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FALENCIAS E RECUPERAÇÃO

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1 
 
André Fernandes Estevez 
Professor de Direito Empresarial na PUCRS. Doutor em Direito Comercial pela USP. 
Mestre em Direito Privado pela UFRGS. Advogado. 
http://andreestevez.blogspot.com - andre@estevez.adv.br 
 
Acompanhe as notícias de Direito Empresarial em Direito Empresarial PUCRS 
www.facebook.com/direitoempresarialpucrs 
Cadastre-se no mailing: http://tinyurl.com/mailingempresarial 
Questões extraídas do site www.qconcursos.com.br 
 
Direito Empresarial IV (Recuperação de Empresas e Falências) 
(atualizado em 31/07/2019) 
Sumário 
Aula 01 - História e princípios ...................................................................................................................... 3 
Aula 02 - Elementos introdutórios do Direito Falimentar .......................................................................... 8 
Aula 03 - Classificação dos credores........................................................................................................ 16 
Aula 04 - Administração da falência.......................................................................................................... 27 
Aula 05 - Recuperação judicial (pedido e processamento) ................................................................... 37 
Aula 06 - Recuperação judicial com plano especial e recuperação extrajudicial ............................... 44 
Aula 07 - Pedido de falência, processamento e autofalência ................................................................ 49 
Aula 08 - Sentença e recursos cabíveis ................................................................................................... 56 
Aula 09 - Efeitos da sentença falimentar .................................................................................................. 62 
Aula 10 - Declaração de crédito ................................................................................................................ 66 
Aula 11 - Responsabilidade pessoal - extensão da falência ................................................................. 71 
Aula 12 - Interesses patrimoniais de terceiros ........................................................................................ 75 
Aula 13 - Realização de ativo e liquidação de passivo - encerramento da falência .......................... 81 
Aula 14 - Crimes falimentares - disposições finais ................................................................................. 84 
 
 
 
http://andreestevez.blogspot.com/
mailto:andre@estevez.adv.br
http://www.facebook.com/direitoempresarial
http://tinyurl.com/mailingempresarial
http://www.qconcursos.com.br/
2 
 
 
 
 
 
ESTRUTURAS UNIVERSITÁRIAS DE APOIO 
 
 
 
CAP (Centro de Atenção Psicossocial) 
Living 360º 
Tel (51) 3320-3703 
cap.prac@pucrs.br 
 
 
LOGOS (Aprendizagem sem Fronteiras) 
Living 360º 
Tel. (51) 3320-3500 – Ramal 4558 
logos@pucrs.br 
 
 
Espaço Físico Ouvidoria Institucional 
Living 360º 
faleconosco@pucrs.br 
 
 
LEPNEE (Laboratório de Ensino – Atendimento a pessoas com necessidades 
educacionais específicas) 
Living 360º 
Tel. (51) 3353-4700 
lepnee@pucrs.br 
 
 
LAPREN (Laboratório de Aprendizagem) 
Living 360º 
Tel. (51) 3320-3500 – Ramal 7759 
lapren@pucrs.br 
 
 
Escritório de Carreiras 
Living 360º 
Tel. (51) 3205-3141 
escritorio@carreiraspucrs.com.br 
 
 
 
 
 
mailto:cap.prac@pucrs.br
mailto:logos@pucrs.br
mailto:faleconosco@pucrs.br
mailto:lepnee@pucrs.br
mailto:lapren@pucrs.br
mailto:escritorio@carreiraspucrs.com.br
3 
 
 
Aula 01 - História e princípios 
1. História do Direito Falimentar - o Direito Concursal, similar ao nosso, se estruturou no 
Império romano. Naquela época foram criados diversos dos institutos que ainda 
são adotados no Direito Falimentar, inclusive a concordata. Durante a Idade 
Média foi criado o Direito Falimentar, como procedimento distinto da Insolvência, 
que é o procedimento concursal aplicável ao devedor comerciante. O Brasil 
adotou como Leis Falimentares: (a) Ordenações Afonsinas, Manuelinas e 
Filipinas; (b) Código Comercial/1850; (c) Decreto 917/1890; (d) Lei 859/1902; (e) 
Lei 2.024/1908; (f) Decreto 5746/1929; (g) Decreto-Lei 7661/1945; (h) Lei 
11.101/2005. 
 
2. Princípios relevantes do Direito Falimentar - são cinco os princípios relevantes do 
Direito Falimentar. Waldo Fazzio sustenta que também existe o princípio da 
viabilidade da empresa, mas a maior parte da doutrina afirma que não é um 
princípio, mas sim um requisito para se pedir recuperação judicial. 
 
2.1. Princípio da par conditio creditorum - significa que todos os credores devem ser 
tratados de forma igualitária através de um procedimento prestabelecido. Alguns 
credores podem receber antes de outros. Como exemplo, os credores 
trabalhistas recebem antes dos credores quirografários. No entanto, todos os 
credores trabalhistas devem receber na mesma proporção. Se um credor 
trabalhista tem um crédito de R$ 100.000,00 e recebeu 25% de seu crédito, outro 
credor trabalhista com crédito de R$ 10.000,00 também deve receber 25% de 
seu crédito. Alguns ordenamentos estrangeiros admitem que o credor que pediu 
a falência receba seu crédito com preferência sobre os demais, mas o Brasil não 
adota este critério. O recebimento paritário dos credores admite exceções na 
recuperação judicial (em razão de acordo entre credores e devedor) e na falência 
(em razão de habilitação retardatária). 
 
2.2. Princípio da publicidade - este princípio indica que deve ser dada publicidade aos 
atos na falência e na recuperação judicial. A lei prevê a publicação de inúmeros 
editais para informar que os credores podem se habilitar (art. 7º), informar que 
foi deferido o processamento da recuperação judicial (art. 52), que foi decretada 
a falência do devedor (art. 99), entre outras hipóteses. 
 
2.3. Princípio da maximização dos ativos - por este princípio, deve ser buscada a 
maximização dos ativos. Exemplos: (a) após a arrecadação dos bens, pode 
ocorrer a imediata venda do bem; (b) os bens podem ser vendidos por formas 
diversas daquelas previstas expressamente na lei, desde que preenchidos 
alguns requisitos. 
 
2.4. Princípio da relevância do interesse dos credores - o interesse dos credores deve 
ser observado, principalmente na recuperação judicial. 
 
2.5. Princípio da preservação da empresa - este princípio indica que a empresa deve ser 
preservada. Por este fundamento há inúmeras decisões na jurisprudência que 
afastam disposições legais expressas da Lei Falimentar. Como exemplos, o STJ: 
impôs limite de valor mínimo do débito para pedir falência, mesmo na lei antiga 
4 
 
que não continha tal previsão1; mitigou a livre tramitação da execução fiscal para 
atribuir competência ao juízo universal sobre os atos de alienação2; impôs a 
análise dos direitos do credor fiduciário pelo juízo falimentar3; estendeu o prazo 
de suspensão de 180 dias das ações individuais movidas contra a devedora em 
recuperação judicial4. 
 
 
 
 
 
 
1 STJ, 3ª Turma, AgRg no REsp n.º 997.234/SP, Rel. Desembargador Convocado Vasco Della Giustina, 
julgado em 15/03/2011, publicado em 21/03/2011: "AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. 
PEDIDO DE FALÊNCIA. ÉGIDE DO DL 7.661/45. DÉBITO DE PEQUENO VALOR. INADMISSIBILIDADE. 
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. RECURSO DESPROVIDO. 
1. A jurisprudência dominante desta Corte Superior é no sentido de que a decretação da falência, mesmo na 
sistemática da antiga Lei de Quebras (DL 7.661/45), apenas pode se dar quando a dívida não paga 
representar um valor considerável, haja vista a incidência do princípio da preservação da empresa. 
2. Agravo regimental a que se nega provimento." 
2 STJ, Segunda Seção, CC 114.987/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/03/2011, 
publicado em 23/03/2011: "CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXECUÇÃO 
FISCAL. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. 
1) Apesar de a execução fiscal não se suspender em face do deferimento do pedido de recuperação judicial(art. 6º, §7º, da LF n. 11.101/05, art. 187 do CTN e art. 29 da LF n. 6.830/80), submetem-se ao crivo do juízo 
universal os atos de alienação voltados contra o patrimônio social das sociedades empresárias em 
recuperação, em homenagem ao princípio da preservação da empresa. 
2) Precedentes específicos desta Segunda Secção. 
3) Conflito conhecido para declarar a competência do juízo de direito da 8a Vara Cível de São José do Rio 
Preto - SP para a análise dos atos constritivos sobre o ativo das empresas suscitantes." 
3 STJ, Segunda Seção, CC 110.392/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 24/11/2010, publicado em 
22/03/2011: "2. Na hipótese, porém, há peculiaridade que recomenda excepcionar a regra. É que o imóvel 
alienado fiduciariamente, objeto da ação de imissão de posse movida pelo credor ou proprietário fiduciário, é 
aquele em que situada a própria planta industrial da sociedade empresária sob recuperação judicial, 
mostrando-se indispensável à preservação da atividade econômica da devedora, sob pena de inviabilização 
da empresa e dos empregos ali gerados. 
3. Em casos que se pode ter como assemelhados, em ação de busca e apreensão de bem móvel referente à 
alienação fiduciária, a jurisprudência desta Corte admite flexibilização à regra, permitindo que permaneça com 
o devedor fiduciante " bem necessário à atividade produtiva do réu" (v. REsp 250.190-SP, Rel. Min. ALDIR 
PASSARINHO JÚNIOR, QUARTA TURMA, DJ 02/12/2002). 
4. Esse tratamento especial, que leva em conta o fato de o bem estar sendo empregado em benefício da 
coletividade, cumprindo sua função social (CF, arts. 5º, XXIV, e 170, III), não significa, porém, que o imóvel 
não possa ser entregue oportunamente ao credor fiduciário, mas sim que, em atendimento ao princípio da 
preservação da empresa (art. 47 da Lei 11.101/05), caberá ao Juízo da Recuperação Judicial processar e 
julgar a ação de imissão de posse, segundo prudente avaliação própria dessa instância ordinária." 
4 STJ, 1ª Seção, CC 79.170/SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 10/09/2008, publicado em 19/09/2008: 
"2. Deve-se interpretar o art. 6º desse diploma legal de modo sistemático com seus demais preceitos, 
especialmente à luz do princípio da preservação da empresa, insculpido no artigo 47, que preconiza: "A 
recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do 
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses 
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade 
econômica". 
3. No caso, o destino do patrimônio da empresa-ré em processo de recuperação judicial não pode ser atingido 
por decisões prolatadas por juízo diverso daquele da Recuperação, sob pena de prejudicar o funcionamento 
do estabelecimento, comprometendo o sucesso de seu plano de recuperação, ainda que ultrapassado o prazo 
legal de suspensão constante do § 4º do art. 6º, da Lei nº 11.101/05, sob pena de violar o princípio da 
continuidade da empresa." 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questões 
Verdadeiro ou falso 
1. o Direito Falimentar surgiu na idade média, mas já existia concurso de credores desde o 
império romano. 
2. pelo princípio da par conditio creditorum não se admite que nenhum credor possa 
receber menos que outro credor, independentemente da classe a que pertençam. 
3. como expressão do princípio da publicidade, consta ao longo de toda a lei falimentar uma 
série de hipóteses em que deverá ocorrer a publicação de editais para dar ciência de 
determinados atos a todos os interessados. 
4. através do princípio da maximização dos ativos, admite-se que se faça qualquer 
procedimento em que se suponha que seja alcançado o valor mais alto para os ativos da 
massa falida. 
5. pelo princípio da relevância do interesse dos credores, estes podem decidir pela falência 
do devedor. A decisão será soberana e, em regra, não poderá ser substituída por ordem 
judicial. 
6 
 
6. atualmente existe uma preocupação no Direito Falimentar em se buscar a preservação 
da empresa. 
 
Dissertativas 
1. esclareça o que é o princípio da par conditio creditorum. Dê um exemplo de sua 
aplicação. 
2. esclareça o que é o princípio da maximização dos ativos. Dê dois exemplos de sua 
aplicação. 
 
Respostas (verdadeiro ou falso) 
1. V 
2. F - admite-se que credores de classes diferentes recebam em disparidade, conforme 
disposto no art. 83 da Lei de Falências. Alguns ordenamentos jurídicos estrangeiros 
admitem que o credor que pediu a falência receba antes dos demais da mesma classe, sem 
importar em ofensa ao princípio da par conditio creditorum. 
3. V 
4. F - o princípio não importa em se admitir qualquer procedimento. 
5. V 
6. V 
 
Jurisprudência 
 
Sobre o princípio da par conditio creditorum: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
APROPRIAÇÃO DE VALORES PERTENCENTES À EMPRESA 
RECUPERANDA. COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO SUJEITO AO CONCURSO 
DE CREDORES. DESCABIMENTO. MULTA. POSSIBILIDADE. ..... 4.A 
pretensão de percepção de seu crédito através de compensação, mediante a 
apropriação de valores decorrentes de vendas efetuadas pela empresa em 
recuperação judicial aos seus clientes por intermédio dos cartões Hipercard, 
importaria em afronta o princípio da par conditio creditorum, isto é, a igualdade 
de tratamento entre os credores sujeitos ao favor creditício e diverso do plano de 
recuperação pretendido, o que é incabível. ...... Negado provimento ao agravo 
de instrumento. (Agravo de Instrumento Nº 70040898488, Quinta Câmara Cível, 
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 
25/05/2011) 
APELAÇÃO CÍVEL. FALÊNCIA E CONCORDATA. AÇÃO ANULATÓRIA DE 
TÍTULO. CONDENAÇÃO DA MASSA NOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. 
HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. NECESSIDADE DE PROCEDIMENTO PRÓPRIO 
PELO CREDOR. ..... 3.Entretanto, em que pese sejam os valores devidos, estes 
deverão ser objeto de habilitação no quaro geral de credores por seus titulares, 
em suas respectivas categorias, obedecendo ao princípio da par conditio 
creditorum, em feito próprio, perante o Juízo Falimentar, nos termos do art. 7º, § 
1º, da Lei 11.101/2005, de acordo com os requisitos a que alude o art. 9º do 
mesmo diploma legal. Negado provimento ao apelo. (Apelação Cível Nº 
70042649384, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge 
Luiz Lopes do Canto, Julgado em 29/06/2011) 
7 
 
Sobre o princípio da preservação da empresa: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA 
PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, NOS TERMOS DO ARTIGO 47, DA LEI 
FALIMENTAR. Tendo em vista o prejuízo irreversível que poderá causar com a 
inviabilização imediata do plano de recuperação judicial apresentado e 
conseqüente quebra da sociedade empresária, deve ser mantido o deferimento 
do processamento da recuperação judicial, em face do princípio da preservação 
da empresa, nos termos do artigo 47, da Lei Falimentar. Apesar da difícil situação 
econômica da empresa agravada, não se pode abortar, nesta fase, a 
possibilidade da empresa cumprir os contratos e realizar a sua função social 
buscando recursos em outras fontes como forma de viabilizar a sua permanência 
no meio econômico. A rescisão dos contratos de compra e venda de terreno e 
mútuo para a construção de unidades habitacionais, neste momento, 
inviabilizaria por completo qualquer chance de recuperação da empresa. 
AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 
70052212727, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Artur 
Arnildo Ludwig, Julgado em 20/06/2013) 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONVOLAÇÃO 
EM FALÊNCIA. NÃO APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO NO 
PRAZO DO ART. 53 DA LEI N.º 11.101/2005. Na hipótese, ainda que não 
observado o prazo legal para a apresentação do plano, deve prevalecer o 
princípio da princípio da preservação da empresa diante da viabilidadeeconômica da parte agravante. RECURSO PROVIDO. (Agravo de Instrumento 
Nº 70053584611, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Isabel Dias Almeida, Julgado em 24/04/2013) 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUSPENSÃO DO 
PRAZO DE 180 DIAS DAS AÇÕES E EXECUÇÕES. PRORROGAÇÃO DO 
PRAZO DEFERIDA. CASO CONCRETO. INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 6º DA 
LEI N.º 11.101/2005. 1. Da prova coligida aos autos é possível concluir que a 
recuperanda não contribuiu, no curso do feito, para o retardamento do 
procedimento. Verifica-se que a agravada vem cumprindo com as suas 
obrigações, e que, não raras vezes, o retardamento do procedimento se deu por 
razões outras, como, por exemplo, a dificuldade de arrolamento de todos os 
valores efetivamente devidos, pois se trata da recuperação judicial de três 
empresas com inúmeros credores cada uma. 2. Deste modo, na hipótese em 
comento, e em observância ao princípio da preservação da empresa, deve ser 
mantida a r. decisão judicial que deferiu a prorrogação do prazo de suspensão 
previsto no artigo 6º, §4º, da Lei de Falências, até a realização da Assembleia 
Geral de Credores. RECURSO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 
70051858157, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel 
Dias Almeida, Julgado em 27/03/2013) 
 
8 
 
 
Aula 02 - Elementos introdutórios do Direito Falimentar 
 
1. Situando os procedimentos 
 
1.1. Falência - função principal da falência é a arrecadação dos bens (ativos) do devedor 
para pagar os credores (passivo) através de procedimento prestabelecido. 
 
 
 
1.2. Recuperação judicial - função principal da recuperação judicial é buscar o 
reerguimento do devedor através de procedimento em que credores e devedor 
alcançam consenso ou maioria com plano para pagamento do passivo 
 
 
 
9 
 
 
1.3. Recuperação extrajudicial - trata-se de procedimento similar em alguns pontos à 
recuperação judicial. Embora seja denominado como extrajudicial pode ser 
homologado judicialmente. 
 
2. Autor do pedido de falência - a lei não restringe quem pode pedir falência do devedor. 
Embora o habitual seja a falência pedida por credor quirografário, poderia ser um 
credor trabalhista o autor deste pedido. O próprio devedor pode pedir sua 
falência (autofalência). 
 
2.1. Pode a Fazenda Pública pedir falência do devedor? - embora não haja limitação 
legal expressa, a jurisprudência posicionou-se pela impossibilidade da a 
Fazenda Pública pedir a falência do devedor. 
 
PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA FORMULADO PELA 
FAZENDA PÚBLICA COM BASE EM CRÉDITO FISCAL. 
ILEGITIMIDADE. FALTA DE INTERESSE. DOUTRINA. RECURSO 
DESACOLHIDO. 
I - Sem embargo dos respeitáveis fundamentos em sentido contrário, 
a Segunda Seção decidiu adotar o entendimento de que a Fazenda 
Pública não tem legitimidade, e nem interesse de agir, para requerer 
a falência do devedor fiscal. 
II - Na linha da legislação tributária e da doutrina especializada, a 
cobrança do tributo é atividade vinculada, devendo o fisco utilizar-se 
do instrumento afetado pela lei à satisfação do crédito tributário, a 
execução fiscal, que goza de especificidades e privilégios, não lhe 
sendo facultado pleitear a falência do devedor com base em tais 
créditos. (STJ, 2ª Seção, REsp n.º 164.389/MG, Rel. Min. Sálvio de 
Figueiredo Teixeira, julgado em 13/08/2003) 
 
3. Definição do devedor na falência e na recuperação - somente pode ser devedor na 
falência ou na recuperação judicial o empresário ou a sociedade empresária. Se 
o devedor não for empresário ou sociedade empresária, cabe o procedimento de 
insolvência previsto no CPC. 
 
3.1. Conceito de empresário 
 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o 
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da 
profissão constituir elemento de empresa. 
 
3.1.1. Exceções ao conceito de empresário - cooperativa nunca será empresária. 
Também jamais será empresária a sociedade que não tenha finalidade 
econômica (de lucro), como normalmente ocorre com as instituições de ensino. 
Há outras exceções. 
 
3.2. Existe sentido em se definir a falência em razão da natureza empresária da 
atividade? - alguns países não distinguem a natureza de empresário para definir 
10 
 
o procedimento concursal (falência ou insolvência). O Brasil segue o modelo 
francês, mas a França já abandonou esta distinção. 
 
3.3. Vedações de incidência do Direito Falimentar nas hipóteses do art. 2º da Lei de 
Falências - a LREF prevê que não é possível a sua incidência contra empresas 
públicas e sociedades de economia mista, mesmo que sejam empresárias. 
Também não há incidência contra as hipóteses do art. 2º, II, ex. instituição 
financeira, mas nestas hipóteses é possível a aplicação subsidiária da LREF em 
razão de previsão expressa em leis especiais. 
 
3.3.1. É inconstitucional este artigo? - alguns autores sustentam que é inconstitucional o 
art. 2º, em especial por dar tratamento diferenciado às empresas públicas e às 
sociedades de economia mista (contrário ao disposto no art. 173 da CF). A 
posição majoritária afirma que não há inconstitucionalidade. 
 
4. Competência - o pedido de falência ou de recuperação deverá ser processado no lugar 
do principal estabelecimento do devedor, assim entendido como aquele em que 
há maior volume de negócios. A sociedade estrangeira pode ter filiais no Brasil. 
Neste caso, será competente o lugar do principal estabelecimento do devedor 
no Brasil. Há entendimento divergente e minoritário que sustenta que o principal 
estabelecimento é aquele em que são tomadas as decisões. Tal posição não faz 
sentido, porque o processo deve tramitar onde presumivelmente está o maior 
número de credores (lugar de maior volume de negócios) 
 
5. Contagem de prazos 
 
RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ADVENTO 
DO CPC/2015. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. FORMA DE 
CONTAGEM DE PRAZOS NO MICROSSISTEMA DA LEI DE 
11.101/2005. CÔMPUTO EM DIAS CORRIDOS. SISTEMÁTICA E 
LOGICIDADE DO REGIME ESPECIAL DE RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL E FALÊNCIA. 
1. O Código de Processo Civil, na qualidade de lei geral, é, ainda que 
de forma subsidiária, a norma a espelhar o processo e o procedimento 
no direito pátrio, sendo normativo suplementar aos demais institutos 
do ordenamento. O novel diploma, aliás, é categórico em afirmar que 
"permanecem em vigor as disposições especiais dos 
procedimentos regulados em outras leis, as quais se aplicará 
supletivamente este Código" (art. 1046, § 2°). 
2. A Lei de Recuperação e Falência (Lei 11.101/2005), apesar de 
prever microssistema próprio, com específicos dispositivos sobre 
processo e procedimento, acabou explicitando, em seu art. 189, 
que, "no que couber", haverá incidência supletiva da lei adjetiva 
geral. 
3. A aplicação do CPC/2015, no âmbito do microssistema 
recuperacional e falimentar, deve ter cunho eminentemente 
excepcional, incidindo tão somente de forma subsidiária e supletiva, 
desde que se constate evidente compatibilidade com a natureza e 
o espírito do procedimento especial, dando-se sempre prevalência 
às regras e aos princípios específicos da Lei de Recuperação e 
Falência e com vistas a atender o desígnio da norma-princípio 
disposta no art. 47. 
11 
 
4. A forma de contagem do prazo - de 180 dias de suspensão das 
ações executivas e de 60 dias para a apresentação do plano de 
recuperação judicial - em dias corridos é a que melhor preserva a 
unidade lógica da recuperação judicial: alcançar, de forma célere, 
econômica e efetiva, o regime de crise empresarial, seja pelo 
soerguimento econômico do devedor e alívio dos sacrifícios do 
credor, na recuperação, seja pela liquidação dosativos e 
satisfação dos credores, na falência. 
5. O microssistema recuperacional e falimentar foi pensado em 
espectro lógico e sistemático peculiar, com previsão de uma sucessão 
de atos, em que a celeridade e a efetividade se impõem, com prazos 
próprios e específicos, que, via de regra, devem ser breves, 
peremptórios, inadiáveis e, por conseguinte, contínuos, sob pena de 
vulnerar a racionalidade e a unidade do sistema. 6. A adoção da 
forma de contagem prevista no Novo Código de Processo Civil, em 
dias úteis, para o âmbito da Lei 11.101/05, com base na distinção 
entre prazos processuais e materiais, revelar-se-á árdua e complexa, 
não existindo entendimento teórico satisfatório, com critério seguro 
e científico para tais discriminações. Além disso, acabaria por trazer 
perplexidades ao regime especial, com riscos a harmonia sistêmica 
da LRF, notadamente quando se pensar na velocidade exigida 
para a prática de alguns atos e na morosidade de outros, inclusive 
colocando em xeque a isonomia dos seus participantes, haja vista a 
dualidade de tratamento. 
7. Na hipótese, diante do exame sistemático dos mecanismos 
engendrados pela Lei de Recuperação e Falência, os prazos de 
180 dias de suspensão das ações executivas em face do devedor (art. 
6, § 4°) e de 60 dias para a apresentação do plano de recuperação 
judicial (art. 53, caput) deverão ser contados de forma contínua. 
8. Recurso especial não provido. (STJ, 4ª Turma, REsp n.º 
1.699.528/MG, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 
10/04/2018) 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
PRAZOS PROCESSUAIS. DIAS UTEIS. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA 
DO CPC. STAY PERIOD. PRAZO MATERIAL. TRANSCURSO DO 
PRAZO EM DIAS CORRIDOS. 1. O artigo 219, do CPC dispõe que a 
contagem dos prazos processuais considera somente os dias úteis. 
Assim, os prazos para apresentação de impugnações e habilitações 
devem observar o dispositivo processual aplicado ao procedimento 
especial. Inteligência do art. 189 do CPC. 2. O prazo de 180 dias do 
stay period previsto no artigo 6º, §4º, da Lei n.º 11.101/05 possui 
natureza material, motivo pelo qual é inaplicável o artigo 219, do CPC, 
que dispõe sobre a contagem dos prazos processuais em dias úteis. 
Precedentes. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Agravo de 
Instrumento Nº 70078403474, Quinta Câmara Cível, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 26/09/2018) 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
ARTIGOS 6º, § 4º, E 53, DA LEI Nº. 11.101/2005. PRAZOS DE 
NATUREZA MATERIAL. CONTAGEM EM DIAS CORRIDOS. Trata-
se de agravo de instrumento interposto em face da decisão proferida 
12 
 
pela magistrada a quo , que deferiu o processamento da recuperação 
judicial e, de conseguinte, determinou que a contagem de todos os 
prazos fossem realizados em dias úteis, na forma do disposto no 
artigo 219 do Novo Código de Processo Civil. O artigo 6º, §4º, da Lei 
nº. 11.101/05 dispõe que na recuperação judicial, a suspensão do 
curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do 
devedor em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 
180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento 
da recuperação. Por sua vez, o artigo 53, caput, estipula que o plano 
de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo de 
60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o 
processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em 
falência. No caso em comento, o agravante sustentou que a decisão 
recorrida não merece ser mantida, uma vez que arguiu que o prazo 
de 180 dias estipulado pela Juíza singular, de suspensão das ações 
e execuções movidas contra as Recuperandas, previsto no artigo 6º, 
§ 4º, da LRF, bem como os prazos para a apresentação do plano de 
pagamento e a realização da Assembleia Geral de Credores, devem 
ser considerados como prazos de direito material e serem contados 
em dias corridos, pelo que, pugnou pela reforma da decisão. O prazo 
de suspensão do curso da prescrição e de todas as ações e 
execuções (artigo 6º, §4º) e o prazo estipulado para apresentação do 
plano de recuperação em juízo (artigo 53, caput) não dizem respeito 
a atos processuais, razão pela qual não possuem natureza de direito 
processual, mas, sim, caráter de direito material, motivo pelo qual a 
contagem deve ser realizada em dias corridos. Dessa forma, 
imperiosa a reforma da decisão agravada, para determinar que os 
prazos referentes aos artigos 6º, §4º, e 53 da Lei nº. 11.101/05 sejam 
contados em dias corridos. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 
(Agravo de Instrumento Nº 70077526705, Sexta Câmara Cível, 
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado 
em 30/08/2018) 
 
Se não houver objeção, presume-se que os credores aceita 
ram o plano, se houver objeção, haverá assembleia geral 
de credores 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questões 
Verdadeiro ou falso 
1. somente os credores quirografários podem pedir a falência do devedor. 
2. o réu de pedido de falência deverá ser, em regra, o devedor empresário ou sociedade 
empresária. 
3. considera-se empresário o devedor que tem interesse superavitário, cabendo-lhe, 
portanto, o direito de pedir a recuperação judicial. 
4. conforme a doutrina majoritária, o art. 2º da Lei n.º 11.101/2005 é inconstitucional, visto 
que nenhum tipo de sociedade, como ocorre com a sociedade de economia mista, pode 
ser afastado da apreciação do poder judiciário. 
5. considera-se o principal estabelecimento do devedor, para efeitos de definição de 
competência, aquele que possui maior volume de negócios. 
6. pode ser utilizado o procedimento arbitral para pedir a falência do devedor. 
 
Dissertativas 
1. A Fazenda Pública pode pedir a falência do devedor? Esclareça e fundamente a sua 
resposta. 
2. Explique o conceito de empresário e todos os seus elementos. Qual é a relação entre o 
conceito de empresário e o direito falimentar? 
3. Como é definida a competência para o pedido de falência? E no caso de sociedades com 
mais de um estabelecimento? E no caso de sociedades estrangeiras com mais de um 
estabelecimento no Brasil? 
 
Respostas (verdadeiro ou falso) 
1. F - quase qualquer credor pode pedir a falência do devedor, independentemente de sua 
classificação. Existe controvérsia apenas no caso de ser credor a Fazenda Pública, que, 
embora não haja expressa vedação na Lei de Falências, formou-se jurisprudência pela 
impossibilidade. 
14 
 
2. F - o réu de pedido de falência deverá ser sempre o devedor empresário ou sociedade 
empresária. 
3. F - considera-se empresário o devedor que tem interesse econômico (finalidade de 
lucro), cabendo-lhe, portanto, o direito de pedir a recuperação judicial. 
4. F - conforme a doutrina majoritária, o art. 2º da Lei n.º 11.101/2005 é constitucional. 
5. V 
6. V 
 
 
 
 
Para aprofundar 
 
Mauro Rodrigues Penteado considera inconstitucional o art. 2º da Lei n.º 11.101/2005. Você 
concorda? 
 
"O caput do artigo padece, portanto, de manifesta imprecisão, como já foi sublinhado, pois 
a Lei 11.101/2005 é aplicável, no tocante à falência, a algumas das sociedades enumeradas 
no inc. II (quanto ao inc. I a matéria é, pelo menos, duvidosa) - que apenas não ingressam, 
de imediato, no processo judicial de execução coletiva empresarial, passando antes, por 
intervenção e liquidação extrajudicial. Porém, tal seja o desfecho da liquidação, ou a 
constatação de fatos que constituam crimes falimentares, no curso do processo 
administrativo, a falência poderá ser decretada, quando, então, a nova lei passará ser a 
elas aplicável ao reverso do que reza a cabeça do artigo, redigida sem qualquer ressalva 
quanto a esse aspecto. É o caso, por exemplo, das instituições financeiras, das entidades 
abertas, e mesmo algumas fechadas, de previdência privada, das sociedades operadoras 
de planos de saúde e das sociedades seguradoras (v. itens 25, 27, 28 e 29, abaixo).A cinca é mais grave, pois o dispositivo, ao menos em parte, padece de 
inconstitucionalidade, visto que, nos termos do art. 5º, inc. XXXV, da CF, a lei não pode 
excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, suscitada tanto através 
de ações ou execuções individuais, quanto de execuções coletivas, que será a falência, se 
os devedores forem empresários ou sociedades empresárias. E a falha é de todo 
injustificável, até porque há dispositivo constitucional declarando que as empresas ou 
entidades submetidas aos regimes de intervenção ou liquidação extrajudicial podem ter 
esses regimes convertidos em falência (art. 46, caput, do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias)." (PENTEADO, Mauro Rodrigues in SOUZA JÚNIOR, 
Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Comentários à lei de 
recuperação de empresas e falência. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 105) 
 
CF - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 
 
CF - Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de 
atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da 
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. 
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia 
mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou 
comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: 
15 
 
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos 
direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; 
 
ADCT - Art. 46. São sujeitos à correção monetária desde o vencimento, até seu efetivo 
pagamento, sem interrupção ou suspensão, os créditos junto a entidades submetidas aos 
regimes de intervenção ou liquidação extrajudicial, mesmo quando esses regimes sejam 
convertidos em falência. 
 
 
 
 
 
Jurisprudência 
 
Sobre a impossibilidade da Fazenda Pública pedir falência: 
 
TRIBUTÁRIO E COMERCIAL. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PROTESTO PRÉVIO. 
DESNECESSIDADE. PRESUNÇÃO DE CERTEZA E LIQUIDEZ. ART. 204 DO 
CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. FAZENDA PÚBLICA. AUSÊNCIA DE 
LEGITIMAÇÃO PARA REQUERER A FALÊNCIA DO COMERCIANTE 
CONTRIBUINTE. MEIO PRÓPRIO PARA COBRANÇA DO CRÉDITO 
TRIBUTÁRIO. LEI DE EXECUÇÕES FISCAIS. IMPOSSIBILIDADE DE 
SUBMISSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO AO REGIME DE CONCURSO 
UNIVERSAL PRÓPRIO DA FALÊNCIA. ARTS. 186 E 187 DO CTN. 
I - A Certidão de Dívida Ativa, a teor do que dispõe o art. 204 do CTN, goza de 
presunção de certeza e liquidez que somente pode ser afastada mediante 
apresentação de prova em contrário. 
II - A presunção legal que reveste o título emitido unilateralmente pela 
Administração Tributária serve tão somente para aparelhar o processo executivo 
fiscal, consoante estatui o art. 38 da Lei 6.830/80. (Lei de Execuções Fiscais) 
III - Dentro desse contexto, revela-se desnecessário o protesto prévio do título 
emitido pela Fazenda Pública. 
IV - Afigura-se impróprio o requerimento de falência do contribuinte comerciante 
pela Fazenda Pública, na medida em que esta dispõe de instrumento específico 
para cobrança do crédito tributário. 
V - Ademais, revela-se ilógico o pedido de quebra, seguido de sua decretação, 
para logo após informar-se ao Juízo que o crédito tributário não se submete ao 
concurso falimentar, consoante dicção do art. 187 do CTN. 
VI - O pedido de falência não pode servir de instrumento de coação moral para 
satisfação de crédito tributário. A referida coação resta configurada na medida 
em que o art. 11, § 2º, do Decreto-Lei 7.661/45 permite o depósito elisivo da 
falência. 
VII - Recurso especial improvido. (STJ, 1ª Turma, REsp n.º 287.824/MG, Rel. 
Min. Francisco Falcão, julgado em 20/10/2005) 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
Aula 03 - Classificação dos credores 
 
1. Classificação dos credores concursais (art. 83) - créditos são pagos na ordem abaixo 
mencionada na falência, conforme as possibilidades da massa falida 
 
LREF, Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à 
seguinte ordem: 
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 
(cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de 
acidentes de trabalho; 
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; 
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo 
de constituição, excetuadas as multas tributárias; 
IV – créditos com privilégio especial, a saber: 
a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; 
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo 
disposição contrária desta Lei; 
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a 
coisa dada em garantia; 
d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das 
microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei 
Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006 
V – créditos com privilégio geral, a saber: 
a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; 
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; 
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo 
disposição contrária desta Lei; 
VI – créditos quirografários, a saber: 
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; 
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6789599613072881714
17 
 
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos 
bens vinculados ao seu pagamento; 
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que 
excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; 
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das 
leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; 
VIII – créditos subordinados, a saber: 
a) os assim previstos em lei ou em contrato; 
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo 
empregatício. 
§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado 
como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente 
arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o 
valor de avaliação do bem individualmente considerado. 
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de 
sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação 
da sociedade. 
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas 
se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da 
falência. 
§ 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados 
quirografários. 
 
 
 
1.1. Créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho - são 
classificados como créditos trabalhistas aqueles decorrentes da legislação do 
trabalho (horas extras, etc). Por vezes, há controvérsias na doutrina e na 
jurisprudência, classificando-se como trabalhistas aqueles que são equiparados 
em razão da natureza alimentar (ex: FGTS cobrado pela CEF, honorários 
advocatícios, pensão decorrente de acidente de trânsito, etc). O crédito 
trabalhista é classificado aqui até o limite de 150 salários mínimos considerando 
18 
 
a data da falência. O excedente é quirografário. Os créditos decorrentes de 
acidente de trabalho não tem limite. 
 
1.2. Créditos com garantia real - são classificados aqui os créditos com garantia real 
(ex: hipoteca) até o limite do valor de venda do bem objeto de garantia. O 
excedente é crédito quirografário. Não são garantias reais a alienação fiduciária 
e o arrendamento mercantil. 
 
1.3. Créditos tributários, excetuadas as multas tributárias - são créditos tributários 
aqueles que decorrem de tributos. Observe-se que a União pode cobrar créditos 
de natureza civil (sem natureza tributária).As multas tributárias também não são 
computadas nesta categoria. 
 
1.4. Créditos com privilégio especial - são aqueles definidos em lei como crédito 
com privilégio especial. Ex: CC, art. 964, bem como oriundo de ME e EPP. 
 
LREF, Art. 83, IV, d) aqueles em favor dos microempreendedores 
individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de 
que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006 
 
CC, Art. 964. Têm privilégio especial: 
I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e 
despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; 
II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; 
III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias 
ou úteis; 
IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou 
quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou 
serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento; 
V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e 
serviços à cultura, ou à colheita; 
VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios 
rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do 
ano corrente e do anterior; 
VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o 
autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado 
contra aquele no contrato da edição; 
VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com 
o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda 
que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários. 
IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais. 
 
1.5. Créditos com privilégio geral - são aqueles definidos em lei como crédito com 
privilégio geral. Ex: CC, art. 965. 
 
CC, Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os 
bens do devedor: 
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do 
morto e o costume do lugar; 
II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação 
e liquidação da massa; 
19 
 
III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos 
filhos do devedor falecido, se foram moderadas; 
IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, 
no semestre anterior à sua morte; 
V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido 
e sua família, no trimestre anterior ao falecimento; 
VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano 
corrente e no anterior; 
VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do 
devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida; 
VIII - os demais créditos de privilégio geral. 
 
 
1.6. Créditos quirografários - são os excedentes dos créditos trabalhistas e com 
garantia real, bem como aqueles que não se enquadram em nenhuma hipótese 
(alcança-se a classificação por exclusão). 
 
1.7. Multas - são as multas contratuais, penais, administrativas e tributárias. Esta 
classificação não existe na recuperação judicial, apenas na falência. 
 
1.8. Créditos subordinados - são os créditos assim previstos em lei ou em contrato, 
bem como os créditos de sócios e de administradores sem vínculo empregatício. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Créditos extraconcursais (art. 84) - são pagos antes dos créditos concursais e na 
ordem abaixo mencionada. 
 
LREF, Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão 
pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, 
na ordem a seguir, os relativos a: 
20 
 
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, 
e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de 
acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a 
decretação da falência; 
II – quantias fornecidas à massa pelos credores; 
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e 
distribuição do seu produto, bem como custas do processo de 
falência; 
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa 
falida tenha sido vencida; 
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados 
durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou 
após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores 
ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem 
estabelecida no art. 83 desta Lei. 
 
 
 
2.1. Remuneração do administrador e seus auxiliares, bem como créditos 
decorrentes de legislação de trabalho e acidente de trabalho após a 
decretação da falência - administrador judicial é o primeiro a receber, inclusive 
antes dos créditos trabalhistas 
 
2.2. Quantias fornecidas à massa pelos credores - por vezes os credores adiantam 
valores para conservar bens 
 
2.3. Despesas com falência - despesas com arrecadação, administração, realização 
do ativo, distribuição do ativo e custas da falência 
 
2.4. Custas judiciais em ações em que a massa falida tenha sido vencida 
 
2.5. Obrigações contraídas durante a recuperação ou após a falência - Deve ser 
pago na ordem de classificação do art. 83, mas são todos extraconcursais do art. 
21 
 
84, V. Portanto, devem ser pagos após o art. 84, IV, mas antes de todos os 
concursais - Art. 84, V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos 
praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou 
após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos 
após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta 
Lei. - Art. 67. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor 
durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com 
fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados 
extraconcursais, em caso de decretação de falência, respeitada, no que couber, 
a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 Inclusão de crédito trabalhista na recuperação depende da data de sua constituição, não da sentença 
Créditos trabalhistas com origem em período anterior à recuperação judicial de uma empresa devem ser 
incluídos no quadro geral de credores, independentemente da data da sentença trabalhista que declarou seus 
valores. 
Com esse entendimento, os ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deram 
provimento ao recurso de uma empresa em recuperação para incluir os créditos trabalhistas em discussão 
no quadro geral de credores. 
Por maioria, o colegiado acompanhou o voto do ministro Marco Aurélio Bellizze e definiram a tese de que os 
créditos trabalhistas, mesmo aqueles que não foram ainda declarados judicialmente, devem se inserir no 
contexto da recuperação em curso. 
Constituição do crédito 
Para o ministro, o momento de constituição do crédito é a atividade laboral, e se esta for anterior à 
recuperação judicial, não há como afastar o comando previsto no artigo 49 da Lei 11.101/05. 
“Uma sentença que reconheça o direito do trabalhador em relação à aludida verba trabalhista certamente não 
constitui este crédito, apenas o declara. E, se este crédito foi constituído em momento anterior ao pedido de 
recuperação judicial, aos seus efeitos se encontra submetido, inarredavelmente”, afirmou Bellizze. 
A recuperação foi homologada em março de 2014, mas a ação trabalhista que discutia o pagamento de férias 
e FGTS a um dos empregados, ajuizada em janeiro de 2014, somente teve sentença em maio daquele ano. 
O entendimento do acórdão recorrido, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), é que a sentença 
que reconheceu o direito trabalhista deve ser considerada como origem dos créditos, o que inviabilizaria sua 
inclusão na recuperação. 
Sem privilégios 
Para Marco Aurélio Bellizze, não há justificativa para que os créditos trabalhistas em questão sejam 
classificados como extraconcursais, considerados como créditos privilegiados. Segundo o magistrado, tal 
privilégio vai de encontro aos fundamentos da legislação em vigor, que visam possibilitar a recuperação da 
empresa. 
“O tratamentoprivilegiado ofertado pela lei de regência aos créditos posteriores ao pedido de recuperação 
judicial tem por propósito, a um só tempo, viabilizar a continuidade do desenvolvimento da atividade da 
empresa em recuperação, bem como beneficiar os credores que contribuem ativamente para o soerguimento 
da empresa em crise”, justificou o ministro. 
REsp n.º 1.634.046/RS 
Fonte: 
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Inclus
%C3%A3o-de-cr%C3%A9dito-trabalhista-na-recupera%C3%A7%C3%A3o-depende-da-data-de-sua-
constitui%C3%A7%C3%A3o,-n%C3%A3o-da-senten%C3%A7a 
22 
 
 
3. Créditos que não participam ou são inexigíveis - alguns créditos não podem ser 
cobrados na falência e na recuperação judicial 
 
3.1. Hipóteses do art. 49, §3º - Não participa da recuperação judicial o "credor titular 
da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador 
mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos 
contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive 
em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com 
reserva de domínio" - as hipóteses mencionadas tem relação com credor que é 
"proprietário" do bem. Também não participam estes credores da falência 
(apenas pedem a devolução do bem e habilitam o saldo eventualmente 
existente). 
 
3.2. Hipóteses dos art. 85 e 86 - situação em que se procede a uma restituição do 
bem. Exemplo: X empresta um computador para Y. Após, é decretada a falência 
de Y e é arrecadado o computador que X emprestou para Y. X pede a restituição 
do computador alegando que lhe pertence (não precisa se sujeitar ao 
procedimento de habilitação. 
 
3.3. Crédito tributário nas recuperações judiciais (art. 6º, §7º) - O crédito tributário 
não se submete à recuperação judicial. Portanto, as execuções tributárias 
seguem normalmente. Há alguns precedentes judiciais que limitam os poderes 
do juiz da execução para promover penhoras contra o devedor em razão da 
possível afetação do plano da recuperação judicial. As execuções também não 
são suspensas na falência (art. 187 do CTN), mas o credor tributário ainda está 
submetido ao pagamento na ordem de classificação de seu crédito. Assim, caso 
a execução fiscal permaneça em andamento e consiga penhorar e leiloar bens 
de um devedor falido, deverá repassar o crédito para a massa falida para que 
distribua o dinheiro conforme a ordem de classificação. 
 
3.4. Pensão alimentícia - há duas espécies de pensão alimentícia. A pensão 
decorrente de parentesco (ex: alimentos devidos do pai para o filho) distingue-
se da pensão decorrente de ato ilícito (ex: alimentos em razão de invalidez 
permanente por acidente de trânsito). Há severas discussões sobre o tratamento 
da pensão alimentícia na falência. Embora não se possa assinalar uma posição 
predominante, parece mais razoável a posição que admite na falência apenas a 
pensão alimentícia decorrente de ato ilícito. 
 
3.5. Obrigações a título gratuito - "Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na 
recuperação judicial ou na falência: I – as obrigações a título gratuito;" - Ex: 
doação 
 
3.6. Despesas para tomar parte no processo - "Art. 5º Não são exigíveis do devedor, 
na recuperação judicial ou na falência: II – as despesas que os credores fizerem 
para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais 
decorrentes de litígio com o devedor." 
 
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questões 
Verdadeiro ou falso 
1. os créditos trabalhistas são privilegiados até o limite de 150 salários mínimos, 
considerando-se a data do pagamento. 
2. a cessão de créditos trabalhistas implica em sua classificação como quirografários. 
3. para fins de classificação na falência, a alienação fiduciária é um exemplo de garantia 
real. 
4. o crédito tributário não participa da recuperação judicial. 
5. o conceito de crédito quirografário é encontrado por exclusão. 
6. as multas contratuais recebem classificação independente tanto na falência quanto na 
recuperação. 
7. existe controvérsia doutrinária sobre a participação de pensão alimentícia na falência e 
na recuperação judicial. 
8. os créditos extraconcursais são pagos antes dos créditos trabalhistas. 
24 
 
9. os créditos extraconcursais originados de atos válidos praticados durante a recuperação 
judicial são classificados da mesma forma prevista para os créditos concursais. 
 
Dissertativas 
1. Esclareça como funciona a classificação dos créditos trabalhistas. Qual é a data utilizada 
para separar o crédito em duas classes? O que acontece com o crédito cedido? 
2. Esclareça como funciona a classificação dos créditos com garantia real. Qual é o critério 
utilizado para separar o crédito em duas classes? 
3. Conforme o conteúdo visto em aula, a pensão alimentícia participa da falência? Se sim, 
em qual(is) hipótese(s)? 
 
Respostas 
1. F - os créditos trabalhistas são privilegiados até o limite de 150 salários mínimos, 
considerando-se a data da decretação da quebra. 
2. V 
3. F - para fins de classificação na falência, a alienação fiduciária não é um exemplo de 
garantia real. 
4. V 
5. V 
6. F - as multas contratuais recebem classificação independente apenas na falência. 
7. V 
8. V 
9. V 
 
Para aprofundar 
Para Vera Helena de Mello Franco e Rachel Sztajn, tanto a pensão alimentícia decorrente 
de ilícito quanto a decorrente de parentesco participam da falência. Você concorda? 
"Com relação aos alimentos, porém, a questão não é tão simples, O fato de a lei não prever 
sua exclusão, na atual redação (art. 5º da LRE), autorizaria pudessem ser pedidas na 
falência do empresário individual? O não pagamento de alimentos autorizaria o pedido de 
falência? 
... 
Mas é linear que, se o alimentante tornou-se insolvente, ex vi do disposto na forma do art. 
1.694, § 1º, CCB, sua obrigação cessou, ainda quando exista sentença condenando-o a 
tanto. A regra no caso é a da congruência entre necessidade do alimentado e 
disponibilidade de recursos do alimentante. Tanto assim que poderá ingressar com um 
pedido de exoneração de pensão alimentícia e liberar-se do encargo. 
Situação distinta é a do devedor que, no afã de tutelar seus dependentes não se opõe a 
que estes peçam os alimentos devidos. Neste ponto o entendimento da doutrina atual é de 
que, quer derivem de ato ilícito, quer da relação de parentesco, são devidos e podem ser 
declarados como créditos na falência." (FRANCO, Vera Helena de Mello; SZTAJN, 
Rachel. Falência e recuperação da empresa em crise: comparação com as posições do 
Direito europeu. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 23-24.) 
 
Decreto-Lei n.º 7.661/1945 - Art. 23. Ao juízo da falência devem concorrer todos os credores 
do devedor comum, comerciais ou civis, alegando e provando os seus direitos. 
Parágrafo único. Não podem ser reclamados na falência: 
I - as obrigações a título gratuito e as prestações alimentícias; 
 
25 
 
Jurisprudência 
Julgado que equiparou honorários de advogado a crédito trabalhista (natureza alimentar). 
Era a posição predominante por volta de 2008: 
Direito civil e comercial. Falência. Classificação de créditos definida por sentença 
transitada em julgado. Rediscussão incidental, no processo de falência. 
Impossibilidade, dado o procedimento estabelecido pelo art. 99 do Decreto-lei nº 
7.661/41. Ausência de discussão do tema no acórdão recorrido. Limitação para 
a revisão da questão, pelo STJ. Honorários advocatícios. Verba de natureza 
alimentar. Precedente da Corte Especial. Tema pacificado. 
- A impossibilidade de rediscussão, incidentalmente, no processo de falência 
regido pelo Decreto-lei nº 7.661/41, da natureza de um crédito já habilitado por 
sentença transitada em julgado, não foi argüída perante o Tribunal, nem 
abordada pelo acórdão recorrido, de modo que, em sede de Recurso Especial, 
o tema não pode ser revisto. Precedentes. 
- A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em que pesealguma 
divergência recente, acabou por se pacificar em torno da consideração de que é 
alimentar a natureza da verba devida a título de honorários advocatícios, sejam 
contratuais, sejam de sucumbência. Entendimento firmado por ocasião do 
julgamento do EREsp nº 706.331/PR (Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 
em 20/2/2008). 
Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 3ª Turma, REsp n.º 798.241/RJ, 
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2008) 
 
Julgado que considerou honorários advocatícios como crédito privilegiado (posição 
atualmente predominante): 
MANDADO DE SEGURANÇA - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM LIQUIDAÇÃO 
EXTRAJUDICIAL - PRETENSÃO À INCLUSÃO DE HONORÁRIOS 
ADVOCATÍCIOS NO QUADRO GERAL DE CREDORES EM REGIME DE 
CRÉDITO ALIMENTAR - ILEGITIMIDADE PASSIVA DO PRESIDENTE DO 
BANCO CENTRAL PARA O MANDADO DE SEGURANÇA A DESPEITO O 
"WRIT" - INSANABILIDADE TAMBÉM CONTRA O LIQUIDANTE - 
SUPERVENIÊNCIA DE PROCEDÊNCIA DA AÇÃO RESCISÓRIA ANULANDO 
A SENTENÇA EM QUE FIXADOS OS HONORÁRIOS - AUSÊNCIA DE 
LIQUIDEZ E CERTEZA DO TÍTULO ALEGADO - CRÉDITOS BEM 
CLASSIFICADOS COMO PRIVILEGIADOS (LEI 8.906/94, ART. 24). 
[omissis] 
V - Se superadas as preliminares, inviável o privilegiamento como alimentar de 
crédito de vulto, muito superior a 5 Salários-Mínimos reservado para salários (Lei 
11.101/05, art. 151), o que feriria a isonomia entre os credores concursais, 
26 
 
devendo prevalecer, pois, a classificação apenas como crédito privilegiado, nos 
termos do art. 24 da Lei 8.906/94. 
[omissis] (STJ, 2ª Seção, MS 11.765/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 
08/09/2010) 
 
 
 
27 
 
 
Aula 04 - Administração da falência 
1. Órgãos da administração da falência 
 
1.1. Juiz (juiz é o personagem que decide diversas questões no processo. Contudo, 
não decide todas as questões, bem como não lhe cabe decidir sempre as 
questões mais importantes do processo. Exemplo: a decisão sobre a aprovação 
ou rejeição do plano de recuperação judicial cabe, a princípio, à assembleia de 
credores) 
 
1.2. Representante do Ministério Público - o MP atua como fiscal da lei nos 
processos de falência e de recuperação judicial. Diversos artigos da LREF 
informam que o MP deve ser intimado para se manifestar em situações 
específicas (ex: arts. 8º, 19, 30, 104, 132, 143, 154, etc.). O art. 4º previa uma 
ampla participação do MP em todas as etapas do processo, mas foi vetado por 
se compreender que o MP teria atribuições mais relevantes, sendo 
desnecessária a sua intervenção em todas as fases do processo. O STJ firmou 
posição que o MP pode intervir nas falências e recuperações sempre que 
entender conveniente, mesmo que inexista expressa previsão legal (REsp n.º 
1.230.431/SP). 
 
1.3. Administrador judicial 
 
1.3.1. Nomeação - "Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, 
preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou 
contador, ou pessoa jurídica especializada. Parágrafo único. Se o administrador 
judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 
33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de 
falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem 
autorização do juiz." 
 
1.3.2. Atribuições - "Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do 
juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – NA 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL E NA FALÊNCIA: a) enviar correspondência aos 
credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o 
inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, 
comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da 
falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito; b) fornecer, com 
presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados; c) dar 
extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de 
fundamento nas habilitações e impugnações de créditos; d) exigir dos credores, 
do devedor ou seus administradores quaisquer informações; e) elaborar a 
relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei; f) consolidar o quadro-
geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei; g) requerer ao juiz convocação 
da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando 
entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões; h) contratar, 
mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, 
quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções; i) manifestar-se nos 
casos previstos nesta Lei; II – NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL: a) fiscalizar as 
atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial; b) 
requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano 
28 
 
de recuperação; c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal 
das atividades do devedor; d) apresentar o relatório sobre a execução do plano 
de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei; III – NA 
FALÊNCIA: a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os 
credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido; b) examinar a 
escrituração do devedor; c) relacionar os processos e assumir a representação 
judicial da massa falida; d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, 
entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa; e) apresentar, 
no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, 
prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que 
conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e 
penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei; f) arrecadar os 
bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos 
dos arts. 108 e 110 desta Lei; g) avaliar os bens arrecadados; h) contratar 
avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a 
avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa; i) 
praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores; 
j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou 
sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou 
dispendiosa, nos termos do art. 113 desta Lei; l) praticar todos os atos 
conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a 
respectiva quitação; m) remir, em benefício da massa e mediante autorização 
judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos; n) representar a 
massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários 
serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; o) requerer 
todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta 
Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração; p) apresentar ao juiz 
para juntada aos autos, até o 10º (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta 
demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a 
despesa; q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa 
em seu poder, sob pena de responsabilidade; r) prestar contas ao final do 
processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo. ----- § 1º As 
remunerações dos auxiliares do administrador judicial serão fixadas pelo juiz, 
que considerará a complexidade dos trabalhos a serem executados e os valores 
praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. § 2º Na 
hipótese da alínea d do inciso I do caput deste artigo, se houver recusa, o juiz, a 
requerimento do administrador judicial, intimará aquelas pessoas para que 
compareçam à sede do juízo, sob pena de desobediência, oportunidade em que 
as interrogará na presença do administrador judicial, tomando seus depoimentos 
por escrito. § 3º Na falência, o administrador judicial não poderá, sem 
autorização judicial, após ouvidos o Comitê e o devedorno prazo comum de 2 
(dois) dias, transigir sobre obrigações e direitos da massa falida e conceder 
abatimento de dívidas, ainda que sejam consideradas de difícil recebimento. § 
4º Se o relatório de que trata a alínea e do inciso III do caput deste artigo apontar 
responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será 
intimado para tomar conhecimento de seu teor." 
 
1.3.3. Remuneração - "Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da 
remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento 
do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no 
mercado para o desempenho de atividades semelhantes. § 1º Em qualquer 
hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por 
29 
 
cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do 
valor de venda dos bens na falência. § 2º Será reservado 40% (quarenta por 
cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após 
atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei. § 3º O administrador 
judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, 
salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por 
desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, 
hipóteses em que não terá direito à remuneração. § 4º Também não terá direito 
a remuneração o administrador que tiver suas contas desaprovadas." 
 
1.3.4. Renúncia e destituição - Administrador judicial somente pode ser nomeado 
pelo magistrado que conduz o processo, visto que exerce funções como "braço 
direito" deste. A destituição do administrador somente pode ocorrer por decisão 
judicial, seja do juiz ou em grau de recurso (Desembargador, Ministro). Não é 
possível a destituição ou substituição de administrador por decisão da 
assembleia de credores. Alguns autores sustentam que cabe a destituição de 
administrador judicial pela assembleia de credores em razão da redação do art. 
37, §1º. No entanto, as atribuições neste sentido foram vetadas no art. 35, 
afigurando-se entendimento equivocado. 
 
1.4. Comitê de credores - órgão facultativo muito raro em falências e recuperações 
judiciais. 
 
1.4.1. Constituição e composição - Art. 26 - observe-se que a composição do comitê 
de credores não é idêntica a da assembleia de credores (art. 41) 
 
1.4.2. Atribuições - possui atribuições bastante vinculadas à fiscalização do 
procedimento 
 
1.5. Assembleia de credores 
 
 
 
30 
 
1.5.1. Atribuições - ver art. 35 - é órgão de funcionamento facultativo - a sua 
atribuição mais comum e mais importante é a de aprovar, rejeitar ou modificar 
plano de recuperação judicial. 
 
1.5.2. Requisitos de convocação - ver art. 36 - a ausência dos requisitos pode 
invalidar a assembleia 
 
1.5.3. Instalação da assembleia de credores - "Art. 37, §2º A assembléia instalar-
se-á, em 1ª (primeira) convocação, com a presença de credores titulares de mais 
da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em 2ª 
(segunda) convocação, com qualquer número." 
 
1.5.4. Representação por mandatário - Credores podem ser representados por 
mandatário, desde que comprove poderes ao administrador em até 24 horas 
antes da assembleia (art. 37, §4º). Sindicatos também podem representar os 
credores (art. 37, §§ 5º e 6º). A presença de mandatário com instruções pode 
gerar confusões na assembleia. Exemplificativamente, o credor instrui seu 
procurador a rejeitar certo plano. durante a assembleia, o plano é modificado. O 
procurador pode não saber se o plano deve ser aceito com as modificações 
sugeridas. Pode ser necessário suspender a assembleia por esta razão. 
 
1.5.5. Credores aptos a votar - art. 39 - somente podem votar os credores habilitados 
até o momento da votação. Ver aula sobre classificação de créditos. Aqueles 
que não participam da recuperação judicial ou da falência não podem votar. 
Também não votam os créditos que não forem afetados pelo plano de 
recuperação judicial. Podem votar os credores com reserva de crédito, 
observado o disposto no art. 10, §§ 1º e 2º (trabalhista sempre vota e as demais 
classes após a homologação - reserva induz à ideia de que é crédito 
retardatário). 
 
1.5.5.3. Credores que não votam em razão de conflito de interesses - "Art. 43. Os 
sócios do devedor, bem como as sociedades coligadas, controladoras, 
controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação superior a 
10% (dez por cento) do capital social do devedor ou em que o devedor ou algum 
de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital 
social, poderão participar da assembléia-geral de credores, sem ter direito a voto 
e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de 
deliberação. Parágrafo único. O disposto neste artigo também se aplica ao 
cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, colateral até o 2º (segundo) grau, 
ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, 
de membro dos conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade 
devedora e à sociedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas 
funções." - Hipóteses normalmente vinculadas a qualidade de sócio ou parente. 
 
1.5.6. Hipóteses de invalidade da assembleia de credores - A lei não admite a 
invalidade de assembleia em razão de existência, quantificação ou classificação 
de créditos (art. 39, §2º). Admite-se na doutrina que se invalide assembleia em 
razão de dolo (ex: crédito fraudulento), se for determinante para a votação. 
 
1.5.7. Medidas liminares em assembleia de credores - "Art. 40. Não será deferido 
provimento liminar, de caráter cautelar ou antecipatório dos efeitos da tutela, 
para a suspensão ou adiamento da assembléia-geral de credores em razão de 
31 
 
pendência de discussão acerca da existência, da quantificação ou da 
classificação de créditos." - Caso haja dúvida sobre existência, quantificação ou 
classificação de crédito, não cabe suspender ou adiar a assembleia, mas pedir 
ordem judicial urgente para alterar crédito para a assembleia. Muitos autores 
dizem que este artigo é inconstitucional ou de constitucionalidade duvidosa. A 
opinião predominante é de que inexiste inconstitucionalidade. 
 
1.5.8. Requisitos de aprovação nas assembleias de credores - "Art. 42. 
Considerar-se-á aprovada a proposta que obtiver votos favoráveis de credores 
que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à 
assembléia-geral, exceto nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial 
nos termos da alínea a do inciso I do caput do art. 35 desta Lei, a composição 
do Comitê de Credores ou forma alternativa de realização do ativo nos termos 
do art. 145 desta Lei." 
 
1.5.9. Requisitos de aprovação nas assembleias de forma alternativa de 
realização de ativo - "Art. 46. A aprovação de forma alternativa de realização 
do ativo na falência, prevista no art. 145 desta Lei, dependerá do voto favorável 
de credores que representem 2/3 (dois terços) dos créditos presentes à 
assembléia." 
 
1.5.10. Requisitos de aprovação nas assembleias de credores na hipótese de 
deliberação sobre plano de recuperação judicial - ver divisão dos credores 
do art. 41 da LREF - A legislação não expressa se o voto de má-fé do credor 
deve ser afastado, criando generalizada dúvida na doutrina. A posição mais 
adequada (e majoritária) indica que o credor não pode votar em interesse próprio 
(ex: rejeita plano porque é sócio de empresa concorrente). 
 
 
 
1.5.10.1. Requisitos conforme art. 45 da Lei de Falências - "Art. 45. Nas 
deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores 
referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta. § 1º Em cada uma das 
32 
 
classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser 
aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos 
créditos presentes à assembléia e, cumulativamente, pelamaioria simples dos 
credores presentes. § 2º Na classe prevista no inciso I do art. 41 desta Lei, a 
proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, 
independentemente do valor de seu crédito. § 3º O credor não terá direito a voto 
e não será considerado para fins de verificação de quorum de deliberação se o 
plano de recuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de 
pagamento de seu crédito." - Maioria dos credores presentes também é 
chamado de voto por cabeça. Maioria dos créditos também é chamado de voto 
por crédito. A necessidade de aprovação nos dois critérios é também 
denominado de dupla maioria. Apenas os credores trabalhistas e decorrentes de 
acidente de trabalho votam por cabeça. 
 
1.5.10.2. Requisitos conforme art. 58, §1º da Lei de Falências - "Art. 58. Cumpridas 
as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo 
plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou 
tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta 
Lei. § 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que 
não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma 
assembléia, tenha obtido, de forma cumulativa: I – o voto favorável de credores 
que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à 
assembléia, independentemente de classes; II – a aprovação de 2 (duas) das 
classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 
(duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) 
delas; III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um 
terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei. § 
2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste 
artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da 
classe que o houver rejeitado." - Há controvérsia na doutrina sobre o que significa 
o poderá conceder. A jurisprudência tem admitido que o voto do credor único de 
uma classe não pode levar à falência do devedor em recuperação judicial. Assim, 
a maioria de mais de um terço do III do art. 58, §1º pode ser afastada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questões 
Verdadeiro ou falso 
1. o magistrado é peça central no Direito Falimentar e concentra sobre suas pessoa todas 
as decisões importantes em falências e recuperações judiciais. 
2. o representante do Ministério Público não está obrigado a participar do processo em 
todas as etapas da falência e da recuperação judicial. 
3. o representante do Ministério Público somente deve intervir em feitos falimentares nas 
hipóteses expressamente previstas em lei, sob pena de nulidade. 
4. o administrador judicial exerce funções focadas quase somente em fiscalização nas 
recuperações judiciais. 
5. o administrador judicial pode ser destituído pelos credores. 
6. o comitê de credores é órgão obrigatório nas falências e nas recuperações judiciais. 
7. toda recuperação judicial deverá passar necessariamente por, pelo menos, uma 
assembleia-geral de credores. 
 
Dissertativas 
1. Esclareça como funciona a participação do Ministério Público na falência e na 
recuperação judicial. Cite dois exemplos em que o Ministério Público deve ser intimado. 
34 
 
Quais são os efeitos da intervenção do Ministério Público sem que haja previsão legal 
específica? 
2. Esclareça quais são os critérios de nomeação do administrador judicial. Quem pode 
nomear o administrador? Os credores podem destituir o administrador? 
 
Respostas (verdadeiro ou falso) 
1. F - o magistrado é peça central no Direito Falimentar e concentra sobre suas pessoa 
muitas decisões importantes em falências e recuperações judiciais. 
2. V 
3. F - segundo o STJ, o representante do Ministério Público somente deve intervir em feitos 
falimentares nas hipóteses expressamente previstas em lei nos casos em que sua 
intervenção causar tumulto processual. 
4. V 
5. F - os credores não podem destituir o administrador judicial (ver material referente a esta 
aula). 
6. F - o comitê de credores é órgão facultativo nas falências e nas recuperações judiciais. 
7. F - a recuperação judicial pode passar pela assembleia-geral de credores (não é 
obrigatório). 
 
Para aprofundar 
Os juristas divergem sobre quem presidirá a assembleia de credores em caso de suposto 
conflito de interesses do administrador judicial. Qual autor tem razão? 
 
A assembleia será presidida, necessariamente, pelo administrador judicial e secretariada 
por um dos credores presentes[1]. Fábio Ulhoa Coelho diverge e sustenta que "se ele 
[administrador] não estiver presente, com ou sem motivo justificável... o presidente será o 
credor presente que titule o crédito de maior valor"[2]. Modesto Carvalhosa entende que o 
administrador judicial não poderá presidir a assembleia nos casos em que ocorrer conflito 
de interesses[3]. Em oposição, com razão esclarece Erasmo Valladão que as hipóteses 
vislumbradas pela doutrina de conflito de interesses - como o afastamento do administrador 
- não são passíveis de decisão pela assembleia[4], tratando-se de equívoco doutrinário. 
 
 
[1] FRANÇA, Erasmo Valladão A. e N. in SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, 
Antônio Sérgio A de Moraes (Coord.). Comentários à lei de recuperação de empresas e 
falência. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 203. 
 
[2] COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de 
empresas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 90. 
 
[3] Neste sentido: CARVALHOSA, Modesto in CORRÊA-LIMA, Osmar Brina; LIMA, Sérgio 
Mourão Corrêa (Coord.). Comentários à nova lei de falência e recuperação de empresas: 
Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 268. 
 
[4] FRANÇA, Erasmo Valladão A. e N. in SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, 
Antônio Sérgio A de Moraes (Coord.). Comentários à lei de recuperação de empresas e 
falência. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 205. 
 
Jurisprudência 
Sobre o cram down: 
35 
 
Verificados os pressupostos legais, conheço do recurso intentado para o exame 
da questão suscitada. 
Tenho que a brilhante e criteriosa a decisão do Magistrado a quo não merece 
reforma. 
Com efeito, o fato de o agravante, Banco do Brasil S/A, ser o detentor da 
supremacia dos créditos com garantia real, alcançando a expressiva soma de 
R$ 1.024.752,64, superando o crédito do único outro credor desta classe, a 
Caixa RS Fomento Econômico S/A, no montante de R$ 74.295,46, não pode se 
constituir em poder absoluto para obstar a recuperação judicial das empresas, 
impedindo seu saneamento e investindo contra o próprio espírito da Lei nº 
11.101/05. 
Não escapa que na Assembléia de Credores o plano foi aprovado por duas de 
suas classes, os trabalhistas e quirografários, sendo rejeitada pelos de garantia 
real, o que, nos termos do art. 45 da Lei de Recuperação Judicial, levou à 
aplicabilidade do quanto disposto no inc. III do § 1º do art. 58 da Lei de Falências. 
É certo que a previsão do mencionado art. 58 foi abrandada pelo digno Juízo 
singular, sob pena de restar inviabilizada a aprovação do plano, haja vista, como 
já referido, apenas dois credores estarem contemplados na classe em que o 
Banco do Brasil S/A detém crédito sobejamente superior. 
Entretanto, bem destacou o Juízo singular que o ora agravante, por ocasião da 
Assembléia de Credores, a despeito da supremacia de seu crédito, sequer 
explicitou as razões da não aceitação das propostas apresentadas. 
Evidentemente que, mantida tal rejeição, restaria inviabilizada a recuperação das 
empresas, obstando-se a manutenção de suas atividades e, consequentemente, 
o pagamento de seus débitos. 
Calha transcrever o seguinte excerto do irretocável parecer ofertado pelo ilustre 
Procurador de Justiça junto a este Colegiado, Dr. Antônio Augusto Vergara 
Cerqueira, porquanto bem observou a situação

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