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Controlecognitivoinibitorio-Jesus-2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM 
EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTROLE COGNITIVO INIBITÓRIO E DESEMPENHO NO 
CICLISMO EM TESTE CONTRARRELÓGIO DE 10 KM 
 
 
 
RAILLE SILVA DE JESUS 
 
 
 
 
 
 
NATAL – RN 
2019
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTROLE COGNITIVO INIBITÓRIO E DESEMPENHO NO 
CICLISMO EM TESTE CONTRARRELÓGIO DE 10 KM 
 
RAILLE SILVA DE JESUS 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-graduação em Educação Física da 
Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, como requisito para a obtenção do 
grau de Mestra em Educação Física. 
 
 
 
 
 
 
 
ORIENTADOR: Prof. Dr. EDUARDO BODNARIUC FONTES 
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. HENRIQUE BORTOLOTTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da 
Saúde - CCS 
 
 
 Jesus, Raille Silva de. 
 Controle cognitivo inibitório e desempenho no ciclismo em 
teste contrarrelógio de 10 km / Raille Silva de Jesus. - 2019. 
 65f.: il. 
 
 Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em 
Educação Física. Natal, 2019. 
 Orientador: Eduardo Bodnariuc Fontes. 
 Coorientador: Henrique Bortolotti. 
 
 
 1. Ciclismo - Dissertação Cognição. 2. Ciclistas - Cognição - 
Dissertação. 3. Performance - Dissertação. 4. Time-trial - 
Dissertação. I. Fontes, Eduardo Bodnariuc. II. Bortolotti, 
Henrique. III. Título. 
 
RN/UF/BS-CCS CDU 796.61 
 
 
 
 
 
Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, por todo cuidado ao me apresentar um horizonte de possibilidades e por me 
cercar de pessoas maravilhosas que me acolheram desde a graduação até a minha 
vinda para a cidade de Natal. 
À minha mãe Maria Rita, mulher guerreira que sempre teve a habilidade de dividir, 
compartilhar e subjetivamente me ensinar que a filha dela foi feita para voar. Aqui 
estou, com um pedaço do meu coraçãozinho na Bahia, mas com a garra de 
conquistar e fazer famílias em qualquer lugar que seja. 
Ao meu pai José Domingos. A ele minha gratidão por sempre acreditar e sobretudo 
por me apoiar financeiramente no primeiro ano em Natal. 
Aos meus irmãos, Weslley, Islan e Ruan pelo tamanho carinho e afeto. 
Ao Luiz Ribeiro gostaria de expressar minha tamanha gratidão. Parece que foi 
ontem, mas há exatos 6 anos ele me acolhera como sua aluna de iniciação científica 
ou quase uma filha nesse meio acadêmico. Amigo, paciente, humilde e performa 
ideais que perpassam o que é ser professor. Obrigada por todo apoio e por sempre 
me fazer acreditar mais em mim. 
Ao meu orientador Eduardo Fontes, por ter sido extremamente acolhedor desde o 
momento que o conheci ainda na cidade de Ilhéus e posteriormente quando entrei 
em contato para prestar a seleção do mestrado. Gratidão pelas contribuições para 
minha formação acadêmica e pessoal, por respeitar meu tempo e pelo total apoio 
durante esse processo. 
Ao professor Hassan por conversas pontuais e vividas. Tenho muita admiração pelo 
profissional que você é. 
À Ciane que nesse momento está bem distante, mas foi a primeira pessoa a me 
receber em Natal. Acredito em conexão de almas, então sou grata ao universo pela 
oportunidade de conhecê-la, pelas conversas, momentos partilhados e espero que 
se sinta abraçada aonde quer que esteja. 
Aos membros do Labex, especialmente aos integrantes do NeuroEx. Esse grupo me 
permitiu crescer significativamente e cada pessoa agiu de maneira singular para 
 
 
 
quem tenho me tornado. Vi de maneira mais profunda o quanto a pesquisa científica 
é um trabalho de formiguinha que pode ser mais leve quando se tem alguém para 
ajudar na caminhada. Minha tamanha gratidão às pessoas que tive a oportunidade 
de estar mais próxima e assim aprender com a sua existência, sobretudo a Helô, 
Colombiano (amigo mais fofo) e Henrique. 
Ao Dani Carvalho pela amizade construída principalmente durante a condução do 
projeto. Obrigada pela cumplicidade e pela oportunidade de te conhecer mais um 
pouquinho. Você é incrível. 
À Aga, pessoa doce e de coração quentinho que me deu muito suporte nos últimos 
meses. 
Às políticas públicas estudantis por me assegurar sobretudo a partir do segundo ano 
de mestrado. A oportunidade de morar na residência estudantil me fez refletir ainda 
mais sobre meu privilégio em ser a primeira mulher da família a fazer graduação e 
pós-graduação, portanto vale ressaltar que sem esse apoio institucional 
provavelmente seria impossível chegar até aqui. Espero que outras pessoas 
desprovidas de privilégios de classe sejam tão agraciadas para usufruir da pós-
graduação quanto eu fui. 
Ainda, agradecer a ancestralidade pelo tamanho encontro de almas e por me 
permitir construir famílias por onde eu passo. Talvez esse seja o verdadeiro sentido 
da vida, voar, voar e se encontrar aonde quer que seja. Sem apego me sinto 
literalmente abraçada pelas pessoas maravilhosas que se achegaram no último ano, 
principalmente através da residência. Conviver mais uma vez com diversas pessoas 
me permitiu lidar com as mais variadas existências e também me encontrar ao ponto 
de atingir tamanha autenticidade. Nesse percurso tive o prazer de conhecer a 
garotinha do tempo, amiga e parceira de vida, Josi. Aprender da cultura popular e a 
viver sem grande apego, com a artista e “roommate” mais linda, Momo. Também a 
ser melhor ouvinte e ter um abraço casa com meu jornalista smartpop, Ben. Assim 
como compartilhar as experiências de vida e aprendizados das sessões de terapia 
com minha miguxa Nutri BarbalhoRoberta, Érica. Nem sei como agradecer pelas 
conversas jogadas fora, festivais, pôr do sol e xícaras de café. Obrigada por terem 
sido meu porto seguro. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
ANEXOS ..................................................................................................................... 7 
APÊNDICES ................................................................................................................ 8 
LISTA DE TABELAS ................................................................................................... 9 
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 10 
LISTAS DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS ............................................... 11 
RESUMO................................................................................................................... 12 
ABSTRACT ............................................................................................................... 13 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 14 
2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 19 
2.1 Objetivo geral: .................................................................................................. 19 
2.2 Objetivos específicos: ...................................................................................... 19 
3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 20 
3.1 FADIGA E DESEMPENHO .............................................................................. 20 
3.2 FUNÇÕES EXECUTIVAS ................................................................................ 24 
3.3 CONTROLE INIBITÓRIO E DESEMPENHO FÍSICO ...................................... 26 
4. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................30 
4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO....................................................................... 30 
4.2 TRIAGEM ......................................................................................................... 31 
4.3 AMOSTRA ....................................................................................................... 31 
4.4 AVALIAÇÕES .................................................................................................. 32 
4.4.1 ESCALA DE HUMOR DE BRUNEL (BRUMS) .......................................... 32 
4.4.2 ESCALA ANALÓGICA VISUAL (VAS) ....................................................... 33 
4.4.3 CONTROLE INIBITÓRIO ........................................................................... 33 
4.4.4 FREQUÊNCIA CARDIACA ........................................................................ 35 
4.4.7 TESTE INCREMENTAL ............................................................................. 36 
4.4.8 CONTRARRELÓGIO ................................................................................. 37 
4.4.9 DENSITOMETRIA POR DUPLA EMISSÃO DE RAIOS-X (DEXA) ........... 38 
4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................. 38 
5. RESULTADOS ................................................................................................... 40 
5.1 PODER AMOSTRAL ........................................................................................ 43 
6. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 44 
7. CONCLUSÕES ................................................................................................... 48 
8. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 49 
 
 
 
ANEXOS 
 
ANEXO I. Questionário de Prontidão para Atividade Física......................................59 
ANEXO II. Questionário de Humor de Brunel (BRUMS)............................................60 
ANEXO III. Escala Visual Analógica (VAS)................................................................61 
ANEXO IV. Escala de Percepção Subjetiva de Esforço (PSE)..................................62 
ANEXO V. Escala de Pensamentos Associativo e Dissociativo (PA/PD)..................63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICES 
 
APÊNDICE A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).......................64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 1. Caracterização da amostra (N = 17).......................................................39 
TABELA 2. Parâmetros avaliados no teste incremental máximo..............................39 
TABELA 3. Desempenho no teste de controle cognitivo inibitório............................40 
TABELA 4. Parâmetros psicofisiológicos e indicadores de desempenho no teste 
contrarrelógio.............................................................................................................40 
TABELA 5. Correlações entre desempenho cognitivo, desempenho físico e valores 
médios das variáveis psicofisiológicas (PSE e PA/PD).............................................41 
TABELA 6. Valores em mediana e intervalo interquartil das variáveis 
psicofisiológicas e %FC reserva mensurados a cada 2 quilômetros durante o teste 
contrarrelógio............................................................................................................42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
FIGURA 1. Delineamento do estudo..........................................................................30 
FIGURA 2. Estímulos congruentes e incongruentes de caráter Go (em barra 
vermelha) e NoGo (em barra azul).............................................................................33 
FIGURA 3. Desenho experimental do teste incremental...........................................36 
FIGURA 4. Desenho experimental do teste contrarrelógio........................................37 
FIGURA 5. Correlações entre o tempo de reação no teste cognitivo, tempo do 
contrarrelógio e potência pico....................................................................................41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTAS DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS 
 
CR – CONTRARRELÓGIO 
CI – CONTROLE INIBITÓRIO 
PSE - PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO 
PA/PD - PENSAMENTO ASSOCIATIVO OU DISSOCIATIVO 
PAR - Q - QUESTIONÁRIO DE PRONTIDÃO PARA ATIVIDADE FÍSIVA 
CR - CONTRARRELÓGIO 
WPICO - POTÊNCIA PICO 
FC - FREQUÊNCIA CARDÍACA 
KM - QUILÔMETROS 
FCRES - FREQUÊNCIA CARDÍACA RESERVA 
W – WATTS 
TCLE – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 
VAS – ESCALA VISUAL ANALÓGICA 
IMC - ÍNDICE DE MASSA CORPORAL 
BRUMS – ESCALA DE HUMOR DE BRUNEL 
TR – TEMPO DE REAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
RELAÇÃO ENTRE CONTROLE COGNITIVO INIBITÓRIO E DESEMPENHO NO 
CICLISMO EM TESTE CONTRARRELÓGIO DE 10 KM 
 
Autora: Raille Silva de Jesus 
Orientador: Eduardo Bodnariuc Fontes 
Co-orientador: Henrique Bortolotti 
 
Os fatores determinantes do desempenho físico são amplamente estudados em 
termos de capacidade periférica de produção de energia. Na última década, muitos 
estudos também sugerem o efeito de mecanismos cognitivos sobre a regulação do 
desempenho. Contudo, ainda permanecem em aberto na literatura questões sobre o 
papel da função cognitiva nas diferentes formas de desempenho atlético, em 
particular em simulação de prova. O objetivo deste estudo foi verificar a relação 
entre o controle cognitivo inibitório e o desempenho de ciclistas no teste 
contrarrelógio (CR) de 10km. Dezessete ciclistas recreacionais do sexo masculino 
(278,85 ± 48,9, potência pico; 30,35 ± 5,6, anos; 76,28 ± 8,6 kg; 1,76 ± 0,1 m; 22,60 
± 6,8 %gordura) participaram do estudo. Os participantes realizaram duas sessões. 
A primeira foi destinada à realização do controle cognitivo inibitório (CCI) (stroop 
task) e teste incremental máximo em cicloergômetro. Na segunda sessão, os 
voluntários realizaram o teste CR de 10 km. A percepção subjetiva de esforço, foco 
de atenção (pensamento associativo ou dissociativo) e frequência cardíaca foram 
reportados durante as sessões de exercícios. Coeficientes de correlação de Pearson 
foram adotados para analisar o grau de correlação entre o CCI, potência pico 
(WPICO) e tempo no CR. Nível de significância estatística adotada foi p < 0,05. Houve 
correlação significativa entre o tempo de reação (TR) no stroop task e desempenho 
no CR (r = 0,54; p = 0,02). A WPICO foi inversamente correlacionada (r = - 0,78; p = 
0,001) com o tempo no teste CR. Adicionalmente, houve correlação positiva (r = 
0,52) entre o tempo no CR e o valor médio do foco de atenção (p < 0,05). O nosso 
estudo demonstrou que O melhor controle cognitivo contribuiu para melhor 
desempenho no teste incremental e de contrarrelógio, além disso, que maior foco de 
atenção dissociativo ao exercício colaborou para melhor desempenho no teste 
contrarrelógio. 
 
 
Palavras-chave: cognição; performance; cérebro; time-trial; funções executivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
RELATIONSHIP BETWEEN COGNITIVE CONTROL INHIBITORY AND 
PERFORMANCE IN 10 KM CYCLING TRIAL 
 
Author: Raille Silva de Jesus 
Advisor: Eduardo Bodnariuc Fontes 
Co-advisor: Henrique Bortolotti 
 
 
 
The determinants of physical performance are widely studied in terms of peripheral 
energy production capacity. In the past decade, many studies have suggested the 
effect of cognitive mechanisms on performance regulation. However, questions about 
the role of cognitive function in different forms of athletic performance still remain 
open in the literature, particularly in testsimulation. The aim of this study was to 
verify the relationship between inhibitory cognitive control and cyclist’s performance 
in the 10km time trial test (TT). Seventeen male recreational cyclists (278.85 ± 48.9, 
peak power; 30.35 ± 5.6, years; 76.28 ± 8.6 kg; 1.76 ± 0.1 m; 22.60 ± 6.8% fat) 
participated in the study. Participants held two sessions. The first was intended to 
perform the cognitive inhibitory control (IC) (stroop task) and maximum incremental 
test on a cycle ergometer. In the second session, the volunteers performed the 10 
km TT test. The subjective perception exertion, attentional focus (associative or 
dissociative thinking) and heart rate were reported during exercise sessions. 
Pearson's correlation coefficients were adopted to analyze the degree of correlation 
between the IC, peak power (WPEAK) and time in the TT. Level of statistical 
significance adopted was p <0.05. There was a significant correlation between the 
reaction time (RT) in the stroop task and performance in the TT (r = 0.54; p = 0.02). 
WPEAK was inversely correlated (r = - 0.78; p = 0.001) with time in the TT test. 
Additionally, there was positive correlation (r = 0.52) between the time in the TT and 
the mean value of the attentional focus (p <0.05). Our study demonstrated that better 
IC contributed to improve performance in the incremental and time trial test, in 
addition, greater dissociative attentional focus to exercise contributed to better 
performance in the time trial test. 
 
 
Keywords: cognition; performance; brain; time-trial; executive functions. 
14 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 Os fatores determinantes do desempenho no exercício físico são amplamente 
explicados em termos de capacidade periférica de produção de energia (ALLEN e 
HOLM, 2008; JOYNER e COYLE, 2008). Contudo, ainda que bastante exploradas 
(BILLAUT et al., 2010; HILLMAN, Charles H. et al., 2008; PIRES et al., 2018), 
permanecem na literatura questões a respeito do quanto mecanismos cerebrais 
podem estar relacionados à manutenção ou melhora da performance em atividades 
extenuantes. 
 A habilidade de manter exercícios em alta intensidade e longa duração é 
limitada pela capacidade do indivíduo resistir à fadiga (ABBISS, CR e LAURSEN, 
2005). De acordo com Green (1997), esta pode ser caracterizada como as 
sensações de cansaço associadas ao decréscimo da função e performance 
muscular, ao passo que suas manifestações são observadas pela redução da 
força/potência e intensidade do exercício, assim como o aumento gradual da 
percepção subjetiva de esforço (PSE). Tradicionalmente, a fadiga foi associada 
apenas a alterações fisiológicas (concentração de lactato, ventilação pulmonar e 
frequência cardíaca, por exemplo) (ABBISS, CR e LAURSEN, 2005; ALLEN e 
HOLM, 2008; DELP e LAUGHLIN, 1998). Todavia, nas últimas décadas uma gama 
de estudos (ABBISS, CR e LAURSEN, 2005; GIBSON, Alan St Clair et al., 2006; 
LAMBERT et al., 2005; NOAKES, 2000) relatam que tanto o decréscimo quanto a 
variação de intensidade durante o exercício são reguladas pela complexa relação 
entre o cérebro e outros sistemas fisiológicos, nessa perspectiva, antes e durante o 
exercício, o cérebro realiza de maneira subconsciente o cálculo metabólico 
necessário para finalizar a tarefa, onde a PSE é um elemento mediador para 
regulação da taxa de trabalho (TUCKER e NOAKES, 2009). Mas, apesar dos 
avanços, essa área ainda carece de medidas comportamentais para verificar a 
relação entre cognição e performance. 
 Dentre os modelos para explanar a fadiga, a “teoria do governador central” 
(GIBSON, A. St. Clair e NOAKES, 2004; LAMBERT et al., 2005) ganhou bastante 
atenção ao definir a fadiga como uma consequência da interação de múltiplos 
sistemas fisiológicos periféricos agindo como sinalizadores aferentes para o cérebro 
15 
 
 
 
em uma maneira dinâmica de integração não linear. Nessa perspectiva, a 
intensidade do exercício é controlada por um sistema de feedback contínuo, no qual 
sinais eferentes controlam a via de sistemas somatossensoriais. Durante o exercício, 
a quebra da homeostase e alterações de sinais aferentes influenciam o 
processamento de sensações, as quais podem refletir e influenciar na percepção 
subjetiva de esforço (PSE) dos indivíduos sobre a tarefa realizada. 
 Diante disso, estudos já apresentam a associação positiva entre a fadiga 
cardiovascular, (PIRES et al., 2011), foco de atenção (pensamento associativo ou 
dissociativo) (LOHSE e SHERWOOD, 2011; STANLEY et al., 2007), aumento da 
atividade cerebral (FONTES et al., 2015) e taxas de PSE. Ao analisar o foco de 
atenção durante o exercício em cicloergômetreo, realizado a 75% do VO2, foi 
demonstrado que os indivíduos apresentaram maior PSE nas sessões de caráter 
associativo, ou seja, quando deveriam direcionar a atenção para respiração, FC e 
tempo de prova, por exemplo (STANLEY et al., 2007). Da mesma forma, a PSE tem 
se demonstrado responsiva a variações fisiológicas de ordem central. De fato, os 
achados de Fontes et al. (2015) indicaram o aumento da atividade neuronal no giro 
cingulado posterior precuneus durante o exercício (realizado em ciclo ergômetro 
compatível com a ressonância magnética) considerado “difícil” de acordo com a 
PSE, sendo que essas áreas cerebrais foram anteriormente associadas a funções 
cognitivas e consciência. Apesar dos achados relacionados às variáveis 
psicofisiológicas, maiores informações sobre a alteração destas variáveis e medidas 
comportamentais durante o exercício precisam ser verificadas. 
 Do ponto de vista neuroanatômico, tem sido sugerido que padrões de 
interpretação de sinais aferentes são realizados via córtex cingulado anterior, motor 
primário e regiões do córtex pré-frontal (CPF) (lateral e orbitofrontal) (ALVAREZ e 
EMORY, 2006; ROBERTSON e MARINO, 2016). Essas regiões do cérebro estão 
associadas a motivação, recompensa, planejamento/execução, além de funções 
cognitivas e emocionais que podem aumentar a tolerância ao exercício e, 
consequentemente, melhorar o desempenho. Fisiologicamente, a relação entre o 
CPF e medidas de desempenho no exercício, ocorre devido à queda da 
concentração de oxigênio nessa região em condição de exaustão (ROOKS et al., 
2010; THOMAS e STEPHANE, 2008). Este processo parece ser resultado da 
necessidade de redistribuição de sangue oxigenado para outras áreas cerebrais ou 
16 
 
 
 
para o músculo e regiões primordiais na geração de trabalho muscular 
(ROBERTSON e MARINO, 2016). Já em nível comportamental, o CPF é bem 
conhecido por exercer uma função top-down (nível elevado de processamento 
sensorial), na qual por meio das Funções Executivas é capaz de coordenar as ações 
em direção à realização de metas (DIAMOND, 2013; HILLMAN, Charles H. et al., 
2008; MARIE, 2009; MILLER, Earl K. e COHEN, 2001). Dessa forma, estudos que 
analisem respostas cerebrais no contexto do exercício podem ajudar a compreender 
a relação entre a cognição e o desempenho esportivo. 
 As Funções Executivas, também conhecidas como controle cognitivo 
(DIAMOND, 2013), referem-se aos processos mentais necessários para 
concentração e atenção diante de situações que motivem ações impulsivas. Entre os 
componentes das funções executivas (que incluem também memória de trabalho e 
flexibilidade cognitiva), o controle inibitório (CI) tem sido amplamente associado ao 
desempenho no esporte (CONA et al., 2015; MARTIN et al., 2016; PAGEAUX et al., 
2014). De acordo com Diamond (2013), o CI envolve a capacidade de controlar a 
atenção, comportamento, pensamentos e/ou emoções para anular uma forte 
predisposição interna ou externa a fim de fazer o que for mais apropriado ou 
necessário. 
 No contexto do exercício, estudos já mostram que indivíduos com maior 
aptidão cardiorrespiratória possuem melhor controle inibitório, contudo os principais 
achados se restringem a crianças e idosos (BUCK et al., 2008; CHUet al., 2016; 
ERICKSON et al., 2015; HILLMAN, C. H. et al., 2014; WEINSTEIN et al., 2012a). 
Nosso estudo propõe que, a nível comportamental, um CPF fortalecido irá resultar 
em melhor desempenho no teste de contrarrelógio, dessa forma, no esporte, a 
associação positiva entre o CI e desempenho parece plausível ao considerarmos 
que competições extenuantes requerem autorregulação e inibição de sensações 
aversivas (como sudorese, aumento da ventilação pulmonar e dor muscular) ou 
pensamentos negativos que podem impedir de alcançar um objetivo (MARTIN et al., 
2016; SCHMIT e BRISSWALTER, 2018). Assim, analisar o CI associado ao 
desempenho é fundamental para esclarecer o quanto o processo inibitório surge 
como um mecanismo à mais para a performance esportiva. 
17 
 
 
 
 De acordo com Tucker e Noakes (2009), a regulação do ritmo durante o 
exercício surge de uma motivação externa, caracterizada pelo ambiente, 
temperatura, competidores e outros, enquanto que a motivação interna diz respeito à 
consciência do atleta para autosselecionar o ritmo a partir da experiência prévia. 
Nesse contexto a PSE funciona como um mediador para regular a taxa de trabalho 
com o objetivo de otimizar o desempenho e também prevenir perturbação a qualquer 
sistema. Dentre os modelos de provas cíclicas, o teste de contrarrelógio (CR) parece 
exigir maior recrutamento do SNC, devido à sua característica de percorrer 
determinada distância no menor tempo possível (ABBISS, CR e LAURSEN, 2005; 
PATON e HOPKINS, 2001). Ao levar em consideração testes de carga imposta 
(teste incremental, por exemplo), o CR requer maior planejamento cognitivo devido a 
necessidade de tomar decisões, bem como, elaborar estratégias de ritmo pautadas 
na dosagem da intensidade do esforço afim de evitar uma fadiga precoce 
(FRANCO‐ALVARENGA et al., 2019; TUCKER e NOAKES, 2009), sobretudo em 
percursos de longa distância. 
 Para averiguar a influência da cognição sobre o desempenho de 
ultramaratonistas, Cona et al. (2015) classificaram 30 corredores em dois grupos 
(corredores mais rápidos e mais lentos) e analisaram o desempenho antes de 
realizar a prova. Os autores verificaram que os corredores com menor tempo na 
ultramaratona apresentaram melhor CI, mediante a maior quantidade de acerto no 
teste cognitivo. Na mesma perspectiva, Martin et al. (2016) realizaram um estudo 
com onze ciclistas profissionais e 9 cliclistas recreacionais para determinar se o 
primeiro grupo tinha melhor CI e capacidade de resistir a fadiga mental quando 
comparado ao segundo grupo. Os voluntários completaram um teste de CI 
modificado de 30 minutos e em seguida foram submetidos à prova CR. Os achados 
apontaram que os ciclistas profissionais tiveram melhor desempenho no teste 
cognitivo inibitório (menor tempo de reação aos estímulos e maior número de 
respostas corretas) quando comparado com ciclistas recreacionais. Dessa forma, o 
controle cognitivo inibitório parece ser superior em atletas de alto rendimento e um 
precursor para melhor performance em provas que representam a realidade 
competitiva de ciclistas. 
 Com o avanço tecnológico em acessar o cérebro, assim como, com as novas 
evidências científicas, fatores cognitivos parecem ter seu papel fortalecido na 
18 
 
 
 
regulação do desempenho esportivo. Entretanto, pouco se sabe sobre a possível 
relação entre o controle cognitivo inibitório, com demandas de variáveis 
psicofisiológicas (PSE e foco de atenção) e o desempenho esportivo, sobretudo em 
simulação de prova. Portanto, esse estudo tem como objetivo verificar a relação 
entre o controle cognitivo inibitório e o desempenho de ciclistas no teste 
contrarrelógio de 10 km. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
2. OBJETIVOS 
2.1 Objetivo geral: 
Verificar a relação entre o controle cognitivo inibitório, e o desempenho de 
ciclistas em teste contrarrelógio de 10 km. 
2.2 Objetivos específicos: 
i) Verificar a relação entre o desempenho no teste cognitivo inibitório, potência pico 
atingida no teste incremental e o tempo dos ciclistas no contrarrelógio. 
ii) Verificar a relação entre a percepção subjetiva de esforço e foco de atenção 
durante o teste contrarrelógio com o desempenho no teste cognitivo. 
iii) Verificar a relação entre percepção subjetiva de esforço e foco de atenção 
durante o teste contrarrelógio com o tempo dos ciclistas no contrarrelógio. 
iv) Comparar os valores de percepção subjetiva de esforço, foco de atenção e 
frequência cardíaca de reserva durante o teste contrarrelógio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
3. REVISÃO DE LITERATURA 
 
 No primeiro tópico da revisão de literatura é apresentado o conceito de fadiga, 
os diferentes modelos teóricos desenvolvidos historicamente para justificá-la e sua 
implicação para o desempenho esportivo. Dando continuidade, o segundo tópico é 
destinado à definição das funções executivas e de seus subcomponentes (controle 
inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva), a relevância do controle 
inibitório no contexto do exercício e sua possível relação com a performance. O 
último tópico, mas não menos importante, aborda características do ciclismo e da 
prova contrarrelógio como forma de compreender a relação entre o controle 
cognitivo inibitório e desempenho esportivo. 
 
3.1 FADIGA E DESEMPENHO 
 
 A fadiga consiste na perda ou redução da capacidade de produzir força para 
realizar o movimento e funciona como um sistema de segurança que ajuda a 
prevenir lesões durante exercício (ABBISS, CR e LAURSEN, 2005). Devido à 
complexidade de tal mecanismo, diversos modelos teóricos, de ordem central e 
periférica (quadro 1), explanaram a casualidade da fadiga e suas implicações no 
desempenho esportivo (AMANN, 2011; JUNIOR, 2013; NOAKES, 2000, 2012). 
 Os primeiros estudos sobre fadiga e leis relativas à exaustão foram 
conduzidos ainda no século 19 pelo fisiologista italiano Angelo Mosso, o que 
resultou na obra “La Fatica”, publicada em 1891 (DI GIULIO, C., 2011; GIULIO, C. D. 
et al., 2006). Mosso destacou-se pela criação do aparelho ergógrafo, para computar 
o nível de fadiga por meio de contrações concêntricas dos músculos flexores do 
dedo médio. Estudos usando traços de ergografia permitiram compreender que o 
nível de fadiga no indivíduo pode variar de acordo com mudanças na pressão 
atmosférica, hora do dia e estado nutricional, por exemplo. Apesar da dificuldade 
para mensurar a fadiga puramente central, foi possível especular que tal processo é 
resultado de fenômenos centrais e periféricos, ao relatar que “a fadiga no cérebro 
reduz a força nos músculos” (GIULIO, C. D. et al., 2006). 
21 
 
 
 
 Apesar da consistência dos achados supracitados, os estudos conduzidos por 
Hill AV et al. (1924), bem como Hill AV e LUPTON (1923), ganharam maior atenção 
na história da ciência do exercício e desencadearam uma gama de pesquisas 
voltadas a compreender a fadiga por meio de mecanismos de ordem periférica. Hill 
foi um fisiologista que contribuiu significativamente para a compreensão sobre fadiga 
ao advogar que tal processo estava relacionado a alterações bioquímicas no 
músculo durante o exercício. O autor levantou o paradigma da concentração de 
ácido lático no músculo como substrato capaz de influenciar na produção de força 
para realização do movimento. Adicionalmente, relatou que a oferta de oxigênio 
poderia ser um fator crucial para delimitar o acúmulo de lactado e 
consequentemente determinar o desempenho atlético. 
 De acordo com o modelo teórico cardiovascular/anaeróbico proposto por Hill 
et al. (1924), a fadiga se desenvolve durante o exercício de moderada a alta 
intensidade, quando o sistema cardiorrespiratório não consegue fornecer oxigênio 
suficiente para a contração dos músculos, induzindo ao metabolismo "anaeróbico" 
(HILL e LUPTON, 1923). Esse conceito clássico tem comoideia central que o melhor 
desempenho é determinado pela capacidade do coração bombear maior volume de 
sangue oxigenado para o músculo alcançar uma taxa significativa de trabalho antes 
que atinja o estado de anaerobiose muscular. Nessa perspectiva, o treinamento 
aparece como fator crucial para proporcionar adaptações fisiológicas para alterar o 
limiar de fadiga e garantir melhor desempenho durante exercícios em intensidade 
elevada (NOAKES, 2000, 2012). 
 A partir dessa premissa, é possível destacar outras teorias pautadas a nível 
periférico, como o modelo de esgotamento/oferta de energia, que associa a fadiga à 
falha na entrega de substratos (produção de adenosina trifosfato por diferentes vias 
metabólicas) ou depleção de glicogênio hepático/muscular (FITTS, 1994; NIELSEN 
et al., 2001), como também o modelo biomecânico (COYLE et al., 1991) que baseia-
se na ideia da economia muscular (diminuição de metabólitos associados a fadiga e 
atraso no aumento da temperatura corporal) colaborar para um movimento mais 
eficiente e com menos gasto energético. Ainda que bem fundamentados, esses 
modelos apontam certas limitações do ponto de vista fisiológico, pois desconsideram 
fatores motivacionais, características relacionadas à performance dos indivíduos, 
22 
 
 
 
entre outros, que fazem especular sobre a presença de um “governador”, seja 
central ou periférico (HILL e LUPTON, 1923). 
 Por outro lado, os modelos de recrutamento muscular (NOAKES, 2000) e 
psicológico/motivacional (BARWOOD et al., 2015) apontam a importância de 
mecanismos centrais, ainda assim com contrapontos. O primeiro advoga que o 
desempenho no exercício é de ordem inconsciente, determinado pela influência da 
concentração de neurotransmissores (serotonina, dopamina, acetilcolina) sobre a 
densidade dos impulsos neurais, enquanto o segundo caracteriza o desempenho 
esportivo como resultado do esforço consciente, inerente a fatores motivacionais 
(NOAKES, 2000). 
 A partir da visão reducionista sobre a temática, Lambert e colaboradores 
explanaram o modelo do Governador Central, que apresenta a fadiga como 
resultado da complexa integração de feedback aferente entre os sistemas 
fisiológicos periféricos e o cérebro (LAMBERT et al., 2005). Entretanto, esse modelo 
foi questionado (MARCORA, 2008) devido à sua complexidade e por englobar os 
diversos modelos fisiológicos de ordem subconsciente sem elevada atenção à 
fatores motivacionais. Diante disso, tem se discutido sobre a importância de levar em 
consideração parâmetros psicológicos e motivacionais com o objetivo de superar a 
“antecipação” ou cessação “abrupta” do exercício (MARCORA et al., 2017), como 
em um teste de potência máxima em que os sujeitos podem apresentar um melhor 
desempenho por causa do estímulo verbal para continuar o exercício (MARCORA, 
2009). 
 Hopstaken et al. (2015) submeteram 20 indivíduos a um prolongado teste (n-
back task) de alta demanda cognitiva e após seis blocos de 18 minutos informaram 
aos sujeitos que a partir daquele momento a duração do experimento dependeria do 
desempenho em relação à performance nos blocos anteriores (manipulação de 
recompensa), ainda que a duração poderia variar entre 5 e 40 minutos. Após 
receberem o estímulo de recompensa, o tempo de reação e desempenho na tarefa, 
foram revertidos para níveis mais altos apesar dos sinais anteriores de fadiga 
mental, sugerindo, que esse estado também pode ser amenizado pelo aumento da 
motivação. O estado psicobiológico de fadiga mental pode influenciar na 
performance em diversas tarefas e esse fenômeno é também causado por 
23 
 
 
 
prolongados períodos de demanda cognitiva que se manifesta de forma biológica e 
comportamental, desencadeando sensações de cansaço, falta de energia e 
decréscimo da motivação (PAGEAUX et al., 2015; PIRES et al., 2018; VAN 
CUTSEM et al., 2017). 
 A fadiga está intrinsicamente relacionada ao desempenho e abordar as 
diferentes perspectivas presentes na literatura permite compreender a complexidade 
associada à caracterização de fatores psicofisiológicos determinantes da 
performance atlética. Além disso, vale destacar a importância de conduzir estudos 
com o objetivo de sanar lacunas/distanciamento entre mecanismos centrais e 
periféricos, tanto no que diz respeito a mensuração de variáveis relacionadas ao 
desempenho físico quanto cerebral, incluindo atividade hemodinâmica/neural e 
análise comportamental por meio de testes cognitivos. 
 
Quadro 1. Diferentes modelos teóricos sobre fatiga. 
Teoria Autor (ano) Princípios 
Cardiovascular/anaeróbio Hill & Lupton (1923) 
O treinamento melhora a aptidão 
cardiorrespiratória por aumentar a 
capacidade do coração bombear e 
do músculo consumir sangue 
oxigenado para realização do 
movimento. 
Suplemento/ 
depleção de energia 
Haller & Vissing 
(2002) 
Green (1997) 
O desempenho é limitado pela 
capacidade de carrear substratos 
(oxigênio) cruciais para a atividade 
muscular. 
Fadiga Neuromuscular 
Avela; Kyröläinen; 
Komi (2001) 
Caracteriza-se pela redução da 
produção de energia e da força 
muscular, concomitantemente com 
o aumento da percepção subjetiva 
de esforço. 
Trauma Muscular 
Hamlin & Quigley 
(2001) 
O desempenho pode ser limitado 
pela redução da ativação central, 
causada por alterações em 
concentrações de 
neurotransmissores ou respostas 
sensoriais de feedbacks aferentes. 
Biomecânico 
Hausswirth; Bigard; 
Guezennec (1997) 
É pautada na ideia de que o 
movimento mais eficiente resultará 
em maior economia de energia que 
resultara em menor consumo de 
oxigênio, metabólitos intracelulares 
e termorregulação. 
Termorregulação 
Nybo & Nielsen, 
(2001) 
A elevação exacerbada da 
temperatura corporal pode 
24 
 
 
 
influenciar nas demandas de outros 
sistemas fisiológicos e causar fadiga 
Psicológico/motivacional Brehm (1989) 
Fatores motivacionais (estímulo 
verbal) pode ser determinante para 
manutenção do exercício em 
condições extremas, sobretudo 
próximas à exaustão 
Governador central 
Lambert; Gibson; 
Noakes (2005) 
A fadiga é determinada por padrões 
de feedbacks aferentes e eferentes 
no qual o sistema somatossensorial 
atua continuamente enviando 
informações periféricas para serem 
processadas a nível central com o 
objetivo de regular a intensidade do 
exercício. 
Fonte: elaborada pelo autor. 
 
 3.2 FUNÇÕES EXECUTIVAS 
 As funções executivas (FE), também conhecidas como funções superiores ou 
controle cognitivo, correspondem aos processos coordenados pelo córtex pré-
frontal, necessários em situações que requerem concentração, atenção e inibição de 
instintos com o objetivo de alcançar metas (DIAMOND, 2013; MARIE, 2009). Os 
componentes das funções executivas são: memória de trabalho, flexibilidade 
cognitiva e controle inibitório. Esses componentes atuam como uma unidade que, a 
nível comportamental, estão associados ao melhor desempenho acadêmico (BEST, 
et al., 2011; HILLMAN, Charles H. et al., 2008), social (RIGGS et al., 2006), físico 
(DIAMOND, 2012; KHAN e HILLMAN, 2014) e mental (SNYDER, 2013). 
 A memória de trabalho envolve a capacidade de reter informações relevantes 
para utilizá-las quando necessário. Dessa forma, esse componente se faz essencial 
para planejar, escrever, falar, desenvolver atividades do cotidiano, considerar 
alternativas em direção a pensamentos e ações, bem como reter informações na 
mente para manipulá-las quando necessário (DIAMOND, 2013). Já a flexibilidade 
cognitiva, consiste na habilidade de lidar com múltiplas atividades e capacidade de 
encontrar perspectivas diante de situações que requerem adequação, seja espacial, 
interpessoal ou de pensamentos. A atuação desse componente exige da memória 
de trabalho e do controle inibitório (CI), seja para reverberar ou inibir informações 
prévias com o intuito de se adaptar a diferentes contextos (DIAMOND, 2013). 
25 
 
 
 
 O CI está relacionadoà capacidade de controlar a atenção, comportamentos, 
pensamentos e emoção com o objetivo de realizar o que for primordial ou alcançar 
metas (ALVAREZ e EMORY, 2006; DIAMOND, 2013). Um baixo controle cognitivo 
inibitório reflete em atitudes impulsivas e falta de planejamento, ao passo que a 
melhora desse componente permite criação de hábitos mais saudáveis. O CI 
também desempenha um papel fundamental em conjunto com os demais 
componentes das FE, contribuindo para manutenção e seleção primária de 
informações relevantes pela memória. 
 Estudos prévios têm apresentado que as FE podem ser influenciadas pela 
idade, aptidão aeróbia, contexto social e prática de atividade física, por exemplo 
(LECKIE et al., 2014; WEINSTEIN et al., 2012b). É possível verificar a diferença 
entre grupos de acordo com a idade, pois o controle cognitivo se desenvolve da 
infância para adolescência e como consequência ocorre um declínio após a vida 
adulta (WEINSTEIN et al., 2012b). Além disso, a aptidão aeróbia exerce grande 
impacto na saúde e cognição de crianças, jovens e adultos, comprovado pelo fato de 
indivíduos com alta aptidão cardiorrespiratória apresentarem performance 
significativamente maior em testes relacionados às FE (BUCK et al., 2008; DUPUY 
et al., 2015; ERICKSON et al., 2015; HILLMAN, C. H. et al., 2014). 
 Nessa perspectiva, a prática de atividade física e a aptidão cardiorrespiratória 
parecem ser fortes aliados para melhorar significativamente o desempenho cognitivo 
(GUINEY et al., 2015; HILLMAN, Charles H. et al., 2008; LUDYGA et al., 2016). Tal 
processo pode ser explicado pelas alterações fisiológicas no córtex proporcionadas 
pelo exercício, que de maneira aguda resulta na elevação da hemodinâmica 
cerebral, maior oxigenação cortical e atividade de neurotransmissores sinápticos 
(BILLAUT et al., 2010; PIRES et al., 2016) ao passo que cronicamente, pode refletir 
em adaptações estruturais, como maior atividade de regiões cerebrais, 
neurogênese, plasticidade neural, angiogênese, crescimento endotelial e aumento 
da secreção do fator neurotrófico derivado do cérebro, que em suma é uma proteína 
relacionada a formação, manutenção, crescimento e diferenciação de neurônios 
(DISHMAN et al., 2006; FERRIS et al., 2007; PIEPMEIER e ETNIER, 2014). 
 Estudos já suportam o efeito agudo do exercício sobre a cognição de 
indivíduos de diferentes faixas etárias (ABBISS, Chris R. et al., 2015; BROWN e 
26 
 
 
 
BRAY, 2018; CHANG et al., 2012; WENG et al., 2015), contudo ainda é um campo a 
ser explorado com outras populações pois as pesquisas em sua maioria foram 
realizadas com idosos e crianças (CHU et al., 2016; DUPUY et al., 2015; HILLMAN, 
C. H. et al., 2014). Brown e Bray (2018) verificaram o efeito agudo de 20 minutos 
exercício em várias intensidades sobre as FE, nesse estudo, 107 indivíduos 
realizaram um teste cognitivo (stroop task) previamente e em um segundo momento 
foram randomizados em grupos para realizarem a sessão envolvendo: controle, 
intensidade leve, moderada, vigorosa e exercício intervalado de alta intensidade. O 
stroop task foi realizado ao terminar o exercício/controle (momento 0) e 10 minutos 
após a sessão. Exceto a condição controle, todas as intensidades influenciaram nas 
FE imediatamente após se exercitar, enquanto todos os grupos indicaram melhora 
significativa nos 10 minutos após o exercício. 
 No contexto esportivo, as FE podem estar positivamente associadas a 
concentração, foco de atenção, planejamento e capacidade de suportar as diversas 
alterações fisiológicas causadas pelo exercício, devido a interpretações de sinais 
aferentes coordenados por regiões do córtex pré-frontal (ROBERTSON e MARINO, 
2016). O córtex dorsolateral integra informações emocionais, motivacionais e 
psicológicas (percepção de esforço, sensação de prazer, experiência prévia e dentre 
outros) processadas pelo córtex orbitofrontal e cingulado anterior, que podem 
resultar na modificação do ritmo ou parada do exercício (GIBSON, Alan St Clair et 
al., 2013; ROBERTSON e MARINO, 2016). Adicionalmente, do ponto de vista 
comportamental parece haver uma elevada integração entre o controle cognitivo, 
regulação e performance em exercícios extenuantes, portanto, requer maior atenção 
quanto a tal temática diante do pouco corpo de literatura. 
 
 3.3 CONTROLE INIBITÓRIO E DESEMPENHO FÍSICO 
 O CI é um componente das Funções Executivas que está relacionado a 
capacidade de inibir estímulos distratares e direcionar pensamentos e ações a fim 
de alcançar objetivos (DIAMOND, 2013). Nesse contexto, o indivíduo também pode 
voluntariamente escolher ignorar estímulos pontuais com base para alcançar metas 
e esse comportamento pode ser caracterizado como foco de atenção ou inibição 
atencional (DIAMOND, 2013). Os testes psicológicos destinados a mensurar o CI 
27 
 
 
 
consistem na apresentação de estímulos (aos quais os sujeitos devem responder 
corretamente e o mais rápido possível) que podem causar interferência, resultando 
no atraso das respostas ou predisposição a erros (DALRYMPL.EC e BUDAYR, 
1966; STROOP, 1992) . 
 Por exemplo, o estudo clássico conduzido por Ridley Stroop (1992), o qual 
deu origem ao Stroop Task e uma gama de testes com caráter inibitório (MACLEOD, 
1991), representa de diversas formas o quanto o controle cognitivo pode atuar 
mapeando estímulos e respostas necessárias para realizar uma tarefa (MILLER, Earl 
K. e COHEN, 2001). Em três experimentos Stroop (1992) verificou que, quando uma 
palavra é apresentada em cor diferente do seu significado (exemplo, a palavra 
vermelho exibida em cor verde), ocorre um atraso no processamento relacionado a 
nomear a cor da palavra e maior quantidade de erros. Em suma, o efeito de tal 
interferência/inibição sobre o tempo de reação de uma tarefa foi nomeado como 
efeito Stroop (STROOP, 1992). 
 A habilidade inibitória é crucial não só para tarefas do cotidiano (inteligência 
verbal, performance acadêmica e outros), mas também, é um diferencial no 
desempenho de atletas, com o objetivo de superar as exigências pertinentes ao 
contexto de prova que requerem alta resposta de adaptação ao ambiente e 
capacidade de lidar com demandas psicofisiológicas, emocionais e motivacionais 
(CONA et al., 2015; KRENN et al., 2018; VESTBERG et al., 2017). Estudos recentes 
têm demonstrado maior desempenho do controle cognitivo inibitório em atletas que 
vivenciaram exercícios de alta intensidade, incluindo esgrimistas (CHAN et al., 
2011), jogadores de tênis (WANG et al., 2013), ultramaratonistas (CONA et al., 
2015) jogadores de futebol (VESTBERG et al., 2017), e badminton (LIAO et al., 
2017). Dessa forma, verificar a correlação entre o controle cognitivo inibitório e o 
desempenho em prova de contrarrelógio parece crucial para explanar a importância 
da cognição no contexto competitivo. 
 A possível correlação entre a performance esportiva e cognição é plausível 
visto que o exercício provoca alterações da homeostase. As diversas sensações 
experienciadas são processadas e ressignificadas em áreas cerebrais, levando em 
consideração o estado fisiológico e psicológico dos sujeitos, essa integração entre 
mecanismos periféricos e centrais podem refletir na percepção subjetiva de esforço 
28 
 
 
 
(PSE). De fato, o método da PSE já tem sido amplamente utilizado para monitorar e 
prescrever sessões de treinamento, por ser um parâmetro psicofisiológico capaz de 
predizer demandas metabólicas (ESTON et al., 1987; SCHERR et al., 2013), além 
disso, é importante para entender o estresse psicofisiológico induzido por diferentes 
tipos de exercício. 
 De acordo com Diamond (2013), o controle inibitório possibilita escolher ou 
ignorar voluntariamente determinado estímulo com o intuito de alcançar objetivos e 
esse processo, foi conhecido inicialmente como foco de atenção ou atenção seletiva, 
mas se trata de controle atencional ou inibiçãoatencional. O foco de atenção, foi 
explorado no contexto do exercício por Morgan e Pollock, (1977). Os pesquisadores 
categorizaram os esportistas em dois domínios (associativo ou dissociativo) para 
representar o quão focados os sujeitos estavam no exercício, encontrando por 
exemplo que corredores de alto rendimento apresentavam tendência associativa, ou 
seja, monitoravam informações sensoriais com o objetivo de ajustarem o ritmo, 
enquanto que corredores de menor rendimento apresentavam tendência 
dissociativa, pois focavam em estímulos distrativos para desviarem a atenção da 
sensação de fadiga vivenciada durante o exercício. 
 Os domínios supracitados podem estar associados com o desempenho no 
exercício, sendo que maior foco de atenção nas informações sensoriais parece estar 
ligado a performance em provas de alto rendimento (BRICK et al., 2018), mas talvez 
não seja um aspecto a extrapolar para sujeitos de diferentes experiencias no esporte 
(tanto amador como de alto rendimento). Por exemplo (BOYA et al., 2017) sugeriram 
que ciclistas especialistas se concentraram principalmente nos dados de velocidade 
para regular o desempenho durante um contrarrelógio de 16,1 km enquanto que 
ciclistas iniciantes se concentravam mais nas informações de distância. Os achados 
indicaram uma preferência por tomada de decisão relacionada ao desempenho entre 
os especialistas, enquanto os iniciantes poderiam estar mais preocupados com a 
conclusão da tarefa. 
 De fato, o controle cognitivo surge como um fator determinante quando se 
trata de performance, sendo necessário explorar sobre possíveis associações entre 
o controle cognitivo inibitório, foco de atenção e desempenho esportivo. A maioria 
dos estudos se restringem a desfecho de variáveis cognitivas através de 
29 
 
 
 
comparações entre grupos de atletas experientes e inexperientes, por exemplo, 
Cona et al. (2015) verificaram que corredores com melhor desempenho em uma 
ultramaratona apresentaram maior capacidade em inibir respostas motoras e 
suprimir informações irrelevantes. Adicionalmente, Martin et al. (2016) relataram que 
ciclistas experientes tiveram melhor desempenho durante o teste de Stroop, o que 
indicou melhor controle inibitório quando comparado com ciclistas recreacionais. 
 Em modalidade intermitente vale destacar o estudo realizado por Liao et al. 
(2017), no qual os jogadores de badminton de elite foram mais propensos a inibir 
respostas motoras durante o teste de controle inibitório (stop signal-task). Diante do 
que foi apresentado, a capacidade de inibir uma ação contínua parece elevada em 
indivíduos com experiencia competitiva, ao passo que indica ser um mecanismo 
crucial para melhor desempenho durante o exercício. Portanto, é necessário estudos 
adicionais para explorar tal temática, envolvendo não só o alto rendimento, mas 
também grupos de esportistas recreacionais visto que algumas modalidades cíclicas 
(ciclismo e corrida) têm ganhado bastante atenção nos últimos anos. 
30 
 
 
 
4. MATERIAIS E MÉTODOS 
 
4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 
 
 Este estudo é observacional de caráter transversal e faz parte de um projeto 
“guarda-chuva” que teve como objetivo investigar o efeito do incremento da 
intensidade do exercício sobre o controle inibitório, afeto, foco de atenção, sistema 
autonômico cardíaco, interocepção e oxigenação do córtex pré-frontal em atletas de 
alto rendimento. Para descrevê-lo, foi utilizada a lista de verificação STROBE. 
O estudo foi realizado em três sessões (Figura 1), sendo que as avaliações 
tiveram início após a aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte (UFRN) sob parecer nº 2.444.566. Os participantes foram 
recrutados por meio da divulgação da pesquisa em redes sociais (grupo de ciclistas 
no facebook, whatsapp e instagram) entre maio de 2018 e dezembro de 2018 e 
nesse mesmo momento foram convidados a acessar um link do “Formulários 
Google” para responder questões pertinentes aos critérios de elegibilidade. 
Os voluntários elegidos foram convidados para participar da primeira sessão 
no Laboratório de Pesquisa em Atividades Físicas, Cognição e Comportamento 
Humano, localizado no Departamento de Educação Física da UFRN. Nessa sessão, 
os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), 
realizaram a anamnese, avaliação de prontidão para atividade física (PAR-Q) 
(ANEXO I), assim como foram coletadas informações adicionais sobre a prática de 
ciclismo. Na mesma sessão, os sujeitos realizaram os testes cognitivo e incremental 
e como medidas de controle para assegurar que o primeiro não influenciaria no 
segundo, foram avaliados os estados de humor e fadiga mental dos sujeitos 
previamente a esses dois momentos. 
Houve um tempo de aproximadamente 30 minutos entre os testes cognitivo e 
incremental. Esse período foi destinado a avaliações 1) frequência cardíaca de 
repouso (~10 min); 2) pressão arterial (~5 min); 3) medidas antropométricas (peso e 
estatura) (~5min); 4) familiarização às escalas perceptuais (percepção subjetiva de 
esforço e pensamento associativo/dissociativo) (~10 min). Na segunda visita os 
voluntários realizaram o teste contrarrelógio de 10 quilômetros e por fim 
31 
 
 
 
comparecerem a uma terceira sessão para avaliação da composição corporal por 
meio da absortometria radiológica de dupla energia (DEXA). 
 O intervalo entre as avaliações foi de 48 e 72 h e os horários das visitas foram 
mantidas para todos os voluntários, que foram orientados a realizar refeição leve 2 h 
antes dos testes (de maneira livre), utilizar o mesmo kit de ciclismo (short, camiseta 
e tênis), e evitar exercício intenso e bebidas alcoólicas ou cafeinadas nas 24h 
prévias aos teste. 
 
 
Figura 1. Delineamento do estudo. Nota: TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; PAR-
Q - Questionário de Prontidão Para Atividade Física; PA/PD - Escala De Pensamento 
Associativo/Dissociativo; BRUMS - Escala de Humor de Brunel; VAS - Escala Visual Analógica; PSE 
– Percepção Subjetiva Esforço; DEXA - absortometria radiológica de dupla energia. 
 
4.2 TRIAGEM 
 
 A triagem foi realizada para assegurar os critérios de inclusão e exclusão do 
estudo. Dessa forma os voluntários foram esclarecidos sobre o objetivo do trabalho, 
posteriormente, preencheram a ficha de avaliação com informações adicionais sobre 
a prática de ciclismo (rotina de treino, especialidade, pratica competitiva e outros), o 
Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q) e anamnese para avaliar 
se havia alguma restrição para a prática do ciclismo e realização do teste cognitivo. 
 
4.3 AMOSTRA 
 
 A amostra foi composta por ciclistas recreacionais com idade entre 18 e 40 
anos, sem restrição de especialidade no ciclismo, experiência competitiva prévia e 
prática regular de atividade física envolvendo outra modalidade. Quarenta e três 
indivíduos responderam ao formulário on-line contudo 23 não foram elegidos pois 
32 
 
 
 
oito apresentaram idade superior a 40 anos, cinco por percorrerem menos que 50 
quilômetros por semana, duas por serem do sexo feminino e oito indivíduos 
relataram não ter disponibilidade para as avaliações. Além disso, durante a 
pesquisa, um participante foi excluído por ter respondido “sim” ao questionário de 
prontidão para atividade física (PAR-Q) e dois por não realizaram todas as sessões 
experimentais. 
 Os dezessete sujeitos (todos) analisados relataram nunca ter realizado um 
teste contrarrelógio, sete participaram de competição (regional/estadual) e dez dos 
sujeitos relataram conciliar outras atividades com o ciclismo (em sua maioria corrida 
e musculação). Todos os ciclistas relataram pedalar no mínimo 50 quilômetros ou 
entre 3-4 horas por semana, conforme as diretrizes de classificação em pesquisa 
esportiva (PAUW et al., 2013). 
Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido(TCLE), 
conforme a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, 17 ciclistas 
recreacionais do sexo masculino foram avaliados. A primeira sessão foi destinada à 
triagem que envolveu anamnese para caracterização dos sujeitos, informações 
adicionais sobre a prática de ciclismo e preenchimento do questionário de prontidão 
para atividade física (PAR-Q). Como critério de inclusão, os indivíduos deveriam: i) 
ter idade entre 18 e 40 anos; ii) rodar no mínimo 50 quilômetros por semana ou 
treinar entre 3-4 horas por semana iii) ausência de discromatopsia. Foram 
considerados critérios de exclusão: i) apresentar limitações articulares, neurológicas 
e/ou cardiorrespiratórias; ii) auto relato de contraindicação ao exercício físico de alta 
intensidade baseando-se em exames médicos dos últimos seis meses; iii) prováveis 
restrições e limitações à saúde no questionário de prontidão para atividade física 
(PAR-Q); iv) ou reportar estar realizando algum tratamento farmacológico. 
 
4.4 AVALIAÇÕES 
 
4.4.1 ESCALA DE HUMOR DE BRUNEL (BRUMS) 
 
A BRUMS foi desenvolvida para mensurar o estado de humor de populações 
compostas por adultos e adolescentes (PROVENZA et al., 2008). A escala contém 
33 
 
 
 
24 indicadores simples de humor, tais como as sensações de raiva, disposição, 
nervosismo e insatisfação que são perceptíveis pelo indivíduo que está sendo 
avaliado. A forma colocada na pergunta foi “Como você se sente agora?” e os 
avaliados respondiam como se sentiam em relação à tais sensações, de acordo com 
escala de 5 pontos para cada item (de 0 = nada a 4 = extremamente). Os 24 itens da 
escala compõem os seis domínios: raiva, confusão, depressão, fadiga, tensão e 
vigor (Anexo II). 
 
4.4.2 ESCALA ANALÓGICA VISUAL (VAS) 
 
A VAS é uma escala unidimensional com onze pontos, da esquerda para 
direita, sendo que o intervalo 0-2 representa “sem fadiga”, 2-4 “fadiga leve”, 4-6 
“fadiga moderada”, 6-8 “fadiga forte”, 8-10 “extremamente fadigado” (ANEXO III) 
(GUIMARÃES, 1998). Este instrumento foi utilizado para verificar a fadiga mental 
dos avaliados, que foram instruídos a apontar um número que a representasse no 
momento (HEWLETT et al., 2011). Este parâmetro foi utilizado na primeira sessão 
antes do teste cognitivo e antes de iniciar o teste incremental para analisar se o 
Stroop Task poderia gerar fadiga mental nos sujeitos e consequentemente interferir 
no desempenho do teste incremental. 
 
4.4.3 CONTROLE INIBITÓRIO 
 
 O controle inibitório foi mensurado por meio do Stroop Task computadorizado 
com característica Go/NoGo, implementado através do software E-prime v.1.2 
(Psychological Software Tools Inc.). Esse teste consiste em estímulos congruentes 
(sem interferência de cor sobre o significado da palavra, por exemplo: palavra azul 
exibida em cor azul) e incongruentes (com interferência de cor sobre o significado da 
palavra, por exemplo: palavra azul exibida em cor vermelha), sendo que os 
indivíduos deveriam associar a cor de um retângulo ao significado da palavra. Nos 
estímulos Go o indivíduo foi orientado a apertar a tecla “1” (quando a cor do 
retângulo estava associada ao significado da palavra, por exemplo: retângulo azul e 
palavra azul), enquanto nos estímulos NoGo, apenas não apertar (quando a cor do 
34 
 
 
 
retângulo não estava associada ao significado da palavra, exemplo: retângulo azul e 
palavra verde) até que o outro estímulo aparecesse no centro da tela. O teste tem 
um total de 165 estímulo subdivididos em três blocos com 55 tentativas, e dos cinco 
tipos de estímulo, 2 são Go e três são NoGo (Figura 2). Os estímulos (Go) 
congruentes e incongruentes correspondiam a 60 tentativas cada (totalizando 120 
tentativas) e os demais (NoGo) somavam 45. 
 O teste foi realizado em uma sala livre de barulho, com os voluntários 
sentados em uma cadeira próxima ao computador a uma distância visual média de 
50 cm em reação ao display. Inicialmente os mesmos foram orientados sobre o 
teste, e em seguida realizaram um experimento de familiarização que consistiu em 
um bloco com feedback de erro/acerto após cada tentativa. Após os indivíduos 
relatarem não haver dúvidas sobre a realização do teste, eles foram orientados a 
iniciar e responder o mais rápido possível a cada estímulo. A aplicação do teste se 
deu em torno de 13 minutos, e para análise foi computada a quantidade de acertos, 
erros e o tempo de reação (TR) das respostas. 
 Nesse teste o controle inibitório foi determinado pela acurácia (quantidade de 
acertos), tempo de reação para responder estímulo de caráter congruente (sem 
interferência), incongruente (com interferência) e o efeito stroop que consiste na 
subtração do tempo de reação de estímulos incongruentes pelo tempo de reação de 
estímulos congruentes. 
 
Figura 2. Estímulos congruentes e incongruentes de caráter Go (em 
barra vermelha) e NoGo (em barra azul). 
 
 
35 
 
 
 
4.4.4 FREQUÊNCIA CARDIACA 
 
 Para a avaliação da FC, utilizou-se um monitor de frequência cardíaca 
(RS800CX, Polar ®, Finlândia) acompanhado por uma faixa transmissora (Polar 
WearLink ® WIND), posicionada na superfície da epiderme no nível do apêndice 
xifoide, enquanto que os dados computados foram analisados no software Polar 
Precision Performance (versão 3.02.007). 
Para mensurar a FC de repouso o avaliado permaneceu deitado em decúbito 
dorsal durante dez minutos, foi instruído a não adormecer, não se comunicar e não 
se mexer. O valor mais baixo de FC foi assumido como frequência cardíaca de 
repouso. Além disso, valores de FC foram tomados durante o teste incremental (a 
cada dois minutos) e durante o teste contrarrelógio (a cada 2km), sendo que a FC 
pico foi determinada pelo maior valor verificado durante o teste incremental. 
 
4.4.5 PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO (PSE) 
 
 O método da PSE é amplamente empregado em estudos com o objetivo de 
avaliar as respostar psicofisiológicas durante o esforço, pois leva em consideração o 
quanto a carga externa empregada está sendo extenuante do ponto de vista 
perceptual dos sujeitos. Portanto, neste estudo a PSE (escalar de Borg 6-20) foi 
utilizada juntamente com a FC durante o teste incremental e contrarrelógio, como 
parâmetro indicativo da intensidade do exercício. A escalar de Borg 6-20 é 
constituída por 15 pontos e varia de 6 a 20, onde o 6 significa “sem esforço” e o 20 
significa “esforço máximo” (ANEXO IV). Durante o teste incremental, valores de PSE 
foram computados a cada dois, enquanto que no contrarrelógio os valores foram 
tomados a cada dois quilômetros. 
 Antes de empregá-la, os sujeitos foram familiarizados de acordo com as 
orientações propostas por Borg (1998) no capítulo sete cujo título é: “Administração 
da escala de Borg”. Os participantes foram orientados a indicar na escala de Borg 6-
20 (BORG, 1998) um número associado à ancoragem verbal que melhor 
representasse a intensidade do exercício para ele naquele momento, utilizando 
36 
 
 
 
como referência sensações corporais (aumento da ventilação pulmonar, FC, 
sudorese e fadiga muscular). 
 
4.4.6 ESCALA DE PENSAMENTOS ASSOCIATIVO E DISSOCIATIVO (PA/PD) 
 A escala de pensamentos associativos e dissociativos foi empregada durante 
as duas sessões de exercício para mensurar o percentual do foco de atenção. 
Durante o teste incremental os indivíduos indicaram a cada dois minutos o valor que 
representava o foco de atenção no momento, enquanto que no teste contrarrelógio a 
mensuração foi feita a cada dois quilômetros. Esta escala apresenta uma medida de 
11 pontos e analisa o percentual de presença de pensamentos associativos e 
dissociativos ao exercício físico, variando de 0% a 100% (ANEXO V), onde o foco 
extremo de pensamento associativo (100%) é atribuído aos pensamentos sobre as 
percepções corporais internas, como respiração, fadiga muscular, frequência 
cardíaca e temperatura. Por outro lado, o focodissociativo (0%) caracteriza-se como 
um processo executivo “bloqueador” das sensações físicas corporais percebidas 
(LIND et al., 2009). 
 
4.4.7 TESTE INCREMENTAL 
 
 Antes de iniciar o teste incremental, os sujeitos ficaram livres para ajustar a 
altura e distância do selim e guidão do ergômetro (Velotron™ - RacerMate®, Seattle, 
WA, USA. Calibrado previamente) e em seguida foram questionados se restava 
alguma dúvida sobre as escalas perceptuais. O aquecimento envolveu dois minutos 
de exercício a 100 watts (W). Posteriormente, o teste incremental foi iniciado ainda a 
100 W com o incremento de 30 W a cada dois minutos até a exaustão voluntária ou 
a incapacidade do indivíduo manter mais que 60 rotações por minuto (RPM) por 5 
segundos. Nos 20 segundos finais de cada estágio e no momento de exaustão, 
foram computadas medidas de FC, percepção subjetiva de esforço (BORG, 1998) e 
o foco de atenção por meio da escala de pensamento associativo ou dissociativo 
(Figura 2). 
37 
 
 
 
 A partir do teste incremental máximo foi possível determinar a potência pico 
(WPICO), FC e PSE pico dos sujeitos observadas no ponto de exaustão. A WPICO foi 
classificada como a maior potência que os voluntários puderam manter durante um 
estágio completo de 2 minutos, sendo que quando a última potência não foi mantida 
completamente durante os 2 minutos, a WPICO foi estimada por meio da seguinte 
fórmula (PADILLA et al., 2000): WPICO = Wf + [(t/240) x 30x2], sendo que Wf 
representa o valor do último estágio completo (W), t o tempo mantido no último 
estágio, 30 é a potência de incremento e 2 corresponde a duração de cada estágio . 
 
 Figura 3. Desenho experimental do teste incremental. 
 
4.4.8 CONTRARRELÓGIO 
 
 Inicialmente os sujeitos ajustaram a altura e distância do selim e guidão do 
ergômetro, que foram semelhantes às padronizadas antes do teste incremental, 
além disso, ficaram livres para escolher a melhor estratégia para realizar os 10 km 
no menor tempo possível. O aquecimento envolveu cinco minutos em cadência livre, 
em seguida iniciou a prova. Durante todo o teste os voluntários puderam manipular a 
marcha e visualizar o monitor que apresentava a distância percorrida e a simulação 
(animação) de um ciclista em condição de prova. As respostas de PSE, FC e PA/PD 
ao exercício foram mensurados a cada dois quilômetros até o término do 
contrarrelógio (Figura 3). 
 
38 
 
 
 
 
Figura 4. Desenho experimental do teste contrarrelógio. 
 
 
4.4.9 DENSITOMETRIA POR DUPLA EMISSÃO DE RAIOS-X (DEXA) 
 
 A avaliação da composição corporal foi realizada pela Densitometria por 
Dupla Emissão de Raios-X (DEXA) (GE – Healthcare Lunar Prodigy Advance, 
Estados Unidos). O controle de qualidade do instrumento foi realizado regularmente, 
por meio do Phantom de coluna e o procedimento diário da garantia de qualidade no 
scanner foi verificado antes de iniciar cada teste. O tipo de medição utilizada foi o 
escaneamento do corpo inteiro. Para tal procedimento os sujeitos foram orientados a 
usarem roupas leves, livres de qualquer objeto de metal. Antes de iniciar a 
varredura, o voluntário foi posicionado na mesa de scanner com o corpo 
centralizado, tendo como referência a linha central presente no equipamento. Assim, 
foi orientado a permanecer em decúbito dorsal, com os braços ao lado do corpo, as 
mãos abertas e a palma apoiada na mesa de exame. Os braços deveriam estar 
dentro das linhas da área de varredura, na almofada da mesa, além disso, uma fita 
de velcro foi utilizada para prender os tornozelos. A temperatura da sala foi mantida 
a 22ºC. Todas as medições foram realizadas e analisadas somente por um 
avaliador, que seguiu os procedimentos adotados pelo fabricante. 
 
4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA 
 
 A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. 
Estatística descritiva foi adotada para apresentar valores médios e desvio padrão 
das variáveis paramétricas, e mediana e intervalo interquartílico para variáveis não 
39 
 
 
 
paramétricas. O coeficiente de correlação (Pearson para variáveis cognitivas 
envolvendo o tempo de reação e Spearman para a acurácia) foi adotado para 
analisar o grau de associação entre o CI e desempenho nos testes incremental 
máximo e de contrarrelógio, bem como, correlações entre ambos os esforços, CCI e 
valores médios das variáveis psicofisiológicas (PSE e foco de atenção ou 
pensamento associativo/dissociativo). O teste de Friedman com correção de 
Bonferroni foi executado para comparar valores de PSE, foco de atenção e %FC 
reserva computados em diferentes momentos do teste contrarrelógio (2, 4, 6, 8 e 10 
km). 
 Para controle, medidas não paramétricas de fadiga e humor auto reportadas 
antes e após o teste cognitivo (VAS e BRUMS), foram comparadas pelo teste de 
Wilcoxon. Em todos os casos o nível de significância estabelecido foi de p < 0,05 e 
classificação de Hopkins foi adotada a para magnitude da correlação (HOPKINS, 
2000). As análises foram realizadas no programa estatístico SPSS versão 22.0 para 
Windows (IBM, Inc., Chicago, EUA). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
 
5. RESULTADOS 
 
 As características antropométricas e da amostra são apresentados na tabela 
1 e os parâmetros avaliados no teste incremental máximo estão expressos na tabela 
2. 
Tabela 1. Caracterização da amostra (N = 17) 
bpm: batimentos por minuto; m: metros; DP: desvio padrão. 
 
Tabela 2. Parâmetros avaliados no teste incremental máximo. 
Variáveis Média ± DP 
Distância (km) 4,6 ± 1,4 
Duração (minutos) 14,5 ± 3,1 
Potência pico (Watts) 278,8 ± 48,9 
Percepção subjetiva de esforço pico (6-20) 17,6 ± 2,1 
Frequência cardíaca pico (bpm) 189,0 ± 8,8 
DP: desvio padrão; bpm: batimentos por minuto. 
Em relação às medidas de controle, fadiga mental e humor, auto reportadas 
pela VAS e BRUMS, não houve efeito significativo (p > 0,05) do momento sobre a 
fadiga mental e sobre os diferentes domínios do humor. 
 A tabela 3 apresenta os dados descritivos do desempenho no teste cognitivo. 
Houve correlação negativa (r = - 0,78; p = 0,001) entre a WPICO e o tempo no teste 
contrarrelógio. Dentre as variáveis analisadas no teste cognitivo, foi possível verificar 
correlação positiva significativa (p < 0,05) entre o tempo de reação, tempo de reação 
N = 17 Média ± DP 
Idade (anos) 30,3 ± 5,6 
Estatura (m) 1,7 ± 0,1 
Massa corporal (kg) 76,3 ± 8,6 
Índice de massa corporal (kg.m-²) 24,7 ± 2,5 
%Gordura 22,6 ± 6,8 
Pressão arterial sistólica 124,6 ± 11,2 
Pressão arterial diastólica 70,8 ± 8,9 
Frequência cardíaca de repouso (bpm) 51,5± 7,6 
Frequência de treino (dias por semana) 3,7 ± 1,6 
Tempo prática (anos) 5,9 ± 4,3 
Volume de treino (Km por semana) 119,4 ± 61,2 
41 
 
 
 
incongruente e o tempo no contrarrelógio (Figura 5A e 5C respectivamente), bem 
como correlação entre acertos GO e o tempo no contrarrelógio (r = - 0,55; p = 0,02). 
Além disso, ambas as variáveis supracitadas, envolvendo o tempo de reação, foram 
inversamente correlacionadas à WPICO no teste incremental (Figuras 5B e 5D 
respectivamente). 
 
Tabela 3. Desempenho no teste de controle cognitivo inibitório 
Variáveis Média ± DP 
Tempo de reação (ms) 709,4 ± 72,5 
Tempo de reação congruente (ms) 656,3 ± 72,1 
Tempo de reação incongruente (ms) 762,7 ± 79,5 
Efeito stroop (ms) 106,4 ± 44,9 
Acertos Go (%) 119,2 ± 2,0 
Acertos NoGo (%) 43,4 ± 1,8 
Porcentagem de acertos (%) 98,56 ± 2,0 
Ms: milissegundos; DP: desvio padrão. 
 
 Os parâmetros psicofisiológicos e indicadores de desempenho no teste 
contrarrelógio estão expressos na tabela 4. Houve correlação significativa (p < 0,05) 
entre o valor médio do foco de atenção e a WPICO (r = -0,57), como também entre o 
foco de atenção e o tempo no CR (r = 0,52) (Tabela 5). Além disso, houve 
correlação significativa (p < 0,05) entre o tempo de reação, tempo de reaçãocongruente, tempo de reação incongruente e valor médio de foco de atenção 
computado no teste contrarrelógio (Tabela 5). 
Tabela 4. Parâmetros psicofisiológicos e indicadores de desempenho no teste contrarrelógio. 
N = 17 Média ± DP 
Percepção subjetiva de esforço 13,90 ± 1,6 
Foco de atenção 82,25 ± 12,4 
% FC reserva 86,51 ± 10,38 
Potência média (W) 182,29 ± 47,1 
Duração (minutos) 19,78 ± 2,5 
FC: frequência cardíaca; DP: desvio padrão. 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5. Correlações entre o tempo de reação no teste cognitivo, tempo do contrarrelógio e 
potência pico. 
 
 
Tabela 5. Correlações entre desempenho cognitivo, desempenho físico e valores médios 
das variáveis psicofisiológicas (PSE e PA/PD). 
 Variáveis PSE média PA/PD 
Desempenho cognitivo 
 
 
 
 
 
TR 0,30 0,59* 
TR congruente 0,41 0,49* 
TR incongruente 0,23 0,61* 
Efeito stroop -0,59 0,14 
Acertos Go -0,30 -0,03 
Acertos NoGo -0,28 0,33 
Desempenho Físico Potência pico 0,10 -0,57* 
Contrarrelógio -0,04 0,52* 
(p < 0,05). TR: tempo de reação; PSE: percepção subjetiva de esforço; PA/PD: pensamento 
associativo ou dissociativo. 
r = 0,54 
p = 0,02 
43 
 
 
 
A tabela 6 apresenta mediana e intervalo interquartil das variáveis 
psicofisiológicas e porcentagem de FC reserva durante o contrarrelógio. Os valores 
de PSE e %FC reserva foram significativamente diferentes (x² [4] = 58,277, p < 0,01; 
x² [4] = 42,246, p < 0,01, respectivamente) nos diferentes momentos durante o 
contrarrelógio. Por outro lado, não houve efeito significativo (x² [4] = 8,207, p > 0,05) 
do momento sobre o foco de atenção. Análise post hoc apresentou valores PSE 
significativamente (p < 0,05) maiores nos 6, 8 e 10 km em relação aos 2km, bem 
como (p < 0,01) nos 10 km quanto comparado ao 4 e 6km. Já a FC reserva, 
apresentou valores significativamente (p < 0,05) maiores no décimo e oitavo km em 
relação ao 2º e 4º, como também diferença significativa nos 10km em relação ao 6º 
km. 
Tabela 6. Valores em mediana e intervalo interquartil das variáveis psicofisiológicas e %FC 
reserva mensurados a cada 2 quilômetros durante o teste contrarrelógio. 
 2km 4km 6km 8km 10km 
PSE 11 (3) 13 (2) 13 (4) * 15 (3) * 19 (2) * # ¥ 
Foco de 
atenção 
80 (30) 80 (33) 90 (23) 90 (23) 100 (30) 
%FC reserva 81,7 (14) 87,4 (7) 87,8 (8) 90,8 (7) * # 98,6 (11) * # ¥ 
PSE = percepção subjetiva de esforço; Foco de atenção = pensamento associativo ou 
dissociativo (PA/PD); %FC reserva = porcentagem de frequência cardíaca de reserva. * 
diferença em relação ao 2km; # e ¥ diferença significativa em relação ao 4 e 6 km, 
respectivamente p < 0,05. 
 
5.1 PODER AMOSTRAL 
 O cálculo foi realizado para verificar o poder estatístico do estudo a posteriori 
(post hoc power analyses), por meio do programa G-power, versão 3.1. Tivemos 
como objetivo verificar a relação entre o controle cognitivo inibitório e o desempenho 
no teste contrarrelógio, dessa forma, assumimos o effect size (r = 0,544) a um nível 
de significância de p < 0,05, no qual foi possível verificar um poder estatístico de 1-β 
= 0,817. 
 
 
 
 
44 
 
 
 
6. DISCUSSÃO 
 
 O objetivo primário desse estudo foi analisar as correlações entre o controle 
cognitivo inibitório (avaliado por meio do teste de stroop) e o desempenho em teste 
contrarrelógio de 10 quilômetros em ciclistas recreacionais. Os resultados 
demonstraram que o melhor controle inibitório (expresso pelo menor tempo de 
reação no teste cognitivo e maior acurácia), está correlacionado com o desempenho 
no contrarrelógio. Além disso, a correlação entre o tempo de reação e potência pico 
no teste incremental nos permite inferir que há associação entre cognição e 
manutenção do exercício em alta intensidade. 
 Os achados deste estudo demonstraram que os indivíduos com o menor 
tempo de reação (milissegundos) e maior acurácia (representada pela quantidade de 
acertos Go) no Stroop Task, obtiveram menor tempo de prova no contrarrelógio. 
Importante destacar que uma maior correlação foi evidente entre o TR dos estímulos 
incongruentes (onde há interferência da cor) e o desempenho dos ciclistas. O 
controle CI fortalecido parece um precursor essencial para obter sucesso no esporte. 
De fato, Martin et al. (2016) verificaram que os ciclistas profissionais (N = 11) 
mostraram decréscimo no tempo de reação no teste de stroop de caráter 
incongruente e completaram mais respostas corretas quando comparado com 
ciclistas recreacionais (N = 9), especulando que o CI é um diferencial para organizar 
estratégias, planejar tarefas e consequentemente influenciar o desempenho de 
prova. 
 Nessa perspectiva, estudos já tem mostrado a importância de alto nível de 
aptidão física e funções executivas fortalecidas para ter melhor desempenho tanto 
em modalidades coletivas (LIAO et al., 2017; NAKAMOTO e MORI, 2008; 
VESTBERG et al., 2017) quanto individuais (CHAN et al., 2011; CONA et al., 2015; 
MARTIN et al., 2016). A correlação negativa entre a porcentagem de acertos Go e 
desempenho no teste contrarrelógio verificada no nosso estudo se assemelha aos 
achados do Cona et al. (2015), que mostraram maior acurácia média para 
corredores mais rápidos. Contudo a diferença de desempenho cognitivo entre os 
grupos verificado pelo Cona et al. (2015) se restringe aos estímulos NoGo e isso 
pode ter ocorrido devido às características do teste utilizado, que envolve 
apresentação de letras como estímulos e diferente quantidade de tentativas 
45 
 
 
 
Go/NoGo, apresentando um total de 567 letras distrativas quando somado os três 
blocos. Vale ressaltar que tal relevância a nível comportamental pode resultar de 
adaptações fisiológicas ao exercício que englobam também fatores centrais, como 
neuroplasticidade, angiogênese e neurogênese, por exemplo, que reverberam na 
performance durante o exercício (GAGE et al., 1999; MEREGE FILHO et al., 2014). 
No ciclismo, modalidade explorada nesse trabalho, a máxima potência pode 
ser limitada pela capacidade do sistema cardiorrespiratório suprir oxigênio para o 
trabalho muscular, ao passo que em exercício submáximo o desempenho pode ser 
limitado também por alterações neurológicas, devido à dificuldade de controlar 
sensações interoceptivas (FC, pressão arterial e temperatura corporal, por exemplo) 
(ABBISS, CR e LAURSEN, 2005). De fato, Pires e colaboradores (PIRES et al., 
2016) analisaram nove ciclistas treinados (VO2MÁX 57.5 ± 6.2 ml·kg-1·min-1) durante 
um teste contrarrelógio de 4 km e verificaram o decréscimo da oxigenação no córtex 
pré-frontal nos últimos estágios do exercício, sugerindo que esse fenômeno pode ser 
resultado da integração com os sistemas musculoesquelético e cardiorrespiratório a 
fim de permitir maior redistribuição de oxigênio a nível periférico para a atividades 
muscular. 
 Da Silva et al. (2017), submetendo 37 adultos jovens a duas condições 
experimentais, controle e exercício. Na condição exercício os sujeitos realizaram um 
teste incremental máximo em cicloergômetro e tiveram o controle inibitório 
computado ao final de cada estágio de dois minutos. Os resultados demostraram 
que em intensidade abaixo e próximas do limiar ventilatório houve preservação do 
controle inibitório, enquanto que intensidade acima do limiar resultou no seu declínio. 
Além disso, houve diferença significativa da média de erros entre a sessão controle 
(n = 03, ± 0,6) e exercício (1,7 ±1,2). De fato, se exercitar exige ajustes fisiológicos 
para funcionamento regular do organismo, sendo que em casos de esforço acima do 
limiar ventilatório, o controle cognitivo parece ser um diferencial para o indivíduo lidar 
com a sensação de fadiga. Da mesma forma, nesse contexto o teste contrarrelógio é 
o que mais se aproxima de situações experienciadas pelos atletas de ciclismo em 
condição de prova, pois os sujeitos tem o desafio de terminar o trajeto no menor

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