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1 André Fernandes Estevez Professor de Direito Empresarial na PUCRS. Doutor em Direito Comercial pela USP. Mestre em Direito Privado pela UFRGS. Advogado. http://andreestevez.blogspot.com - andre@estevez.adv.br Acompanhe as notícias de Direito Empresarial em Direito Empresarial PUCRS www.facebook.com/direitoempresarialpucrs Cadastre-se no mailing: http://tinyurl.com/mailingempresarial Questões extraídas do site www.qconcursos.com.br Direito Empresarial IV (Recuperação de Empresas e Falências) (atualizado em 31/07/2019) Sumário Aula 01 - História e princípios ...................................................................................................................... 3 Aula 02 - Elementos introdutórios do Direito Falimentar .......................................................................... 8 Aula 03 - Classificação dos credores........................................................................................................ 16 Aula 04 - Administração da falência.......................................................................................................... 27 Aula 05 - Recuperação judicial (pedido e processamento) ................................................................... 37 Aula 06 - Recuperação judicial com plano especial e recuperação extrajudicial ............................... 44 Aula 07 - Pedido de falência, processamento e autofalência ................................................................ 49 Aula 08 - Sentença e recursos cabíveis ................................................................................................... 56 Aula 09 - Efeitos da sentença falimentar .................................................................................................. 62 Aula 10 - Declaração de crédito ................................................................................................................ 66 Aula 11 - Responsabilidade pessoal - extensão da falência ................................................................. 71 Aula 12 - Interesses patrimoniais de terceiros ........................................................................................ 75 Aula 13 - Realização de ativo e liquidação de passivo - encerramento da falência .......................... 81 Aula 14 - Crimes falimentares - disposições finais ................................................................................. 84 http://andreestevez.blogspot.com/ mailto:andre@estevez.adv.br http://www.facebook.com/direitoempresarial http://tinyurl.com/mailingempresarial http://www.qconcursos.com.br/ 2 ESTRUTURAS UNIVERSITÁRIAS DE APOIO CAP (Centro de Atenção Psicossocial) Living 360º Tel (51) 3320-3703 cap.prac@pucrs.br LOGOS (Aprendizagem sem Fronteiras) Living 360º Tel. 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Durante a Idade Média foi criado o Direito Falimentar, como procedimento distinto da Insolvência, que é o procedimento concursal aplicável ao devedor comerciante. O Brasil adotou como Leis Falimentares: (a) Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas; (b) Código Comercial/1850; (c) Decreto 917/1890; (d) Lei 859/1902; (e) Lei 2.024/1908; (f) Decreto 5746/1929; (g) Decreto-Lei 7661/1945; (h) Lei 11.101/2005. 2. Princípios relevantes do Direito Falimentar - são cinco os princípios relevantes do Direito Falimentar. Waldo Fazzio sustenta que também existe o princípio da viabilidade da empresa, mas a maior parte da doutrina afirma que não é um princípio, mas sim um requisito para se pedir recuperação judicial. 2.1. Princípio da par conditio creditorum - significa que todos os credores devem ser tratados de forma igualitária através de um procedimento prestabelecido. Alguns credores podem receber antes de outros. Como exemplo, os credores trabalhistas recebem antes dos credores quirografários. No entanto, todos os credores trabalhistas devem receber na mesma proporção. Se um credor trabalhista tem um crédito de R$ 100.000,00 e recebeu 25% de seu crédito, outro credor trabalhista com crédito de R$ 10.000,00 também deve receber 25% de seu crédito. Alguns ordenamentos estrangeiros admitem que o credor que pediu a falência receba seu crédito com preferência sobre os demais, mas o Brasil não adota este critério. O recebimento paritário dos credores admite exceções na recuperação judicial (em razão de acordo entre credores e devedor) e na falência (em razão de habilitação retardatária). 2.2. Princípio da publicidade - este princípio indica que deve ser dada publicidade aos atos na falência e na recuperação judicial. A lei prevê a publicação de inúmeros editais para informar que os credores podem se habilitar (art. 7º), informar que foi deferido o processamento da recuperação judicial (art. 52), que foi decretada a falência do devedor (art. 99), entre outras hipóteses. 2.3. Princípio da maximização dos ativos - por este princípio, deve ser buscada a maximização dos ativos. Exemplos: (a) após a arrecadação dos bens, pode ocorrer a imediata venda do bem; (b) os bens podem ser vendidos por formas diversas daquelas previstas expressamente na lei, desde que preenchidos alguns requisitos. 2.4. Princípio da relevância do interesse dos credores - o interesse dos credores deve ser observado, principalmente na recuperação judicial. 2.5. Princípio da preservação da empresa - este princípio indica que a empresa deve ser preservada. Por este fundamento há inúmeras decisões na jurisprudência que afastam disposições legais expressas da Lei Falimentar. Como exemplos, o STJ: impôs limite de valor mínimo do débito para pedir falência, mesmo na lei antiga 4 que não continha tal previsão1; mitigou a livre tramitação da execução fiscal para atribuir competência ao juízo universal sobre os atos de alienação2; impôs a análise dos direitos do credor fiduciário pelo juízo falimentar3; estendeu o prazo de suspensão de 180 dias das ações individuais movidas contra a devedora em recuperação judicial4. 1 STJ, 3ª Turma, AgRg no REsp n.º 997.234/SP, Rel. Desembargador Convocado Vasco Della Giustina, julgado em 15/03/2011, publicado em 21/03/2011: "AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE FALÊNCIA. ÉGIDE DO DL 7.661/45. DÉBITO DE PEQUENO VALOR. INADMISSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência dominante desta Corte Superior é no sentido de que a decretação da falência, mesmo na sistemática da antiga Lei de Quebras (DL 7.661/45), apenas pode se dar quando a dívida não paga representar um valor considerável, haja vista a incidência do princípio da preservação da empresa. 2. Agravo regimental a que se nega provimento." 2 STJ, Segunda Seção, CC 114.987/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/03/2011, publicado em 23/03/2011: "CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXECUÇÃO FISCAL. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. 1) Apesar de a execução fiscal não se suspender em face do deferimento do pedido de recuperação judicial(art. 6º, §7º, da LF n. 11.101/05, art. 187 do CTN e art. 29 da LF n. 6.830/80), submetem-se ao crivo do juízo universal os atos de alienação voltados contra o patrimônio social das sociedades empresárias em recuperação, em homenagem ao princípio da preservação da empresa. 2) Precedentes específicos desta Segunda Secção. 3) Conflito conhecido para declarar a competência do juízo de direito da 8a Vara Cível de São José do Rio Preto - SP para a análise dos atos constritivos sobre o ativo das empresas suscitantes." 3 STJ, Segunda Seção, CC 110.392/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 24/11/2010, publicado em 22/03/2011: "2. Na hipótese, porém, há peculiaridade que recomenda excepcionar a regra. É que o imóvel alienado fiduciariamente, objeto da ação de imissão de posse movida pelo credor ou proprietário fiduciário, é aquele em que situada a própria planta industrial da sociedade empresária sob recuperação judicial, mostrando-se indispensável à preservação da atividade econômica da devedora, sob pena de inviabilização da empresa e dos empregos ali gerados. 3. Em casos que se pode ter como assemelhados, em ação de busca e apreensão de bem móvel referente à alienação fiduciária, a jurisprudência desta Corte admite flexibilização à regra, permitindo que permaneça com o devedor fiduciante " bem necessário à atividade produtiva do réu" (v. REsp 250.190-SP, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JÚNIOR, QUARTA TURMA, DJ 02/12/2002). 4. Esse tratamento especial, que leva em conta o fato de o bem estar sendo empregado em benefício da coletividade, cumprindo sua função social (CF, arts. 5º, XXIV, e 170, III), não significa, porém, que o imóvel não possa ser entregue oportunamente ao credor fiduciário, mas sim que, em atendimento ao princípio da preservação da empresa (art. 47 da Lei 11.101/05), caberá ao Juízo da Recuperação Judicial processar e julgar a ação de imissão de posse, segundo prudente avaliação própria dessa instância ordinária." 4 STJ, 1ª Seção, CC 79.170/SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 10/09/2008, publicado em 19/09/2008: "2. Deve-se interpretar o art. 6º desse diploma legal de modo sistemático com seus demais preceitos, especialmente à luz do princípio da preservação da empresa, insculpido no artigo 47, que preconiza: "A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica". 3. No caso, o destino do patrimônio da empresa-ré em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele da Recuperação, sob pena de prejudicar o funcionamento do estabelecimento, comprometendo o sucesso de seu plano de recuperação, ainda que ultrapassado o prazo legal de suspensão constante do § 4º do art. 6º, da Lei nº 11.101/05, sob pena de violar o princípio da continuidade da empresa." 5 Questões Verdadeiro ou falso 1. o Direito Falimentar surgiu na idade média, mas já existia concurso de credores desde o império romano. 2. pelo princípio da par conditio creditorum não se admite que nenhum credor possa receber menos que outro credor, independentemente da classe a que pertençam. 3. como expressão do princípio da publicidade, consta ao longo de toda a lei falimentar uma série de hipóteses em que deverá ocorrer a publicação de editais para dar ciência de determinados atos a todos os interessados. 4. através do princípio da maximização dos ativos, admite-se que se faça qualquer procedimento em que se suponha que seja alcançado o valor mais alto para os ativos da massa falida. 5. pelo princípio da relevância do interesse dos credores, estes podem decidir pela falência do devedor. A decisão será soberana e, em regra, não poderá ser substituída por ordem judicial. 6 6. atualmente existe uma preocupação no Direito Falimentar em se buscar a preservação da empresa. Dissertativas 1. esclareça o que é o princípio da par conditio creditorum. Dê um exemplo de sua aplicação. 2. esclareça o que é o princípio da maximização dos ativos. Dê dois exemplos de sua aplicação. Respostas (verdadeiro ou falso) 1. V 2. F - admite-se que credores de classes diferentes recebam em disparidade, conforme disposto no art. 83 da Lei de Falências. Alguns ordenamentos jurídicos estrangeiros admitem que o credor que pediu a falência receba antes dos demais da mesma classe, sem importar em ofensa ao princípio da par conditio creditorum. 3. V 4. F - o princípio não importa em se admitir qualquer procedimento. 5. V 6. V Jurisprudência Sobre o princípio da par conditio creditorum: AGRAVO DE INSTRUMENTO. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROPRIAÇÃO DE VALORES PERTENCENTES À EMPRESA RECUPERANDA. COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO SUJEITO AO CONCURSO DE CREDORES. DESCABIMENTO. MULTA. POSSIBILIDADE. ..... 4.A pretensão de percepção de seu crédito através de compensação, mediante a apropriação de valores decorrentes de vendas efetuadas pela empresa em recuperação judicial aos seus clientes por intermédio dos cartões Hipercard, importaria em afronta o princípio da par conditio creditorum, isto é, a igualdade de tratamento entre os credores sujeitos ao favor creditício e diverso do plano de recuperação pretendido, o que é incabível. ...... Negado provimento ao agravo de instrumento. (Agravo de Instrumento Nº 70040898488, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 25/05/2011) APELAÇÃO CÍVEL. FALÊNCIA E CONCORDATA. AÇÃO ANULATÓRIA DE TÍTULO. CONDENAÇÃO DA MASSA NOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. NECESSIDADE DE PROCEDIMENTO PRÓPRIO PELO CREDOR. ..... 3.Entretanto, em que pese sejam os valores devidos, estes deverão ser objeto de habilitação no quaro geral de credores por seus titulares, em suas respectivas categorias, obedecendo ao princípio da par conditio creditorum, em feito próprio, perante o Juízo Falimentar, nos termos do art. 7º, § 1º, da Lei 11.101/2005, de acordo com os requisitos a que alude o art. 9º do mesmo diploma legal. Negado provimento ao apelo. (Apelação Cível Nº 70042649384, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 29/06/2011) 7 Sobre o princípio da preservação da empresa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, NOS TERMOS DO ARTIGO 47, DA LEI FALIMENTAR. Tendo em vista o prejuízo irreversível que poderá causar com a inviabilização imediata do plano de recuperação judicial apresentado e conseqüente quebra da sociedade empresária, deve ser mantido o deferimento do processamento da recuperação judicial, em face do princípio da preservação da empresa, nos termos do artigo 47, da Lei Falimentar. Apesar da difícil situação econômica da empresa agravada, não se pode abortar, nesta fase, a possibilidade da empresa cumprir os contratos e realizar a sua função social buscando recursos em outras fontes como forma de viabilizar a sua permanência no meio econômico. A rescisão dos contratos de compra e venda de terreno e mútuo para a construção de unidades habitacionais, neste momento, inviabilizaria por completo qualquer chance de recuperação da empresa. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70052212727, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Artur Arnildo Ludwig, Julgado em 20/06/2013) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA. NÃO APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO NO PRAZO DO ART. 53 DA LEI N.º 11.101/2005. Na hipótese, ainda que não observado o prazo legal para a apresentação do plano, deve prevalecer o princípio da princípio da preservação da empresa diante da viabilidadeeconômica da parte agravante. RECURSO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70053584611, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 24/04/2013) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUSPENSÃO DO PRAZO DE 180 DIAS DAS AÇÕES E EXECUÇÕES. PRORROGAÇÃO DO PRAZO DEFERIDA. CASO CONCRETO. INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 6º DA LEI N.º 11.101/2005. 1. Da prova coligida aos autos é possível concluir que a recuperanda não contribuiu, no curso do feito, para o retardamento do procedimento. Verifica-se que a agravada vem cumprindo com as suas obrigações, e que, não raras vezes, o retardamento do procedimento se deu por razões outras, como, por exemplo, a dificuldade de arrolamento de todos os valores efetivamente devidos, pois se trata da recuperação judicial de três empresas com inúmeros credores cada uma. 2. Deste modo, na hipótese em comento, e em observância ao princípio da preservação da empresa, deve ser mantida a r. decisão judicial que deferiu a prorrogação do prazo de suspensão previsto no artigo 6º, §4º, da Lei de Falências, até a realização da Assembleia Geral de Credores. RECURSO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70051858157, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 27/03/2013) 8 Aula 02 - Elementos introdutórios do Direito Falimentar 1. Situando os procedimentos 1.1. Falência - função principal da falência é a arrecadação dos bens (ativos) do devedor para pagar os credores (passivo) através de procedimento prestabelecido. 1.2. Recuperação judicial - função principal da recuperação judicial é buscar o reerguimento do devedor através de procedimento em que credores e devedor alcançam consenso ou maioria com plano para pagamento do passivo 9 1.3. Recuperação extrajudicial - trata-se de procedimento similar em alguns pontos à recuperação judicial. Embora seja denominado como extrajudicial pode ser homologado judicialmente. 2. Autor do pedido de falência - a lei não restringe quem pode pedir falência do devedor. Embora o habitual seja a falência pedida por credor quirografário, poderia ser um credor trabalhista o autor deste pedido. O próprio devedor pode pedir sua falência (autofalência). 2.1. Pode a Fazenda Pública pedir falência do devedor? - embora não haja limitação legal expressa, a jurisprudência posicionou-se pela impossibilidade da a Fazenda Pública pedir a falência do devedor. PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA FORMULADO PELA FAZENDA PÚBLICA COM BASE EM CRÉDITO FISCAL. ILEGITIMIDADE. FALTA DE INTERESSE. DOUTRINA. RECURSO DESACOLHIDO. I - Sem embargo dos respeitáveis fundamentos em sentido contrário, a Segunda Seção decidiu adotar o entendimento de que a Fazenda Pública não tem legitimidade, e nem interesse de agir, para requerer a falência do devedor fiscal. II - Na linha da legislação tributária e da doutrina especializada, a cobrança do tributo é atividade vinculada, devendo o fisco utilizar-se do instrumento afetado pela lei à satisfação do crédito tributário, a execução fiscal, que goza de especificidades e privilégios, não lhe sendo facultado pleitear a falência do devedor com base em tais créditos. (STJ, 2ª Seção, REsp n.º 164.389/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julgado em 13/08/2003) 3. Definição do devedor na falência e na recuperação - somente pode ser devedor na falência ou na recuperação judicial o empresário ou a sociedade empresária. Se o devedor não for empresário ou sociedade empresária, cabe o procedimento de insolvência previsto no CPC. 3.1. Conceito de empresário Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 3.1.1. Exceções ao conceito de empresário - cooperativa nunca será empresária. Também jamais será empresária a sociedade que não tenha finalidade econômica (de lucro), como normalmente ocorre com as instituições de ensino. Há outras exceções. 3.2. Existe sentido em se definir a falência em razão da natureza empresária da atividade? - alguns países não distinguem a natureza de empresário para definir 10 o procedimento concursal (falência ou insolvência). O Brasil segue o modelo francês, mas a França já abandonou esta distinção. 3.3. Vedações de incidência do Direito Falimentar nas hipóteses do art. 2º da Lei de Falências - a LREF prevê que não é possível a sua incidência contra empresas públicas e sociedades de economia mista, mesmo que sejam empresárias. Também não há incidência contra as hipóteses do art. 2º, II, ex. instituição financeira, mas nestas hipóteses é possível a aplicação subsidiária da LREF em razão de previsão expressa em leis especiais. 3.3.1. É inconstitucional este artigo? - alguns autores sustentam que é inconstitucional o art. 2º, em especial por dar tratamento diferenciado às empresas públicas e às sociedades de economia mista (contrário ao disposto no art. 173 da CF). A posição majoritária afirma que não há inconstitucionalidade. 4. Competência - o pedido de falência ou de recuperação deverá ser processado no lugar do principal estabelecimento do devedor, assim entendido como aquele em que há maior volume de negócios. A sociedade estrangeira pode ter filiais no Brasil. Neste caso, será competente o lugar do principal estabelecimento do devedor no Brasil. Há entendimento divergente e minoritário que sustenta que o principal estabelecimento é aquele em que são tomadas as decisões. Tal posição não faz sentido, porque o processo deve tramitar onde presumivelmente está o maior número de credores (lugar de maior volume de negócios) 5. Contagem de prazos RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ADVENTO DO CPC/2015. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. FORMA DE CONTAGEM DE PRAZOS NO MICROSSISTEMA DA LEI DE 11.101/2005. CÔMPUTO EM DIAS CORRIDOS. SISTEMÁTICA E LOGICIDADE DO REGIME ESPECIAL DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA. 1. O Código de Processo Civil, na qualidade de lei geral, é, ainda que de forma subsidiária, a norma a espelhar o processo e o procedimento no direito pátrio, sendo normativo suplementar aos demais institutos do ordenamento. O novel diploma, aliás, é categórico em afirmar que "permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis, as quais se aplicará supletivamente este Código" (art. 1046, § 2°). 2. A Lei de Recuperação e Falência (Lei 11.101/2005), apesar de prever microssistema próprio, com específicos dispositivos sobre processo e procedimento, acabou explicitando, em seu art. 189, que, "no que couber", haverá incidência supletiva da lei adjetiva geral. 3. A aplicação do CPC/2015, no âmbito do microssistema recuperacional e falimentar, deve ter cunho eminentemente excepcional, incidindo tão somente de forma subsidiária e supletiva, desde que se constate evidente compatibilidade com a natureza e o espírito do procedimento especial, dando-se sempre prevalência às regras e aos princípios específicos da Lei de Recuperação e Falência e com vistas a atender o desígnio da norma-princípio disposta no art. 47. 11 4. A forma de contagem do prazo - de 180 dias de suspensão das ações executivas e de 60 dias para a apresentação do plano de recuperação judicial - em dias corridos é a que melhor preserva a unidade lógica da recuperação judicial: alcançar, de forma célere, econômica e efetiva, o regime de crise empresarial, seja pelo soerguimento econômico do devedor e alívio dos sacrifícios do credor, na recuperação, seja pela liquidação dosativos e satisfação dos credores, na falência. 5. O microssistema recuperacional e falimentar foi pensado em espectro lógico e sistemático peculiar, com previsão de uma sucessão de atos, em que a celeridade e a efetividade se impõem, com prazos próprios e específicos, que, via de regra, devem ser breves, peremptórios, inadiáveis e, por conseguinte, contínuos, sob pena de vulnerar a racionalidade e a unidade do sistema. 6. A adoção da forma de contagem prevista no Novo Código de Processo Civil, em dias úteis, para o âmbito da Lei 11.101/05, com base na distinção entre prazos processuais e materiais, revelar-se-á árdua e complexa, não existindo entendimento teórico satisfatório, com critério seguro e científico para tais discriminações. Além disso, acabaria por trazer perplexidades ao regime especial, com riscos a harmonia sistêmica da LRF, notadamente quando se pensar na velocidade exigida para a prática de alguns atos e na morosidade de outros, inclusive colocando em xeque a isonomia dos seus participantes, haja vista a dualidade de tratamento. 7. Na hipótese, diante do exame sistemático dos mecanismos engendrados pela Lei de Recuperação e Falência, os prazos de 180 dias de suspensão das ações executivas em face do devedor (art. 6, § 4°) e de 60 dias para a apresentação do plano de recuperação judicial (art. 53, caput) deverão ser contados de forma contínua. 8. Recurso especial não provido. (STJ, 4ª Turma, REsp n.º 1.699.528/MG, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 10/04/2018) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRAZOS PROCESSUAIS. DIAS UTEIS. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC. STAY PERIOD. PRAZO MATERIAL. TRANSCURSO DO PRAZO EM DIAS CORRIDOS. 1. O artigo 219, do CPC dispõe que a contagem dos prazos processuais considera somente os dias úteis. Assim, os prazos para apresentação de impugnações e habilitações devem observar o dispositivo processual aplicado ao procedimento especial. Inteligência do art. 189 do CPC. 2. O prazo de 180 dias do stay period previsto no artigo 6º, §4º, da Lei n.º 11.101/05 possui natureza material, motivo pelo qual é inaplicável o artigo 219, do CPC, que dispõe sobre a contagem dos prazos processuais em dias úteis. Precedentes. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70078403474, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 26/09/2018) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ARTIGOS 6º, § 4º, E 53, DA LEI Nº. 11.101/2005. PRAZOS DE NATUREZA MATERIAL. CONTAGEM EM DIAS CORRIDOS. Trata- se de agravo de instrumento interposto em face da decisão proferida 12 pela magistrada a quo , que deferiu o processamento da recuperação judicial e, de conseguinte, determinou que a contagem de todos os prazos fossem realizados em dias úteis, na forma do disposto no artigo 219 do Novo Código de Processo Civil. O artigo 6º, §4º, da Lei nº. 11.101/05 dispõe que na recuperação judicial, a suspensão do curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação. Por sua vez, o artigo 53, caput, estipula que o plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência. No caso em comento, o agravante sustentou que a decisão recorrida não merece ser mantida, uma vez que arguiu que o prazo de 180 dias estipulado pela Juíza singular, de suspensão das ações e execuções movidas contra as Recuperandas, previsto no artigo 6º, § 4º, da LRF, bem como os prazos para a apresentação do plano de pagamento e a realização da Assembleia Geral de Credores, devem ser considerados como prazos de direito material e serem contados em dias corridos, pelo que, pugnou pela reforma da decisão. O prazo de suspensão do curso da prescrição e de todas as ações e execuções (artigo 6º, §4º) e o prazo estipulado para apresentação do plano de recuperação em juízo (artigo 53, caput) não dizem respeito a atos processuais, razão pela qual não possuem natureza de direito processual, mas, sim, caráter de direito material, motivo pelo qual a contagem deve ser realizada em dias corridos. Dessa forma, imperiosa a reforma da decisão agravada, para determinar que os prazos referentes aos artigos 6º, §4º, e 53 da Lei nº. 11.101/05 sejam contados em dias corridos. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70077526705, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em 30/08/2018) Se não houver objeção, presume-se que os credores aceita ram o plano, se houver objeção, haverá assembleia geral de credores 13 Questões Verdadeiro ou falso 1. somente os credores quirografários podem pedir a falência do devedor. 2. o réu de pedido de falência deverá ser, em regra, o devedor empresário ou sociedade empresária. 3. considera-se empresário o devedor que tem interesse superavitário, cabendo-lhe, portanto, o direito de pedir a recuperação judicial. 4. conforme a doutrina majoritária, o art. 2º da Lei n.º 11.101/2005 é inconstitucional, visto que nenhum tipo de sociedade, como ocorre com a sociedade de economia mista, pode ser afastado da apreciação do poder judiciário. 5. considera-se o principal estabelecimento do devedor, para efeitos de definição de competência, aquele que possui maior volume de negócios. 6. pode ser utilizado o procedimento arbitral para pedir a falência do devedor. Dissertativas 1. A Fazenda Pública pode pedir a falência do devedor? Esclareça e fundamente a sua resposta. 2. Explique o conceito de empresário e todos os seus elementos. Qual é a relação entre o conceito de empresário e o direito falimentar? 3. Como é definida a competência para o pedido de falência? E no caso de sociedades com mais de um estabelecimento? E no caso de sociedades estrangeiras com mais de um estabelecimento no Brasil? Respostas (verdadeiro ou falso) 1. F - quase qualquer credor pode pedir a falência do devedor, independentemente de sua classificação. Existe controvérsia apenas no caso de ser credor a Fazenda Pública, que, embora não haja expressa vedação na Lei de Falências, formou-se jurisprudência pela impossibilidade. 14 2. F - o réu de pedido de falência deverá ser sempre o devedor empresário ou sociedade empresária. 3. F - considera-se empresário o devedor que tem interesse econômico (finalidade de lucro), cabendo-lhe, portanto, o direito de pedir a recuperação judicial. 4. F - conforme a doutrina majoritária, o art. 2º da Lei n.º 11.101/2005 é constitucional. 5. V 6. V Para aprofundar Mauro Rodrigues Penteado considera inconstitucional o art. 2º da Lei n.º 11.101/2005. Você concorda? "O caput do artigo padece, portanto, de manifesta imprecisão, como já foi sublinhado, pois a Lei 11.101/2005 é aplicável, no tocante à falência, a algumas das sociedades enumeradas no inc. II (quanto ao inc. I a matéria é, pelo menos, duvidosa) - que apenas não ingressam, de imediato, no processo judicial de execução coletiva empresarial, passando antes, por intervenção e liquidação extrajudicial. Porém, tal seja o desfecho da liquidação, ou a constatação de fatos que constituam crimes falimentares, no curso do processo administrativo, a falência poderá ser decretada, quando, então, a nova lei passará ser a elas aplicável ao reverso do que reza a cabeça do artigo, redigida sem qualquer ressalva quanto a esse aspecto. É o caso, por exemplo, das instituições financeiras, das entidades abertas, e mesmo algumas fechadas, de previdência privada, das sociedades operadoras de planos de saúde e das sociedades seguradoras (v. itens 25, 27, 28 e 29, abaixo).A cinca é mais grave, pois o dispositivo, ao menos em parte, padece de inconstitucionalidade, visto que, nos termos do art. 5º, inc. XXXV, da CF, a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, suscitada tanto através de ações ou execuções individuais, quanto de execuções coletivas, que será a falência, se os devedores forem empresários ou sociedades empresárias. E a falha é de todo injustificável, até porque há dispositivo constitucional declarando que as empresas ou entidades submetidas aos regimes de intervenção ou liquidação extrajudicial podem ter esses regimes convertidos em falência (art. 46, caput, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias)." (PENTEADO, Mauro Rodrigues in SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes. Comentários à lei de recuperação de empresas e falência. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 105) CF - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; CF - Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: 15 II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; ADCT - Art. 46. São sujeitos à correção monetária desde o vencimento, até seu efetivo pagamento, sem interrupção ou suspensão, os créditos junto a entidades submetidas aos regimes de intervenção ou liquidação extrajudicial, mesmo quando esses regimes sejam convertidos em falência. Jurisprudência Sobre a impossibilidade da Fazenda Pública pedir falência: TRIBUTÁRIO E COMERCIAL. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PROTESTO PRÉVIO. DESNECESSIDADE. PRESUNÇÃO DE CERTEZA E LIQUIDEZ. ART. 204 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. FAZENDA PÚBLICA. AUSÊNCIA DE LEGITIMAÇÃO PARA REQUERER A FALÊNCIA DO COMERCIANTE CONTRIBUINTE. MEIO PRÓPRIO PARA COBRANÇA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. LEI DE EXECUÇÕES FISCAIS. IMPOSSIBILIDADE DE SUBMISSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO AO REGIME DE CONCURSO UNIVERSAL PRÓPRIO DA FALÊNCIA. ARTS. 186 E 187 DO CTN. I - A Certidão de Dívida Ativa, a teor do que dispõe o art. 204 do CTN, goza de presunção de certeza e liquidez que somente pode ser afastada mediante apresentação de prova em contrário. II - A presunção legal que reveste o título emitido unilateralmente pela Administração Tributária serve tão somente para aparelhar o processo executivo fiscal, consoante estatui o art. 38 da Lei 6.830/80. (Lei de Execuções Fiscais) III - Dentro desse contexto, revela-se desnecessário o protesto prévio do título emitido pela Fazenda Pública. IV - Afigura-se impróprio o requerimento de falência do contribuinte comerciante pela Fazenda Pública, na medida em que esta dispõe de instrumento específico para cobrança do crédito tributário. V - Ademais, revela-se ilógico o pedido de quebra, seguido de sua decretação, para logo após informar-se ao Juízo que o crédito tributário não se submete ao concurso falimentar, consoante dicção do art. 187 do CTN. VI - O pedido de falência não pode servir de instrumento de coação moral para satisfação de crédito tributário. A referida coação resta configurada na medida em que o art. 11, § 2º, do Decreto-Lei 7.661/45 permite o depósito elisivo da falência. VII - Recurso especial improvido. (STJ, 1ª Turma, REsp n.º 287.824/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 20/10/2005) 16 Aula 03 - Classificação dos credores 1. Classificação dos credores concursais (art. 83) - créditos são pagos na ordem abaixo mencionada na falência, conforme as possibilidades da massa falida LREF, Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006 V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6789599613072881714 17 b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. § 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. § 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. § 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. § 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários. 1.1. Créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho - são classificados como créditos trabalhistas aqueles decorrentes da legislação do trabalho (horas extras, etc). Por vezes, há controvérsias na doutrina e na jurisprudência, classificando-se como trabalhistas aqueles que são equiparados em razão da natureza alimentar (ex: FGTS cobrado pela CEF, honorários advocatícios, pensão decorrente de acidente de trânsito, etc). O crédito trabalhista é classificado aqui até o limite de 150 salários mínimos considerando 18 a data da falência. O excedente é quirografário. Os créditos decorrentes de acidente de trabalho não tem limite. 1.2. Créditos com garantia real - são classificados aqui os créditos com garantia real (ex: hipoteca) até o limite do valor de venda do bem objeto de garantia. O excedente é crédito quirografário. Não são garantias reais a alienação fiduciária e o arrendamento mercantil. 1.3. Créditos tributários, excetuadas as multas tributárias - são créditos tributários aqueles que decorrem de tributos. Observe-se que a União pode cobrar créditos de natureza civil (sem natureza tributária).As multas tributárias também não são computadas nesta categoria. 1.4. Créditos com privilégio especial - são aqueles definidos em lei como crédito com privilégio especial. Ex: CC, art. 964, bem como oriundo de ME e EPP. LREF, Art. 83, IV, d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006 CC, Art. 964. Têm privilégio especial: I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento; V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita; VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior; VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição; VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários. IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais. 1.5. Créditos com privilégio geral - são aqueles definidos em lei como crédito com privilégio geral. Ex: CC, art. 965. CC, Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor: I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar; II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa; 19 III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas; IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte; V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento; VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior; VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida; VIII - os demais créditos de privilégio geral. 1.6. Créditos quirografários - são os excedentes dos créditos trabalhistas e com garantia real, bem como aqueles que não se enquadram em nenhuma hipótese (alcança-se a classificação por exclusão). 1.7. Multas - são as multas contratuais, penais, administrativas e tributárias. Esta classificação não existe na recuperação judicial, apenas na falência. 1.8. Créditos subordinados - são os créditos assim previstos em lei ou em contrato, bem como os créditos de sócios e de administradores sem vínculo empregatício. 2. Créditos extraconcursais (art. 84) - são pagos antes dos créditos concursais e na ordem abaixo mencionada. LREF, Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: 20 I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência; II – quantias fornecidas à massa pelos credores; III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência; IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida; V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. 2.1. Remuneração do administrador e seus auxiliares, bem como créditos decorrentes de legislação de trabalho e acidente de trabalho após a decretação da falência - administrador judicial é o primeiro a receber, inclusive antes dos créditos trabalhistas 2.2. Quantias fornecidas à massa pelos credores - por vezes os credores adiantam valores para conservar bens 2.3. Despesas com falência - despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do ativo e custas da falência 2.4. Custas judiciais em ações em que a massa falida tenha sido vencida 2.5. Obrigações contraídas durante a recuperação ou após a falência - Deve ser pago na ordem de classificação do art. 83, mas são todos extraconcursais do art. 21 84, V. Portanto, devem ser pagos após o art. 84, IV, mas antes de todos os concursais - Art. 84, V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. - Art. 67. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais, em caso de decretação de falência, respeitada, no que couber, a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.5 5 Inclusão de crédito trabalhista na recuperação depende da data de sua constituição, não da sentença Créditos trabalhistas com origem em período anterior à recuperação judicial de uma empresa devem ser incluídos no quadro geral de credores, independentemente da data da sentença trabalhista que declarou seus valores. Com esse entendimento, os ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deram provimento ao recurso de uma empresa em recuperação para incluir os créditos trabalhistas em discussão no quadro geral de credores. Por maioria, o colegiado acompanhou o voto do ministro Marco Aurélio Bellizze e definiram a tese de que os créditos trabalhistas, mesmo aqueles que não foram ainda declarados judicialmente, devem se inserir no contexto da recuperação em curso. Constituição do crédito Para o ministro, o momento de constituição do crédito é a atividade laboral, e se esta for anterior à recuperação judicial, não há como afastar o comando previsto no artigo 49 da Lei 11.101/05. “Uma sentença que reconheça o direito do trabalhador em relação à aludida verba trabalhista certamente não constitui este crédito, apenas o declara. E, se este crédito foi constituído em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, aos seus efeitos se encontra submetido, inarredavelmente”, afirmou Bellizze. A recuperação foi homologada em março de 2014, mas a ação trabalhista que discutia o pagamento de férias e FGTS a um dos empregados, ajuizada em janeiro de 2014, somente teve sentença em maio daquele ano. O entendimento do acórdão recorrido, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), é que a sentença que reconheceu o direito trabalhista deve ser considerada como origem dos créditos, o que inviabilizaria sua inclusão na recuperação. Sem privilégios Para Marco Aurélio Bellizze, não há justificativa para que os créditos trabalhistas em questão sejam classificados como extraconcursais, considerados como créditos privilegiados. Segundo o magistrado, tal privilégio vai de encontro aos fundamentos da legislação em vigor, que visam possibilitar a recuperação da empresa. “O tratamentoprivilegiado ofertado pela lei de regência aos créditos posteriores ao pedido de recuperação judicial tem por propósito, a um só tempo, viabilizar a continuidade do desenvolvimento da atividade da empresa em recuperação, bem como beneficiar os credores que contribuem ativamente para o soerguimento da empresa em crise”, justificou o ministro. REsp n.º 1.634.046/RS Fonte: http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Inclus %C3%A3o-de-cr%C3%A9dito-trabalhista-na-recupera%C3%A7%C3%A3o-depende-da-data-de-sua- constitui%C3%A7%C3%A3o,-n%C3%A3o-da-senten%C3%A7a 22 3. Créditos que não participam ou são inexigíveis - alguns créditos não podem ser cobrados na falência e na recuperação judicial 3.1. Hipóteses do art. 49, §3º - Não participa da recuperação judicial o "credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio" - as hipóteses mencionadas tem relação com credor que é "proprietário" do bem. Também não participam estes credores da falência (apenas pedem a devolução do bem e habilitam o saldo eventualmente existente). 3.2. Hipóteses dos art. 85 e 86 - situação em que se procede a uma restituição do bem. Exemplo: X empresta um computador para Y. Após, é decretada a falência de Y e é arrecadado o computador que X emprestou para Y. X pede a restituição do computador alegando que lhe pertence (não precisa se sujeitar ao procedimento de habilitação. 3.3. Crédito tributário nas recuperações judiciais (art. 6º, §7º) - O crédito tributário não se submete à recuperação judicial. Portanto, as execuções tributárias seguem normalmente. Há alguns precedentes judiciais que limitam os poderes do juiz da execução para promover penhoras contra o devedor em razão da possível afetação do plano da recuperação judicial. As execuções também não são suspensas na falência (art. 187 do CTN), mas o credor tributário ainda está submetido ao pagamento na ordem de classificação de seu crédito. Assim, caso a execução fiscal permaneça em andamento e consiga penhorar e leiloar bens de um devedor falido, deverá repassar o crédito para a massa falida para que distribua o dinheiro conforme a ordem de classificação. 3.4. Pensão alimentícia - há duas espécies de pensão alimentícia. A pensão decorrente de parentesco (ex: alimentos devidos do pai para o filho) distingue- se da pensão decorrente de ato ilícito (ex: alimentos em razão de invalidez permanente por acidente de trânsito). Há severas discussões sobre o tratamento da pensão alimentícia na falência. Embora não se possa assinalar uma posição predominante, parece mais razoável a posição que admite na falência apenas a pensão alimentícia decorrente de ato ilícito. 3.5. Obrigações a título gratuito - "Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência: I – as obrigações a título gratuito;" - Ex: doação 3.6. Despesas para tomar parte no processo - "Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência: II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor." 23 Questões Verdadeiro ou falso 1. os créditos trabalhistas são privilegiados até o limite de 150 salários mínimos, considerando-se a data do pagamento. 2. a cessão de créditos trabalhistas implica em sua classificação como quirografários. 3. para fins de classificação na falência, a alienação fiduciária é um exemplo de garantia real. 4. o crédito tributário não participa da recuperação judicial. 5. o conceito de crédito quirografário é encontrado por exclusão. 6. as multas contratuais recebem classificação independente tanto na falência quanto na recuperação. 7. existe controvérsia doutrinária sobre a participação de pensão alimentícia na falência e na recuperação judicial. 8. os créditos extraconcursais são pagos antes dos créditos trabalhistas. 24 9. os créditos extraconcursais originados de atos válidos praticados durante a recuperação judicial são classificados da mesma forma prevista para os créditos concursais. Dissertativas 1. Esclareça como funciona a classificação dos créditos trabalhistas. Qual é a data utilizada para separar o crédito em duas classes? O que acontece com o crédito cedido? 2. Esclareça como funciona a classificação dos créditos com garantia real. Qual é o critério utilizado para separar o crédito em duas classes? 3. Conforme o conteúdo visto em aula, a pensão alimentícia participa da falência? Se sim, em qual(is) hipótese(s)? Respostas 1. F - os créditos trabalhistas são privilegiados até o limite de 150 salários mínimos, considerando-se a data da decretação da quebra. 2. V 3. F - para fins de classificação na falência, a alienação fiduciária não é um exemplo de garantia real. 4. V 5. V 6. F - as multas contratuais recebem classificação independente apenas na falência. 7. V 8. V 9. V Para aprofundar Para Vera Helena de Mello Franco e Rachel Sztajn, tanto a pensão alimentícia decorrente de ilícito quanto a decorrente de parentesco participam da falência. Você concorda? "Com relação aos alimentos, porém, a questão não é tão simples, O fato de a lei não prever sua exclusão, na atual redação (art. 5º da LRE), autorizaria pudessem ser pedidas na falência do empresário individual? O não pagamento de alimentos autorizaria o pedido de falência? ... Mas é linear que, se o alimentante tornou-se insolvente, ex vi do disposto na forma do art. 1.694, § 1º, CCB, sua obrigação cessou, ainda quando exista sentença condenando-o a tanto. A regra no caso é a da congruência entre necessidade do alimentado e disponibilidade de recursos do alimentante. Tanto assim que poderá ingressar com um pedido de exoneração de pensão alimentícia e liberar-se do encargo. Situação distinta é a do devedor que, no afã de tutelar seus dependentes não se opõe a que estes peçam os alimentos devidos. Neste ponto o entendimento da doutrina atual é de que, quer derivem de ato ilícito, quer da relação de parentesco, são devidos e podem ser declarados como créditos na falência." (FRANCO, Vera Helena de Mello; SZTAJN, Rachel. Falência e recuperação da empresa em crise: comparação com as posições do Direito europeu. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 23-24.) Decreto-Lei n.º 7.661/1945 - Art. 23. Ao juízo da falência devem concorrer todos os credores do devedor comum, comerciais ou civis, alegando e provando os seus direitos. Parágrafo único. Não podem ser reclamados na falência: I - as obrigações a título gratuito e as prestações alimentícias; 25 Jurisprudência Julgado que equiparou honorários de advogado a crédito trabalhista (natureza alimentar). Era a posição predominante por volta de 2008: Direito civil e comercial. Falência. Classificação de créditos definida por sentença transitada em julgado. Rediscussão incidental, no processo de falência. Impossibilidade, dado o procedimento estabelecido pelo art. 99 do Decreto-lei nº 7.661/41. Ausência de discussão do tema no acórdão recorrido. Limitação para a revisão da questão, pelo STJ. Honorários advocatícios. Verba de natureza alimentar. Precedente da Corte Especial. Tema pacificado. - A impossibilidade de rediscussão, incidentalmente, no processo de falência regido pelo Decreto-lei nº 7.661/41, da natureza de um crédito já habilitado por sentença transitada em julgado, não foi argüída perante o Tribunal, nem abordada pelo acórdão recorrido, de modo que, em sede de Recurso Especial, o tema não pode ser revisto. Precedentes. - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em que pesealguma divergência recente, acabou por se pacificar em torno da consideração de que é alimentar a natureza da verba devida a título de honorários advocatícios, sejam contratuais, sejam de sucumbência. Entendimento firmado por ocasião do julgamento do EREsp nº 706.331/PR (Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. em 20/2/2008). Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 3ª Turma, REsp n.º 798.241/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2008) Julgado que considerou honorários advocatícios como crédito privilegiado (posição atualmente predominante): MANDADO DE SEGURANÇA - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL - PRETENSÃO À INCLUSÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO QUADRO GERAL DE CREDORES EM REGIME DE CRÉDITO ALIMENTAR - ILEGITIMIDADE PASSIVA DO PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL PARA O MANDADO DE SEGURANÇA A DESPEITO O "WRIT" - INSANABILIDADE TAMBÉM CONTRA O LIQUIDANTE - SUPERVENIÊNCIA DE PROCEDÊNCIA DA AÇÃO RESCISÓRIA ANULANDO A SENTENÇA EM QUE FIXADOS OS HONORÁRIOS - AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ E CERTEZA DO TÍTULO ALEGADO - CRÉDITOS BEM CLASSIFICADOS COMO PRIVILEGIADOS (LEI 8.906/94, ART. 24). [omissis] V - Se superadas as preliminares, inviável o privilegiamento como alimentar de crédito de vulto, muito superior a 5 Salários-Mínimos reservado para salários (Lei 11.101/05, art. 151), o que feriria a isonomia entre os credores concursais, 26 devendo prevalecer, pois, a classificação apenas como crédito privilegiado, nos termos do art. 24 da Lei 8.906/94. [omissis] (STJ, 2ª Seção, MS 11.765/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 08/09/2010) 27 Aula 04 - Administração da falência 1. Órgãos da administração da falência 1.1. Juiz (juiz é o personagem que decide diversas questões no processo. Contudo, não decide todas as questões, bem como não lhe cabe decidir sempre as questões mais importantes do processo. Exemplo: a decisão sobre a aprovação ou rejeição do plano de recuperação judicial cabe, a princípio, à assembleia de credores) 1.2. Representante do Ministério Público - o MP atua como fiscal da lei nos processos de falência e de recuperação judicial. Diversos artigos da LREF informam que o MP deve ser intimado para se manifestar em situações específicas (ex: arts. 8º, 19, 30, 104, 132, 143, 154, etc.). O art. 4º previa uma ampla participação do MP em todas as etapas do processo, mas foi vetado por se compreender que o MP teria atribuições mais relevantes, sendo desnecessária a sua intervenção em todas as fases do processo. O STJ firmou posição que o MP pode intervir nas falências e recuperações sempre que entender conveniente, mesmo que inexista expressa previsão legal (REsp n.º 1.230.431/SP). 1.3. Administrador judicial 1.3.1. Nomeação - "Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz." 1.3.2. Atribuições - "Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E NA FALÊNCIA: a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito; b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados; c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos; d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações; e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei; f) consolidar o quadro- geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei; g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões; h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções; i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei; II – NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL: a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial; b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano 28 de recuperação; c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor; d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei; III – NA FALÊNCIA: a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido; b) examinar a escrituração do devedor; c) relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida; d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa; e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei; f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei; g) avaliar os bens arrecadados; h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa; i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores; j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa, nos termos do art. 113 desta Lei; l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação; m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos; n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração; p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10º (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa; q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de responsabilidade; r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo. ----- § 1º As remunerações dos auxiliares do administrador judicial serão fixadas pelo juiz, que considerará a complexidade dos trabalhos a serem executados e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. § 2º Na hipótese da alínea d do inciso I do caput deste artigo, se houver recusa, o juiz, a requerimento do administrador judicial, intimará aquelas pessoas para que compareçam à sede do juízo, sob pena de desobediência, oportunidade em que as interrogará na presença do administrador judicial, tomando seus depoimentos por escrito. § 3º Na falência, o administrador judicial não poderá, sem autorização judicial, após ouvidos o Comitê e o devedorno prazo comum de 2 (dois) dias, transigir sobre obrigações e direitos da massa falida e conceder abatimento de dívidas, ainda que sejam consideradas de difícil recebimento. § 4º Se o relatório de que trata a alínea e do inciso III do caput deste artigo apontar responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será intimado para tomar conhecimento de seu teor." 1.3.3. Remuneração - "Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. § 1º Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por 29 cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência. § 2º Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei. § 3º O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração. § 4º Também não terá direito a remuneração o administrador que tiver suas contas desaprovadas." 1.3.4. Renúncia e destituição - Administrador judicial somente pode ser nomeado pelo magistrado que conduz o processo, visto que exerce funções como "braço direito" deste. A destituição do administrador somente pode ocorrer por decisão judicial, seja do juiz ou em grau de recurso (Desembargador, Ministro). Não é possível a destituição ou substituição de administrador por decisão da assembleia de credores. Alguns autores sustentam que cabe a destituição de administrador judicial pela assembleia de credores em razão da redação do art. 37, §1º. No entanto, as atribuições neste sentido foram vetadas no art. 35, afigurando-se entendimento equivocado. 1.4. Comitê de credores - órgão facultativo muito raro em falências e recuperações judiciais. 1.4.1. Constituição e composição - Art. 26 - observe-se que a composição do comitê de credores não é idêntica a da assembleia de credores (art. 41) 1.4.2. Atribuições - possui atribuições bastante vinculadas à fiscalização do procedimento 1.5. Assembleia de credores 30 1.5.1. Atribuições - ver art. 35 - é órgão de funcionamento facultativo - a sua atribuição mais comum e mais importante é a de aprovar, rejeitar ou modificar plano de recuperação judicial. 1.5.2. Requisitos de convocação - ver art. 36 - a ausência dos requisitos pode invalidar a assembleia 1.5.3. Instalação da assembleia de credores - "Art. 37, §2º A assembléia instalar- se-á, em 1ª (primeira) convocação, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em 2ª (segunda) convocação, com qualquer número." 1.5.4. Representação por mandatário - Credores podem ser representados por mandatário, desde que comprove poderes ao administrador em até 24 horas antes da assembleia (art. 37, §4º). Sindicatos também podem representar os credores (art. 37, §§ 5º e 6º). A presença de mandatário com instruções pode gerar confusões na assembleia. Exemplificativamente, o credor instrui seu procurador a rejeitar certo plano. durante a assembleia, o plano é modificado. O procurador pode não saber se o plano deve ser aceito com as modificações sugeridas. Pode ser necessário suspender a assembleia por esta razão. 1.5.5. Credores aptos a votar - art. 39 - somente podem votar os credores habilitados até o momento da votação. Ver aula sobre classificação de créditos. Aqueles que não participam da recuperação judicial ou da falência não podem votar. Também não votam os créditos que não forem afetados pelo plano de recuperação judicial. Podem votar os credores com reserva de crédito, observado o disposto no art. 10, §§ 1º e 2º (trabalhista sempre vota e as demais classes após a homologação - reserva induz à ideia de que é crédito retardatário). 1.5.5.3. Credores que não votam em razão de conflito de interesses - "Art. 43. Os sócios do devedor, bem como as sociedades coligadas, controladoras, controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital social do devedor ou em que o devedor ou algum de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital social, poderão participar da assembléia-geral de credores, sem ter direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de deliberação. Parágrafo único. O disposto neste artigo também se aplica ao cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, colateral até o 2º (segundo) grau, ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de membro dos conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade devedora e à sociedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções." - Hipóteses normalmente vinculadas a qualidade de sócio ou parente. 1.5.6. Hipóteses de invalidade da assembleia de credores - A lei não admite a invalidade de assembleia em razão de existência, quantificação ou classificação de créditos (art. 39, §2º). Admite-se na doutrina que se invalide assembleia em razão de dolo (ex: crédito fraudulento), se for determinante para a votação. 1.5.7. Medidas liminares em assembleia de credores - "Art. 40. Não será deferido provimento liminar, de caráter cautelar ou antecipatório dos efeitos da tutela, para a suspensão ou adiamento da assembléia-geral de credores em razão de 31 pendência de discussão acerca da existência, da quantificação ou da classificação de créditos." - Caso haja dúvida sobre existência, quantificação ou classificação de crédito, não cabe suspender ou adiar a assembleia, mas pedir ordem judicial urgente para alterar crédito para a assembleia. Muitos autores dizem que este artigo é inconstitucional ou de constitucionalidade duvidosa. A opinião predominante é de que inexiste inconstitucionalidade. 1.5.8. Requisitos de aprovação nas assembleias de credores - "Art. 42. Considerar-se-á aprovada a proposta que obtiver votos favoráveis de credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembléia-geral, exceto nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial nos termos da alínea a do inciso I do caput do art. 35 desta Lei, a composição do Comitê de Credores ou forma alternativa de realização do ativo nos termos do art. 145 desta Lei." 1.5.9. Requisitos de aprovação nas assembleias de forma alternativa de realização de ativo - "Art. 46. A aprovação de forma alternativa de realização do ativo na falência, prevista no art. 145 desta Lei, dependerá do voto favorável de credores que representem 2/3 (dois terços) dos créditos presentes à assembléia." 1.5.10. Requisitos de aprovação nas assembleias de credores na hipótese de deliberação sobre plano de recuperação judicial - ver divisão dos credores do art. 41 da LREF - A legislação não expressa se o voto de má-fé do credor deve ser afastado, criando generalizada dúvida na doutrina. A posição mais adequada (e majoritária) indica que o credor não pode votar em interesse próprio (ex: rejeita plano porque é sócio de empresa concorrente). 1.5.10.1. Requisitos conforme art. 45 da Lei de Falências - "Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta. § 1º Em cada uma das 32 classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembléia e, cumulativamente, pelamaioria simples dos credores presentes. § 2º Na classe prevista no inciso I do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito. § 3º O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quorum de deliberação se o plano de recuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito." - Maioria dos credores presentes também é chamado de voto por cabeça. Maioria dos créditos também é chamado de voto por crédito. A necessidade de aprovação nos dois critérios é também denominado de dupla maioria. Apenas os credores trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho votam por cabeça. 1.5.10.2. Requisitos conforme art. 58, §1º da Lei de Falências - "Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei. § 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido, de forma cumulativa: I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembléia, independentemente de classes; II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas; III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei. § 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado." - Há controvérsia na doutrina sobre o que significa o poderá conceder. A jurisprudência tem admitido que o voto do credor único de uma classe não pode levar à falência do devedor em recuperação judicial. Assim, a maioria de mais de um terço do III do art. 58, §1º pode ser afastada. 33 Questões Verdadeiro ou falso 1. o magistrado é peça central no Direito Falimentar e concentra sobre suas pessoa todas as decisões importantes em falências e recuperações judiciais. 2. o representante do Ministério Público não está obrigado a participar do processo em todas as etapas da falência e da recuperação judicial. 3. o representante do Ministério Público somente deve intervir em feitos falimentares nas hipóteses expressamente previstas em lei, sob pena de nulidade. 4. o administrador judicial exerce funções focadas quase somente em fiscalização nas recuperações judiciais. 5. o administrador judicial pode ser destituído pelos credores. 6. o comitê de credores é órgão obrigatório nas falências e nas recuperações judiciais. 7. toda recuperação judicial deverá passar necessariamente por, pelo menos, uma assembleia-geral de credores. Dissertativas 1. Esclareça como funciona a participação do Ministério Público na falência e na recuperação judicial. Cite dois exemplos em que o Ministério Público deve ser intimado. 34 Quais são os efeitos da intervenção do Ministério Público sem que haja previsão legal específica? 2. Esclareça quais são os critérios de nomeação do administrador judicial. Quem pode nomear o administrador? Os credores podem destituir o administrador? Respostas (verdadeiro ou falso) 1. F - o magistrado é peça central no Direito Falimentar e concentra sobre suas pessoa muitas decisões importantes em falências e recuperações judiciais. 2. V 3. F - segundo o STJ, o representante do Ministério Público somente deve intervir em feitos falimentares nas hipóteses expressamente previstas em lei nos casos em que sua intervenção causar tumulto processual. 4. V 5. F - os credores não podem destituir o administrador judicial (ver material referente a esta aula). 6. F - o comitê de credores é órgão facultativo nas falências e nas recuperações judiciais. 7. F - a recuperação judicial pode passar pela assembleia-geral de credores (não é obrigatório). Para aprofundar Os juristas divergem sobre quem presidirá a assembleia de credores em caso de suposto conflito de interesses do administrador judicial. Qual autor tem razão? A assembleia será presidida, necessariamente, pelo administrador judicial e secretariada por um dos credores presentes[1]. Fábio Ulhoa Coelho diverge e sustenta que "se ele [administrador] não estiver presente, com ou sem motivo justificável... o presidente será o credor presente que titule o crédito de maior valor"[2]. Modesto Carvalhosa entende que o administrador judicial não poderá presidir a assembleia nos casos em que ocorrer conflito de interesses[3]. Em oposição, com razão esclarece Erasmo Valladão que as hipóteses vislumbradas pela doutrina de conflito de interesses - como o afastamento do administrador - não são passíveis de decisão pela assembleia[4], tratando-se de equívoco doutrinário. [1] FRANÇA, Erasmo Valladão A. e N. in SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A de Moraes (Coord.). Comentários à lei de recuperação de empresas e falência. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 203. [2] COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 90. [3] Neste sentido: CARVALHOSA, Modesto in CORRÊA-LIMA, Osmar Brina; LIMA, Sérgio Mourão Corrêa (Coord.). Comentários à nova lei de falência e recuperação de empresas: Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 268. [4] FRANÇA, Erasmo Valladão A. e N. in SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A de Moraes (Coord.). Comentários à lei de recuperação de empresas e falência. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 205. Jurisprudência Sobre o cram down: 35 Verificados os pressupostos legais, conheço do recurso intentado para o exame da questão suscitada. Tenho que a brilhante e criteriosa a decisão do Magistrado a quo não merece reforma. Com efeito, o fato de o agravante, Banco do Brasil S/A, ser o detentor da supremacia dos créditos com garantia real, alcançando a expressiva soma de R$ 1.024.752,64, superando o crédito do único outro credor desta classe, a Caixa RS Fomento Econômico S/A, no montante de R$ 74.295,46, não pode se constituir em poder absoluto para obstar a recuperação judicial das empresas, impedindo seu saneamento e investindo contra o próprio espírito da Lei nº 11.101/05. Não escapa que na Assembléia de Credores o plano foi aprovado por duas de suas classes, os trabalhistas e quirografários, sendo rejeitada pelos de garantia real, o que, nos termos do art. 45 da Lei de Recuperação Judicial, levou à aplicabilidade do quanto disposto no inc. III do § 1º do art. 58 da Lei de Falências. É certo que a previsão do mencionado art. 58 foi abrandada pelo digno Juízo singular, sob pena de restar inviabilizada a aprovação do plano, haja vista, como já referido, apenas dois credores estarem contemplados na classe em que o Banco do Brasil S/A detém crédito sobejamente superior. Entretanto, bem destacou o Juízo singular que o ora agravante, por ocasião da Assembléia de Credores, a despeito da supremacia de seu crédito, sequer explicitou as razões da não aceitação das propostas apresentadas. Evidentemente que, mantida tal rejeição, restaria inviabilizada a recuperação das empresas, obstando-se a manutenção de suas atividades e, consequentemente, o pagamento de seus débitos. Calha transcrever o seguinte excerto do irretocável parecer ofertado pelo ilustre Procurador de Justiça junto a este Colegiado, Dr. Antônio Augusto Vergara Cerqueira, porquanto bem observou a situação
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