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Universidade Tiradentes - Medicina P3 Osteoartrite e avaliação cirúrgica do idoso TUTORIA ● A osteoartrite (OA), no passado conhecida como osteoartrose; ● É uma doença altamente prevalente principalmente na população acima dos 60 anos, e que leva a alterações na funcionalidade (ligadas à realização das atividades de vida diária) dos indivíduos que por ela são acometidos. ● Pode ainda limitar a mobilidade, com alto impacto social e econômico para os sistemas de saúde. ● Estima-se que atualmente haja mais de 12 milhões de pessoas com OA, o que representa cerca de 6,3% da população adulta no Brasil. ● Antes se acreditava tratar-se de uma doença progressiva, de evolução arrastada, sem perspectivas de tratamento. ● Hoje, a OA é considerada como insuficiência da articulação, com o comprometimento de todas as estruturas que a formam. ● É encarada como uma doença na qual é possível modificar o seu curso evolutivo, tanto em relação ao tratamento imediato quanto ao seu prognóstico. EPIDEMIOLOGIA: ● Acredita-se que cerca de 85% da população geral apresenta evidências radiográficas de OA por volta dos 65 anos de idade. ● Distribui-se igualmente entre homens e mulheres, quando todas as idades são analisadas. ● Quando analisamos os grupos de idade superior aos 55 anos, as mulheres são mais afetadas e parecem desenvolver uma doença mais grave (hábitos corporais ou mesmo à predisposição genética). ● Também variar em relação ao grupo étnico, mas esta variação parece ser mais relacionada a diferenças ocupacionais e mesmo culturais. ● A predisposição genética envolve principalmente as formas nodais de OA de mãos e algumas formas de OA primária generalizada. (Padrão autossômico dominante com expressão variável.) ETIOLOGIA: ● Idade, predisposição genética (principalmente a das articulações interfalangeanas distais), traumas, estresse repetitivo, algumas ocupações, obesidade, alterações na morfologia da articulação, instabilidade articular e alterações na bioquímica da cartilagem articular. ● Essa enfermidade não é, como sempre se acreditou, uma consequência natural do envelhecimento. ● Alterações bioquímicas na matriz cartilaginosa podem ocorrer com a idade, mas se sabe que elas são diferentes daquelas que se 1 Caracterizar a osteoartrite (fisiopatologia, achados clínicos, epidemiologia, etiologia, consequências e fatores de risco) observam na cartilagem osteoartrítica. ● Com as mudanças do envelhecimento a cartilagem está mais sujeita a desenvolver a OA, notadamente se outros fatores etiológicos, como obesidade, desvios de curvatura de membros inferiores etc., estiverem presentes; ● Da mesma forma, articulações que tenham sofrido traumas prévios, como fraturas, ruptura de ligamentos e alterações traumáticas de meniscos, também estão mais sujeitas a apresentarem OA em idades mais avançadas. ● Além disso, articulações expostas a traumas repetitivos ocupacionais, como aquelas das bailarinas ou dos atletas profissionais, também estão associadas com maior frequência de OA. ● O excesso de peso no desenvolvimento da OA de joelhos já é bem conhecido. Em relação à enfermidade no quadril, também já se demonstrou associação positiva com sobrepeso. ● O sobrepeso está associado ao aumento da força sobre as articulações e a fatores sistêmicos presentes na circulação de pessoas obesas chamadas adipocinas. ● Qualquer alteração da conformação normal da articulação, ou a instabilidade articular, pode aumentar o risco. FISIOPATOLOGIA: ● A cartilagem articular normal é composta por fluido intersticial, elementos celulares e moléculas da matriz extracelular. ● Cerca de 70% é constituída por água e essa porcentagem aumenta com a progressão da OA. ● As células presentes na cartilagem são os condrócitos, e as moléculas que compõem a matriz cartilaginosa são sintetizadas por eles, dentre as quais as proteínas. (principalmente pelos diferentes tipos de colágenos), ● O colágeno mais abundante é o do tipo II, específico da cartilagem; ● A elastina e a fibronectina; e também os complexos polissacarídeos, dentre os quais, os proteoglicanos são os mais importantes, especialmente o agrecano. ● Além desse, outros proteoglicanos menores são encontrados, como o biglicano, a decorina, a ancorina e a fibromodulina. ● Essa composição é que confere à cartilagem suas propriedades de reversibilidade às deformidades e elasticidade. ● A função das articulações é absorver impactos e permitir um deslizamento suave entre as duas extremidades ósseas justapostas. ● A patogenia da OA envolve os processos de destruição e reparação da cartilagem, sendo a remodelação um processo contínuo na cartilagem normal. ● Os elementos da matriz são constantemente degradados por enzimas autolíticas e repostas por novas moléculas pelos condrócitos. ● Na OA este processo é alterado; consequentemente, há um desequilíbrio entre a formação e a destruição da matriz, com um aumento desta última. ● Na OA, os condrócitos têm papel- chave no equilíbrio entre a produção e a degradação da matriz cartilaginosa e, por consequência, da manutenção da função da cartilagem. 2 ● Os condrócitos são responsáveis pela síntese dos elementos da MEC, matriz extracelular, mas também pela produção das enzimas proteolíticas que a quebram, as metaloproteinases (MMP), tais como MMP-1, MMP-3, MMP-8 e MMP-13, além das agrecanases, a desintegrina e metaloproteinase com trombospondina-4 e 5 (ADAMTS). ● Expressam citocinas pró- inflamatórias, como a IL-1β e o TNF-α, e fatores de crescimento, como o TGF-β. ● Normalmente, a produção e a destruição da matriz encontram- se em perfeito equilíbrio. Quando fatores mecânicos, induzindo o aumento da expressão de citocinas inflamatórias, e biológicos atuam rompendo este equilíbrio, com predomínio da destruição, surge então a OA. ● A perda local de proteoglicanos e da molécula do colágeno tipo II ocorre inicialmente na superfície da cartilagem, levando a um aumento no conteúdo de água e perda da força de tensão da MEC à medida que a lesão progride. ● No líquido sinovial os novos elementos sintetizados são mecanicamente inferiores aos originais e, portanto, mais suscetíveis às lesões. ● O processo pode ser iniciado por uma série de eventos que levam à alteração da função do condrócito, com fortes evidências de que os estímulos aos condrócitos seriam ocasionados por citocinas pró-inflamatórias, especialmente a IL-1β e o TNF-α, e que, por meio de diferentes vias de sinalização intracelular, provocariam ativação de diferentes genes, de maneira errática e por mecanismos epigenéticos complexos. ● Com toda essa alteração, os condrócitos liberam enzimas proteolíticas (proteinases neutras, catepsina e metaloproteinases), que degradam os elementos da matriz cartilaginosa, levando a um adelgaçamento da cartilagem. ● A velocidade de liberação dessas enzimas e a consequente destruição das moléculas da matriz são significativamente maiores na cartilagem osteoartrítica. ● A perda da força de tensão para suportar cargas leva à transmissão de uma força maior aos condrócitos e ao osso subcondral. ● Os condrócitos sob ação dessas forças liberam mais enzimas proteolíticas. ● O osso subcondral desenvolve microfraturas, causando endurecimento e perda da reversibilidade à compressão. ● Alguns produtos resultantes da quebra da cartilagem e dos proteoglicanos podem estimular a resposta inflamatória, perpetuando o ciclo destrutivo. ● Embora a degeneração da cartilagem caracterize a OA, há evidências de que as alterações na OA tambémenvolvem a participação da membrana sinovial, principal fonte de citocinas pró-inflamatórias, e do osso subcondral. ● Evidências clínicas e laboratoriais mostram que o metabolismo do osso subcondral está alterado na OA, provavelmente decorrente do comportamento anormal dos osteoblastos nessa região. ● Tal anormalidade aliada ao estresse químico e mecânico leva ao aumento da formação óssea na área, elevando a pressão mecânica na cartilagem de articulações de carga e promovendo maior deterioração e surgimento de erosões. 3 ● O papel de mediadores locais produzidos pelos osteoblastos também são importantes. ● Na OA, a IL-1β e o TNF-α, bem como as MMP e agrecanases, notadamente as ADAMTS-4 e 5, desempenham um papel central na intermediação dos seus mecanismos fisiopatogênicos e têm sido alvo do desenvolvimento de moléculas que podem bloqueá-las. ● Recentemente, a participação de alterações ligadas à imunidade inata também foi incluída como mediadora no surgimento da OA. ACHADOS CLÍNICOS: ● A OA apresenta início insidioso, lento e gradualmente progressivo ao longo de vários anos. ● O acometimento dos punhos, cotovelos e ombros são pouco frequentes. ● Os pacientes descrevem uma dor mecânica nas articulações envolvidas, isto é, a dor aparece quando se movimenta a articulação, desaparecendo ao repouso. ● Naqueles que apresentam as queixas há mais tempo, a dor pode estar presente tanto no repouso quanto na movimentação. ● Esse ritmo de dor diferencia as queixas da OA da artrite reumatoide (AR), em que a dor frequentemente melhora com a movimentação articular. ● Nos casos clássicos de OA, os pacientes queixam-se apenas de dor, sem relato de edema, eritema ou aumento da temperatura articular. ● Com o tempo, no entanto, os indivíduos acometidos pela OA podem apresentar alargamento ósseo e diminuição dos movimentos articulares. ● Rigidez matinal ou após período prolongado de inatividade pode ocorrer, porém, sua duração é curta. ● Queixas de crepitações e estalidos durante a movimentação podem ocorrer e piorar com a perda progressiva de cartilagem. ■ Osteoartrite de coxofemoral: ● É muito incapacitante, e a sua prevalência é variável em indivíduos com mais de 55 anos, sem diferenças em relação ao sexo. ● A dor local pode ser acompanhada de pontos dolorosos nas pregas do glúteo maior ou na região inguinal, podendo irradiar-se por dentro, ao longo da musculatura adutora da coxa, na face interna, ou externamente pelo tensor da fáscia lata até o joelho. ● À marcha, nota-se contratura em flexão, rotação externa e adução. ● Discreta assimetria entre os membros pode ser observada (lado comprometido é discretamente menor que o lado são). ● Com a progressão da doença, observa-se perda da rotação interna, diminuição da abdução e flexão. ■ Osteoartrite de joelhos: 4 ● São as articulações mais acometidas pela OA, com maior incidência entre as mulheres. ● Se associa fortemente a distúrbios biomecânicos dos membros inferiores, principalmente, o varismo e o valgismo de joelhos. ● O quadro é marcado por dor de início insidioso e progressivo. ● A dor é mecânica, difusa pela articulação, com intensidade variável, não raro acompanhada por aumento de volume e temperatura, mas sem apresentar rubor. ● O indivíduo relata piora ao subir escadas ou levantar-se de uma cadeira. ■ Osteoartrite de mãos: ● Tem maior ocorrência entre indivíduos de uma mesma família, principalmente entre as mulheres. ● O acometimento mais frequente ocorre nas articulações distais dos dedos, de forma assimétrica, com predomínio dos dedos mínimo e indicador, seguidos pelo médio e o anular. ● Caracteriza-se por dor mecânica e dificuldades aos movimentos. ● Rigidez matinal pode acompanhar a dor; porém, raramente ultrapassa 30 min de duração. ● Nas interfalangeanas distais (IFD), causa um alargamento ósseo com sinovite pouco intensa (nódulo de Heberden), duros à palpação. ● O acometimento das articulações interfalangeanas proximais (IFP) pode ocorrer depois do das IFD. Da mesma forma, provoca o alargamento ósseo (nódulos de Bouchard) com as mesmas características palpatórias, geralmente com mais sinais inflamatórios. ● Podem evoluir de forma silenciosa, mas se tornam incapacitantes por levarem a subluxações e limitações acentuadas da flexoextensão dos dedos e do movimento de apreensão das mãos. ● Osteoartrite erosiva ou doença de Crain: OA inflamatória ou erosiva envolvendo as IFP e IFD simultaneamente – que pode evoluir para a destruição articular e, ocasionalmente, para anquilose. Se assemelha à artrite reumatoide ou à artrite da psoríase, embora não haja outras articulações acometidas. ■ Osteoartrite de articulações temporomandibulares: 5 ● Caracteriza-se por crepitação palpável, audível, despertada pela mastigação, que às vezes pode até estar limitada por espasmos da musculatura. ● No início, a dor se localiza no ângulo da mandíbula e da região temporoparietal e, eventualmente, na região zigomática. ● Tem forte relação com má oclusão dentária, o que pode ser verificado por assincronismo e desvio da mandíbula ao abrir e fechar a boca. ● Pode ocorrer dor parietotemporal, zumbido e, esporadicamente, surdez e hemianopsia do lado acometido, constituindo-se na síndrome de Costen. ■ Osteoartrite de ombros: ● Varia entre 5 e 10% dos indivíduos com mais de 50 anos. ● A articulação acromioclavicular é a mais afetada; entre trabalhadores braçais. ■ Osteoartrite dos pés: ● Mais frequente é o que ocorre no primeiro metatarso falangeano. ● O acometimento radiológico pode ser visto em 10% de indivíduos com idade entre 20 e 34 anos e em 44% após os 80 anos. ■ Osteoartrite da coluna cervical e lombar (espondiloses cervical e lombar): 6 ● A OA pode acometer também a coluna, principalmente os segmentos cervical e lombar, diferentemente da AR que geralmente poupa o segmento lombar. ● A compressão de raízes nervosas pode ocorrer secundariamente ao envolvimento da coluna. ● O paciente pode queixar-se de dor irradiada para as extremidades, acompanhada por parestesias e diminuição focal de força muscular, respeitando os dermátomos da raiz lesada. ● A espondilose cervical afeta virtualmente todas as pessoas com mais de 50 anos. ● Os sintomas e sinais são divididos em cinco categorias que frequentemente se sobrepõem: ○ (1) envolvimento das articulações ou das estruturas intra ou extra- articulares, com manifestações clínicas; ○ (2) envolvimento das vias nervosas, principalmente as raízes (posteriormente); ○ (3) compressão medular ou mielopatia; ○ (4) envolvimento da artéria vertebral pelo processo osteoartrítico, principalmente nas porções superiores, ao nível atlas-axis-occipital; ○ (5) acometimento esofágico. ● As crises ocorrem cerca de uma vez ao ano, a partir de 35 a 40 anos até 55 a 60 anos, quando então se tornam gradativamente mais frequentes. ● O paciente desperta com dor de forte intensidade em uma das faces do pescoço, algumas vezes com movimentos limitados, podendo ocorrer torcicolo agudo que pode persistir por 2 a 3 dias, com recuperação lenta. ● A dor, geralmente intensa, pode ser referida nas regiões occipital, retro-orbitária e frontal. ● É pior pela manhã e se associa à sensação de rigidez, tornando a rotação cervical mais difícil. ● A dor por compressão de raiz geralmente é unilateral, de intensidade moderada a intensa e pode ocorrer após os 35 anos. É pior à noite e acompanha-se de parestesias nas mãos. A dor no braço pode persistir por mais de 2 meses, sendo o seu pico nas primeiras2 a 3 semanas; após esse período a intensidade diminui. ● Quando a protrusão discal ocorre bilateralmente, a dor ocorre em ambos os membros, com parestesias também bilateralmente. ● A protrusão central pode comprimir o ligamento longitudinal posterior e a dura- máter, tornando-se aderente, fibrótica, causando uma dor contínua, bilateral que vai do occipício até a escápula. ● Diminuição de movimentos sem concomitância de dor geralmente está associada à OA. ● O acometimento da coluna lombar pode levar à estenose do canal vertebral, cuja história característica é de claudicação do membro inferior. ● A dor pode ocorrer com a deambulação, persiste durante as paradas e no movimento de levantar-se de uma cadeira. Contudo, na posição sentada e 7 com a flexão anterior da coluna, a dor melhora sensivelmente. DIAGNÓSTICO: ● Os exames laboratoriais geralmente são de pouca utilidade para o diagnóstico de OA. ● Velocidade de hemossedimentação [VHS], proteína C reativa [PCR], hemograma e testes bioquímicos em geral são normais. ● A solicitação de “perfil reumatológico” não é indicada. ● A investigação radiológica é fundamental não só no diagnóstico da OA, mas também na avaliação do grau de comprometimento articular. ● Os principais achados radiológicos incluem diminuição do espaço articular, esclerose do osso subcondral, cistos subcondrais e osteófitos. ● As erosões geralmente não são observadas na OA, exceto nas formas com sinais clínicos de inflamação. ● A tomografia computadorizada ou a ressonância magnética da coluna podem ser indicadas em pacientes que apresentem sinais ou sintomas de compressão de raiz nervosa. ● Há em andamento pesquisas para validar alguns produtos da degradação da cartilagem, como o colágeno do tipo II, por exemplo, os quais podem ser mensurados na urina e no sangue, como possíveis marcadores a serem usados futuramente. FATORES DE RISCO: ● Idade ● Sobrepeso ● Falta de exercícios físicos ● Exercícios físicos intensos ● Diabetes ● Gota ● Hipotiroidismo CONSEQUÊNCIAS: ● Gastos com saúde pública ● Menor mobilidade ● Maior dependência ● Maior risco de quedas ● afastamento do trabalho ● Deformidade articular ● Predisposição para outras doenças → menos exercícios físicos INTRODUÇÃO: ● O aumento da expectativa de vida trouxe como consequência, quase que invariavelmente, multimorbidade e incapacidade. ● Essas situações, apesar de não serem exclusivas da velhice, têm prevalência que aumenta de foma substancial com a idade. ● 65% dos indivíduos entre 65 e 84 anos e 82% daqueles com 85 ou mais anos são portadores de multimorbidade, ou seja, de duas ou mais doenças crônicas. ● Indivíduos com multimorbidade tendem a apresentar grande complexidade e vulnerabilidade, pois sofrem de mais problemas cognitivos, funcionais e psicossociais; têm maiores riscos de que as suas doenças manifestem-se de forma obscura ou atípica, retardando o diagnóstico e o início do tratamento; e são muito mais propensos a iatrogenia, fragilização, síndromes geriátricas, admissões e readmissões hospitalares e institucionalização. ● A avaliação geriátrica ampla (AGA) é a resposta a essa complexidade e geralmente inclui a avaliação do paciente em vários domínios, sendo mais comumente incluídos o físico (médico), o 8 2. Caracterizar AGA dentro da avaliação cirúrgica do idoso mental, o social, o funcional e o ambiental. ● A condição funcional, habilidade do idoso de funcionar na arena da vida diária, é um dos parâmetros mais importantes da avaliação geriátrica. ● A evidência de declínio funcional faz pressupor a existência de doença ligada ao quadro e que, algumas vezes, não está diagnosticada, decorrente, em geral, das manifestações clínicas atípicas inerentes a essa faixa etária. ● Atualmente, a AGA é amplamente difundida no mundo e aplicada não só no contexto hospitalar, mas também em instituições de longa permanência (ILP), emergências, ambulatórios e atendimento domiciliar. ● Para facilitar a avaliação geriátrica, são usados instrumentos capazes de detectar sinais de demência, delirium, depressão, efeitos colaterais medicamentosos, fragilidade, déficits visuais e auditivos etc., bem como de grandes síndromes geriátricas e perda do equilíbrio e da capacidade funcional. ● Esses instrumentos também são úteis para predizer prognóstico, tolerabilidade ao tratamento e riscos de morte e incapacidade. ● O conjunto dos instrumentos de avaliação – procedimentos, regras e técnicas – tem como meta avaliar o idoso de forma global. ● Com a identificação das condições funcionais do paciente, associadas ou não às doenças crônicas e às síndromes geriátricas, é possível desenvolver um plano adequado de intervenção. DEFINIÇÕES: ● A AGA é um processo diagnóstico multidimensional, geralmente interdisciplinar, para determinar as deficiências, incapacidades e desvantagens do idoso e planejar o seu cuidado e assistência a médio e longo prazos. ● A diferença da AGA para um atendimento médico habitual é que ela prioriza o estado funcional e a qualidade de vida, utilizando instrumentos de avaliação (testes, índices e escalas), facilitando a comunicação entre os membros da equipe interdisciplinar e a comparação evolutiva. ● É utilizada preferencialmente nos idosos frágeis e portadores de multimorbidades. ● Também conhecida como avaliação geriátrica multidimensional (AGM) ou avaliação geriátrica global (AGG) e é considerada o padrão-ouro para a avaliação de idosos. ● Objetivos: realizar um diagnóstico global e desenvolver um plano de tratamento e reabilitação, gerenciando os recursos necessários para as intervenções terapêuticas e reabilitatórias. ● Ela é capaz de identificar diminuições da capacidade, limitações das atividades e mesmo restrições à participação (desvantagens) do paciente idoso. ● Esses desafios referem-se, principalmente, às síndromes geriátricas e às doenças inaparentes com manifestações atípicas, cuja identificação é fundamental para a adequação terapêutica e para a prevenção da incapacidade nessa população. ● Ela faz parte do exame clínico do idoso, sendo fundamental nos pacientes portadores de multimorbidades e em uso de vários medicamentos. ● A avaliação clínica detalhada faz parte desse processo, devendo ser fundamentada em uma 9 anamnese criteriosa e com peculiaridades. ● Resumindo, a AGA é processo diagnóstico multidimensional que tem como meta determinar as condições médicas, funcionais e psicossociais do idoso e como objetivo desenvolver um plano global de tratamento e acompanhamento a médio e longo prazos. BENEFÍCIOS E EVIDÊNCIAS: ● Complementa a avaliação clínica tradicional e melhora a precisão diagnóstica ● Define se há diminuições da capacidade e limitações das atividades, sejam elas de causa motora mental ou psíquica ● Detecta problemas médicos inaparentes ● Identifica o risco de declínio funcional ● Avalia os riscos nutricionais ● Identifica riscos de iatrogenia ● Prediz desfechos desfavoráveis, como mortalidade, perda funcional e fragilização ● Orienta para as medidas de preservação e restauração da saúde ● Define os parâmetros de acompanhamento do paciente ● Direciona para as modificações e adaptações ambientais ● Define critérios para hospitalização e institucionalização. ● Nos estudos clínicos em que se avalia a capacidade funcional e a qualidade de vida, é utilizada como um dado preciso, pois identifica populações de risco; favorece investimento em saúde, qualidade de vida e bem-estar e, principalmente, serve para o planejamentode ações e políticas de saúde. ● Benefícios do AGA: Maior precisão diagnóstica; melhora do estado funcional e mental; melhora do humor; redução da mortalidade; diminuição de internação hospitalar e de institucionalização; diminuição da necessidade de assistência domiciliar; redução do uso medicamentos e da iatrogenia; diminuição do uso e dos custos do sistema de saúde; além de maior satisfação com o atendimento. ● Por outro lado, ajuda a estabelecer critérios para a internação hospitalar ou em ILP; orienta adaptações ambientais, reduzindo as hostilidades dos locais em que vivem com a colocação de rampas, adequação de pisos, barras de apoio em corredores e banheiros etc.; avalia o grau de comprometimento mental, motor ou psíquico; estabelece metas nutricionais e de otimização terapêutica; além de ser elemento fundamental para a criação de políticas públicas. ● A maioria dos pacientes é beneficiada pela AGA, especialmente nos programas que incluem a avaliação, a reabilitação e o acompanhamento a longo prazo. ● A AGA também é um importante preditor de desfechos desfavoráveis, ou seja, tem valor prognóstico, para pacientes cirúrgicos, oncológicos e ortopédicos. ● A AGA também é útil nas unidades de emergência. ● Os autores sugerem que a AGA tem potencial para identificar os idosos atendidos na emergência com maiores risco de ficarem hospitalizados bem como de serem readmitidos logo após a alta. ● Os princípios e processos da AGA têm sido gradativamente incorporados a outras especialidades médicas, incluindo 10 a oncologia, cardiologia e ortopedia. ● Entretanto, elas, à exceção da oncologia, têm utilizado os dados obtidos na AGA mais como índices prognósticos do que para planejamento de cuidado. ● Geriatras devem ser treinados para utilizar a AGA da mesma forma que utilizam testes laboratoriais e exames de imagem, pois ela tem valor diagnóstico, prognóstico e como norteadora do tratamento. ESTRUTURA E COMPONENTES: ● Para lidar com a complexidade dos problemas desses idosos, o profissional necessita coletar, organizar e usar adequadamente, de forma sistemática e com objetivos definidos, uma vasta gama de informações clínicas e funcionais relevantes. ● A AGA tem que ser completa de modo a permitir um diagnóstico funcional e a identificação dos indivíduos em risco e estruturada para que possa acompanhar a evolução e o prognóstico. ● Não pode ser extensa e precisa ter custo razoável. ● Tem características constantes como o fato de ser sempre multidimensional, utilizar instrumentos padronizados para avaliar todos os fatores que interferem na saúde do idoso, e de avaliar no mínimo as quatro principais dimensões: ○ Capacidade funcional; ○ Condições médicas; ○ Funcionamento social; ○ Saúde mental. ● Os parâmetros avaliados pela AGA são: ○ Equilíbrio, mobilidade e risco de quedas; ○ Função cognitiva ○ Condições emocionais ○ Deficiências sensoriais ○ Capacidade funcional ○ Estado e risco nutricional ○ Condições socioambientais ○ Polifarmácia e medicações inapropriadas ○ Comorbidades e multimorbidade ○ Outros. 1. Equilíbrio,mobilidade e risco de quedas: ● O aparelho locomotor sofre importantes modificações com a idade. ● Avaliação marcha e do equilíbrio são partes essenciais da AGA. ● É importante que, dentro do exame clínico tradicional, uma avaliação neurológica básica seja realizada ● Sinal de Romberg para avaliação do equilíbrio: o indivíduo em posição ereta, pés unidos e olhos fechados, sendo que a positividade do teste ocorre quando há oscilações corpóreas e risco de queda em qualquer direção. ● Get up and Go (teste de levantar e andar): É realizado com o paciente levantando-se de uma cadeira reta e com encosto, caminhando três metros, voltando, após girar 180º, para o mesmo local e tornando a sentar- se. Avaliar o equilíbrio do paciente sentado, o equilíbrio durante a marcha e a transferência. ○ (1) normalidade; ○ (2) anormalidade leve; 11 ○ (3) anormalidade média; ○ (4) anormalidade moderada; ○ (5) anormalidade grave. ● Escore de 3 e mais pontos indica risco aumentado de quedas. ● Timed Get up ad Go (teste de levantar e andar cronometrado): É uma variante do teste anterior, que além de avaliar os itens relacionados, mede o tempo de realização da tarefa. ○ Menor ou igual a 10 s – independente, sem alterações; ○ Entre 11 e 20 s – independente em transferências básicas, baixo risco de quedas; ○ Maior ou igual a 20 s – dependente em várias atividades de vida diária e na mobilidade, alto risco de quedas. ● Teste de equilíbrio e marcha: Realizado por meio de protocolo de Mary Tinetti. A grande propensão dos idosos à instabilidade postural e à alteração de marcha aumenta o risco de quedas. Em 2003, ele foi adaptado para ser utilizado na população brasileira, recebendo o nome de Performance Oriented Mobility Assessment (POMA) Brasil. A presença de sarcopenia interfere no equilíbrio e na mobilidade e consequentemente predispõe a quedas. ○ Escore < 19 pontos: alto risco de quedas; ○ 19 a 14 pontos, moderado risco de quedas. 12 13 ● Avaliação de sarcopenia: A mensuração da massa muscular pode ser feita por meio de métodos antropométricos, e/ou da bioimpedância e/ou da densitometria corporal total. O desempenho muscular é avaliado principalmente pela velocidade da marcha e pelo teste do levantar e andar cronometrado (Timed Get up ad Go) e a força muscular é avaliada principalmente pela força de preensão palmar. ● Velocidade de marcha: É medida pelo tempo, em segundos e milésimos de segundo, que o indivíduo leva para percorrer 4 metros. O cálculo é feito pela média de três tentativas (normal > 0,8 m/s). ● Circunferência da panturrilha: É a medida mais sensível e mais utilizada para avaliação da massa muscular em idosos (normal ≥ 31 cm). ● Força de preensão palmar: Está relacionada a força total do corpo. Utiliza-se o dinamômetro manual e é realizada com o indivíduo sentado com ombro aduzido e neutramente rodado, cotovelo flexionado a 90°, antebraço em posição neutra e o punho entre 0° e 30° de extensão e 0° a 15° de desvio ulnar. O resultado é a média de três medidas realizadas no membro dominante com intervalo de 60 s entre cada medida. ○ Para mulheres ≥ 20 kg; ○ Para homens ≥ 30 kg; 2. Função cognitiva e condições emocionais: ● A cognição é o processo de aquisição de conhecimento e inclui a atenção, o raciocínio, o pensamento, a memória, o juízo, a abstração, a linguagem, entre outros. ● As alterações cognitivas podem levar a perda da autonomia e progressiva dependência. ● Por meio da avaliação cognitiva, podem ser identificados quadros demenciais e os depressivos. ● Miniexame do Estado Mental: avalia os principais aspectos da função cognitiva. Foi modificado para ser aplicado em nosso meio, tanto nos ambientes hospitalares, ambulatorial quanto no domicílio. Tendo como pontuação mínima: ○ Analfabetos – 20 pontos; ○ 1 a 4 anos de estudo – 25 pontos; ○ 5 a 8 anos de estudo – 26 pontos; ○ 9 a 11 anos de estudo – 28 pontos; ○ Superior a 11 anos de estudo: 29 pontos. 14 ● Fluência verbal: avalia predominante a linguagem e a memória semântica, além da função executiva. Trata-se de teste rápido e com notas de corte definidas pela escolaridade. Solicita-se ao paciente relacionar o maior número de itens de uma categoria semântica (p. ex., frutas, animais) ou fonêmica (palavras que se iniciam com determinada letra) em um minuto ○ Escolaridade menor que 8 anos é de no mínimo 9 itens; ○ Indivíduos com escolaridade de oitoe mais anos é de no mínimo 13 itens. ● Teste do desenho do relógio: (TDR) avalia as funções 15 executivas, memória, habilidades visuoconstrutivas, abstração e compreensão verbal. Para realizá- lo, forneça ao paciente papel em branco, lápis ou caneta. Em seguida, solicite ao indivíduo que desenhe um relógio com todos os números e os ponteiros marcando 2:45 (duas horas e 45 min). Recomenda-se utilizar naqueles com no mínimo 4 anos de escolaridade. ● Escala de depressão geriátrica: É utilizada para rastreio de quadros depressivos em idosos, pois nesta faixa etária as manifestações são muito atípicas. A versão original é de 30 questões, mas há versões de 15 e menos. A versão de 15 itens é a mais utilizada. Tanto para detecção de demência quanto para depressão, é bom lembrar que eles têm caráter de rastreio e não de diagnóstico. ○ > 5 pontos: sugestiva de depressão. . 16 3. Deficiências sensoriais: ● Os déficits sensoriais são muito comuns nos idosos e representam motivo de perda de qualidade de vida, tornando-se empecilho para a realização das atividades de vida diária. ● Podem levar ao isolamento social, ao risco maior de quadros confusionais e a quedas. 4. Capacidade funcional: ● A capacidade funcional é definida como a aptidão do idoso para realizar determinada tarefa que lhe permita cuidar de si mesmo e ter uma vida independente em seu meio. ● A funcionalidade do idoso é determinada pelo seu grau de autonomia e independência. ● As atividades básicas de vida diária (ABVD) são: tomar banho, vestir-se, promover higiene, transferir-se da cama para a cadeira e vice-versa, ter continência, capacidade de alimentar-se e deambular. ● A incapacidade de executar estas atividades identifica alto grau de dependência e exige uma complexidade terapêutica. ● As escalas utilizadas baseiam-se em informações dos pacientes e dos cuidadores. ● As escalas mais utilizadas são a Escala de Katz e o Índice de Barthel. ● A Escala de Katz: Sua elaboração é baseada na conclusão de que a perda funcional segue um padrão igual de declínio, isto é, primeiro se perde a capacidade de banhar-se, seguida pela incapacidade de vestir-se, transferir-se e alimentar-se. Tem a grande limitação de não avaliar o item deambulação. ● Índice de Barthel: para avaliação da independência funcional e mobilidade. Avalia dez funções: banhar-se, vestir-se, promover higiene, usar o vaso sanitário, transferir-se da cama para cadeira e vice-versa, manter continências fecal e urinária, capacidade para alimentar-se, deambular e subir e descer escadas. Originalmente, foi desenvolvida para avaliar vítimas de acidente vascular encefálico (AVE) 17 ○ 100 pontos: Independência máxima. ○ < 20 pontos: dependência total ○ 20 a 35 pontos: dependência grave; ○ 40 a 55 pontos: dependência moderada; ○ 60 a 95 pontos: dependência leve. ● A escala de Lawton: Atividades instrumentais da vida diária (AIVD). Estão relacionadas com a realização de tarefas mais complexas, como arrumar a casa, telefonar, viajar, fazer compras, preparar os alimentos, controlar e tomar os remédios e administrar as finanças. De acordo com a capacidade de realizar essas atividades, é possível determinar se o indivíduo pode ou não viver sozinho sem supervisão. ○ 9 pontos – totalmente dependente; ○ 10 a 15 pontos – dependência grave; ○ 16 a 20 pontos – dependência moderada; ○ 21 a 25 pontos – dependência leve; ○ 25 a 27 pontos – independente. ● Questionário de Pfeffer para as Atividades Funcionais: comparou idosos sadios com os que possuíam déficit cognitivo, portanto tem grande importância no diagnóstico e acompanhamento das demências. 18 5. Estado e risco nutricional: ● São importantes na avaliação da condição de saúde de um indivíduo. ● A heterogeneidade dessa população dificulta a uniformização da avaliação nutricional geriátrica. ● Idosos entre 60 e 70 anos, próximos dos adotados pelos adultos mais jovens. ● Para idosos acima de 70 anos não existe um método único e eficiente para estabelecer as condições nutricionais, carecendo de valor preditivo para a mortalidade. ● Desnutrição: Viver sozinho desestimula o indivíduo a preparar alimentos; condições sociais adversas e sexo masculino são mais suscetíveis. ● A Miniavaliação Nutricional (MAN): avaliação nutricional especificamente do idoso. O objetivo da MAN é avaliar o risco de desnutrição para poder intervir quando necessário. ○ Entre 17 e 23,5 há risco de desnutrição; ○ Abaixo de 17, caracteriza desnutrição; ○ Acima de 24, considera-se bom o estado nutricional. 19 20 ● As medidas antropométricas fazem parte da avaliação nutricional. ● Índice de massa corporal (IMC): é obtido pela razão do peso (kg) pela altura (m) ao quadrado (kg/m2). ○ Baixo peso ≤ 22 kg/m2; ○ Eutrofia 22 a 27 kg/m2; ○ Obesidade ≥ 27 kg/m2. ● Observaram associação entre IMC e mortalidade para indivíduos com mais de 65 anos, com ênfase especial naqueles com mais de 75 anos, não hospitalizados, seguidos por mais de 3 anos. ● A medida da circunferência do braço (CB): avalia gordura subcutânea e musculatura. Inicialmente é definida a linha média do braço entre o olécrano e o acrômio com o braço flexionado a 90°; O braço, deve estar relaxado a longo do corpo, no membro não dominante, com a palma da mão voltada para a coxa. ● A circunferência da panturrilha (CP): é a medida mais sensível e mais utilizada para avaliação da massa muscular em idosos. Realizada na maior circunferência no espaço entre joelho e tornozelo; ○ Valor normal o ponto de corte de 31 cm, medido no membro não dominante 6. Condições socioambientais: ● A dimensão mais complexa e difícil de ser quantificada, provavelmente pela heterogeneidade dos seus componentes. ● Devem ser avaliadas as relações e as atividades sociais, os recursos disponíveis de suporte (social, familiar e financeiro), sabendo com que tipo de ajuda o idoso pode contar, caso necessite. ● Os sistemas de suporte social podem ser informais, que são as relações entre família, amigos e vizinhos, e sistemas formais que são hospital-dia, centro-dia, instituições de longa permanência, atendimento domiciliar e programas de capacitação de cuidadores. ● Deve-se perguntar sobre sua vida social e utilizar o Apgar da família e dos amigos. ● Outros aspectos que devem ser avaliados são as necessidades especiais e a adaptação do ambiente. 7. Polifarmácia e medicações inapropriadas: ● Polifarmácia pode ser definida como o uso regular de múltiplos medicamentos e, com o envelhecimento, o número deles aumenta pela necessidade de controlar várias crônicas coexistentes (multimorbidade). ● A polifarmácia, muitas vezes, não é errada. É até necessária, porém não deixa de ser uma situação de risco, pois existe uma relação direta entre o número de medicamentos usados e o risco de eventos adversos. ● Demonstraram que cinco ou mais medicamentos seriam o número mais adequado para definir polifarmácia. ● Além do número de medicamentos, o risco também está relacionado com o uso de medicamentos inapropriados, 21 os quais são definidos como aqueles que não apresentam evidência clara de eficácia ou cujo risco de reações adversas excede os benefícios. ● Existem listas validadas, com recomendações baseadas em evidências, de medicamentos considerados inapropriados para idosos. (critérios de Beers e o critério STOPP/START.) ● Convém ressaltar que a relação de medicamentos usados deve fazer parte da anamnese no exame clínico tradicional e que a AGA não pode ser dissociada deste na avaliação dos idosos. ● Fazer um inventáriomedicamentoso, também conhecido como “teste da sacola de remédios”. 8. Comorbidades e multimorbidade: ● Comorbidade é atualmente usada para descrever os efeitos combinados de doenças adicionais sobre uma “doença índice”. ● Multimorbidade é a ocorrência em um mesmo indivíduo de duas ou mais doenças crônicas. ● No idoso, o que mais se observa é a presença de multimorbidade, pois a prevalência de doenças crônicas aumenta com a idade. ● Entender por que várias doenças podem coexistir em um mesmo indivíduo é complicado e existem inúmeras razões, incluindo efeitos do acaso, fatores de risco ou mecanismos fisiopatológicos comuns e complexidades iatrogênicas. ● Índices de comorbidades devem ser incluídos na AGA, principalmente de pacientes hospitalizados, com condições agudas, ou com diagnóstico de doença que irá demandar intervenções terapêuticas mais invasivas. ● A lista de doenças deve ser obtida durante a anamnese no exame clínico tradicional do qual a AGA não deve ser dissociada. ● Índices de comorbidades são escalas nas quais o paciente recebe ponto por cada doença que apresente e essa pontuação é relacionada a prognósticos, principalmente a risco de morte. ● Índice de Comorbidade de Charlson (ICC): As condições clínicas mais frequentes na coorte de pacientes estudados foram incluídas na escala, sendo estabelecidos pesos para cada uma delas, a partir dos valores dos riscos relativos de mortalidade em 1 ano. ● Índice Comorbidade-Idade de Charlson (ICIC). ● Existem outros índices, inclusive mais específicos para a população idosa, porém todos eles também não foram validados no Brasil 9. Outros parâmetros: ● Um parâmetro importante é a autoavaliação da saúde do indivíduo. ● Outro parâmetro de igual importância é a presença ou não de maus-tratos. A avaliação e o tratamento de maus-tratos em idosos apresentam vários desafios: ○ as vítimas podem esconder o fato ou ser incapazes de relatá-los; ○ a alta carga de doenças crônicas predispõe a resultados tanto falso- 22 negativos (fraturas atribuídas a osteoporose), como falso-positivos (hematomas espontâneos decorrentes de fragilidade capilar); ○ barreiras culturais e linguísticas podem impedir divulgação de maus- tratos. ● Outro parâmertro relevante é a estimativa de risco cardiovascular. ● A AGA deverá fornecer também informações específicas relativas ao grupo a que pertence o idoso, por exemplo, idosos institucionalizados, idosos com neoplasias etc. PRÉ-OPERATÓRIO: 1. Introdução: ● A avaliação pré-operatória no idoso deve ser capaz de estimar possíveis riscos decorrentes do procedimento cirúrgico e orientar condutas que possam minimizá- los. ● A estimativa de risco é importante para oferecer ao cirurgião/equipe e paciente/família informações que devem ser consideradas para avaliação comparação entre possíveis benefícios e malefícios do procedimento. ● Os eventos cardiovasculares são as principais causas de mortalidade peroperatória em cirurgias não cardíacas. ● A população idosa apresenta fatores de altos riscos (múltiplas comorbidades, polifarmácia, doenças crônicas). 2. Avaliação anestésica ● A avaliação anestésica tradicional baseada nos critérios da American Society of Anesthesiologists (ASA), história clínica e exame físico, permite a obtenção de uma pequena quantidade de informações quando se trata do idoso. ● Poucos cirurgiões e anestesistas valorizam a capacidade física e cognitiva no pré-operatório. ● Apesar da existência de vários instrumentos para medir o risco pré-operatório, a avaliação da capacidade funcional e da avaliação geriátrica ampla (AGA) ainda não faz parte da investigação pré-operatória rotineira. Ao término da avaliação precisamos estar aptos para responder a três questionamentos: ■O que fazer para minimizar os riscos? ■Que exames complementares devem ser realizados? ■A cirurgia deve ser liberada, adiada ou cancelada? 3. Fatores de risco: ● Os fatores que contribuem para o aumento do risco peroperatório: ○ Idade ○ Comorbidades ○ Polifarmácia ○ Capacidade funcional. ● O envelhecimento coincide com um declínio funcional progressivo e limitação física, criando uma condição de vulnerabilidade às agressões externas e perda da capacidade de adaptação aos agentes estressores. 4. Avaliação geral: 23 3. Conhecer os riscos pré, pós e intra operatório dos idosos Anamnese: ● A anamnese deve ser preferencialmente realizada com o próprio paciente ou com seus familiares. ● O seu objetivo é a coleta de informações de condições clínicas determinantes na estimativa do risco cirúrgico com informações sobre a doença de base, que indicou o procedimento cirúrgico. ● Idade, gênero, tipo sanguíneo, sorologia positiva para vírus C, aceitação de transfusão; ● Antecedentes cirúrgicos ou anestésicos que possam revelar complicações, alergias ou existência de comorbidades. ● Estado clínico e da necessidade de compensação de doenças coexistentes. ● Identificação de cardiopatias graves e/ou com repercussão hemodinâmica. ● Avaliação da capacidade funcional (atividades de vida diária [AVD], atividades instrumentais de vida diária [AIVD], Miniexame do Estado Mental [MEEM]) ● Investigação de fatores de risco para cardiopatias ● Registro da presença de marca- passo. ● Diagnósticos de doença vascular periférica, insuficiência renal, doença vascular cerebral, diabetes melito, hepatopatia, distúrbios hemorrágicos, distúrbios da tireoide e doença pulmonar crônica. ● Uso de medicamentos, fitoterápicos, álcool, drogas ilícitas e avaliação de potencial interferência com o ato operatório. Exame físico: ● Não deve ser limitado ao sistema cardiovascular. ● Identificar cardiopatia preexistente e potenciais fatores de risco, definir a gravidade e estabilidade da cardiopatia e identificar eventuais comorbidades. ● Exame sucinto da cabeça e pescoço e vias respiratórias: A distância interincisivos menor do que 3 cm, dificuldade de visualização da úvula, distância tireomentoniana menor que 6 cm ou largura de 3 dedos, comprimento e largura do pescoço (curto e grosso) e a mobilidade da cabeça e do pescoço com limitação da extensão da cabeça ou flexão do pescoço, são achados não desejáveis para uma cirurgia segura. ● Teste de Mallampat: Com o paciente em posição sentada, solicita-se a abertura máxima da boca e protrusão da língua, sem fonação. ○ Indivíduos em que apenas o palato mole é visível, a intubação provavelmente será difícil. ○ Quando se observa a úvula e os pilares amigdalianos, a intubação traqueal será provavelmente fácil. Recomendações para solicitação de exames laboratoriais: ● O exame pré-operatório útil é aquele que sugere uma mudança na conduta durante o cuidado com o paciente. ● Exames pré-operatórios com resultados normais ou limítrofes são inúteis. ● Os exames pré-operatórios anormais em pacientes assintomáticos apresentam, 24 portanto, um baixo valor preditivo. Quesitos que tornam o exame pré- operatório útil: ● Deve indicar um grande risco de morbidade peroperatória que possa ser reduzido pelo tratamento pré-operatório ● Alterações que não são detectáveis pela anamnese e exame físico ● A patologia investigada tem prevalência suficiente na população para justificar o risco da triagem. ● Influência do procedimento cirúrgico na avaliação do risco De acordo principalmente com o grau de agressão, trauma tecidual e perdas sanguíneas, os procedimentos cirúrgicos são distribuídos nas seguintes categorias: Força da recomendação: ● Classe IIa: benefício >> risco; a opção pelo tratamento/procedimento pode ajudaro paciente ● Classe IIb: benefício ≥ risco; não está definido se o tratamento/procedimento pode ajudar o paciente ● Classe III: risco ≥ benefício; o tratamento/procedimento não deve ser realizado, uma vez que não ajuda e pode prejudicar o paciente Nível de evidência: ● A: evidências em várias populações, derivadas de ensaios clínicos randomizados e metanálises ● B: evidências em limitado grupo de populações, derivadas de único ensaio clínico randomizado ou estudos clínicos não randomizados ● C: evidências em grupo muito limitado de populações, derivadas de consensos e opiniões de especialistas, relatos e séries de casos. 5. Exames complementares Hemograma completo: ● História de anemia ou outras doenças hematológicas ou doenças hepáticas; ● intervenções de médio e grande porte, com previsão de sangramento e necessidade de transfusão (grau de recomendação I, nível de evidência C). Exames bioquímicos: ● Provas de função hepática e renal. ● Quando essas alterações significativas ocorrem, 70% referem-se à glicemia e à ureia. ● As dosagens de ureia e glicose estão indicadas para os pacientes acima de 65 anos. ● Transaminases glutâmico- oxalacética (TGO) e glutamicopirúvica (TGP) devem ser solicitadas se houver preocupação com problemas ligados à icterícia pós-anestésica. ● Portadores de nefropatia, diabetes melito, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca, se não houver um resultado deste exame nos últimos 12 meses. Hemostasia/testes da coagulação: 25 ● Uso de anticoagulação; insuficiência hepática; portadores de distúrbios de coagulação. Radiografia de tórax: ● Alterações significativas para o risco cirúrgico: todos os fatores de risco para doença pulmonar, desvios traqueais, compressões, massas mediastinais, nódulos pulmonares, aneurismas da aorta, pneumonias, atelectasias, fraturas, dextrocardia, cardiomegalia. ● Essas alterações são raras em pacientes assintomáticos e na verdade os riscos dos exames radiológicos superam os benefícios naqueles com idade inferior a 75 anos. Eletrocardiograma: ● As seguintes alterações podem alterar a conduta peroperatória: fibrilação atrial ou flutter atrial, alterações de ST- T indicativas de isquemia ou tromboembolismo venoso, arritmias ventriculares, PR curto, QT longo, sinais de distúrbios hidreletrolíticos. ● História e/ou anormalidades ao exame físico sugestivas de doença cardiovascular; episódio recente de dor torácica isquêmica ou considerados de alto risco no algoritmo ou pelo médico assistente; pacientes com diabetes melito. ● As alterações do ECG são muito comuns e aumentam exponencialmente com a idade. ● Deve-se repetir o ECG se o realizado foi feito há mais de 2 meses. Ecocardiograma ● Permitir avaliação detalhada da estrutura e dinâmica das válvulas ou presença de hipertrofia ventricular. ● A avaliação da função ventricular esquerda obtida de rotina no pré- operatório não é recomendada. Exames nos indivíduos assintomáticos: ● Etapa I: verificar as condições clínicas do paciente. Identificar as variáveis de risco associadas a complicações cardíacas, tais como dados da história, do exame físico e de testes diagnósticos ● Etapa II: avaliar a capacidade funcional. Pela história clínica, é possível termos informações sobre a capacidade funcional do paciente. Indagar sobre as limitações para deambulação rápida, subir escadas, efetuar atividades domésticas, efetuar exercícios regulares. A probabilidade de má evolução pós-operatória é maior nos pacientes com baixa capacidade funcional ● Etapa III: estabelecer o risco intrínseco associado ao tipo de procedimento. Os procedimentos não cardíacos podem ser classificados como de risco alto, intermediário ou baixo, de acordo com a probabilidade de desenvolver eventos cardíacos. ● Etapa IV: decidir sobre a necessidade de testes para avaliação complementar ● Etapa V: adequar o tratamento. Avaliar a terapêutica que está sendo empregada, corrigir a posologia e as classes das medicações cardiovasculares que estão sendo empregadas, adicionar novos medicamentos e 26 orientar o manejo peroperatório das medicações em uso. ● Etapa VI: acompanhamento peroperatório. A avaliação não está limitada ao período pré- operatório. Considerar a necessidade de monitoramento eletrocardiográfico, e de dosagens laboratoriais de marcadores de lesão miocárdica, corrigir distúrbios hidreletrolíticos, identificar e tratar anemia, infecção ou insuficiência respiratória. Considerar profilaxia para trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar ● Etapa VII: planejar terapêutica a longo prazo. 6. Avaliação específica Hipertensão arterial: ● De forma geral, a hipertensão estágio 2 com pressão arterial sistólica (PAS) > 180 mmHg e pressão arterial distólica (PAD) > 110 mmHg deve ser controlada antes da cirurgia. ● A hipertensão leve ou moderada, em que não há alterações metabólicas ou cardiovasculares associadas, não há evidências de que seja benéfico retardar a operação. ● O reinício da terapêutica anti- hipertensiva no pós-operatório, de preferência a que o paciente utilizava antes da cirurgia, deve ser realizado o mais rápido possível. Controle de glicemia: ● Os portadores de diabetes devem ser preferencialmente operados no primeiro horário do dia, especialmente os usuários de insulina. ● Deve-se evitar hipoglicemias e a variabilidade glicêmica. ● Monitorar a glicemia capilar a cada 6 h em pacientes usuários de hipoglicemiantes orais e a cada 4 h em usuários de insulina. ● Manter glicemias entre 100 e 180 mg/dℓ. Profilaxia do tromboembolismo venoso ● Balanceando riscos e benefícios, deverá ser considerada suspensão de antiagregantes 1 semana a 10 dias antes de cirurgia eletiva. ● A anestesia regional deve ser considerada em adição a outros métodos de tromboprofilaxia. ● Para cirurgia de catarata e procedimentos dermatológicos pequenos sugere-se continuar os antagonistas da vitamina K. ● Para procedimentos dentários pequenos é sugerido continuar e administrar gelatina hemostática ou ácido tranexâmico. ● Para a maioria das cirurgias, o antagonista da vitamina K deve ser suspenso 5 dias antes. Tabagismo ● Os impactos negativos do tabagismo sobre os desfechos cirúrgicos devem-se principalmente aos efeitos diretos do monóxido de carbono (CO), da nicotina e do aumento do estresse oxidativo e inflamatório. ● O CO e a nicotina aumentam a frequência cardíaca, a pressão arterial e a demanda tecidual de oxigênio, além de diminuir sua capacidade de transporte. ● A nicotina, por seu efeito vasoconstritor, aumenta os riscos de isquemia tecidual no leito cirúrgico e outros territórios, como o coronariano. ● Também aumenta a suscetibilidade dos pacientes fumantes a infecções respiratórias, complicações locais 27 de cicatrização em cirurgias pulmonares. ● Ocorrem necessidade de maiores doses de anestésicos e bloqueadores neuromusculares, aumento da incidência de eventos tromboembólicos. PÓS-OPERATÓRIO: ● Atuam como fatores agravantes a baixa reserva funcional e a diminuição da capacidade de defesa e adaptação desses idosos com múltiplas comorbidades. ● A habilidade dos idosos de responder ao trauma cirúrgico é menor do que nas outras faixas etárias. 1. Hipoxemia: ● É a inadequada oxigenação tecidual. ● Diagnosticada por níveis baixos de PaO2 (pressão parcial de O2 no sangue arterial) ou por queda da saturação da hemoglobina. ● Considera-se hipoxemia quando a PaO2 é inferior a 60 mmHg e/ou quando a saturação de oxigênio arterial (SaO2) é menor de que 90%ou sofreu decréscimo maior do que 5% do valor inicial. ● Quando a saturação de oxigênio arterial (SaO2) for menor que 85%, a hipoxemia é considerada grave. ● As causas mais frequentes são: ○ Baixa fração inspirada de oxigênio (FIO2) ○ Hipoventilação – depressão ventilatória por substâncias, como pelos opioides e sedativos, por bloqueio neuromuscular. ○ Distúrbios da relação ventilação/perfusão (V/Q) – a relação ventilação/perfusão pode estar alterada em situações como atelectasias, embolia pulmonar, posicionamento do paciente, intubação seletiva, broncospasmo, pneumonia, tampão mucoso, obstrução da via respiratória. 2. Hipotensão arterial: ● Ocorre em consequência à redução da pré-carga, da contratilidade do miocárdio e resistência vascular sistêmica. ● Pode ter como causas a ventilação inadequada, efeitos de agentes anestésicos ou medicamentos pré-operatórios, mudança rápida de posição, perda volêmica ou sequestro de sangue na circulação periférica. 3. Dor: ● A Associação Internacional para Estudo da Dor (IASP) define dor como uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual. ● A sensação de dor é totalmente subjetiva e a sua percepção, individual. 4. Disfunção renal e distúrbios hidreletrolíticos: ● A causa mais comum é a necrose tubular aguda, resultante da hipóxia dos néfrons e danos na região medular do rim secundária a hipotensão ou hipovolemia. ● O procedimento cirúrgico e a anestesia estimulam a secreção de hormônio antidiurético e da aldosterona, causando retenção hídrica. ● Ocorre redução do volume urinário independente da administração de líquidos. ● Alguns anestésicos são considerados nefrotóxicos e podem produzir hipoperfusão renal, isquemia e necrose tubular. ● Outro fator a ser lembrado é a hiponatremia de origem dilucional consequente a reposição volêmica que pode promover 28 alterações neurológicas como delirium, sonolência e torpor. 5. Complicações cardíacas: ● Não é incomum a ocorrência de eventos isquêmicos intraoperatórios e as arritmias são frequentes na população idosa. ● As alterações cardíacas funcionais como hipertrofia ventricular esquerda (HVE), disfunção diastólica, diminuição da fração de ejeção, estenose aórtica e insuficiência mitral são fatores que aumentam o risco de complicações pós-operatórias. 6. Complicações pulmonares: ● As alterações fisiológicas do envelhecimento, como diminuição do movimento ciliar, do reflexo e eficácia da tosse e o aumento do espaço morto, além de fatores coexistentes como tabagismo, asma, bronquiectasia e enfisema pulmonar, predispõem a complicações pulmonares graves no pós-operatório. ● Nesses pacientes ocorre acúmulo de secreção, desencadeando o broncospasmo e dificultando a expansibilidade pulmonar. ● A redução dos reflexos laríngeos de proteção e a alteração do nível de consciência por sedação residual pós-anestésica aumentam o risco para broncoaspiração. ● Cirurgias torácicas, de abdome superior ou com duração superior a 6 h aumentam significativamente o risco. 7. Disfunção cognitiva: ● Deterioração da função intelectual que se manifesta como perda de memória e de concentração. ● Lapsos subjetivos são geralmente manifestados como falhas na execução de tarefas simples, podendo permanecer por semanas a meses. ● Algumas evidências sugerem que isquemia cerebral intraoperatória e hipoxemia possam ser mecanismos fisiopatológicos. 8. Delirium: ● Delirium consiste em um estado confusional agudo, e flutuante da função cognitiva representando a manifestação da disfunção cerebral aguda e que pode cursar com diferentes manifestações clínicas. ● O déficit de atenção é o fenômeno mais aparente, embora possam ser observados perda de memória, alucinações e agitação. ● É geralmente reversível e pode ser consequência direta de uma condição médica, como o uso de medicamentos com propriedade anticolinérgica, hipoxia ou hipercapenia, febre, perda sanguínea e distúrbios eletrolítico ou devido a um processo infeccioso. ● O quadro clínico varia de um paciente hipoativo e sonolento até agitação psicomotora com alucinações na forma hiperativa. 9. Tromboembolismo venoso : ● Tromboembolismo venoso, incluindo trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar, é uma grande causa de morbidade e mortalidade entre os idosos. ● A trombose venosa profunda é a maior causa de óbitos intra hospitalares no mundo e, paradoxalmente, a mais evitável. ● Durante a cirurgia ocorrem fatores desencadeantes do trombo, levando a lesão de endotélio vascular e estase venosa pela imobilidade. ● Quando associado a fatores individuais predisponentes de hipercoagulabilidade, o risco de 29 desenvolver trombose venosa profunda e consequente embolia pulmonar é muito maior. ● A idade superior a 60 anos é risco individual alto, assim como cirurgias ortopédicas como a artroplastia de quadril e do joelho e cirurgia de correção de fratura da extremidade proximal do fêmur, por trauma. Assim, necessitam de abordagem profilática. 10.Sangramento: ● O risco de hemorragia deve ser avaliado em todos os pacientes cirúrgicos, baseando-se na história pessoal e familiar e no exame físico. ● São necessários estudos adicionais se houver suspeita de alterações da coagulação, com base na anamnese e no exame físico. 11.Suporte nutricional: ● É benéfico para o paciente retornar à dieta normal o mais precocemente possível após a cirurgia. ● A dieta normal promove o retorno precoce da função gastrintestinal, favorecendo, assim, a cicatrização da ferida cirúrgica e diminuindo o risco de translocação bacteriana. ● Se não houver perspectiva de retornar à alimentação após 24 h de pós-operatório em cirurgias não abdominais, a nutrição enteral deverá ser introduzida através da sonda nasoenteral, visando restabelecer rapidamente a via digestiva, porém deve-se atentar que ela pode contribuir para um quadro de confusão mental. ● Resíduo gástrico elevado (> 200 mℓ) predispõe a broncoaspiração. ● Durante as primeiras 24 a 36 h após a cirurgia, muitos pacientes podem apresentar náuseas e vômitos. ● Nas cirurgias de grande porte que evoluam com íleo metabólico, distensão abdominal, vômitos ou outros fatores impeditivos para o início da dieta enteral, a avaliação diária da nutricionista faz-se necessária para manter o valor energético total (VET) adequado. 12.Infecção: ● As infecções, incluindo bacteriemia e sepse, são importantes causas do aumento da morbimortalidade pós- operatória. ● Pela própria fisiologia do envelhecimento, a febre pode estar ausente nos quadros infecciosos no pós-operatório. ● A demora ao retorno das atividades normais do sistema imunológico deixa o paciente suscetível a infecções. ● Flebites em locais dos cateteres, reação às medicações e embolia também são fatores causais de febre. ● Atelectasias e broncospiração de saliva propiciam o desenvolvimento de pneumonia. ● Infecções virais e fúngicas podem estar associadas a um mau prognóstico. ● Muitas comorbidades que são prevalentes na população idosa, incluindo diabetes melito, doença vascular periférica, má nutrição, hipoalbuminemia crônica e redução da gordura corporal levando à hipotermia são preditores conhecidos de infecções do sítio cirúrgico. ● Os idosos que saíam de alta hospitalar e eram encaminhados a outras instituições como as de longa permanência, centros de reabilitação ou outro hospital tinham risco maior de ter infecção pós-operatória. 30 ● Outro fator de risco analisado em relação aos idosos que foram para sua residência foi cirurgia préviano mesmo local. 13.Febre e causas: ● Os riscos substancialmente aumentados de eventos adversos durante a internação hospitalar favorecem as iatrogenias. ● Imobilidade prolongada, incontinência urinária, úlcera por pressão, polifarmácia, banhos no leito e uso de fraldas são fatores que funcionam como facilitadores de perdas funcionais. ● Os idosos que desenvolvem complicações pós-operatórias têm maiores taxas de mortalidade e sua recuperação funcional é parcial. 31
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