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Geovana Sanches, TXXIV IMOBILIZAÇÕES INTRODUÇÃO As imobilizações consistem em manter um membro, ou apenas um segmento de um membro, imóvel, em repouso, e em posição correta. Elas podem ser realizadas por diversos motivos, tais como conforto do paciente e analgesia. Sendo assim, não é utilizada exclusivamente no contexto das fraturas. No caso de fraturas, deve-se analisar a necessidade do tratamento conversador (imobilização) ou cirúrgico. Nos casos de fraturas borderline, ou seja, que cabem ambos os tratamentos, atualmente a tendência é que seja realizada a operação. O tempo de consolidação é o mesmo, mas há questões como o currículo oculto (pressão dos hospitais para operar o paciente devido o alto custo da cirurgia) que acabam fazendo com que seja realizada a cirurgia. Contexto Emergência • Imobilização provisória, realizada no momento do traumatismo • Reduzem a dor do paciente e facilitam o transporte • Realizada pelo SAMU ou pelos bombeiros • Reduz a lesão nervosa e vascular, evitando compressão de vasos e nervos entre fragmentos • Evita estiramentos pelo aumento da angulação do local da fratura • Reduz o risco de conversão inadvertida de uma fratura fechada em uma fratura exposta • Tipos o Tipoia o Apoio o Colar cervical o Prancha rígida o Tração Tratamento definitivo • Imobilização de fratura já reduzida (redução incruenta) • Imobilização de segmento osteoarticular com processo infeccioso • Imobilização de segmento corpóreo com traumatismo, mesmo na ausência de fraturas • Imobilização de região recém-operada • Tipos o Enfaixamento simples o Associações o Talas ou goteiras gessadas o Aparelhos gessados circulares ENFAIXAMENTO SIMPLES O enfaixamento simples pode ser utilizado para analgesia do paciente, como nos casos de entorse. Deve ser realizado sempre de forma cruzada, evitando o garrote do membro. ASSOCIAÇÕES As associações podem ser utilizadas, por exemplo, para fratura distal de úmero, na qual faz- se uma tala do ombro ao cotovelo associada a uma tipoia para elevação do membro. TALAS GESSADAS As talas gessadas são utilizadas nos casos de contusão ou entorse. Ela NÃO pode ser utilizada com objetivo de reduzir fraturas, sendo esse um objetivo do gesso circular. Todavia, nos casos em que há fratura com edema muito importante, pode ser utilizada uma tala provisória para posterior substituição. Isso Geovana Sanches, TXXIV pois, o gesso exerce pressão sobre o membro e o paciente pode evoluir com síndrome compartimental. É utilizada, ainda, após algumas semanas do uso do gesso, após formação do calo ósseo. Outra opção para tal é o robofoot, o qual tem a mesma função da tala gessada e oferece maior conforto ao paciente – permite a retirada para higiene. Procedimento 1. Medir e colocar a malha tubular ortopédica sobre o membro 2. Enrolar o algodão sobre o todo o membro, reforçando nos locais de proeminência óssea 3. Molhar a tala gessada e aplicá-la sobre o membro, sempre começando de distal para proximal 4. Passar a atadura de crepe sobre toda a extensão da tala gessada 5. Acabamento GESSO CIRCULAR O gesso circular é utilizado especialmente para o tratamento conservador de fraturas. Isso pois, ao realizar pressão sobre a musculatura local, não deixa a fratura desalinhar. Deve-se imobilizar sempre uma articulação acima e outra abaixo do local da lesão, evitando movimentações. Como já mencionado, por realizar essa pressão na musculatura, ele não deve ser realizado quando há lesão importante de partes moles e edema local, pois poderá ocasionar síndrome compartimental. Procedimento 1. Medir e colocar a malha tubular ortopédica sobre o membro 2. Enrolar o algodão sobre o todo o membro, reforçando nos locais de proeminência óssea 3. Molhar o material e retirar os excessos de água 4. Aplicar rapidamente o material sobre o membro, sempre de distal para proximal. A cada volta, deve-se alisá-lo para facilitar a adaptação dos cristais com as camadas adjacentes 5. Passar a atadura de crepe sobre toda a extensão da tala gessada 6. Acabamento OUTRAS IMOBILIZAÇÕES Enfaixamento em 8 O enfaixamento em oito era utilizado para casos de fratura de clavícula, mantendo uma posição favorável do ombro. Todavia, nos dias de hoje a tendência é operar esses casos. Velpeau O velpeau inverno era utilizada nos casos de fratura de úmero proximal e diafisário. Já o velpeau verão, era realizado para limitar a Geovana Sanches, TXXIV movimentação do ombro (articulação espáculo- umeral). Piça de confeiteiro A pinça de confeiteiro é utilizada nos casos de fratura de úmero. Esparadrapagem A esparadrapagem é utilizada nos casos de fratura de falanges do membro inferior, na qual o dedo ao lado dará apoio para o fraturado. Tala metálica A tala metálica é utilizada nos casos de fratura de falanges no membro superior. IMOBILIZAÇÃO EM MEMBROS INFERIORES Talas/Gessos mais utilizados • Cruro-inguinal-podálico • Cruro-inuginal-maleolar • Suro-podálico Fratura de patela • Patela: osso acessório que potencializa a força do quadríceps • Fratura sem desvio o Tratamento conservador o Imobilização em extensão por 2 a 3 meses § Gesso cruropodálico § Gesso cruromaleolar • Fratura com desvio (gap) > 3mm o Levam a impossibilidade de extensão da perna o Tratamento cirúrgico Fratura de tíbia O fragmento distal é quem determina o desvio da fratura. Terço proximal da tíbia • Preocupação: fratura articular • Tratamento cirúrgico Terço médio da tíbia • Traço transverso o Geralmente ocorre por trauma direto o Fratura estável o Pode-se realizar tratamento conservador com gesso circular • Traço oblíquo o Geralmente ocorre por trauma torcional o Fratura instável § Risco de cisalhamento o Faz-se necessária abordagem cirúrgica § Haste: não destrói o hematoma fraturário § Placa: maior risco de infecção • Traço cominutivo o Fratura instável o Necessária abordagem cirúrgica Terço distal da tíbia • Normalmente o tratamento é cirúrgico Geovana Sanches, TXXIV Fratura de tornozelo As fraturas de tornozelo normalmente ocorrem por movimento torcional. Quando há apenas o entorse, pode-se realizar tala gessa suropodálica. No caso de fraturas, o tratamento será definido pelo acometimento da sindesmose: • Fratura abaixo da sindesmose o Tratamento conversador § Gesso suropodálico • Fratura acima ou ao nível da sindesmose o Tratamento cirúrgico Complicação Quando o paciente apresenta entorses repetidos de tornozelo, ocorre frouxidão ligamentar. Todavia, isso só será indicação de cirurgia nos casos em que há instabilidade crônica, pois o rompimento é incomum. Fratura de calcâneo • Geralmente ocorre por impacto direto e queda de altura • O gesso só pode ser utilizado quando não há desvio, condição rara • Tratamento geralmente cirúrgico Fratura de fêmur Em adultos, todas as fraturas do fêmur são de tratamento cirúrgico. Nas crianças, por sua vez, dependendo do traço da fratura é possível realizar o tratamento conservador. Cabeça do fêmur • Extremamente raras, geralmente associado a fratura do acetábulo • Tratamento cirúrgico Colo do fêmur • Prevalência muito alta • Associação com osteoporose • Tratamento iminentemente cirúrgico Transtrocanteriana • São aquelas que ocorrem no terço proximal entre os trocanteres • Alta prevalência • Quadro típico: perna encurtada em rotação externa (por ação muscular) • Classificação o Subcaptal o Basocaptal o Mediocaptal • Tratamento cirúrgico com material de síntese o Subcaptal em paciente idoso: faz-se necessário a substituição por prótese devido ao risco de necrose avascular o Subcaptal em pacientejovem: muito raro; tenta-se realizar redução e parafusos Diáfise • Crianças: gesso circular • Adultos: abordagem cirúrgica IMOBILIZAÇÃO EM MEMBROS SUPERIORES Talas/Gessos mais utilizados • Axilo-palmar • Antibraquiopalmar • Antibraquiopalmar em garrafa o Envolvimento dos dedos Escafoide • É o osso do carpo que mais sofre fraturas • Pertence a 1ª e a 2ª fileira do carpo • Vascularização retrógrada: de distal para proximal • Possui três partes o Terço proximal: mesmo que seja realizada a redução, não há vascularização adequada, de forma que pode evoluir com isquemia e necrose; indica-se o tratamento cirúrgico Geovana Sanches, TXXIV o Terço distal: vascularização adequada, com boa evolução da fratura Trauma de cotovelo • Fratura supracondiliana: queda com a mão espalmada em extensão • Avaliar a presença de lesão neurológica o É raro, a menos que haja fratura exposta o Comprometimento dos nervos ulnar, radial e mediano o Questionar sobre redução de sensibilidade • Solicitar raio-X do braço, cotovelo e antebraço • Tratamento o Se contusão: tala gessada axilopalmar o Se fratura: gesso circular Fraturas de úmero • Lesão de colo cirúrgico (terço proximal): MJ • Fratura em diáfise: individualizar o Tendência a operar • Fraturas com desvio ou com acometimento articular: abordagem cirúrgica Fraturas de rádio Fratura diafisária • Fratura muito prevalente • No adulto, abordagem sempre cirúrgica, mesmo que não haja desvio • Risco de perda de movimento de prono- supinação • Crianças: pode-se realizar tratamento conversador, pois com o crescimento ósseo ocorre remodelamento Fraturas de punho • Comum no idoso • Se houver desvio, indica-se tratamento cirúrgico Fraturas de falange • Não é possível identificar se há rotação no raio-X, sendo necessário exame clínico • Solicitamos para o paciente que ele feche a mão e, caso haja encavalamento entre os dedos, isso indica a presença de rotação IMOBILIZAÇÕES PARA TRANSPORTE As imobilizações são muito utilizadas no transporte de pacientes pós-trauma, com os objetivos supracitados, mas também para redução de riscos. Nesses casos, são utilizados o colar cervical e a prancha rígida. Além disso, podem-se utilizar as talas moldáveis para imobilização durante o transporte. É importante ressaltar que, para membros inferiores, a equipe de resgate deverá alinhar o mínimo possível até a chegada ao hospital. COMPLICAÇÕES Imediatas As principais complicações imediatas são a síndrome compartimental e a síndrome de Volkmann. Ambas são condições graves, devendo ser tratadas com urgência a partir da serra do gesso e abertura imediata. • Síndrome compartimental o Edema à aumento de pressão sobre o compartimento à compressão dos vasos locais à isquemia à necrose o Tratamento: fasciotomia • Síndrome de Volkmann o Contratura permanente de flexão da mão sobre o punho, associada ao uso de imobilizações demasiadamente apertadas no membro superior Além disso, outra complicação imediata é a perda da redução da fratura, sendo necessário realizá-la novamente. Geovana Sanches, TXXIV Tardias • Úlceras decorrentes da pressão do aparelho gessado sobre as saliências ósseas • Deformidade • Rigidez articular • Osteoporose • Atrofia muscular • Doença fraturaria o Risco diminuído através da mobilidade precoce, um dos princípios que norteiam a ortopedia e traumatologia RECOMENDAÇÕES • Se o gesso causar irritação, ele deverá ser substituído. Ele não deve pressionar, causar dor, perturbar a sensibilidade ou causar sensação de frio • O gesso não deve ser molhado • O membro deve estar posicionado acima do nível do coração, enquanto o inchaço não tiver diminuído • O paciente deve repousar e não se deve suportar no gesso