Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 1 GOVERNO DO BRASIL Presidente da República LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Ministro da Educação FERNANDO HADADD Secretário de Educação a Distância CARLOS EDUARDO BIELSCHOWSKY Reitor do IFRN BELCHIOR DA SILVA ROCHA Coordenador da DETED ERIVALDO CABRAL Coordenadora da UAB ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE Coordenadora Adjunta da UAB ILANE CAVALCANTE Coordenadora do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental NARLA SATHLER MUSSE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS – AULA 09 Professor Pesquisador/Conteudista ROBERTO PEREIRA Coordenação da Produção de Material Didático ARTEMILSON LIMA Design Instrucional ILANE CAVALCANTE Coordenação de Tecnologia ELIZAMA LEMOS Revisão Linguística KLÉBIA DE SOUZA ELIZETH HERLEIN Formatação Gráfica MARCELO POLICARPO EDICLEIDE PINHEIRO LUCIANA DANTAS JOSERILDE FERREIRA Ilustrador MARCELO POLICARPO EDICLEIDE PINHEIRO LUCIANA DANTAS JOSERILDE FERREIRA Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 2 Aula 09 Conteúdo: LAGOS APRESENTANDO A AULA Como você já viu as águas subterrâneas e os rios no contexto das bacias hidrográficas, verá, agora, um pouco onde os lagos se situam, como parte desse conjunto, e algumas das características que os diferenciam dos sistemas já estudados. Você já parou para pensar como os lagos são formados? Já refletiu se as águas subterrâneas contribuem para a sustentação dos seus níveis? E se cada lago tem uma bacia de contribuição superficial e subterrânea dentro de outra maior? Pois bem, nesta aula você terá a oportunidade de conhecer esses aspectos conceituais e hidrológicos associados aos fluxos superficiais e subterrâneos dos sistemas lacustres. Por fim, será visto um estudo de caso interessante da lagoa do Bonfim – RN, por meio do qual você poderá compreender melhor o funcionamento hidrodinâmico. DEFININDO OBJETIVOS Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: - conhecer a origem dos diferentes tipos de lagos; - entender a interação das águas superficiais com as águas subterrâneas. - compreender o funcionamento hidrológico de uma lagoa costeira do RN. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 3 TIPOS DE LAGOS Inicialmente, vamos fazer uma comparação das propriedades hidrodinâmicas entre os rios, águas subterrâneas e os lagos, conforme estudo apresentado por Meybeck e Helmer (1996). Nesse trabalho, as águas subterrâneas são caracterizadas por padrões de fluxos constantes em termos de direção e velocidade. A velocidade média comumente encontrada em aquíferos varia de 10-10 a 10-3 m/s e é largamente governada pela porosidade e permeabilidade do material geológico. Como consequência, a mistura é pobre e, dependendo das feições hidrogeológicas locais, a dinâmica da água subterrânea pode ser altamente diversa. Os rios, segundo eles, são caracterizados pela corrente unidirecional com velocidade de fluxo média a alta, variando de 0,1 a 1 m/s. Os fluxos dos rios são altamente variáveis no tempo, dependendo da situação climática e do padrão de drenagem. No geral, uma mistura vertical é alcançada devido a correntes de turbulência. Misturas laterais podem ocorrer após longas distâncias abaixo das principais confluências. Já os lagos são caracterizados por velocidade de corrente baixa a média com valores variando de 0,001 a 0,01 m/s. Correntes dentro de lagos são multidirecionais. Muitos lagos têm, alternadamente, períodos de estratificação e mistura vertical, sendo essa periodicidade regulada pelas condições climáticas e profundidade do lago. Embora que reservatórios mostrem feições similares a lagos, alguns apresentam características específicas para os quais foram criados. Uma feição comum para a maioria dos reservatórios é o gerenciamento planejado dos inputs e/ou outputs de águas para específicos propósitos, como o controle do seu volume- Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 4 descarga para fins individuais ou para múltiplas finalidades, como a regularização de rios à jusante, o abastecimento, a irrigação, a manutenção de volume para geração de hidrelétricas, o controle de cheias etc. Sendo assim, a sua hidrodinâmica é grandemente influenciada pelo seu regime de gerenciamento operacional. No Brasil, os conceitos de lago e lagoa são normalmente usados de maneira indistinta, todavia costuma- se diferenciar o primeiro do segundo pelo seu maior tamanho, mas genericamente são depressões no terreno preenchidas por água. Vamos, agora, conhecer os tipos de lagos e os processos que os originaram. Vejamos: Lagos de planície de inundação: formado por ocasião do transbordamento dos rios nas cheias. Ex.: pantanal e lagos amazônicos; Lagos de barragem: formam-se quando um obstáculo natural ou antrópico represa as águas dos rios ou mares; Lagoas costeiras: são formadas quando cordões arenosos (restingas) fecham antigas baías, enseadas e até estuários, como no estado de Alagoas. Geralmente, podem permanecer com água salgada ou salobra; Lagunas: quando as lagoas costeiras têm comunicação direta com o mar (Ex.: laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul); Lagoas interdunares costeiras: formada pelo afloramento do lençol freático nos vales interdunares; Dolinas: lagoas formadas pelo afundamento cárstico de camadas carbonáticas subjacentes (Ex.: lagoa do Bonfim) devido às águas acidas. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 5 Alagamentos: incluímos aqui os alagamentos formados por impermeabilização dos terrenos nas cidades. Existem, ainda, em outras partes do mundo, lagos das mais variadas origens: Lagos tectônicos: alojados em depressões ou fossas tectônicas. Ex.: Tanganica (África oriental) e Titicaca (América do Sul); Lagos vulcânicos: alojados em crateras de vulcões. Ex.: Atitlan (Guatemala); Lagos glaciais: formados em depressões cavadas pelas geleiras ou nos vales das montanhas, onde se acumulou a água proveniente do degelo. Ex.: Grandes lagos da América do Norte (Superior, Ontário, Erie, Huron, Michigam). INTERAÇÃO ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS Você sabia que Winter (2003) considera os lagos como feições integrais do sistema hidrológico? Bem, para esse autor os lagos interagem diretamente com todos os componentes do ciclo hidrológico, ou seja, com a água atmosférica (precipitação e evaporação), a água de superfície e a água subterrânea. É bom lembrar que, desses três grandes componentes, a maior interface de um lago ocorre com a água subterrânea (pelo menos em terrenos porosos). Tendo em vista esses fatos, para se ter um entendimento dos processos hidrológicos relativos às entradas e saídas de águas desse sistema, é necessário que se leve em conta o sistema hidrológico como um todo, principalmente a interação dos lagos com as águas subterrâneas. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 6 Mas qual a predominância das águas que abastecem os lagos? As águas subterrâneas ou as superficiais? As particularidades de cada lago, como lagos fechados ou semiconfinados, decorrem dos diferentes aspectos fisiográficos e climáticos. Esses aspectos, de um modo geral, determinam a composição das águas dos lagos, ou seja, se são influenciados mais por águas de superfície ou por águas subterrâneas. Os tipos A, B, C, D, E, F e G, da figura 01, podem ser considerados como tipos extremos em relaçãoaos fluxos dominantes subterrâneos e superficiais, sendo os demais uma combinação desses. Enquanto umas combinações são raras, algumas dessas situações devem ser frequentes em terrenos sedimentares e também em terrenos cristalinos. O tipo CD é o que mais se aproxima de um lago artificial criado por uma barragem em rio. Quando a evaporação torna-se o fluxo dominante, esse lago representaria um lago terminal. Acrescente-se, ainda, que não se pode esquecer as influências das atividades antrópicas e mudanças sazonais como componentes de modificação permanente dessa hidrodinâmica. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 7 Interação lago versus águas subterrâneas Existem diferenças químicas nas águas dos lagos? Pois é, o movimento das águas subterrâneas faz parte de um sistema de fluxo tridimensional de diferentes tamanhos e profundidades, desde a sua zona de recarga, onde nascem as águas, até a descarga, podendo interagir com as águas superficiais de diferentes maneiras, através de sistemas de fluxos locais, intermediários e regionais ou pela superposição desses (Figura 02). Os intermediários e regionais tendem a alimentar os lagos das partes baixas do relevo. Figura 01 – Possibilidades de interações entre águas subterrâneas, superficiais e lagos (naturais ou artificiais). Fonte: Modificado de Fetter (1994) e Winter et al. (1998). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 8 Os sistemas de fluxos locais são os mais dinâmicos e mais rasos de todos, e representam a maioria das descargas subterrâneas em corpos de águas superficiais. Por outro lado, os sistemas mais profundos, com maior tempo de residência, têm caminhos mais longos e maior tempo de contato com os materiais em subsuperfície, podendo conter mais elementos químicos dissolvidos, o que poderá ter grande efeito sobre as características químicas das águas superficiais receptoras. Isso pode significar que a posição dos mananciais superficiais, dentro das configurações dos sistemas de fluxos subterrâneos, pode indicar as suas particularidades químicas, uma vez que podem ser alimentados por fluxos locais, intermediários ou regionais. De um modo geral, lagos interagem com a água subterrânea de três maneiras básicas (Figura 01 A, B, C). Na primeira situação (Figura 01 A), recebem água subterrânea de todos os lados (caráter efluente), incluindo fluxos ascendentes sob o mesmo. Normalmente, estão localizados em terrenos Figura 02 – Esquema de circulação d’água em terrenos permeáveis evidenciando desde circulação local até regional. Fonte: (CUSTODIO; LLAMAS, 1996). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 9 regionalmente baixos, onde o lençol freático que o circunda é mais alto do que o nível do lago. Todavia, a existência de substrato geológico do lago com elevadas condutividades hidráulicas podem favorecer o fluxo descendente do mesmo. Na segunda maneira (Figura 01 B), os lagos têm perdas por infiltração para a água subterrânea através de todos os lados (caráter influente). Esse caso poderia representar lagos localizados em áreas topograficamente mais elevadas, funcionando como áreas de recargas subterrâneas. Uma situação transiente é aquela em que, acentuadas contribuições de escoamento superficial e precipitações pluviais sobre o espelho, invertem o nível do lago em relação às águas subterrâneas. Provavelmente, a maioria dos lagos recebe água subterrânea de um lado e perde por infiltração em outra margem (Figura 01 C). Entretanto, podem apresentar padrões bastante complexos e difíceis de serem quantificados, especialmente em sistema de múltiplos lagos, como é o caso de terrenos de dunas, além de regiões com afundamentos cársticos, rompendo estratificações confinantes subjacentes. Essas interconexões hidrodinâmicas têm refletido em perdas subterrâneas das lagoas para os aquíferos confinados subjacentes. Essa complexidade das configurações dos fluxos pode também ser revelada pela presença de divisores hidrogeológicos transitórios aos fluxos locais, em períodos chuvosos, os quais desaparecem quando o lençol freático rebaixa, no período de estiagem, revelando maior perda de água por infiltração, como no lago Lucerne, na Califórnia (LEE; SWANCAR, 1997). As configurações dos fluxos também podem ser alteradas pelas argilas e siltes associados com depósitos orgânicos no fundo dos lagos, os quais têm, geralmente, baixa permeabilidade, permitindo pouco fluxo através deles. Desse modo, as contribuições provenientes do aquífero ou as fugas Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 10 subterrâneas dos lagos são maiores em suas margens e menores em seus fundos. Assim como os lagos, você sabia que os rios também apresentam essas variações das condições de efluência e influência? A análise dessas condições, seja rio ou lago, é só uma questão de ponto de vista (Figura 03). Figura 03 – Condição de efluência e influência de rios. Fonte: (Von SPERLING, 1995). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 11 ATIVIDADE 01 Agora, pare um pouco e responda à atividade a seguir. Ela deve ser feita antes de prosseguir nos estudos da aula. Caso você não se sinta seguro(a) para resolvê-la, retome a leitura do conteúdo ao qual ela se refere. Com base no que estudamos sobre lagos, responda: 01 O que você entende por lago semiconfinado? 02 Que tipo de lago poderia ocorrer em regiões de rochas carbonáticas? 03 Faça uma figura de um lago influente-influente do ponto de vista superficial e totalmente influente do ponto de vista das águas subterrâneas. 04 Como ocorre a mudança de um comportamento efluente para influente? ESTUDO DE CASO DA LAGOA DO BONFIM - RN A lagoa do Bonfim vem sofrendo a interferência antrópica intensa devido à transposição de suas águas (adutora Monsenhor Expedito) para atender à população do Agreste, Trairi e Potengi do RN, pois essas regiões, além de falta d’água, mostram salinidade muito elevada. Vamos então, primeiramente, aprender a visualizar a diferença entre bacia hidrográfica e bacia hidrogeológica. Bacia hidrográfica do sistema lacustre Bonfim Feitosa e Melo (1997) definiram, do ponto de vista de divisores topográficos, a bacia hidrográfica do sistema lacustre Bonfim ou do riacho Boacica (Figura 04) caracterizando-a em duas porções. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 12 Na parte de montante desse sistema lacustre predominam as rochas areno-argilosas da formação barreiras e corresponde à sub-bacia da lagoa do Bonfim, onde nos concentraremos, sendo a porção de jusante, a leste, definida pelo exutório do riacho Boacica. Nesse setor, onde predomina sedimentos eólicos, tem um conjunto de lagoas menores, tais como: Redonda, Urubu, Boa Água, Ferreira Grande e Carcará. O transbordamento da lagoa do Bonfim somente se verifica em períodos anuais de precipitações muito favoráveis, e ocorre em direção à lagoa Boa Água, Figura 04 – Bacia hidrográfica do riacho Boacica. Fonte: (FEITOSA; MELO, 1997). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 13 Ferreira Grande e riacho Boacica. Entretanto, com as atividades de transposição de águas dessa lagoa para a região do Trairi desde agosto de 1998, esse fato não vem mais ocorrendo. Bacia hidrogeológica do sistema lacustre Bonfim Os divisores hidrogeológicos que delimitam a bacia de drenagemsubterrânea do sistema lacustre (Figura 05, dezembro de 1998) se aproximam bastante ao da bacia hidrográfica (Figura 04). As particularidades ocorrem na sub- bacia Bonfim, conforme apontado no período de monitoramento sob condições pluviométricas abaixo da média (ano de 1999, com 850 mm) e acima da média (ano de 2000, com 2.080 mm). Verificou-se, no entorno da lagoa do Bonfim, que a mesma é mantida graças à existência dos fluxos subterrâneos provenientes do setor oeste, sua principal área de recarga. Por outro lado, constitui-se em uma verdadeira caixa de passagem desses mesmos fluxos subterrâneos. Isso porque, além de alimentar, obviamente, o riacho Boacica - Timbó ignora os divisores topográficos, principalmente nos períodos de estiagem (Figura 06 A), e repassa subterraneamente no sentido dos rios Pium e Trairi, dado ao desaparecimento dos divisores hidrogeológicos nesses setores. Esses se recuperam nos períodos chuvosos reduzindo as perdas dessa lagoa e mostrando uma configuração convergente (endorrêica) desses fluxos em relação à lagoa do Bonfim (Figura 06 B). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 14 As modificações mais significativas do seu padrão geral de fluxo natural ocorrem entre as lagoas Redonda e Bonfim, quando se compara as figuras 05 e 06, de tal modo que a lagoa Redonda se comporta como um termômetro da fragilidade hidrológica, mediante baixas precipitações. Isso porque é a mais alta e tem a menor área de recarga, provavelmente por causa da presença de sedimentos mais argilosos próximos à superfície, nas imediações dessa lagoa, que deve dar um caráter suspenso à mesma. Processos de inversão de cota absoluta do espelho d`água e de fluxo subterrâneo ocorreram entre as lagoas do Urubu e Boa Água e entre as lagoas do Urubu e do Bonfim. Entretanto, no segundo caso, houve a predominância da 5 Km432101 NATAL MONTE ALEGRE 335 9340KmN 270KmE265260255 250 248 242,5 330 325 323 NATAL 6°S 36°W38°W RN PB CE LOCALIZAÇÃO Estrada Cidade Lagoa Drenagem Fluxo Subterrâneo Aqüífero Livre Curva Isopotenciométrica Aqüífero Livre Divisor Hidrogeológico Fonte: SUDENE(1971); escala 1:100.000. Ano 1999 38 Bananeira Jardim SÃO JOSÉ DE MIPIBÚ NÍSIA FLORESTA O C EA N O A TLÂ N TIC O Riacho Tim bó Lagoa do Bonfim Lagoa Redonda Lagoa Urubu La. Boa Água Lagoa Ferreira Grande Lagoa do Carcará Riacho Boa Cica Riac ho do Pium Lagoa P iu m Lagoa Nísia Floresta Rio Trairí 32 34 36 38 4040 42 44 46 48 50 52 54 20 16 12 8 6 4 2224 26 2830 32 34 36 38 40 42 44 42 4038 36 3432 30 28 2624 22 24 26 28 30 44 42 42 39 37 35 33 31 Figura 5 – Bacia hidrogeológica do sistema lacustre Bonfim – RN. Fonte: Pereira (2001). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 15 inversão de cota, mas não de fluxo subterrâneo raso, visto que a influência direta só ocorreu de forma discreta e por um período muito curto (Figura 07). As contribuições subterrâneas para o Pium garantiram a sustentação de seu nível (Figura 08). Figura 6 A e B – Fluxos subterrâneos no entorno da lagoa do Bonfim evidenciando inversões de fluxos e comportamento transitório dos divisores hidrogeológicos. Fonte: Pereira (2001). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 16 Muitos outros aspectos devem ser observados entre os níveis das lagoas e a interação com as águas subterrâneas, tais como, se: durante a recuperação do seu nível, mediante as precipitações sobre o espelho d’água, houve também a recuperação potenciométrica da área de recarga, Figura 08 – Comportamento do nível da lagoa do Pium. Fonte: Pereira (2001). Figura 07 – Variações dos níveis d’ água observados entre as lagoas do Bonfim e Urubu e o piezômetro 191, o qual situa-se entre as mesmas. Fonte: Pereira (2001). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 17 apontando para essas contribuições conjuntamente, ou se o efeito de retardo das percolações tiveram influência na recuperação posterior; a lagoa contribui subterraneamente para um aquífero confinado subjacente com níveis potenciométricos inferiores a ela, tal como ocorre na parte oeste da lagoa do Bonfim (Figura 08); Variação do Nível Estático do Aquífero Semi-Confinado 30,3 30,35 30,4 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5N ív el E st át ic o (m ) Piez.52.2 Variação do Nível Estático do Aquífero Livre 19 19,1 19,2 19,3 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5N ív el E st át ic o (m ) Piez.52.3 Variação do Nível da Lagoa do Bonfim 40,7 40,75 40,8 40,85 40,9 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5 C ot a A bs ol ut a (m ) L. Bonfim Pluviometria 0 50 100 150 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5P re ci pi ta çã o (m m ) Posto S.Res. Est.Terra N. Figura 08 – Comportamento do aquífero semi-confinado no setor SW da lagoa do Bonfim mostrando correlação com esta lagoa, mas não com o aquífero livre. Fonte: Pereira (2001). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 18 o tamanho da área de recarga influenciou na elevação do seu nível e mesmo no rebaixamento; o rebaixamento ou mesmo a recuperação sofreu o efeito da explotação antrópica, como na lagoa do Bonfim, que não mais revela o efeito de retardo da recuperação dos seus níveis meses após o término da chuva; a cota do vertedor natural (sangradouro) estabilizou os níveis impedindo maiores elevações desse; ocorreram contribuições dos escoamentos superficiais. ATIVIDADE 02 Essa atividade ajudará a você sistematizar as informações que acabou de receber. Lembre-se: se você não conseguir respondê-la, retome a leitura do conteúdo ao qual ela se refere. 01 O que você espera que ocorra com uma lagoa mediante o efeito de retardo das percolações em sua zona de recarga? 02 Por que o nível da lagoa do Pium permaneceu constante ao longo do tempo? 03 Que tipo de fluxo controla uma lagoa totalmente influente do ponto de vista subterrâneo? 04 A inversão de cota absoluta do espelho entre duas lagoas significa que sempre ocorrerá uma migração de fluxos subterrâneos de uma para outra? 05 Qual lago que será mais mineralizado: aquele que é alimentado por fluxos locais ou intermediários? Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 19 RESUMINDO Nesta aula, você aprendeu quais são os diversos processos que originam os lagos, tais como inundação, impermeabilização, dissolução, barramento de rios, processos da dinâmica costeira, processos geológicos, acumulação eólica e processos glaciais. Aprendeu, ainda, o caráter efluente e influente tanto das águas superficiais como das águas subterrâneas. Viu, ainda, em um estudo de caso de uma lagoa costeira – lagoa do Bonfim - diversos processos hidrológicos. LEITURA COMPLEMENTAR A leitura do artigo Estado da arte da bacia hidrogeológica do Sistema Lacustre Bonfim - RN, Nordeste do Brasil, de Pereira et al. (2002), permitirá que você compreenda um pouco mais sobre a interação de lagos e águas subterrâneas. Disponível em: PEREIRA, R.; GUIMARÃES JÚNIOR, J. A.; SILVA JÚNIOR, G. C.. Estado da Arte da Bacia Hidrogeológica do Sistema Lacustre Bonfim - RN, Nordeste do Brasil. Revista Águas Subterrâneas, São Paulo, v. 17, p. 41-47, 2003. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 20 AVALIANDO SEUS CONHECIMENTOS Com base na comparação dos principais dados morfométricosdas três diferentes lagoas na tabela abaixo, seria possível a lagoa do Bonfim abastecer uma população de 220 mil pessoas, para uma demanda requerida de 452 L/s? Lagoa do Bonfim (fechada) Lagoa do Jiqui (semi-fechada) – Sul de Natal Lagoa de Extremoz (semi-fechada) – Norte de Natal Área da bacia 25 Km2 98 Km2 345 Km2 Área do espelho 8,9 Km2 0,30 Km2 4,0 Km2 Volume armazenado máximo 84,26.106 m3 0,32.106 m3 12.106 m3 Disponibilidade hídrica ? 490 L/s 900 L/s População beneficiada 220.000 130.000 260.000 Comentários: CONHECENDO AS REFERÊNCIAS CUSTODIO, E.; LLAMAS, M.R. - Hidrología subterrânea. Tomo I e II. 2. ed. Barcelona: Ediciones Omega S.A., 1996. FEITOSA, E. C.; MELO, J.G. - Relatório diagnóstico dos dados e Informações disponíveis. Plano Estadual de Recursos Hídricos. Natal, 1997. Trabalho de Consultoria realizado pela Hidroservice Engenharia Ltda. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 09 – Lagos Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 21 FETTER, C.W. - Applied hydrogeology. 3. ed. Upper Saddle River, New Jersey: Prentice-Hall, 1994, 691 p. LEE, T.M.; SWANCAR, A - Influence of Evaporation, Ground Water, and Uncertainty in the Hydrologic Budget of Lake Lucerne, a Seepage Lake in Polk County, Florida. U.S. Geological Survey Water-Supply; paper 2439, 1997, 61 p. PEREIRA, R. - Caracterização hidrológica do sistema lacustre Bonfim – RN, Brasil. 212 f. Tese. Instituto de Geociências - UFRJ. Rio de Janeiro, 2001. MEYBECK, M.; HELMER, R. An Introduction to Water quality. In: CHAPMAN, Deborah. Water Quality Assessment. London and New York: UNESCO, 1998. 626 p. VON SPERLING, Marcos. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambintal: UFMG: 1995. WINTER, T.C. et al. - Ground Water and Surface Water. A Single Resource. U.S. Geological Survey (Circular 1139), 1998. 79 p. WINTER, T.C..The Hydrology of Lakes. In: The Lakes Hand book. Blacckwell Science, 2003. Lagoa de Extremoz (semi-fechada) – Norte de Natal Lagoa do Jiqui (semi-fechada) – Sul de Natal Lagoa do Bonfim (fechada) 345 Km2 98 Km2 Área da bacia 0,30 Km2 Área do espelho 0,32.106 m3 84,26.106 m3 Volume armazenado máximo Disponibilidade hídrica 490 L/s ? População beneficiada 130.000 220.000
Compartilhar