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Epidemiologia do Envelhecimento

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AULA 01 - GERIATRIA/2023 
 
 
Maria Luisa Cortillazzi | 
TRATADO DE GERIATRIA 
CAPÍTULOS 05 E 06 
Envelhecimento da população brasileira 
Uma contribuição demográfica 
 A população brasileira vivenciou as 
mais elevadas taxas de crescimento entre as 
décadas de 1950 e 1970, chegando a 3% ao ano, 
a partir daí houve um declínio, como redução 
acentuada da taxa de fecundidade. Esse 
cenário possibilitou o aumento da taxa de 
idosos no cenário populacional. 
 Uma das preocupações apontadas na 
literatura com relação a este crescimento 
populacional, relaciona-se ao aumento 
acentuada da população dependente/inativa. 
Entretanto, a alta fecundidade dos anos 50 e 
60 com a redução da mortalidade infantil, 
originaram o baby boom, geração de 
sobreviventes que se “aproveitam” da redução 
da mortalidade e, consequentemente elevam 
os índices populacionais. 
 São consideradas três dimensões do 
processo de envelhecimento: dinâmica de 
crescimento, mortalidade e arranjos 
familiares. 
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 
POPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA 
 O envelhecimento populacional, 
“divide-se” em duas categorias 
 ENVELHECIMENTO INDIVIDUAL: o 
individuo envelhece à medida que sua 
idade aumenta, sendo este um 
processo irreversível, natural e 
individual, acompanhando por perdas 
progressivas de funções e papeis 
sociais. Pode ser medido pela 
esperança de vida ao nascer. 
 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL: 
ocorre um aumento na participação de 
idosos no total da população, sendo 
acompanhado pelo aumento da idade 
média da população, um processo que 
pode ser revertido se a fecundidade 
aumentar. Sob um ponto de vista 
demográfico, o envelhecimento 
populacional é resultado da 
manutenção das taxas de crescimento 
da população idosa. 
Para se entender o processo de 
envelhecimento da população brasileira, o 
primeiro passo é definir o que se considera 
como população idosa. 
População idosa é aquela 
que vive a última fase da vida e é 
constituída por pessoas de 
“muita idade”, que sofrem com 
mudanças físicas e de papeis 
sociais. Definição, a qual, não se 
vincula a apenas aspectos 
biológicos, mas também a vida 
social. 
Assume-se que a idade avançada 
acarreta vulnerabilidades físicas, 
cognitivas e mentais; agravos de doenças 
crônicas e degenerativas; perda de papeis 
sociais; aparecimento de novo papeis, 
rugas, cabelos brancos; perda de 
conjugue, amigos, parentes; inversão de 
papéis parentais e proximidade com a 
morte. 
Embora reconheça que muitos desses 
processos caracterizam essa fase, sabe-se 
que a delimitação do seu início é difícil, 
pois é afetado por condições sociais, 
econômicas, regionais, culturais, éticas e 
de gênero. Com isso, existe a associação 
da velhice com a fragilidade física e 
econômica, ao mesmo tempo, relaciona-se 
ao um grupo heterogêneo de 
sobreviventes a idade avançada. 
A idade que define essa fase da vida, 
segundo o Estatuto do Idoso e a Política 
Nacional do Idoso, é de 60 anos ou mais. 
Entretanto, atualmente, essa fase da vida 
se prolongou com o aumento da esperança 
de vida ao 60 anos em mais ou menos 5 
anos. Isso, significa que aos 60 anos, inicia-
se uma fase de vida mais longa que a 
infância e adolescência juntas. 
Essa definição de idade resulta na 
heterogeneidade do segmento 
considerado idoso, uma vez que, inclui 
pessoas de 60 a 100 anos. Além disso, ela é 
acentuada pela constatação de que esse 
segmento experimentou ao longo da vida 
trajetórias diferentes que irão afetar a sua 
velhice, sejam elas, desigualdades sociais, 
regionais, raciais. 
Em geral, o processo de 
envelhecimento populacional se inicia com 
a queda da fecundidade que leva a uma 
redução no proporção da população 
jovem e um consequente aumento da 
geriátrica 
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população idosa. Neste caso, está se 
falando do envelhecimento pela base. 
Envelhecimento pela 
base: a redução da mortalidade 
infantil acarreta um 
rejuvenescimento da população, 
dada a maior sobrevivência das 
crianças. 
Envelhecimento pelo topo: 
a diminuição da mortalidade nas 
idades mais avançadas 
contribuiu para que esse 
segmento populacional, que 
passa a ser mais representativo 
no total da população sobreviva 
por períodos mais longos. 
 No caso brasileiro, observa-se que a 
proporção da população muito idosa, ou seja, 
acima de 80 anos está aumentando em ritmo 
bastante acelerado, devido a alta fecundidade 
nos anos 50 e 60 e, diminuição da mortalidade, 
especialmente em idades mais avançadas. 
 
 É fato que a população muito idosa é a 
mais exposta a doenças e agravos crônicos 
não transmissíveis, muitos deles culminando 
em sequelas limitadas de um bom 
desempenho funcional, o que acarreta em 
situação de dependência e, consequente 
necessidades de cuidados. Concluindo-se que 
se pode esperar um aumento da população 
que demandará cuidados. 
FEMINIZAÇÃO DA VELHICE 
 “O mundo dos muito idosos é um mundo 
das mulheres”. A predominância feminina 
entre os idosos, no Brasil, é um fenômeno 
tipicamente urbano, uma vez que nas áreas 
rurais, predominam-se os homens. Essa 
diferença de distribuição geográfica explica a 
maior sobrevivência de mulheres idosas, uma 
vez que em áreas urbanas, os homens 
poderiam encontrar-se em isolamento e 
abandono. 
 Entretanto, por mais que vivam mais 
que os homens, as mulheres passam por um 
período maior de debilitação física antes da 
morte. 
 Outro fator que explica esta 
prevalência, é o fato das mulheres 
participarem de mais atividades extra 
domésticas, organizações e movimentos de 
mulheres, elas fazem cursos, viagens, entre 
outras atividades. 
MORTALIDADE 
 A partir da segunda metade do século 
20, a sobrevivência se democratizou em 
grande parte das nações do mundo, com isso, 
mais e mais pessoas estão alcançando idades 
avançadas e deixando de morrer jovens. 
NÍVEIS DE MORTALIDADE 
 
CAUSAS DE MORTE 
 Doenças cerebrovasculares; 
 Doenças isquêmicas; 
 Doenças hipertensivas; 
 Diabetes melito; 
 Pneumonia; 
 Neoplasias; 
 Causas externas; 
 Causas mal definidas; 
 Outras causas. 
PERSPECTIVAS NA ESPERANÇA DE VIDA 
CAUSAS EVITÁVEIS 
 Uma contribuição demográfica do 
envelhecimento populacional, relaciona-se as 
perspectivas da queda d mortalidade, ou seja, 
quis causas poderiam ser evitadas e quais os 
seus impactos na continuação do aumento d 
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esperança de vida ao nascer e crescimento da 
população idosa. 
 
TÁBUAS DE SOBREVIVÊNCIA 
É uma ferramenta que permite, por 
meio de estudos estatísticos, calcular as 
probabilidades de vida e morte de uma 
população, em função da idade e do sexo. 
 T1: total de óbitos de todas as causas; 
 T2: total de óbitos excluindo os 
ocasionados pelo grupo 1.1 de 5 a 74 
anos; 
 Reduzíveis pelas ações de 
imunoprevenção. 
 T3: total de óbitos excluindo os 
ocasionados pelo grupo 1.2 de 5 a 74 
anos; 
 Reduzíveis por ações de 
promoção à saúde, prevenção, 
controle e atenção as doenças 
de causas infecciosas. 
 T4: total de óbitos excluindo os 
ocasionados pelo grupo 1.3 de 5 a 74 
anos; (“maior eficácia”) 
 Reduzíveis por ações adequadas 
de promoção, prevenção, 
controle e atenção as doenças 
não transmissíveis. 
▪ Doenças isquêmicas do 
coração; 
▪ Doenças 
cerebrovasculares; 
▪ Diabetes melito; 
▪ Psicose alcoólica; 
▪ Neoplasia maligna da 
mama; 
▪ Doenças crônicas 
respiratórias. 
 T5: total de óbitos excluindo os 
ocasionados pelo grupo 1.4 de 5 a 74 
anos; 
 Reduzíveis por ações adequadas 
a prevenção de causas de morte 
materna. 
 T6: total de óbitos excluindo os 
ocasionados pelo grupo 1.5 de 5 a 74 
anos; (segunda maior eficácia) 
 Reduzíveis por ações adequadas 
de prevenção ás causas de 
morte externa (acidentes e 
violências). 
 T7: total de óbitos evitáveis, ou seja, 
exclui-se todos os grupos. 
ESPERANÇA DE VIDA 
 O aumento da esperança de vida, tem 
sido resultado do sucesso das políticas 
públicas econômicase socias, que resultaram 
em uma melhor generalizada condições de 
vida, saúde. 
ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER 
 
ESPERANÇA DE VIDA AOS 60 ANOS 
 
INSERÇÃO DO IDOSO NA FAMÍLIA 
 A inserção do idoso na família é um 
determinante das suas condições de vida, uma 
vez que, a família é um instituição importante, 
onde se definem os padrões de cuidado aos 
membros dependentes. 
 Entretanto, a proporção de idosos e 
muito idosos vivendo sós é bem amis elevada, 
como mostra o gráfico: 
 
 No entanto, mesmo com esse baixo 
número é comprovado que as famílias com 
idosos, devido aos benefícios da Seguridade 
Social, apresentam uma melhor condição 
socioeconômica. 
Epidemiologia do envelhecimento no 
Brasil 
“Um idoso só irá falecer por um 
adenocarcinoma do intestino (causa 
básica) se não teve oportunidade de 
realizar o rastreamento adequado ao 
longo da sua vida (razão).” 
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 A análise da mortalidade dos idosos, 
por mais paradoxal que pareça, fornece 
informações valiosas sobre as condições e 
hábitos de visa, em virtude da estrita relação 
existente entre fatores demográficos, 
epidemiológicos e socioeconômicos. 
 As informações mais confiáveis sobre 
os óbitos no Brasil derivam de um sistema de 
vigilância epidemiológica nacional, o Sistema 
de Informações sobre Mortalidade (SIM), do 
Ministério da Saúde, uma vez que não se pode 
generalizar as porcentagens de 
média/expectativa de vida em todo território 
brasileiro devido as diferenças 
socioeconômicas existentes em cada estado. 
MORTALIDADE DE IDOSOS NO BRASIL 
PROPORCIONAL POR IDADE 
 Duas importantes tendencias da 
mortalidade proporcional por idade 
ocorreram nas últimas décadas: a drástica 
queda da mortalidade de crianças e 
significativa queda da mortalidade de 
mulheres. 
 Deste modo, a queda da mortalidade de 
crianças e a sobremortalidade masculina 
continuam contribuindo, respectivamente, 
para o aumento da proporção de idosos na 
população e para a feminização do 
envelhecimento. 
PROPORCIONAL POR CAUSAS 
 Doenças do sistema circulatório; 
 Doenças do sistema respiratório; 
 Causas não definidas; 
 Doenças por sistema respiratório. 
OBS: a redução do número das mortes por 
causa mal definidas resultou em um aumento 
da proporção de todas as outras causas. 
60 A 69 ANOS 
 
 
 
 
80 ANOS OU MAIS 
 
ESPECÍFICAS POR CAUSA 
IDOSOS JOVENS 
 Doenças isquêmicas do coração; 
 Doenças cerebrovasculares; 
 Doenças cardíacas (insuficiência 
cardíaca, cardiomiopatias e doença 
cardíaca hipertensiva); 
 Hipertensão arterial; 
 Embolia pulmonar; 
 Arritmias; 
 Diabetes melito; 
 Tabagismo; 
 Causas mal definidas; 
 Neoplasias de esôfago e estomago (3x 
homens); 
 Neoplasia de mama e órgãos genitais; 
 Acidentes de transportes; 
 Outras neoplasias como as do 
pâncreas, fígado, bexiga; 
 Uso abusivo de álcool; 
 Doenças de abdômen agudo. 
IDOSOS MAIS VELHO (80 ANOS OU MAIS) 
 Doenças circulatórias; 
 Doenças cerebrovasculares; 
 Doenças isquêmicas do coração; 
 Insuficiência cardíaca; 
 Outras causas circulatórias: 
hipertensão arterial, embolia pulmonar 
e arritmias; 
 Pneumonia (2ºmaior); 
 Causas mal definidas; 
 Senilidade; 
 Desnutrição; 
 Diabetes melito; 
 Alzheimer; 
 Neoplasia de próstata; 
 Neoplasia de mama e órgãos genitais 
femininos; 
 Neoplasias de esôfago, estomago e 
colorretal; 
 Neoplasia pâncreas, fígado e bexiga; 
 Doenças do sistema geniturinário; 
 Insuficiência renal; 
 Doença renal hipertensiva. 
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OBS: a mortalidade dos octogenários é muito 
superior à dos idosos jovens, uma vez que 
essas doenças de alta letalidade aumentam 
seu grau em virtude de problemas comuns no 
idosos e suas comorbidades, retardando o 
diagnóstico. 
OBS: a mortalidade mais elevadas em homens 
de doenças do sistema cardiovascular se deve 
tanto a fatores genéticos ainda pouco 
conhecidos (ligados ao Y), quanto à menor 
prevalência de hábitos de vida como 
alcoolismo e tabagismo. Fazendo com que o 
risco de mulheres idosas jovens seja 
compatível ao de homens 20 anos mais jovens. 
SAÚDE DOS IDOSOS BRASILEIROS 
ATUALMENTE 
 Do ponto de vista epidemiológico, os 
brasileiros que hoje têm 60 a 85 anos 
representam a parcela da população que 
sobreviveu à elevada mortalidade infantil por 
doenças infecciosas no século passado. Ao se 
tornarem adultos tiveram muitos filhos que 
sobreviveram graças ao controle das doenças 
infecciosas. Entretanto, ao completarem 30 ou 
40 anos de idade, não puderam se 
beneficiarem plenamente do diagnóstico 
precoce e controle da hipertensão, 
dislipidemia, diabetes e, ainda muitos deles 
fumavam. 
 Ademais, a maioria não praticou 
atividade física regular, consumiu poucas 
frutas, verduras, legumes, adquiriu sobrepeso 
e, desta forma, evoluíram para quadros de 
insuficiência cardíaca e doença coronariana, 
cerebrovascular e complicações do diabetes. 
Sem acesso a informações e suporte 
adequado, desenvolveram doenças 
associadas ao tabaco. 
 Com isso, os idosos hoje são os que 
sobreviveram a este coorte de adultos que 
deixaram de morrer por homicídios e 
acidentes de transito e por neoplasias da 
mama, colo do útero e colorretal. 
 Embora tenham escapado das causas 
de morte mais comuns, estes idosos, 
desenvolveram condições de baixa letalidade, 
gerando significativo comprometimento da 
qualidade e vida. Dessa forma, a maioria dos 
idosos que faleceram por determinada causa, 
sofrem já uma morbidade de mesma natureza. 
 Portanto, a maioria do óbitos dos 
idosos brasileiros, ocorre como complicações 
de doenças cuja prevenção e controle tem 
custo relativamente baixo e não envolvem 
procedimento tecnológicos complexos, muitos 
são provocados por estilos de vida deletérios 
e a maioria, especialmente as neoplasia, o 
diabetes e as cardiopatias, podem ser 
adiadas, prevenidas oi detectadas 
precocemente em estado de cura. 
REDE DE ATENÇÃO: SAÚDE DO 
IDOSO 
 SEÇÕES 01 E 02 
Transição demográfica 
Transição demográfica é o termo 
que designa este conjunto de 
modificações do tamanho e estrutura 
etária da população que, 
frequentemente, acompanham a 
evolução socioeconômica de diversos 
países. Caracteriza-se por uma 
sequência de eventos que resultam em 
redução das taxas de mortalidade e 
fecundidade, do tamanho da 
população e finalmente aumento da 
proporção de idosos. 
A transição demográfica pode ser 
sintetizada em três fases distintas: 
 1ª fase: Elevadas mortalidade e 
fecundidade 
 2ª fase: Queda da mortalidade e 
crescimento populacional 
 3ª fase: Queda da fecundidade e 
envelhecimento populacional 
INÍCIO DO SÉCULO PASSADO 
ELEVADA MORTALIDADE 
Grande parte dos óbitos ocorriam 
dentre as crianças, principalmente por 
doenças transmissíveis associadas à pobreza 
e desnutrição, como o sarampo, a 
gastroenterite aguda, as pneumonias e a 
tuberculose. As principais causas de 
mortalidade – as doenças transmissíveis – 
eram também as principais causas de 
morbidade. 
 
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1940 A 1970 
MORTALIDADE CAIU, POPULAÇÃO CRESCEU 
A queda da mortalidade que deu início 
à transição demográfica iniciou-se nos países 
desenvolvidos logo após a Revolução 
Industrial. Seus determinantes foram o 
progresso das estratégias de produção e 
distribuição de alimentos, a melhoria das 
condições sanitárias e de habitação e os 
programas de saúde pública e de erradicação 
de doenças, reduzindo o impacto da 
tuberculose e cólera. A queda da mortalidade, 
especialmente a infantil, resultou diretamente 
no aumento da expectativa de vida, haja vista 
que o maior obstáculo para alcançar os 60 
anos era superar as doenças da infância. 
Nos países em desenvolvimento, no 
entanto, a mortalidade começou a declinar 
somente após o desenvolvimento dos 
antibióticos e imunizações, na segunda 
metade do século XX. Este é o motivo pelo qual 
o epidemiologista Alex Kalache classificou 
como“artificial” o início da transição 
demográfica brasileira. 
A manutenção de elevadas taxas de 
fecundidade nas décadas que se seguiram à 
queda da mortalidade determinou 
significativo crescimento da população. E 
“rejuvenescimento” da população. Isto ocorreu 
porque, “deixando de morrer” por doenças 
infecciosas e parasitárias, o grande número 
de crianças nascidas aumentou a proporção 
de jovens no conjunto da população. 
1970 A 2000 
FECUNDIDADE CAIU, POPULAÇÃO ENVELHECEU 
No caso específico do Brasil, a 
fecundidade começou a declinar rapidamente 
em meados da década de 60, como 
consequência das mudanças socioculturais 
associadas ao crescimento da população 
urbana e a disponibilidade de métodos 
contraceptivos. 
A rápida queda das taxas de 
fecundidade nos países em desenvolvimento, 
no entanto, permitirá que ao longo de apenas 
uma geração diversos países deixem de ser 
jovens e se tornem envelhecidos. O Brasil 
passará do estágio “jovem” (até 7% de idosos) 
para o “envelhecido” (mais de 14% de idosos) 
em apenas 25 anos - entre 2011 e 2036. 
 
IDOSOS DO SÉCULO XXI 
O envelhecimento da população tem 
duas causas principais: 
1. Com o declínio da mortalidade, 
dezenas de milhões de crianças que 
nasceram entre 1940 e 1970 
conseguiram sobreviver, 
ultrapassaram a idade adulta e 
começaram a completar 65 anos em 
2005. 
2. A redução do número de filhos 
iniciada por volta de 1970 aumentou 
progressivamente a proporção das 
outras faixas etárias: adultos e idosos. 
OS IDOSOS MUITO IDOSOS 
Outra característica do 
envelhecimento populacional é o aumento da 
proporção de idosos com mais de 80 anos 
entre os próprios idosos. Em diversos países 
este é o segmento populacional que cresce 
mais rapidamente. 
 
Estes idosos constituem uma 
população bastante distinta dos idosos jovens 
se considerarmos a prevalência de doenças e 
o grau de dependência funcional; eles 
consomem recursos elevados do sistema de 
saúde (que na realidade, foram eles mesmos 
que financiaram) e provocam grandes 
modificações na dinâmica familiar, social e 
econômica. Esse é o grupo etário que mais 
vem crescendo no Brasil. Este aumento da 
proporção de idosos mais velhos se deve à 
queda da mortalidade em idades mais jovens. 
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Um exemplo dos problemas 
relacionados ao aumento da população de 
octogenários é o aumento da prevalência de 
demências, uma síndrome muito comum 
dentre os “idosos muito idosos”. 
 
FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO 
É a preponderância progressiva de 
mulheres entre as populações de idosos. 
Este fator, pode ser explicado devido à 
maior exposição dos homens a fatores de 
risco como álcool e tabaco, aos acidentes de 
trabalho e homicídios e ao aumento da 
mortalidade por câncer de pulmão e doenças 
cardiovasculares. 
Por outro lado, o século XX assistiu um 
importante declínio na mortalidade materna 
perinatal e por câncer do útero; fatores 
hormonais são ainda determinantes de uma 
proteção cardiovascular que se estende até 
alguns anos após a menopausa. 
Essa aparente vantagem das mulheres 
é parcialmente atenuada pela maior 
prevalência de demências, depressão e 
dependência funcional entre elas, reduzindo 
sua expectativa de vida livre de 
incapacidades. 
 
APOIO E DEPENDÊNCIA 
Embora esta seja uma maneira prática 
de estimar a oferta e demanda de auxílio entre 
as gerações, nem sempre idosos dependem 
dos adultos. Se por um lado o cuidado aos 
idosos frequentemente é negligenciado pelos 
parentes mais jovens, por outro, muitas vezes 
é o idoso que oferece o apoio aos parentes 
jovens. 
Grande parte dos adultos brasileiros 
necessita do auxílio de seus pais idosos: seja 
para cuidar dos netos permitindo que a mãe 
trabalhe fora de casa, seja para residir com a 
família na casa dos “avós”. E cada vez mais os 
domicílios que têm idosos necessitam da 
renda proveniente do trabalho do idoso, além 
dos benefícios previdenciários. 
Transição epidemiológica 
Modificação dos padrões de 
morbidade, invalidez e morte que 
caracterizam uma população e que 
ocorrem em conjunto com outras 
transformações demográficas e sociais. 
O processo engloba três mudanças 
básicas que provavelmente estão ocorrendo 
com a população da sua região: 
1. a substituição das doenças 
transmissíveis por doenças não 
transmissíveis e causas externas dentre 
as primeiras causas de morte; 
2. o deslocamento da carga de 
morbimortalidade dos mais jovens para 
os mais idosos; 
3. a transformação de uma 
situação de predomínio de mortalidade 
para outra em que a morbidade é 
dominante. 
Há uma correlação direta entre os 
processos de transição demográfica e 
epidemiológica. A queda inicial da 
mortalidade se concentra dentre as doenças 
infecciosas e tende a beneficiar a população 
mais jovem. Estes "sobreviventes" tornam-se 
adultos e passam a conviver com fatores de 
risco para doenças crônico-degenerativas 
como a hipertensão arterial e 
hipercolesterolemia. 
 À medida que aumenta a esperança de 
vida e cresce o número de idosos, tornam-se 
mais frequentes as complicações daquelas 
moléstias como o infarto agudo do miocárdio. 
Aos poucos se modifica o perfil de saúde da 
população e a demanda sobre o sistema de 
saúde. 
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Em vez de processos agudos (como as 
pneumonias em crianças) que, para o sistema 
de saúde, “se resolvem rapidamente através 
da cura ou do óbito”, tornam-se 
predominantes doenças crônicas e suas 
complicações, que implicam em décadas de 
utilização dos serviços de saúde. São 
exemplos desta utilização prolongada as 
sequelas do acidente vascular cerebral, as 
complicações das fraturas após quedas, as 
limitações causadas pela insuficiência 
cardíaca e doença pulmonar obstrutiva 
crônica, as amputações e nefropatia 
provocadas pelo diabetes e a dependência 
determinada pela doença de Alzheimer. 
“JEITINHO BRASILEIRO” 
Aos poucos, a estrutura da mortalidade 
no Brasil tem se tornando similar à observada 
em populações envelhecidas da Europa com 
predominância de mortes por doenças do 
aparelho circulatório e neoplasias. 
 
 
O aumento da proporção de mortes por 
neoplasias e doenças respiratórias se deve a 
este fator, mas também se deve à redução das 
mortes por doenças circulatórias, 
especialmente dentre os tabagistas. Pense: se 
um idoso que fumou durante muitas décadas 
sofrer um infarto e sobreviver (por causa da 
melhora da assistência hospitalar), ele poderá 
falecer mais tarde por outras causas 
relacionadas ao cigarro: neoplasias e doenças 
respiratórias. O aumento da proporção de 
mortes por neoplasias se deve ainda ao 
aumento da prevalência de obesidade, que é 
um conhecido fator de risco para diversos 
cânceres.

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