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MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE M ovim ento, M usicalidade e Arte Virna Mac-Cord Catão Virna Mac-Cord Catão GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina Movimento, Musicalidade e Arte. Você terá, nesta doutri- na, um encaminhamento sobre como desenvolver aspectos do movimento, da musica- lidade e da arte em sala de aula. Isso se dará a partir de um olhar peculiar para a expressividade por meio de experiências que colaborem com o desenvolvimento dos alunos e potencializem a construção de di- versos conhecimentos, sempre lançando mão de linguagens geradoras. Para isso, é necessária sua participação nas atividades propostas, a � m de que o ciclo de construção de conhecimento para a atuação pedagógica se concretize: leia o material e os complementos indicados, articule teoria e prática participando das atividades pro- postas, lembre-se de interagir com os colegas e sistematize seus conhecimentos com as questões de estudo. Bom aprendizado! MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE CAPA_SER_PEDA_MOMUAR.indd 1,3 30/06/2021 10:50:07 © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Virna Mac-Cord Catão DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 2 30/06/2021 10:47:40 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 3 30/06/2021 10:47:41 Unidade 1 - O desenvolvimento psicomotor por meio das artes na infância Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 A Base Nacional Comum Curricular e as experiências das artes na Educação Infantil ................................................................................................................................... 13 Arte como linguagem na Educação Infantil ................................................................ 13 Fundamentos curriculares e legislativos .................................................................... 14 BNCC e artes .................................................................................................................... 16 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino de artes nos anos iniciais do Ensino Fundamental ........................................................................................................... 20 Ampliações sobre o ensino de artes na BNCC .......................................................... 21 Estratégias didático-pedagógicas para o desenvolvimento psicomotor por meio das artes na infância............................................................................................................23 Desenvolvimento e educação psicomotora ............................................................... 26 Estratégias didático-pedagógicas ................................................................................ 28 Sintetizando ........................................................................................................................... 33 Referências bibliográficas ................................................................................................. 34 Sumário SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 4 30/06/2021 10:47:41 Sumário Unidade 2 - O trabalho pedagógico do corpo e do movimento Objetivos da unidade ........................................................................................................... 37 Consciência corporal e o desenvolvimento infantil ...................................................... 38 Articulação dos movimentos naturais ........................................................................ 39 Desenvolvimento do corpo infantil ............................................................................... 42 Os sentidos ....................................................................................................................... 49 Arte e criatividade no desenvolvimento corporal ......................................................... 50 A influência da arte no desenvolvimento infantil ....................................................... 50 Criatividade ....................................................................................................................... 51 Artes como ferramenta pedagógica para o desenvolvimento do corpo .................. 52 O trabalho pedagógico do corpo ....................................................................................... 53 Orientações curriculares: BNCC .................................................................................. 54 Orientações didáticas para a Educação Infantil ........................................................ 55 Orientações didáticas para os anos iniciais do Ensino Fundamental .................... 58 Sintetizando ........................................................................................................................... 60 Referências bibliográficas ................................................................................................. 61 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 5 30/06/2021 10:47:41 Sumário Unidade 3 - O trabalho pedagógico de musicalização na Educação Infantil e no Ensino Fundamental Objetivos da unidade ........................................................................................................... 64 Música, musicalização e experiência estética ............................................................. 65 Música, linguagem e cultura ........................................................................................ 66 Musicalização X educação musical ............................................................................ 71 Experiência estética ....................................................................................................... 73 Música e desenvolvimento humano ................................................................................. 76 A criança, a música e o desenvolvimento .................................................................. 78 O trabalho pedagógico da música .................................................................................... 79 Música, interdisciplinaridade e transversalidade ..................................................... 80 O lúdico e os brinquedos cantados .............................................................................. 82 Música comolinguagem geradora: poesias, criações musicais, cores e formas .. 84 Sintetizando ........................................................................................................................... 86 Referências bibliográficas ................................................................................................. 87 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 6 30/06/2021 10:47:41 Sumário Unidade 4 - Projeto didático e o trabalho pedagógico de artes Objetivos da unidade ........................................................................................................... 90 Rotina, atividades permanentes e sequência de atividades: ......................................... o corpo em movimento ........................................................................................................ 91 Rotina ................................................................................................................................. 91 Atividades permanentes ................................................................................................ 92 Sequência de atividades ................................................................................................ 94 Projetos didáticos ................................................................................................................ 95 Fundamentos históricos ................................................................................................. 97 Conceito ............................................................................................................................ 98 A questão dos conteúdos ............................................................................................ 101 A realização de projetos didáticos ................................................................................. 103 Elementos essenciais ................................................................................................... 105 Abordagem interdisciplinar ......................................................................................... 106 Planejamento, execução e avaliação ........................................................................ 109 Sintetizando ......................................................................................................................... 112 Referências bibliográficas ............................................................................................... 114 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 7 30/06/2021 10:47:41 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 8 30/06/2021 10:47:41 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina Movimento, Musicalidade e Arte. Você terá, nesta doutrina, um encaminhamento sobre como desenvolver aspectos do movimento, da musicalidade e da arte em sala de aula. Isso se dará a partir de um olhar peculiar para a expressividade por meio de experiências que colaborem com o desenvolvimento dos alunos e poten- cializem a construção de diversos conhecimentos, sempre lançando mão de linguagens geradoras. Para isso, é necessária sua participação nas atividades propostas, a fi m de que o ciclo de construção de conhecimento para a atuação pedagógica se con- cretize: leia o material e os complementos indicados, articule teoria e prática participando das atividades propostas, lembre-se de interagir com os colegas e sistematize seus conhecimentos com as questões de estudo. Bom aprendizado! MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 9 Apresentação SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 9 30/06/2021 10:47:41 Dedico este trabalho a Deus, que me permite a vida; à minha família, pela formação que me deu; a todos os professores que mediaram minha educação escolar; e aos alunos nestes 23 anos de magistério, que tanto contribuíram com a minha formação. A professora Virna Mac-Cord Catão é doutora em Políticas Públicas e Forma- ção Humana pela UERJ (2020) e possui o título de Doutorado sanduíche, realizado entre 2017-2018 na Universidade do Mi- nho, em Braga, Portugal. Possui Mestra- do em Educação pela UFRJ (2011), além de ser Especialista em Administração Es- colar e Planejamento da Educação pela UERJ (2005) e em Gestão, Planejamento e Implementação da EaD pela UFF (2009). É também graduada em Pedagogia pela UERJ (2002). Possui experiência docente e em gestão, coordenação e supervisão da Educação Básica e Educação Superior (presencial e EaD), assim como na área de Gestão de Desenvolvimento Econômico Regional. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9366862523957331 MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 10 A autora SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 10 30/06/2021 10:47:41 O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR POR MEIO DAS ARTES NA INFÂNCIA 1 UNIDADE SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 11 30/06/2021 10:48:06 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Conhecer os registros legais para o desenvolvimento do trabalho com artes, movimento e musicalidade na Base Nacional Comum Curricular e nos Parâmetros Curriculares Nacionais; Introduzir os conceitos e princípios teóricos da psicomotricidade, assim como potencializar a elaboração de estratégias didático-pedagógicas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental por meio das artes; Possibilitar o conhecimento a respeito dos movimentos do corpo, compartilhando e criando formas de expressão na infância, a fim de que, considerando os sons, formas e cores, o/a pedagogo/a possa potencializar de maneira criativa a relação entre a criança e o espaço, colaborando com seu desenvolvimento psicomotor. A Base Nacional Comum Curri- cular e as experiências das artes na Educação Infantil Arte como linguagem na Educação Infantil Fundamentos curriculares e legislativos BNCC e artes Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino de artes nos anos iniciais do Ensino Fundamental Ampliações sobre o ensino de artes na BNCC Estratégias didático-pedagógicas para o desenvolvimento psicomotor por meio das artes na infância Desenvolvimento e educação psicomotora Estratégias didático-pedagógicas MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 12 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 12 30/06/2021 10:48:06 A Base Nacional Comum Curricular e as experiências das artes na Educação Infantil O trabalho pedagógico com artes na escola é fundamental para o desen- volvimento das múltiplas linguagens que formam as crianças. É na integra- ção entre vários aspectos como sensibilidade, afetividade, intuição, estética e cognição que a escola promove a interação e, consequentemente, a comu- nicação social. A linguagem mais evidente na primeira infância é a linguagem corporal. A criança começa a se relacionar com o mundo ao seu entorno ao descobrir as coisas, manuseá-las e se expressar por meio dos movimentos e das relações instituídas entre o seu corpo e os espaços que fazem parte de seu dia a dia. Além de componente curricular obrigatório na Educação Básica, as artes são mediadoras das diversas linguagens a serem desenvolvidas, ou seja: ao mesmo tempo que é conteúdo, é também uma ferramenta pedagógica que leva os sujeitos de aprendizagem a diferentes experimentações com o mundo ao seu retorno, estabelecendo uma mediação entre a criança, a expressivida- de e o conhecimento de mundo. Arte como linguagem na Educação Infantil A criança, desde o momento que passa a interagir com o mundo, se utiliza da linguagem para expressar suas ideias, assim como internaliza as coisas do mundo por meio do simbolismo e das práticas culturais presentes nos diferen- tes agrupamentos dos quais participa. Para se expressar, a criança utiliza diversas formas de manifestação, e as artes são uma delas. É por meio da expressividade que a criança também se desenvolve e interage com as pessoas, com o conhecimento, com o mundo propriamente dito. Por meio da arte, é possível desenvolver a percepção e a imaginação para apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capa- cidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvol-ver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2009, p. 21). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 13 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 13 30/06/2021 10:48:06 Nesta direção, a arte é mediadora do desenvolvimento e da aprendizagem. Res- salta-se que, quando falamos de mediação, estamos trazendo para o alicerce da discussão as ideias da teoria vygotskyana acerca da perspectiva histórico-cultural. EXPLICANDO Vygotsky foi um educador que realizou estudos também sobre a construção do conhecimento, dando mais ênfase ao social, e é devido a isso que sua teoria fi cou conhecida como sociointe- racionista. Para saber um pouco mais sobre Vygotsky, acesse o link disponibilizado, o qual conta uma publicação do Domínio Público/MEC que aborda tanto a biografi a quanto a teoria. A linguagem corporal é uma das formas iniciais da manifestação infantil em relação ao mundo. Assim, as linguagens artísticas que envolvem o movimento, a expressividade do corpo, são partes do trabalho pedagógico nesta etapa da Educação Básica. Fundamentos curriculares e legislativos A Educação Infantil nem sempre pertenceu ao sistema de ensino. Durante anos a visão assistencialista predominou, delegando para a escola infantil apenas os cui- dados com as crianças e deixando de lado uma proposta pedagógica. No Brasil, foi a partir dos anos 80 que a oferta de Educação Infantil passou a ser incumbência do poder público, prioritariamente municipal, ofertado em creches e pré-escolas. Desde então, a educação infantil passou a ser alvo de discussões, de pesquisas e de ressignifi cações. Em 1998, atendendo às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que estabelece, pela primeira vez na história do País, que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Bá- sica, é lançado, em três volumes, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, RCNEI. De acordo com o documento, a Educação Infantil deve propiciar às crianças o acesso a elementos culturais que enriqueçam o seu desenvolvimento e possam garantir sua inserção social (BRASIL, 1998). Para que isso aconteça, a criança necessita compreender as diferentes formas com as quais esses elementos culturais se manifestam nos espaços que circulam. Desta forma, as interações são necessárias, seja com os pares, com a cultura, ou MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 14 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 14 30/06/2021 10:48:06 com as linguagens, para que a inserção social aconteça, potencializando as diferen- tes formas de (res)significar o mundo. O objetivo de conceber um documento de referências não foi o de uniformizar as propostas curriculares, mas sim levar às escolas referências para que fosse possí- vel obter uma unidade nacional acerca das experiências proporcionadas às crianças de creches e pré-escolas. EXPLICANDO Aqui, ressalta-se que um currículo não é uma lista de conteúdos. A própria etimologia da palavra nos lembra “caminho”; assim, entende-se que neste caminho há um objetivo a ser alcançado e que perpassaremos vários conhecimentos conforme avançamos neste. Como citado anteriormente, o RCNEI é dividido em três volumes, apresentando reflexões, fundamentação e orientações de eixos a serem trabalhados. O primeiro volume, Introdução, apresenta uma reflexão sobre creches e pré-escolas no Bra- sil, situando e fundamentando concepções de criança, educação, instituição e do profissional de Educação Infantil. O segundo volume, Formação pessoal e social, aborda o eixo de trabalho que favorece os processos de construção da identidade e autonomia das crianças. O terceiro volume, Conhecimento de mundo, contém documentos referentes aos eixos orientados para a construção das linguagens e para as relações que estabelecem com a sociedade, movimento, com a música, matemática e natureza, com as artes visuais e com a linguagem oral e escrita. No que tange às artes, é possível destacar três áreas de conhecimento deli- neadas no volume 3 do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infan- til, conforme evidencia a Figura 1: A dança como manifestação corporal; Além das coreografias. Movimento Apreciação e produção musical; Críticas às músicas de comando. Música Valorização do trabalho da criança; Provocar a criatividade. Artes visuais Figura 1. Componentes curriculares: movimento, música e artes visuais. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 15 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 15 30/06/2021 10:48:07 As DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, revisa- das em 2010, explicitam que as experiências nessa etapa da educação escolar devem explorar o autoconhecimento e o conhecimento de mundo, no qual as crianças estão inseridas. Experiências corporais, sensoriais e expressivas de- vem ser proporcionadas, respeitando o nível de desenvolvimento das crianças, mas, ao mesmo tempo, potencializando gradativamente seu avanço nos níveis. No artigo 9º, fi ca claro que a Educação Infantil deve garantir vivências que: I – promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da am- pliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possi- bilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; II – favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expres- são: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; (...) IV – recriem, em contextos signifi cativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço-temporais; (...) IX – promovam o relacionamento e a interação das crianças com di- versifi cadas manifestações de música, artes plásticas e gráfi cas, cine- ma, fotografi a, dança, teatro, poesia e literatura (BRASIL, 2009). Entendemos, portanto, que a arte, na Educação Infantil, além de compo- nente curricular, age como fonte mediadora da aprendizagem, assim como possibilita o trabalho interdisciplinar, agregando outros conhecimentos. BNCC e artes Atendendo à proposta do PNE, que passou a vigorar a partir de 2014, se estabe- leceu a BNCC – ou Base Nacional Comum Curricular - para toda a Educação Básica, ou seja, seu alcance é a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. O objetivo da BNCC não é invalidar os documentos e leis já estabelecidas para a Edu- cação Básica: todos continuam valendo e devem dialogar com a BNCC. De acordo com a BNCC o início do processo educacional dá-se na Educação In- fantil, uma vez que “a entrada na creche ou na pré-escola signifi ca, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada” (BRASIL, 2017, p. 32). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 16 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 16 30/06/2021 10:48:07 Isso posto, ressalta-se que não houve mudança em relação aos eixos estruturais da Educação Infantil. Manteve-se o que estava descrito nas DCNEI de 2009/2010: o foco continua sendo a interação e a brincadeira. A novidade está na relação desses eixos com os direitos de aprendizagem e os campos de experiência. Se a educação é um direito, aprender também o é. No que diz respeito à Edu- cação Infantil, a BNCC estabelece seis direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Conviver Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociaise relacionais. Participar Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário QUADRO 1. DIRETOS DA APRENDIZAGEM Podemos observar que todos esses direitos se iniciam com verbos, e verbos sig- nificam ação. E é a partir de ações que haverá a promoção das experiências em diversos campos, e, assim, as crianças pequenas consolidarão seus direitos à apren- dizagem. Fonte: BRASIL, 2017, p. 34. (Adaptado). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 17 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 17 30/06/2021 10:48:07 Figura 2. Criança e artes. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/02/2021. Desta maneira, pode-se afirmar que Os campos de experiências constituem um arranjo curricular que aco- lhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crian- ças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. A definição e a denominação dos campos de experiências também se baseiam no que dispõem as DCNEI em re- lação aos saberes e conhecimentos fundamentais a ser propiciados às crianças e associados às suas experiências (BRASIL, 2017, p. 36). Considerando os saberes e os conhecimentos fundamentais, encontramos na BNCC cinco campos de experiência. O eu, o outro e o nós É a partir da interação e do convívio com outras crianças, que a criança começa a construir sua identidade e a descobrir o outro. Quando ela chega na escola, seu foco é seu próprio mundo (EU). Com o trabalho realizado no ambiente escolar, ela passa a perceber seus colegas (OUTRO) e logo está interagindo no meio dos outros (NÓS). Portanto, é na Educação Infantil que a criança amplia sua autopercepção, assim como a percepção do outro. Além de valorizar sua identidade, ela aprende a respeitar os outros e a reconhecer as diferenças entre ela e seus colegas. QUADRO 2. CAMPOS DE EXPERIÊNCIA MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 18 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 18 30/06/2021 10:48:22 Corpo, gestos e movimentos A criança explora o espaço em que vive e os objetos a sua volta com o corpo, por meio dos sentidos, gestos e movimentos. É nesse contexto – a partir das linguagens como música, dança, teatro e brincadeiras – que elas estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos. É na Educação Infantil que o corpo das crianças ganha centralidade. Por isso, é importante que a escola promova atividade lúdicas com interações, nas quais as crianças possam “explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.)” (BNCC). Traços, sons, cores e formas A convivência com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas no espaço escolar possibilita a vivência de várias formas de expressão e linguagens. A partir dessas experiências, as crianças desenvolvem seu senso estético e crítico, além da autonomia para criar suas produções artísticas e culturais. Dessa forma, é de extrema importância para a criança da Educação Infantil o contato com as artes visuais, música, teatro, dança e audiovisual, para que ela possa desenvolver sua sensibilidade, criatividade e sua própria maneira de se expressar. Escuta, fala, pensamento e imaginação O contato com experiências nas quais as crianças possam desenvolver sua escuta e fala são importantes para sua participação na cultura oral, pertencente a um grupo social. Além da oralidade, é fundamental que a criança inicie seu contato com a cultura escrita a partir do que já conhecem e de suas curiosidades. Ao escutar histórias, participar de conversas, ter contato com livros, as crianças irão desenvolver, além de sua oralidade, a compreensão da escrita como uma forma de comunicação. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações A criança da Educação Infantil está inserida em um mundo de descobertas, com espaços e tempos de diferentes dimensões. Logo, é nessa idade que ela começa a despertar sua curiosidade para o mundo físico, seu corpo, animais, plantas, natureza, conhecimentos matemáticos, bem como para as relações do mundo sociocultural. Por isso, a BNCC entende que, na Educação Infantil, a escola “precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações.” Dessa forma, a instituição cria oportunidades para a criança ampliar seu conhecimento de mundo, de modo a utilizá-los em seu cotidiano. A relação entre movimento, expressividade e artes é bem clara na BNCC, justamente porque, nessa faixa etária, a exploração do mundo se dá por meio da rela- ção criança (corpo) e espaço. Fonte: GONÇALVES et al., 2020. (Adaptado). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 19 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 19 30/06/2021 10:48:22 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino de artes nos anos iniciais do Ensino Fundamental A elaboração dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, na década de 90, veio consolidar o processo democrático de estabelecimento curricular no Brasil. Foram criados dez volumes e um específi co para tratar do componente curri- cular arte, obrigatório no Ensino Fundamental. No documento de consulta dos professores, o pensamento artístico e a percepção estética são destacados. A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artísti- co e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de orde- nar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibili- dade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas (BRASIL, 1997, p. 19). PCN de artes no Ensino Fundamental Para dar conta da pluralidade do contexto escolar, apresentou-se nos PCN a abordagem triangular, trazida por Ana Mae Barbosa, bem como seus desdobra- mentos. Ensinar arte, na perspectiva da triangulação (produção – fruição – refl e- xão), signifi ca articular três pontos conceituais: • A contextualização (fruição): o conhecimento da produção artística e estéti- ca da humanidade, compreendendo-a histórica e culturalmente; • A leitura da obra (refl exão): sua percepção e análise; • O fazer artístico (produção): sua criação e produção. Apreciar Praticar Contextualizar Proposta triangular Figura 3. Proposta triangular. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 20 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 20 30/06/2021 10:48:22 Nos PCN de artes, entende-se que o trabalho de artes envolve algumas di- mensões: artes visuais, dança, músicae teatro. Todas possuem o mesmo “peso” no trabalho pedagógico e potencializam a expressividade (verbal ou não verbal) e a sensibilidade. Ampliações sobre o ensino de artes na BNCC Sabemos que em 2017 o Governo Federal produziu a BNCC, cujo alcance é toda a Educação Básica. Desta maneira, a BNCC complementa e amplia algu- mas questões já trazidas pelos PCN. As artes, de acordo com a BNCC, compõem a área de linguagens a serem trabalhadas no Ensino Fundamental, tendo como fi nalidade: Possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem di- versifi cadas, que lhes permitam ampliar suas capacidades expressi- vas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas, como tam- bém seus conhecimentos sobre essas linguagens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil. (BRASIL, 2017, p. 59) As dimensões a serem trabalhadas em artes são ratifi cadas na BNCC: No Ensino Fundamental, o componente curricular Arte está centra- do nas seguintes linguagens: as artes visuais, a Dança, a Música e o Teatro. Essas linguagens articulam saberes referentes a produtos e fenômenos artísticos e envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e refl etir sobre formas artísticas. A sensibili- dade, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades se manifestam como formas de expressão no processo de aprendiza- gem em Arte (BRASIL, 2017, p. 189). Isso posto, ressalta-se que duas práticas são necessárias no trabalho de artes: a prática artística, que implica na produção em si, como exposições, saraus e espetáculos tea- trais; e a prática investigativa, de base conceitual e técnica desse fazer artístico. A BNCC ainda propõe seis dimensões de conhecimento no ensino de artes, apresenta- das no Quadro 3. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 21 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 21 30/06/2021 10:48:22 Criação Refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam, produzem e constroem. Trata-se de uma atitude intencional e investigativa que confere materialidade estética a sentimentos, ideias, desejos e representações em processos, acontecimentos e produções artísticas individuais ou coletivas. Essa dimensão trata do apreender o que está em jogo durante o fazer artístico, processo permeado por tomadas de decisão, entraves, desafios, conflitos, negociações e inquietações. Crítica Refere-se às impressões que impulsionam os sujeitos em direção a novas compreensões do espaço em que vivem, com base no estabelecimento de relações, por meio do estudo e da pesquisa, entre as diversas experiências e manifestações artísticas e culturais vividas e conhecidas. Essa dimensão articula ação e pensamento propositivos, envolvendo aspectos estéticos, políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais. Estesia Refere-se à experiência sensível dos sujeitos em relação ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo e aos diferentes materiais. Essa dimensão articula a sensibilidade e a percepção, tomadas como forma de conhecer a si mesmo, o outro e o mundo. Nela, o corpo em sua totalidade (emoção, percepção, intuição, sensibilidade e intelecto) é o protagonista da experiência. Expressão Refere-se às possibilidades de exteriorizar e manifestar as criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, tanto em âmbito individual quanto coletivo. Essa dimensão emerge da experiência artística com os elementos constitutivos de cada linguagem, dos seus vocabulários específicos e das suas materialidades. Fruição Refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas artísticas e culturais. Essa dimensão implica disponibilidade dos sujeitos para a relação continuada com produções artísticas e culturais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos sociais. Reflexão Refere-se ao processo de construir argumentos e ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos criativos, artísticos e culturais. É a atitude de perceber, analisar e interpretar as manifestações artísticas e culturais, seja como criador, seja como leitor. QUADRO 3. DIMENSÕES DO CONHECIMENTO DO ENSINO DE ARTES Fonte: BRASIL, 2017, p. 190-191. (Adaptado). Além das quatro linguagens (artes visuais, dança, música e tea- tro), propõe-se uma última unidade temática: a de artes integradas, que “explora as relações e arti- culações entre as diferentes linguagens e suas práticas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e co- municação” (BRASIL, 2017, p. 193). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 22 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 22 30/06/2021 10:48:22 Estratégias didático-pedagógicas para o desenvolvimento psicomotor por meio das artes na infância A relação espaço-criança Os estudos acerca do desenvolvimento psicomotor trazem considerações relevantes para a atuação docente em toda a Educação Básica, mas, priorita- riamente, na Educação Infantil, cujo alcance está ligado à primeira infância. Pensar o desenvolvimento infantil não é apenas da “cabeça para cima”, como é de costume, priorizando apenas o desenvolvimento cognitivo. A con- cepção aqui presente diz respeito ao desenvolvimento da criança como um todo, adotando, portanto, uma visão mais holística, mais integral. Cabe lem- brar que o desenvolvimento integral é objetivo da Educação Infantil, o que inclui o aspecto intelectual assim como os aspectos psicológico, emocional, social, entre outros, como já salientado na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96). Aspectos do desenvovimento Intelectual Físico Social Emocional Psicológico Figura 4. Aspectos do desenvolvimento integral da criança. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 23 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 23 30/06/2021 10:48:22 É na primeira infância que a formação dos esquemas corporais é iniciada, o que impulsiona o desenvolvimento motor para que o mundo à sua volta seja experienciado com liberdade, ou seja: para que a interação e compreensão da vida seja alicerçada. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, uma vez que ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, as quais devem ser orientadas para a emancipação e a liberdade, não para a submissão (BRASIL, 2017). Movimentar-se não é apenas deslocar-se: é uma forma de manifestação da linguagem que promove ações do sujeito com o mundo físico, ou seja, por meio do movimento a criança explora o seu corpo e o mundo ao seu entorno. Ao ex- plorar seu corpo, compreende suas dimensões, suas potencialidades e aprimo- ra/direciona seu corpo à atuação nos diferentes espaços em que está inserida. A escola é um desses espaços, assim como a sala de aula. As atividades que objetivam o trabalho com o movimento devem fazer parte do planejamento pedagógico, seja de forma intencional ou não. Figura 5. Atividade com movimento em sala de aula. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/02/2021. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 24 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 24 30/06/2021 10:48:28 O espaço proporcionado na Educação Infantil deve apresentar quadros que representem a organização do mundo, podendo dispor essas informações por meio de fotografias, obras de artes, textos, livros, entre outros, com objetos que pertençam ao mundo. A partir desse referencial, o mundo, é propício que as crianças possam experimentar situações de expressão diversas, como tea- tro e desenhos, utilizando materiais diferentes. O professor pode organizar o ambiente com materiais que propi- ciem a descoberta e exploração do movimento. Materiais que rolem pelo chão, como cilindros e bolas de diversos tamanhos, sugerem às crianças que se arrastem, engatinhem ou caminhem atrás deles ou ainda que rolem sobre eles. As bolas podem ser chutadas, lançadas, quicadas etc. Túneis de pano sugerem às crianças que se abaixem e utilizem a força dos músculosdos braços e das pernas para per- correr seu interior. Móbiles e outros penduricalhos sugerem que as crianças exercitem a posição ereta, nas tentativas de erguer-se para tocá-los. Almofadas organizadas num ambiente com livros ou gibis e brinquedos convidam as crianças a sentarem ou deitarem, concen- tradas nas suas atividades (BRASIL, 1998, p. 35). Como na primeira infância a criança está dando seus primeiros passos para compreender as coisas do mundo, seu corpo é a primeira referência que ela possui. Na Educação Infantil, portanto, o trabalho com o corpo é fundamental para a formação de conceitos a partir da organização do esquema corporal. Movimentando-se, a criança mani- festa seus desejos, suas vontades, seu entendimento sobre o mundo, assim como a maneira de utilizar seu corpo para explorar e conceituar objetos, ações, formular hipóteses, entre ou- tros. Assim, conhecer o corpo e explo- rá-lo é trabalhar a identidade; mas interagir com o corpo e com os espaços que estão à sua volta faz parte do processo de construção do conhecimento. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 25 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 25 30/06/2021 10:48:49 Desenvolvimento e educação psicomotora A psicomotricidade tem grande importância nos primeiros anos de vida de uma criança, posto que é um momento de descoberta: descobre-se os objetos, os outros e seu próprio mundo, ou seja, descobre-se o mundo se descobrindo. O ato de se movimentar está em todas as ações do ser humano: nos movimentamos para nos deslocarmos, para nos alimentarmos, para nos limparmos, seja na escola, nas viagens ou nas ruas, enfim, na vida. Desta maneira, quando nos movimentamos expressamos pensamentos e senti- mentos. É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos, e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, esta descoberta a partir dos objetos só será verdadei- ramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais par- te de sua simples atividade corporal indiferenciada (OLIVEIRA, 2007, p. 34). Entendemos, portanto, que o corpo atua como um mediador entre meio e objeto de conhecimento nas experiências proporcionadas pelos diferentes espaços nos quais a criança circula. Entendemos a criança como um ser-histórico, que se relaciona com o mundo por meio de suas interações e experiências. Esta comunicação se dá por intermédio do corpo, compreendido en- quanto totalidade localizada culturalmente. Portanto, é impor- tante a construção do movimento da criança (LORO, 2007, p. 11). A educação psicomotora na escola é aquela que, por meio da manipulação mental, faz com que as crianças manifestem sua expressão corporal, é a harmonia entre os movimentos para se alcançar determinadas finalidades. Para que isso aconteça, alguns elementos básicos são essen- ciais para o desenvolvimento do esquema corporal e seu uso devido, como sinalizado na Figura 6. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 26 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 26 30/06/2021 10:48:49 No que diz respeito a esses elementos, algumas reflexões são importantes no que tange à educação escolar: • Antes de adquirir o controle do corpo, a criança adquire a sensação e a per- cepção por meio de estímulos sensoriais: superfície, temperatura, peso, entre ou- tros. Depois de sentir, passa a utilizar essas sensações como parte de seu cotidia- no, seja nas experiências proporcionadas ou mesmo nas brincadeiras na escola; • O equilíbrio é outro elemento básico e diz respeito à posição ereta, à sensibili- dade da ponta do pé ao caminhar alternando as pernas. O contato do corpo com o chão é extremamente importante: rolar, deitar, sentar, rastejar, ajoelhar; • Naturalmente, o homem tem um lado dominante. No início de sua vida, a criança vai experimentando os lados e vendo qual será seu dominante. Algumas ações, como o ato de escrever, dependem da definição da lateralidade. A princípio denominamos, por exemplo, “um lado e outro lado”, para posteriormente a crian- ça compreender o conceito de esquerda e direita, assim como outros movimentos como em cima e embaixo, dentro e fora. • Os membros são independentes e o ser humano, por meio de seus esquemas mentais, controla seus esquemas musculares: o cérebro dá uma ordem e o corpo obedece à esta. A brincadeira “batatinha frita 1, 2, 3” é um ótimo exemplo para o controle do corpo e de seus membros; • Por fim, o controle da respiração também é um elemento importante e que auxilia na concentração das atividades. Saber adequar a respiração para a concre- tização dos movimentos necessários é acionar esquemas mentais e musculares. Didaticamente, é possível elencar as áreas pedagógicas para o trabalho da edu- cação psicomotora: Percepção e controle do corpo Independência dos membros Controle muscular e respiratório Equilíbrio Lateralidade Figura 6. Elementos básicos da psicomotricidade. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 27 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 27 30/06/2021 10:48:49 Comunicação e expressão Percepção Coordenação Orientação Conhecimento corporal Lateralidade Habilidades conceituais Habilidades psicomotoras para a escrita Figura 7. Áreas pedagógicas da psicomotricidade. Comunicação e expressão são essenciais na troca de experiências, verbal ou gestualmente, das crianças com o mundo. A percepção é o reconhecimento de estímulos, ligados à atenção, consciência e memória, ao passo que a coor- denação motora pode ser dividida em ampla (movimentos largos) e fi na (como o pinçar para a utilização de objetos para escrever). A orientação diz respeito ao trabalho com os espaços e com o tempo e o conhecimento com o corpo é o trabalho de esquema corporal e, consequentemente, o de lateralidade. Já as habilidades conceituais, geralmente, estão associadas a conceitos ma- temáticos, como tamanho, número e forma. Por fi m, as habilidades para a es- crita relacionam-se aos conceitos de progressão da escrita (da esquerda para a direita), assim como os movimentos retos ou curvilíneos para a representação gráfi ca das letras. Estratégias didático-pedagógicas Partindo do pressuposto de que a criança se desenvolve de condições me- nos elaboradas para as mais elaboradas, fi ca claro que quanto menor for a criança maiores serão as responsabilidades do(a) professor(a) com o trabalho do corpo e movimento, o que incide mais fortemente nos primeiros anos da Educação Básica, ou seja, na Educação Infantil e em sua organização entre cre- che e pré-escola. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 28 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 28 30/06/2021 10:48:49 O espaço de sala de aula deve proporcionar, primeiramente, o trabalho de (re)conhecimento do corpo. Assim, o espelho trabalha a linguagem corporal e a sua apropriação. A aquisição da consciência dos limites do próprio corpo é um as- pecto importante do processo de diferenciação do eu e do outro e da construção da identidade. Por meio das explorações que faz, do contato físico com outras pessoas, da observação daqueles com quem convive, a criança aprende sobre o mundo, sobre si mesma e comunica-se pela linguagem corporal (BRASIL, 1997, p. 15). Assim, ressalta-se que no espelho é possível trabalhar a autoimagem, a imi- tação, a expressividade, o esquema corporal (reconhecimento das partes do corpo), a lateralidade e a coordenação motora. Figura 8. Bebê no espelho. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/02/2021. Outras atividades, como o banho e a massagem, também oportunizam a exploração do corpo da criança, possibilitando a experimentação de diferentes sensações. Desta maneira, o brincar constitui a cultura da infância, envolvendo significa- ções e visões que sustentam as relações entre as crianças, assim como as formas pelas quais interpretam, representam e agem sobre o mundo. Para se relacionar com o mundo e com os outros,por meio da brincadeira, o corpo se manifesta. Desta forma, a brincadeira potencializa a exploração do corpo e do espaço. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 29 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 29 30/06/2021 10:48:53 EXPLICANDO Para garantir que os objetivos sejam cumpridos, as DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil) colocam como eixos nor- teadores do currículo de educação infantil a interação e a brincadeira. Ou seja: os fatores relacionais ganham destaque neste texto legislativo por entender que a criança aprende na interação com o outro (perspectivas interacionista e sociointeracionista), assim como aqueles lúdico-experi- mentais, por perceber que a criança está em constante aprendizagem. Brincando sozinha ou com os outros, participando de atividades lúdicas, as crianças constroem um repertório de brincadeiras e de referências culturais que compõem a cultura lúdica infantil, ou seja: o conjunto de experiências que per- mite às crianças brincarem juntas. As brincadeiras que compõem o repertório infantil e que variam conforme a cultura regional apresentam-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como empinar pipas, jogar bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha etc. (BRASIL, 1998, p. 25). Inicialmente, os jogos sensório-motores são os que predominam até os dois anos de idade: jogos de encaixe, alinhavos, figura-sombra, assim como se es- conder, aparecer, imitação, entre outros. A evolução desses jogos faz com que a criança comece a estabelecer o simbolismo e um sistema de representações, tornando-se um momento denso no que diz respeito à expressividade, como é o caso das brincadeiras de roda. Figura 9. Crianças brincando em roda. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/02/2021. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 30 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 30 30/06/2021 10:49:01 Participar de brincadeiras de roda ou de danças circulares, como “A Galinha do Vizinho” ou “Ciranda, Cirandinha”, favorecem o desen- volvimento da noção de ritmo individual e coletivo, introduzindo as crianças em movimentos inerentes à dança. Brincadeiras tradicio- nais como “A Linda Rosa Juvenil”, na qual a cada verso corresponde um gesto, proporcionam também a oportunidade de descobrir e ex- plorar movimentos ajustados a um ritmo, conservando fortemente a possibilidade de expressar emoções (BRASIL, 1988, p. 31). Os jogos de regras, mais presentes durante os anos iniciais do Ensino Funda- mental, também são importantes para desenvolver capacidades corporais como o equilíbrio e a coordenação motora. Assim, entendemos que o movimento é linguagem na primeira infância. O corpo e o movimento são formas de expressão que traduzem ideias, pensamen- tos, vontades, criatividade, entre outros. Já as artes, enquanto proposta, são arti- culações didáticas que impulsionam o trabalho psicomotor na sala de aula. Desta maneira, por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro ou as brincadeiras de faz de conta, as crianças se comunicam e se ex- pressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem (BRASIL, 2017). A dança é uma estratégia didático-pedagógica que, além da manifestação cultural, proporciona a consciência corporal ligada ao meio em que a criança está inserida. Dançar não significa apenas promover coreografias em apresentações temáticas: dançar é uma forma de manifestação e de explorar o próprio corpo. Figura 10. Bebê dançando. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/02/2021. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 31 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 31 30/06/2021 10:49:05 Brincadeiras de roda, principalmente as musicalizadas, proporcionam um trabalho com a lateralidade, o controle do corpo e da respiração, o equilíbrio, entre outros, além da interação inerente à ação pedagógica em si. Por fim, o teatro também é uma estratégia que vai além da função integradora, uma vez que po- tencializa as experiências por meio de interpre- tações e visões de mundo, assim como a mani- festação dessa apropriação por meio do corpo e movimento. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 32 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 32 30/06/2021 10:49:05 Sintetizando Nessa aula vimos, primeiramente, os elementos curriculares que dizem respeito ao ensino de artes na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Isso posto, ressalta-se que, como referência para a Educação In- fantil, são essenciais o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, RCNEI, e a Base Nacional Comum Curricular, BNCC. Ambos provocam a reflexão sobre como o trabalho com o movimento e artes se sustenta nos eixos das interações e brincadeiras. No que diz respeito ao Ensino Fundamental, temos também como referên- cia os Parâmetros Curriculares Nacionais e a BNCC. Aqui, é necessário evidenciar que o processo de triangulação (produção – fruição – reflexão) do ensino de artes está presente nas duas orientações, sen- do necessárias, portanto, a contextualização, a apreciação e a prática. Por fim, exploramos como as estratégias pedagógicas devem levar em con- sideração a cultura no qual a criança está inserida, assim como o nível de de- senvolvimento em que esta se encontra. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 33 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 33 30/06/2021 10:49:05 Referências bibliográficas BARBOSA, A. M. T.; COUTINHO, R. G. Arte/Educação como mediação cultu- ral e social. São Paulo: UNESP, 2009. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 29 mar. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010. 36 p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_do- cman&view=download&alias=9769-diretrizescurriculares-2012&category_ slug=janeiro-2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 06 maio 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017. 468 p. Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-ane- xo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Ite- mid=30192>. Acesso em: 06 maio 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 18 dez. 2009. Disponível em: <http:// www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/RESCNE005_2009.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fun- damental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. 130 p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/li- vro06.pdf>. Acesso em: 06 maio 2021. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fun- damental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: co- nhecimento de mundo. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf>. Acesso em: 06 maio 2021. GONÇALVES, B. S. et al. Base Nacional Comum Curricular: tudo sobre ha- bilidades, competências e metodologias ativas na BNCC: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio.São Paulo: Editora Dialética, 2020. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 34 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 34 30/06/2021 10:49:05 IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores). LORO, A. P. Corpo em Movimento - Ação pedagógica visa a promover vivências significativas na infância. Revista do Professor, Rio Pardo, v. 92, p. 07-12, 2007. MALAGUZZI, L. Ao contrário, as cem existem. In: EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FOR- MAN, G. As cem linguagensda criança: a abordagem de Reggio Emilia na edu- cação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999. OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psico- pedagógico. Vozes: Petrópolis, 2007. TUNES, E.; TACCA, M. C. V. R.; BARTHOLO JR., R. S. O professor e o ato de ensinar. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 126, p. 689-698, dez. 2005. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-15742005000300008>. Acesso em: 06 maio 2021. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 35 SER_PEDA_MOMUAR_UNID1.indd 35 30/06/2021 10:49:05 O TRABALHO PEDAGÓGICO DO CORPO E DO MOVIMENTO 2 UNIDADE SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 36 30/06/2021 11:13:19 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o contexto de atuação pedagógica na infância, de forma que promova a consciência corporal e o desenvolvimento da criatividade infantil; Fomentar o resgate de movimento natural na infância, articulando-o à importância da arte no aprendizado; Conhecer os processos de desenvolvimento humano e seus processos evolutivos, tomando como referência os estudos piagetianos e wallonianos; Ampliar as percepções do profissional da pedagogia quanto ao desenvolvimento de planos de trabalho com crianças no ambiente escolar, considerando o uso do ambiente, dos sons, artes e movimentos. Consciência corporal e o desen- volvimento infantil Articulação dos movimentos naturais Desenvolvimento do corpo infantil Os sentidos Arte e criatividade no desen- volvimento corporal A influência da arte no desen- volvimento infantil Criatividade Artes como ferramenta peda- gógica para o desenvolvimento do corpo O trabalho pedagógico do corpo Orientações curriculares: BNCC Orientações didáticas para a Educação Infantil Orientações didáticas para os anos iniciais do Ensino Fundamental MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 37 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 37 30/06/2021 11:13:19 Consciência corporal e o desenvolvimento infantil Desde o nascimento, inicia-se o processo de educação da criança. Pri- meiramente, com a família, que é a primeira instituição social da qual faz parte; poste- riormente, outras entram em seu percurso, como é o caso da escola. Ao entrar na es- cola, a criança já traz uma bagagem oriun- da das experiências realizadas ao longo do seu crescimento. Nesta direção, a partir dos próprios referenciais da criança, a escola assu- me o papel de potencializar a exploração do mundo, da des- coberta de novas experiências, objetivando desenvolver suas habilidades cognitiva e, consequentemente, corporais. Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser, Esquecer (ANDRADE, 1973, p. 112). A poesia Verbo ser, de Carlos Drummond de Andrade, nos traz algumas refl exões sobre o corpo, mostrando o quanto o seu signifi cado é imbuído de identidade. O corpo é a identidade, daí a importância de se reconhecer por meio dele. Não estamos falando de aceitação, mas de autoconhecimento, que fomenta a nossa capacidade de se relacionar com o mundo, com as pessoas, com as coisas. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 38 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 38 30/06/2021 11:13:19 Além de reconhecer o nosso corpo como um elemento de identidade, viven- ciá-lo é essencial para uma concepção mais holística de sujeito. Essa vivência é o que chamamos de corporeidade, e engloba as dimensões física, cultural, social, política etc. Em outras palavras, as experiências humanas são realizáveis por intermédio do corpo: sentimos, nos expressamos, descobrimos por meio do corpo. É assim que o homem faz a sua história e concretiza a sua existência. [...] a consciência do corpo deve ser considerada como a consciência dos meios pessoais de ação, ela é resultado da experiência corporal, experiência reorganizada permanentemente, graças à novidade que o indivíduo deve assumir (VAYER, 1982, p. 19). Desenvolver a consciência corporal é um fator que se deve estimular desde os primeiros anos de vida, respeitando-se as fases do desenvolvimento e, con- sequentemente, as capacidades que caracterizam essas fases. Articulação dos movimentos naturais O movimento é fator primordial do desenvolvimento da criança, principal- mente na primeira infância. Movimento é linguagem corporal. Ao nascer, a criança utiliza o seu corpo para interagir com as pessoas, com os espaços de seu convívio. Ações simples que as crianças realizam são formas de expressar emoções e pensamentos. Bebês engatinham, manuseiam objetos, levam até a boca para provar determinadas coisas. Crianças pulam, correm, brincam. Todos esses são movimentos que levam a criança a entender o mundo ao seu redor, tendo como referência o seu próprio corpo, ou melhor, o conceito de si própria. Oliveira (2000, p. 60) ratifi ca essa concepção quando afi rma que “a cons- trução do conceito de si mesmo é um dos desenvolvimentos mais importantes do indivíduo, pois permite uma melhor com- preensão e percepção do mundo e das pessoas que o cercam”. Naturalmente, os movimentos podem ser estimulados, desde muito pequenos, nas crianças: em uma conversa, na alimentação, na hora do banho, na demonstração de carinho por alguém. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 39 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 39 30/06/2021 11:13:19 É muito comum a escola vetar os movimentos naturais da criança. A crian- ça, quando entra para a escola, é tolhida de se movimentar porque geralmen- te, isto é visto como indisciplina e não como uma forma de manifestação e exploração do próprio corpo infantil. Logo, a criança é colocada sentada em uma cadeira, com os braços em cima de uma mesa, em uma posição recep- tora de conhecimento, vestígios de uma pedagogia tradicional, imagem que invoca uma certa “docilização dos corpos” (FOUCAULT, 2009). Figura 1. Crianças sentadas em uma escola, fruto de uma educação tradicional. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/03/2021. Foucault, em seus escritos, pontuou que há uma repressão do corpo por parte das instituições (e aqui incluímos a escola), como forma de exercício do poder, impondo a disciplina como controle dos corpos, tornando-os “dóceis”. O filósofo faz ainda uma associação com o sistema capitalista, em que a clas- se dominante exerce um controle sobre os sujeitos, objetificando-os, “docili- zando-os”, e, assim, os impossibilitando de pensar, gerando a representação da subalternidade imposta pelo sistema. Neste sentido, a escola reproduz o sistema e as condições preestabelecidas por ele. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 40 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 40 30/06/2021 11:13:24 ASSISTA Michel Foucault, filósofo francês, elaborou críticas acerca das instituições sociais com teorias que criticavam as relações de poder. Geralmente descrito como pós-moder- no, apontou rompimentos com a herança moderna dita capitalista. Em seu livro Vigiar e Punir, o autor aborda a análise das instituições da vigilância e da punição. Dentre as instituições criticadas, inclui a escola. Para saber um pouco mais sobre o filósofo e suas teorias, assista ao documentário Michel Foucault (Globo Ciência). Por meio do veto da expressão corporal, percebemos ações de contro- le que repudiam as manifestações espontâneas e naturais das crianças. É muito comum, tomando as Artes como referência, que na Educação Infantil tenhamos “musiquinhas de comando” como forma de controle dos corpos infantis. Desta forma, todos agem dentro de um formato preestabelecido, negando a expressão e a criatividade. Figura 2. Criança, castigo e docilização dos corpos naescola. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/03/2021. DICA Quer saber um pouco mais sobre essa questão dos “corpos dóceis”? Indicamos a leitura do texto A docilização do corpo na Educação Infantil (CARVALHO; AGUIAR; COSTA, 2019). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 41 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 41 30/06/2021 11:13:31 Percebemos, portanto, a utilização das Ar- tes voltada para padrões comportamentais ou fi xação de conteúdos, distanciando o sujeito de um processo de refl exão, pois não viabiliza a expressão do indivíduo perante o mundo. Neste sentido, há uma docilização dos corpos, uma domesticação, a escola acaba valorizando os movimentos mecânicos e não aqueles que favorecem a interação e, conse- quentemente, a aprendizagem. É um fato a concepção estática, estruturada e formal, ignorando as potencialidades educativas do ato de se movimentar, em detrimento de uma valorização do movimento natural e es- pontâneo da criança. É um grande desafi o superar a concepção de que movi- mento é indisciplina. Desenvolvimento do corpo infantil O desenvolvimento do corpo infantil é essencial, principalmente, nos pri- meiros anos de vida, para captar as coisas do entorno e compreender ele- mentos fundamentais para a inserção nos diferentes contextos como afi rma Garaudy (1980, p. 49): O corpo é o instrumento mais importante que o ser humano dis- ponibiliza para trabalhar, se transformar. A pessoa, quando dan- ça, utiliza o corpo experimentando diversas sensações, desco- brindo inúmeras possibilidades de se movimentar, de se conectar consigo mesma, descobrindo formas de se sentir bem com seu próprio corpo. Diversas teorias sobre o desenvolvimento foram organizadas, principal- mente, nos dois últimos séculos. Tomemos como referência de estudo dois pesquisadores: Jean Piaget e Henri P. H. Wallon, ambos cognitivistas, que abor- dam o sujeito ativo perante o meio. Piaget foi um teórico pioneiro no que diz respeito à motricidade infantil. Apesar do foco de seus estudos estar ligado às questões de inteligência e cog- nição, foi o primeiro a reconhecer uma inteligência denominada como motora. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 42 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 42 30/06/2021 11:13:31 Segundo Piaget, o desenvolvimento se dá em etapas sucessivas e propõe quatro “estádios” (etapas) de desenvolvimento, conforme o Quadro 1. Idade Período Características 0-2 anos Sensório-motor Desenvolvimento da consciência do próprio corpo, diferenciando-o do restante do mundo físico. A inteligência progride em três estágios: reflexos do mundo hereditário, organização das percepções e hábitos e inteligência prática. 2-7 anos Pré-operacional Desenvolvimento da linguagem com três consequências para a vida mental: • Socialização da ação com trocas entre os indivíduos; • Desenvolvimento do pensamento, a partir do pensamento verbal: finalismo (os porquês), animismo e artificialismo; • Desenvolvimento da intuição. 7-11/12 anos Operações concretas Desenvolvimento do pensamento lógico sobre coisas concretas; compreensão das relações entre coisas e capacidade para classificar objetos; superação do egocentrismo da linguagem; aparecimento das noções de conservação de substância, peso e volume. 12 anos em diante Operações formais Desenvolvimento da capacidade para construir sistemas e teorias abstratas, para formar e entender conceitos abstratos, como os conceitos de amor, justiça, democracia etc.; do pensamento concreto sobre coisas para o pensamento abstrato, “hipotético-dedutivo”, isto é, o indivíduo torna-se capaz de chegar a conclusões a partir de hipóteses: se A é maior que B e B é maior que C, A é maior que C. QUADRO 1. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO (PIAGET) Fonte: BARROS, 2006, p. 54-62. (Adaptado). CITANDO Piaget nasceu na Suíça, em 1896. Vindo de uma família culta, aos 7 anos, tinha o interesse por determinados estudos de ordem científica. Sua formação inicial foi Biologia, mas também estudou Filosofia e, aos 22 anos, finalizou o doutorado em Ciências Naturais. De formação inicial em Biologia, teve preocupações eminentemente epistemológicas, tendo se dedicado ao estudo de como o ser humano constrói conhecimento. Ao estudar as origens dos seres vivos, por meio dos estudos da ontogênese e filogênese, direcionou sua pesquisa para as características essencial- mente humanas. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 43 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 43 30/06/2021 11:13:31 Ao avaliar o Quadro 1, podemos perceber que o desenvolvimento motor se concentra principalmente nos primeiros anos de vida. Nesse período, o bebê busca adaptar-se ao meio em que vive, compreender o mundo que o cerca, e, para isso, utiliza seus esquemas motores. De certa forma, este é o ponto de partida do desenvolvimento motor infantil – a primeira infância, os primeiros anos de vida. Nesta idade, a criança desenvolve a sua coordenação motora, a diferenciar seu corpo em relação aos demais objetos, suas experiências são concretas. Em suma, a linguagem não verbal está muito presente nesta etapa. O sistema nervoso central vai amadurecendo e a criança aprimora as suas ha- bilidades motoras. Assim, tudo começa a partir do amadurecimento desses esquemas para que, na sequência, outros sejam desenvolvidos. Apesar da etapa pré-opera- cional se constituir por meio de representações, esses esquemas motores co- meçam a “afinar”, ou seja, a ser utilizados de forma mais específica, como, por exemplo, desenhar elementos mais detalhados (não apenas garatujas), escre- ver e colorir. Tomemos também como referência de estudo os fundamentos de Henri Wallon sobre o desenvolvimento motor infantil. Para Wallon, o de- senvolvimento humano está relacionado a uma integração entre o organismo e o meio. O autor afirma ainda que o processo de desenvolvimento ocorre de maneira descontínua, não linear, o que significa que o de- senvolvimento humano não adiciona novas for- mas, e sim que se reorganiza o tempo todo por meio dos elementos já presentes. CITANDO As experiências do francês Wallon durante a Primeira Guerra Mundial o levaram a se interessar pelos problemas de desenvolvimento motor e mental na infância. Na educação, seu trabalho ganhou notoriedade com o projeto de reforma do ensino francês (que não foi implementado). No plano, chamado “Langevin-Wallon”, ele e o Ministro da Educação Lan- gevin propunham a organização da educação escolar em ciclos. A partir de 1922, adotou as ideias da Escola Nova, focando nos métodos ativos de aprendizagem e na observação das crianças perante os objetos de conhe- cimento e experiências proporcionadas. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 44 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 44 30/06/2021 11:13:31 Além de pontuar que o desenvolvimento humano se dá em uma integra- ção entre o organismo e o meio, Wallon ainda elenca três domínios funcionais fundamentais: a afetividade, a cognição e o movimento. Afirma que a função motora é predominante nos primeiros meses da criança e as demais funções (afetiva e cognitiva) estão mais presentes nas etapas posteriores, porém sa- lienta que todas elas se alternam ao longo do processo de desenvolvimento. O recém-nascido, no seu comportamento, só tem reacções descon- tínuas, esporádicas e sem outro resultado que não seja o de liqui- dar pelas vias então disponíveis quer tensões de origem orgânica, quer as suscitadas por excitações exteriores. As gesticulações não podem ter para ele nenhuma utilidade prática. Nem sequer con- seguiriam modificar-lhe uma posição incómoda ou perigosa. É-lhe indispensável uma assistência a todos os instantes. É um ser cujas reacções têm todas necessidades de ser completadas, compensa- das, interpretadas. Incapaz de nada efectuar por si só, é manipulado por outrem, e é nos movimentos de outrem que tomarão forma as suas primeiras atitudes (WALLON, 1975, p. 151). Podemos afirmar, portanto, que a concepção walloniana está caracterizada por esse conjunto, poressa integração entre os domínios supracita- dos, cuja dinâmica é não linear. Isto é, em cada momento e em cada etapa, um domínio é predominante, o que não anula os outros. Tendo em vista essa dinâmica de predominân- cia, Wallon organizou seus estudos sobre o desen- volvimento humano em cinco principais estágios ou etapas (Quadro 2). QUADRO 2. DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO E SEUS DOMÍNIOS, DE ACORDO COM WALLON Impulsivo emocional Sensório-motor e projetivo Personalista • 0 a 1 ano; • Reflexos; • Movimentos naturais. • 1 a 3 anos; • Exploração do espaço físico; • Movimentos intencionais. • 3 a 6 anos; • Formação da personalidade; • Relações afetivas. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 45 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 45 30/06/2021 11:13:31 Categorial Adolescência • 6 a 11 anos; • Inteligência; • Aspectos cognitivos. • A partir de 11 anos; • Conflitos de personalidade; • Relações afetivas. Assim, de acordo com o observado no Quadro 2, conclui-se que, por volta dos três anos, as aquisições fundamentais neuromotoras já são coordenáveis, como andar, pular, falar, se expressar por meio do corpo e de brincadeiras. Figura 3. Criança pulando amarelinha: exemplo de ação coordenável. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/04/2021. Para que essa dinâmica entre os domínios ocorra, é necessária a maturação orgânica do corpo e a vivência de experiências que abranjam esses domínios. É importante salientarmos que o ato inteligente está presente em todos esses domínios. Por exemplo, quando a criança se propõe a pegar algo é porque o ato mental está em processamento e coordenando o corpo para que a ação aconteça. Como a criança pequena ainda não desenvolveu a fala, o corpo ga- nha destaque nas fases iniciais do desenvolvimento infantil. Na primeira infância, ainda é possível categorizar o domínio motor em su- betapas, que retratam a ligação entre maturação e experiência neuromotor, (Quadro 3). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 46 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 46 30/06/2021 11:13:33 QUADRO 3. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO NEUROMOTOR NA 1ª INFÂNCIA, SEGUNDO WALLON Etapas Características Impulsividade motora Os atos são simples descargas de reflexos. Emotiva As emoções estão ligadas ao tônus muscular. As crianças sentem as situações por meio da agitação (interação criança e meio). Sensitivo-motora A criança consegue coordenar, mutuamente, diversas percepções (internaliza a “marcha”, desenvolve o simbolismo e a linguagem). Projetiva A mobilidade já é intencional. Os gestos representam o ato mental e suas necessidades (é uma inteligência prática e simbólica). Após a primeira infância, a criança já construiu a consciência corporal, as- sim como o domínio da lateralidade, orientação espacial, coordenação motora ampla e fina etc.; ou seja, neste período da primeira infância, as aprendizagens motoras essenciais ocorrem e há integração com o plano social. Figura 4. Criança e ações que promovem o aprimoramento da coordenação motora. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/03/2021. Fonte: WALLON, 1975, p. 155-170. (Adaptado). MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 47 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 47 30/06/2021 11:13:37 Por volta dos dois a três anos, a criança passa a simbolizar o mundo, o que possibilita o acesso ao conhecimento cultural por intermédio do meio social em que a criança está inserida. Ao simbolizar o mundo, incorpora esses objetos culturais, assim como é produtora dos mesmos. É por meio desta capacidade de simbolizar as coisas que o gesto passa a compor um elemento importante: o da imitação. Por exemplo, uma criança pegando os talheres para fazer uma refeição. Utilizar os talheres é um hábito cultural incorporado ao dia a dia da criança. Desta forma, ela imita o gesto do adulto, incorpora aqueles novos ele- mentos do meio e passa a utilizá-los em sua convivência. Chamamos os pensa- mentos apoiados por gestos de ideomovimentos, que vão além das atividades sensório-motoras da etapa anterior. O gesto possibilita concretizar o objeto e até mesmo substituí-lo. Isto sig- nifica que a criança simula uma situação em que utiliza determinado objeto, mesmo sem tê-lo, de fato, consigo. Também chamamos esse estágio de eta- pa do faz de conta, cuja representação se faz no mundo da imaginação, da fantasia, como desdobramento da realidade. Neste momento, podemos dizer que a atividade motora está subordinada à representação. Ela existe, mas está diretamente ligada ao sistema de representações, de simbolizações que estão na dinâmica da realidade infantil. Figura 5. O processo de representação na infância. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/04/2021. MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 48 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 48 30/06/2021 11:13:42 No entanto, para haver esse processo de representação, a criança neces- sita de experiências em que possa estabelecer relações corporais e motoras com o objeto de conhecimento ou vivenciar alguma situação cujo objeto es- teja inserido no contexto. Com o aparecimento da fala, essa capacidade de simbolizar é ampliada, pois há mais possibilidades de elaborações e representações por meio de outras linguagens. O corpo é um conjunto que abrange várias dimensões (física, afetiva, cul- tural, histórica, social etc.), e é por meio dele que organizamos formas de interagir com as pessoas e as coisas do mundo. Enfi m, percebemos que o desenvolvimento psicomotor infantil não se dá de forma isolada, é um somatório de várias capacidades que, juntas, levam a criança a ampliar suas possibilidades. Isto signifi ca que as atividades pedagó- gicas que trabalham os esquemas motores não são atividades isoladas por- que sempre teremos outras capacidades envolvidas e sendo desenvolvidas também. Por exemplo, se vamos trabalhar noção espacial, devemos cantar uma música que vai desenvolver também a oralidade, mas, ao mesmo tem- po, a coordenação motora é ativada para a ocupação do corpo no espaço, assim como o pensamento lógico-matemático é acionado para que o corpo caiba e usufrua daquele espaço. Percebeu como várias capacidades estão as- sociadas? São vários aspectos, vários fragmentos que formam um todo: o ser humano, a criança. Os sentidos O ser humano sente o mundo de muitas maneiras, assim como aprende de diferentes formas. Algumas pessoas são mais auditivas; outras, mais falantes. Há pessoas que, para entender determinada coisa, precisam ver, ter uma re- presentação visual. Já outras precisam pegar, tocar com as próprias mãos os objetos. Somos seres cinestésicos e nos apropriamos do mundo também pelos sentidos. O toque e a pele, para a criança pequena, são a comunicação inicial com o mundo, para, mais tarde, desenvolver a linguagem, como dito por Montagu (1988, p. 245): MOVIMENTO, MUSICALIDADE E ARTE 49 SER_PEDA_MOMUAR_UNID2.indd 49 30/06/2021 11:13:42 As modalidades de espaço, tempo e realidade, contorno, forma, pro- fundidade, qualidade, textura, a tridimensionalidade de nossa visão e outras são quase que certamente desenvolvidas, em grande medi- da, com base nas experiências táteis do bebê. O ato de tocar é o pilar fundamental para o movimento, pois, ao tocar, a criança é estimulada, sente-se curiosa, se movimenta ao sentir na pele, ao to- car determinadas coisas é o que chamamos de curiosidade epistemológica. A experiência tátil é que abre portas para as demais experiências cinestésicas como sons, movimentos etc. Arte e criatividade no desenvolvimento corporal O trabalho com Artes na escola colabora e potencializa o ato criador. A cria- tividade é a capacidade do ser humano de inventar formas dife- rentes de manifestações, a partir de diferentes olhares estéticos constituídos a partir das experiências proporciona- das. Com o corpo não é diferente. O corpo fala, se manifesta. O corpo cria e recria expressões, que comunicam ideias, sentimentos e percepções acerca do mundo. A influência da arte no desenvolvimento infantil O trabalho com Artes na escola
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