nenhuma cobertura pelos serviços oferecidos pelo governo. Os trabalhadores da época conseguiram que o salário mínimo fosse aprovado, porém o período era de crescente inflação, com grande piora nas condições de vida. Diante disso, a luta trabalhista precisava continuar, inclusive para conseguir melhor assistência de saúde. Foram criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), que eram organizados por categorias profissionais. Algumas categorias foram mais beneficiadas que outras, gerando grandes desigualdades financeiras e nas condições de trabalho. Com a crescente industrialização, havia preocupação com a produção e, assim, com as condições físicas dos trabalhadores. Por isso, muitas empresas criaram serviços de saúde ambulatoriais. As classes mais beneficiadas eram os: MARÍTIMOS FERROVIÁRIOS COMERCIANTES BANCÁRIOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS ATENÇÃO É importante lembrar que os trabalhadores urbanos tinham muito mais acesso a esses avanços que os trabalhadores rurais. LEMBRA QUE FALAMOS SOBRE AS CAP, QUE ERAM ORGANIZADAS PELA INICIATIVA PRIVADA? Quando ocorre a mudança para os IAP, houve incremento da participação pública e significativa dependência do governo federal. Porém, esses institutos serviram mais como criadores de reserva financeira para o governo do que como prestadores de serviços à população. Nesse ritmo acelerado de industrialização nacional, outro destaque foi o crescimento da indústria farmacêutica, o que reforçava a concepção de saúde reducionista como algo biológico que pressupõe uma prática unicamente curativista, restando pouco espaço para ações de prevenção e promoção da saúde. É possível identificar avanços importantes nessa etapa da nossa história, como a ampliação de alguns direitos trabalhistas, porém muitas questões estruturais permaneciam, como a orientação de estruturar um modelo embasado nos interesses das grandes empresas e pouco estruturado nas reais necessidades de saúde da população em geral. Será que isso mudou nos anos posteriores? Veremos mais períodos históricos adiante para analisarmos. A SAÚDE NA ERA VARGAS Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre a saúde na Era Vargas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AO LONGO DOS ANOS, VIMOS IMPORTANTES MUDANÇAS NA QUESTÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL. PENSANDO NAS ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO, MARQUE A OPÇÃO QUE TRAZ O DISPOSITIVO QUE FOI CRIADO COM FORTE PARTICIPAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL, MAS NÃO BENEFICIAVA DE MANEIRA IGUAL TODOS OS TRABALHADORES: A) Ministério do Trabalho. B) Institutos de Aposentadorias e Pensões. C) Caixas de Aposentadoria e Pensão. D) Ministério da Educação e da Saúde. E) Serviço Especial de Saúde Pública. 2. NO INÍCIO DO SÉCULO XX, HOUVE UM MOVIMENTO DE REAÇÃO DA POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO EM FUNÇÃO DO MODELO CAMPANHISTA DE INTERVENÇÃO PROPOSTO E COORDENADO PELO SANITARISTA OSWALDO CRUZ. MARQUE A OPÇÃO QUE TRAZ O NOME DESSE MOVIMENTO: A) Revolução de 1930. B) Estado Novo. C) Revolta da Vacina. D) Revolução Sanitária. E) República do Café com Leite. GABARITO 1. Ao longo dos anos, vimos importantes mudanças na questão da previdência social no Brasil. Pensando nas etapas de construção do sistema previdenciário, marque a opção que traz o dispositivo que foi criado com forte participação do governo federal, mas não beneficiava de maneira igual todos os trabalhadores: A alternativa "B " está correta. Os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP) tinham grande participação do governo federal, porém foi gerada grande desigualdade social em função da diferença financeira entre esses institutos, com algumas classes de trabalhadores com melhores condições de trabalho que outras. 2. No início do século XX, houve um movimento de reação da população do Rio de Janeiro em função do modelo campanhista de intervenção proposto e coordenado pelo sanitarista Oswaldo Cruz. Marque a opção que traz o nome desse movimento: A alternativa "C " está correta. A Revolta da Vacina aconteceu em 1904, no Rio de Janeiro, com a duração de seis dias, quando foi reprimida pelo governo. A população se revoltou contra a medida de vacinação obrigatória, pois não havia informação sobre o que estava em curso e a forma com a qual essa ação era realizada tinha caráter extremamente violento, contando com presença de polícia sanitária. MÓDULO 2 Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período de redemocratização (1945 a 1964) até o período da Reforma Sanitária Brasileira (início na década de 1970 até os dias atuais) Nesse módulo, seguiremos na linha do tempo proposta com a abordagem das questões que envolveram a área da saúde nos principais períodos históricos brasileiros até chegarmos ao nascimento do Sistema Único de Saúde (SUS). O foco desse módulo é mostrar as dificuldades desses períodos e os avanços importantes nessa construção da história das políticas de Saúde brasileira. É essencial desenvolver uma visão crítica acerca das questões que parecem estruturar retrocessos e das movimentações necessárias para modificá-las, tendo em mente que esse movimento de mudança é um processo constante, dinâmico e vivo. PERÍODO DE REDEMOCRATIZAÇÃO Fonte: Chinnapong / Shutterstock.com Esse período da história brasileira começou em 1945 e foi até 1964. O mundo passava por muitas mudanças e crises decorrentes do fim da Segunda Guerra Mundial e o Brasil foi influenciado por essas questões. A população, insatisfeita com o governo Vargas, passou a reivindicar democracia, o que levou ao encerramento da ditadura de Vargas e ao início de um processo democrático, de eleições diretas para os cargos políticos do governo; a imprensa ganhou maior liberdade e os sindicatos seorganizaram novamente. Mesmo com algumas flexibilizações, certas ações anteriores ainda foram mantidas, como, por exemplo, o intervencionismo nos sindicatos e em partidos políticos de oposição pelo presidente Eurico Dutra. O Brasil teve fortalecida sua aliança com os Estados Unidos; os movimentos sociais ganharam força em sua luta por melhores condições de vida e busca por melhores condições de saúde e de trabalho. LEMBRA QUE FALAMOS SOBRE O SERVIÇO ESPECIAL DE SAÚDE PÚBLICA (SESP) CRIADO NO PERÍODO ANTERIOR? Nessa fase, em função dessa aliança do Brasil com Estados Unidos, o SESP teve uma atuação forte de assistência à saúde dos trabalhadores da Amazônia que faziam extração de borracha, pois eles ficavam muito suscetíveis a contraírem malária. Como a borracha era importante para as questões que envolviam a 2ª Guerra Mundial, era primordial manter esses trabalhadores saudáveis para não prejudicar a produção. PERCEBE ALGO QUE ESTAMOS CONVERSANDO DESDE O INÍCIO DESSE CONTEÚDO? QUAL QUESTÃO PREVALECE NESSA CONDUTA: O INTERESSE DO MERCADO OU AS NECESSIDADES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO? Em função das ações de Saúde Pública passarem por uma significativa expansão, foi criado em 1953 o Ministério da Saúde, que teve atuação pouco significativa e recebia poucos recursos financeiros por parte do governo. Havia uma luta para que os IAP fossem unificados e prestassem assistência médica aos seus trabalhadores. Entretanto, essa ideia não foi adiante, pois muitos acreditavam que uma fusão nos IAP poderia diminuir a qualidade dos serviços. Dessa maneira, os IAP que tinham mais recursos construíam seus próprios hospitais. É importante que você saiba que, nesse período, houve um investimento muito maior em construção de hospitais do que em serviços e ações de atenção primária. Como vivíamos uma segunda fase da industrialização, houve crescimento no número de equipamentos para exames e procedimentos médicos e da indústria farmacêutica, com a produção de novas medicações consideradas promissoras. Ou seja, o foco ainda permanecia em curar e não em prevenir e promover saúde da população. VOCÊ CONSEGUE PERCEBER QUE, MESMO COM AVANÇOS, O PASSADO CONTINUA BEM PRESENTE NESSE MOMENTO? REGIME MILITAR Fonte: NTL studio / Shutterstock.com Em 1964, ocorreu um golpe de Estado que colocou os militares à frente do governo do país, encerrando todas as instituições que buscavam por reformas de base, suspendendo direitos e punindo violentamente todas as pessoas que se opunham ao novo regime de governo. Muitos estudantes, políticos, artistas, líderes sindicais e até religiosos que lutavam por mudanças e melhores condições de vida foram presos e perseguidos. O argumento utilizado era a necessidade de proteger o país contra uma possível ameaça comunista, com promessas de garantir segurança e acabar com a corrupção. SAIBA MAIS O chamado “milagre econômico” conferiu aumento da produtividade do país, aumentou a carga horária dos trabalhadores e reduziu salários, constituindo um período de grande concentração de renda para poucos e de altos índices de pobreza, inflação e desemprego para a maior parte das famílias do Brasil. Com o aumento da miséria, nossa população adoeceu mais – deu-se o surgimento de epidemias como poliomielite e meningite, e os veículos de mídia foram censurados em relação à divulgação dos dados alarmantes sobre essas epidemias. Mesmo diante desse cenário, houve um corte significativo e progressivo dos recursos destinados à saúde pública, e o Ministério da Saúde atuava muito mais numa perspectiva individual de saúde do que numa perspectiva coletiva. Houve também a intensificação do modelo hospitalocêntrico, ou seja, um modelo de saúde que focava na construção de hospitais como principal estratégia de assistência. Fonte: sfam_photo / Shutterstock.com CONSEGUE NOTAR O PREDOMÍNIO DA LÓGICA CURATIVISTA NA SAÚDE? Parece fazer parte da lógica da industrialização – os grandes hospitais romperam com a lógica artesanal de cuidado e passaram a focar em produtividade. Por conta disso, os gastos cresceram muito, pois o governo financiava a construção de hospitais pela iniciativa privada e a população, em sua maioria, não tinha acesso a esse parque hospitalar. VOCÊ SABIA QUE, NESSE PERÍODO, TIVEMOS UM CRESCIMENTO DESENFREADO DE HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS, MAIS CONHECIDOS COMO HOSPÍCIOS? Nesses locais, muitas pessoas consideradas indesejadas pela sociedade eram depositadas, sofrendo violência e abandono e passando por grande negligência. QUEM ERAM ESSAS PESSOAS? Mulheres cujos maridos não queriam mais manter o casamento, homossexuais, negros, pessoas com deficiência física e pessoas com transtornos mentais, dentre tantas outras situações. O sofrimento acontecia entre muros, deixando as ruas sem a presença dos que eram vistos como desviantes. Em 1967, tivemos a fusão de todos os IAP, formando o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), com grande concentração de recursos financeiros, o que aumentou a compra de serviços e ações da iniciativa privada. É importante reforçar que os trabalhadores sem vínculo formal de trabalho não possuíam direito a usufruir da previdência social. O INPS destinava boa parte dos seus gastos à cobertura de assistência médica individual especializada. Podemos notar mais uma vez a desvalorização das ações de saúde pública de viés preventivo e coletivo. Fonte: Studio Romantic / Shutterstock.com Nesse período, havia o predomínio da busca por consultas médicas individuais. A medicina era vista como detentora da cura. Houve um crescimento importante de faculdades privadas de medicina – muitas vezes distantes da realidade das necessidades de saúde da população –, com formação fortemente embasada em equipamentos modernos e medicações lançadas a todo momento pela indústria farmacêutica. Perceba que não existia grande espaço e autonomia para as demais profissões da saúde, era um modelo hospitalocêntrico e médico- centrado. ATENÇÃO É primordial o reconhecimento da importância das universidades nesse cenário. A partir da impossibilidade da participação de trabalhadores e pesquisadores da saúde na formulação das políticas sanitárias, o meio acadêmico configurou-se como um importante espaço de luta e resistência para romper com as iniquidades e barreiras encontradas para acesso à saúde. A medicina comunitária começou a ganhar espaço no Brasil, fortemente apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e propunha um acompanhamento em todo o território, com forte atuação de agentes de saúde, conhecedores da realidade do local, através de ações mais simples, com caráter de prevenção e participação da comunidade. Aconteceu também nesse período, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS) para levar saúde às populações mais carentes e com menos acesso. Fonte: ocphoto / Shutterstock.com Em 1975, tivemos a V Conferência Nacional de Saúde, que instituiu o Sistema Nacional de Saúde e deixou uma divisão clara na área: Fonte: EnsineMe javascript:void(0) Passou a ter uma função muito mais normativa, com foco em ações coletivas. Fonte: EnsineMe Concentrou-se em uma medicina curativa e individual. Diante da grave crise financeira no INPS, foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), com a finalidade de reorganizar o modelo vigente através do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) – responsável pela assistência médica dos trabalhadores – e do Instituto de Arrecadação da Previdência Social (IAPAS), que cuidaria do Fundo de Assistência da Previdência Social. Mesmo com a ideia de organização a longo prazo, percebe-se uma fragmentação do sistema nesse modelo de organização. Tivemos, nesse período, a proposta do Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-SAÚDE), que buscava ampliar e reestruturar os serviços e ações de saúde, o saneamento e a habitação. Propunha colocar a atenção básicacomo porta de entrada do sistema, a partir de uma hierarquia no atendimento. Também propôs a regionalização do sistema, a participação da população e integração entre serviços públicos e privados. Por tratar-se de um período de ditadura militar, esse programa não foi aprovado. javascript:void(0) ATENÇÃO É importante que você saiba que o INAMPS (1977- 1993) configurou uma assistência bem segmentada à saúde, promovendo atendimento individual e especializado aos que contribuíam com a Previdência Social. Há até bem pouco tempo atrás era muito comum que pessoas com idade mais avançada apresentassem a carteira de trabalho aos profissionais de saúde, acreditando que seria necessária para o acesso, fato ainda recorrente nos dias de hoje nos serviços de saúde do SUS. É essencial que a população receba a informação de que, atualmente, o sistema público da saúde é um direito de todos. Podemos observar no início dos anos 1980 um desgaste profundo em diversos âmbitos, inclusive no da saúde. Tal desgaste fortaleceu os movimentos em busca de uma reforma sanitária a fim de romper com a lógica de saúde como mercadoria e a visão restritamente biológica. Também houve uma busca maior pela inclusão das questões sociais, culturais, políticas e econômicas ao lidar com saúde. Fonte: Have a nice day Photo / Shutterstock.com REFORMA SANITÁRIA Não existe uma data específica para colocarmos como início do processo de Reforma Sanitária Brasileira. O que podemos afirmar é que esse movimento, que ganhou força entre as décadas de 1970 e 1980, não tem fim, precisa continuar acontecendo sempre, ou seja, a reforma sanitária é um processo constante. Esse processo nasceu da luta contra a Ditadura e podemos observar que um objetivo fortaleceu o outro: Movimento de reforma sanitária fortaleceu movimento de abertura democrática Movimento de abertura democrática fortaleceu movimento de reforma sanitária O movimento sanitarista pela reforma vinha, desde a década de 1970, solicitando mudanças no modelo centrado no médico e no hospital, buscando fortalecimento do setor público da saúde e com foco em cuidados primários. Somente na década de 1980 que todos os pontos defendidos passaram a ganhar espaço. No início dessa década foi criado o Programa de Ações Integradas de Saúde (AIS), que propunha a integração dos serviços de saúde prestados à determinada região. Cada estado teria convênio com o Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência para executar o programa. A ideia era unir a assistência de saúde pública com a assistência médica individual, diferentemente da lógica anterior do INAMPS e dos grupos privados de medicina. Reforma sanitária é um movimento que busca modificar não somente a assistência à saúde, mas mudar todo o paradigma que envolve o conceito de saúde, provocar mudanças e transformações na prática, para melhorar as condições de vida da população. O termo “Reforma Sanitária” teve grande inspiração na experiência italiana. Alguns chamavam os protagonistas desse movimento de “partido sanitário”, dando um ar depreciativo ao que ia muito além disso – tratava-se de uma ação mobilizada pelo social. É importante que você perceba que todo processo de mudança enfrenta grandes dificuldades, desde apelidos pejorativos e informações equivocadas a ações mais violentas de repressão. Um tema presente no processo inicial de reforma sanitária foi “Saúde é Democracia”, que ganhou força nas universidades e nos sindicatos, com ápice em 1986, durante a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, da qual falaremos mais adiante, que teve como um dos seus principais representantes Sérgio Arouca. SÉRGIO AROUCA Antônio Sérgio da Silva Arouca (1941-2003) foi médico sanitarista e político brasileiro. Outro ponto importante é que você saiba que a concepção de saúde e assistência estava se modificando no mundo todo. Um momento bastante importante e que influenciou o Brasil foi a Conferência de Alma-Ata, que aconteceu em 1978 no atual Cazaquistão, organizada pela javascript:void(0) Organização Mundial de Saúde (OMS), para priorizar os cuidados primários em saúde, principalmente nos países em desenvolvimento. Esse encontro gerou um documento conhecido como Declaração de Alma-Ata, que trouxe pontos essenciais e orientadores para a implementação da Atenção Primária da Saúde. Fonte: BOLDG / Shutterstock.com A tese defendida por Sérgio Arouca, em 1975, chamada “O Dilema Preventivista”, impulsionou a ideia da reforma sanitária. Também ajudaram na ideia de um movimento que reformasse a saúde no Brasil a criação, em 1976, do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) e, em 1979, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO). Essa duas instituições ainda hoje são altamente relevantes, para um sistema que seja integral, fazendo dentro dele a interlocução política. Outra instituição de grande importância nas articulações e avanços na saúde, a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da FIOCRUZ, surgiu nesse momento e, com ela, projetos e feitos importantes, como a clínica da família e pesquisas sobre saúde comunitária. CONSEGUE PERCEBER QUE, NO CENÁRIO DE DESGASTE DO REGIME AUTORITÁRIO, TODA ESSA MOVIMENTAÇÃO CRESCENTE FORMA UM GRUPO COESO, LUTANDO POR UMA CAUSA COMUM? O acesso universal à saúde só seria possível a partir de um modelo democrático. Uma das propostas do movimento de Reforma Sanitária era transferir o INAMPS para o Ministério da Saúde, diminuindo essa fragmentação. Outro acontecimento importante nesse processo de fortalecimento da proposta da reforma sanitária foi o I Simpósio de Política Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados, quando a criação do SUS foi defendida ineditamente. Agora retornamos ao que foi chamado de ápice da Reforma Sanitária, a VIII Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, no ano de 1986, coordenada por Sérgio Arouca. Essa foi a primeira conferência aberta à população, contando com participação significativa dessa parcela tão importante para a configuração de um sistema construído dentro da concepção ampliada de saúde. Na VIII Conferência Nacional de Saúde, tivemos também a participação de trabalhadores, gestores e prestadores de serviços de saúde. As propostas da conferência originaram-se de apontamentos realizados em conferências municipais e estaduais, ou seja, um processo ascendente, que, de fato, poderia trabalhar em torno das reais necessidades da população. PERCEBE A BUSCA POR ROMPER COM O QUE VIMOS ATÉ AQUI? SAIBA MAIS Um legado importante da VIII Conferência Nacional de Saúde foi o documento final gerado a partir dos debates, que trouxe uma ampliação da necessidade de cuidado e promoção de saúde. Podemos ver nesse relatório final que saúde é definida como “resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de vida.” Esse documento é a base do texto da Constituição Federal de 1988, ainda vigente atualmente, na parte que diz respeito à saúde. É importante que você saiba que a pauta da saúde foi abordada dentro de um texto constitucional pela primeira vez. É perceptível o avanço! Fonte: rafapress / Shutterstock.com O Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) foi uma ferramenta de transição para o SUS durante o processo de redemocratização. Ele propunha a transferência dos serviços do INAMPS para estados e municípios, estabelecendo que cada esfera (nacional, estadual e municipal) deveria contar com um gestor da saúde. Segundo Bertolozzi e Grecco: [...] OS PRINCIPAIS PONTOS APROVADOS NA CARTA MAGNA DE 1988 FORAM: O DIREITO UNIVERSAL À SAÚDE: A SAÚDE COMO UM DEVER DO ESTADO: A CONSTITUIÇÃO DO SUS, INTEGRANDO TODOS OS SERVIÇOS PÚBLICOS EM UMA REDE: ALÉM DA PRESERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS APROVADOSPELA VIII CONFERÊNCIA E A PARTICIPAÇÃO DO SETOR PRIVADO NO SUS DE FORMA COMPLEMENTAR, BEM COMO A PROIBIÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO DE SANGUE E DE SEUS DERIVADOS. APESAR DOS AVANÇOS ALCANÇADOS, ALGUMAS QUESTÕES PERMANECERAM INDEFINIDAS TAIS COMO, O FINANCIAMENTO DO SETOR SAÚDE, A POLÍTICA DE MEDICAMENTOS E AS AÇÕES NO ÂMBITO DA SAÚDE DO TRABALHADOR. HÁ AINDA QUE RESSALTAR QUE PERMANECEU INTOCÁVEL O PARADIGMA DO MODELO ASSISTENCIAL CENTRADO NA ASSISTÊNCIA MÉDICA INDIVIDUAL E, PORTANTO, NA FIGURA DO MÉDICO. Bertolozzi; Grecco, 1996. As propostas da VIII Conferência de Saúde proporcionaram um momento único e diferente para sociedade brasileira. Algumas dessas propostas foram: 1. Saúde como direito de todo cidadão, trabalhador rural ou urbano, contribuinte ou não. 2. Ações de saúde integrais de cunho preventivo e curativo. 3. Descentralização do sistema, em âmbito financeiro e administrativo (ou seja, o poder não seria mais centralizado em uma única entidade, como na época da Ditadura). 4. Controle e participação social e acompanhamento das ações das políticas públicas de saúde. A postura de Sérgio Arouca, ao sustentar o protagonismo da população nesses espaços de decisão, foi bastante criticada, pois, até então, esses eventos só contavam com a participação de políticos e gestores. Sérgio Arouca foi chamado por muitos de louco e irresponsável pelo teor de suas ideias. É essencial que você compreenda que todo esse movimento de mudança tinha como objetivo criticar as intervenções focadas na doença, investindo arduamente em hospitais e exames complexos, de maneira vertical e distante. A ideia principal era a garantia de acesso à saúde por todos (universalidade); um trabalho pautado na concepção ampliada de saúde; a descentralização das ações entre os níveis federal, estadual e municipal; a hierarquização do sistema, com entrada pela atenção primária; a participação da população; a regionalização dos serviços e a integração entre saúde previdenciária e saúde pública. Em 1990, ocorreu a promulgação de duas leis importantes para a saúde, chamadas de leis orgânicas da saúde, sendo a primeira a Lei nº8.080/1990, que instituiu o SUS, e a Lei nº 8.142/1990, que aborda as questões do controle e participação social no sistema. Fonte: Brenda Rocha / Shutterstock.com Toda essa trajetória histórica tem o intuito de sensibilizar e instrumentalizar a defesa do SUS, entendendo como evoluímos até chegar a esse sistema, num país com tanta desigualdade social e econômica desde o século XVI. Compreender esse processo é de grande ajuda para tornar-se um futuro profissional que possa direcionar um olhar sensível aos serviços e em suas ações de saúde. Defenda o SUS, pois assim você está defendendo a cidadania de todos nós! REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre a Reforma Sanitária Brasileira. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM MÉDICO SANITARISTA E PESQUISADOR FEZ GRANDES MUDANÇAS NA SAÚDE PÚBLICA, COORDENANDO AÇÕES E ESTRATÉGIAS PARA INCLUIR A POPULAÇÃO NAS QUESTÕES DA SAÚDE. MARQUE A OPÇÃO QUE TRAZ O NOME DESSE ATOR TÃO IMPORTANTE NA HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE: A) Oswaldo Cruz B) Sérgio Arouca C) Getúlio Vargas D) Jânio Quadros E) Carlos Chagas 2. O PERÍODO DO REGIME MILITAR DUROU CERCA DE 20 ANOS NO BRASIL, MARCADO POR GOVERNOS AUTORITÁRIOS E CENTRALIZADORES. EM RELAÇÃO AO CAMPO DA SAÚDE NESSE PERÍODO, MARQUE A OPÇÃO CORRETA: A) A saúde primária ganhou investimento, com foco em prevenção. B) O modelo hospitalocêntrico ganhou força, com foco num cuidado curativo. C) Aconteceu a descentralização administrativa na saúde. D) Todos os profissionais da saúde passam a ocupar um lugar essencial no cuidado, rompendo com o modelo médico-centrado. E) Houve um grande investimento financeiro no Ministério da Saúde. GABARITO 1. Um médico sanitarista e pesquisador fez grandes mudanças na saúde pública, coordenando ações e estratégias para incluir a população nas questões da saúde. Marque a opção que traz o nome desse ator tão importante na história das políticas de Saúde: A alternativa "B " está correta. O médico sanitarista e pesquisador Sérgio Arouca defendeu arduamente a ideia de um sistema de saúde universal e equânime nos meios acadêmico, político e assistencial. 2. O período do Regime Militar durou cerca de 20 anos no Brasil, marcado por governos autoritários e centralizadores. Em relação ao campo da saúde nesse período, marque a opção correta: A alternativa "B " está correta. No Regime Militar, a construção de grandes hospitais era a principal estratégia do governo, gerando grande incentivo financeiro para a iniciativa privada. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Visitamos os principais períodos históricos do Brasil, identificando e refletindo sobre as questões da evolução das políticas de Saúde no país. Muitos avanços foram alcançados, como o direito a um sistema de saúde universal, em que não é necessário ser trabalhador com vínculo formal para acesso. Percebemos também que muitas dificuldades históricas permanecem com o passar dos anos. Além disso, ficou nítida a importância dos movimentos constantes de estudantes, profissionais de saúde, pesquisadores e população na luta pelo direito a um sistema de saúde que funcione pautado na integralidade, universalidade e equidade. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BERTOLOZZI, Maria Rita; GRECO, Rosangela Maria. As políticas de saúde no Brasil: reconstrução histórica e perspectivas atuais. In: Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 380-398, Dez. 1996. Consultado em meio eletrônico em: 18 nov. 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Consultado em meio eletrônico em: 18 nov. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde. Brasília, 1986. Consultado em meio eletrônico em: 18 nov. 2020. BRASIL. Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990. Consultado em meio eletrônico em: 18 nov. 2020. BRASIL. Lei nº 8142 de 28 de dezembro de 1990. Consultado em meio eletrônico em: 18 nov. 2020. MAGALHÃES, Francismeire Brasileiro; GANDRA, Viviany Dias. Políticas de Saúde. 1. ed. Livro proprietário. Publicado em: 23 mar. 2017. EXPLORE+ Assista ao documentário produzido pela Fiocruz: A História da Saúde Pública no Brasil: 500 anos na busca de soluções, que conta o processo histórico da construção das políticas de Saúde no Brasil. Procure na Internet a revista Saúde em Debate. Essa revista traz diversas pesquisas, artigos e estudos feitos nos mais distintos campos da Saúde. Consulte também a Declaração da conferência ALMA-ATA, disponível na biblioteca virtual do Ministério da Saúde. CONTEUDISTA Alice Medeiros Lima CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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