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1 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 3 SAÚDE MENTAL ................................................................................. 4 4 SOFRIMENTO MENTAL ...................................................................... 5 4.1 Sofrimento Mental e Vulnerabilidade .................................................... 6 4.2 Loucura na Grécia antiga: a desrazão valorizada ................................ 9 4.3 Antiguidade clássica: o rompimento entre o místico e o racional ......... 9 4.4 Idade média: sai o leproso, entre o louco ........................................... 12 4.5 Século XVIII: a loucura como objeto do saber médico ....................... 13 4.6 Pós-guerra: momento propício para reformas .................................... 14 5 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E A POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL ..................................................................................................... 16 5.1 A regulamentação da atenção psicossocial em saúde mental no Brasil 20 5.2 O papel estratégico dos CAPS na atenção à saúde mental no Brasil 23 6 A NOVA CLASSIFICAÇÃO AMERICANA PARA OS TRANSTORNOS MENTAIS – O DSM-5 ................................................................................. 29 6.1 A história dos sistemas de classificação ............................................ 31 6.2 A história do DSM .............................................................................. 32 7 O DSM-5 ............................................................................................ 33 7.1 Transtornos do neurodesenvolvimento .............................................. 34 7.2 Gama da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos ..................... 35 7.3 Transtorno bipolar e outros transtornos relacionados ........................ 36 7.4 Transtornos depressivos .................................................................... 37 7.5 Transtornos de ansiedade .................................................................. 38 7.6 Transtorno obsessivo-compulsivo e outros transtornos relacionados 39 7.7 Trauma e transtornos relacionados ao estresse ................................ 40 2 7.8 Alimentação e transtornos alimentares .............................................. 43 7.9 Disfunções sexuais ............................................................................ 45 7.10 Disforia de gênero ........................................................................... 46 7.11 Transtornos parafílicos .................................................................... 47 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 48 3 2 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 3 SAÚDE MENTAL Fonte: pixabay.com Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem, contudo, perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro, é estar de bem consigo e com os outros, aceitar as exigências da vida, saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações, reconhecer seus limites e buscar ajuda, quando necessário (CARVALHO, 2010). Certo que os conceitos de saúde e doença mudam conforme mudam também as sociedades. Os avanços tecnológicos, científicos e até a economia influenciam nesta definição e na forma como as pessoas são tratadas. Houve um tempo em que as pessoas eram consideradas saudáveis ou doentes somente por se medir sua capacidade de trabalho. Dizia-se que era saudável aquele que conseguia trabalhar mais; já aquele que não conseguia era considerado doente (PRATTA; SANTOS, 2009). Hoje, sabe-se que saúde não é coisa simples. A constituição da OMS afirma: “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade”. Uma implicação importante dessa 5 definição é que a saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais ou deficiências (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2016). A saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais, vale lembrar que; ✓ A saúde mental é uma parte integrante da saúde; na verdade, não há saúde sem saúde mental; ✓ A saúde mental é determinada por uma série de fatores socioeconômicos, biológicos e ambientais; ✓ Estratégias e intervenções custo-efetivas de saúde pública e intersetoriais existem para promover, proteger e restaurar a saúde mental. Ser saudável não significa apenas não ter doenças, depende de muitos fatores como boa alimentação, uma moradia adequada, contar com água e esgoto na comunidade. Também é condição de saúde ter trabalho e renda, educação, segurança, acesso aos serviços de saúde, lazer e acesso a bens e serviços disponíveis na comunidade. Assim, só se tem saúde integral quando se tem saúde mental, equilíbrio social e boas condições de vida. (PRATTA; SANTOS, 2009). 4 SOFRIMENTO MENTAL Fonte: pixabay.com 6 No decorrer da história das sociedades humanas, já se ouviu falar de sofrimento mental de várias formas diferentes. O louco já foi considerado possuído pelo diabo e a loucura já foi considerada castigo de Deus, preguiça de trabalhar, desculpa de malandro, coisa de gente ruim, doença contagiosa e sem cura e até já se acreditou que a pessoa ficava louca por vontade própria. Hoje se tem uma visão diferente da loucura (MLLANI; VALENTE, 2008). Segundo os referidos autores, ao olhar um sujeito em sofrimento mental, não destaca nele somente suas fragilidades e limitações, procura-se destacar também seu lado saudável, suas potencialidades e capacidades. Ninguém está em sofrimento mental o tempo todo e ninguém é completamente doente. Há muitos aspectos saudáveis preservados e é através deles que as pessoas podem ser resgatadas para uma vida o mais normal possível. Neste contexto, entende-se a importância de se respeitar os modos diferentes de ser e de viver que cada pessoa tem, seu jeito de ver o mundo e de se relacionar com ele e com as pessoas. (MLLANI; VALENTE, 2008). 4.1 Sofrimento Mental e Vulnerabilidade O sofrimento psíquico tem sido compreendido pela sociedade como objeto de intervenção da ciência médica. Nesse sentido, tal sofrimento tem recebido o rótulo de “doença mental”, merecendo diferentes nomenclaturas: loucura, alienação, doença mental, transtorno mental, sofrimento psíquico, que têm sido utilizados em diferentes momentos da história. Fato é que a convivência social da pessoacom sofrimento mental é restrita ou ocorre de forma precária, de modo que aquelas que apresentam transtornos graves ou gravíssimos são excluídas de qualquer convivência e, por isso, apresentam condição especial de vulnerabilidade, isto é, pode ser facilmente ofendido, atacado ou ferido, conforme refere a origem latina da palavra vulnerabilis, que causa lesão (DEL’OLMO; CERVI, 2017). De acordo com os autores supracitados, o conceito de vulnerabilidade surgiu nos debates bioéticos nos anos 1990 com o susto provocado pelo amplo crescimento da epidemia causada pelo vírus HIV. A partir de então, percebeu-se que, mesmo pessoas economicamente privilegiadas seriam também vulneráveis e passíveis de serem contaminadas. Então, a vulnerabilidade passa a ser identificada por dois 7 modos: como caracterização de situação de fragilidade particular por algumas pessoas e como condição humana universal. Historicamente, os vulneráveis são compreendidos como as crianças, os senis e os institucionalizados de qualquer ordem, sobretudo os deficientes mentais e físicos que apresentam elevado grau de vulnerabilidade (BARCHIFONTAINE, 2007, apud DEL’OLMO, 2017, p.199). Entretanto, a “desrazão” nem sempre foi vislumbrada como motivo de exclusão, não sendo considerado algo negativo. Na Grécia antiga, ela chegou a ser considerada até mesmo um privilégio. Note-se que filósofos, como Sócrates e Platão, destacaram o aspecto místico da loucura referindo a existência de uma loucura tida como divina, fazendo uso da palavra manikê para designar tanto o “divino” como “delirante”. Nesse aspecto, homens privilegiados poderiam acessar as verdades divinas. Aos poucos a loucura se distancia do místico e na antiguidade clássica, a partir da Renascença, passa a ser vista como representante do mal (DEL’OLMO; CERVI, 2017). 7. PERCEPÇÃO E CONCEITUAÇÃO DA LOUCURA ATRAVÉS DOS TEMPOS Fonte: pixabay.com A sociedade ocidental contemporânea produz e naturaliza uma visão do sofrimento psíquico como objeto de intervenção da ciência, seja ela médica ou de outras práticas. Nesse paradigma, o sofrimento psíquico recebe o rótulo de “doença mental”, com quadros nosológicos claramente delimitados. O objetivo final, ou seja, a cura, pode até ser conceituado de maneiras diferentes, mas, raramente, escapa à 8 noção de (re) adaptação a um mundo do qual ele não faz parte ou ao qual se mostra estranho (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Sabe-se que essa visão de mundo se arvora em ser “A Verdadeira” e que já foi assimilada a tal ponto que se corre até mesmo o risco do ridículo se tentar apresentar os fatos sob outra ótica. Entretanto, a história mostra que nem sempre foi assim: loucura, alienação, doença mental, transtorno mental, sofrimento psíquico não foram pensados de maneira uniforme nem ao longo da história, nem no mesmo espaço temporal (PEREIRA, 2015). Vale destacar ainda que a forma como a experiência com a loucura vai sendo conceituada influencia diretamente os espaços e as práticas destinadas a ela. Sendo assim, essa reflexão visa reconstruir a trajetória da percepção da loucura desde a Grécia Antiga até os dias atuais, enfocando, principalmente, os períodos onde ocorreram mudanças significativas na forma de se perceber e atuar perante essa experiência (ARAUJO, et al. 2009). É delimitado o lugar da loucura na história a partir das considerações acerca da relação entre a lepra e a loucura. A lepra foi representada como um mal contagioso com forte conotação moral -religiosa, que deveria ser segregado da sociedade. Com o tempo, o foco sobre a lepra foi sendo substituído pelas doenças venéreas, as quais passam a ser objeto de interesse das estruturas morais e religiosas da época (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Os referidos autores, afirma que apesar da exclusão social, os doentes acometidos de doenças venéreas vão se infiltrando nos hospitais, demonstrando resistências em sair. Este processo força a construção de casas especiais para esses doentes, não mais para sua exclusão, mas para o seu tratamento. As doenças venéreas tornam-se causa médica, inteiramente do âmbito do médico. Esta perspectiva de tratamento da doença venérea estabelece uma distinção entre a doença só moral, aquela que é associada à noção de pecado e de salvação, como a lepra, e a doença que pertence ao campo médico, aquela que merece tratamento com medicamentos. 9 4.2 Loucura na Grécia antiga: a desrazão valorizada A desrazão é entendida como tudo aquilo que uma sociedade enxerga como sendo seu outro: a estranheza, a ameaça, a alteridade radical. Essa dimensão pode ser identificada em diversas épocas e, inclusive, pode ser percebida como essencial nas mais variadas formações histórico-sociais. Entretanto, apesar desse lugar de exclusão sempre ter existido, nem sempre coube ao louco a tarefa de representar a desrazão (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Inicialmente, por mais que pareça estranho aos olhos de hoje, pode-se afirmar que a experiência com a loucura nem sempre foi considerada algo negativo, muito menos uma doença. Pelo contrário, na Grécia antiga ela já foi considerada até mesmo um privilégio. Filósofos como Sócrates e Platão ressaltaram a existência de uma forma de loucura tida como divina e, inclusive, utilizavam a mesma palavra (manikê) para designar tanto o divinatório como o delirante (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Segundo os autores supracitado, era através do delírio que alguns privilegiados podiam ter acesso a verdades divinas. Isso não quer dizer que essas pessoas fossem consideradas normais ou iguais, mas que eram portadoras de uma desrazão, a qual, apesar de habitar a vizinhança do homem e do seu discurso, precisava ser mantida numa distância, separando o sagrado das experiências terrenas: A loucura não é o Outro do homem (do qual ele possa se assenhorar), mas simplesmente o Outro. Este Outro ocupa o lugar de uma alteridade radical e exterior ao sujeito e alheia a qualquer tentativa de apropriação. Não pode ser considerado como uma outra faceta do mesmo, mas encarna uma diferença impossível de ser apreendida. Essa relação entre experiência mística e consciência crítica vai prevalecer por muito tempo e, somente no período conhecido como Antiguidade Clássica, vai se dissolver (SILVEIRA, BRAGA, 2005). 4.3 Antiguidade clássica: o rompimento entre o místico e o racional Paulatinamente, a loucura vai se afastando do seu papel de portadora da verdade e vai se encaminhando em uma direção completamente oposta. Na fascinante obra intitulada História da Loucura, pode-se perceber como esse corte entre misticismo e razão pode ser percebido em vários âmbitos da experiência humana. Um dos exemplos abordados na obra é a descrição de como se deu esse 10 rompimento no espaço das artes, através da crescente dissociação entre imagem e escrita, observada nesse período (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Com o fim do simbolismo gótico, a imagem é liberada da sabedoria e da lição que a ordenavam e começa a gravitar ao redor de sua própria loucura, através de abundância de significações, de multiplicação do sentido por ele mesmo: o sentido não é mais lido numa percepção imediata, a figura deixa de falar por si mesma. Entre o saber que a anima e a forma para qual se transpõe, estabelece-se um vazio. Ele está livre para o onirismo. Na pintura, pode-se destacar obras como a Nau dos Loucos, a Tentação de Lisboa e o Jardim das Delícias, as quais mostram animais, caras grotescas, pássaros de pescoço alongado. Esses elementos fascinam o espectador, encarnando a loucura em forma de tentação, expondo o mundo com tudo que nele existe de impossível, de fantástico, de inumano. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Segundo os autores já referenciado as imagens, ainda que carregadas de fantasmas, exercem sobre o homem do século XV mais poderes de atração do que a realidade. Por outro lado, na produção escritado mesmo período, a loucura atrai, mas não fascina, enquanto Bosh, Brughel e Dürer eram espectadores terrivelmente terrestres, e implicados nessa loucura que viam brotar à sua volta, Erasmo observa-a a uma distância suficiente para estar fora de perigo; observa-a do alto do seu Olimpo, e se canta seus louvores é porque pode rir dela com o riso inextinguível dos deuses. Assim, essa brecha entre experiência mística e consciência crítica foi aberta durante a Renascença e nunca mais deixou de se abrir, acentuando um vazio entre o trágico e o crítico que nunca mais será preenchido. A loucura já não é mais porta-voz da verdade divina e em pouco tempo passará a ocupar o lugar de representante simbólico do mal. A Renascença (século XV ao XVII) evidenciou uma grande contradição. Por um lado, a segregação da loucura, por outro, a sua libertação, por meio da expressão das várias artes. Através dessa expressão, foi possível compreender as múltiplas formas de cuidar da loucura: como dominá-la, como exorcizá-la para que ocorra a remissão dos pecados, como extirpá-la da sociedade, enfim, como tratá-la. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Assim, se na Renascença evidenciava-se a representação da loucura, mediante a incerteza entre a razão e a desrazão, na Era Clássica, destacava-se a cisão entre a loucura e a razão. Essa delimitação favorece o início do domínio da loucura pela medicina, originando a fase dos internamentos. O fato mais marcante da 11 Era Clássica foi o internamento do louco. O objetivo do internamento ainda não estava atrelado à ideia de tratamento, mas ao de segregar. Além dos doentes venéreos e loucos, eram internados também devassos, dissipadores, homossexuais, blasfemadores. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Assim, de acordo com os autores supracitado a grande internação foi marcada pela mistura indiscriminada, sem que houvesse preocupação em discernir os doentes dos não doentes, os criminosos dos alienados. Nos séculos XVII e XVIII, surgem as internações por tempo determinado em lugares reservados à loucura. Essas experiências marcam, mesmo que de forma rudimentar, a representação da loucura como doença. A Era Clássica também marca o nascimento do asilo implementado por Pinel que ressalta a necessidade de diferenciar os loucos dos criminosos comuns e mendigos. Pinel defende o tratamento do louco e critica as formas usadas naquele momento, a saber: o amontoado de doentes em lugares úmidos, frios e abafados. Propõe a quebra das correntes, a separação dos doentes e a sua colocação em lugares mais apropriados. Ao final do século XVIII, o personagem do médico, que até então ocupava uma posição secundária na vida do internamento, torna-se figura central do asilo. Este fato vai modificar o relacionamento entre a alienação e a medicina e comandará toda a experiência moderna da loucura. É nesse sentido que caminha a psiquiatria no século XIX, convergindo para Freud, que aceitou o par médico-paciente. Isto significa que Freud desmistificou todas as estruturas asilares, transferindo os poderes dos asilos, sobre a existência do louco, para o médico. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Pela situação psicanalítica, a alienação tornou-se desalienante, porque o louco passa a ser sujeito do médico. O pensamento moderno sobre a loucura é marcado pela ruptura das velhas formas de pensar, entre a antiguidade clássica e a modernidade. O século XIX é marcado pelo discurso da liberdade do louco. A liberdade proposta por Pinel era ambígua, pois só podia atuar no espaço fechado do internamento. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). A associação direta da loucura com o crime e o mal se desfaz, mas o louco é inserido nos mecanismos rigorosos do determinismo: “retirando as correntes que impediam o uso de sua livre vontade, mas para despojá-lo dessa mesma vontade, transferida e alienada no querer do médico” (FOUCAULT, 1978, apud VELÔSO, 2016, p. 174). 12 A ideia de internamento é sofisticada, pois a internação visa à reprogramação do louco, mediante o ensino da disciplina e a retificação do pensar e do sentir. Na metade do referido século, procedeu-se a constatação de que os loucos não estavam obtendo a cura. Ao invés dela, muitas outras formas de loucura foram descobertas e registradas. Assim, à estrutura asilar, foi atribuída a fabricação da loucura. (CORBANEZ, 2015) Uma nova mudança, então, se opera na ideia asilar: os asilos passam a ser usados como depósitos de loucos incuráveis. O século XX surge trazendo consigo as incertezas do passado quanto à elucidação da loucura. Demonstra que não existem significados científicos hegemônicos e nem representações sociais fixas. Esta instabilidade resulta de múltiplos fatores decorrentes da cultura, das ideologias, das representações sociais. (CORBANEZ, 2015) Segundo o autor referenciado a loucura conserva o seu enigma, que impede a solução do problema da divisão entre teorias psicológicas e somáticas. O conhecimento da doença mental ainda não é o suficiente para deslindá-la. O momento atual mostra que os aparatos discursivos sobre a loucura se configuram como linguagem de poder do médico e do psicólogo sobre o louco. Entretanto, por suas características de ruptura e pulverização dos discursos científicos, pelo despontar das práticas interdisciplinares, pelo questionamento de tudo o que predominou até agora acerca da forma de ver o mundo dos fenômenos humanos e sociais, o desenvolvimento da ciência sinaliza para uma tomada de decisão cada vez mais sensível, exigente e atuante nas causas humanas e sociais. 4.4 Idade média: sai o leproso, entre o louco Segundo Silveira e Braga, (2005) até o final da Idade Média, aquele espaço da alteridade radical, referido anteriormente no início do texto, era representada pelo leproso. Encarnando o mal e representando o castigo divino, a lepra se espalha rapidamente causando pavor e sentenciando seus portadores à exclusão. Entretanto, com o fim das Cruzadas e a ruptura com os focos orientais de infecção, a lepra retira- se, deixando aberto um espaço que vai reivindicar um novo representante. [...] serão necessários quase dois séculos para que a loucura suceda a lepra em seus espaços de medos, reação de divisão, de exclusão e de purificação, 13 para incluí-la nas formas de tratamento médico (FOUCAULT, 1978, apud VELÔSO, 2016, p. 172). Alguns séculos depois, essas estruturas de exclusão social passam a ser ocupadas pela figura do louco. Apesar de se perceber que desde a Idade Média já existiam mecanismos de exclusão do louco, ainda não é aí que a loucura vai ser percebida como um fenômeno que requeira um saber específico, pois os primeiros estabelecimentos criados para circunscrever a loucura destinavam-se simplesmente a retirar do convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele. Somente no próximo período histórico é que se transformará essa relação (SILVEIRA, BRAGA, 2005). 4.5 Século XVIII: a loucura como objeto do saber médico É o século XVIII que vem, definitivamente, marcar a apreensão do fenômeno da loucura como objeto do saber médico, caracterizando-o como doença mental e, portanto, passível de cura. É o Século das Luzes, onde a razão ocupa um lugar de destaque, pois é através dela que o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade. Ocorre valorização do pensamento científico e é em meio a esse contexto que ocorre o surgimento do hospital como espaço terapêutico. Entretanto, deve-se ter cuidado ao imprimir a esse acontecimento uma ótica humanitária e altruísta, pois essa medicalização do hospital não se deu visando uma ação positiva sobre o doente ou a doença, mas simplesmente uma anulação dos efeitos negativos do hospital. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Para garantir seu funcionamento, o modelo hospitalar necessitava da instauração de medidas disciplinares que viessem garantir a nova ordem. Assim, surge uma arte de delimitação desse espaçofísico, onde são fundamentais os princípios de vigilância constante e registro contínuo, de forma a garantir que nenhum detalhe escape a esse sabe. Dentro desse espaço esquadrinhado, percebe-se uma institucionalização das relações lá exercidas, tornando-se um mundo à parte, afastando cada vez mais o indivíduo de suas relações exteriores. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Segundo os autores supracitados o discurso que alimenta esse sistema percebe os loucos como seres perigosos e inconvenientes que, em função de sua doença, não conseguem conviver de acordo com as normas sociais. Retira-se, então, 14 desse sujeito todo o saber acerca de si próprio e daquilo que seria sua doença, ao mesmo tempo em que se delega esse saber ao especialista. 4.6 Pós-guerra: momento propício para reformas Somente no período pós-guerra desponta um cenário propício para o surgimento dos movimentos reformistas da psiquiatria na contemporaneidade. Começam a surgir, em vários países, questionamentos quanto ao modelo hospitalocêntrico, apontando para a necessidade de reformulação. Alguns desses movimentos colocavam em questão o próprio dispositivo médico psiquiátrico e as instituições a ele relacionadas, como exemplo, a experiência de Franco Basaglia nas cidades italianas de Gorizia e Trieste, as quais tinham como principal referência a defesa da desinstitucionalização (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Ainda de acordo com os autores uma importante questão nessa concepção de reforma diz respeito ao conceito de doença mental, o qual passa a ser desconstruído para dar lugar a nova forma de perceber a loucura enquanto existência-sofrimento do sujeito em relação com o corpo social. A reforma psiquiátrica brasileira encontra seus principais fundamentos teóricos nessa concepção, propondo-se a seguir a visão teórica adotada na reforma italiana. Entretanto, vale ressaltar que o processo histórico do lidar com a loucura no Brasil teve peculiaridades que o distinguem bastante daquele observado na Europa. A atenção específica ao doente mental no Brasil teve início com a chegada da Família Real. Em virtude das várias mudanças sociais e econômicas ocorridas e para que se pudesse ordenar o crescimento das cidades e das populações, fez-se necessário o uso de medidas de controle, entre essas, a criação de um espaço que recolhesse das ruas aqueles que ameaçavam a paz e a ordem sociais (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Posteriormente, em 1852, é criado o primeiro hospício brasileiro. Tendo o hospital psiquiátrico como cenário e o isolamento como principal técnica, o psiquiatra passou a necessitar de um profissional que servisse de vigilante e, ao mesmo tempo, seguisse suas instruções quanto ao tratamento: o enfermeiro é um agente situado entre o guarda e o médico do hospício, devendo estabelecer entre aquele e o doente a corrente do olhar vigilante. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). 15 Assim, no ano de 1890, foi criada a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras visando sistematizar a formação de enfermeiros para atuarem no espaço asilar. Num país subdesenvolvido, com um modelo de assistência à saúde centrado na prática curativa e assistencialista, foi fácil transformar a doença mental em mercadoria rentável. Ao se associar a lógica do capital (lucro) à lógica do modelo manicomial (poder disciplinar), não fica difícil perceber que a assistência se limitava ao mínimo que fosse preciso para manter os loucos sob dominação, sem precisar gastar muito (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Na década de 70, não suportando a busca desenfreada pelo lucro dos empresários da saúde, a previdência social entra em crise, mostrando a ineficiência desse modelo e apontando para a necessidade de reformulação. Vale ressaltar que esses questionamentos vieram à tona em meio a um quadro político e econômico específico, caracterizado pelo fim do milagre econômico. Ocorre abertura gradual após anos de ditadura, permitindo a entrada em cena de novos atores, dando vez à manifestação das críticas e denúncias dos trabalhadores de saúde mental e outros setores da sociedade civil contra a precária assistência prestada aos doentes mentais. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). Em continuidade a esse processo, ainda de acordo com os autores foram realizadas em 1987, 1992 e 2001, as Conferências Nacionais de Saúde Mental, que possibilitaram a delimitação dos objetivos da reforma psiquiátrica brasileira atual e a proposição de serviços substitutivos ao modelo hospitalar. Dentre os marcos conceituais desse processo destacam-se o respeito à cidadania e a ênfase na atenção integral, onde o processo saúde/ doença mental é entendido dentro de uma relação com a qualidade de vida. Atualmente, observa-se significativo avanço na implantação das propostas da reforma psiquiátrica brasileira. Entretanto, essas conquistas não têm se dado de forma homogênea por todo país. Em vários espaços ainda se enfrentam fortes obstáculos como, por exemplo, a falta de decisão política de alguns gestores públicos e as resistências por parte dos donos de hospitais que não querem perder um negócio lucrativo. (SILVEIRA, BRAGA, 2005). 16 5 A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E A POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL Fonte: e-sanar.com.br Segundo Barbosa, Neves e Tosoli (2017) a humanidade convive com a loucura há séculos e, antes de se tornar um tema essencialmente médico, o louco habitou o imaginário popular de diversas formas. De motivo de chacota e escárnio a possuído pelo demônio, até marginalizado por não se enquadrar nos preceitos morais vigentes, o louco é um enigma que ameaça os saberes constituídos sobre o homem. Na Renascença, a segregação dos loucos se dava pelo seu banimento dos muros das cidades europeias e o seu confinamento era um confinamento errante: eram condenados a andar de cidade em cidade ou colocados em navios que, na inquietude do mar, vagavam sem destino, chegando, ocasionalmente, a algum porto. No entanto, desde a Idade Média, os loucos são confinados em grandes asilos e hospitais destinados a toda sorte de indesejáveis – inválidos, portadores de doenças venéreas, mendigos e libertinos. Nessas instituições, os mais violentos eram acorrentados; a alguns era permitido sair para mendigar (BARBOSA, NEVES, TOSOLI, 2017) No século XVIII, Phillippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, propõe uma nova forma de tratamento aos loucos, libertando-os das correntes e transferindo-os aos manicômios, destinados somente aos doentes mentais. Várias experiências e tratamentos são desenvolvidos e difundidos pela Europa. http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/pinel.html 17 O tratamento nos manicômios, defendido por Pinel, baseia-se principalmente na reeducação dos alienados, no respeito às normas e no desencorajamento das condutas inconvenientes. Para Pinel, a função disciplinadora do médico e do manicômio deve ser exercida com firmeza, porém com gentileza. Isso denota o caráter essencialmente moral com o qual a loucura passa a ser revestida (BARBOSA, NEVES, TOSOLI, 2017). No entanto, com o passar do tempo, ainda de acordo com os referidos autores o tratamento moral de Pinel vai se modificando e esvazia-se das ideias originais do método. Permanecem as ideias corretivas do comportamento e dos hábitos dos doentes, porém como recursos de imposição da ordem e da disciplina institucional. No século XIX, o tratamento ao doente mental incluía medidas físicas como duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. Aos poucos, com o avanço das teorias organicistas, o que era considerado como doença moral passa a ser compreendido também como uma doença orgânica. No entanto, as técnicas de tratamento empregadas pelos organicistas eram as mesmas empregadas pelos adeptos do tratamento moral, o que significa que, mesmo com uma outra compreensão sobre a loucura, decorrente de descobertas experimentaisda neurofisiologia e da neuroanatomia, a submissão do louco permanece e adentra o século XX. (BARBOSA, NEVES, TOSOLI, 2017) A partir da segunda metade do século XX, impulsionada principalmente por Franco Basaglia, psiquiatra italiano, inicia-se uma radical crítica e transformação do saber, do tratamento e das instituições psiquiátricas. Esse movimento inicia-se na Itália, mas tem repercussões em todo o mundo e muito particularmente no Brasil. Nesse sentido é que se inicia o movimento da Luta Antimanicomial que nasce profundamente marcado pela ideia de defesa dos direitos humanos e de resgate da cidadania dos que carregam transtornos mentais. Aliado a essa luta, nasce o movimento da Reforma Psiquiátrica que, mais do que denunciar os manicômios como instituições de violências, propõe a construção de uma rede de serviços e estratégias territoriais e comunitárias, profundamente solidárias, inclusivas e libertárias. (BARBOSA, NEVES, TOSOLI, 2017). Segundo os autores supracitados, no Brasil, tal movimento inicia-se no final da década de 70 com a mobilização dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais. Esse movimento se inscreve no contexto de redemocratização do país e na mobilização político-social que ocorre na época. http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/basaglia.html http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/reforma.html 18 A reforma psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de caráter político, social e econômico influenciado pela ideologia de grupos dominantes. A influência da psiquiatria italiana, a partir de meados dos anos 80, ganhou força no país. Este movimento propunha o questionamento da suposta universalidade do racionalismo científico das psiquiatrias, desvelando sua pretensa neutralidade e a abertura de outras possibilidades de atenção, espaços e avanços técnicos. (DELGADO 1992, apud RIBEIRO 2009, p.21). Importantes acontecimentos como a intervenção e o fechamento da Clínica Anchieta, em Santos/SP, e a revisão legislativa proposta pelo então Deputado Paulo Delgado por meio do projeto de lei nº 3.657, ambos ocorridos em 1989, impulsionam a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Em 1990, o Brasil torna-se signatário da Declaração de Caracas a qual propõe a reestruturação da assistência psiquiátrica, e, em 2001, é aprovada a Lei Federal 10.216 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental (TENÓRIO, 2002). Dessa lei origina-se a Política de Saúde Mental a qual, basicamente, visa garantir o cuidado ao paciente com transtorno mental em serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, superando assim a lógica das internações de longa permanência que tratam o paciente isolando-o do convívio com a família e com a sociedade como um todo (TENÓRIO, 2002). De acordo com o referido autor a Política de Saúde Mental no Brasil promove a redução programada de leitos psiquiátricos de longa permanência, incentivando que as internações psiquiátricas, quando necessárias, se deem no âmbito dos hospitais gerais e que sejam de curta duração. Além disso, essa política visa à constituição de uma rede de dispositivos diferenciados que permitam a atenção a pessoa com sofrimento mental no seu território, a desinstitucionalização de pacientes de longa permanência em hospitais psiquiátricos e, ainda, ações que permitam a reabilitação psicossocial por meio da inserção pelo trabalho, da cultura e do lazer. O conceito de loucura é uma construção histórica, antes do século XIX não havia o conceito de doença mental nem uma divisão entre razão e loucura. O trajeto histórico do Renascimento até a atualidade tem o sentido da progressiva separação e exclusão da loucura do seio das experiências sociais (FERNANDES; MOURA, 2009, apud SOUZA, 2019. p. 13). A população que sofre de algum transtorno mental é reconhecida como uma das mais excluídas socialmente. Essas pessoas apresentam redes sociais menores do que a média das outras pessoas. A segregação não é apenas fisicamente, permeia o corpo social numa espécie de barreira invisível que impede a quebra de velhos http://www.paulodelgado.com.br/ http://www.paulodelgado.com.br/ http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=24138&janela=1 http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=24138&janela=1 http://www6.senado.gov.br/legislacao/DetalhaDocumento.action?id=232459&titulo=LEI%2010216%20de%2006/04/2001%20%20-%20LEI%20ORDIN%C3%81RIA http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=24134&janela=1 19 paradigmas. Vários estudos demonstram que a pessoa que sofre de transtorno mental severo e persistente, quando inserido em redes fortes de troca e suporte apresentam maior probabilidade de êxitos positivos no tratamento (BARCELLOS, 2018). A rede de atenção à saúde mental brasileira é parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), rede organizada de ações e serviços públicos de saúde, instituído no Brasil pelas Leis Federais 8080/1990 e 8142/90. Leis, Portarias e Resoluções do Ministério da Saúde priorizam o atendimento ao portador de transtorno mental em sistema comunitário (CARMO, 2013). Nos anos 70 segundo o referido autor, dá-se início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil, um processo contemporâneo ao movimento sanitário, em favor da mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços, e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de tecnologias de. O ano de 1978 marca o início efetivo do movimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas, surge neste ano (CARMO, 2013). É sobretudo este Movimento que passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2005, apud OLIVEIRA, 2011, p.11). Em 1987 foi inaugurado o primeiro CAPS do Brasil, na cidade de São Paulo: Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cergueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. Em 1987 aconteceu em Bauru, SP o II Congresso Nacional do MTSM que adotou o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Neste mesmo ano, é realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental no Rio de Janeiro. Em 1989 a Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SP) deu início há um processo de intervenção em um hospital psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta, local de maus- tratos e mortes de pacientes. É esta intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou a possibilidade de construção de uma rede de cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico (BARCELLOS, 2018). 20 5.1 A regulamentação da atenção psicossocial em saúde mental no Brasil No ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. A partir deste período a política do Ministério da Saúde paraa saúde mental começa a ganhar contornos mais definidos (BRASIL, 2005). Na década de 90 é realizada a II Conferência Nacional de Saúde Mental e passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2005). Os NAPS/CAPS foram criados oficialmente a partir da Portaria GM 224/92 que regulamentou o funcionamento de todos os serviços de saúde mental em acordo com as diretrizes de descentralização e hierarquização das Leis Orgânicas do Sistema Único de Saúde. Essa Portaria define os NAPS/CAPS como unidades de saúde locais/regionalizadas que contam com uma população definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar; podem constituir-se também em porta de entrada da rede de serviços para as ações relativas à saúde mental e atendem também a pacientes referenciados de outros serviços de saúde, dos serviços de urgência psiquiátrica ou egressos de internação hospitalar (BRASIL, 2005). A Portaria GM 224/92 proíbe a existência de espaços restritivos e exige que seja resguardada a inviolabilidade da correspondência dos pacientes internados e feito o registro adequado dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos efetuados nos pacientes. As novas normatizações do Ministério da Saúde de 1992, embora regulamentassem os novos serviços de atenção diária, não instituíam uma linha específica de financiamento para os CAPS e NAPS; e as normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos não previam mecanismos sistemáticos para a redução de leitos. O processo de redução de leitos em hospitais psiquiátricos e de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação ganha impulso 21 em 2002 com uma série de normatizações do Ministério da Saúde, que instituem mecanismos para a redução de leitos psiquiátricos a partir dos macros hospitais. (BRASIL, 2005). A Portaria/GM nº 106 de 11 de fevereiro de 2000 institui os Serviços Residenciais Terapêuticos definidos como moradias ou casas inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores de transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social e laços familiares e, que viabilizem sua inserção social. (BRASIL, 2005). A Portaria 106 propõe as Residências Terapêuticas como uma modalidade assistencial substitutiva da internação psiquiátrica prolongada, sendo que a cada transferência de paciente do Hospital Especializado para o Serviço de Residência Terapêutica será reduzido ou descredenciado do SUS, igual n.º de leitos naquele hospital (BARCELLOS, 2018). É somente no ano de 2001 que a Lei Paulo Delgado (Lei 10.216) é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo. A Lei Federal 10.216 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. (BARCELLOS, 2018). Ao final do ano de 2001, em Brasília, é convocada logo após a promulgação da lei 10.216 a III Conferência Nacional de Saúde Mental, dispositivo fundamental de participação e de controle social.A promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade (BARCELLOS, 2018). Linhas específicas de financiamento são criadas pelo Ministério da Saúde para os serviços abertos e substitutivos ao hospital psiquiátrico e novos mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e redução programada de leitos psiquiátricos no país. (BRASIL, 2005, apud KOYAMA, 2009, p. 5). 22 No Relatório Final da III Conferência é inequívoco o consenso em torno das propostas da Reforma Psiquiátrica, e são pactuados os princípios, diretrizes e estratégias para a mudança da atenção em saúde mental no Brasil. Desta forma, esse evento consolida a Reforma Psiquiátrica como política de governo, confere aos CAPS o valor estratégico para a mudança do modelo de assistência, defende a construção de uma política de saúde mental para os usuários de álcool e outras drogas, e estabelece o controle social como a garantia do avanço da Reforma Psiquiátrica no país. (BARCELLOS, 2018). A Portaria/GM 336 de 19 de fevereiro de 2002 estabeleceu as modalidades dos Centros de Atenção Psicossocial como CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS AD E CAPSi, definindo-os por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional. A Portaria/GM nº 251 de 31 de janeiro de 2002 estabelece diretrizes e normas para a assistência hospitalar em psiquiatria, reclassifica os hospitais psiquiátricos, define e estrutura a porta de entrada para as internações psiquiátricas na rede do SUS. Estabelece ainda que os hospitais psiquiátricos integrantes do SUS deverão ser avaliados por meio do PNASH – Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (BARCELLOS, 2018). A Lei Nº 10.708 de 31 de julho de 2003 institui o auxílio-reabilitação psicossocial para assistência, acompanhamento e integração social, fora de unidade hospitalar, de pacientes acometidos de transtornos mentais, internados em hospitais ou unidades psiquiátricas. O auxílio é parte integrante de um programa de ressocialização de pacientes internados em hospitais ou unidades psiquiátricas, denominado "De Volta Para Casa", sob coordenação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005). A Portaria nº 52, de 20 de janeiro de 2004 institui o Programa Anual de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Hospitalar no SUS – 2004. Propõe que o processo de mudança do modelo assistencial deve ser conduzido de modo a garantir uma transição segura, onde a redução dos leitos hospitalares possa ser planificada e acompanhada da construção concomitante de alternativas de atenção no modelo comunitário (BRASIL, 2005). O Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria); o Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS (PRH); a instituição do Programa de Volta para Casa e a expansão de serviços como os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências 23 Terapêuticas, permitiram a redução de leitos psiquiátricos no país e o fechamento de vários hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2005). Em 2004 foi realizado em São Paulo o primeiro Congresso Brasileiro de Centros de Atenção Psicossocial, reunindo dois mil trabalhadores e usuários de CAPS. Em fevereiro de 2005 a Portaria nº 245 destina incentivo financeiro para implantação de Centros de Atenção Psicossocial e a Portaria nº 246 destina incentivo financeiro para implantação de Serviços Residenciais Terapêuticos. (BRASIL, 2005). A Portaria nº 1.876 de 14 de agosto de 2006 instituiu Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a serem implantadas em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. E a Lei 11343 de 23 de agosto de 2006 institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimese dá outras providências. (BRASIL, 2005). 5.2 O papel estratégico dos CAPS na atenção à saúde mental no Brasil Os Centros de Atenção Psicossocial dentro da atual política de saúde mental do Ministério da Saúde são considerados dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental. Com a criação desses centros, possibilita-se a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país (LEAL; ANTONI, 2013). Esses dispositivos foram criados para organizar a rede municipal de atenção a pessoas com transtornos mentais severos e persistentes. Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário. Eles devem ser territorializados, devem estar circunscritos no espaço de convívio social (família, escola, trabalho, igreja, etc.) daqueles usuários que os frequentam. Deve ser um serviço que resgate as potencialidades dos recursos comunitários à sua volta, pois todos estes recursos devem ser incluídos nos cuidados em saúde mental. A reinserção social pode se estruturar a partir do CAPS, mas sempre em direção à comunidade (LEAL; ANTONI, 2013) Seu objetivo segundo o referido autor é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao 24 trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. O CAPS, assumindo um papel estratégico na organização da rede comunitária de cuidados, farão o direcionamento local das políticas e programas de Saúde Mental desenvolvendo projetos terapêuticos e comunitários, dispensando medicamentos e acompanhando usuários que moram em residências terapêuticas, assessorando e sendo retaguarda para os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e para a Estratégia Saúde da Família (ESF) no cuidado familiar (BRASIL, 2004, apud KOYAMA, 2009, p.5). As práticas realizadas nos CAPS se caracterizam por ocorrerem em ambiente aberto, acolhedor e inserido na cidade, no bairro. Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e sua singularidade, sua história, sua cultura e sua vida quotidiana (BRASIL, 2005). Todo o trabalho desenvolvido no CAPS deverá ser realizado em um “meio terapêutico”, isto é, tanto as sessões individuais ou grupais como a convivência no serviço têm finalidade terapêutica. Isso é obtido através da construção permanente de um ambiente facilitador, estruturado e acolhedor, abrangendo várias modalidades de tratamento. Ao iniciar o acompanhamento no CAPS se traça um projeto terapêutico com o usuário e, em geral, o profissional que o acolheu no serviço passará a ser uma referência para ele (BRASIL, 2005). Cada usuário de CAPS deve ter um projeto terapêutico individual. Caracterizado como um conjunto de atendimentos que respeite a sua particularidade, que personalize o atendimento de cada pessoa na unidade e fora dela e proponha atividades durante a permanência diária no serviço, segundo suas necessidades, potencialidades e limitações (BRASIL, 2005). A depender do projeto terapêutico do usuário do serviço, o CAPS poderá oferecer, conforme as determinações da Portaria GM 336/02: atendimento Intensivo; atendimento Semi-Intensivo e atendimento Não-Intensivo. O processo de construção dos serviços de atenção psicossocial tem revelado outras realidades: as teorias e os modelos prontos de atendimento vão se tornando insuficientes frente às demandas das relações diárias com o sofrimento e a singularidade desse tipo de atenção. É preciso criar, observar, escutar, estar atento à complexidade da vida das pessoas, que é maior que a doença ou o transtorno (BRASIL, 2005). 25 Para tanto, é necessário que, ao definir atividades, como estratégias terapêuticas nos CAPS, se repensem os conceitos, as práticas e as relações que podem promover saúde entre as pessoas: técnicos, usuários, familiares e comunidade. Todos precisam estar envolvidos nessa estratégia, questionando e avaliando permanentemente os rumos da clínica e do serviço (BRASIL, 2004, apud GUSSI, 2017, p.1). Quando uma pessoa é atendida em um CAPS, ela tem acesso a vários recursos terapêuticos: atendimento individual; atendimento em grupo; atendimento para a família; atividades comunitárias; Assembleias ou Reuniões de Organização do Serviço. Dessa forma, o CAPS pode articular cuidado clínico e programas de reabilitação psicossocial. Os projetos terapêuticos devem incluir a construção de trabalhos de inserção social, respeitando as possibilidades individuais e os princípios de cidadania que minimizem o estigma e promovam o protagonismo de cada usuário frente à sua vida. Todas as ações e atividades realizadas no CAPS devem se estruturar de forma a promover as melhores oportunidades de trocas afetivas, simbólicas, materiais, capazes de favorecer vínculos e interação humana (LEAL; ANTONI,2013). O Conselho Federal de Psicologia (CFP) por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) em relatório sobre a atuação dos psicólogos nos Centros de Atenção Psicossocial fala sobre as principais dificuldades enfrentadas no trabalho nos CAPS (FILHO, SILVEIRA, 2018). Dentre os principais problemas apontados pela pesquisa estão: a ausência de políticas locais (estaduais e municipais) e de investimentos nos CAPS e nos equipamentos de saúde mental; dificuldades na articulação com o Ministério da Saúde; em algumas regiões os municípios ainda estão com muitas dificuldades em implantar e administrar os Centros; a falta de recursos; a permanência de um modelo de atenção centrado na figura do médico; resistência por parte de alguns psiquiatras, que se posicionam como contrários ao movimento da Reforma Psiquiátrica por medo de perder espaço; a dificuldade de realizar atividades extramuros (FILHO, SILVEIRA, 2018). Em todos os relatos da pesquisa a questão da desarticulação ou mesmo inexistência de uma rede ampliada de atenção aos usuários dos CAPS foi apontada como uma das grandes dificuldades do trabalho neste contexto. Enfrenta-se a falta de integração entre os serviços existentes; dificuldades na atribuição das competências e atribuições de cada unidade de saúde; ausência de uma rede articulada (uma 26 estratégia utilizada para o encaminhamento é o uso das relações entre os profissionais das diferentes instituições). Os relatos indicam que o CAPS é referência para outros serviços, porém há muita dificuldade de que estes serviços funcionem como referência para os CAPS. (FILHO, SILVEIRA, 2018). A ausência de uma rede de serviços de atenção à saúde mental da criança foi apontada como uma das dificuldades do trabalho em CAPS infantil. Problemas também foram relatadas especificamente no atendimento a usuários de álcool e drogas, como por exemplo a falta de uma rede de suporte para internação dos casos que necessitam de internação para desintoxicação em hospital geral (FILHO, SILVEIRA, 2018). Em alguns CAPS falta estrutura física adequada, recursos materiais, recursos humanos. A falta de acessibilidade nos locais onde estão alguns CAPS, dificulta a locomoção de pessoas portadoras de algum tipo de necessidade especial. Além disso, há locais que não são adequados para garantir a qualidade dos atendimentos (FILHO, SILVEIRA, 2018). A não adesão ao tratamento e às atividades oferecidas pelo serviço aparece como um desafio que necessita ser superado. Existem ainda as dificuldades relativas aos familiares e à sociedade. É preciso orientar constantemente as famílias para que essas possam auxiliar na continuidade do tratamento. (FILHO, SILVEIRA, 2018). De acordo com os referidos autores há ainda a questão do estigma associado aos transtornos mentais e aos preconceitos que circulam na sociedade relacionadosaos portadores de problemas de saúde. A cultura “hospitalocêntrica” também é muito forte e se torna um desafio para os profissionais que atuam em CAPS. Os profissionais da saúde presentes nos serviços substitutivos ainda carregariam consigo os mesmos paradigmas das instituições psiquiátricas. Esse fato, segundo os autores, se expressaria em parte através das dificuldades apresentadas em referenciar os usuários para o serviço substitutivo demonstrando a possibilidade de um desejo de permanência por parte do hospital psiquiátrico na posição de poder historicamente construída. (PRAZERES, 2005, apud Moura, 2009, p.5). Os principais obstáculos verificados nessa passagem incluem dificuldades para superação do paternalismo, o recuperado tem dificuldades para encontrar emprego e geralmente há a volta para a mesma dinâmica familiar e social que o levou ao manicômio. As novas políticas em saúde mental devem objetivar bem mais que o 27 fechamento dos manicômios. Devem buscar visualizar e romper com as barreiras impostas pela própria sociedade (RODRIGUES, 2012). O doente mental, entretanto, enquanto inserido socialmente perderia suas características incompreensíveis à maioria da população na proporção em que sua própria enfermidade fosse parte de um contexto onde seriam respeitadas sua existência e suas razões. É preciso pensar na reforma psiquiátrica como um movimento social mais amplo, processo de desinstitucionalização do social onde é preciso produzir um olhar que abandona o modo de ver próprio da razão, abrir uma via de acesso à escuta qualificada da desrazão (RODRIGUES, 2012). A reforma deve buscar, antes de tudo, uma emancipação pessoal, social e cultural, que permita o não enclausuramentos de tantas formas de existência banidas do convívio social e que permita um olhar mais complexo que o generalizante olhar do igualitarismo de forma a buscar o convívio livre e tolerante com a diferença. Os primeiros passos para uma real reforma psiquiátrica implicam um imprescindível abandono do lugar de especialista ocupado por vários dos atores sociais envolvidos com a reforma. Este percurso requer atenção especial para as pequenas amarras responsáveis pela reprodução de valores, preconceitos, atrelados às ideias de controle, fixidez, identidade, normatização, subjugação. (ALVERGA, 2006, apud Moura, 2009, p.7). A pessoa com transtorno mental apresenta formas anticonvencionais de fazer- estar no mundo, sendo parte de uma minoria. A declaração universal dos direitos humanos prevê a ampla e irrestrita aplicação de seus princípios, entretanto, existe ainda a necessidade da implantação de leis que assegurem direitos universais aos ditos loucos. (RODRIGUES, 2012). Requer-se antes de tudo um abandono do lugar de especialista ocupado por vários dos atores sociais envolvidos com a reforma. Este percurso exige atenção especial para as pequenas amarras responsáveis pela reprodução de valores, preconceitos, atrelados às ideias de controle, fixidez, identidade, normatização, subjugação. E a real mudança de postura se faz necessária para evitar a simples transposição de atitudes profissionais ligadas ao modelo hospitalar para o modelo de atenção primária (RODRIGUES, 2012). É preciso entender o processo histórico que invalidou a loucura como manifestação subjetiva humana. Deve-se caminhar no sentido de compreender a mesma como uma forma de subjetividade válida, onde o maior desafio da reforma é 28 sua despatologização. O processo de mudança de papéis se dá de forma lenta e gradual, mas os movimentos para tantos já foram iniciados (LEAL, ANTONI, 2013). A formação dos profissionais inseridos no campo da saúde mental deve ter como objetivo a transformação das práticas profissionais na perspectiva da desinstitucionalização. Os princípios do SUS e da reforma psiquiátrica foram construídos para superar um modelo desumano baseado em medidas excludentes, hospitalocêntricas. Isso implica na necessidade de um processo de formação profissional mais contextualizado, com ênfase em medidas de promoção, prevenção e reabilitação, levando em conta as dimensões sociais, econômicas e culturais da população (LEAL, ANTONI, 2013). Construir novas formas de atenção de lidar com a loucura e o sofrimento psíquico implica em romper com o modelo biomédico – influenciado pela abordagem biológica, individualista e a-histórica - e assumir o modelo psicossocial, que impele a uma abordagem mais complexa, incorporando a influência dos aspectos macrossociais ao fenômeno loucura e isso implica, obrigatoriamente, um repensar os processos de formação dos diferentes atores envolvidos nesse processo (LEAL, ANTONI, 2013). De modo geral, segundo Rodrigues (2012) as transformações propostas pelo complexo campo da Reforma Psiquiátrica brasileira apresentam grandes desafios, especialmente aos profissionais de saúde que cotidianamente têm a tarefa de expandir e consolidar essa mudança. Apesar dos avanços, na prática, os profissionais, nem sempre conseguem deixar de ter como foco principal o controle dos sintomas, dos corpos e das vontades de pessoas diagnosticadas como portadoras de transtornos mentais e a mudança de tal postura passa pela universidade, grande responsável pela formação profissional e que também precisa rever seu papel. 29 6 A NOVA CLASSIFICAÇÃO AMERICANA PARA OS TRANSTORNOS MENTAIS – O DSM-5 Fonte: dynamicinstitute.com Na contemporaneidade há um número exorbitante de pessoas diagnosticadas com transtornos mentais em todas as partes do mundo. A história contada para a sociedade é a de que a psiquiatria havia progredido no tratamento dos transtornos mentais, os pesquisadores estariam descobrindo as causas biológicas destes transtornos e a indústria farmacêutica havia desenvolvido medicamentos eficazes para o tratamento. (WHITAKER, 2011, apud MARTINHAGO, 2019, p. 74). Porém, ao fazer uma análise da incidência de transtornos mentais dos últimos 50 anos, Whitaker (2011) constatou que há uma verdadeira epidemia de transtornos mentais. Esta epidemia instiga pesquisadores de diversas áreas do conhecimento a investigarem como chegamos a tal fenômeno no século XXI. Assim, buscamos delinear a trajetória histórica das classificações em psiquiatria, do século XIX até a atualidade. Desde a metade do século XIX, inicia-se uma nova forma de compreender e lidar com as doenças mentais. Os delírios, alucinações, atos violentos deixam de ser o foco da atenção e busca-se elaborar classificações de comportamentos e condutas que ocorrem na vida cotidiana dos sujeitos. Deste modo, vários comportamentos passam a ser considerados como desviantes e objeto de estudo e práticas médicas (CAPONI, 2012). No período que corresponde a segunda metade do século XIX e início do 30 século XX, surgem as estratégias de intervenção e de gestão das populações relacionadas à teoria da degeneração de Morel, cuja proposta é criar uma classificação das doenças mentais. A ideia era “substituir uma classificação sintomática por uma classificação etiológica das doenças mentais, pois somente com a determinação das causas poderiam ser elaborados um sistema classificatório de patologias e uma terapêutica adequada” (CAPONI, 2012, apud MARTINHAGO, 2019, p. 75). Emil Kraepelin, no fim do século XIX e início do século XX, foi considerado o grande sistematizador da psicopatologia descritiva, quem consolidou a propensão nosológica. No período de 30 anos, houve oito edições do seu Manual de psiquiatria, sendo que todas apresentaram alterações nosológicas. Na perspectiva de Kraepelin, tratava-se de distinguir os diversos modos de sofrimento mental com base na clínica, que assim teriam o mesmo estatuto das doenças físicas que a medicina tratava (CAPONI, 2014). O intuito de Kraepelin segundo o referido autor foi criar classificações de patologias psiquiátricas de modo que servissemcomo referência para a formação dos profissionais. As novas edições do Manual apresentavam ajustes, novos grupos de patologias, diagnósticos mais precisos, fundamentados nas descobertas científicas no campo da neurologia, das doenças cerebrais, da estatística médica, bem como estudos sobre herança. Nos Estados Unidos, o principal objetivo para desenvolver uma classificação de transtornos mentais era obter informações estatísticas. A primeira tentativa foi em 1840 a partir da medição da frequência de duas categorias - idiotice e insanidade – com a finalidade de constituir o Censo (VIANA, 2011). Para o Censo do ano de 1880, haviam estabelecido sete categorias – mania, melancolia, monomania, paresia, demência, alcoolismo e epilepsia -, com o propósito de organizar o sistema asilar (APA, 2016, apud MARTINHAGO, 2019, p. 76). A última classificação que antecede o primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (conhecido como DSM, devido ao título original em inglês Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) surge em 1918, no Manual Estatístico para o Uso de Instituições de Insanos, com 22 categorias, entre elas, destacam-se a Psicose, Melancolia, Demência Precoce, Paranoia, Psiconeuroses e Neuroses (VIANA, 2011). 31 Até a Segunda Guerra Mundial, a psicanálise e a psiquiatria perpetuaram um sistema de trocas, o qual promoveu o progresso da psicopatologia, abarcou importações conceituais, criou campos de confluência metodológica, mutualismos diagnósticos, derivações semiológicas e hipóteses etiológicas. No período entre os anos de 1900-1950, a psicanálise fundamentou a classificação norte-americana das doenças mentais, principalmente, com base nos conceitos de personalidade, estrutura e psicodinâmica (VIANA, 2011). 6.1 A história dos sistemas de classificação Segundo Caponi (2014) a busca pelo conhecimento é uma característica fundamentalmente humana. Desde os tempos pré-históricos o homem tenta compreender, prever e controlar a natureza que o cerca. Hipócrates, quatro séculos antes de Cristo, é reconhecido no mundo ocidental como quem primeiro buscou descrever e categorizar quadros clínicos diagnosticáveis através da observação, prática que ficou conhecida como “método hipocrático”. Toda a história da Medicina é marcada por esse raciocínio clínico em que identificar e agrupar enfermidades que compartilham dos mesmos sinais e sintomas é a base para se buscar a origem desses males, prever sua evolução e buscar meios de tratamento. No campo da saúde mental, podemos atribuir ao psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926) o desenvolvimento do primeiro sistema de classificação que, norteado por uma visão fenomenológica, considerava a origem orgânica das doenças psiquiátricas. Através de sua observação clínica, Kraepelin buscou identificar padrões de sintomas que permitissem a construção de diagnósticos sindrômicos. Em seu tratado, refutou a ideia de uma psicose única e apresentou o quadro de “Demência precoce”, distinguindo-o da “Psicose maníaco-depressiva” (CAPONI, 2014). Segundo o referido autor a aplicação de métodos de classificação tem utilidades distintas, de acordo com o foco que se dá ao objeto estudado. Na Medicina, as ferramentas de classificação podem ser empregadas com objetivo clínico, científico e estatístico. É fundamental que se tenha clareza sobre o tipo de informação que se pode obter com cada método, evitando assim a formulação de juízos distorcidos. 32 6.2 A história do DSM Em 1840, os EUA empreenderam um censo que contava com a categoria “idiotia/loucura”, procurando registrar a frequência de doenças mentais. Já no censo de 1880, as doenças mentais eram divididas em sete categorias distintas (mania, melancolia, monomania, paresia, demência, dipsomania e epilepsia). Observa-se assim que as primeiras classificações norte-americanas de transtornos mentais aplicadas em larga escala tinham objetivo primordialmente estatístico. No início do século XX o Exército norte-americano, juntamente com a Associação de Veteranos, desenvolveu uma das mais completas categorizações para aplicação nos ambulatórios que prestavam atendimento a ex-combatentes (VIANA, 2011). Em 1948, sob forte influência desse instrumento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu pela primeira vez uma seção destinada aos Transtornos Mentais na sexta edição de seu sistema de Classificação Internacional de Doenças – cid-6. A primeira edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM) foi publicada pela Associação Psiquiátrica Americana (APA) em 1953, sendo o primeiro manual de transtornos mentais focado na aplicação clínica (CAPONI, 2014). Segundo o referido autor o DSM-I consistia basicamente em uma lista de diagnósticos categorizados, com um glossário que trazia a descrição clínica de cada categoria diagnóstica. Apesar de rudimentar, o manual serviu para motivar uma série de revisões sobre questões relacionadas às doenças mentais. O DSM-II, desenvolvido paralelamente com a cid-8, foi publicado em 1968 e era bastante similar ao DSM-I, trazendo discretas alterações na terminologia. Em 1980, a APA publicou a terceira edição do seu manual introduzindo importantes modificações metodológicas e estruturais que, em parte, se mantiveram até a recente edição. Sua publicação representou um importante avanço em termos do diagnóstico de transtornos mentais, além de facilitar a realização de pesquisas empíricas. O DSM-III apresentou um enfoque mais descritivo, com critérios explícitos de diagnóstico organizados em um sistema multiaxial, com o objetivo de oferecer ferramentas para clínicos e pesquisadores, além de facilitar a coleta de dados estatísticos. Revisões e correções foram promovidas sobre o manual, levando à publicação do DSM-III-R, em 1987 (CAPONI, 2014). A proliferação de pesquisas, revisões bibliográficas e testes de campo permitiu que, em 1994, a APA lançasse o DSM-IV. A evolução do manual representava um 33 aumento significativo de dados, com a inclusão de diversos novos diagnósticos descritos com critérios mais claros e precisos. Uma revisão dessa edição foi publicada em 2000 como DSM-IV-TR e foi formalmente utilizada até o início de 2013. (CAPONI, 2014). 7 O DSM-5 Segundo Araújo e Neto (2013) o DSM-5, oficialmente publicado em 18 de maio de 2013, é a mais nova edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais da Associação Psiquiátrica Americana. A publicação é o resultado de um processo de doze anos de estudos, revisões e pesquisas de campo realizados por centenas de profissionais divididos em diferentes grupos de trabalho. O objetivo final foi o de garantir que a nova classificação, com a inclusão, reformulação e exclusão de diagnósticos, fornecesse uma fonte segura e cientificamente embasada para sua aplicação em pesquisa e na prática clínica. Em seu aspecto estrutural o DSM-5 rompeu com o modelo multiaxial introduzido na terceira edição do manual Os transtornos de personalidade e o retardo mental, anteriormente apontados como transtornos do Eixo II, deixaram de ser condições subjacentes e se uniram aos demais transtornos psiquiátricos no Eixo I. Outros diagnósticos médicos, costumeiramente listados no Eixo III, também receberam o mesmo tratamento. Conceitualmente não existem diferenças fundamentais que sustentem a divisão dos diagnósticos em Eixos I, II e III. O objetivo da distinção era apenas o de estimular uma avaliação completa e detalhada do paciente. Fatores psicossociais e ambientais (Eixo IV) continuam sendo foco de atenção, mas o DSM-5 recomendou que a codificação dessas condições fosse realizada com base no capítulo Fatores que Influenciam o Estado de Saúde e o Contato com os Serviços de Saúde (códigos Z00-Z99) da cid-10- cm. Por fim, a Escala de Avaliação Global do Funcionamento, anteriormente empregada noEixo V, foi retirada do manual. Por diversos motivos entendeu-se que a nota de uma única escala não transmite informações suficientes e adequadas para a compreensão global do paciente. A APA continua recomendando a aplicação das diversas escalas que possam contribuir com cada caso e apresenta algumas medidas de avaliação na Seção III do DSM-5 (ARAÚJO; NETO, 2014). 34 7.1 Transtornos do neurodesenvolvimento Seguindo a proposta de lançar um olhar longitudinal sobre o curso dos transtornos mentais, o DSM-5 excluiu o capítulo “Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência”. Parte dos diagnósticos do extinto capítulo passou a compor os “Transtornos do neurodesenvolvimento”. Os critérios para Deficiência Intelectual enfatizaram que, além da avaliação cognitiva, é fundamental avaliar a capacidade funcional adaptativa. Os “Transtornos de comunicação” agrupam antigos diagnósticos com discretas alterações quanto à divisão e nomenclatura (ARAÚJO; NETO, 2014). Os Transtornos globais do desenvolvimento, que incluíam o Autismo, Transtorno desintegrativo da infância e as Síndromes de Asperger e Rett, foram absorvidos por um único diagnóstico, “Transtornos da gama do autismo”. A mudança refletiu a visão científica de que aqueles transtornos são na verdade uma mesma condição com gradações em dois grupos de sintomas: Déficit na comunicação e interação social; Padrão de comportamentos, interesses e atividades restritos e repetitivos (ARAÚJO; NETO, 2014). Segundo o autor supracitado, apesar da crítica de alguns clínicos que argumentam que existem diferenças significativas entre os transtornos, a APA entendeu que não há vantagens diagnósticas ou terapêuticas na divisão e observa que a dificuldade em subclassificar o transtorno poderia confundir o clínico dificultando um diagnóstico apropriado. Os critérios para o diagnóstico de Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) são bastante similares aos do antigo manual. O DSM-5 manteve a mesma lista de dezoito sintomas divididos entre desatenção e hiperatividade/impulsividade. Os subtipos do transtorno foram substituídos por especificadores com o mesmo nome. Indivíduos até os dezessete anos de idade precisam apresentar seis dos sintomas listados, enquanto indivíduos mais velhos precisam de apenas cinco. A exigência de que os sintomas estivessem presentes até os sete anos de vida foi alterada. No novo manual, o limite é expandido para os doze anos de idade. Além disso, o DSM-5 permitiu que o TDAH e os Transtornos da Gama do Autismo sejam diagnosticados como transtornos comórbidos. Ambas as alterações provocam polêmica pelo risco de gerarem uma superestimativa com aumento da incidência de TDAH na população geral. No entanto, 35 a APA e outros diversos especialistas defendem a mudança como favorável. (ARAÚJO; NETO, 2014). Os Transtornos específicos da aprendizagem deixaram de ser subdivididos em transtornos de leitura, cálculo, escrita e outros, especialmente pelo fato de que indivíduos com esses transtornos frequentemente apresentam déficits em mais de uma esfera de aprendizagem. Encerrando o capítulo, tiques, movimentos estereotipados e Síndrome de Tourette foram organizados como Transtornos motores (ARAÚJO; NETO, 2014). 7.2 Gama da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos Segundo Araújo e Neto (2014) o diagnóstico de Esquizofrenia sofreu alterações significativas nesta nova versão do DSM. O critério que define a sintomatologia característica (Critério A) continua requerendo a presença de no mínimo dois dos cinco sintomas para ser preenchido, mas a atual versão exige que ao menos um deles seja positivo (delírios, alucinações ou discurso desorganizado). Embora os sintomas listados sejam os mesmos, o DSM-IV permitia que o Critério A fosse preenchido com apenas um sintoma nos casos de delírios bizarros ou alucinações auditivas de primeira ordem/schneiderianas (exemplo: vozes conversando entre si) No DSM-5 essa exceção foi retirada por se considerar que a classificação de um delírio como bizarro é pouco confiável, especialmente por esbarrar em questões culturais, e a definição de sintomas schneiderianos é pouco específica. O DSM-5 abandonou a divisão da esquizofrenia em subtipos: paranoide, desorganizada, catatônica indiferenciada e residual. Os subtipos apresentavam pouca validade e não refletiam diferenças quanto ao curso da doença ou resposta ao tratamento (ARAÚJO; NETO, 2014). O diagnóstico de Transtorno Esquizoafetivo sofreu uma pequena alteração em seu texto, sendo exigido que um episódio de alteração importante do humor (depressão ou mania) esteja presente durante a maior parte do curso da doença, após o preenchimento do Critério A de esquizofrenia. A mudança busca aumentar a confiabilidade do diagnóstico, apesar de reconhecer que ele ainda é um grande desafio para o clínico. Os critérios para o “Transtorno delirante” não exigem mais que os delírios apresentados não sejam bizarros. (ARAÚJO; NETO, 2014). 36 A demarcação entre o Transtorno Delirante e outras variantes psicóticas foi reforçada com a presença de critérios de exclusão que impedem que o diagnóstico seja efetuado na presença de quadros como o Transtorno obsessivo-compulsivo e o Transtorno dismórfico corporal. A catatonia não é mais apresentada como um subtipo da esquizofrenia ou uma classe independente. Na atual versão passa a ser dividida como: catatonia associada com outros transtornos mentais; catatonia associada com outras condições médicas; ou catatonia não-especificada (ARAÚJO; NETO, 2014). Aceita-se que o quadro possa ocorrer em diversos contextos e o diagnóstico requer a presença de no mínimo três dos doze sintomas listados. O DSM-5 permite que a catatonia seja empregada como um especificador no Transtorno depressivo, “Transtorno bipolar e Transtornos psicóticos, ou diagnosticada de forma isolada no contexto de outras condições médicas (ARAÚJO; NETO, 2014). 7.3 Transtorno bipolar e outros transtornos relacionados Os critérios diagnósticos para mania e hipomania no Transtorno bipolar passam a dar maior ênfase às mudanças no nível de atividades e na energia. O quadro misto deixa de ser um subtipo do Transtorno bipolar e se torna um especificador, com Características Mistas, que pode ser empregado inclusive na Depressão unipolar. O fato foi criticado por alguns especialistas como uma tentativa tendenciosa de conduzir o diagnóstico de qualquer transtorno de humor para o grupo bipolar(ARAÚJO; NETO, 2014). No entanto, a APA argumenta que o objetivo da mudança é auxiliar o clínico para melhor adaptar seu tratamento, visto que os indivíduos com sintomas mistos podem apresentar diferenças no curso da doença e na resposta aos psicofármacos. O capítulo do DSM-5 incluiu outro novo especificador, com Ansiedade, empregado para descrever a presença de sintomas ansiosos que não fazem parte dos critérios diagnósticos do Transtorno bipolar. O especificador com Ansiedade também pode ser aplicado nos Transtornos Depressivos e descreve sintomas como tensão, inquietação, dificuldade de concentração devido a uma preocupação, medo de que algo terrível possa acontecer e sensação de perda de controle sobre si mesmo (ARAÚJO; NETO, 2014). 37 7.4 Transtornos depressivos O capítulo dos Transtornos depressivos ganhou novos diagnósticos no DSM- 5, levantando discussões sobre a “patologização” de reações normais e a superestimativa do número de casos de depressão. O Transtorno disruptivo de desregulação do humor é um novo diagnóstico caracterizado por um temperamento explosivo com graves e recorrentes manifestações verbais ou físicas de agressividade desproporcionais, em intensidade ou duração, à situação ou provocação (ARAÚJO; NETO, 2014). Segundo os referidos autores os sintomas devem se manifestar ao menos trêsvezes por semana, em dois ou mais ambientes, persistir por no mínimo um ano e o transtorno deve ser primeiramente identificado entre os seis e os dezoito anos de idade. O detalhamento desse quadro clínico busca ser suficiente para impedir que o diagnóstico seja aplicado a crianças saudáveis com comportamento de birra. Após uma série de estudos, o DSM-5 incluiu o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual como um diagnóstico validado, e os diagnósticos de depressão crônica e distimia foram modificados passando a formar o “Transtorno depressivo persistente”. Os sintomas centrais do Transtorno depressivo importante (Maior) foram mantidos, aceitando agora especificadores como com Características mistas e com ansiedade. A presença de características mistas deve alertar o clínico para um possível quadro do campo bipolar. Um dos pontos de maior polêmica, no que diz respeito à depressão, foi a retirada do luto como critério de exclusão do Transtorno Depressivo Maior. No DSM-5 é possível aplicar esse diagnóstico mesmo àqueles que passaram pela perda de um ente querido há menos de dois anos (ARAÚJO; NETO, 2014). Apesar da preocupação com a possível abordagem médica de estados não patológicos, é importante atentar para a gravidade que estes quadros podem alcançar. O luto é um forte fator estressor e, como tal, pode desencadear transtornos mentais graves, portanto não se pode assumir que, por tratar-se de reação comum, não possa ser experimentado de forma patológica. Desta forma, o objetivo desta mudança é permitir que indivíduos que estejam passando por um sofrimento psíquico grave recebam atenção adequada, incluindo a farmacoterapia quando esta se fizer necessária (ARAÚJO; NETO, 2014). 38 De todos os transtornos psiquiátricos, a depressão em específico é provavelmente a mais familiar para a população num todo. A totalidade da tristeza, da solidão e do desânimo, todos encontrados em diversas formas e intensidade como manifestações clínicas das síndromes depressivas, habilitam-nas a compreender e a empatizar com um indivíduo deprimido deve sentir. Quão comum é a depressão? Qual é o impacto na nossa vida rotineira e na nossa sociedade? A organização Mundial da Saúde divulgou, há pouco tempo, que a depressão seria a principal causa de incapacitação no mundo nas próximas décadas (KESSLER,1994,2003 apud PATTERSON, 2010) 7.5 Transtornos de ansiedade O capítulo dos Transtornos de ansiedade foi reformulado nesta nova edição do manual e os diagnósticos de “Transtorno obsessivo-compulsivo”, “Transtorno de estresse agudo e Transtorno de estresse pós-traumático foram realocados em novos capítulos. O diagnóstico de quadros fóbicos (agorafobia, fobia específica e Transtorno de ansiedade social) deixou de exigir que o indivíduo com mais de dezoito anos reconheça seu medo como excessivo ou irracional, visto que muitos pacientes tendem a superestimar o perigo oferecido pelo objeto ou evento fóbico em questão (ARAÚJO; NETO, 2014). A duração mínima para o diagnóstico desses transtornos passa a ser de seis meses para todas as idades. O Transtorno de pânico e a agorafobia foram separados como diagnósticos independentes, reconhecendo a existência de casos nos quais a agorafobia ocorre sem a presença de sintomas de pânico. Além disso, a observação de que o Ataque de pânico pode ocorrer como comorbidade em outros transtornos mentais além da ansiedade fez com que o DSM-5 incluísse o Ataque de pânico como especificador para todos os demais transtornos (ARAÚJO; NETO, 2014). O Transtorno de ansiedade de separação e o Mutismo seletivo saíram do extinto capítulo dos Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência e passaram a compor os Transtornos de ansiedade. Os critérios diagnósticos para o Transtorno de ansiedade de separação são semelhantes aos do antigo manual, mas aceitam que os sintomas tenham início em indivíduos com mais de dezoito anos. Os critérios para o diagnóstico de “Mutismo seletivo” seguiram praticamente inalterados (ARAÚJO; NETO, 2014). 39 7.6 Transtorno obsessivo-compulsivo e outros transtornos relacionados O DSM-5 conta com um capítulo exclusivamente destinado ao Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e outros transtornos relacionados”, incluindo novos diagnósticos como o Transtorno de acumulação e o Transtorno de escoriação (Skin- Picking). Os critérios diagnósticos para o TOC não sofreram modificações significativas, mas novos especificadores foram introduzidos para melhor caracterizar os transtornos desse grupo. O DSM-IV-TR usava o especificador “com Insight pobre” para descrever os casos em que o paciente tinha pouca crítica sobre os seus sintomas; no DSM-5 foram acrescentados “Bom Insight”, para pacientes com autocrítica preservada, e “Ausência de insight/sintomas delirantes”, nos casos em que o paciente não identifica os pensamentos obsessivos como sintomas de um transtorno mental, situação em que a convicção na veracidade dos sintomas pode alcançar características psicóticas. A presença ou a história de tiques também é ressaltada com um especificador. O Transtorno corporal foi removido do capítulo dos Transtornos somatoformes, passando a incluir dentre seus critérios a exigência da presença de comportamentos repetitivos ou atos mentais em resposta à preocupação com a aparência (COGINOTTI; REIS, 2016). O TOC acomete ao redor de 2,5% da população em geral. Seu curso geralmente é crônico, com os sintomas variando em intensidade e, se não tratado, com muita frequência, pode manter-se por toda a vida. Por vários motivos, é considerado um transtorno mental grave, pois os sintomas iniciam geralmente ao final da adolescência (muitas vezes ainda na infância), sendo 3 raro seu início depois dos 40 anos. Em aproximadamente 10% dos casos seus sintomas são incapacitantes, comprometendo a qualidade de vida de seus portadores num nível significante ao que ocorre com pacientes esquizofrênicos. O TOC, na maioria das vezes, interfere de forma acentuada na vida da família, que é obrigada a acomodar-se aos sintomas, alterar suas rotinas, restringir o uso de espaços e objetos, o que é motivo para constantes conflitos (CORDIOLI, 2008, apud MACHADO, 2018, p.3). A preocupação excessiva do paciente com a constituição de sua musculatura deve ser especificada como com Dismorfismo muscular. O diagnóstico de “Transtorno de acumulação” foi criado para descrever indivíduos que acumulam objetos e experimentam sofrimento e prejuízo pela persistente dificuldade de se desfazerem ou se separarem de determinados bens (independente do real valor deles), devido à percepção de que necessitam guardar esses itens, apresentando angústia frente à ideia de descartá-los (COGINOTTI; REIS, 2016). 40 Os especificadores que descrevem o insight também são aplicados ao Transtorno dismórfico corporal e ao Transtorno de acumulação. A tricotilomania saiu do capítulo Transtorno do controle dos impulsos não classificados em outro local, mas seus critérios foram preservados. O DSM-5 incluiu o diagnóstico de Transtorno de escoriação (Skin-Picking) para descrever casos em que o indivíduo faz escoriações em sua própria pele provocando lesões, mas apesar do sofrimento causado por essa ação não consegue parar de repeti-la. Encerrando o capítulo, o DSM-5 acrescentou diagnósticos em que TOC e outros transtornos relacionados são atribuídos a medicações/substâncias, ou outras condições médicas, reconhecendo que drogas e patologias clínicas podem resultar em quadros semelhantes ao TOC (COGINOTTI; REIS, 2016). 7.7 Trauma e transtornos relacionados ao estresse O DSM-5 agrupou em um mesmo capítulo os transtornos cuja origem pode ser especificamente atribuída a situações de estresse e traumas. O capítulo Trauma e transtornos relacionados ao estresse apresenta cinco diagnósticos principais e duas categorias diagnósticaspara outros transtornos específicos ou inespecíficos que possam se relacionar ao estresse e ao trauma. O diagnóstico de Transtorno de apego reativo na infância, que no DSM-IV-TR fazia parte do capítulo Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência, era dividido em “Tipo inibido e Tipo desinibido. No DSM-5, o Tipo inibido se manteve como Transtorno de apego reativo e o Tipo desinibido deu origem ao Transtorno do engajamento social desinibido. Ambos são resultantes de uma história de negligência social, ou outras situações que limitam a oportunidade de uma criança para formar ligações seletivas. Apesar desse fator etiológico comum, os transtornos guardam diferenças significativas não apenas na apresentação clínica, mas também na abordagem terapêutica e na resposta às medidas de intervenção, justificando a divisão desses quadros em transtornos distintos (ARAÚJO; NETO, 2014). [...] TEPT um conjunto de sinais e sintomas que compreendem a reexperiência do trauma vivenciado, a recusa em relembrar o ocorrido e um estado de hipervigilância. É um estado de ansiedade intensa, acompanhado de reexperiências dolorosas dos eventos negativos vividos [...]. (SCHNEIDER e PIVA, 2009, apud, SENA, 2013, p. 22). 41 O diagnóstico do Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) sofreu algumas modificações em seus critérios. A exigência de que o evento traumático fosse vivenciado ou testemunhado pelo próprio indivíduo (Critério A1 do DSM- -IV-TR) foi expandido, aceitando que o TEPT seja desenvolvido por quem soube que um evento traumático aconteceu com um familiar próximo ou amigo próximo, ou por quem é frequentemente exposto a detalhes aversivos de eventos traumáticos (por exemplo, socorristas recolhendo restos humanos, policiais repetidamente expostos aos detalhes de um abuso infantil) (ARAÚJO; NETO, 2014). Vale ressaltar que esse critério não se aplica à exposição através de mídia eletrônica, televisão, filmes ou imagens, a menos que esta exposição seja relacionada ao trabalho. A exigência de que o evento fosse vivenciado com intenso medo, impotência ou horror (Critério A2 do DSM-IV-TR) também foi retirada por não implicar diferenças quanto ao diagnóstico e evolução do caso. O DSM-5 lista 20 sintomas de TEPT divididos em quatros grupos: reexperimentação (Critério B); esquiva/evitação (Critério C); alterações negativas persistentes em cognições e humor (Critério D); excitabilidade aumentada (Critério E) (ARAÚJO; NETO, 2014). O manual incluiu critérios específicos para o diagnóstico de crianças com seis anos ou menos, buscando respeitar as particularidades dessa fase da vida. O diagnóstico de TEPT pode receber o especificador com Sintomas Dissociativos quando o paciente apresenta sintomas dissociativos como despersonalização e desrealização (ARAÚJO; NETO, 2014). Segundo os referido autores o diagnóstico de Transtorno de estresse agudo também foi revisto e o Critério A reproduziu as mesmas modificações observadas no TEPT. Os critérios diagnósticos para o Transtorno de adaptação foram mantidos sem alterações, preservando inclusive sua divisão em subtipos. Transtornos dissociativos os Transtornos dissociativos listados na atual versão do manual incluem Transtorno dissociativo de identidade, Amnésia dissociativa e Transtorno de despersonalização/desrealização, além de outras duas categorias para transtornos dissociativos especificados ou sem outras especificações. O Transtorno dissociativo de identidade passou por uma extensa revisão. O Critério A incluiu o que pode ser descrito em algumas culturas como uma experiência de possessão, além da presença de sintomas neurológicos funcionais. A Amnésia dissociativa não sofreu mudanças significativas em seus critérios, mas incorporou o antigo diagnóstico de Fuga dissociativa (DSM-IV- -TR) como um especificador com 42 Fuga dissociativa. O DSM-5 modificou o que o antigo manual apresentava como “Transtorno de despersonalização”, incluindo a desrealização em seus critérios (ARAÚJO; NETO, 2014). [...] uma re-vivênvia persistente do evento traumático; esquiva persistente de estímulos associados ao trauma, embotamento da responsividade geral; e sintomas persistentes de excitação mental. O quadro sintomático completo deve estar presente por mais de 1 [um] mês e a perturbação deve causar sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional e/ou outras áreas importantes da vida da pessoa. (SCARPATO, 2004, apud, SENA, 2013, p. 26). O Transtorno de despersonalização/desrealização requer que o indivíduo vivencie de maneira recorrente e persistente a experiência de estranheza ou irrealidade em relação a si próprio (despersonalização) ou ao ambiente que o cerca (desrealização). Sintomas somáticos e outros transtornos relacionados O DSM-5 buscou simplificar o que era apresentado no DSM-IV-TR como Transtornos somatoformes, especialmente por considerar que os antigos transtornos apresentavam limites pouco claros que por vezes se sobrepunham. O objetivo da revisão é tornar os diagnósticos mais práticos e compreensíveis a todos os médicos, reconhecendo que em sua maioria esses transtornos são inicialmente vistos por clínicos de outras especialidades (ARAÚJO; NETO, 2014). A atual classificação removeu os diagnósticos de Transtorno de somatização, Transtorno somatoforme indiferenciado e Transtorno doloroso, absorvidos pelo Transtorno com sintomas somáticos. A hipocondria também foi excluída do DSM-5, em parte pelo caráter pejorativo com o qual o diagnóstico era recebido. Os indivíduos que preenchiam critérios para esse transtorno e não se enquadram nos atuais critérios para Transtorno com sintomas somáticos passaram a receber o diagnóstico de Transtorno de ansiedade de doença. O Transtorno de somatização descrito no DSM- IV-TR trazia uma extensa e complexa lista de sintomas somáticos sem explicação médica, que eram exigidos para o preenchimento do Critério B, enquanto queixas somáticas menos robustas, ainda que semelhantes na apresentação, acabavam por receber o diagnóstico de Transtorno somatoforme indiferenciado. (ARAÚJO; NETO, 2014). Considerando a arbitrariedade dessa antiga divisão, o DSM-5 introduziu o Transtorno com sintomas somáticos. O uso da expressão sintoma somático sem explicação médica é descartada dos critérios desse transtorno, pois o termo reforça a 43 ideia de um dualismo mente-corpo. O diagnóstico do Transtorno com sintomas somáticos é aplicado a indivíduos que apresentam qualquer número de sintomas somáticos, desde que esses sintomas sejam acompanhados por pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos relacionados aos sintomas somáticos ou preocupações associadas com a saúde. (ARAÚJO; NETO, 2014). Algumas características são: pensamentos desproporcionais e persistentes sobre a gravidade dos próprios sintomas; nível persistentemente elevado de ansiedade sobre a saúde ou sintomas; excesso de tempo e energia dedicados a estes sintomas ou problemas de saúde. A ênfase dada aos pensamentos e comportamentos que acompanham o sintoma permite que o diagnóstico seja aplicável, ainda que na presença de uma doença clínica. No DSM-5, o diagnóstico de Transtorno de ansiedade de doença representa os indivíduos que experimentam um alto nível de ansiedade, mas o temor de estar doente não é acompanhado por sintomas somáticos. (ARAÚJO; NETO, 2014). O Transtorno conversivo mantém critérios semelhantes, descrevendo a presença de um ou mais sintomas de alterações da função motora e sensorial voluntária, enfatizando a importância essencial de um exame neurológico que descarte outras causas para a sintomatologia apresentada. O diagnóstico é acompanhado por uma ampla lista de especificadores. Fatores psicológicos que afetam outras condições médica é incluído como um novo diagnóstico no DSM-5 e dizrespeito aos fatores psicológicos e comportamentais que podem afetar negativamente o estado de saúde por interferir em outras condições clínicas. O Transtorno factício, que anteriormente ocupava um capítulo próprio, é introduzido como um diagnóstico no capítulo dos Sintomas somáticos e outros transtornos relacionados do DSM-5. (ARAÚJO; NETO, 2014). 7.8 Alimentação e transtornos alimentares O capítulo Alimentação e transtornos alimentares reúne os diagnósticos descritos no DSM-IV-TR no capítulo dos Transtornos de alimentação juntamente com os Transtornos de alimentação da primeira infância que compunham o extinto capítulo dos Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência. Os diagnósticos de Pica e Transtorno de ruminação mantiveram 44 critérios semelhantes, mas foram revisados para que pudessem ser aplicados a indivíduos de qualquer idade (ARAÚJO; NETO, 2014). Os transtornos alimentares são caracterizados como perturbações que persistem na alimentação ou no comportamento alimentar, que pode começar já na infância. As crianças aprendem desde cedo em seu meio social a valorizar o corpo magro, devido a um padrão de beleza imposto atualmente e demonstram insatisfação com o corpo, mesmo estando com peso ideal. Isso pode resultar em dietas restritivas para o emagrecimento, levando a escolhas alimentares que acarretam um consumo alimentar descontrolado, ou jejuns prolongados que comprometem significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial (DSM V, 2013, apud FERREIRA 2018, p. 170). O antigo Transtorno da alimentação da primeira infância tinha descrições pouco precisas, com pouca aplicação prática, e no DSM-5 foi substituído pelo Transtorno de consumo alimentar evitativo/restritivo. O atual diagnóstico é descrito como um distúrbio alimentar manifestado por um fracasso persistente em atender às necessidades nutricionais ou energia necessária, associado com um ou mais dos seguintes sintomas: perda significativa de peso; deficiência nutricional significativa; dependência de nutrição enteral ou suplemento nutricional oral; acentuada interferência na função psicossocial (ARAÚJO; NETO, 2014). A Anorexia nervosa não sofreu mudanças conceituais, mas seus critérios foram reescritos para melhor compreensão. A exigência de amenorreia em mulheres pós- menarca foi retirada, pois observou-se que não se tratava de uma característica definidora. A presença de comportamentos persistentes que interferem no ganho de peso foi adicionada ao Critério B, que descrevia o medo intenso de ganhar peso ou engordar (ARAÚJO; NETO, 2014). A Anorexia Nervosa é caracterizada, principalmente, por restrição do consumo alimentar abaixo das necessidades diárias. Deste modo, dominados por um intenso medo de engordar, indivíduos que apresentem esta condição têm um peso abaixo do que seria suposto. Afeta, maioritariamente, adolescentes do sexo feminino com idades entre os 15 e os 19 anos. No entanto, tem-se verificado um aumento de incidência de AN precoce em crianças entre os 5 e os 13 anos. Embora o tratamento da anorexia nervosa seja mais fácil em idades mais jovens do que em adultos, trata-se de um processo complexo e demorado que exige uma abordagem multidisciplinar. (Goldschmidt, 2014, apud CARAMUJO, 2014, p. 14) O diagnóstico de Bulimia nervosa sofreu uma mudança no que diz respeito à frequência exigida de crises bulímicas e comportamentos compensatórios. NO DSM- IV-TR eram necessárias pelo menos duas crises por semana, por três meses, enquanto no DSM-5 a exigência cai para uma vez por semana, por três meses. 45 Embora a APA argumente que as características e evolução clínica dos pacientes com esse limiar sejam semelhantes, muitos profissionais criticaram a mudança pelo possível risco de superestimar a incidência do transtorno. O Transtorno de compulsão alimentar periódica, que foi apresentado no DSM-IV-TR (Apêndice B) como uma proposta para estudos adicionais, foi validado como diagnóstico no DSM-5 devido a sua utilidade clínica (ARAÚJO; NETO, 2014). 7.9 Disfunções sexuais O DSM-5 fragmentou o antigo capítulo Transtornos sexuais e da identidade de gênero, que deu origem a três novos capítulos: Disfunções sexuais, Disforia de gênero e Transtornos parafílicos. No atual manual, as Disfunções Sexuais são um grupo de transtornos heterogêneos tipicamente caracterizados por uma perturbação clinicamente significativa na capacidade de uma pessoa para responder sexualmente ou de sentir prazer sexual. É possível que um indivíduo apresente mais de uma disfunção sexual ao mesmo tempo, havendo ainda disfunções específicas de cada gênero. Para evitar o risco de superestimar as incidências dessas disfunções, a atual versão do manual requer uma duração mínima de seis meses, além de incluir critérios mais precisos para avaliar a severidade dos sintomas (ARAÚJO; NETO, 2014). O capítulo do DSM-5 reuniu os diagnósticos de Retardo da Ejaculação, Transtorno erétil, Transtorno do orgasmo feminino, Transtorno do desejo/excitação sexual feminino, Transtorno de dor gênito-pélvica/penetração, Transtorno do desejo sexual masculino hipoativo, ejaculação precoce e Disfunção sexual induzida por medicação/substância. Os diagnósticos de Vaginismo e Dispareunia do DSM-IV-TR foram somados para dar origem ao Transtorno de dor gênito-pélvica/penetração”, especialmente porque era muito frequente que os dois transtornos se apresentassem como condições comórbidas (ARAÚJO; NETO, 2014). 46 7.10 Disforia de gênero Segundo Nascimento, Junior e Pinho (2015) a Disforia de gênero é um diagnóstico que descreve os indivíduos que apresentam uma diferença marcante entre o gênero experimentado/expresso e o gênero atribuído. A mudança na nomenclatura do DSM-5 enfatiza o conceito de incongruência de gênero como algo a mais do que a simples identificação com o gênero oposto apresentada no DSM-IV-TR como Transtorno da identidade de gênero. No DSM-5, os critérios diagnósticos para a disforia de gênero são: A. Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses, manifestada por no mínimo dois dos seguintes: 1. Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e as características sexuais primárias e/ou secundárias… 2. Forte desejo de livrar-se das próprias características sexuais primárias e/ou secundárias em razão de incongruência acentuada com o gênero experimentado/expresso… 3. Forte desejo pelas características sexuais primárias e/ou secundárias do outro gênero. 4. Forte desejo de pertencer ao outro gênero (ou a algum gênero alternativo diferente do designado). 5. Forte desejo de ser tratado como o outro gênero (ou como algum gênero alternativo diferente do designado). 6. Forte convicção de ter os sentimentos e reações típicos do outro gênero (ou de algum gênero alternativo diferente do designado). B. A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (APA, 2014, apud HENRIQUES, 2019, p. 10). O DSM-5 trouxe maior detalhamento aos critérios diagnósticos, além de utilizar critérios específicos para identificar a Disforia de gênero na infância. No que diz respeito aos subtipos, o manual aboliu o uso dos especificadores que descreviam a orientação sexual destes indivíduos, especialmente porque a diferenciação não se mostrou clinicamente útil. Novos especificadores foram introduzidos no diagnóstico: a presença de condições médicas que interferem no desenvolvimento de caracteres sexuais (exemplo: síndrome de insensibilidade a andrógenos, hiperplasia adrenal) deve ser descrita como com um Transtorno do Desenvolvimento Sexual; a condição de indivíduos que realizaram a transição para o gênero desejado passou a serlistada como “Pós-Transição (NASCIMENTO; JUNIOR; PINHO, 2015). 47 7.11 Transtornos parafílicos O DSM-5 incluiu um capítulo para tratar especificamente dos “Transtornos parafílicos, distinguindo-os conceitualmente das Parafilias que eram apresentadas entre os “Transtornos sexuais e da identidade de gênero” no DSM-IV-TR. A atual versão do manual reconhece as Parafilias como interesses eróticos atípicos, mas evita rotular os comportamentos sexuais não-normativos como necessariamente patológicos. Para esse fim o DSM-5 utiliza o termo transtorno antes de cada uma das parafilias apresentadas (ARAÚJO; NETO, 2014). A distinção entre Parafilias e Transtornos parafílicos não gerou mudanças estruturais dos critérios diagnósticos estabelecidos para cada um dos transtornos listados. O Critério A caracteriza a natureza da parafilia (exemplo: um foco erótico em crianças ou em expor os órgãos genitais a estranhos) e o Critério B especifica as consequências negativas que transformam a parafilia em um transtorno mental (exemplo: angústia, prejuízo, dano ou risco de dano a si ou aos outros). Na ausência de consequências negativas a parafilia não implica obrigatoriamente um transtorno mental e a intervenção clínica pode ser desnecessária (ARAÚJO; NETO, 2014). [...] parafilia não é, por si só, transtorno mental, devendo ser distinguida de transtorno parafílico. A parafilia passa a ser transtorno quando causa sofrimento ou prejuízo ao indivíduo. Também quando leva a danos pessoais ou risco de dano a outros. Portanto, parafilia é uma condição necessária, mas não suficiente para diagnóstico de transtorno parafílico e, consequentemente, não requer intervenção clínica automática. (APA, DMS-5, 2013, apud ABDO, 2015, p. 12) A atual versão do manual introduziu dois novos especificadores que podem ser aplicados a qualquer um dos transtornos citados: em um Ambiente Controlado é primariamente aplicado aos indivíduos vivendo em ambientes que restringem as oportunidades de execução dos seus impulsos parafílicos; e em Remissão Completa é aplicado aos indivíduos que, há pelo menos cinco anos, não têm atuado em seus impulsos parafílicos. Existe certa discussão a respeito da adequação do termo remissão, visto que o fato do indivíduo resistir aos seus impulsos não significa obrigatoriamente mudança do interesse parafílico em si (ARAÚJO; NETO, 2014). 48 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARANTE, P. 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