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Mito e Cultura Grega

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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
ANTIGA, MEDIEVAL E DO 
BRASIL 
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO 
 
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Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do 
conteúdo aplicado ao longo do livro, você irá encontrar ícones ao lado dos 
textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do 
conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MITO E CULTURA GREGA 
 
 
1.1 MITOLOGIA GREGA: TEOGONIA E NARRATIVAS DE ORIGEM 
A mitologia grega surge do imperativo de entendimento da natureza. Diante 
do tamanho avassalador do natural, o sujeito compreende a necessidade da 
diminuição da distância entre o homem e o natural e, consequentemente, inicia um 
processo de superação do medo inicial da natureza. Portanto, as narrativas 
mitológicas possuem a função inicial de superação do medo do desconhecido, isto 
é, de superação do medo originário proveniente da natureza. Tal superação ocorre, 
sobretudo, com a antropomorfização dos poderes naturais, em outros termos, são 
conferidas à natureza características físicas e psíquicas típicas do ser humano, por 
exemplo, os deuses se enfurecem, sentem-se enciumados, sofrem e desejam como 
os seres humanos. 
A mitologia configura-se como uma atividade inventiva de caráter 
narrativo/literário que procura fornecer os primeiros princípios organizacionais do 
mundo, da realidade e, sobretudo, da natureza para os seres humanos constituírem-
se enquanto seres sociais e, deste modo, iniciarem o processo de significação do 
mundo e das coisas. 
Karl Kerényi (2015, p. 12) aponta que a “mitologia precisa transcender o 
indivíduo, e precisa exercer sobre os seres humanos um poder que tenha influência 
sobre a alma e enche-a de imagens”, isto é, como atividade inventiva, a mitologia 
supera o caráter individual da narração e dirige-se à vida social dos seres humanos 
em aspectos práticos e espirituais, preenchendo os recônditos da vida humana com 
histórias (mythoi) plenas de significações. 
Em sua plenitude de significações e de relações diretas com as organizações 
sociais dos seres humanos em contato com a natureza, a mitologia institui-se como 
uma religião politeísta, em outros termos, como uma organização religiosa dotada 
de um panteão de deuses e deusas, ou conforme compreendida por Yuval N. Harari, 
em “Sapiens”, como a ideia de que: 
UNIDADE
01 
 
UNIDADE
01 
 
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[...] o mundo era controlado por um grupo de deuses poderosos, 
como a deusa da fertilidade, o deus da chuva e o deus da guerra. Os 
humanos podiam rogar a esses deuses, e os deuses podiam, se 
recebessem devoções e sacrifícios, dignar-se a trazer chuva, vitória e 
saúde (HARARI, 2017, p. 221). 
 
Nesse sentido, não havia nenhum aspecto da vida grega que não fosse 
regido pela relação ritualística com os deuses, ao passo que, a figura do poeta (o 
rapsodo) institui-se como o narrador, o intérprete e o tradutor da mensagem divina 
para os demais seres humanos. 
É justamente o poeta inspirado pelas musas que narra o mito e, 
consequentemente, aquele que possui uma relação de proximidade com os deuses 
algo que, por sua vez, lhe confere uma aura de autoridade. Tal autoridade se dá na 
atividade da narração pública do mito, fazendo deste um discurso compartilhado 
entre o narrador e os ouvintes. Diante disso, é de suma importância frisar que a 
narrativa mitológica se constitui enquanto uma narrativa oral, ou seja, no espaço 
comunitário preenchido pela oralidade. 
 
Figura 1: O Rapsodo (490 a.C. – 480 a.C.) – British Museum 
 
Fonte: Gonçalves e Batista (2017) 
 
Trata-se, portanto, de uma troca de escuta entre o poeta e o ouvinte, partindo 
do pressuposto que o poeta, inspirado, possui acesso à verdade dos deuses. Frente a 
tal destinação, a palavra de autoridade do poeta organiza a vida e a sociedade 
grega em torno dos deuses e das atividades ritualísticas que conferem, ao fim e ao 
 
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cabo, a segurança necessária para a consolidação da organização comunitária 
grega. 
 
 
 
 
Ademais, em um período anterior à escrita, o poeta (o sábio) repassa, através 
das narrativas mitológicas, o segredo do religioso, isto é, torna pública a “descoberta 
de uma realidade superior que ultrapassa em muito o comum dos homens” 
(VERNANT, 2002, p. 58), que, consequentemente, atua diretamente na consolidação 
do imaginário político-social do sujeito grego. 
Com efeito, devido às suas atribuições organizadoras e funções de 
conhecimento da natureza, a mitologia figura como a principal narrativa do 
nascente mundo grego. Ademais, a mitologia compreende que os “homens, a 
https://bit.ly/3GPaZVx
 
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divindade e o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no 
mesmo plano” (VERNANT, 2002, p. 110) e, para tanto, são tecidas narrativas que 
buscam configurar o surgimento e a ordenação inicial do cosmo, as cosmogonias. 
A Teogonia, do poeta Hesíodo (750 a.C. – 650 a.C.), destaca-se como uma das 
mais importantes cosmogonias, justamente por fornecer a imagem do surgimento do 
mundo e a organização dos poderes naturais sob a tutela de Zeus, o maior dos deuses 
olímpicos. 
Trata-se da narrativa mitológica que apresenta a superação inicial do caos 
com o surgimento dos elementos primordiais Uranos (o céu) e de Gaia (a terra) e, a 
consequente superação de Uranos e Gaia pelos seus filhos: os Titãs, compreendidos 
como forças naturais essenciais, tendo Cronos (o tempo) à frente dos poderes da 
natureza e, finalmente, a instituição de Zeus como o regente de uma nova ordem 
cósmica. 
Como ordenador autoritário, Cronos devora seus filhos (os futuros deuses 
olímpicos) com a finalidade de impedir que algum deles lhe tome o seu trono. 
Contudo, Reia, esposa de Cronos, descontente com a situação, entrega a Cronos 
uma pedra envolta em trapos no lugar de seu filho Zeus, escondendo o mesmo em 
uma caverna. Após passar anos escondido em uma caverna, Zeus, já adulto, retorna 
e desafia Cronos, libertando seus irmãos, Hades e Poseidon e, consequentemente, 
dando início à Titanomaquia, ou seja, a guerra entre os deuses e os titãs. 
 
Figura 2: Zeus fulmina os titãs (1533) – Perin del Varga 
 
Fonte: Wikimedia Commons 
 
 
7 
 
A vitória dos deuses olímpicos, sob o comando de Zeus, não instaura tão 
somente uma nova ordem cósmica, mas, sobretudo, ela destaca o 
surgimento de um mundo novo no qual as forças primordiais da natureza 
encontram-se dominadas e, para tanto, segundo Vernant (2002), torna-se 
possível avistar os processos de racionalização que, posteriormente, atuarão 
sobre a natureza dominando-a e instrumentalizando-a segundo os desígnios 
do logos. 
 
 
 
 
 
1.2 AS EPOPEIAS1 HOMÉRICAS 
Homero (850 a.C.) é o autor de duas das grandes narrativas fundadoras 
do pensamento e da cultura ocidental, a “Ilíada” e a “Odisseia”. As narrativas 
homéricas possuem um valor pedagógico, isto é, fornecem ao cidadão grego 
modelos educacionais para a vida social, principalmente, ao ressaltar 
exemplos heroicos de coragem e de astúcia, virtudes determinantes para o 
sujeito da Grécia Clássica. 
https://bit.ly/3uOxLdO
 
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Para Jaeger (1994), as poesias de Homero destacam a vasta e complexa 
formação educacional do grego e, consequentemente, contribuem para a 
fundamentação da sociedade arcaica enquanto categorias fundamentais “da vida 
e do pensamento”. Deste modo, a Ilíada e a Odisseia conferem referências 
fundamentais para a formação do sujeito, revelando configurações das relações 
sociais na Grécia Clássica. 
 
 
 
A estrutura da poesia homérica apresenta uma caraterística determinante das 
narrativas míticas gregas, a saber: a ausência de separação entre o mundo dos 
deuses e o mundo dos homens. Assim, deuses, deusas, homens e
mulheres dividem a 
mesma realidade, isto é, caminham entre si, relacionam-se entre si e, de modo 
magistral, dividem o mesmo campo de batalha, conforme tematizado na epopeia 
Ilíada. 
Na Ilíada, Homero narra os últimos anos da Guerra de Troia, representando os 
feitos do herói e semideus Aquiles. A ocasião da guerra possui profundas raízes 
mitológicas, pois é motivada por uma disputa entre as deusas Atena, Hera e Afrodite 
para determinar qual delas era a deusa mais bela. Tal disputa é solucionada por um 
mortal, Páris, um pastor de ovelhas que, mais tarde, irá se revelar como um príncipe 
https://bit.ly/3GOxAkM
 
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troiano marcado por uma funesta profecia. 
Afrodite, a vencedora da disputa, confere a Páris, como prêmio por tê-la 
escolhido, o amor da mulher mais bela, Helena de Troia. Contudo, Helena é esposa 
de Menelau, irmão de Agamenon, o maior dos reis da Grécia. Diante da fuga de 
Helena e de sua chegada à Troia como amante de Páris, Agamenon e Menelau 
convocam os heróis e reis da Grécia, entre eles estão Aquiles e Ulisses (ou Odisseu), 
que partem rumo à Guerra em Troia. Por anos a fio, a guerra se desenrola 
demonstrando os embates entre gregos e troianos e, por vezes, entre os próprios 
deuses que possuem os seus protegidos nos campos de batalha. Aquiles, por sua vez, 
situa-se como o indomável guerreiro armado com armadura e armas divinas, que 
atinge o seu clímax ao vingar o seu amante Pátraclo derrotando Heitor, o príncipe e 
o principal guerreiro de Tróia. 
 
Figura 5: Aquiles derrota Heitor (1630) – Peter Paul Rubens 
Fonte: Wikimedia1 
 
A narrativa homérica deposita em Aquiles o modelo da excelência (aretê) na 
atividade da guerra, dando a margem para compreendermos o semideus grego 
como um dos modelos de virtude apresentados na “Ilíada”. Ademais, a narrativa 
encerra-se com os jogos funerais de Heitor após ter o seu corpo recuperado pelo seu 
pai e rei de Troia, Príamo. 
Na “Odisseia”, por sua vez, Homero narra a tentativa de Ulisses (Odisseu) de 
retornar à Ítaca e rever sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco. O herói da 
 
1Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Peter_Paul_Rubens_-_Achilles_slays_Hector.jpg, acessado 
em 06/02/20. 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Peter_Paul_Rubens_-_Achilles_slays_Hector.jpg
 
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“Odisseia” difere de Aquiles, herói da Ilíada, uma vez que Ulisses é um simples mortal 
sem relação imediata com os deuses. Entretanto, o mundo de Ulisses também se 
entrelaça ao mundo dos deuses, pois, sua sina se dá, justamente, pelo seu desdenho 
com relação aos deuses olímpicos. 
Na areia das praias de Troia encontra-se um cavalo de madeira, plano bolado 
pelo astuto Ulisses para, finalmente, derrotarem a cidade, uma vez que as suas 
muralhas se fazem impenetráveis. Dentro do cavalo há uma série dos melhores 
guerreiros gregos. Interpretado como uma oferenda logo após Poseidon, o deus dos 
mares, enviar um monstro marinho para dar cabo do sacerdote que aconselhava o 
soberano de Troia a incendiar o cavalo, o “presente de grego” é levado para dentro 
da cidade troiana. No cair da noite, os guerreiros saem do cavalo, abrem os portões 
de Troia e, finalmente, a cidade é destruída. 
Ulisses, motivado pela genialidade de seu plano, renega os deuses e coloca-
se como, de fato, o vencedor de Troia. Nesse ínterim, Poseidon amaldiçoa Ulisses e 
sentencia-o a vagar no mar sem ser capaz de retornar à Ítaca, seu reino. Após vagar 
anos a fio e enfrentar as intempéries do mar, os ciclopes, as feiticeiras, enganar as 
sereias e todos os perigos que os deuses colocaram em seu caminho, Ulisses, com a 
ajuda de Atena, consegue retornar à sua cidade, libertar Penélope e, retomar o seu 
reinado. 
Para o pensador Theodor W. Adorno, o personagem de Ulisses tem um 
significado muito importante para a filosofia, pois, ele exemplifica a chegada da 
racionalidade como superação dos saberes mitológicos na resolução dos 
problemas. Adorno afirma que a astúcia de Ulisses antecipa a busca do humano 
pela tentativa de colocar-se acima da natureza e, consequentemente, dominá-la, 
conforme ocorre, por exemplo, no episódio das sereias, narrado na Odisseia. Ali, com 
a sua racionalidade, Ulisses domina o mito (o natural) ao ser capaz de escutar o 
canto das sereias sem ser arrastado para o fundo do mar. 
 
 
11 
 
Figura 6: Odisseu fugindo da caverna de Polifemo (1593–1678) - Jacob Jordaens
 
Fonte: Arquivo do autor 
 
1.3 AS TRAGÉDIAS GREGAS 
Compreendidos como produtores de cultura, os gregos destacam-se, além 
da proeminência de suas narrativas mitológicas, pela invenção da tragédia, isto é, 
com a invenção de uma arte imitativa (mimética) composta da representação 
teatral verossímil de acontecimentos, de mitos, da vida régia, de intrigas e de 
desenvolvimentos comunais da vida grega. 
Com efeito, a composição da tragédia grega, costumeiramente, relaciona-
se com a mitologia como “fonte de criação artística” (OLIVEIRA). Contudo, o 
dramaturgo possuía a liberdade da invenção e da modificação, conferindo, 
portanto, uma nova roupagem ao mito e, consequentemente, inovando a leitura 
mítica ao transmutá-la em diferentes versões. 
A tragédia relaciona-se, diretamente, com o modo de ser do grego, pois se 
trata da imitação da sua relação direta com a natureza e do modelo 
ritualístico/divino que propõe a afinidade com os deuses. Ademais, a tragédia 
acentua o seu caráter de orientação da vida do sujeito, uma vez que, 
primitivamente, ela institui modelos de organização, liturgia e justiça para o ser 
humano grego. Inclusive, para Aristóteles, na Poética, a tragédia, ao fornecer 
possibilidades ordenatórias, é capaz de, através da representação teatral, 
 
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proporcionar que o sujeito se reconheça na peça e, consequente, realize a catarse, 
isto é, purifique/purgue os sentimentos tortuosos que não são saudáveis para a vida 
social. 
Como o mais famoso gênero da literatura grega, a tragédia revela as 
peripécias do herói para a fuga impossível das determinações pré-estabelecidas 
pelas profecias do destino (as Moiras). Nesse sentido, os dramaturgos Sófocles, autor 
de “Édipo Rei”, e Eurípedes, autor de “Medeia”, destacam-se como os grandes 
autores trágicos da Grécia Clássica. 
 
Figura 7: Jasão e Medeia (1907) - John William Waterhouse 
 Fonte: Arquivo do autor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/John_William_Waterhouse
 
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FIXANDO O CONTEÚDO 
 
1. Leia os textos e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – Adaptado). 
Para a mitologia grega […] “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está 
ordenado. Alguns deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo que havia 
de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do tártaro ou para a terra, 
entre os mortais. E os homens, o que aconteceu com eles? Quem são eles?” 
VERNANT, J. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 
 
A ordem, em todas as suas acepções, é o grande objeto do espanto filosófico. 
Causam maravilhamento a ordem das leis naturais que a ciência descobre, a ordem 
manifesta nas proporções e harmonias da obra de arte e a ordem das ações justas 
na vida moral e política da sociedade. Antes da filosofia, os mitos já expressavam 
esse maravilhamento, porém, com diferenças importantes. 
 
Sobre esse assunto, é correto afirmar que o mito: 
a) enuncia de modo argumentativo a escala de valores de uma sociedade pré-
crítica. 
b) estabelece parâmetros de abordagem dos fenômenos naturais sobre bases 
estritamente lógicas, como o princípio de não contradição. 
c) busca explicações suficientes sobre o lugar do homem no mundo, apelando ao 
sagrado. 
d) possui uma grande densidade teológico-moral, dando a cada membro do grupo 
autonomia para decidir e atuar sem limites
objetivos. 
e) representam o conhecimento verdadeiro, logocêntrico e afastado do natural. 
 
2. (UNIFOR CE) A religião na Grécia Antiga apresentou como características o: 
a) Zoomorfismo, o monoteísmo e o totemismo. 
b) Salvacionismo, o antropomorfismo e o messianismo. 
c) Asceticismo, a mitologia e o animismo. 
d) Antropomorfismo, o politeísmo e a mitologia. 
e) Animismo, o salvacionismo e o misticismo. 
 
 
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3. Leia o texto abaixo e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – 
Adaptado). 
“ (…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do 
desconhecido, englobando o pequeno campo do conhecimento concreto 
comum. O sobrenatural está em todas as partes, dentro ou além do natural; e o 
conhecimento do sobrenatural que o homem acredita possuir, não sendo da 
experiência direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente e 
superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado ou (como diziam 
os gregos) ‘divino’ — o mágico e o sacerdote, o poeta e o vidente”. 
CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
 
A partir do texto acima, é correto afirmar que: 
a) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo 
concreto comum. 
b) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum. 
c) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos 
os homens. 
d) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do 
sobrenatural superior narrado pelo poeta. 
e) o mito é narrado pelo filósofo e, portanto, tem compromisso direto com a 
verdade. 
 
4. Para Adorno, Ulisses, da “Odisseia”, exemplifica: 
a) o fortalecimento do mito diante do humano. 
b) a reverência aos deuses e deusas do politeísmo grego. 
c) a elevação da racionalidade como superação do mitológico. 
d) o mitológico como superior à racionalidade. 
e) o homem irracional como sujeito central das narrativas mitológicas. 
 
5. Na “Ilíada”, de Homero, o mundo dos deuses e dos seres humanos se mistura. 
Diante disso, o herói Aquiles destaca-se, sobretudo: 
a) como modelo da excelência na atividade da guerra e de virtude. 
b) como modelo de covardia e, portanto, afastado dos deuses. 
c) como modelo de excelência na atividade da argumentação. 
d) como modelo de narrador virtuoso. 
 
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e) como modelo de racionalidade orientada em direção à superação do mito. 
6. UNICENTRO (Adaptado). 
“Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e 
coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela 
tudo quanto cantam de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação 
que se define seu caráter particular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão, 
embora ela se distancie muito da religião de outros povos e tempos. Essa 
cosmovisão da poesia homérica é clara e coerente. Em parte alguma ela enuncia 
fórmulas conceituais à maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo 
que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor muitas coisas 
resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os testemunhos não se 
contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los, fazer-lhes o 
cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a 
morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…). ” 
OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. São Paulo: Odysseus 
Editora, 2005. 
 
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia 
arcaica, assinale a alternativa correta. 
a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada poderiam interferir no 
destino dos humanos e, assim, a determinação divina (ananque) se colocava em 
segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía 
a função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no momento de sua 
livre ação. 
b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego 
para o pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma 
vez que, de acordo com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na 
passagem do mito para o logos; mas, sim, um processo gradual e contínuo de 
enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia. 
c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de 
mundo que o homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe 
conceitos importantes como harmonia, proporção e questionamentos a respeito 
dos princípios, das causas e do porquê das coisas. Embora todas essas instâncias 
apresentavam-se como tal, os mitos não deixaram de lado o caráter mágico, 
fictício e fabular em que eram narrados. 
 
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d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura 
uma modalidade literária bem singular no Ocidente. As ações dos deuses e dos 
homens, por exemplo, sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a 
qual sempre revelou uma lógica racional em funcionamento. 
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego, 
pois o caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parte os 
aspectos que se revelariam relevantes na poesia grega. 
 
7. As tragédias gregas se caracterizam como: 
a) um modo artístico que não apresenta relação com a vida do grego. 
b) uma arte mimética que faz parte do modo como o grego organizava o seu 
mundo. 
c) uma arte racional e, consequentemente, distante do mitológico. 
d) uma arte mimética de caráter desvinculado da Cidade-Estado. 
e) uma arte mimética não semelhante à realidade, em outros termos, inverossímil. 
 
8. UNIMONTES (Adaptado) Leia o texto e responda ao que se segue: 
“Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua 
própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função 
mística – e é disso que venho falando, dando conta da maravilha que é o 
universo, da maravilha que é você, e vivenciando o espanto diante do mistério. 
Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do 
mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma 
mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o universo se 
tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao 
mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A 
segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, 
mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que o 
mistério, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que os cientistas detêm 
todas as respostas. Mas os maiores entre eles dizem-nos: “Não, não temos todas 
as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona, mas não o que é”. Você 
risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me 
dirá nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de determinada 
ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você 
 
17 
 
tem toda uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas 
satisfatórias. Depende de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito 
que assumiu a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função 
do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam tentar se 
relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer 
circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso. ” 
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. 
 
Podemos afirmar que: 
a) o mito é uma experiência singular que continua dando sentido à existência 
humana. 
b) os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas. 
c) o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade. 
d) não necessitamos dos mitos e eles são ultrapassados. 
e) o mito não foi capaz de se firmar como um
universo simbólico. 
 
 
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O SURGIMENTO DO LOGOS 
 
 
 
2.1 DO MITO AO LOGOS 
A passagem do mito ao logos caracteriza a chegada da razão como modelo 
lógico, crítico, reflexivo e sistemático de compreensão/organização do mundo e da 
natureza. Trata-se, portanto, da eleição do logos (da racionalidade) como motor 
explicativo da realidade e, consequentemente, da superação da narrativa 
mitológica em seu papel de organização/conhecimento do mundo. 
Tem-se, deste modo, a consideração por um outro modo de conhecimento 
que, diferentemente da narrativa oral mitológica, adota como fundamento a busca 
pela verdade das coisas. Assim, o descompromisso mítico com a verdade, isto é, a 
consolidação de um saber desvinculado dos processos lógicos de compreensão da 
realidade, é superado pela construção de uma teoria (de um logos / de uma lógica) 
cujo principal direcionamento é o de fornecer aspectos racionalmente construídos 
para obtenção do conhecimento do mundo, da natureza e das coisas. 
Segundo Chauí (2016, p. 33), 
 
 
A filosofia se constitui quando alguns gregos, insatisfeitos com as 
explicações sobre a realidade dadas pela tradição por meio dos 
mitos, começam a fazer perguntas e buscar respostas para elas. 
Admirados e espantados com a realidade, demonstram que os seres 
humanos e as coisas da natureza podem ser conhecidos pela razão 
humana, e que a própria razão é capaz de conhecer a si mesma. 
 
Diante da insuficiência das explicações fornecidas pela tradição mitológica, 
o logos (a razão) se instaura como a capacidade racional de explicar aquilo que a 
mitologia não é capaz; ou melhor, para o grego, as explicações míticas, 
descompromissadas com a verdade, tornam-se incapazes de fornecer a ele os 
critérios determinantes para a sua organização política, social e cultural. Soma-se a 
isso a rápida expansão territorial grega (como, por exemplo, o surgimento das 
cidades de Mileto e de Éfeso, na Ásia menor) motivada, principalmente, por novas 
determinações e laços econômicos. Ademais, o fortalecimento do comércio aliado 
UNIDADE
02 
 
UNIDADE
02 
 
19 
 
ao conhecimento de novas culturas exige da sociedade grega a formulação de 
novos modos de compreensão do mundo e da realidade. 
Faz-se necessária, portanto, a eclosão de um novo modo de organização do 
mundo e, finalmente, tal modelo é fornecido pela razão filosófica enquanto um 
conjunto de conhecimentos e procedimentos reflexivos racionalmente orientados, 
em outros termos, saberes e regras sistematizadas através da razão e do sujeito. 
 
 
 
Ademais, diferentemente do saber mítico que não se preocupava com o teor 
de verdade presente nos elementos mágicos, fabulosos ou, até mesmo, com as 
contradições de seu discurso, o logos filosófico assenta-se, sobretudo, na 
sistematicidade universal dos procedimentos racionais de busca pela verdade que, 
ao fim e ao cabo, irá promover uma desconstrução do imaginário mítico e, 
principalmente, da autoridade divina da palavra do poeta (do sábio) para propor-
se, como veremos adiante, como um discurso da pólis, ou seja, como uma palavra 
de organização política. 
 
 
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2.2 COSMOLOGIAS: FILOSOFIAS NATURALISTAS 
Os primeiros modelos filosóficos de organização do real são fornecidos pelos 
pensadores pré-socráticos em relação direta com a natureza, por isso, os pré-
socráticos são denominados como filósofos naturalistas e as suas filosofias são 
conhecidas como cosmologias. 
As cosmologias são tentativas racionais de organização do cosmos, isto é, o 
pensamento racional passa a investigar a origem/natureza do mundo. Nesse 
sentido, as filosofias pré-socráticas são as primeiras tentativas racionais de dizer a 
origem do mundo a partir da investigação racional/empírica da natureza. 
A origem do mundo, segundo a filosofia pré-socrática dá-se, sobretudo, 
através da physis, isto é, por meio da compreensão/determinação do princípio 
(arché) natural, que confere origem ao mundo e a todas as coisas. Deste modo, a 
physis, como propõe Reale (1990), é a natureza em seu sentido originário a partir da 
qual toda a realidade provém. Nesse ínterim, todos os filósofos pré-socráticos se 
perguntaram sobre a physis procurando, racionalmente, explicá-la. 
É interessante ressaltarmos que o surgimento da filosofia, como disciplina que 
busca a origem racional do cosmos, não se dá como disciplina isolada do mundo e 
dos demais conteúdos do saber humano, mas, pelo contrário, a filosofia alia-se, 
principalmente, à matemática e à astronomia no ensejo de dizer as coisas primeiras 
e, consequentemente, fundamentar-se como um método de conhecimento de 
busca racional da verdade. 
Por conseguinte, a originalidade da filosofia, e principalmente do 
 
21 
 
pensamento pré-socrático, é a investigação de “princípios únicos a partir dos quais 
a natureza como um todo poderia ser constituída e/ou gerada, bem como seus 
diversos fenômenos explicados” (POLITO; FILHO, 2013, p. 334). Tais princípios, como 
dito anteriormente, encontram-se no conceito de physis, a determinação originária 
das coisas. 
 
Figura 10: Alguns filósofos pré-socráticos 
 
Fonte: Arquivo do autor 
 
Diversos são os pensadores denominados de pré-socráticos, cada qual, a seu 
modo, buscando conhecer a physis como “elemento imperecível, gerador de todos 
os outros elementos naturais, perecíveis” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 07). Deste 
modo, podemos dar sequência evidenciando os filósofos e seus pensamentos a 
seguir. 
Tales de Mileto (623 a.C. – 546 a.C.), da Escola de Mileto, foi matemático, 
astrônomo, sendo considerado o primeiro filósofo. O pensamento de Tales considera 
a água como o princípio natural (ou causa material) do qual tudo surge, em outros 
termos, a physis pra Tales é a água. Assim, de acordo com o monismo pensado pelo 
filósofo de Mileto, a água se configurava como a substância fundamental (ou 
princípio imperecível) da qual todas as outras derivavam. Deste modo, a totalidade 
do mundo seria a água, pois, indiscutivelmente, ela estaria presente em todos os 
demais compostos. 
 
 
22 
 
 
 
Falando ainda dos filósofos pré-socráticos detentores de um pensamento 
monista, isto é, da ideia de que através da observação de um elemento da natureza 
seria possível determiná-lo como o princípio natural imperecível e originário de todas 
as coisas, temos Anaxímenes (588 a.C. – 524 a.C.) que, por sua vez, determinou que 
a physis seria o ar. 
Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490 a.C.), filósofo, astrônomo e matemático, 
pensa a physis como uma complexa organização numérica, atribuindo ao número 
1 (um) a ideia de origem, isto é, de ponto de partida para a fundação do Universo. 
Ademais, o pensamento pitagórico oferece contribuições determinantes não 
apenas para a consolidação da geometria (o teorema de Pitágoras) e da filosofia, 
mas também acrescenta ao entendimento da música ao descobrir uma nova 
escala de tons (a escala pitagórica). Ademais, a influência de Pitágoras pode ser 
observada em grandes pensadores futuros, tais como Galileu Galilei e Isaac Newton. 
 
 
 
É preciso salientar que, como traço essencial e comum, de acordo com 
Ghiraldelli Júnior (2003), “em suas cosmologias”, esses pensadores “tentam encontrar 
uma substância única, ou força exclusiva, ou princípio básico capaz de ser 
apresentado como elemento efetivamente real e primordial do cosmos” 
(GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 08). Diante disso, na tentativa de compreensão da 
physis e, consequentemente, da ampliação da filosofia, os pré-socráticos Heráclito 
e Parmênides demandam uma atenção especial, como veremos a seguir. 
 
https://bit.ly/3JohAIb
 
23 
 
Quadro 1: Alguns pensadores pré-socráticos e a physis 
Fonte: Elaborada pelo autor 
 
 
2.3 HERÁCLITO E PARMÊNIDES 
Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470 a.C.) e Parmênides de Eleia (530 a.C. - 460 
a.C.) são dois dos mais importantes pensadores pré-socráticos,
cujas reflexões vieram 
a influenciar toda a filosofia subsequente. Opositores no que diz respeito ao 
entendimento da physis, ambos os filósofos determinaram aspectos fundamentais 
para o desdobramento da razão como modo de reflexão humana. 
Heráclito, o Obscuro, determina o fogo como elemento originário, não em 
uma perspectiva monista, conforme pensado por Tales, mas, pelo contrário, o fogo 
encontra-se em um movimento perpétuo de purificação e transformação dos outros 
elementos. Diante disso, a noção de movimento (devir) assume a primazia do 
pensamento heraclitiano. 
Pré-socráticos Physis 
Anaximandro (610 a.C.-546 a.C.) O infinito / o ilimitado (apeíron) 
Empédocles (490 a.C. - 430 a.C.) Terra, fogo, água e ar 
Anaxágoras (500 a.C. - 428 a.C.) Sementes, amor e ódio 
Demócrito (460 a.C. - 370 a.C.) Átomos 
Zenão (490 a.C. - 430 a.C.) Imobilidade 
https://bit.ly/34FCRyf
 
24 
 
 
 
Figura 14: Heráclito (1630) - Johannes Moreelse 
Fonte: (MOREELSE, 1602 –1634) 
 
O movimento, segundo Heráclito, é o agente da transformação promovendo, 
portanto, uma estrutura natural de eterno devir. Nesse sentido, a seguinte máxima 
atribuída à Heráclito funciona como pedra basilar de seu entendimento, revelando 
que, para o pré-socrático, “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois 
quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser 
já se modificou”. (HERÁCLITO – grifo nosso). Assim, de acordo com Chauí (2002), na 
máxima heraclitiana, dividida em fragmentos: 
https://bit.ly/3LvWNnO
 
25 
 
[...] expressa-se a ideia mestra de Heráclito, a saber, que o mundo é 
mudança contínua e incessante de todas as coisas e que a 
permanência é ilusão. Referindo-se a Heráclito, Platão escreveu que 
para esse filósofo “tudo flui”, tudo passa, tudo se move sem cessar. O 
úmido seca, o seco umedece, o quente esfria, o fio esquenta, a vida 
morre, a morte renasce, o dia anoitece, a noite amanhece, a vigília 
adormece, o sono desperta, a criança envelhece, o velho se 
infantiliza. O mundo é um perpétuo nascer, morrer, envelhecer e 
rejuvenescer. Tudo muda, nada permanece idêntico a si mesmo. O 
movimento é, portanto, a realidade verdadeira (CHAUI, 2002, p. 81 – 
grifo nosso). 
 
Com efeito, para Heráclito, o movimento instaura-se como o verdadeiro 
princípio originador da realidade, uma vez que, nada se encontra parado nem 
imutável, pelo contrário, a estrutura mesma da realidade, da natureza e do ser 
humano é, deste modo, mutável. Tudo, portanto, pode vir-a-ser, pois, compreende-
se em um espaço/tempo dotado de movimentações e mudanças permanentes. 
Ressalta-se ainda que o fluxo de movimento e transformação próprio à 
realidade do mundo revela a “luta dos contrários” (CHAUÍ, 2002, p. 82), isto é, um 
movimento dialético de oposição entre elementos contrários que, ao fim e ao cabo, 
irão se harmonizar em um jogo de tensões que revela a realidade como “inquieta e 
móvel, tensa, concordante e discordante, e da guerra nasce a ordem ou o cosmos, 
equilíbrio dinâmico de forças contrárias que coexistem e se sucedem se cessar” 
(CHAUÍ, 2002, p. 82). Em outros termos, Heráclito fala de uma realidade marcada por 
um constante movimento de harmonização dos contrários. Dando a entrever, 
portanto, que o todo da realidade é composto pela multiplicidade característica de 
seu devir constante. 
Parmênides, da escola Eleata, em franca oposição ao pensamento de 
Heráclito, determina que a physis, o elemento originário, é o ser pensado como 
instância essencial, imutável e estática. Deste modo, o “ser é o que permanece 
idêntico a si mesmo” (CHAUÍ, 2002, p. 92), ou seja, aquilo que não muda, que não se 
transforma, o elemento essencial, a unidade, finalmente: aquilo que é. 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Quadro 2: O ser segundo Parmênides 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado de Chauí. (2002. p. 93-94). 
 
Segundo Parmênides, o pensamento só pode alcançar aquilo que 
permanece, isto é, aquilo que se oferece à identidade, em suma, segundo o 
pensamento do filósofo Eleata: “o ser é e o não ser não é”. Diante disso, pensar o ser 
(dizer a origem) é, portanto, pensar o imutável. 
 
Figura 15: Busto de Parmênides 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (TOTALLY HISTORY, s.d.) 
 
É com Parmênides que se tem a fundação da disciplina Ontológica como 
campo reflexivo sobre a essencialidade do ser enquanto modelo originário imutável. 
Assim, compreendida como essencial, a ontologia de Parmênides lança as bases, 
como destaca Chauí (2002), para uma condenação/separação entre essência e 
aparência. Condenação/separação que, como se sabe, será fundamental ao 
pensamento de Platão, pois, de acordo com o pensamento parmenidiano, “o 
pensamento puro se afasta da percepção sensorial e o opera por argumentos 
lógicos” (CHAUÍ, 2002, p. 93), ou seja, a verdade (alétheia) do ser só pode ser 
conhecida por meio do pensamento / da razão. 
O ser é imóvel/imutável. 
O ser é eterno/indestrutível. 
O ser é uno/unitário. 
O ser é indivisível. 
O ser é pleno. 
 
27 
 
De fato, o pensamento do filósofo de Eleia já aponta para destinações 
fundamentais à filosofia vindoura, principalmente, ao salientar a distinção entre a 
alétheia, a verdade obtida racionalmente, e a dóxa, a opinião é fundamentada 
pelas circunstâncias, para tanto, é mutável/efêmera e perecível ou, como veremos 
adiante, diz respeito a um tipo falso de conhecimento provido do senso comum. 
Enfim, os pensamentos de Heráclito e de Parmênides influenciaram a toda 
uma teoria filosófica que virá a seguir, sobretudo, no que diz respeito às oposições 
iniciais entre uma realidade constituída tendo o movimento e a mudança como 
bases fundamentais e, em divergência a isso, uma realidade essencialmente 
centrada na ideia de um ser imutável/imóvel, do qual todas as coisas provêm. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.4 FIXA 
https://bit.ly/3BrdJar
 
28 
 
 O CONTEÚDO 
 
1. Assinale a questão CORRETA sobre as condições que favoreceram a passagem 
do mito ao logos. 
a) A suficiência do mito na ordenação da realidade; o surgimento da racionalidade 
sistemática; o fortalecimento do comércio; os novos laços econômicos. 
b) O surgimento da racionalidade sistemática; a superação do modelo mítico de 
ordenação da realidade; os novos laços econômicos; o fortalecimento do 
comércio. 
c) O surgimento da racionalidade sistemática; o fechamento da Grécia a novos 
laços econômicos; a superação do modelo mítico de ordenação da realidade. 
d) O fortalecimento do comércio. O surgimento de novos laços mitológicos; o 
fechamento a um novo modelo de pensamento. A suficiência do mito na 
ordenação da realidade. 
e) A superação do modelo mítico de ordenação da realidade; o fechamento do 
comércio. O surgimento da racionalidade sistemática; os novos laços 
econômicos. 
 
2. A passagem do mito ao logos demarca uma complexa modificação do modo 
como os gregos compreendiam o mundo. Assim, com o desencantamento do 
mundo, como dirá mais tarde o sociólogo Max Weber, o pensamento 
mítico/mágico perde o espaço de organização simbólica para a rigorosidade 
do pensamento racional/científico. Diante disso, podemos pensar a palavra da 
filosofia do seguinte modo: 
a) como uma palavra mágico/mítica de autoridade do sábio perante a realidade. 
b) como uma palavra de revelação divina na determinação da realidade. 
c) como uma palavra de ordenação racional/política da realidade. 
d) como uma palavra composta de fabulações e encantamentos. 
e) como uma palavra distanciada da realidade por tratar apenas de temas 
metafísicos. 
 
3. Os primeiros modelos filosóficos são denominados de cosmologias. Diante disso, 
uma cosmologia é definida como: 
a) tentativas de organização do mundo por meio de narrativas orais mitológicas. 
 
29 
 
b) tentativas de organização do cosmos através da palavra poética. 
c) tentativas de organização do cosmos por meio da
racionalidade separada do 
natural. 
d) tentativas de organização do cosmos por meio da intervenção dos deuses na 
realidade dos seres humanos. 
e) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade a partir da 
investigação empírica/racional da natureza. 
 
4. (UEG) – Adaptada 
A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão marcante que dividiu a sua 
história em períodos: período pré-socrático, período socrático e período pós-
socrático. O período pré-socrático é visto como uma época de formação da 
filosofia grega, na qual predominavam os problemas cosmológicos. Ele se 
desenvolveu em cidades da Jônia e da Magna Grécia. Grandes escolas filosóficas 
surgem nesse período e muitos pensadores se destacam. 
 
Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da filosofia. Seu nome é: 
a) Sócrates de Atenas. 
b) Parmênides de Eleia. 
c) Heráclito de Éfeso. 
d) Tales de Mileto. 
e) Demócrito de Abdera. 
 
 
5. (UEL 2015) – Adaptada 
De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter 
um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter 
surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido 
de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de 
alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema 
de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. 
Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para 
os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava 
era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem 
vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas. 
 
30 
 
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1995. p.43-44. 
 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a 
alternativa correta. 
a) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma 
substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as 
transformações na natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis 
naturais que fossem eternas. 
b) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da 
natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade 
irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. 
c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por 
volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio 
original do mundo por sua enorme capacidade de transformação. 
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e 
reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma 
explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas 
as coisas. 
e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um 
princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da 
aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na 
degeneração das coisas. 
 
6. (UNCISAL 2012) – Adaptada 
O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões 
se prendem à Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e 
imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto 
crucial de toda formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito 
afirmam ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os 
sentidos apenas capturam uma realidade superficial, mutável e transitória que 
acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos apreendam “as mutações das 
coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem essa realidade jamais se 
alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra. 
 
31 
 
 
Para Demócrito, a physis é composta: 
a) pelo fogo. 
b) pela água. 
c) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio. 
d) pelo ilimitado 
e) pelos átomos. 
 
7. (UNIOESTE 2012) – Adaptada 
 O que há em comum entre Tales, Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, entre e 
Pitágoras de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação racional 
do mundo, e isso é uma reviravolta decisiva na história do pensamento” (Pierre 
Hadot). 
 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia, 
seguem as seguintes proposições: 
I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as 
explicações racionais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o 
início, o princípio, mas também o desenvolvimento e o resultado do processo 
pelo qual uma coisa se constitui. 
II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do 
desenvolvimento do universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas 
eram de tipo mítico, descreviam a história do mundo como uma luta entre 
entidades personificadas. 
III. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico, é considerado 
filósofo – o fundador da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição 
“A água é a origem e a matriz de todas as coisas” está contida a proposição 
“Tudo é um”, ou seja, a representação de unidade. 
IV. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o 
mesmo esquema de orientação das narrativas mitológicas, pois, ao fim e ao 
cabo, os pré-socráticos constroem cosmogonias. 
 
Assinale a alternativa correta. 
a) Apenas as proposições I e II estão corretas. 
 
32 
 
b) Apenas as proposições III e IV estão corretas. 
c) Apenas as proposições II e III estão corretas. 
d) Apenas as proposições I, II e III estão corretas. 
e) Todas estão corretas. 
 
8. UECE (2018) - Adaptada. 
Relacione corretamente as frases apresentadas a seguir com os respectivos 
autores, numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I. 
 
COLUNA 1 
1. A physis é o átomo. 
2. A realidade encontra-se em constante devir. 
3. Tudo é uno/imutável. 
4. A physis corresponde a uma organização numérica. 
5. Aquiles e a tartaruga. 
COLUNA 2 
( ) Heráclito de Éfeso. 
( ) Zenão de Eleia. 
( ) Pitágoras de Samos. 
( ) Demócrito de Abdera. 
( ) Parmênides de Eleia. 
 
Assinale a sequência correta: 
a) 5,4,3,2,1. 
b) 4,5,2,3,1. 
c) 3,2,1,4,5. 
d) 1,2,3,4,5. 
e) 3,5,4,1,2. 
 
 
33 
 
O SOFISTA E A PALAVRA 
 
3.1 OS SOFISTAS: PALAVRA E PERSUASÃO 
Com a afirmação da racionalidade como modelo de orientação da 
realidade, têm-se a eclosão de profundas modificações no cenário grego, 
sobretudo, no que diz respeito à utilização da palavra. Com efeito, a palavra que 
anteriormente era de uso restrito dos sábios, enquanto inspirados pelos deuses, agora 
é de posse do cidadão em seu caráter coletivo e desvinculado da postura 
ritualística/divina. De fato, a palavra torna-se, efetivamente, um exercício de política 
e, assim, de poder. 
Como dito por Jean-Pierre Vernant (1981), a filosofia é a filha da cidade, por 
isso, o advento do pensamento racional ancora-se e no modo de vida social 
proposto pela polis (Cidade-Estado), sobretudo, em Atenas, e, consequentemente, 
contribui, efetivamente, para a determinação do modelo político grego que se 
organizara em torno da coletividade dando ensejo, portanto, ao ideal de 
democracia. 
 
 
34 
 
 
 
 
Diante disso, as decisões políticas e legislativas tomadas no âmbito da pólis são 
realizadas na Ágora, isto é, nas Assembleias coletivas realizadas nas praças públicas, 
nas quais os “bem-nascidos” (Eupátridas) exerciam o papel de cidadão ao discutirem 
os direcionamentos políticos e legais da pólis. 
 
Figura 17: Ruínas da Ágora antiga – Atenas 
 
Fonte: Lugares inesquecíveis 
 
 
35 
 
Superando as imposições da narrativa mítico/religiosa e transformada em 
sinônimo de poder, a palavra
racional passa a ser disputada no âmbito da pólis 
grega. Frente a isso, o campo discursivo da pólis torna-se múltiplo e, 
consequentemente, dotado dos seguintes discursos: a) o mítico/religiosos que, 
mesmo desprovido de sua antiga tarefa de organização do real, ainda existe na pólis 
com papel de manutenção do aspecto ritualístico do mundo; b) o filosófico, 
ancorado na busca racional pela verdade das coisas; e c) o discurso do sofista, cujo 
aspecto central é o manejo da palavra racional em prol do efeito de persuasão e 
convencimento. 
 
 
 
O sofista é compreendido, inicialmente, como um “especialista do saber”, isto 
é, como um mestre/professor de retórica (técnicas voltadas para o bem falar, a 
eloquência, o bem argumentar e o bom emprego da palavra) que irá se relacionar, 
diretamente, com o modo de vida da pólis, delimitado pelo uso da palavra como 
instrumento de decisão política. Ademais, como estabelecido por Braga Júnior e 
Lopes (2015), os sofistas apresentam-se como: 
 
[...] o primeiro grupo de pessoas a realizar uma verdadeira revolução 
nas preocupações filosóficas da filosofia antiga, deslocando suas 
análises da physis e da busca por uma arché para se preocupar 
essencialmente com a problemática sobre quem é o homem, 
concentrando suas análises nos temas da ética, da política, da 
retórica e da educação. (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015, p. 126) 
 
Nota-se, com a citação acima, uma primeira concepção positiva acerca do 
sofista, pois, centrado nas modificações proporcionadas pelo surgimento da pólis, 
dos debates públicos e, sobretudo, do fazer político, os sofistas direcionam o logos 
rumo à compreensão de atividades humanas que, aparentemente, distanciam-se 
da natureza e fundamentam aspectos socioculturais. Contudo, posteriormente, com 
as críticas empreendidas por Sócrates e por Platão, a palavra e o posicionamento do 
https://bit.ly/3HS9uqI
 
36 
 
sofista irão se caracterizar, sobretudo, pela defesa do relativismo ao afirmar que não existem 
verdades absolutas, diferentemente do filósofo, cuja preocupação principal é, justamente, a 
busca pela verdade. Frente a isso, destacam-se três posicionamentos centrais da atividade 
sofística: 
a) O relativismo: a verdade é relativa. 
b) O ceticismo: não existe verdade absoluta, mas, caso ela exista, o homem 
não pode conhecê-la. 
c) O convencionalismo: as normas, as leis e os costumes não são instâncias 
fixas e imutáveis, pelo contrário, as normas, as leis e os costumes são 
acordos/convenções travadas frente às necessidades. 
Peritos na arte retórica, isto é, na arte do bem falar e, consequentemente, no 
manejo do discurso em prol de obtenção de ganhos políticos, sociais e econômicos, 
os sofistas destacam-se como professores remunerados pelos ensinamentos da arte 
do convencimento destinada aos aristocratas atenienses. Deste modo, segundo 
Chauí (2002), a expertise dos sofistas se dava, principalmente, pela: 
 
[...] arte de argumentar e persuadir, decisiva para quem exerce a 
cidadania numa democracia direta, em que as discussões e decisões 
são feitas em público e nas quais vence quem melhor souber persuadir 
os demais, sendo hábil, jeitoso, astuto na argumentação em favor de 
sua opinião e contra o adversário. (CHAUÍ, 2002, p. 162). 
 
Destaca-se, assim, a atividade sofística como a utilização das técnicas de 
retórica e da oratória (a arte do bem falar) discurso enquanto meio/modo de 
convencimento (persuasão) carregado de páthos (emoção) que visa capturar o 
ouvinte em busca de poder político, operando, para tanto, por meio do argumento 
sedutor provido pelo manejo certeiro do discurso breve e claro, pois, conforme dito 
pelo sofista Górgias de Leontinos (484 a.C. – 376 a.C.): “Um discurso é um grande 
senhor que, por meio do menor e mais inaparente corpo, leva à cabo as obras mais 
divinas” (GÓRGIAS, 2009, p. 03). 
 
 
37 
 
 
 
Ademais, destaca-se, ainda, que o discurso sofista se funda por meio da 
defesa de opiniões (dóxa) divergentes, direcionando a tarefa da persuasão rumo 
àquele que mais o pagar, ou, como dito por Chauí (2002), os sofistas “não se 
interessam pela verdade (alétheia), que é sempre igual a si mesma e a mesma para 
todos. Sendo professores de opiniões, são mentirosos e charlatães” (CHAUÍ, 2002, p. 
163 – grifos nossos), são considerados os falsos-filósofos e, diferem-se, sobretudo, no 
que diz respeito aos direcionamentos conferidos à palavra racional por Sócrates e 
Platão, como veremos adiante. 
 
Figura 19: Anfiteatro grego 
 
Fonte: Arquivo do autor 
 
https://bit.ly/3uOZKdo
 
38 
 
 GÓRGIAS DE LEONTINOS 
O sofista Górgias de Leontinos, considerado o “pai” da retórica, foi responsável 
pelo aprimoramento das técnicas do falar bem e, consequentemente, pelo 
desenvolvimento da palavra enquanto instrumento efetivo da persuasão. Fluente nas 
artes do falar com brevidade e com clareza, o discurso de Górgias foi capaz de 
persuadir os legisladores de Atenas e de figurá-lo como um dos mais importantes 
sofistas de seu tempo. 
O pensamento de Górgias, em sua potência retórica, é capaz de fazer frente 
à tradição filosófica pré-socrática, sobretudo, às determinações essencialistas do ser, 
conforme pensado por Parmênides de Eleia. Com efeito, segundo Chauí (2002), no 
desenvolvimento reflexivo-discursivo de Górgias: 
 
 
[...] pela primeira vez, com clareza, é quebrada a identidade entre ser-
pensar-dizer, contida na palavra logos, e é estabelecida a diferença, 
a separação e autonomia entre realidade, pensamento e linguagem. 
(...) ao afirmar a diferença e a separação entre realidade, 
pensamento e linguagem, Górgias simplesmente quebrou o antigo 
conceito da verdade como alétheia e forçará a filosofia a redefinir o 
conceito de verdade, a reformular as relações entre ser, pensar e dizer 
e, portanto, a própria ideia de conhecimento. (CHAUÍ, 2002, p. 175) 
 
Ou seja, para além da utilização da palavra como meio/modo de 
convencimento e persuasão, o discurso de Górgias retira a primazia do logos como 
condutor reflexivo das determinações do conhecimento e da verdade ao questionar 
a identidade entre ser e pensamento e, finalmente, derrubar a ideia proposta por 
Parmênides de uma verdade/essência absoluta residente no ser. Deste modo, em 
seu ímpeto discursivo/reflexivo, Górgias afirma a impossibilidade de conhecimento 
do ser ao afirmar, contrariamente a Parmênides, que mesmo que algo fosse, não 
poderia ser conhecido pelo pensamento e que, em consequência disso, toda a 
verdade é ilusória. 
Assim, ao afirmar o conceito de verdade (alétheia) como ilusório, o sofista 
supera a antiga distinção entre discurso verdadeiro e opinião (dóxa) e, finalmente, 
amplia as possibilidades de alcance das técnicas da retórica e, principalmente, 
assenta a palavra no reino da relatividade, isto é, como não há nenhuma verdade 
absoluta, a palavra tem de se preocupar, tão somente, com as suas capacidades 
argumentativas de persuasão e de defesa da opinião. Frente a isso, os filósofos 
 
39 
 
Sócrates e Platão irão se declarar como inimigos dos sofistas na tentativa de restaurar 
a primazia do logos racional e na tentativa de fornecer as bases para a condução 
de uma reflexão em busca da verdade ideal das coisas, distanciando-se, portanto, 
das simples opiniões provindas do senso comum. 
 
 
 
Pensando ainda com Górgias, é necessário ressaltar a proeminência do 
caráter persuasivo de sua palavra com o exemplo do discurso O elogio de Helena, 
proferido por Górgias sobre Helena de Troia e as ocorrências que conduziram os 
gregos à guerra em Troia. 
 
 
40 
 
Figura 20: Helena e Páris (1788) – Jacques-Louis David 
Fonte: (DAVID, 1788) 
 
No discurso O elogio de Helena, Górgias argumenta em favor de Helena com 
vistas a não a culpar pelo ocorrido em Troia – como costumeiramente era feito –, pois, 
segundo o sofista, o seu rapto não se deu devido a um ardil planejado por ela
em 
traição ao seu marido (Menelau – o rei de Esparta) em conluio com Páris (o príncipe 
troiano que era seu amante), mas sim, por causas incontornáveis. Diante disso, logo 
de início, o sofista deixa claro o propósito de seu discurso, a saber: 
 
[...] Refutar os que repreendem Helena, mulher acerca da qual veio a 
ser uníssono e unânime tanto a crença dos que deram ouvidos aos 
poetas, quanto a fama do nome que, de desgraças, tornou-se 
memória. Eu, porém, pretendo – dando ao discurso alguma lógica – 
por um lado, fazer cessar a acusação sobre a que foi mal falada; por 
outro lado, demonstrar que os que a repreendem estão mentindo e 
expor a verdade [ou] fazer cessar a ignorância. (GÓRGIAS, 2009, p. 01) 
 
Assim, dissipando a injustiça e retirando de Helena a culpa pela guerra, 
Górgias define quatro causas que ocasionaram a sua fuga (ou o seu rapto) de 
Esparta, posteriormente, chegada à Troia: 1) o amor por Páris; 2) a persuasão 
 
41 
 
discursiva que a convence a fugir; 3) uma força maior que a leva, contra sua 
vontade, a Troia; e, 4) a influência dos deuses que são mais fortes que os humanos. 
Com efeito, o sofista apresenta causas incontornáveis às quais o puro espírito de 
Helena não era suficientemente forte para oferecer resistência, procurando, 
portanto, convencer os ouvintes da inocência de Helena. 
 
 
 
 
42 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
 
1. A palavra racional instaura na Grécia Clássica um novo direcionamento político. 
Frente a tal modificação, como podemos definir o novo modo de ordenação 
político grego: 
 
a) como demarcado pela herança mitológica e, consequentemente, determinado 
pela palavra do sábio. 
b) como demarcado pela palavra da coletividade, isto é, as decisões tomadas na 
pólis são frutos da palavra democrática. 
c) como demarcado pela postura ritualística/divina advinda do poeta. 
d) como demarcado pela palavra da coletividade centrada no poder atemporal do 
mito. 
e) como demarcado pela palavra racional de uso exclusivo do sofista na busca pela 
verdade absoluta. 
 
2. A Ágora grega é definida como: 
a) um espaço privado de tomada de decisões individuais. 
b) um espaço determinado pela presença do sábio. 
c) um espaço ritualístico de culto aos mitos. 
d) um espaço delimitado pela investigação da physis. 
e) um espaço público da tomada de decisões coletivas. 
 
3. (UEG- GO) – Adaptada 
No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, 
os teatros estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a 
atenção. Outro aspecto importante da civilização grega da época eram os 
discursos proferidos na Ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses 
pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, 
alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar. Isso 
favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da 
oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em 
troca de pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são 
conhecidos como: 
 
43 
 
 
 
a) Epicuristas. 
b) Maniqueístas. 
c) Sofistas. 
d) Hedonistas. 
e) Comunistas. 
 
4. (UESPI) – Adaptada 
A construção da história requereu lutas contra as dificuldades naturais e grande 
capacidade de invenção. Muitas reflexões filosóficas foram importantes para 
pensar a condição da cultura. Os sofistas contribuíram com essas reflexões, 
quando: 
 
a) defenderam a relatividade, mostrando as impossibilidades para se chegar à 
verdade universal. 
b) criticaram as ideias de Aristóteles, embora aceitassem suas reflexões sobre os 
fundamentos da verdade. 
c) ressaltaram o valor da república democrática através do debate coletivo. 
d) ampliaram as dimensões da filosofia platônica, afirmando a força do idealismo 
estético para a arte. 
e) seguiram os ensinamentos do cristianismo, fundando uma religião sem rituais e 
hierarquias. 
 
5. (SEE/MG) 2018 - Adaptada. Leia o texto a seguir: 
Os Sofistas surgem na Grécia antiga, século V a. C., na passagem da oligarquia 
para a democracia. São os mestres de retórica e oratória, muitas vezes mestres 
itinerantes, que percorrem as cidades-estados fornecendo seus ensinamentos, sua 
técnica, suas habilidades aos cidadãos em geral. Eram relativistas. Sócrates 
também ensinava nas praças públicas através de perguntas e respostas que 
despertavam a verdade que está no interior de cada um. Sócrates afirmava que 
a opinião (doxa) é uma expressão individual, já o conhecimento (episteme) é 
universal. Desta forma, os sofistas ensinavam a retórica para convencer aos outros 
https://questoes.grancursosonline.com.br/concurso/see-mg-2017-2018-fumarc
 
44 
 
que sua opinião é a melhor e Sócrates ensinava a dialética, que através de 
questionamentos (só sei que nada sei) levava ao conhecimento verdadeiro. 
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
2004, p. 42-48. Adaptado. 
 
De acordo com o texto acima, Sócrates não era um sofista, pois ele: 
a) era cético, seu lema era “só sei que nada sei”, enquanto os sofistas defendiam 
uma verdade. 
b) ensinava nas praças públicas apenas de Atenas, enquanto os sofistas eram 
itinerantes. 
c) buscava a verdade da episteme, enquanto os sofistas despertavam a verdade 
dentro de cada um. 
d) defendia a existência de uma verdade universal, enquanto os sofistas eram 
relativistas. 
e) persuadia através da retórica de que estava certo, enquanto os sofistas eram 
dialéticos. 
 
6. SEDUC-PA (2018) – Adaptada 
“Na Grécia Antiga, havia ‘professores’ itinerantes, os sofistas, que percorriam as 
cidades ensinando a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal 
finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o 
que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos 
saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais 
importante a respeito deles foi aquilo que disseram Platão e Aristóteles. ” 
(Disponível em: mundoeducacao.bol.uol.com.br.) 
 
Considerando o trecho anterior, analise as afirmativas a seguir. 
I. Seu saber era aparente e não efetivo, pois não possuía compromisso com a 
verdade, e sim com o lucro. 
II. Ensinavam a arte de argumentar e persuadir, indispensável para exercer a 
cidadania numa democracia direta. 
III. Contribuíram para o ensino, pois formaram um currículo de estudos que foi 
resgatado no período medieval. 
 
45 
 
IV. Há periculosidade do pensamento no ponto de vista moral, bem como 
inconsistência teórica. 
V. Os sofistas representam um fenômeno imprescindível. É impensável a filosofia sem 
eles. 
A respeito do pensamento direto dos principais socráticos sobre os sofistas, estão 
corretas apenas as afirmativas: 
a) I e IV. 
b) I e V. 
c) II e III. 
d) III e IV. 
e) IV e V. 
 
7. De acordo com o sofista Górgias de Leontinos, o ser 
a) é produto conhecível pelo pensamento. 
b) é uma ilusão dos sentidos. 
c) pode ser amplamente conhecido pelo logos. 
d) não pode ser conhecido pelo pensamento. 
e) é um produto do discurso e do pensar. 
 
8. A máxima “o homem é a medida de todas as coisas”, proferida pelo sofista 
Protágoras de Abdera, afirma: 
a) o caráter relativista do homem. 
b) o caráter essencialista do homem. 
c) o caráter idealista do homem. 
d) o caráter dialético do homem. 
e) o caráter racionalista do homem. 
 
 
 
46 
 
A FILOSOFIA DE PLATÃO 
 
4.1 SÓCRATES 
Com a entrada de Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) no cenário da pólis grega, a 
palavra racional desloca-se, sobretudo, para o entendimento do homem, do 
conhecimento e da ética visando – diferentemente do sofista que compreende a 
palavra do logos como um instrumento de persuasão e de relativismo – encontrar o 
conhecimento verdadeiro (a episteme) das coisas. 
A perspectiva socrática é a da constante busca pela sabedoria a partir
da 
emblemática certeza inicial de que a única coisa certa é a ignorância, formalizada 
pela seguinte expressão: “Só sei que nada sei”. Deste modo, Sócrates salienta a 
necessidade de superação das certezas pré-concebidas para, finalmente, adentrar 
na busca pelo conhecimento verdadeiro. Ademais, conforme ressaltado por Chauí 
(2002), a missão do filósofo Sócrates consiste em: 
 
[...] Busca incessante da sabedoria e da verdade e o reconhecimento 
incessante de que, a cada conhecimento obtido, uma nova 
ignorância se abre diante de nós. Isso não significa que a verdade não 
exista, e sim que deve ser sempre procurada e que sempre será maior 
do que nós. (CHAUÍ, 2002, p. 187) 
 
Ao buscar incessantemente a verdade, a filosofia socrática coloca-se como 
oposta à postura dos sofistas; pois, para Sócrates, há uma verdade absoluta a ser 
encontrada e seu desvelamento se dá, sobretudo, pela superação racional do 
caráter relativista e opinativo do saber, conforme proposto pelos sofistas. Diante disso, 
instaura-se uma oposição fundamental entre a opinião (dóxa) e o conhecimento 
verdadeiro (episteme) capaz, finalmente, de propor um caminho para o 
conhecimento de si mesmo. 
Com efeito, tal oposição dá-se na distinção entre os produtos de um falso 
saber advindo do senso comum e o conhecimento introduzido por meio de uma 
racionalidade metódica e, principalmente, em constante estado de reflexão. O 
método proposto por Sócrates é a maiêutica, pensada como um procedimento de 
questionamento através do diálogo que dirige questões ao outro como meio de 
retirar dele as respostas corretas ou, como ressalta Ghiraldelli Jr. (2003), trata-se de um 
UNIDADE
04 
 
UNIDADE
04 
 
47 
 
método de parir a verdade através do jogo de pergunta e resposta, assim, “Sócrates 
é aquele que faz vir à luz a verdade dos conceitos” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 
15), colocando em contradição as falsas verdades de seu interlocutor, uma vez que 
elas são advindas da opinião e do senso comum. 
 
 
 
A maiêutica socrática depara-se com indagações de cunho filosófico, tais 
como, discussões sobre o bom e o belo, a ética e a justiça, a política e o sujeito, a 
filosofia e os deuses, entre outras que, de fato, interferem no dia a dia da pólis. 
Justamente, por colocar em questão as antigas certezas e, principalmente, por 
demonstrar as contradições existentes nos discursos dos legisladores atenienses 
educados pelos sofistas, Sócrates é acusado de corromper a juventude de Atenas, 
de defender falas doutrinárias e, consequentemente, de ofender os deuses. Assim, 
no diálogo platônico, Apologia de Sócrates, tem-se a condenação de Sócrates. 
Julgado em um tribunal formado pelos seus próprios acusadores, Sócrates é 
 
48 
 
condenado e recusa-se a apelar para argumentos emocionais desprovidos de 
estrutura lógica e, muito menos, a pedir por misericórdia, pelo contrário, o filósofo 
continua a apontar as contradições inerentes aos discursos acusadores e a 
demonstrar a falta de veracidade das acusações. Contudo, seus argumentos não 
são aceitos pelos seus acusadores, nem Sócrates aceita o cumprimento de penas 
alternativas caso renegue todos os ensinamentos que havia transmitido 
anteriormente, portanto, o pensador é condenado à morte. Enfim, o filósofo, com as 
próprias mãos, bebe o cálice de cicuta e morre, sem, contudo, abdicar-se de sua 
busca pelo conhecimento verdadeiro. 
 
Figura 22: A morte de Sócrates (1787) - Jacques-Louis David 
Fonte: Wikipédia 
 
4.2 PLATÃO 
Platão (428 a.C.-347 a.C.), discípulo de Sócrates, coloca-se como um dos mais 
importantes pensadores da história da humanidade. Aprofundando os ensinamentos 
de seu mestre, o pensamento platônico busca conhecer a verdade através da razão. 
Dando início ao período antropológico da filosofia, o pensamento de Platão 
debruça-se sobre o humano procurando conhecê-lo, sobretudo, segundo suas 
atuações morais (éticas; justas; livres), políticas e metafísicas. Desse modo, tal como 
Sócrates, o platonismo, ao adotar a palavra racional como meio/modo de alcance 
 
49 
 
do conhecimento verdadeiro, tem os sofistas como principais inimigos. 
Ademais, é com Platão que as Academias de filosofia têm o seu início, 
demarcando o modelo de formação educacional (Paideia) direcionado ao corpo e 
à mente, conforme desenvolvido por Platão. Não obstante, é com o pensamento de 
Platão que a filosofia, de fato, torna-se uma investigação sistemática acerca de 
todos os âmbitos de atuação dos seres humanos, investigando desde concepções 
ontológicas/metafísicas até determinações práticas da pólis, tal como o caminho 
político/formativos dos cidadãos. 
 
Figura 23: Estátua de Platão (Universidade de Atenas/Grécia) 
Fonte: Arquivo do autor 
 
É importante ressaltarmos que o pensamento de Platão se constitui por meio 
dos diálogos socráticos, isto é, adotando uma forma literária e destinando Sócrates 
como seu protagonista, o platonismo empreende uma busca pelo conhecimento 
verdadeiro, fundamentando o idealismo como vertente filosófica central. Assim, os 
“diálogos, com seu caráter auto referencial, constituem a inauguração de métodos 
ou processos de investigação. Os interlocutores movimentam-se dentro de 
pressupostos teóricos” (PAVIANI, 2008, p. 31). Com efeito, determina-se que, em seu 
percurso filosófico, Platão foi o responsável por documentar as palavras, os métodos 
investigativos e pressupostos teóricos de Sócrates, transformando-os nos conhecidos 
diálogos existentes e estudados até os dias de hoje. 
 
 
50 
 
Quadro 3: Os principais Diálogos de Platão 
DIÁLOGO TEMÁTICA 
República Idealismo/Dualismo/Polis/ Paideia/ 
Conhecimento 
Apologia de Sócrates Acusação/morte de Sócrates 
Láques Coragem 
Hípias menor Verdade/Mentira/Justiça 
Górgias Retórica 
Fédon Alma/Metafísica 
O banquete Bem/Amor 
Crátilo Linguagem/Conhecimento 
Fonte: Adaptado de “Platão” 
 
 O idealismo de Platão 
A centralidade do pensamento de Platão repousa na teoria do idealismo 
como mote central para a teoria do conhecimento (epistemologia) na filosofia 
platônica. Assim, tendo como base a busca pelo conhecimento verdadeiro, o 
pensador elaborou uma teoria fundamentada no dualismo, isto é, na divisão do 
mundo em duas categorias: o mundo sensível e o mundo das ideias. 
No idealismo, portanto, Platão privilegia o mundo das ideias como o local no 
qual o conhecimento das essências e, da verdade das coisas pode ser alcançado. 
Desse modo, no mundo das ideias estariam contidas as ideias (eidos), as essências 
imutáveis, os conceitos fixos e o conhecimento verdadeiro (episteme), ao passo que 
no mundo sensível encontrar-se-iam, tão somente, as coisas vivas e visíveis, a 
mudança e o conhecimento não verdadeiro. 
Ao privilegiar o mundo das ideias como local da verdade, acessível apenas 
pela racionalidade, Platão dá início à tradição do racionalismo, que irá determinar 
a condenação do mundo sensível e, consequentemente, dos sentidos, das paixões 
e dos desejos por considerá-los como produtores de um falso conhecimento. Nesse 
sentido, enquanto a racionalidade, motor do mundo das ideias, tem como objetos 
do conhecimento as formas e as essências verdadeiras das coisas, o mundo sensível, 
determinado, sobretudo, pelos sentidos, tem a materialidade, as sombras, os 
simulacros e as imagens como objetos de um falso conhecimento. 
Com efeito, o idealismo platônico fomenta a concepção de uma outra 
 
51 
 
realidade, ou seja, de uma realidade metafísica (transcendental / idealista) para 
além da materialidade física da realidade compreendida pelos sentidos e que, 
consequentemente, só pode ser alcançada pela ação do pensamento racional. E, 
deste modo, enquanto vinculada a razão, o mundo das ideias de Platão afirma os 
processos de racionalidade como procedimentos referentes às disciplinas 
intrinsecamente racionais (de puro pensamento), tais como a matemática e, 
principalmente,
a filosofia, como demonstrados na alegoria da linha: 
 
 Mundo sensível Mundo das Ideias 
 (sombras) (episteme) 
←---------------------------→ ←----------------------------------→ 
Arte Opinião Matemática Filosofia 
 
 
 
 A República de Platão 
A República é o mais famoso diálogo de Platão. Dividida em dez capítulos, 
https://www.youtube.com/watch?v=tswloAV-BH0
 
52 
 
chamados de livros, ela discute os principais aspectos do idealismo platônico na 
tentativa de formulação de uma cidade ideal e, consequentemente, de um modelo 
ideal de política e governança. 
Ressalta-se, logo de início, que o pensamento platônico se coloca como 
contrário à democracia, pois, considera a democracia como um modelo imperfeito 
e corrompido de governo por guiar-se pelos desejos e pelas paixões dos governantes 
e, principalmente, devido à liberdade desmedida dada ao povo como participante 
das decisões políticas. Nesse sentido, Platão pensa a democracia como um modelo 
degradado, tomado pelas paixões, pelos desejos e pela pluralidade de opiniões 
(dóxa) e, para tanto, distanciado da racionalidade. 
 
Figura 24: Platão apontando para o mundo ideal (Trecho da pintura “A escola de 
Atenas” (1509 – 1511) – Rafael Sanzio) 
 
 Fonte: Arquivo do autor 
 
 
53 
 
 
 
O diálogo platônico procura fundamentar o que seria a essência da bondade, 
da ética, da legalidade, da justiça e da formação tendo em vista o direcionamento 
de cidadãos racionalmente conduzidos. Em outros termos, a cidade ideal, para 
Platão, fundamentar-se-ia na afirmação da racionalidade em detrimento dos 
aspectos advindos da sensibilidade e, consequentemente, na busca pela verdade 
essencial das coisas. 
Ademais, tendo Sócrates como personagem principal, Platão empreende 
uma crítica aos posicionamentos políticos existentes na pólis, procurando, para tanto, 
demonstrar as contradições existentes nos discursos relativistas proferidos pelos 
Sofistas que, ao fim e ao cabo, determinavam os rumos políticos da cidade-estado. 
É justamente na República que Platão fornece as principais alegorias 
(ilustrações) que fundamentam a sua filosofia procurando, sobretudo, exemplificar a 
soberania das ideias sobre a sensibilidade. Desse modo, podemos ressaltar, 
principalmente, a alegoria da Caverna, apresentada no Livro VII, como ponto central 
da fundamentação da filosofia idealista, no qual, a superação do conhecimento 
falso proveniente dos sentidos se dá por meio da elevação racional do sujeito em 
busca da verdade, ou, em outros termos, em busca do conhecimento verdadeiro 
(episteme). 
Com efeito, no diálogo platônico, a busca pela verdade se desdobra por meio 
 
54 
 
do método dialético, isto é, na oposição entre discursos contrários visando à 
contemplação do conhecimento verdadeiro alcançado racionalmente. Tal 
dialética consiste na superação do caráter relativo/opinativo do discurso por meio 
da reflexão racional e sistemática que, não obstante, conduz o sujeito à 
contemplação das ideias. 
Podemos ressaltar ainda que o interesse fundamental de Platão, conforme dito 
na República, reside na construção de um direcionamento educativo centrado na 
soberania da racionalidade. Assim, a educação platônica possuiu um caráter 
formativo geral, configurando-se, portanto, uma Paideia, isto é, um processo 
educativo que procura formar o sujeito integralmente no que diz respeito a uma 
educação voltada para o corpo e para a alma (mente). 
A Paideia de Platão – apresentada, sobretudo, no Livro III, da República – 
relaciona-se diretamente com a suas teorias sobre a política e sobre as almas. De 
acordo com o filósofo, a alma seria dividida em três partes: a alma racional; a alma 
irascível (emotiva/afetiva) e a alma apetitiva (desejosa/objetal), sendo que cada 
uma dessas almas corresponderia a uma classe social habitante da polis e, 
consequentemente, a cada uma delas corresponderia um modelo 
educacional/formativo ideal. Nesse sentido, a alma racional corresponderia à 
educação filosófica direcionada aos governantes, que Platão denominará como 
Reis Filósofos. Já a alma irascível seria de posse dos guerreiros e, portanto, a 
educação/formação seria destinada ao controle das emoções e à elevação da 
coragem para a defesa militar da pólis; por sua vez, a alma apetitiva corresponderia 
aos trabalhadores (comerciantes; lavradores; artesões e camponeses) e o seu 
modelo educacional seria fundamentado, prioritariamente, no controle racional dos 
desejos e na consequente manutenção da pólis. 
 
Quadro 4: As classes sociais e as almas 
Fonte: Elaborado pelo autor 
 
Com efeito, ilumina-se no pensamento platônico a organização política ideal 
CLASSE ALMA FUNÇÃO VIRTUDE 
Governante (Rei Filósofo) Racional Governar Sabedoria 
Guerreiros Irascível Defesa Coragem 
Trabalhadores Apetitiva Manutenção Equilíbrio 
 
55 
 
centrada na liderança do Rei Filósofo, cuja educação é estritamente voltada à 
elevação racional e, consequentemente, ao conhecimento do mundo das ideias. 
Diante disso, no Livro III, a Paideia de Platão é finalizada com uma alegoria que ilustra 
a densidade do controle político idealista preconizado na cidade ideal de Platão, a 
saber, a alegoria (ou fábula) na nobre mentira. 
Em termos gerais, Sócrates revela a Glauco, o seu interlocutor, que visando à 
manutenção da ordem e à organização em classes sociais distintas, na cidade ideal, 
é permitida aos governantes a utilização de uma nobre mentira, composta do 
seguinte conteúdo: em cada uma das almas descritas acima estaria contido um 
elemento mineral imutável que conferiria às classes o seu local social estratificado, 
por exemplo, na alma racional dos governantes estaria contido o ouro; na alma 
irascível dos guardiões estaria contida a prata e, na alma apetitiva dos trabalhadores 
estaria contido o bronze. 
 
Figura 25: O banquete de Platão (1873) - Anselm Feuerbach 
Fonte: (FEUERBACH, 1829–1880) 
 
Finalmente, na República e, consequentemente, no pensamento platônico, a 
busca pela verdade compreende a determinação de uma esfera idealista 
alcançada pela racionalidade, compreendida como vetor de busca do 
conhecimento verdadeiro (episteme), em oposição à realidade sensível que, 
durante grande parte da história da filosofia, será condenada como vetor de um 
falso conhecimento. 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Anselm_Feuerbach
 
56 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. ENEM 2017 – (Adaptado) 
Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates 
paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma 
direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão 
junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa 
influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, 
muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação. 
BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977. 
 
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na: 
a) Contemplação da tradição mítica. 
b) Relativização do saber verdadeiro. 
c) Sustentação dos métodos dialético e maiêutica. 
d) Investigação dos fundamentos da natureza. 
e) Valorização da argumentação retórica. 
 
2. UNCISAL – (Adaptada) 
Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e 
fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. 
Mas, durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, 
levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação, 
Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a 
juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar

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