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SÍNDROMES FEBRIS VIRAIS (ARBOVIROSES) Caso 03 Sessão Tutorial Resumo Neste guia abrangente, exploramos as síndromes febris virais, com foco nas arboviroses, como dengue, febre de chikungunya e zika vírus, que representam desafios significativos para a saúde pública no Brasil. Aprofundamos nosso entendimento das diferentes etiologias e características clínicas dessas doenças, fornecendo informações valiosas sobre a epidemiologia, apresentação clínica, classificação de risco e diagnóstico. Com base em referências bibliográficas de renomados livros e palestras online, discutimos tópicos cruciais, como a prova do laço e sua interpretação, medicações e contraindicações na suspeita de dengue e a fisiopatologia da dor abdominal como sinal de alerta na dengue. Este material é essencial para estudantes, médicos e profissionais de saúde interessados em aprimorar seus conhecimentos e habilidades clínicas no manejo da dengue e outras arboviroses. Através deste guia, você obterá uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas no diagnóstico, tratamento e prevenção dessas doenças, permitindo-lhe abordar casos clínicos com maior confiança e eficácia. Então, prepare-se para uma jornada educacional cativante através do fascinante mundo das síndromes febris virais e arboviroses! 1 1 SUMÁRIO Capitulo 1: Introdução 1.1. Síndrome febris virais (arboviroses) 1.2. Objetivos do estudo Capitulo 2: Arboviroses do Brasil 2.1. Principais etiologias 2.2. Diferenças clínicas entre as arboviroses Capitulo 3: Dengue 3.1. Epidemiologia 3.2. Apresentação clínica 3.3. Classificação de risco 3.4. Alterações em exames complementares 3.5. Diagnóstico 3.6. Manejo do paciente conforme classificação de risco Capitulo 4: Prova do Laço 4.1. Definição 4.2. Como realizar 4.3. Interpretação dos resultados Capitulo 5: Medicações e Dengue 5.1. Medicações não contraindicadas 5.2. Motivos das contraindicações Capitulo 6: Dor abdominal na Dengue 6.1. Fisiopatologia 6.2. Importância como sinal de alerta Capitulo 7: Referências bibliográficas 7.1. Livros, artigos e vídeos recomendados Capitulo 8: Perguntas e respostas CASO 03 Identificação: J.S.F., sexo feminino, 34 anos, estudante, natural e procedente de Salvador-BA Queixa Principal: “febre alta há 3 dias” História da Moléstia Atual: Paciente em consulta, informa que vinha bem, quando há 3 dias iniciou com episódios de febre alta, de 39oC, de início súbito, que cedem parcialmente a antitérmicos (a temperatura reduz para em torno de 37oC e antes do horário da próxima dose já está em níveis elevados novamente, obrigando-a a administrar um outro tipo de medicamento). Está fazendo uso de paracetamol e AAS (Ácido Acetil Salicílico), pois sua mãe tem alergia a dipirona e ela prefere evitar usar essa medicação. A febre por vezes é acompanhada de calafrios e associada a cefaleia holocraniana. Refere também mialgia, além de dor nas articulações e retro orbitário, que piora com a movimentação do globo ocular para os lados. Queixou-se também de dor torácica não ventilatório dependente, dor abdominal difusa, náuseas e vômitos pós- alimentares. Aceitando muito pouca alimentação. Ontem notou aparecimento de rush em tronco e membros, levemente pruriginoso. Nega familiares com sintomas semelhantes. Chegou de viagem há 1 semana, relata que passou o Carnaval na Chapada. Interrogatório Sistemático: Nega outros sintomas além dos já referidos na HMA. História Patológica Pregressa: Nega doenças crônicas, cirurgias, internamentos, transfusões, alergias. Cartão vacinal completo. Antecedentes Fisiológicos: Desenvolvimento neuropsicomotor adequado. Menarca aos 10 anos, fluxo menstrual regular, G1P1A0. Antecedentes Familiar: pai hipertenso, mãe asmática. Avós diabéticas. Avô paterno tem Alzheimer. Antecedentes Social: Nega tabagismo ou etilismo. Mora com os pais em casa própria, com rede elétrica, água encanada e filtrada, com rede de esgoto. Geral: Regular estado geral, descorada 1+/IV, hidratada, afebril, anictérica, acianótica, normotensa, eupneica. Dados Antropométricos: Altura 1,65m; Peso 64Kg; IMC 23,53. Sinais Vitais: Pressão Arterial (PA): 120x80mmHg; Pulso Radial: 108bpm; Frequência Respiratória (FR) 24ipm; Temperatura Axilar (Tax) 36,5oC; Glicemia Capilar: 95mg/dl; Oximetria de Pulso: 97% em ar ambiente. Prova do laço negativo. Pele: com turgor e elasticidade normais, discretamente ressecada, mucosas descoradas 1+/IV, presença de linfonodos cervicais palpáveis bilateralmente, pequenos, móveis, dolorosos, levemente fibroelastico. Não palpado outros linfonodos; sem alterações dos pelos. Cabeça: forma normal, sem lesões aparentes. Olhos, ouvidos, nariz e boca sem anormalidades, dentes em perfeito estado de conservação. Orofaringe sem hiperemia em úvula e palato, sem presença de petéquias, sem hipertrofia de amígdalas. Pescoço: nuca livre, traqueia na linha média, tireóide de tamanho e consistência normais, superfície lisa, ausência de turgência de jugular patológica (TJP) em decúbito de 45°, realizada a inspeção das carotídeas sem sinais de estase, palpação das carótidas com contorno do pulso suave, e amplitude do pulso normal, ausculta das carótidas bilateral nos 3 níveis com ruídos habituais, sem sopro. 1 1 Aparelho Respiratório: Tórax e pulmões: simétrico, sem esforço respiratório (tiragens ou uso de musculatura acessória). Expansibilidade preservada bilateralmente. Frêmito tóraco vocal (FTV) uniformemente palpável bilateralmente. Som claro atimpânico à percussão. Murmúrio vesicular bem distribuído, sem ruídos adventícios (MVBD s/ RA). Aparelho Cardiovascular: Precórdio normodinâmico. Ausência de atritos. Ictus invisível, palpável em 5º Espaço Intercostal (EIC) no nível da Linha Hemiclavicular Esquerda (LHCE) medindo cerca de 2 polpas digitais, não propulsivo Ritmo Cardíaco Regular em 2 tempos com bulhas normofonéticas (RCR 2T c/ BNF). Ausência de sopros ou extrassístoles. Pulsos arteriais periféricos simétricos, sincrônicos e com boa amplitude. Abdome: Semi-globoso, sem lesões de pele, cicatrizes, circulação colateral ou herniações. Peristalse normal presente em todos os quadrantes e ausência de sopros em focos arteriais abdominais. Hepatimetria medindo cerca de 11cm (lobo direito). Fígado a 1 cm do Rebordo Costal Direito (RCD) borda fina. Espaço de Traube livre. Sem visceromegalias. Abdome doloroso difusamente palpação profunda. Ausência de massas. Gênito-urinário e região perineal: Genitália feminina, com presença de pelos do tipo adulto, cobrindo mais densamente a região púbica, mas sem atingir face interna das coxas (formando um triangulo); sem hiperemia, presença de orifício uretral e hímen integro. Região perianal sem hiperemia, sem presença de fistulas, fissuras ou prolapso. Membros: Ausência de edema, lesões de pele, sinais de insuficiência venosa ou arterial. Panturrilhas livres. Pulsos periféricos palpáveis simétricos e amplos. Prova do Laço negativa. Aparelho osteoarticular: ausência de deformidades articulares ou sinais inflamatórios. Articulações com boa amplitude de movimentos, mas com referência de dor a mobilização, sem restrição de movimento ou crepitação. Coluna vertebral com curvaturas fisiológicas, ausência de dor à palpação das apófises espinhosas, mobilidade normal. Sistema nervoso: Prostrada, lucida e orientada em tempo e espaço. Sem déficit motor aparente. Nuca livre, sem sinais de irritação meníngea. Pupilas isocóricas e foto reagentes com reflexo foto motor e consensual preservados. Força muscular grau V em membros superiores e inferiores; Reflexos superficiais profundos presentes simétricos e sem anormalidades. Sensibilidades presentes. Pares cranianos sem alterações. Glasgow 15. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 2 Capitulo 1: Introdução 1.1. Síndrome febris virais (arboviroses) As arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes,como mosquitos e carrapatos. Essas doenças apresentam grande importância na saúde pública, devido à sua crescente incidência e à gravidade potencial de algumas delas. No Brasil, as arboviroses mais relevantes são a dengue, zika, chikungunya e febre amarela, todas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. As síndromes febris virais causadas por arboviroses são caracterizadas por um conjunto de sinais e sintomas clínicos comuns, como febre, mialgia, artralgia, cefaleia, exantema e linfadenopatia. A apresentação clínica das arboviroses pode variar desde casos assintomáticos ou oligossintomáticos até formas graves e potencialmente fatais, como a dengue grave, que pode cursar com choque e hemorragias. O diagnóstico das arboviroses é baseado na avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial do paciente. É essencial identificar a etiologia específica da infecção, uma vez que o tratamento e o prognóstico podem variar de acordo com o agente viral envolvido. A prevenção e o controle das arboviroses dependem de ações integradas de vigilância epidemiológica, controle de vetores, diagnóstico precoce e manejo adequado dos casos. Nesta apostila, abordaremos a epidemiologia, etiologia, apresentação clínica, diagnóstico, tratamento e prevenção das arboviroses mais prevalentes no Brasil, com ênfase na dengue, que é a arbovirose de maior importância no país. Além disso, discutiremos a prova do laço, um teste simples e útil no diagnóstico e acompanhamento da dengue, bem como a fisiopatologia da dor abdominal nesta doença e a abordagem terapêutica adequada. 1.2. Objetivos do estudo Neste material, abordaremos as arboviroses, com foco na síndrome febril viral, principalmente as que são prevalentes no Brasil, como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Os objetivos deste estudo são: 1. Compreender as principais etiologias das arboviroses no Brasil e as diferenças clínicas entre elas. 2. Estudar a epidemiologia, apresentação clínica, classificação de risco, alterações em exames complementares, diagnóstico e manejo do paciente com dengue, conforme sua classificação de risco. 3. Aprender sobre a "Prova do Laço": o que é, como realizá-la e como interpretar os resultados. 4. Identificar as medicações não contraindicadas na suspeita de dengue e entender os motivos das contraindicações. 5. Compreender a fisiopatologia da dor abdominal nos quadros de dengue, sua importância como sinal de alerta e as implicações no manejo clínico. Para alcançar esses objetivos, utilizaremos as seguintes referências bibliográficas: • "Harrison's Principles of Internal Medicine" e "Cecil Essentials of Medicine", que abordam aspectos gerais das arboviroses, com foco na dengue. • "Manual e Fundamentos em Hematologia", que discute a plaquetopenia na dengue, um importante achado laboratorial nesta doença. • "Tratado de Infectologia" de Veronesi, que detalha as arboviroses, sua epidemiologia, etiologia, diagnóstico e tratamento. • "Semiologia Médica" de Porto, que explica os sinais e sintomas gerais e específicos das arboviroses. • "Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Prática do Enfermeiro", que aborda a prova do laço e os testes diagnósticos na dengue. Além das referências bibliográficas, sugerimos também o acesso às webpalestras disponíveis nos links fornecidos no sumário para complementar o estudo sobre dengue, febre de chikungunya e zika vírus. Com este material, esperamos contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre as arboviroses e suas implicações clínicas, auxiliando na tomada de decisões e no manejo adequado dos pacientes acometidos por essas doenças. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 3 Capitulo 2: Arboviroses do Brasil As arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes, como mosquitos e carrapatos. No Brasil, as arboviroses de maior relevância em saúde pública são a dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Essas doenças apresentam impacto significativo na morbidade e mortalidade da população e são motivo de preocupação devido à sua crescente incidência e às possíveis complicações associadas. 2.1. Principais etiologias • Dengue: causada pelo vírus da dengue (DENV), um flavivírus transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti. Existem quatro sorotipos diferentes do vírus (DENV-1, DENV- 2, DENV-3 e DENV-4), e a infecção por um sorotipo não confere imunidade aos demais. A dengue é a arbovirose mais prevalente no Brasil e pode variar desde casos assintomáticos até formas graves, como a dengue grave, que pode cursar com choque e hemorragias. • Zika: causada pelo vírus zika (ZIKV), um flavivírus também transmitido pelo Aedes aegypti. A infecção pelo vírus zika geralmente causa uma doença leve, com sintomas semelhantes aos da dengue, mas menos intensos. Entretanto, a infecção durante a gravidez pode causar microcefalia e outras malformações congênitas no feto. • Chikungunya: causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), um alfavírus transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. A doença é caracterizada por febre, exantema e artralgia intensa, que pode persistir por meses ou até anos após a infecção aguda. • Febre amarela: causada pelo vírus da febre amarela (YFV), um flavivírus transmitido por mosquitos do gênero Haemagogus e Sabethes, na febre amarela silvestre, e pelo Aedes aegypti, na febre amarela urbana. A doença apresenta um espectro clínico variável, desde casos oligossintomáticos até formas graves, com icterícia, insuficiência hepática e renal, e hemorragias. 2.2. Diferenças clínicas entre as arboviroses Embora as arboviroses apresentem sinais e sintomas semelhantes, como febre, mialgia, artralgia, cefaleia, exantema e linfadenopatia, existem algumas diferenças clínicas que podem auxiliar na diferenciação entre elas: • Dengue: a dor retro-orbital, plaquetopenia e o teste do laço positivo são características mais específicas da dengue. A dengue grave é caracterizada por extravasamento capilar, choque e hemorragias. • Zika: o exantema maculopapular e a conjuntivite não purulenta são mais comuns na infecção pelo vírus zika. Além disso, a doença causada pelo vírus zika geralmente apresenta sintomas mais leves em comparação à dengue e chikungunya. Complicações neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, também podem estar associadas à infecção pelo vírus zika. • Chikungunya: a artralgia é mais intensa e debilitante na chikungunya, afetando principalmente as articulações periféricas, como mãos, punhos, tornozelos e pés. A dor articular pode persistir por meses ou até anos após a infecção aguda. • Febre amarela: a icterícia, insuficiência hepática e renal, e hemorragias são características mais marcantes da febre amarela, especialmente nas formas graves da doença. A mortalidade na febre amarela grave pode ser elevada, chegando a 50% dos casos. O diagnóstico das arboviroses é baseado na avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial do paciente. Testes sorológicos, moleculares e isolamento viral podem ser utilizados para confirmar a etiologia específica da infecção. É essencial identificar o agente viral envolvido, uma vez que o tratamento e o prognóstico podem variar de acordo com a arbovirose em questão. As arboviroses representam um desafio para a saúde pública no Brasil e em outros países afetados. A prevenção e o controle dessas doenças dependem de ações integradas de vigilância epidemiológica, controle de vetores, diagnóstico precoce e manejo adequado dos casos. A educação e a conscientização da população sobre os riscos associados às arboviroses e as medidas preventivas são fundamentais para reduzir a incidência e a gravidade dessas doenças. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 4 Capitulo 3: Dengue 3.1. Epidemiologia A dengue é uma doença infecciosa causada por um vírus do gênero Flavivirus (DENV) e é transmitida principalmentepelo mosquito Aedes aegypti. Existem quatro sorotipos distintos do vírus (DENV- 1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), e a infecção por um sorotipo não confere imunidade aos demais. A dengue é a arbovirose mais prevalente no mundo e apresenta alta incidência em áreas tropicais e subtropicais, afetando aproximadamente 390 milhões de pessoas por ano, com 96 milhões manifestando sintomas clinicamente evidentes. No Brasil, a dengue representa um grande desafio para a saúde pública devido à sua crescente incidência e à distribuição geográfica ampla do vetor Aedes aegypti, que se encontra presente em praticamente todo o território nacional. A doença tem sido endêmica no Brasil desde os anos 1980, e o país enfrentou diversas epidemias de dengue nas últimas décadas. Os fatores que contribuem para a alta incidência da dengue no Brasil incluem o clima favorável para a proliferação do mosquito vetor, a densidade populacional, a urbanização e a mobilidade humana, que favorecem a disseminação do vírus entre diferentes regiões. Além disso, a co-circulação dos quatro sorotipos do vírus da dengue no país aumenta o risco de ocorrência de casos mais graves da doença, como a dengue grave e a síndrome do choque da dengue, especialmente em indivíduos que já tiveram infecção prévia por outro sorotipo do vírus. A prevenção e o controle da dengue no Brasil dependem de ações integradas de vigilância epidemiológica, controle de vetores, diagnóstico precoce e manejo adequado dos casos. A educação e a conscientização da população sobre os riscos associados à dengue e as medidas preventivas, como a eliminação dos criadouros do mosquito vetor, são fundamentais para reduzir a incidência e a gravidade da doença. 3.2. Apresentação clínica A apresentação clínica da dengue é variável e pode incluir desde casos assintomáticos ou oligossintomáticos até formas graves e potencialmente fatais. A doença é caracterizada por três fases distintas: febril, crítica e de recuperação. A seguir, descrevemos os principais sinais e sintomas associados a cada fase: 1. Fase febril: essa fase dura aproximadamente 2 a 7 dias e é marcada pelo início abrupto da febre, que pode ser alta (geralmente entre 39 e 40 graus Celsius) e acompanhada de cefaleia intensa, dor retro-orbital, mialgias, artralgias, exantema e prostração. Outros sintomas, como náuseas, vômitos, dor abdominal, linfadenopatias e manifestações hemorrágicas leves (petéquias, epistaxe, gengivorragia) também podem ocorrer nesta fase. É importante notar que a apresentação clínica pode ser inespecífica e se assemelhar a outras doenças febris, como outras arboviroses, gripe e infecções bacterianas. 2. Fase crítica: ocorre logo após o término da febre e dura aproximadamente 24 a 48 horas. Nesta fase, os pacientes podem apresentar melhora clínica, ou podem desenvolver sinais de alarme que indicam a progressão para dengue grave. Os sinais de alarme incluem dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, edema, letargia ou irritabilidade, hepatomegalia dolorosa e aumento abrupto do hematócrito com queda concomitante das plaquetas. A presença de sinais de alarme requer atenção médica imediata e monitoramento rigoroso, pois pode evoluir rapidamente para dengue grave, caracterizada por extravasamento capilar, choque e hemorragias severas. 3. Fase de recuperação: ocorre após a fase crítica e dura de 2 a 5 dias. Nesta fase, há uma melhora progressiva do estado geral do paciente, com diminuição do extravasamento capilar e resolução dos sintomas. Entretanto, a recuperação pode ser mais lenta em pacientes que apresentaram dengue grave, e sequelas a longo prazo, como astenia e depressão, podem ocorrer. O diagnóstico da dengue é baseado na avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial do paciente. Exames laboratoriais, como hemograma, coagulograma, eletrólitos, função renal e hepática, são importantes para avaliar o grau de acometimento e monitorar possíveis complicações. Além disso, testes sorológicos, moleculares e CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 5 isolamento viral podem ser utilizados para confirmar a infecção pelo vírus da dengue. 3.3. Classificação de risco A classificação de risco é uma ferramenta importante para orientar o manejo clínico dos pacientes com dengue e identificar aqueles com maior probabilidade de evolução para formas graves da doença. A classificação de risco baseia-se em critérios clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, considerando os sinais e sintomas apresentados, a idade do paciente, o histórico de exposição e as condições de saúde pré-existentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe a seguinte classificação de risco para a dengue: 1. Dengue sem sinais de alarme: pacientes que apresentam sintomas típicos da fase febril, como febre, cefaleia, dor retro-orbital, mialgias e artralgias, mas não apresentam sinais de alarme ou sinais de gravidade. Esses pacientes geralmente têm um bom prognóstico e podem ser manejados ambulatorialmente, com orientações sobre hidratação adequada, uso de antitérmicos e analgésicos e acompanhamento dos sintomas. 2. Dengue com sinais de alarme: pacientes que apresentam sinais de alarme, como dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, edema, letargia ou irritabilidade, hepatomegalia dolorosa e aumento abrupto do hematócrito com queda concomitante das plaquetas. Esses pacientes têm maior risco de evoluir para dengue grave e devem ser monitorados rigorosamente, preferencialmente em ambiente hospitalar. O manejo inclui hidratação intravenosa, suporte hemodinâmico e monitoramento dos parâmetros laboratoriais. 3. Dengue grave: pacientes que apresentam extravasamento capilar significativo, choque, hemorragias severas ou acometimento de órgãos vitais. A dengue grave é uma emergência médica e requer internação em unidade de terapia intensiva (UTI), com monitoramento contínuo das funções vitais e suporte avançado de vida, como reposição volêmica, uso de drogas vasoativas, transfusão sanguínea e suporte ventilatório, se necessário. O manejo adequado dos pacientes com dengue conforme a classificação de risco é fundamental para evitar complicações e reduzir a morbimortalidade associada à doença. É importante ressaltar que a classificação de risco é uma ferramenta dinâmica e os pacientes devem ser reavaliados periodicamente, já que a evolução clínica da dengue pode ser rápida e imprevisível. 3.4. Alterações em exames complementares Os exames complementares são úteis no diagnóstico e monitoramento dos pacientes com dengue, ajudando a identificar alterações que podem ser indicativas de maior gravidade e a guiar o manejo clínico. As principais alterações laboratoriais encontradas na dengue incluem: 1. Hemograma: o hemograma completo é um exame importante para avaliar o grau de acometimento hematológico na dengue. As alterações mais comuns incluem: • Leucopenia: a redução do número de leucócitos é frequente na dengue, especialmente durante a fase febril, e pode ser acompanhada de linfopenia e neutropenia transitória. • Trombocitopenia: a queda no número de plaquetas é uma característica marcante da dengue e pode ser indicativa de maior gravidade. A trombocitopenia ocorre devido à destruição periférica das plaquetas, disfunção da medula óssea e aumento do consumo de plaquetas no contexto da coagulação intravascular disseminada (CID). • Hemoconcentração: o aumento do hematócrito é um sinal de extravasamento capilar e pode ser um indicador de progressão para dengue grave. É importante monitorar a variação do hematócrito em conjunto com a contagem de plaquetas para identificar sinais de alarme. 2. Coagulograma: a avaliação da coagulação sanguínea é importante para identificar alterações que possam sugerir maior risco de hemorragias. Na dengue, podem ocorrer prolongamento do tempo de protrombina (TP) e do tempo de tromboplastina parcial ativada(TTPa), bem como redução dos níveis de fibrinogênio, indicativos de disfunção da coagulação. 3. Eletrólitos e função renal: o monitoramento dos níveis de eletrólitos, ureia e creatinina é essencial para avaliar o equilíbrio CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 6 hidroeletrolítico e a função renal dos pacientes com dengue. Alterações como hiponatremia, hipercalemia e elevação dos níveis de ureia e creatinina podem ser indicativos de desidratação, insuficiência renal ou síndrome do choque da dengue. 4. Função hepática: a avaliação das enzimas hepáticas, como alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e bilirrubina, é importante para identificar acometimento hepático na dengue. Elevações modestas das enzimas hepáticas são comuns, mas aumentos significativos podem indicar maior gravidade da doença. 5. Testes diagnósticos específicos: além dos exames de rotina, testes diagnósticos específicos para dengue, como detecção de antígeno NS1, testes sorológicos (IgM e IgG) e reação em cadeia da polimerase (PCR) podem ser utilizados para confirmar a infecção pelo vírus da dengue e auxiliar na diferenciação de outras arboviroses e doenças febris. O monitoramento das alterações em exames complementares é essencial para o manejo adequado dos pacientes com dengue, permitindo a identificação de sinais de maior gravidade e a implementação de medidas terapêuticas específicas. Os exames devem ser realizados e interpretados em conjunto com a avaliação clínica e epidemiológica, levando em consideração a evolução dos sintomas e a presença de fatores de risco para complicações. A utilização correta dos exames complementares e a interpretação adequada dos resultados ajudam a direcionar o tratamento e o acompanhamento dos pacientes, reduzindo a morbimortalidade associada à dengue e contribuindo para o controle da doença em áreas endêmicas. 3.5. Diagnóstico O diagnóstico da dengue é baseado na combinação de critérios clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. A suspeita clínica é baseada na apresentação típica de sintomas, como febre, cefaleia, dor retro-orbital, mialgias, artralgias, exantema e trombocitopenia, especialmente em áreas endêmicas ou durante surtos da doença. A confirmação diagnóstica é feita através de testes laboratoriais específicos, que incluem: 1. Detecção do antígeno NS1: o antígeno NS1 é uma proteína viral que pode ser detectada precocemente na infecção, geralmente entre o primeiro e o quinto dia de início dos sintomas. O teste de detecção do antígeno NS1 é rápido, sensível e específico, sendo uma importante ferramenta no diagnóstico precoce da dengue. A detecção do antígeno NS1 pode ser realizada em amostras de soro, plasma ou sangue total por meio de testes imunocromatográficos ou ensaios imunoenzimáticos (ELISA). 2. Testes sorológicos: os testes sorológicos, como a detecção de anticorpos IgM e IgG anti- dengue, são úteis no diagnóstico da infecção após o período de viremia (geralmente após o quinto dia de início dos sintomas). A presença de anticorpos IgM indica infecção recente, enquanto a presença de anticorpos IgG sugere infecção prévia ou secundária. Os testes sorológicos são realizados através de técnicas de imunocromatografia ou ELISA. 3. Reação em cadeia da polimerase (PCR): a PCR é uma técnica molecular altamente sensível e específica que permite a detecção direta do material genético do vírus da dengue em amostras de soro, plasma ou tecido. A PCR pode ser utilizada para identificar e tipificar o vírus da dengue durante o período de viremia, geralmente nos primeiros 5 dias de início dos sintomas. A PCR é especialmente útil em casos de infecção secundária, quando os testes sorológicos podem ser menos sensíveis e específicos. Além dos testes laboratoriais específicos, a avaliação de exames complementares, como hemograma, coagulograma, eletrólitos, função renal e hepática, pode ajudar a confirmar a suspeita clínica de dengue e a identificar sinais de maior gravidade. É importante lembrar que o diagnóstico da dengue deve ser interpretado no contexto clínico e epidemiológico do paciente, levando em consideração a evolução dos sintomas, a presença de sinais de alarme e a exposição a áreas endêmicas ou surtos da doença. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 7 3.6. Manejo do paciente conforme classificação de risco O manejo do paciente com dengue deve ser baseado na classificação de risco, levando em consideração a gravidade da doença e a presença de sinais de alarme. A classificação de risco é dividida em três categorias: dengue sem sinais de alarme, dengue com sinais de alarme e dengue grave. O manejo do paciente varia de acordo com a categoria em que se enquadra: 1. Dengue sem sinais de alarme: • Hidratação: manter uma hidratação adequada é fundamental para prevenir a progressão da doença. A hidratação oral é preferível, mas a hidratação venosa pode ser necessária em casos de intolerância à via oral ou sinais de desidratação. • Analgésicos e antitérmicos: medicamentos como paracetamol podem ser utilizados para aliviar a dor e a febre. No entanto, o uso de anti- inflamatórios não esteroides (AINEs) deve ser evitado devido ao risco de sangramento e deterioração renal. • Monitoramento: o acompanhamento clínico e laboratorial é crucial para identificar sinais de alarme e intervir precocemente caso necessário. 2. Dengue com sinais de alarme: • Internação hospitalar: o paciente deve ser internado para monitoramento e tratamento, especialmente se houver sinais de alarme, como dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, derrames cavitários, hemoconcentração, trombocitopenia acentuada, hipotensão postural ou sinais de insuficiência hepática. • Hidratação venosa: a hidratação intravenosa é indicada para repor o volume circulante e prevenir a progressão para choque. A escolha do tipo de solução e a velocidade de infusão devem ser baseadas na avaliação clínica e hemodinâmica do paciente. • Transfusão de sangue e derivados: a transfusão de plaquetas, concentrado de hemácias ou plasma fresco congelado pode ser necessária em casos de sangramento significativo, trombocitopenia grave ou coagulopatia. • Monitoramento intensivo: o acompanhamento clínico e laboratorial deve ser realizado de forma mais frequente e rigorosa, para identificar sinais de deterioração clínica e ajustar o tratamento conforme necessário. 3. Dengue grave: • Suporte avançado: pacientes com dengue grave necessitam de tratamento em unidades de terapia intensiva (UTI) ou unidades de cuidados intensivos, com suporte hemodinâmico, respiratório e renal, conforme necessário. • Fluidoterapia: a reposição de volume e a correção da hipotensão são fundamentais para o tratamento do choque. Soluções cristaloides e coloides podem ser utilizadas, e a escolha deve ser individualizada de acordo com a situação clínica do paciente. Transfusão de sangue e derivados: a transfusão de componentes sanguíneos é indicada em casos de hemorragias graves, coagulopatia ou trombocitopenia acentuada. A decisão de transfundir deve ser baseada na avaliação clínica e laboratorial do paciente, levando em consideração a presença de sinais de sangramento ativo e a resposta à fluidoterapia. • Suporte ventilatório: a insuficiência respiratória pode ocorrer devido à síndrome do extravasamento capilar, derrames pleurais, ou outras complicações associadas à dengue grave. O suporte ventilatório pode variar desde a oxigenoterapia suplementar até a ventilação mecânica invasiva, dependendo da gravidade do quadro respiratório. • Terapia inotrópica e vasopressora: agentes inotrópicos e vasopressores podem ser necessários para manter a perfusão e a função dos órgãos em pacientes com choque refratário à fluidoterapia. • Monitoramento intensivo: o monitoramento contínuo das funções vitais, dos parâmetros hemodinâmicos e dos exames laboratoriaisé crucial para a identificação de sinais de deterioração clínica e a ajuste do tratamento de acordo com as necessidades do paciente. O manejo adequado do paciente com dengue conforme a classificação de risco é essencial para reduzir a morbimortalidade associada à doença e melhorar o prognóstico. A abordagem terapêutica deve ser individualizada, levando em consideração a evolução clínica e laboratorial do paciente e a presença de fatores de risco para complicações. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 8 Capitulo 4: Prova do Laço 4.1. Definição A Prova do Laço, também conhecida como Teste do Torniquete, é um teste simples e de baixo custo que ajuda na avaliação da fragilidade capilar e na identificação precoce de pacientes com dengue ou outras doenças que cursam com trombocitopenia e aumento da permeabilidade vascular. O teste é baseado no princípio de que a fragilidade capilar aumentada, juntamente com a redução do número de plaquetas, leva à formação de pequenos pontos de sangramento (petéquias) na pele quando submetida a uma pressão controlada. 4.2. Como realizar Para realizar a Prova do Laço, siga os passos abaixo: 1. Escolha o local apropriado: O teste deve ser realizado na região anterior do antebraço, entre o cotovelo e o punho. Certifique-se de que a pele esteja limpa e livre de lesões pré-existentes. 2. Prepare o paciente: Peça ao paciente para se sentar ou deitar em uma posição confortável, com o braço apoiado e relaxado. 3. Aplique o manguito de pressão arterial: Envolva o manguito de um esfigmomanômetro ao redor do braço do paciente, cerca de 2 a 3 centímetros acima da dobra do cotovelo. 4. Determine a pressão arterial sistólica do paciente: Antes de realizar o teste, meça a pressão arterial sistólica do paciente usando o esfigmomanômetro. 5. Insuflar o manguito: Infle o manguito até uma pressão intermediária entre a pressão arterial sistólica e a diastólica do paciente. Por exemplo, se a pressão arterial sistólica for de 120 mmHg e a diastólica for de 80 mmHg, infle o manguito a uma pressão de 100 mmHg. A pressão aplicada não deve causar desconforto ou dor ao paciente. 6. Manter a pressão: Mantenha a pressão no manguito por 5 minutos. Se o paciente sentir desconforto ou dor, interrompa o teste e reinicie-o com uma pressão mais baixa. 7. Desinflar o manguito: Após 5 minutos, desinfle lentamente o manguito e remova-o do braço do paciente. 8. Examine o antebraço: Observe atentamente a área onde o manguito foi aplicado em busca de petéquias (pequenos pontos avermelhados na pele causados por sangramento capilar). Conte o número de petéquias presentes em um quadrado de 2,5 centímetros (1 polegada) de lado. A Prova do Laço é considerada positiva quando há um número significativo de petéquias no local do teste, geralmente 10 ou mais petéquias em um quadrado de 2,5 centímetros (1 polegada) de lado. Um resultado positivo pode ser indicativo de dengue ou outras doenças que causam trombocitopenia e aumento da permeabilidade vascular. 4.3. Interpretação dos resultados A interpretação dos resultados da Prova do Laço deve ser feita com cautela e em conjunto com outros achados clínicos e exames laboratoriais, uma vez que o teste possui limitações e não é específico para a dengue. No entanto, pode ser útil como um indicador inicial de trombocitopenia e fragilidade capilar, especialmente em áreas endêmicas onde a dengue é prevalente. A interpretação dos resultados é baseada no número de petéquias presentes no local do teste após a aplicação da pressão: • Teste negativo: Menos de 10 petéquias em um quadrado de 2,5 centímetros (1 polegada) de lado. Um resultado negativo pode sugerir que o paciente não apresenta fragilidade capilar aumentada ou trombocitopenia significativa. No entanto, um resultado negativo não exclui a possibilidade de dengue ou outras doenças, e o paciente deve ser avaliado com base em outros sinais, sintomas e exames laboratoriais. • Teste positivo: 10 ou mais petéquias em um quadrado de 2,5 centímetros (1 polegada) de lado. Um resultado positivo indica fragilidade capilar aumentada e possível trombocitopenia. Embora a Prova do Laço possa ser positiva em pacientes com dengue, também pode ser positiva em outras doenças que cursam com trombocitopenia e aumento da permeabilidade vascular, como febre maculosa, meningococcemia, entre outras. É importante lembrar que a Prova do Laço não é um teste diagnóstico definitivo para dengue ou outras doenças e não deve ser usada isoladamente para orientar o manejo clínico. A interpretação dos CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 9 resultados deve sempre considerar o contexto clínico-epidemiológico do paciente e ser complementada por exames laboratoriais específicos e outros achados clínicos. Capitulo 5: Medicações e Dengue 5.1. Medicações não contraindicadas No manejo do paciente com suspeita de dengue, é importante escolher cuidadosamente as medicações a serem administradas, levando em consideração os riscos e benefícios associados a cada fármaco. Algumas medicações não contraindicadas incluem: 1. Analgésicos e antitérmicos: O paracetamol é o analgésico e antitérmico de escolha no tratamento dos sintomas da dengue, como dor e febre. É importante não exceder a dose máxima diária recomendada (geralmente 3 a 4 gramas por dia para adultos) para evitar toxicidade hepática. Evite o uso de anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs), como o ibuprofeno e o ácido acetilsalicílico (aspirina), devido ao risco aumentado de sangramento e disfunção renal. 2. Hidratação oral: A reposição de líquidos por via oral é fundamental no manejo dos pacientes com dengue. A solução de reidratação oral (SRO) é uma opção adequada para reidratação e reposição de eletrólitos, especialmente em pacientes com sinais de desidratação leve a moderada. Além disso, o paciente deve ser encorajado a ingerir água, sucos naturais e chás para manter-se hidratado. 3. Antieméticos: Pacientes com náuseas e vômitos podem se beneficiar do uso de antieméticos, como a metoclopramida ou a ondansetrona. Estes medicamentos podem ajudar a controlar os sintomas e melhorar a tolerância à ingestão de líquidos e alimentos. 4. Antipruriginosos: Em casos de coceira intensa associada à erupção cutânea, antipruriginosos tópicos, como cremes e loções contendo calamina, podem ser úteis para aliviar o desconforto. Antialérgicos orais, como a loratadina ou a cetirizina, também podem ser considerados em casos de coceira intensa. 5. Suporte nutricional: É importante que os pacientes mantenham uma dieta balanceada e rica em nutrientes durante o período de recuperação. A ingestão de alimentos leves, como sopas, frutas, legumes e proteínas magras, pode ajudar na recuperação e no fortalecimento do sistema imunológico. Lembre-se de que o tratamento da dengue deve ser individualizado e baseado na avaliação clínica do paciente e na evolução dos sintomas. A administração de medicações não contraindicadas deve ser feita sob orientação médica e com monitoramento contínuo do quadro clínico. 5.2. Motivos das contraindicações As contraindicações de algumas medicações no tratamento da dengue estão relacionadas aos efeitos colaterais desses fármacos e às complicações potenciais que podem ocorrer em pacientes com dengue. Abaixo estão listados os principais motivos das contraindicações: 1. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): AINEs como ibuprofeno, naproxeno e ácido acetilsalicílico (aspirina) são contraindicados em pacientes com suspeita de dengue devido ao seu efeito inibitório na agregação plaquetária e ao risco de sangramento. Além disso, os AINEs podem causar disfunção renal, o que pode ser prejudicial para pacientes com dengue, já que a doença pode causar alterações na função renal. 2. Corticosteroides: O uso de corticosteroides em pacientes com dengue não é recomendado, pois não há evidências debenefícios clínicos significativos e há risco de efeitos adversos. Corticosteroides podem suprimir a resposta imunológica do paciente, aumentando o risco de infecções secundárias, e podem também mascarar os sinais de alerta da dengue grave. 3. Antibióticos: A dengue é causada por um vírus e, portanto, o uso de antibióticos não é indicado, exceto em casos de infecções bacterianas secundárias comprovadas. O uso inadequado de antibióticos pode levar ao desenvolvimento de resistência bacteriana e a efeitos colaterais desnecessários. 4. Antivirais: Até o momento, não há antivirais específicos aprovados para o tratamento da dengue. O uso de antivirais não específicos ou não comprovados pode ser ineficaz e causar efeitos colaterais indesejados. O manejo da dengue é principalmente de suporte, visando CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 10 controlar os sintomas e prevenir complicações. 5. Medicamentos que podem aumentar a pressão arterial: Pacientes com dengue podem apresentar hipotensão e, em alguns casos, choque devido à perda de líquidos e alterações na permeabilidade vascular. Portanto, é importante evitar medicamentos que possam elevar a pressão arterial, como descongestionantes nasais e estimulantes, para não agravar a hipotensão e aumentar o risco de choque. É fundamental que o tratamento da dengue seja baseado na avaliação clínica do paciente e na evolução dos sintomas. A administração de medicações contraindicadas deve ser evitada e o manejo clínico deve ser realizado sob orientação médica, com monitoramento contínuo do quadro clínico. Capitulo 6: Dor abdominal na Dengue 6.1. Fisiopatologia A dor abdominal na dengue é um sintoma comum e pode variar de leve a grave. A fisiopatologia da dor abdominal na dengue não é completamente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada a uma combinação de fatores, incluindo: 1. Inflamação: A infecção pelo vírus da dengue causa uma resposta inflamatória sistêmica no organismo. A liberação de citocinas pró- inflamatórias e outros mediadores inflamatórios pode levar à inflamação dos órgãos e tecidos abdominais, como o fígado, baço, linfonodos e trato gastrointestinal, resultando em dor abdominal. 2. Aumento da permeabilidade vascular: O vírus da dengue pode afetar a permeabilidade dos vasos sanguíneos, levando ao extravasamento de líquidos e proteínas para os espaços intersticiais. Esse aumento da permeabilidade vascular pode causar edema e inchaço dos órgãos abdominais, contribuindo para a dor abdominal. 3. Hepatite: A dengue pode causar hepatite viral, levando à inflamação e aumento do fígado (hepatomegalia). A hepatite pode resultar em dor abdominal, especialmente no quadrante superior direito do abdômen, onde o fígado está localizado. 4. Disfunção gastrointestinal: A infecção pelo vírus da dengue pode afetar o trato gastrointestinal, causando sintomas como náuseas, vômitos, diarreia e constipação. Esses sintomas podem ser acompanhados de dor abdominal devido a espasmos e irritação do trato gastrointestinal. 5. Hipotensão e choque: Em casos graves de dengue, como na dengue hemorrágica e na síndrome do choque da dengue, a hipotensão e o choque podem ocorrer devido à perda de líquidos e alterações na permeabilidade vascular. A hipotensão e o choque podem levar à diminuição do fluxo sanguíneo para os órgãos abdominais, resultando em isquemia e dor abdominal. É importante lembrar que a dor abdominal na dengue pode ser um sinal de alerta, indicando um possível agravamento do quadro clínico e a evolução para formas mais graves da doença, como a dengue hemorrágica e a síndrome do choque da dengue. Portanto, é crucial monitorar os pacientes com dor abdominal e outros sinais de alerta para garantir o manejo adequado e prevenir complicações. 1.1. Importância como sinal de alerta A dor abdominal na dengue é considerada um sinal de alerta importante, pois pode indicar um agravamento do quadro clínico e a evolução para formas mais graves da doença, como a dengue hemorrágica e a síndrome do choque da dengue. A detecção precoce desses sinais de alerta é crucial para o manejo adequado e a prevenção de complicações que podem ser fatais. Além da dor abdominal, outros sinais de alerta na dengue incluem: 1. Vômitos persistentes: A presença de vômitos frequentes e contínuos pode indicar desidratação e dificultar a reposição de líquidos oralmente, aumentando o risco de hipovolemia e choque. 2. Aumento repentino do hematócrito: Um aumento significativo no hematócrito pode ser um indicativo de hemoconcentração, o que sugere uma perda de líquidos para os espaços intersticiais e o risco de desenvolver choque. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 11 3. Queda abrupta nas plaquetas: A redução acentuada da contagem de plaquetas pode indicar uma progressão para a dengue hemorrágica, aumentando o risco de sangramento e complicações. 4. Sangramento espontâneo: A presença de sangramento espontâneo, como gengivorragia, epistaxe, hematêmese ou melena, pode ser um sinal de dengue hemorrágica e aumenta o risco de choque e outras complicações. 5. Letargia ou agitação: Alterações no nível de consciência, como letargia ou agitação, podem indicar uma progressão para formas mais graves da doença e a possibilidade de envolvimento do sistema nervoso central. 6. Dificuldade respiratória: A presença de dispneia ou desconforto respiratório pode sugerir o desenvolvimento de derrame pleural ou edema pulmonar, o que pode ser uma complicação grave da dengue. Quando um ou mais sinais de alerta são identificados em pacientes com dengue, é fundamental intensificar o monitoramento e a avaliação clínica. A intervenção médica precoce, como a administração de líquidos intravenosos e o suporte hemodinâmico, pode ajudar a prevenir o choque e outras complicações graves. Além disso, pacientes com sinais de alerta podem necessitar de internação hospitalar para monitoramento e tratamento intensivo. Capitulo 7: Referências bibliográficas As referências bibliográficas sugeridas para aprofundar o estudo sobre síndromes febris virais, especialmente as arboviroses, e o manejo clínico da dengue incluem: 1. Medicina Interna: Para informações detalhadas sobre a dengue e outras arboviroses, consulte os livros de medicina interna, como "Harrison's Principles of Internal Medicine" e "Cecil Textbook of Medicine". Estes livros abordam a epidemiologia, etiologia, apresentação clínica, diagnóstico, tratamento e prevenção de várias doenças, incluindo a dengue. 2. Hematologia: O "Manual e Fundamentos em Hematologia" oferece informações sobre a plaquetopenia na dengue, incluindo os mecanismos subjacentes, as implicações clínicas e o manejo da trombocitopenia. 3. Infectologia: O livro "Veronesi: Tratado de Infectologia" aborda as arboviroses, com ênfase nas principais etiologias e diferenças clínicas entre elas. 4. Semiologia: O livro "Semiologia Médica" de Celmo Celeno Porto e a pasta com vídeo- aulas "Exame Físico e Semiologia" ajudam na compreensão dos sinais e sintomas gerais e específicos das arboviroses e na realização do exame físico. 5. Exames complementares: Para informações sobre a prova do laço e outros testes diagnósticos na dengue, consulte o livro "Interpretação de Exames Laboratoriais". Este livro fornece informações sobre a realização e interpretação de exames complementares, bem como as implicações clínicas dos resultados. 6. Webpalestra - Dengue, febre de chikungunya e zika vírus: medidas de controle: Assista a esta palestra online para aprender sobre as estratégias de controle dessas arboviroses, incluindo medidas de prevenção e tratamento. O vídeo pode ser encontrado no seguinte link: https://youtu.be/ZlJKfZTMu3w 7. Webpalestra - Manejo clínico e classificação de risco para dengue, febre de chikungunya e zika vírus: Esta palestra online discute o manejo clínico e a classificação derisco para dengue, febre de chikungunya e zika vírus, fornecendo informações valiosas sobre o atendimento ao paciente e a tomada de decisões clínicas. O vídeo pode ser encontrado no seguinte link: https://youtu.be/VYJZ8VQkakg Estas referências bibliográficas fornecem informações abrangentes e atualizadas sobre as arboviroses e o manejo clínico da dengue, ajudando os profissionais de saúde a aprimorar seus conhecimentos e habilidades clínicas no diagnóstico, tratamento e prevenção dessas doenças. CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 12 Capitulo 8: Perguntas e Respostas Questão 1: Entre as seguintes síndromes febris virais causadas por arboviroses, qual delas é caracterizada pela presença de exantema maculopapular, artralgia e conjuntivite não purulenta? A. Dengue B. Febre amarela C. Febre do Nilo Ocidental D. Chikungunya E. Zika vírus Resposta: D) Chikungunya Justificativa: A febre chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus Chikungunya (CHIKV), transmitido principalmente pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Os sintomas clássicos da doença incluem febre, exantema maculopapular, artralgia e conjuntivite não purulenta. Embora a dengue, a febre amarela, a febre do Nilo Ocidental e o zika vírus também causem síndromes febris e sejam transmitidos por mosquitos, cada uma dessas doenças apresenta um conjunto específico de sinais e sintomas que as diferenciam da chikungunya. Questão 2: Considerando as principais arboviroses presentes no Brasil, qual das alternativas abaixo descreve corretamente as diferenças clínicas entre dengue, chikungunya e zika vírus? A. Dengue: hemorragia, dor retro-orbital e mialgia; Chikungunya: exantema maculopapular, artralgia e conjuntivite não purulenta; Zika: microcefalia em recém-nascidos e síndrome de Guillain-Barré. B. Dengue: exantema maculopapular, artralgia e conjuntivite não purulenta; Chikungunya: hemorragia, dor retro-orbital e mialgia; Zika: infecção assintomática e rash cutâneo. C. Dengue: dor abdominal intensa, icterícia e insuficiência renal; Chikungunya: hemorragia, dor retro- orbital e mialgia; Zika: artrite, mialgia e exantema maculopapular. D. Dengue: rash cutâneo, artralgia e conjuntivite não purulenta; Chikungunya: hemorragia, dor retro-orbital e mialgia; Zika: dor abdominal intensa, icterícia e insuficiência renal. Resposta: A) Dengue: hemorragia, dor retro-orbital e mialgia; Chikungunya: exantema maculopapular, artralgia e conjuntivite não purulenta; Zika: microcefalia em recém-nascidos e síndrome de Guillain-Barré. Justificativa: As principais diferenças clínicas entre as arboviroses em questão são: • Dengue: caracterizada por febre, hemorragia (principalmente nos casos mais graves), dor retro-orbital e mialgia. • Chikungunya: apresenta como principais sintomas febre, exantema maculopapular, artralgia intensa e conjuntivite não purulenta. • Zika vírus: geralmente causa sintomas mais leves, como febre baixa, rash cutâneo, artralgia e conjuntivite não purulenta. No entanto, a infecção pelo zika vírus durante a gravidez está associada à microcefalia em recém- nascidos, e em alguns casos, pode levar à síndrome de Guillain-Barré. Questão 3: Um paciente de 32 anos procura o serviço de saúde com queixa de febre alta, dor de cabeça, dor retro-orbital, mialgia e exantema. Com base na apresentação clínica, qual das seguintes doenças é a mais provável? A. Gripe (Influenza) B. Dengue C. Febre tifoide D. Mononucleose infecciosa E. Meningite bacteriana Resposta: B) Dengue Justificativa: A dengue é uma arbovirose transmitida por mosquitos do gênero Aedes, com alta prevalência em áreas tropicais e subtropicais. A apresentação clínica da dengue inclui febre alta, dor de cabeça, dor retro-orbital, mialgia e exantema, que são os sintomas relatados pelo paciente. Embora as outras doenças mencionadas nas alternativas também possam apresentar febre e dor de cabeça, a combinação de febre alta, dor retro-orbital, mialgia e exantema é mais característica da dengue. A gripe CASO 03 SESSÃO TUTORIAL 13 geralmente apresenta sintomas respiratórios, a febre tifoide é caracterizada por febre contínua e dor abdominal, a mononucleose infecciosa frequentemente apresenta linfadenopatia e amigdalite, e a meningite bacteriana é tipicamente acompanhada de rigidez de nuca e fotofobia. Questão 4: Um paciente de 25 anos procura o serviço de saúde com sintomas de febre, dor de cabeça, mialgia e dor retro-orbital. Ele não apresenta sinais de alarme, como sangramentos ou vômitos persistentes. De acordo com a classificação de risco para dengue, em qual categoria esse paciente se enquadra? A. Dengue sem sinais de alarme B. Dengue com sinais de alarme C. Dengue grave D. Suspeita de outra doença E. Febre hemorrágica da dengue Resposta: A) Dengue sem sinais de alarme Justificativa: A classificação de risco para dengue é uma ferramenta importante para identificar a gravidade da doença e orientar o manejo clínico adequado. De acordo com a descrição do caso, o paciente apresenta sintomas típicos de dengue, mas sem sinais de alarme como sangramentos, vômitos persistentes, dor abdominal intensa, letargia, hepatomegalia ou alterações nos exames laboratoriais, como trombocitopenia acentuada ou elevação dos níveis de hematócrito. Portanto, o paciente se enquadra na categoria de "Dengue sem sinais de alarme". As outras alternativas não são adequadas neste caso: a opção B (Dengue com sinais de alarme) e C (Dengue grave) envolveriam a presença de sinais de alarme ou complicações mais severas, a opção D (Suspeita de outra doença) não se aplica, pois, os sintomas são compatíveis com dengue, e a opção E (Febre hemorrágica da dengue) refere-se a uma classificação desatualizada que foi substituída pela atual classificação de risco para dengue. Questão 5: A Prova do Laço é um teste rápido e simples utilizado para avaliar a fragilidade capilar e ajudar no diagnóstico de dengue. Qual das seguintes afirmações sobre a Prova do Laço é correta? A. A prova é positiva quando há o aparecimento de mais de 10 petéquias em um espaço de 2,5 cm de diâmetro. B. A prova deve ser realizada apenas em pacientes com suspeita de dengue grave. C. A prova deve ser realizada no antebraço do paciente, com a mão elevada acima do nível do coração. D. Um resultado negativo na Prova do Laço exclui definitivamente o diagnóstico de dengue. E. A prova deve ser realizada inflando um manguito de esfigmomanômetro até a metade da pressão arterial sistólica do paciente por 10 minutos. Resposta: A) A prova é positiva quando há o aparecimento de mais de 10 petéquias em um espaço de 2,5 cm de diâmetro. Justificativa: A Prova do Laço é um teste rápido e simples que avalia a fragilidade capilar e pode ser útil no diagnóstico de dengue. A prova é realizada inflando um manguito de esfigmomanômetro no braço do paciente até a metade da pressão arterial sistólica por um minuto. Após a deflação do manguito, observa-se a presença de petéquias (pequenas manchas vermelhas) na pele. A prova é considerada positiva quando há o aparecimento de mais de 10 petéquias em um espaço de 2,5 cm de diâmetro. As outras alternativas são incorretas: a opção B é falsa, pois a Prova do Laço pode ser realizada em qualquer paciente com suspeita de dengue, independentemente da gravidade; a opção C é falsa, pois a prova deve ser realizada no braço e não no antebraço do paciente; a opção D é falsa, pois um resultado negativo na Prova do Laço não exclui definitivamente o diagnóstico de dengue, já que a prova pode ser negativa em alguns casos; e a opção E é falsa, pois o manguito deve ser inflado por apenas um minuto, e não por 10 minutos.
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