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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA, MEDIEVAL E DO BRASIL JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO 2 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: 3 MITO E CULTURA GREGA 1.1 MITOLOGIA GREGA: TEOGONIA E NARRATIVAS DE ORIGEM A mitologia grega surge do imperativo de entendimento da natureza. Diante do tamanho avassalador do natural, o sujeito compreende a necessidade da diminuição da distância entre o homem e o natural e, consequentemente, inicia um processo de superação do medo inicial da natureza. Portanto, as narrativas mitológicas possuem a função inicial de superação do medo do desconhecido, isto é, de superação do medo originário proveniente da natureza. Tal superação ocorre, sobretudo, com a antropomorfização dos poderes naturais, em outros termos, são conferidas à natureza características físicas e psíquicas típicas do ser humano, por exemplo, os deuses se enfurecem, sentem-se enciumados, sofrem e desejam como os seres humanos. A mitologia configura-se como uma atividade inventiva de caráter narrativo/literário que procura fornecer os primeiros princípios organizacionais do mundo, da realidade e, sobretudo, da natureza para os seres humanos constituírem- se enquanto seres sociais e, deste modo, iniciarem o processo de significação do mundo e das coisas. Karl Kerényi (2015, p. 12) aponta que a “mitologia precisa transcender o indivíduo, e precisa exercer sobre os seres humanos um poder que tenha influência sobre a alma e enche-a de imagens”, isto é, como atividade inventiva, a mitologia supera o caráter individual da narração e dirige-se à vida social dos seres humanos em aspectos práticos e espirituais, preenchendo os recônditos da vida humana com histórias (mythoi) plenas de significações. Em sua plenitude de significações e de relações diretas com as organizações sociais dos seres humanos em contato com a natureza, a mitologia institui-se como uma religião politeísta, em outros termos, como uma organização religiosa dotada de um panteão de deuses e deusas, ou conforme compreendida por Yuval N. Harari, em “Sapiens”, como a ideia de que: UNIDADE 01 UNIDADE 01 4 [...] o mundo era controlado por um grupo de deuses poderosos, como a deusa da fertilidade, o deus da chuva e o deus da guerra. Os humanos podiam rogar a esses deuses, e os deuses podiam, se recebessem devoções e sacrifícios, dignar-se a trazer chuva, vitória e saúde (HARARI, 2017, p. 221). Nesse sentido, não havia nenhum aspecto da vida grega que não fosse regido pela relação ritualística com os deuses, ao passo que, a figura do poeta (o rapsodo) institui-se como o narrador, o intérprete e o tradutor da mensagem divina para os demais seres humanos. É justamente o poeta inspirado pelas musas que narra o mito e, consequentemente, aquele que possui uma relação de proximidade com os deuses algo que, por sua vez, lhe confere uma aura de autoridade. Tal autoridade se dá na atividade da narração pública do mito, fazendo deste um discurso compartilhado entre o narrador e os ouvintes. Diante disso, é de suma importância frisar que a narrativa mitológica se constitui enquanto uma narrativa oral, ou seja, no espaço comunitário preenchido pela oralidade. Figura 1: O Rapsodo (490 a.C. – 480 a.C.) – British Museum Fonte: Gonçalves e Batista (2017) Trata-se, portanto, de uma troca de escuta entre o poeta e o ouvinte, partindo do pressuposto que o poeta, inspirado, possui acesso à verdade dos deuses. Frente a tal destinação, a palavra de autoridade do poeta organiza a vida e a sociedade grega em torno dos deuses e das atividades ritualísticas que conferem, ao fim e ao 5 cabo, a segurança necessária para a consolidação da organização comunitária grega. Ademais, em um período anterior à escrita, o poeta (o sábio) repassa, através das narrativas mitológicas, o segredo do religioso, isto é, torna pública a “descoberta de uma realidade superior que ultrapassa em muito o comum dos homens” (VERNANT, 2002, p. 58), que, consequentemente, atua diretamente na consolidação do imaginário político-social do sujeito grego. Com efeito, devido às suas atribuições organizadoras e funções de conhecimento da natureza, a mitologia figura como a principal narrativa do nascente mundo grego. Ademais, a mitologia compreende que os “homens, a https://bit.ly/3GPaZVx 6 divindade e o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano” (VERNANT, 2002, p. 110) e, para tanto, são tecidas narrativas que buscam configurar o surgimento e a ordenação inicial do cosmo, as cosmogonias. A Teogonia, do poeta Hesíodo (750 a.C. – 650 a.C.), destaca-se como uma das mais importantes cosmogonias, justamente por fornecer a imagem do surgimento do mundo e a organização dos poderes naturais sob a tutela de Zeus, o maior dos deuses olímpicos. Trata-se da narrativa mitológica que apresenta a superação inicial do caos com o surgimento dos elementos primordiais Uranos (o céu) e de Gaia (a terra) e, a consequente superação de Uranos e Gaia pelos seus filhos: os Titãs, compreendidos como forças naturais essenciais, tendo Cronos (o tempo) à frente dos poderes da natureza e, finalmente, a instituição de Zeus como o regente de uma nova ordem cósmica. Como ordenador autoritário, Cronos devora seus filhos (os futuros deuses olímpicos) com a finalidade de impedir que algum deles lhe tome o seu trono. Contudo, Reia, esposa de Cronos, descontente com a situação, entrega a Cronos uma pedra envolta em trapos no lugar de seu filho Zeus, escondendo o mesmo em uma caverna. Após passar anos escondido em uma caverna, Zeus, já adulto, retorna e desafia Cronos, libertando seus irmãos, Hades e Poseidon e, consequentemente, dando início à Titanomaquia, ou seja, a guerra entre os deuses e os titãs. Figura 2: Zeus fulmina os titãs (1533) – Perin del Varga Fonte: Wikimedia Commons 7 A vitória dos deuses olímpicos, sob o comando de Zeus, não instaura tão somente uma nova ordem cósmica, mas, sobretudo, ela destaca o surgimento de um mundo novo no qual as forças primordiais da natureza encontram-se dominadas e, para tanto, segundo Vernant (2002), torna-se possível avistar os processos de racionalização que, posteriormente, atuarão sobre a natureza dominando-a e instrumentalizando-a segundo os desígnios do logos. 1.2 AS EPOPEIAS1 HOMÉRICAS Homero (850 a.C.) é o autor de duas das grandes narrativas fundadoras do pensamento e da cultura ocidental, a “Ilíada” e a “Odisseia”. As narrativas homéricas possuem um valor pedagógico, isto é, fornecem ao cidadão grego modelos educacionais para a vida social, principalmente, ao ressaltar exemplos heroicos de coragem e de astúcia, virtudes determinantes para o sujeito da Grécia Clássica. https://bit.ly/3uOxLdO 8 Para Jaeger (1994), as poesias de Homero destacam a vasta e complexa formação educacional do grego e, consequentemente, contribuem para a fundamentação da sociedade arcaica enquanto categorias fundamentais “da vida e do pensamento”. Deste modo, a Ilíada e a Odisseia conferem referências fundamentais para a formação do sujeito, revelando configurações das relações sociais na Grécia Clássica. A estrutura da poesia homérica apresenta uma caraterística determinante das narrativas míticas gregas, a saber: a ausência de separação entre o mundo dos deuses e o mundo dos homens. Assim, deuses, deusas, homens e mulheres dividem a mesma realidade, isto é, caminham entre si, relacionam-se entre si e, de modo magistral, dividem o mesmo campo de batalha, conforme tematizado na epopeia Ilíada. Na Ilíada, Homero narra os últimos anos da Guerra de Troia, representando os feitos do herói e semideus Aquiles. A ocasião da guerra possui profundas raízes mitológicas, pois é motivada por uma disputa entre as deusas Atena, Hera e Afrodite para determinar qual delas era a deusa mais bela. Tal disputa é solucionada por um mortal, Páris, um pastor de ovelhas que, mais tarde, irá se revelar como um príncipe https://bit.ly/3GOxAkM 9 troiano marcado por uma funesta profecia. Afrodite, a vencedora da disputa, confere a Páris, como prêmio por tê-la escolhido, o amor da mulher mais bela, Helena de Troia. Contudo, Helena é esposa de Menelau, irmão de Agamenon, o maior dos reis da Grécia. Diante da fuga de Helena e de sua chegada à Troia como amante de Páris, Agamenon e Menelau convocam os heróis e reis da Grécia, entre eles estão Aquiles e Ulisses (ou Odisseu), que partem rumo à Guerra em Troia. Por anos a fio, a guerra se desenrola demonstrando os embates entre gregos e troianos e, por vezes, entre os próprios deuses que possuem os seus protegidos nos campos de batalha. Aquiles, por sua vez, situa-se como o indomável guerreiro armado com armadura e armas divinas, que atinge o seu clímax ao vingar o seu amante Pátraclo derrotando Heitor, o príncipe e o principal guerreiro de Tróia. Figura 5: Aquiles derrota Heitor (1630) – Peter Paul Rubens Fonte: Wikimedia1 A narrativa homérica deposita em Aquiles o modelo da excelência (aretê) na atividade da guerra, dando a margem para compreendermos o semideus grego como um dos modelos de virtude apresentados na “Ilíada”. Ademais, a narrativa encerra-se com os jogos funerais de Heitor após ter o seu corpo recuperado pelo seu pai e rei de Troia, Príamo. Na “Odisseia”, por sua vez, Homero narra a tentativa de Ulisses (Odisseu) de retornar à Ítaca e rever sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco. O herói da 1Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Peter_Paul_Rubens_-_Achilles_slays_Hector.jpg, acessado em 06/02/20. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Peter_Paul_Rubens_-_Achilles_slays_Hector.jpg 10 “Odisseia” difere de Aquiles, herói da Ilíada, uma vez que Ulisses é um simples mortal sem relação imediata com os deuses. Entretanto, o mundo de Ulisses também se entrelaça ao mundo dos deuses, pois, sua sina se dá, justamente, pelo seu desdenho com relação aos deuses olímpicos. Na areia das praias de Troia encontra-se um cavalo de madeira, plano bolado pelo astuto Ulisses para, finalmente, derrotarem a cidade, uma vez que as suas muralhas se fazem impenetráveis. Dentro do cavalo há uma série dos melhores guerreiros gregos. Interpretado como uma oferenda logo após Poseidon, o deus dos mares, enviar um monstro marinho para dar cabo do sacerdote que aconselhava o soberano de Troia a incendiar o cavalo, o “presente de grego” é levado para dentro da cidade troiana. No cair da noite, os guerreiros saem do cavalo, abrem os portões de Troia e, finalmente, a cidade é destruída. Ulisses, motivado pela genialidade de seu plano, renega os deuses e coloca- se como, de fato, o vencedor de Troia. Nesse ínterim, Poseidon amaldiçoa Ulisses e sentencia-o a vagar no mar sem ser capaz de retornar à Ítaca, seu reino. Após vagar anos a fio e enfrentar as intempéries do mar, os ciclopes, as feiticeiras, enganar as sereias e todos os perigos que os deuses colocaram em seu caminho, Ulisses, com a ajuda de Atena, consegue retornar à sua cidade, libertar Penélope e, retomar o seu reinado. Para o pensador Theodor W. Adorno, o personagem de Ulisses tem um significado muito importante para a filosofia, pois, ele exemplifica a chegada da racionalidade como superação dos saberes mitológicos na resolução dos problemas. Adorno afirma que a astúcia de Ulisses antecipa a busca do humano pela tentativa de colocar-se acima da natureza e, consequentemente, dominá-la, conforme ocorre, por exemplo, no episódio das sereias, narrado na Odisseia. Ali, com a sua racionalidade, Ulisses domina o mito (o natural) ao ser capaz de escutar o canto das sereias sem ser arrastado para o fundo do mar. 11 Figura 6: Odisseu fugindo da caverna de Polifemo (1593–1678) - Jacob Jordaens Fonte: Arquivo do autor 1.3 AS TRAGÉDIAS GREGAS Compreendidos como produtores de cultura, os gregos destacam-se, além da proeminência de suas narrativas mitológicas, pela invenção da tragédia, isto é, com a invenção de uma arte imitativa (mimética) composta da representação teatral verossímil de acontecimentos, de mitos, da vida régia, de intrigas e de desenvolvimentos comunais da vida grega. Com efeito, a composição da tragédia grega, costumeiramente, relaciona- se com a mitologia como “fonte de criação artística” (OLIVEIRA). Contudo, o dramaturgo possuía a liberdade da invenção e da modificação, conferindo, portanto, uma nova roupagem ao mito e, consequentemente, inovando a leitura mítica ao transmutá-la em diferentes versões. A tragédia relaciona-se, diretamente, com o modo de ser do grego, pois se trata da imitação da sua relação direta com a natureza e do modelo ritualístico/divino que propõe a afinidade com os deuses. Ademais, a tragédia acentua o seu caráter de orientação da vida do sujeito, uma vez que, primitivamente, ela institui modelos de organização, liturgia e justiça para o ser humano grego. Inclusive, para Aristóteles, na Poética, a tragédia, ao fornecer possibilidades ordenatórias, é capaz de, através da representação teatral, 12 proporcionar que o sujeito se reconheça na peça e, consequente, realize a catarse, isto é, purifique/purgue os sentimentos tortuosos que não são saudáveis para a vida social. Como o mais famoso gênero da literatura grega, a tragédia revela as peripécias do herói para a fuga impossível das determinações pré-estabelecidas pelas profecias do destino (as Moiras). Nesse sentido, os dramaturgos Sófocles, autor de “Édipo Rei”, e Eurípedes, autor de “Medeia”, destacam-se como os grandes autores trágicos da Grécia Clássica. Figura 7: Jasão e Medeia (1907) - John William Waterhouse Fonte: Arquivo do autor https://pt.wikipedia.org/wiki/John_William_Waterhouse 13 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Leia os textos e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – Adaptado). Para a mitologia grega […] “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Alguns deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do tártaro ou para a terra, entre os mortais. E os homens, o que aconteceu com eles? Quem são eles?” VERNANT, J. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. A ordem, em todas as suas acepções, é o grande objeto do espanto filosófico. Causam maravilhamento a ordem das leis naturais que a ciência descobre, a ordem manifesta nas proporções e harmonias da obra de arte e a ordem das ações justas na vida moral e política da sociedade. Antes da filosofia, os mitos já expressavam esse maravilhamento, porém, com diferenças importantes. Sobre esse assunto, é correto afirmar que o mito: a) enuncia de modo argumentativo a escala de valores de uma sociedade pré- crítica. b) estabelece parâmetros de abordagem dos fenômenos naturais sobre bases estritamente lógicas, como o princípio de não contradição. c) busca explicações suficientes sobre o lugar do homem no mundo, apelando ao sagrado. d) possui uma grande densidade teológico-moral, dando a cada membro do grupo autonomia para decidir e atuar sem limites objetivos. e) representam o conhecimento verdadeiro, logocêntrico e afastado do natural. 2. (UNIFOR CE) A religião na Grécia Antiga apresentou como características o: a) Zoomorfismo, o monoteísmo e o totemismo. b) Salvacionismo, o antropomorfismo e o messianismo. c) Asceticismo, a mitologia e o animismo. d) Antropomorfismo, o politeísmo e a mitologia. e) Animismo, o salvacionismo e o misticismo. 14 3. Leia o texto abaixo e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – Adaptado). “ (…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do desconhecido, englobando o pequeno campo do conhecimento concreto comum. O sobrenatural está em todas as partes, dentro ou além do natural; e o conhecimento do sobrenatural que o homem acredita possuir, não sendo da experiência direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado ou (como diziam os gregos) ‘divino’ — o mágico e o sacerdote, o poeta e o vidente”. CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2001. A partir do texto acima, é correto afirmar que: a) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo concreto comum. b) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum. c) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos os homens. d) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do sobrenatural superior narrado pelo poeta. e) o mito é narrado pelo filósofo e, portanto, tem compromisso direto com a verdade. 4. Para Adorno, Ulisses, da “Odisseia”, exemplifica: a) o fortalecimento do mito diante do humano. b) a reverência aos deuses e deusas do politeísmo grego. c) a elevação da racionalidade como superação do mitológico. d) o mitológico como superior à racionalidade. e) o homem irracional como sujeito central das narrativas mitológicas. 5. Na “Ilíada”, de Homero, o mundo dos deuses e dos seres humanos se mistura. Diante disso, o herói Aquiles destaca-se, sobretudo: a) como modelo da excelência na atividade da guerra e de virtude. b) como modelo de covardia e, portanto, afastado dos deuses. c) como modelo de excelência na atividade da argumentação. d) como modelo de narrador virtuoso. 15 e) como modelo de racionalidade orientada em direção à superação do mito. 6. UNICENTRO (Adaptado). “Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que se define seu caráter particular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se distancie muito da religião de outros povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los, fazer-lhes o cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…). ” OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. São Paulo: Odysseus Editora, 2005. Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa correta. a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada poderiam interferir no destino dos humanos e, assim, a determinação divina (ananque) se colocava em segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no momento de sua livre ação. b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego para o pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do mito para o logos; mas, sim, um processo gradual e contínuo de enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia. c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de mundo que o homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes como harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos princípios, das causas e do porquê das coisas. Embora todas essas instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não deixaram de lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados. 16 d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura uma modalidade literária bem singular no Ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por exemplo, sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a qual sempre revelou uma lógica racional em funcionamento. e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego, pois o caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parte os aspectos que se revelariam relevantes na poesia grega. 7. As tragédias gregas se caracterizam como: a) um modo artístico que não apresenta relação com a vida do grego. b) uma arte mimética que faz parte do modo como o grego organizava o seu mundo. c) uma arte racional e, consequentemente, distante do mitológico. d) uma arte mimética de caráter desvinculado da Cidade-Estado. e) uma arte mimética não semelhante à realidade, em outros termos, inverossímil. 8. UNIMONTES (Adaptado) Leia o texto e responda ao que se segue: “Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística – e é disso que venho falando, dando conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona, mas não o que é”. Você risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me dirá nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de determinada ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você 17 tem toda uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso. ” CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. Podemos afirmar que: a) o mito é uma experiência singular que continua dando sentido à existência humana. b) os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas. c) o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade. d) não necessitamos dos mitos e eles são ultrapassados. e) o mito não foi capaz de se firmar como um universo simbólico. 18 O SURGIMENTO DO LOGOS 2.1 DO MITO AO LOGOS A passagem do mito ao logos caracteriza a chegada da razão como modelo lógico, crítico, reflexivo e sistemático de compreensão/organização do mundo e da natureza. Trata-se, portanto, da eleição do logos (da racionalidade) como motor explicativo da realidade e, consequentemente, da superação da narrativa mitológica em seu papel de organização/conhecimento do mundo. Tem-se, deste modo, a consideração por um outro modo de conhecimento que, diferentemente da narrativa oral mitológica, adota como fundamento a busca pela verdade das coisas. Assim, o descompromisso mítico com a verdade, isto é, a consolidação de um saber desvinculado dos processos lógicos de compreensão da realidade, é superado pela construção de uma teoria (de um logos / de uma lógica) cujo principal direcionamento é o de fornecer aspectos racionalmente construídos para obtenção do conhecimento do mundo, da natureza e das coisas. Segundo Chauí (2016, p. 33), A filosofia se constitui quando alguns gregos, insatisfeitos com as explicações sobre a realidade dadas pela tradição por meio dos mitos, começam a fazer perguntas e buscar respostas para elas. Admirados e espantados com a realidade, demonstram que os seres humanos e as coisas da natureza podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer a si mesma. Diante da insuficiência das explicações fornecidas pela tradição mitológica, o logos (a razão) se instaura como a capacidade racional de explicar aquilo que a mitologia não é capaz; ou melhor, para o grego, as explicações míticas, descompromissadas com a verdade, tornam-se incapazes de fornecer a ele os critérios determinantes para a sua organização política, social e cultural. Soma-se a isso a rápida expansão territorial grega (como, por exemplo, o surgimento das cidades de Mileto e de Éfeso, na Ásia menor) motivada, principalmente, por novas determinações e laços econômicos. Ademais, o fortalecimento do comércio aliado UNIDADE 02 UNIDADE 02 19 ao conhecimento de novas culturas exige da sociedade grega a formulação de novos modos de compreensão do mundo e da realidade. Faz-se necessária, portanto, a eclosão de um novo modo de organização do mundo e, finalmente, tal modelo é fornecido pela razão filosófica enquanto um conjunto de conhecimentos e procedimentos reflexivos racionalmente orientados, em outros termos, saberes e regras sistematizadas através da razão e do sujeito. Ademais, diferentemente do saber mítico que não se preocupava com o teor de verdade presente nos elementos mágicos, fabulosos ou, até mesmo, com as contradições de seu discurso, o logos filosófico assenta-se, sobretudo, na sistematicidade universal dos procedimentos racionais de busca pela verdade que, ao fim e ao cabo, irá promover uma desconstrução do imaginário mítico e, principalmente, da autoridade divina da palavra do poeta (do sábio) para propor- se, como veremos adiante, como um discurso da pólis, ou seja, como uma palavra de organização política. 20 2.2 COSMOLOGIAS: FILOSOFIAS NATURALISTAS Os primeiros modelos filosóficos de organização do real são fornecidos pelos pensadores pré-socráticos em relação direta com a natureza, por isso, os pré- socráticos são denominados como filósofos naturalistas e as suas filosofias são conhecidas como cosmologias. As cosmologias são tentativas racionais de organização do cosmos, isto é, o pensamento racional passa a investigar a origem/natureza do mundo. Nesse sentido, as filosofias pré-socráticas são as primeiras tentativas racionais de dizer a origem do mundo a partir da investigação racional/empírica da natureza. A origem do mundo, segundo a filosofia pré-socrática dá-se, sobretudo, através da physis, isto é, por meio da compreensão/determinação do princípio (arché) natural, que confere origem ao mundo e a todas as coisas. Deste modo, a physis, como propõe Reale (1990), é a natureza em seu sentido originário a partir da qual toda a realidade provém. Nesse ínterim, todos os filósofos pré-socráticos se perguntaram sobre a physis procurando, racionalmente, explicá-la. É interessante ressaltarmos que o surgimento da filosofia, como disciplina que busca a origem racional do cosmos, não se dá como disciplina isolada do mundo e dos demais conteúdos do saber humano, mas, pelo contrário, a filosofia alia-se, principalmente, à matemática e à astronomia no ensejo de dizer as coisas primeiras e, consequentemente, fundamentar-se como um método de conhecimento de busca racional da verdade. Por conseguinte, a originalidade da filosofia, e principalmente do 21 pensamento pré-socrático, é a investigação de “princípios únicos a partir dos quais a natureza como um todo poderia ser constituída e/ou gerada, bem como seus diversos fenômenos explicados” (POLITO; FILHO, 2013, p. 334). Tais princípios, como dito anteriormente, encontram-se no conceito de physis, a determinação originária das coisas. Figura 10: Alguns filósofos pré-socráticos Fonte: Arquivo do autor Diversos são os pensadores denominados de pré-socráticos, cada qual, a seu modo, buscando conhecer a physis como “elemento imperecível, gerador de todos os outros elementos naturais, perecíveis” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 07). Deste modo, podemos dar sequência evidenciando os filósofos e seus pensamentos a seguir. Tales de Mileto (623 a.C. – 546 a.C.), da Escola de Mileto, foi matemático, astrônomo, sendo considerado o primeiro filósofo. O pensamento de Tales considera a água como o princípio natural (ou causa material) do qual tudo surge, em outros termos, a physis pra Tales é a água. Assim, de acordo com o monismo pensado pelo filósofo de Mileto, a água se configurava como a substância fundamental (ou princípio imperecível) da qual todas as outras derivavam. Deste modo, a totalidade do mundo seria a água, pois, indiscutivelmente, ela estaria presente em todos os demais compostos. 22 Falando ainda dos filósofos pré-socráticos detentores de um pensamento monista, isto é, da ideia de que através da observação de um elemento da natureza seria possível determiná-lo como o princípio natural imperecível e originário de todas as coisas, temos Anaxímenes (588 a.C. – 524 a.C.) que, por sua vez, determinou que a physis seria o ar. Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490 a.C.), filósofo, astrônomo e matemático, pensa a physis como uma complexa organização numérica, atribuindo ao número 1 (um) a ideia de origem, isto é, de ponto de partida para a fundação do Universo. Ademais, o pensamento pitagórico oferece contribuições determinantes não apenas para a consolidação da geometria (o teorema de Pitágoras) e da filosofia, mas também acrescenta ao entendimento da música ao descobrir uma nova escala de tons (a escala pitagórica). Ademais, a influência de Pitágoras pode ser observada em grandes pensadores futuros, tais como Galileu Galilei e Isaac Newton. É preciso salientar que, como traço essencial e comum, de acordo com Ghiraldelli Júnior (2003), “em suas cosmologias”, esses pensadores “tentam encontrar uma substância única, ou força exclusiva, ou princípio básico capaz de ser apresentado como elemento efetivamente real e primordial do cosmos” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 08). Diante disso, na tentativa de compreensão da physis e, consequentemente, da ampliação da filosofia, os pré-socráticos Heráclito e Parmênides demandam uma atenção especial, como veremos a seguir. https://bit.ly/3JohAIb 23 Quadro 1: Alguns pensadores pré-socráticos e a physis Fonte: Elaborada pelo autor 2.3 HERÁCLITO E PARMÊNIDES Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470 a.C.) e Parmênides de Eleia (530 a.C. - 460 a.C.) são dois dos mais importantes pensadores pré-socráticos, cujas reflexões vieram a influenciar toda a filosofia subsequente. Opositores no que diz respeito ao entendimento da physis, ambos os filósofos determinaram aspectos fundamentais para o desdobramento da razão como modo de reflexão humana. Heráclito, o Obscuro, determina o fogo como elemento originário, não em uma perspectiva monista, conforme pensado por Tales, mas, pelo contrário, o fogo encontra-se em um movimento perpétuo de purificação e transformação dos outros elementos. Diante disso, a noção de movimento (devir) assume a primazia do pensamento heraclitiano. Pré-socráticos Physis Anaximandro (610 a.C.-546 a.C.) O infinito / o ilimitado (apeíron) Empédocles (490 a.C. - 430 a.C.) Terra, fogo, água e ar Anaxágoras (500 a.C. - 428 a.C.) Sementes, amor e ódio Demócrito (460 a.C. - 370 a.C.) Átomos Zenão (490 a.C. - 430 a.C.) Imobilidade https://bit.ly/34FCRyf 24 Figura 14: Heráclito (1630) - Johannes Moreelse Fonte: (MOREELSE, 1602 –1634) O movimento, segundo Heráclito, é o agente da transformação promovendo, portanto, uma estrutura natural de eterno devir. Nesse sentido, a seguinte máxima atribuída à Heráclito funciona como pedra basilar de seu entendimento, revelando que, para o pré-socrático, “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”. (HERÁCLITO – grifo nosso). Assim, de acordo com Chauí (2002), na máxima heraclitiana, dividida em fragmentos: https://bit.ly/3LvWNnO 25 [...] expressa-se a ideia mestra de Heráclito, a saber, que o mundo é mudança contínua e incessante de todas as coisas e que a permanência é ilusão. Referindo-se a Heráclito, Platão escreveu que para esse filósofo “tudo flui”, tudo passa, tudo se move sem cessar. O úmido seca, o seco umedece, o quente esfria, o fio esquenta, a vida morre, a morte renasce, o dia anoitece, a noite amanhece, a vigília adormece, o sono desperta, a criança envelhece, o velho se infantiliza. O mundo é um perpétuo nascer, morrer, envelhecer e rejuvenescer. Tudo muda, nada permanece idêntico a si mesmo. O movimento é, portanto, a realidade verdadeira (CHAUI, 2002, p. 81 – grifo nosso). Com efeito, para Heráclito, o movimento instaura-se como o verdadeiro princípio originador da realidade, uma vez que, nada se encontra parado nem imutável, pelo contrário, a estrutura mesma da realidade, da natureza e do ser humano é, deste modo, mutável. Tudo, portanto, pode vir-a-ser, pois, compreende- se em um espaço/tempo dotado de movimentações e mudanças permanentes. Ressalta-se ainda que o fluxo de movimento e transformação próprio à realidade do mundo revela a “luta dos contrários” (CHAUÍ, 2002, p. 82), isto é, um movimento dialético de oposição entre elementos contrários que, ao fim e ao cabo, irão se harmonizar em um jogo de tensões que revela a realidade como “inquieta e móvel, tensa, concordante e discordante, e da guerra nasce a ordem ou o cosmos, equilíbrio dinâmico de forças contrárias que coexistem e se sucedem se cessar” (CHAUÍ, 2002, p. 82). Em outros termos, Heráclito fala de uma realidade marcada por um constante movimento de harmonização dos contrários. Dando a entrever, portanto, que o todo da realidade é composto pela multiplicidade característica de seu devir constante. Parmênides, da escola Eleata, em franca oposição ao pensamento de Heráclito, determina que a physis, o elemento originário, é o ser pensado como instância essencial, imutável e estática. Deste modo, o “ser é o que permanece idêntico a si mesmo” (CHAUÍ, 2002, p. 92), ou seja, aquilo que não muda, que não se transforma, o elemento essencial, a unidade, finalmente: aquilo que é. 26 Quadro 2: O ser segundo Parmênides Fonte: Adaptado de Chauí. (2002. p. 93-94). Segundo Parmênides, o pensamento só pode alcançar aquilo que permanece, isto é, aquilo que se oferece à identidade, em suma, segundo o pensamento do filósofo Eleata: “o ser é e o não ser não é”. Diante disso, pensar o ser (dizer a origem) é, portanto, pensar o imutável. Figura 15: Busto de Parmênides Fonte: (TOTALLY HISTORY, s.d.) É com Parmênides que se tem a fundação da disciplina Ontológica como campo reflexivo sobre a essencialidade do ser enquanto modelo originário imutável. Assim, compreendida como essencial, a ontologia de Parmênides lança as bases, como destaca Chauí (2002), para uma condenação/separação entre essência e aparência. Condenação/separação que, como se sabe, será fundamental ao pensamento de Platão, pois, de acordo com o pensamento parmenidiano, “o pensamento puro se afasta da percepção sensorial e o opera por argumentos lógicos” (CHAUÍ, 2002, p. 93), ou seja, a verdade (alétheia) do ser só pode ser conhecida por meio do pensamento / da razão. O ser é imóvel/imutável. O ser é eterno/indestrutível. O ser é uno/unitário. O ser é indivisível. O ser é pleno. 27 De fato, o pensamento do filósofo de Eleia já aponta para destinações fundamentais à filosofia vindoura, principalmente, ao salientar a distinção entre a alétheia, a verdade obtida racionalmente, e a dóxa, a opinião é fundamentada pelas circunstâncias, para tanto, é mutável/efêmera e perecível ou, como veremos adiante, diz respeito a um tipo falso de conhecimento provido do senso comum. Enfim, os pensamentos de Heráclito e de Parmênides influenciaram a toda uma teoria filosófica que virá a seguir, sobretudo, no que diz respeito às oposições iniciais entre uma realidade constituída tendo o movimento e a mudança como bases fundamentais e, em divergência a isso, uma realidade essencialmente centrada na ideia de um ser imutável/imóvel, do qual todas as coisas provêm. 2.4 FIXA https://bit.ly/3BrdJar 28 O CONTEÚDO 1. Assinale a questão CORRETA sobre as condições que favoreceram a passagem do mito ao logos. a) A suficiência do mito na ordenação da realidade; o surgimento da racionalidade sistemática; o fortalecimento do comércio; os novos laços econômicos. b) O surgimento da racionalidade sistemática; a superação do modelo mítico de ordenação da realidade; os novos laços econômicos; o fortalecimento do comércio. c) O surgimento da racionalidade sistemática; o fechamento da Grécia a novos laços econômicos; a superação do modelo mítico de ordenação da realidade. d) O fortalecimento do comércio. O surgimento de novos laços mitológicos; o fechamento a um novo modelo de pensamento. A suficiência do mito na ordenação da realidade. e) A superação do modelo mítico de ordenação da realidade; o fechamento do comércio. O surgimento da racionalidade sistemática; os novos laços econômicos. 2. A passagem do mito ao logos demarca uma complexa modificação do modo como os gregos compreendiam o mundo. Assim, com o desencantamento do mundo, como dirá mais tarde o sociólogo Max Weber, o pensamento mítico/mágico perde o espaço de organização simbólica para a rigorosidade do pensamento racional/científico. Diante disso, podemos pensar a palavra da filosofia do seguinte modo: a) como uma palavra mágico/mítica de autoridade do sábio perante a realidade. b) como uma palavra de revelação divina na determinação da realidade. c) como uma palavra de ordenação racional/política da realidade. d) como uma palavra composta de fabulações e encantamentos. e) como uma palavra distanciada da realidade por tratar apenas de temas metafísicos. 3. Os primeiros modelos filosóficos são denominados de cosmologias. Diante disso, uma cosmologia é definida como: a) tentativas de organização do mundo por meio de narrativas orais mitológicas. 29 b) tentativas de organização do cosmos através da palavra poética. c) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade separada do natural. d) tentativas de organização do cosmos por meio da intervenção dos deuses na realidade dos seres humanos. e) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade a partir da investigação empírica/racional da natureza. 4. (UEG) – Adaptada A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão marcante que dividiu a sua história em períodos: período pré-socrático, período socrático e período pós- socrático. O período pré-socrático é visto como uma época de formação da filosofia grega, na qual predominavam os problemas cosmológicos. Ele se desenvolveu em cidades da Jônia e da Magna Grécia. Grandes escolas filosóficas surgem nesse período e muitos pensadores se destacam. Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da filosofia. Seu nome é: a) Sócrates de Atenas. b) Parmênides de Eleia. c) Heráclito de Éfeso. d) Tales de Mileto. e) Demócrito de Abdera. 5. (UEL 2015) – Adaptada De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas. 30 Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a alternativa correta. a) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas. b) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação. d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas. e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas. 6. (UNCISAL 2012) – Adaptada O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões se prendem à Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os sentidos apenas capturam uma realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem essa realidade jamais se alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra. 31 Para Demócrito, a physis é composta: a) pelo fogo. b) pela água. c) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio. d) pelo ilimitado e) pelos átomos. 7. (UNIOESTE 2012) – Adaptada O que há em comum entre Tales, Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, entre e Pitágoras de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação racional do mundo, e isso é uma reviravolta decisiva na história do pensamento” (Pierre Hadot). Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia, seguem as seguintes proposições: I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as explicações racionais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o início, o princípio, mas também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo qual uma coisa se constitui. II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do desenvolvimento do universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo mítico, descreviam a história do mundo como uma luta entre entidades personificadas. III. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico, é considerado filósofo – o fundador da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição “A água é a origem e a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é um”, ou seja, a representação de unidade. IV. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o mesmo esquema de orientação das narrativas mitológicas, pois, ao fim e ao cabo, os pré-socráticos constroem cosmogonias. Assinale a alternativa correta. a) Apenas as proposições I e II estão corretas. 32 b) Apenas as proposições III e IV estão corretas. c) Apenas as proposições II e III estão corretas. d) Apenas as proposições I, II e III estão corretas. e) Todas estão corretas. 8. UECE (2018) - Adaptada. Relacione corretamente as frases apresentadas a seguir com os respectivos autores, numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I. COLUNA 1 1. A physis é o átomo. 2. A realidade encontra-se em constante devir. 3. Tudo é uno/imutável. 4. A physis corresponde a uma organização numérica. 5. Aquiles e a tartaruga. COLUNA 2 ( ) Heráclito de Éfeso. ( ) Zenão de Eleia. ( ) Pitágoras de Samos. ( ) Demócrito de Abdera. ( ) Parmênides de Eleia. Assinale a sequência correta: a) 5,4,3,2,1. b) 4,5,2,3,1. c) 3,2,1,4,5. d) 1,2,3,4,5. e) 3,5,4,1,2. 33 O SOFISTA E A PALAVRA 3.1 OS SOFISTAS: PALAVRA E PERSUASÃO Com a afirmação da racionalidade como modelo de orientação da realidade, têm-se a eclosão de profundas modificações no cenário grego, sobretudo, no que diz respeito à utilização da palavra. Com efeito, a palavra que anteriormente era de uso restrito dos sábios, enquanto inspirados pelos deuses, agora é de posse do cidadão em seu caráter coletivo e desvinculado da postura ritualística/divina. De fato, a palavra torna-se, efetivamente, um exercício de política e, assim, de poder. Como dito por Jean-Pierre Vernant (1981), a filosofia é a filha da cidade, por isso, o advento do pensamento racional ancora-se e no modo de vida social proposto pela polis (Cidade-Estado), sobretudo, em Atenas, e, consequentemente, contribui, efetivamente, para a determinação do modelo político grego que se organizara em torno da coletividade dando ensejo, portanto, ao ideal de democracia. 34 Diante disso, as decisões políticas e legislativas tomadas no âmbito da pólis são realizadas na Ágora, isto é, nas Assembleias coletivas realizadas nas praças públicas, nas quais os “bem-nascidos” (Eupátridas) exerciam o papel de cidadão ao discutirem os direcionamentos políticos e legais da pólis. Figura 17: Ruínas da Ágora antiga – Atenas Fonte: Lugares inesquecíveis 35 Superando as imposições da narrativa mítico/religiosa e transformada em sinônimo de poder, a palavra racional passa a ser disputada no âmbito da pólis grega. Frente a isso, o campo discursivo da pólis torna-se múltiplo e, consequentemente, dotado dos seguintes discursos: a) o mítico/religiosos que, mesmo desprovido de sua antiga tarefa de organização do real, ainda existe na pólis com papel de manutenção do aspecto ritualístico do mundo; b) o filosófico, ancorado na busca racional pela verdade das coisas; e c) o discurso do sofista, cujo aspecto central é o manejo da palavra racional em prol do efeito de persuasão e convencimento. O sofista é compreendido, inicialmente, como um “especialista do saber”, isto é, como um mestre/professor de retórica (técnicas voltadas para o bem falar, a eloquência, o bem argumentar e o bom emprego da palavra) que irá se relacionar, diretamente, com o modo de vida da pólis, delimitado pelo uso da palavra como instrumento de decisão política. Ademais, como estabelecido por Braga Júnior e Lopes (2015), os sofistas apresentam-se como: [...] o primeiro grupo de pessoas a realizar uma verdadeira revolução nas preocupações filosóficas da filosofia antiga, deslocando suas análises da physis e da busca por uma arché para se preocupar essencialmente com a problemática sobre quem é o homem, concentrando suas análises nos temas da ética, da política, da retórica e da educação. (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015, p. 126) Nota-se, com a citação acima, uma primeira concepção positiva acerca do sofista, pois, centrado nas modificações proporcionadas pelo surgimento da pólis, dos debates públicos e, sobretudo, do fazer político, os sofistas direcionam o logos rumo à compreensão de atividades humanas que, aparentemente, distanciam-se da natureza e fundamentam aspectos socioculturais. Contudo, posteriormente, com as críticas empreendidas por Sócrates e por Platão, a palavra e o posicionamento do https://bit.ly/3HS9uqI 36 sofista irão se caracterizar, sobretudo, pela defesa do relativismo ao afirmar que não existem verdades absolutas, diferentemente do filósofo, cuja preocupação principal é, justamente, a busca pela verdade. Frente a isso, destacam-se três posicionamentos centrais da atividade sofística: a) O relativismo: a verdade é relativa. b) O ceticismo: não existe verdade absoluta, mas, caso ela exista, o homem não pode conhecê-la. c) O convencionalismo: as normas, as leis e os costumes não são instâncias fixas e imutáveis, pelo contrário, as normas, as leis e os costumes são acordos/convenções travadas frente às necessidades. Peritos na arte retórica, isto é, na arte do bem falar e, consequentemente, no manejo do discurso em prol de obtenção de ganhos políticos, sociais e econômicos, os sofistas destacam-se como professores remunerados pelos ensinamentos da arte do convencimento destinada aos aristocratas atenienses. Deste modo, segundo Chauí (2002), a expertise dos sofistas se dava, principalmente, pela: [...] arte de argumentar e persuadir, decisiva para quem exerce a cidadania numa democracia direta, em que as discussões e decisões são feitas em público e nas quais vence quem melhor souber persuadir os demais, sendo hábil, jeitoso, astuto na argumentação em favor de sua opinião e contra o adversário. (CHAUÍ, 2002, p. 162). Destaca-se, assim, a atividade sofística como a utilização das técnicas de retórica e da oratória (a arte do bem falar) discurso enquanto meio/modo de convencimento (persuasão) carregado de páthos (emoção) que visa capturar o ouvinte em busca de poder político, operando, para tanto, por meio do argumento sedutor provido pelo manejo certeiro do discurso breve e claro, pois, conforme dito pelo sofista Górgias de Leontinos (484 a.C. – 376 a.C.): “Um discurso é um grande senhor que, por meio do menor e mais inaparente corpo, leva à cabo as obras mais divinas” (GÓRGIAS, 2009, p. 03). 37 Ademais, destaca-se, ainda, que o discurso sofista se funda por meio da defesa de opiniões (dóxa) divergentes, direcionando a tarefa da persuasão rumo àquele que mais o pagar, ou, como dito por Chauí (2002), os sofistas “não se interessam pela verdade (alétheia), que é sempre igual a si mesma e a mesma para todos. Sendo professores de opiniões, são mentirosos e charlatães” (CHAUÍ, 2002, p. 163 – grifos nossos), são considerados os falsos-filósofos e, diferem-se, sobretudo, no que diz respeito aos direcionamentos conferidos à palavra racional por Sócrates e Platão, como veremos adiante. Figura 19: Anfiteatro grego Fonte: Arquivo do autor https://bit.ly/3uOZKdo 38 GÓRGIAS DE LEONTINOS O sofista Górgias de Leontinos, considerado o “pai” da retórica, foi responsável pelo aprimoramento das técnicas do falar bem e, consequentemente, pelo desenvolvimento da palavra enquanto instrumento efetivo da persuasão. Fluente nas artes do falar com brevidade e com clareza, o discurso de Górgias foi capaz de persuadir os legisladores de Atenas e de figurá-lo como um dos mais importantes sofistas de seu tempo. O pensamento de Górgias, em sua potência retórica, é capaz de fazer frente à tradição filosófica pré-socrática, sobretudo, às determinações essencialistas do ser, conforme pensado por Parmênides de Eleia. Com efeito, segundo Chauí (2002), no desenvolvimento reflexivo-discursivo de Górgias: [...] pela primeira vez, com clareza, é quebrada a identidade entre ser- pensar-dizer, contida na palavra logos, e é estabelecida a diferença, a separação e autonomia entre realidade, pensamento e linguagem. (...) ao afirmar a diferença e a separação entre realidade, pensamento e linguagem, Górgias simplesmente quebrou o antigo conceito da verdade como alétheia e forçará a filosofia a redefinir o conceito de verdade, a reformular as relações entre ser, pensar e dizer e, portanto, a própria ideia de conhecimento. (CHAUÍ, 2002, p. 175) Ou seja, para além da utilização da palavra como meio/modo de convencimento e persuasão, o discurso de Górgias retira a primazia do logos como condutor reflexivo das determinações do conhecimento e da verdade ao questionar a identidade entre ser e pensamento e, finalmente, derrubar a ideia proposta por Parmênides de uma verdade/essência absoluta residente no ser. Deste modo, em seu ímpeto discursivo/reflexivo, Górgias afirma a impossibilidade de conhecimento do ser ao afirmar, contrariamente a Parmênides, que mesmo que algo fosse, não poderia ser conhecido pelo pensamento e que, em consequência disso, toda a verdade é ilusória. Assim, ao afirmar o conceito de verdade (alétheia) como ilusório, o sofista supera a antiga distinção entre discurso verdadeiro e opinião (dóxa) e, finalmente, amplia as possibilidades de alcance das técnicas da retórica e, principalmente, assenta a palavra no reino da relatividade, isto é, como não há nenhuma verdade absoluta, a palavra tem de se preocupar, tão somente, com as suas capacidades argumentativas de persuasão e de defesa da opinião. Frente a isso, os filósofos 39 Sócrates e Platão irão se declarar como inimigos dos sofistas na tentativa de restaurar a primazia do logos racional e na tentativa de fornecer as bases para a condução de uma reflexão em busca da verdade ideal das coisas, distanciando-se, portanto, das simples opiniões provindas do senso comum. Pensando ainda com Górgias, é necessário ressaltar a proeminência do caráter persuasivo de sua palavra com o exemplo do discurso O elogio de Helena, proferido por Górgias sobre Helena de Troia e as ocorrências que conduziram os gregos à guerra em Troia. 40 Figura 20: Helena e Páris (1788) – Jacques-Louis David Fonte: (DAVID, 1788) No discurso O elogio de Helena, Górgias argumenta em favor de Helena com vistas a não a culpar pelo ocorrido em Troia – como costumeiramente era feito –, pois, segundo o sofista, o seu rapto não se deu devido a um ardil planejado por ela em traição ao seu marido (Menelau – o rei de Esparta) em conluio com Páris (o príncipe troiano que era seu amante), mas sim, por causas incontornáveis. Diante disso, logo de início, o sofista deixa claro o propósito de seu discurso, a saber: [...] Refutar os que repreendem Helena, mulher acerca da qual veio a ser uníssono e unânime tanto a crença dos que deram ouvidos aos poetas, quanto a fama do nome que, de desgraças, tornou-se memória. Eu, porém, pretendo – dando ao discurso alguma lógica – por um lado, fazer cessar a acusação sobre a que foi mal falada; por outro lado, demonstrar que os que a repreendem estão mentindo e expor a verdade [ou] fazer cessar a ignorância. (GÓRGIAS, 2009, p. 01) Assim, dissipando a injustiça e retirando de Helena a culpa pela guerra, Górgias define quatro causas que ocasionaram a sua fuga (ou o seu rapto) de Esparta, posteriormente, chegada à Troia: 1) o amor por Páris; 2) a persuasão 41 discursiva que a convence a fugir; 3) uma força maior que a leva, contra sua vontade, a Troia; e, 4) a influência dos deuses que são mais fortes que os humanos. Com efeito, o sofista apresenta causas incontornáveis às quais o puro espírito de Helena não era suficientemente forte para oferecer resistência, procurando, portanto, convencer os ouvintes da inocência de Helena. 42 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A palavra racional instaura na Grécia Clássica um novo direcionamento político. Frente a tal modificação, como podemos definir o novo modo de ordenação político grego: a) como demarcado pela herança mitológica e, consequentemente, determinado pela palavra do sábio. b) como demarcado pela palavra da coletividade, isto é, as decisões tomadas na pólis são frutos da palavra democrática. c) como demarcado pela postura ritualística/divina advinda do poeta. d) como demarcado pela palavra da coletividade centrada no poder atemporal do mito. e) como demarcado pela palavra racional de uso exclusivo do sofista na busca pela verdade absoluta. 2. A Ágora grega é definida como: a) um espaço privado de tomada de decisões individuais. b) um espaço determinado pela presença do sábio. c) um espaço ritualístico de culto aos mitos. d) um espaço delimitado pela investigação da physis. e) um espaço público da tomada de decisões coletivas. 3. (UEG- GO) – Adaptada No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na Ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como: 43 a) Epicuristas. b) Maniqueístas. c) Sofistas. d) Hedonistas. e) Comunistas. 4. (UESPI) – Adaptada A construção da história requereu lutas contra as dificuldades naturais e grande capacidade de invenção. Muitas reflexões filosóficas foram importantes para pensar a condição da cultura. Os sofistas contribuíram com essas reflexões, quando: a) defenderam a relatividade, mostrando as impossibilidades para se chegar à verdade universal. b) criticaram as ideias de Aristóteles, embora aceitassem suas reflexões sobre os fundamentos da verdade. c) ressaltaram o valor da república democrática através do debate coletivo. d) ampliaram as dimensões da filosofia platônica, afirmando a força do idealismo estético para a arte. e) seguiram os ensinamentos do cristianismo, fundando uma religião sem rituais e hierarquias. 5. (SEE/MG) 2018 - Adaptada. Leia o texto a seguir: Os Sofistas surgem na Grécia antiga, século V a. C., na passagem da oligarquia para a democracia. São os mestres de retórica e oratória, muitas vezes mestres itinerantes, que percorrem as cidades-estados fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas habilidades aos cidadãos em geral. Eram relativistas. Sócrates também ensinava nas praças públicas através de perguntas e respostas que despertavam a verdade que está no interior de cada um. Sócrates afirmava que a opinião (doxa) é uma expressão individual, já o conhecimento (episteme) é universal. Desta forma, os sofistas ensinavam a retórica para convencer aos outros https://questoes.grancursosonline.com.br/concurso/see-mg-2017-2018-fumarc 44 que sua opinião é a melhor e Sócrates ensinava a dialética, que através de questionamentos (só sei que nada sei) levava ao conhecimento verdadeiro. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p. 42-48. Adaptado. De acordo com o texto acima, Sócrates não era um sofista, pois ele: a) era cético, seu lema era “só sei que nada sei”, enquanto os sofistas defendiam uma verdade. b) ensinava nas praças públicas apenas de Atenas, enquanto os sofistas eram itinerantes. c) buscava a verdade da episteme, enquanto os sofistas despertavam a verdade dentro de cada um. d) defendia a existência de uma verdade universal, enquanto os sofistas eram relativistas. e) persuadia através da retórica de que estava certo, enquanto os sofistas eram dialéticos. 6. SEDUC-PA (2018) – Adaptada “Na Grécia Antiga, havia ‘professores’ itinerantes, os sofistas, que percorriam as cidades ensinando a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram Platão e Aristóteles. ” (Disponível em: mundoeducacao.bol.uol.com.br.) Considerando o trecho anterior, analise as afirmativas a seguir. I. Seu saber era aparente e não efetivo, pois não possuía compromisso com a verdade, e sim com o lucro. II. Ensinavam a arte de argumentar e persuadir, indispensável para exercer a cidadania numa democracia direta. III. Contribuíram para o ensino, pois formaram um currículo de estudos que foi resgatado no período medieval. 45 IV. Há periculosidade do pensamento no ponto de vista moral, bem como inconsistência teórica. V. Os sofistas representam um fenômeno imprescindível. É impensável a filosofia sem eles. A respeito do pensamento direto dos principais socráticos sobre os sofistas, estão corretas apenas as afirmativas: a) I e IV. b) I e V. c) II e III. d) III e IV. e) IV e V. 7. De acordo com o sofista Górgias de Leontinos, o ser a) é produto conhecível pelo pensamento. b) é uma ilusão dos sentidos. c) pode ser amplamente conhecido pelo logos. d) não pode ser conhecido pelo pensamento. e) é um produto do discurso e do pensar. 8. A máxima “o homem é a medida de todas as coisas”, proferida pelo sofista Protágoras de Abdera, afirma: a) o caráter relativista do homem. b) o caráter essencialista do homem. c) o caráter idealista do homem. d) o caráter dialético do homem. e) o caráter racionalista do homem. 46 A FILOSOFIA DE PLATÃO 4.1 SÓCRATES Com a entrada de Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) no cenário da pólis grega, a palavra racional desloca-se, sobretudo, para o entendimento do homem, do conhecimento e da ética visando – diferentemente do sofista que compreende a palavra do logos como um instrumento de persuasão e de relativismo – encontrar o conhecimento verdadeiro (a episteme) das coisas. A perspectiva socrática é a da constante busca pela sabedoria a partir da emblemática certeza inicial de que a única coisa certa é a ignorância, formalizada pela seguinte expressão: “Só sei que nada sei”. Deste modo, Sócrates salienta a necessidade de superação das certezas pré-concebidas para, finalmente, adentrar na busca pelo conhecimento verdadeiro. Ademais, conforme ressaltado por Chauí (2002), a missão do filósofo Sócrates consiste em: [...] Busca incessante da sabedoria e da verdade e o reconhecimento incessante de que, a cada conhecimento obtido, uma nova ignorância se abre diante de nós. Isso não significa que a verdade não exista, e sim que deve ser sempre procurada e que sempre será maior do que nós. (CHAUÍ, 2002, p. 187) Ao buscar incessantemente a verdade, a filosofia socrática coloca-se como oposta à postura dos sofistas; pois, para Sócrates, há uma verdade absoluta a ser encontrada e seu desvelamento se dá, sobretudo, pela superação racional do caráter relativista e opinativo do saber, conforme proposto pelos sofistas. Diante disso, instaura-se uma oposição fundamental entre a opinião (dóxa) e o conhecimento verdadeiro (episteme) capaz, finalmente, de propor um caminho para o conhecimento de si mesmo. Com efeito, tal oposição dá-se na distinção entre os produtos de um falso saber advindo do senso comum e o conhecimento introduzido por meio de uma racionalidade metódica e, principalmente, em constante estado de reflexão. O método proposto por Sócrates é a maiêutica, pensada como um procedimento de questionamento através do diálogo que dirige questões ao outro como meio de retirar dele as respostas corretas ou, como ressalta Ghiraldelli Jr. (2003), trata-se de um UNIDADE 04 UNIDADE 04 47 método de parir a verdade através do jogo de pergunta e resposta, assim, “Sócrates é aquele que faz vir à luz a verdade dos conceitos” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 15), colocando em contradição as falsas verdades de seu interlocutor, uma vez que elas são advindas da opinião e do senso comum. A maiêutica socrática depara-se com indagações de cunho filosófico, tais como, discussões sobre o bom e o belo, a ética e a justiça, a política e o sujeito, a filosofia e os deuses, entre outras que, de fato, interferem no dia a dia da pólis. Justamente, por colocar em questão as antigas certezas e, principalmente, por demonstrar as contradições existentes nos discursos dos legisladores atenienses educados pelos sofistas, Sócrates é acusado de corromper a juventude de Atenas, de defender falas doutrinárias e, consequentemente, de ofender os deuses. Assim, no diálogo platônico, Apologia de Sócrates, tem-se a condenação de Sócrates. Julgado em um tribunal formado pelos seus próprios acusadores, Sócrates é 48 condenado e recusa-se a apelar para argumentos emocionais desprovidos de estrutura lógica e, muito menos, a pedir por misericórdia, pelo contrário, o filósofo continua a apontar as contradições inerentes aos discursos acusadores e a demonstrar a falta de veracidade das acusações. Contudo, seus argumentos não são aceitos pelos seus acusadores, nem Sócrates aceita o cumprimento de penas alternativas caso renegue todos os ensinamentos que havia transmitido anteriormente, portanto, o pensador é condenado à morte. Enfim, o filósofo, com as próprias mãos, bebe o cálice de cicuta e morre, sem, contudo, abdicar-se de sua busca pelo conhecimento verdadeiro. Figura 22: A morte de Sócrates (1787) - Jacques-Louis David Fonte: Wikipédia 4.2 PLATÃO Platão (428 a.C.-347 a.C.), discípulo de Sócrates, coloca-se como um dos mais importantes pensadores da história da humanidade. Aprofundando os ensinamentos de seu mestre, o pensamento platônico busca conhecer a verdade através da razão. Dando início ao período antropológico da filosofia, o pensamento de Platão debruça-se sobre o humano procurando conhecê-lo, sobretudo, segundo suas atuações morais (éticas; justas; livres), políticas e metafísicas. Desse modo, tal como Sócrates, o platonismo, ao adotar a palavra racional como meio/modo de alcance 49 do conhecimento verdadeiro, tem os sofistas como principais inimigos. Ademais, é com Platão que as Academias de filosofia têm o seu início, demarcando o modelo de formação educacional (Paideia) direcionado ao corpo e à mente, conforme desenvolvido por Platão. Não obstante, é com o pensamento de Platão que a filosofia, de fato, torna-se uma investigação sistemática acerca de todos os âmbitos de atuação dos seres humanos, investigando desde concepções ontológicas/metafísicas até determinações práticas da pólis, tal como o caminho político/formativos dos cidadãos. Figura 23: Estátua de Platão (Universidade de Atenas/Grécia) Fonte: Arquivo do autor É importante ressaltarmos que o pensamento de Platão se constitui por meio dos diálogos socráticos, isto é, adotando uma forma literária e destinando Sócrates como seu protagonista, o platonismo empreende uma busca pelo conhecimento verdadeiro, fundamentando o idealismo como vertente filosófica central. Assim, os “diálogos, com seu caráter auto referencial, constituem a inauguração de métodos ou processos de investigação. Os interlocutores movimentam-se dentro de pressupostos teóricos” (PAVIANI, 2008, p. 31). Com efeito, determina-se que, em seu percurso filosófico, Platão foi o responsável por documentar as palavras, os métodos investigativos e pressupostos teóricos de Sócrates, transformando-os nos conhecidos diálogos existentes e estudados até os dias de hoje. 50 Quadro 3: Os principais Diálogos de Platão DIÁLOGO TEMÁTICA República Idealismo/Dualismo/Polis/ Paideia/ Conhecimento Apologia de Sócrates Acusação/morte de Sócrates Láques Coragem Hípias menor Verdade/Mentira/Justiça Górgias Retórica Fédon Alma/Metafísica O banquete Bem/Amor Crátilo Linguagem/Conhecimento Fonte: Adaptado de “Platão” O idealismo de Platão A centralidade do pensamento de Platão repousa na teoria do idealismo como mote central para a teoria do conhecimento (epistemologia) na filosofia platônica. Assim, tendo como base a busca pelo conhecimento verdadeiro, o pensador elaborou uma teoria fundamentada no dualismo, isto é, na divisão do mundo em duas categorias: o mundo sensível e o mundo das ideias. No idealismo, portanto, Platão privilegia o mundo das ideias como o local no qual o conhecimento das essências e, da verdade das coisas pode ser alcançado. Desse modo, no mundo das ideias estariam contidas as ideias (eidos), as essências imutáveis, os conceitos fixos e o conhecimento verdadeiro (episteme), ao passo que no mundo sensível encontrar-se-iam, tão somente, as coisas vivas e visíveis, a mudança e o conhecimento não verdadeiro. Ao privilegiar o mundo das ideias como local da verdade, acessível apenas pela racionalidade, Platão dá início à tradição do racionalismo, que irá determinar a condenação do mundo sensível e, consequentemente, dos sentidos, das paixões e dos desejos por considerá-los como produtores de um falso conhecimento. Nesse sentido, enquanto a racionalidade, motor do mundo das ideias, tem como objetos do conhecimento as formas e as essências verdadeiras das coisas, o mundo sensível, determinado, sobretudo, pelos sentidos, tem a materialidade, as sombras, os simulacros e as imagens como objetos de um falso conhecimento. Com efeito, o idealismo platônico fomenta a concepção de uma outra 51 realidade, ou seja, de uma realidade metafísica (transcendental / idealista) para além da materialidade física da realidade compreendida pelos sentidos e que, consequentemente, só pode ser alcançada pela ação do pensamento racional. E, deste modo, enquanto vinculada a razão, o mundo das ideias de Platão afirma os processos de racionalidade como procedimentos referentes às disciplinas intrinsecamente racionais (de puro pensamento), tais como a matemática e, principalmente, a filosofia, como demonstrados na alegoria da linha: Mundo sensível Mundo das Ideias (sombras) (episteme) ←---------------------------→ ←----------------------------------→ Arte Opinião Matemática Filosofia A República de Platão A República é o mais famoso diálogo de Platão. Dividida em dez capítulos, https://www.youtube.com/watch?v=tswloAV-BH0 52 chamados de livros, ela discute os principais aspectos do idealismo platônico na tentativa de formulação de uma cidade ideal e, consequentemente, de um modelo ideal de política e governança. Ressalta-se, logo de início, que o pensamento platônico se coloca como contrário à democracia, pois, considera a democracia como um modelo imperfeito e corrompido de governo por guiar-se pelos desejos e pelas paixões dos governantes e, principalmente, devido à liberdade desmedida dada ao povo como participante das decisões políticas. Nesse sentido, Platão pensa a democracia como um modelo degradado, tomado pelas paixões, pelos desejos e pela pluralidade de opiniões (dóxa) e, para tanto, distanciado da racionalidade. Figura 24: Platão apontando para o mundo ideal (Trecho da pintura “A escola de Atenas” (1509 – 1511) – Rafael Sanzio) Fonte: Arquivo do autor 53 O diálogo platônico procura fundamentar o que seria a essência da bondade, da ética, da legalidade, da justiça e da formação tendo em vista o direcionamento de cidadãos racionalmente conduzidos. Em outros termos, a cidade ideal, para Platão, fundamentar-se-ia na afirmação da racionalidade em detrimento dos aspectos advindos da sensibilidade e, consequentemente, na busca pela verdade essencial das coisas. Ademais, tendo Sócrates como personagem principal, Platão empreende uma crítica aos posicionamentos políticos existentes na pólis, procurando, para tanto, demonstrar as contradições existentes nos discursos relativistas proferidos pelos Sofistas que, ao fim e ao cabo, determinavam os rumos políticos da cidade-estado. É justamente na República que Platão fornece as principais alegorias (ilustrações) que fundamentam a sua filosofia procurando, sobretudo, exemplificar a soberania das ideias sobre a sensibilidade. Desse modo, podemos ressaltar, principalmente, a alegoria da Caverna, apresentada no Livro VII, como ponto central da fundamentação da filosofia idealista, no qual, a superação do conhecimento falso proveniente dos sentidos se dá por meio da elevação racional do sujeito em busca da verdade, ou, em outros termos, em busca do conhecimento verdadeiro (episteme). Com efeito, no diálogo platônico, a busca pela verdade se desdobra por meio 54 do método dialético, isto é, na oposição entre discursos contrários visando à contemplação do conhecimento verdadeiro alcançado racionalmente. Tal dialética consiste na superação do caráter relativo/opinativo do discurso por meio da reflexão racional e sistemática que, não obstante, conduz o sujeito à contemplação das ideias. Podemos ressaltar ainda que o interesse fundamental de Platão, conforme dito na República, reside na construção de um direcionamento educativo centrado na soberania da racionalidade. Assim, a educação platônica possuiu um caráter formativo geral, configurando-se, portanto, uma Paideia, isto é, um processo educativo que procura formar o sujeito integralmente no que diz respeito a uma educação voltada para o corpo e para a alma (mente). A Paideia de Platão – apresentada, sobretudo, no Livro III, da República – relaciona-se diretamente com a suas teorias sobre a política e sobre as almas. De acordo com o filósofo, a alma seria dividida em três partes: a alma racional; a alma irascível (emotiva/afetiva) e a alma apetitiva (desejosa/objetal), sendo que cada uma dessas almas corresponderia a uma classe social habitante da polis e, consequentemente, a cada uma delas corresponderia um modelo educacional/formativo ideal. Nesse sentido, a alma racional corresponderia à educação filosófica direcionada aos governantes, que Platão denominará como Reis Filósofos. Já a alma irascível seria de posse dos guerreiros e, portanto, a educação/formação seria destinada ao controle das emoções e à elevação da coragem para a defesa militar da pólis; por sua vez, a alma apetitiva corresponderia aos trabalhadores (comerciantes; lavradores; artesões e camponeses) e o seu modelo educacional seria fundamentado, prioritariamente, no controle racional dos desejos e na consequente manutenção da pólis. Quadro 4: As classes sociais e as almas Fonte: Elaborado pelo autor Com efeito, ilumina-se no pensamento platônico a organização política ideal CLASSE ALMA FUNÇÃO VIRTUDE Governante (Rei Filósofo) Racional Governar Sabedoria Guerreiros Irascível Defesa Coragem Trabalhadores Apetitiva Manutenção Equilíbrio 55 centrada na liderança do Rei Filósofo, cuja educação é estritamente voltada à elevação racional e, consequentemente, ao conhecimento do mundo das ideias. Diante disso, no Livro III, a Paideia de Platão é finalizada com uma alegoria que ilustra a densidade do controle político idealista preconizado na cidade ideal de Platão, a saber, a alegoria (ou fábula) na nobre mentira. Em termos gerais, Sócrates revela a Glauco, o seu interlocutor, que visando à manutenção da ordem e à organização em classes sociais distintas, na cidade ideal, é permitida aos governantes a utilização de uma nobre mentira, composta do seguinte conteúdo: em cada uma das almas descritas acima estaria contido um elemento mineral imutável que conferiria às classes o seu local social estratificado, por exemplo, na alma racional dos governantes estaria contido o ouro; na alma irascível dos guardiões estaria contida a prata e, na alma apetitiva dos trabalhadores estaria contido o bronze. Figura 25: O banquete de Platão (1873) - Anselm Feuerbach Fonte: (FEUERBACH, 1829–1880) Finalmente, na República e, consequentemente, no pensamento platônico, a busca pela verdade compreende a determinação de uma esfera idealista alcançada pela racionalidade, compreendida como vetor de busca do conhecimento verdadeiro (episteme), em oposição à realidade sensível que, durante grande parte da história da filosofia, será condenada como vetor de um falso conhecimento. https://pt.wikipedia.org/wiki/Anselm_Feuerbach 56 FIXANDO O CONTEÚDO 1. ENEM 2017 – (Adaptado) Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação. BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977. O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na: a) Contemplação da tradição mítica. b) Relativização do saber verdadeiro. c) Sustentação dos métodos dialético e maiêutica. d) Investigação dos fundamentos da natureza. e) Valorização da argumentação retórica. 2. UNCISAL – (Adaptada) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas, durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar
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