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1 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE ARA0452- 18h30 - 21h10 – Terça – feira HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA SEGURANÇA DO PACIENTE PEDIÁTRICO CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA UNIDADE DE INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA As crianças são afetadas de maneiras diferentes, principalmente devido à idade, experiência prévia com a hospitalização e suporte emocional recebido pela família. Em contrapartida, a família teme pelo agravamento do quadro clínico, pela morte do seu ente e, por vezes, pela falta de informação completa e compreensível sobre a patologia, tratamento e procedimentos realizados com seu filho. O enfermeiro se insere nesse contexto de sofrimento, dor e dúvidas em relação ao futuro como um gestor de cuidados, agente promotor de saúde e bem-estar dessa clientela, o que somente é possível por meio do relacionamento empático, humanizado, ético e pautado em princípios científicos e legais. Vale lembrar que essa clientela é mais vulnerável a esses agravos por causa das características do desenvolvimento, separação dos pais e por apresentar menos mecanismos para lidar com o estresse. RECOMENDAÇÕES PARA O AMBIENTE FÍSICO DA UNIDADE DE INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA Em relação à composição arquitetônica do ambiente físico, todas as unidades em qualquer nível de complexidade devem seguir a Resolução RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Essa resolução é o documento mais atual e adequado para essa orientação, pois considera critérios epidemiológicos, ambientais, culturais e geográficos nos projetos de composição dos estabelecimentos de saúde. Vale destacar que todos os serviços de saúde no Brasil, sejam do setor público e privado, devem considerar todos os itens que compõem essa regulamentação. Em especial, todos os novos estabelecimentos de saúde construídos e no caso de ampliação do espaço físico das unidades. Além de toda especificidade quanto à divisão do espaço físico, os materiais utilizados na composição e acabamento das áreas que integram a unidade de internação pediátrica merecem atenção. É necessário: ▪ Paredes e pisos laváveis. ▪ Rede de gases (oxigênio, ar comprimido e vácuo). ▪ Tomadas de 110 e 220 volts em todos os leitos. Outro ponto de destaque é a estruturação do ambiente físico com a finalidade de acolher a criança e sua família, visto que o Estatuto da Criança e do Adolescente ampara a permanência de um dos pais/acompanhante em tempo integral e a RDC nº 50 considera que seja previsto espaço físico ao lado do leito para poltrona de acompanhante. Essas ações contribuem para maior interação entre criança, família e equipe de enfermagem, facilitando a comunicação e contribuindo para a qualidade da assistência prestada. O enfermeiro que participa com responsabilidade do planejamento da estrutura física dos serviços de internação pediátrica assume uma postura ética e humanizada, e, dessa forma, colabora significativamente para o alcance das metas institucionais no compromisso com a restauração da saúde da criança. Considerando as características da formação, o enfermeiro é o profissional mais habilitado para realizar o planejamento do ambiente físico da unidade de internação pediátrica, tendo em vista a humanização da assistência, bem como as necessidades relacionadas ao desenvolvimento da criança, à família e equipe multiprofissional. 2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE A CRIANÇA HOSPITALIZADA SOB A ÓTICA DA SEGURANÇA DO PACIENTE A segurança do paciente tem sido um tema bastante discutido mundialmente nos últimos vinte anos. A 55ª Assembleia Mundial de Saúde, em 2002, determinou que os países disponibilizassem maior atenção para o fortalecimento de ações de segurança e monitoramento. A partir disso, foi solicitado que a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizasse documentos normativos que auxiliassem os países na estruturação de programas voltados para essa temática (BRASIL, 2013). Em 2004, a partir das recomendações da 57ª Assembleia Mundial de Saúde, a OMS anunciou a “Aliança Mundial para a Segurança do Paciente” com o objetivo de não provocar danos relacionados à assistência à saúde e diminuir os eventos em locais de precariedade nas condições sociais e de saúde. Destaca-se que os componentes da aliança constituem ações em diversas áreas que, unidos, colaboram para salvar vidas Nesse contexto, a OMS estabeleceu em 2006, juntamente com a Joint Commission, as metas internacionais de segurança do paciente. São elas: ▪ Identificar corretamente os pacientes. ▪ Melhorar a eficácia da comunicação. ▪ Melhorar a segurança dos medicamentos de alta vigilância. ▪ Assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto. ▪ Reduzir o risco de infecção associada a cuidados de saúde. ▪ Reduzir o risco de danos ao paciente, decorrentes de queda. Essas metas foram estipuladas, pois esses indicadores tratam de temáticas consideradas críticas relacionadas à assistência à saúde e que possuem risco de eventos adversos. Essa aliança tem como primazia ações que fortaleçam a segurança do paciente e a qualidade na prestação de serviços de saúde em todo o mundo. Em 2013, dada a gravidade dos eventos adversos no Brasil, foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por meio da portaria nº 529, de 13 de abril de 2013, com objetivo geral de “contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional” (BRASIL, 2013). Essa política é um grande compilado de instruções para orientação na gestão da segurança do paciente. Considerando o caráter multidisciplinar, une diversas entidades de classe, instituições de saúde e governamentais para promoverem conjuntamente ações que possibilitem maior qualidade dos cuidados em saúde. JOINT COMMISSION The Joint Commission (TJC) ou Joint Commission International (JCI) é uma instituição sem fins lucrativos que faz a acreditação das unidades de saúde nos Estados Unidos, ou seja, mede voluntariamente a qualidade dos serviços ou produtos seguindo as normas nacionais ou internacionais. POR QUE AS CRIANÇAS ESTÃO MAIS SUSCEPTÍVEIS A EVENTOS ADVERSOS? Várias características da criança a tornam mais vulnerável e susceptível à ocorrência de eventos adversos. A dificuldade das crianças menores em verbalizarem desconfortos, dores ou até mesmo questionar o profissional sobre um procedimento dificulta a comunicação entre profissional, criança e família, por exemplo. Outro ponto delicado é a questão da falta de medicamentos endovenosos com apresentações especificamente para uso em crianças, havendo De acordo com o proposto pela PNSP, a prática da segurança do paciente encontra-se intimamente relacionada com a qualidade dos cuidados em saúde, pois prevê uma assistência à saúde baseada em princípios científicos, por meio da capacitação permanente da equipe multidisciplinar e protocolos assistenciais norteados pela cultura de segurança do paciente, bem como a mensuração de indicadores de qualidade e notificação de incidentes. 3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE necessidade de calcular o fármaco individualmente, considerando peso e superfície corpórea. Além disso, muitos medicamentos utilizados em Pediatria não foram devidamente testados nessa clientela. Desse modo, pode-se afirmar que a administração de medicamentos em Pediatria oferece mais riscos de ocorrência de eventos adversos, principalmente pela necessidade de que o profissional de enfermagem realize diversos cálculos, diluições e rediluições de drogas, triture comprimidos e use doses fracionadas de medicamentos parenterais e enterais. Atenção! Cabe ressaltar que o principal propósito da enfermagem pediátrica é aprimorar a qualidade dos cuidadosde saúde prestados à criança e sua família. Outra definição fundamental para a realização do processo de enfermagem pediátrica é o cuidado atraumático, que tem como foco não causar danos, por meio de três princípios: “evitar ou minimizar separação entre a criança e família; promover uma sensação de controle e evitar ou minimizar lesões ou dores” (HOCKENBERRY et al., 2014, p. 70). A CRIANÇA HOSPITALIZADA NO CONTEXTO DA SAE A racionalização do conhecimento científico é essencial para a atuação profissional na área de saúde. Tanto o raciocínio clínico quanto o processo de enfermagem são primordiais para a ciência da enfermagem, pois constituem uma abordagem holística que contribui para a resolutividade de problemas pautada no método científico de investigação. HOLISMO O holismo é um conceito que compreende que um sistema não pode ser definido e caracterizado somente pela soma de suas partes, já que o sistema inteiro influencia o modo como as partes se comportam. Devemos entender, assim, o cuidado ao paciente como algo complexo em que as interações entre os processos impactam na qualidade do atendimento prestado a ele. O raciocínio clínico é uma forma estruturada de pensar uma situação clínica, por meio da avaliação, organização e aquisição de conhecimento, que proporciona a resolutividade a respeito dos cuidados necessários ao paciente. O processo de enfermagem é uma descrição sistemática do cuidado de enfermagem elaborado por enfermeiros, a partir do raciocínio clínico. Ele é estruturado em 6 etapas, a saber: Primeira etapa Consiste na verificação do histórico de enfermagem. Segunda etapa Corresponde ao diagnóstico de enfermagem. Terceira etapa Equivale ao planejamento. Quarta etapa Refere-se a implementação. Quinta etapa Trata-se do processo de avaliação. Sexta etapa Corresponde a produção de documentação e registro. Na prática assistencial do enfermeiro, segundo Fonseca (2013), as etapas da SAE precisam ser registradas diariamente no prontuário do paciente, seja ele eletrônico ou manual, com vistas a contribuir com a mensuração dos resultados sobre a assistência de enfermagem. Os impressos tipo checklist são cada vez mais utilizados nas unidades de saúde para coleta de informações do histórico e exame físico. Outra tendência atual é o uso de software para realização da SAE, com os diagnósticos já disponíveis para seleção de acordo com a avaliação clínica do enfermeiro. 4 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE O RECONHECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA LACTÂNCIA Na lactância (do nascimento até 1 ano de idade), é visível o acelerado desenvolvimento motor, cognitivo e social. Além disso, nesta fase, a reciprocidade entre o cuidador possibilita à criança uma compreensão sobre o mundo que será manifesta em suas relações interpessoais. PRIMEIRA INFÂNCIA O período da primeira infância (1 ano a 6 anos de idade) é caracterizado por muitas atividades e grandes descobertas, com intenso desenvolvimento físico, motor, de linguagem e de personalidade, apresentando habilidades de constituir relações sociais mais amplas, com aprendizado sobre os padrões de comportamento e capacidade de autocontrole e perícia. INFÂNCIA INTERMEDIÁRIA Quanto ao período da infância intermediária (6 a 11/12 anos de idade), muito chamado de fase escolar, caracteriza-se pelo momento em que a criança se insere no mundo mais amplo, para além do grupo familiar, estabelecendo relações com os colegas de escola. O desenvolvimento físico, mental e social é contínuo e acrescido de novas competências e habilidades. Observa-se o desenvolvimento moral do autoconceito, além da cooperação social. Essas informações são cruciais para o enfermeiro na escolha da melhor maneira para abordar a criança durante a realização do processo de enfermagem, pois respeita as individualidades, expressões e linguagem verbal e não verbal, com isso possibilitando maior interação com o mundo da criança e compreensão sobre os comportamentos adotados por elas. Para o enfermeiro pediatra, a adoção de uma postura empática e respeitosa é um ponto favorável na realização da SAE. O que possibilita realizar uma sequência de ações sistematizadas que delimitam a assistência de enfermagem, com vistas a uma abordagem humanizada, integral e holística da criança e família. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DOS ACIDENTES NA INFÂNCIA No Brasil, as estatísticas também são alarmantes, pois os acidentes constituem a principal causa de morte entre crianças e adolescentes com idade entre 1 e 14 anos, indicando que se trata de um grave problema de saúde pública, que mata 9 brasileirinhos por dia e leva à hospitalização de 12 crianças por hora. De acordo com informações do Datasus, em 2018, aproximadamente 3,3 mil crianças e adolescentes perderam a vida em decorrência de acidentes, indicando uma redução neste dado em mais de 46% nas duas últimas décadas As ações estabelecidas são norteadas pelos dados sobre os acidentes na infância. Em 2019, as principais causas de morte por acidente no país foram as seguintes: 30% de acidentes de trânsito; 26% de afogamentos; 24% de sufocação; 6% de queimaduras; 5% de quedas. Para alcance na redução desses indicadores, a ONG Criança Segura lançou o curso Criança segura no trânsito, campanha Maio Amarelo, com objetivo de prevenir acidentes de trânsito, e o lançamento do e- book Cuidados com o bebê, com enfoque na prevenção de sufocação e quedas em bebês. Em relação à idade das crianças acometidas por acidentes fatais, dados de 2018 indicam que mais de 50% desses incidentes ocorrem em crianças de 0 a 4 anos de idade. O que mobilizou a ONG Criança Segura na campanha Cuidados com a vida, para informar gestantes, pais e responsáveis sobre a necessidade de cuidados que promovam segurança de bebês, ainda durante a gestação. 5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE ACIDENTES DE TRÂNSITO Os acidentes de trânsito ocupam o primeiro lugar no ranking nessa lista, esse evento ocorre principalmente quando a criança ocupa o veículo e, depois, por atropelamento (CRIANÇA SEGURA, s. d.). AFOGAMENTOS Em relação aos afogamentos, estes ocorrem em locais como piscinas, rios, lagos, mar, banheiras e baldes (CRIANÇA SEGURA, s. d.). SUFOCAÇÃO A sufocação é mais comum em bebês com até 1 ano de idade, por obstrução das vias aéreas, ocasionada por brinquedos, pequenos objetos ou alimentos e secreção gástrica Nesse contexto, o enfermeiro se insere como agente promotor na prevenção de acidentes na infância, por meio da educação em saúde, principalmente em ambientes como a Unidade Básica de Saúde e por meio do Programa Saúde na Escola. Outra possibilidade de atuação desse profissional é a realização de estudos científicos, com parcerias entre universidades, instituições de saúde, comunidade e instituições governamentais e não governamentais. Outra grande preocupação em torno dessa temática é a morbidade relacionada aos acidentes nessa clientela. No ano de 2019, foram responsáveis por 120 mil internações de crianças em estado grave, nas unidades hospitalares no país. No Brasil, as principais causas de internação por acidente, ocorridas em 2019, em crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, foram: 47% de quedas; 29% de queimaduras; 19% de intoxicação; 10% de trânsito. Em relação à maneira como esses acidentes ocorrem, as quedas acontecem do sofá, cama, berço, janela e parques. Já as queimaduras são eventos traumáticos para a criança e ocorrem em função de contato com chamas, líquidos quentes ou choques elétricos. Tendo em vista o conteúdo abordado neste módulo, é notória a necessidade do uso de estratégias educativas, baseadas em dados epidemiológicos, que sejam voltadas para as especificidades dacriança, em suas fases do desenvolvimento, para que haja o planejamento das ações de prevenção de acidentes na infância. RISCO DE ACIDENTES EM CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO infância é o período da vida marcado por transformações corporais e desenvolvimento. Os sistemas do organismo estão gradativamente em maturação, paralelamente com o desenvolvimento de habilidades que possibilitam a interação da criança com o meio. As habilidades finas e grossas adquiridas pela criança acontecem no sentido do centro para a periferia. No primeiro ano de vida, o crescimento do corpo é acelerado, assim como da cabeça do bebê, o que indica o crescimento e diferenciação do sistema nervoso. O desenvolvimento do cérebro pode ser verificado pela substituição dos reflexos primitivos por movimentos voluntários, planejados e outros reflexos que estimulam o desenvolvimento motor. As principais habilidades motoras finas e grossas adquiridas pela criança no primeiro ano de vida são: O aumento gradativo de agarrar objetos, passando para garra em pinça que inicialmente é rudimentar e posteriormente torna-se estável. A estabilidade da cabeça acontece por volta dos 6 meses. A capacidade de rolar de decúbito dorsal para ventral, por vontade do bebê, ocorre perto dos 6 meses. A habilidade de se sentar é desenvolvida ao longo dos meses, até que, aos 8 meses, o bebê já tem condições de sentar-se sozinho sem apoio. A locomoção acontece por meio do padrão céfalo- caudal, em que as habilidades são adquiridas nos braços e depois com as pernas (com 9 meses o bebê está apto a engatinhar, aos 11 meses já fica de pé e se apoia na mobília com as duas mãos apoiadas, depois, os primeiros passos são observados, geralmente até o primeiro ano de idade). 6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE ALGUNS DOS RISCOS RELACIONADOS ÀS HABILIDADES: DE ROLAR Com relação aos acidentes relacionados à capacidade de rolar do bebê, pode-se destacar o risco da síndrome da morte súbita do lactente (SMSL), ocorrida em função da colocação errônea do posicionamento do bebê em decúbito lateral na hora de dormir: ele se vira de decúbito ventral, aumentando o risco para SMSL. O fato de o bebê rolar sozinho também pode ocasionar queda da cama ou berço se não houver grades. MOTORAS GROSSAS No grupo das habilidades motoras grossas, a autonomia de sentar-se sozinho sem apoio é alcançada gradualmente pelo bebê. Durante o desenvolvimento dessa capacidade, o bebê tem risco de quedas de cadeiras e sofás. A locomoção, especificamente, quando o bebê anda com apoio ou não é outra habilidade que aumenta o risco de queda da própria altura. MOTORAS FINAS A respeito das habilidades motoras finas, o ato de segurar os objetos, desde o desenvolvimento rudimentar até o movimento de pinça, possibilita o bebê a segurar vários objetos e brinquedos. Inicialmente, objetos e brinquedos maiores e, depois, o bebê é capaz de levar à mão pequenos brinquedos ou peças que poderão ser levados à boca, aumentando o risco de obstrução das vias aéreas por corpo estranho (OVACE). O risco de lesões ocasionadas por acidentes na faixa etária de 0 a 1 ano de idade inclui outros cuidados recomendados por Hockenberry et al. (2014) para pais e cuidadores. São alguns deles: ▪ Oferecer alimentos sólidos em pedaços pequenos. ▪ Não agitar ou despejar o frasco de talco no lactente. ▪ Verificar a temperatura da água do banho e também dos líquidos a serem oferecidos ao lactente. ▪ Não fazer ingestão de alimentos quentes com o bebê no colo. ▪ Não deixar a criança sozinha no carro estacionado nem em banheira. ▪ Evitar brincadeiras com balão de látex. ▪ Colocar os brinquedos, objetos pequenos e produtos de limpeza fora do alcance dos lactentes. ▪ Inserir tampas de segurança em tomadas elétricas. ▪ Manter os baldes maiores vazios ou fora do alcance da criança. O enfermeiro ocupa local de destaque na prevenção de acidentes, pois possui contato com a família em diversos ambientes de atuação profissional, como educação em saúde, consultas de puericultura, sala de vacinação e visita domiciliar. Esses espaços são oportunidades para atuação do enfermeiro como agente promotor da prevenção de acidentes com a criança. PREVENÇÃO DE ACIDENTES COM A CRIANÇA HOSPITALIZADA O ambiente hospitalar é um espaço que pode oferecer riscos para todos os que se encontram nele, em especial para as crianças durante o processo de hospitalização, principalmente se os profissionais de saúde não estiverem atentos aos possíveis agravos relacionados ao ambiente, bem como na ausência de manutenção preventiva. Outra possibilidade de atuação do enfermeiro, segundo Almeida e Sabatés (2018), relaciona-se com a colaboração junto aos profissionais no planejamento, organização da composição arquitetônica da unidade hospitalar e até mesmo na escolha de mobiliário que seja consonante com a idade da criança, com a finalidade de minimizar os riscos relacionados ao ambiente. Uso de equipamentos de segurança, como travas de gavetas, vasos sanitários e portas, protetores de tomadas elétricas, proteção de quinas de móveis e grades de berços com largura de 6cm a 8cm entre elas. 7 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE Dada a complexidade de temática e dos riscos de aumento dos gastos hospitalares, gravidade e piora do estado clínico causados pelo acidente no ambiente hospitalar, a prevenção de quedas é uma atividade de segurança do paciente que deve ser realizada por toda equipe multidisciplinar. QUAL A PARTICIPAÇÃO DO ENFERMEIRO PEDIATRA NA REDUÇÃO DO RISCO DE QUEDA? O enfermeiro pode atuar de várias formas na prevenção desse grave incidente. Uma delas é oferecer treinamentos por meio da educação permanente, para toda a equipe multidisciplinar, a fim de simular situações cotidianas que oferecem riscos, com ensino de estratégias preventivas e esclarecer dúvidas sobre o tema. No dia a dia da unidade de internação pediátrica, é imprescindível a elaboração do protocolo de queda institucional, que determina o monitoramento dos eventos de queda ocorridos na unidade, assim como indica os devidos encaminhamentos no momento do incidente, com acompanhamento das repercussões na evolução clínica da criança. Ainda no âmbito da prevenção, a atuação do enfermeiro perpassa pela realização diária da anamnese e exame físico da criança, além da observação criteriosa da terapêutica medicamentosa, considerando a interferência que alguns medicamentos podem causar na capacidade de locomoção e estabilidade da criança. Essas informações influenciarão na avaliação diária do cliente quanto ao risco de queda e contribuirão na sistematização da assistência de enfermagem, em especial no plano de cuidados. ESCALAS DE AVALIAÇÃO DO RISCO DE QUEDAS EM CRIANÇAS Atualmente, existem duas escalas de avaliação do risco de quedas em crianças: a escala Champs Pediatric Fall Risk Assessment Tool (Ferramenta de Avaliação de Risco de Queda), que, segundo os autores, necessita de estudos aprofundados para validação, e a escala Humpty Dumpty, mais utilizada por oferecer maior confiabilidade. Os dados coletados pelo enfermeiro na visita à criança e acompanhante, juntamente com os dados do prontuário, possibilitam o preenchimento da escala Humpty Dumpty adaptada. A escala é composta por parâmetros (idade, sexo, diagnóstico, fatores ambientais e medicações utilizadas) pontuados por meio de critérios. A soma desses pontos determina o risco de queda da criança. Essa escala funciona como um instrumento facilitador da assistência de enfermagem, pois possibilita uma percepção exata das crianças com maior risco de dano relacionado à queda na unidade de internação pediátrica. Atenção! Vale ressaltar que o uso de estratégias na promoção da segurança da criança na unidade hospitalaré um desafio para o enfermeiro pediatra, que inclui a necessidade de parceria entre a equipe multidisciplinar. Estabelecer um ambiente físico que favoreça a segurança da criança é uma importante questão de saúde pública e a discussão a respeito do tema ultrapassa as barreiras hospitalares, alcançando espaços como escola e domicílio. 8 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE O PAPEL DA FAMÍLIA E O DIREITO DE BRINCAR DURANTE A INTERNAÇÃO ASPECTOS HISTÓRICOS E LEGAIS SOBRE A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA De fato, a assistência à saúde da criança se desenvolveu, mas sob o ponto de vista do risco de transmissão de infecção. Essa visão colaborou para o isolamento criterioso das crianças internadas. Logo, o resultado dessas ações corroborou para o distanciamento da criança, família e profissionais de saúde. Em relação aos programas de saúde voltados para essa clientela, segundo Araújo et al. (2014), no Brasil, as primeiras iniciativas surgiram nas décadas de 1930 e 1940, tendo como foco central ações curativas, para reduzir a ausência no ofício das mães que trabalhavam. O atendimento no ambiente hospitalar era realizado por médicos, enfermeiras e auxiliares de enfermagem, baseado na concepção amplamente difundida entre os profissionais de que os pais ofereciam risco de transmissão de doenças para as crianças. Por essa razão, durante o período de hospitalização, as visitas eram limitadas. Com vistas a atender às necessidades da criança hospitalizada, foram organizados em 1959 o Relatório Platt e a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Ambos os documentos propuseram alterações nesse atendimento prestado a elas. As principais contribuições incluem a valorização do papel da família, considerando sua função protetora e necessária. O Relatório Platt também apoia a percepção da criança como uma pessoa singular, com direito a realizar atividades lúdicas e pedagógicas, bem como ser atendida por profissionais especialistas durante a fase da hospitalização. A Lei nº 8069 é um instrumento normativo, considerada um grande marco legal dos direitos das crianças e adolescentes no país. Dentre os diversos artigos que compõem essa lei, o capítulo I aborda sobre os direitos à vida e à saúde, trazendo as informações concernentes ao dever do Estado, família e sociedade diante do desafio de proporcionar a esses grupos uma assistência à saúde mais humanizada e pautada em princípios científicos. Outro documento que corroborou para a ampliação da abordagem à criança hospitalizada numa visão mais holística foi a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC). Esse documento vislumbra a família como responsável pelo cuidado da criança em paralelo com os profissionais de saúde, indicando o papel central da família no processo de hospitalização da criança. É imprescindível que o enfermeiro, ao planejar a assistência de enfermagem prestada à criança na unidade hospitalar, considere os aspectos históricos e legais que devem respaldar o seu agir cotidiano como profissional de saúde. A ENFERMAGEM NO CUIDADO DA CRIANÇA E FAMÍLIA NO HOSPITAL Dessa maneira, nas últimas décadas, muitas mudanças em relação ao cuidado de enfermagem pediátrica têm ocorrido em todo o mundo, passando de um modelo baseado na visão hospitalocêntrica (atuação centrada no hospital) para um cuidado concentrado nas necessidades da criança e da família. Segundo Almeida e Sabatés (2018), a perspectiva de cuidado adotada é escolhida mediante a filosofia do hospital, o que influenciará em todos os espaços do ambiente institucional, de modo que uma pessoa comum possa perceber o tipo de cuidado validado naquela instituição. Considerando uma abordagem mais humanizada e pautada nos princípios históricos, éticos e legais, enfatizaremos neste texto o Cuidado Centrado na Família (CCF). CUIDADO CENTRADO NA FAMÍLIA (CCF) Em 1990, houve o acréscimo da palavra família e a junção de esforços para a criação do Instituto de Cuidado Centrado na Família. Na enfermagem, o termo mais utilizado é Cuidado Centrado na Família O modelo de Cuidado Centrado na Família, de acordo com Johnson et al. (2008), emergiu a partir da 9 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE concepção da família como algo indispensável na vida de seus membros. Adicionado a isso, considera-se como fator de risco o isolamento social causado pela hospitalização, que prejudica os membros mais frágeis, como é o caso das crianças. Mediante a isso, é pertinente que a equipe de saúde estimule a manutenção dos vínculos familiares. Esse modelo de cuidado é constituído por quatro pressupostos centrais: 1. DIGNIDADE E RESPEITO 2. INFORMALÇOES COMPARTILHADAS 3. PARTICIPAÇÃO 4. COLABORAÇÃO Com base nesse modelo, a enfermagem pediátrica tem as orientações necessárias para adoção de uma assistência humanizada e ética, o que pode ser evidenciado na gestão da unidade de internação pediátrica, com ações de planejamento organizacional para possibilitar a permanência integral e escuta ativa de um membro da família da criança ou como enfermeira plantonista, por meio da comunicação imparcial e completa com o familiar acompanhante e realização das etapas do processo de enfermagem durante o cotidiano da unidade. Dessa forma, a família é estimulada no exercício da sua autonomia, por meio da participação na tomada de decisão, mediante as informações compartilhadas com ela que subsidiam suas escolhas. A criança é beneficiada com a segurança que sente em ter seu ente querido ao seu lado, minimizando o sofrimento e aliviando o estresse. O BRINCAR DURANTE O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA A hospitalização é um evento que comumente causa estresse na criança, independentemente da sua idade, o que pode ocasionar alterações emocionais e psicológicas se não houver atenção por parte da equipe multiprofissional. Em especial, a assistência de enfermagem tem como primazia o atendimento da criança em sua singularidade, considerando os aspectos biopsicossociais, com vistas a cuidado integral e humanizado. O brincar, de uma forma geral, representa diversão e recreação e é considerado uma característica peculiar da criança, mesmo em situações como adoecimento e hospitalização. Para Hockenberry et al. (2014), o aprendizado proveniente do brincar não pode ser ensinado por ninguém, a criança aprende sobre o mundo, sobre ela mesma e como se adaptar às demandas da sociedade. Comparativamente, a criança se relaciona com a brincadeira da mesma forma que o adulto com o trabalho. A equipe de saúde precisa compreender que o brincar é uma necessidade básica, mesmo durante a hospitalização da criança, devendo ser tão valorizado quanto os procedimentos cotidianos, como higiene, verificação de sinais vitais e administração de medicamentos. CLASSIFICAÇÃO DAS BRINCADEIRAS RECREATIVA Neste tipo de brincadeira a criança se diverte e satisfaz sua necessidade recreacional. ESTIMULADORA Este tipo, especificamente, contribui para o desenvolvimento sensório-motor, intelectual, social e a criatividade de forma natural por meio da manipulação e exploração. SOCIALIZADORA É na brincadeira socializadora que as relações sociais são aprendidas durante as brincadeiras simbólicas com outras crianças, representada por papéis sociais definidos, como papel sexual (feminino e masculino) e padrões sociais de comportamento. TERAPÊUTICA OU CATÁRTICA Este tipo de brincadeira é utilizado para identificar conflitos vivenciados pela criança e também tem a função curativa, à medida que alivia a ansiedade. A brincadeira terapêutica é considerada o fundamento da ludoterapia, técnica da psicoterapia infantil e brinquedo terapêutico. 10 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE- MELISSA NICOLE Pode-se afirmar que ludoterapiaé uma técnica da Psiquiatria utilizada como tratamento de crianças com distúrbios emocionais, neuróticas ou psicóticas, por meio de sessões realizadas por terapeutas (médico, psicóloga e enfermeiro psiquiatra), em ambientes controlados e com duração de 30 minutos a 1 hora. A finalidade é conscientizar a criança sobre seus sentimentos e atitudes, como também sobre suas expressões verbais e não verbais. De diferente modo, o brinquedo terapêutico (BT) é estruturado e tem a finalidade de diminuir a ansiedade da criança em situações adversas à sua idade, que geralmente são assustadoras. Atenção! Nesses casos, a recreação não é suficiente para solucionar as demandas emocionais da criança, o seu uso é indicado em situações em que haja dificuldades de compreensão e enfrentamento da experiência. Pode ser utilizado para preparar a criança por meio da dramatização sobre procedimentos terapêuticos, com manuseio de instrumentos e materiais, favorecendo o esclarecimento de dúvidas e alívio de tensões É importante destacar que o brinquedo terapêutico é uma técnica que traz benefícios para a criança hospitalizada, atuando como estratégia humanizada na redução da ansiedade e outros sinais de sofrimento emocional apresentados pela criança. De acordo com a Resolução COFEN nº 546/2017, a equipe de enfermagem deve utilizar a brincadeira/brinquedo terapêutico com a clientela pediátrica, por meio das etapas do processo de enfermagem, elaborado e registrado em prontuário pela enfermeira, bem como realizada por técnicos de enfermagem sob supervisão e prescrição do enfermeiro.