Buscar

Juntorescondicionalidadefinalidade-Silva-2019

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE LETRAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUNTORES DE CONDICIONALIDADE E FINALIDADE EM NOTÍCIAS DO 
IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF EM JORNAIS ONLINE DE NATAL: 
IDENTIFICANDO TRADIÇÕES DISCURSIVAS 
 
 
 
 
 
 YOUSSEF UD ALIGHIERE DE PAIVA MACENA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2019 
YOUSSEF UD ALIGHIERE DE PAIVA MACENA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
JUNTORES DE CONDICIONALIDADE E FINALIDADE EM NOTÍCIAS DO 
IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF EM JORNAIS ONLINE DE NATAL: 
IDENTIFICANDO TRADIÇÕES DISCURSIVAS 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Linguagem da 
Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, para fins de defesa, como requisito 
parcial para obtenção do título de Mestre. 
Área de concentração: Linguística Teórica e 
Descritiva. 
Orientadora: Profa. Dra. Alessandra Castilho 
Ferreira da Costa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha família 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, pelo dom da vida. 
À minha mãe, Edilma, ao meu pai, Vicente, e ao meu irmão, Kalleb, por todo carinho, 
estímulos e conselhos dados nos momentos que fraquejei. Obrigado por serem 
referência de seres humanos na minha vida. 
Aos meus amigos, da vida, da Villa e do Marista, pela paciência nos momentos ausente. 
Que eles saibam o espaço que ocupam no meu coração. 
À minha orientadora, Alessandra Castilho, por me guiar durante todo o percurso. 
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, pelos 
conhecimentos compartilhados dentro e fora da sala de aula. 
Aos meus colegas do PPgEL, pelos conselhos e críticas quando precisei. 
A todos que se fizeram presente nessa etapa da minha vida e contribuíram de uma forma 
ou de outra para que eu alcançasse meus objetivos. 
À CAPES, pelo apoio financeiro e o estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento 
científico na sociedade brasileira.
1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 
RESUMO 
 
 O presente estudo busca investigar juntores de condicionalidade e finalidade em 
um corpus composto por 138 notícias online sobre o impeachment de Dilma Rousseff, 
de quatro jornais da cidade de Natal-RN, visando constatar em que ponto do continuum 
de oralidade e escrituralidade, postulado por Koch e Oesterreicher (1992), as notícias se 
encontram. Para tanto, unimos o modelo de Tradições Discursivas (TD) (KOCH, 1997) 
e o modelo de categorização sintático-semântico dos principais conectores, proposto por 
Blühdorn (1999), que leva em conta os domínios conceptuais temporal, epistêmico e 
deôntico (LYONS, 1977; SWEETSER, 1990), buscando responder as seguintes 
questões de pesquisa: Quais juntores de condicionalidade e finalidade se fazem 
presentes no corpus? Em que domínios conceptuais se encontram esses juntores e como 
se distribuem nas notícias? Em que posição do continuum se localizam as notícias 
consideradas e os jornais em relação um ao outro? Tomando como base essas 
inquisições, traçamos os seguintes objetivos: Identificar os juntores de condicionalidade 
e finalidade presentes no corpus, segundo os critérios de nível de integração, relação 
semântica, ordem das entidades e domínio conceptual; analisar quantitativa e 
qualitativamente a distribuição desses juntores nos textos considerados; e localizar no 
continuum de oralidade-escrituralidade as notícias e os jornais. Os resultados permitem 
visualizar um comportamento parecido de todos os portais, com uma inclinação em 
direção ao polo da escrituralidade e elevado uso de integração sintática por preposição 
simples referentes às relações de finalidade nos domínios temporal/deôntico, seguido 
pelo uso de relações de condicionalidade no domínio temporal. Essa distribuição dos 
juntores pode ser explicada por três principais TD encontradas: o caráter 
prioritariamente narrativo das notícias, a linguagem jornalística recomendada pelos 
manuais de redação e estilo, e o espelhamento em jornais de circulação nacional, que 
muitas vezes são recortados e adaptados pelos jornais locais. A presente pesquisa busca 
contribuir para o estudo da mudança semântica, cooperando para a história do português 
brasileiro no âmbito do estado do Rio Grande do Norte. 
 
Palavras-chave: tradição discursiva; junção; notícias online; impeachment. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 This dissertation investigates conditional and final junctors in a corpus 
composed of 138 online news coverages about Dilma Rousseff‗s impeachment, from 
four online periodicals produced in Natal city (Rio Grande do Norte-Brazil), in order to 
verify in which point of the continuum between orality and literacy, postulated by Koch 
& Oesterreicher (1992), the news are detected. For this purpose, we join the Discursive 
Traditions model (TD) (KOCH, 1997) and the syntactic-semantic categorisation model, 
proposed by Blühdorn (1999), which considers the temporal, epistemic and deontic 
domain (LYONS, 1977; SWEETSER, 1990), trying to answer the following questions: 
which conditional and final junctors are present in the corpus? In which conceptual 
domains are these junctors and how are they distributed among the news coverage? In 
which point of the continuum are the news coverages and the periodicals in relation to 
each other ased on those enquiries, the following aims were established: identify 
conditional and final junctors in the corpus according to the integration levels criteria, 
semantic relations, entities order and conceptual domain; analyse qualitatively and 
quantitatively the distribution of these junctors in the considered texts; and indicate 
where news coverages and periodicals are in the continuum between orality and 
literacy. The results allow the view of similar behaviour in all news portals, with a drift 
towards the literacy pole and a high use of simple preposition in the temporal/deontic 
domains, followed by the use of conditional relations in the temporal domain. This 
distribution of the junctors can be explained by three main DTs found: the narrative 
ethos of the news, the journalistic language recommended by the writing and style 
manuals, and the mirroring in newspapers of national circulation, which are often cut 
and adapted by local periodicals. This research seeks to contribute to the study of 
semantic change, cooperating for the history of Brazilian Portuguese within the state of 
Rio Grande do Norte. 
 
 
 
Keywords: discursive traditions; junction; online news, impeachment. 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Esquema 1: filtro das tradições discursivas ............................................................................. 21 
Esquema 2: evocação ............................................................................................................. 22 
Esquema 3: posição dos exemplos no continuum de oralidade e escrituralidade ...................... 25 
Esquema 4: macroestrutura do espaço semântico das relações interssentenciais. ..................... 45 
 
Figura 1: esquema global com condições comunicativas ........................................................ 28 
Figura 2: espaço variacional histórico-idiomático entre imediatez e distância comunicativa. ... 31 
Figura 3: variantes de gêneros textuais ................................................................................... 33 
Figura 4: tradições discursivas em panfletos italianos 1500-1550 (segundoWilhelm 1996) .... 34 
Figura 5: plantão de notícias do Tribuna do Norte e do Agora RN .......................................... 36 
Figura 6: abas temáticas dos jornais ....................................................................................... 36 
Figura 7: notícia do Agora RN de 07 de janeiro de 2016 ......................................................... 38 
Figura 8: notícia do Folha de São Paulo de 07 de janeiro de 2016 ........................................... 39 
Figura 9: notícia do Tribuna do Norte de 15 de abril de 2016 ................................................. 40 
Figura 10: notícia do Estadão de 14 de abril de 2016 .............................................................. 41 
Figura 11: tabela do TraDisc com ocorrências totais ............................................................... 90 
Figura 12: tabela do TraDisc com ocorrências normalizadas .................................................. 91 
Figura 13: tabela de graus de complexidade do TraDisc ......................................................... 92 
Figura 14: grau de complexidade de uma notícia .................................................................... 92 
Figura 15: notícias por grau de complexidade no Agora RN ................................................. 134 
Figura 16: notícias por grau de complexidade no Novo ........................................................ 135 
Figura 17: notícias por grau de complexidade no Portal no Ar .............................................. 136 
Figura 18: notícias por grau de complexidade no Tribuna do Norte ...................................... 137 
Figura 19: notícias e médias no continuum ........................................................................... 139 
 
Gráfico 1: análise global por níveis de integração sintática ..................................................... 97 
Gráfico 2: grau de integração sintática dos juntores .............................................................. 101 
Gráfico 3: análise global das relações semânticas ................................................................. 103 
Gráfico 4: domínio das relações semânticas dos juntores analisados ..................................... 107 
Gráfico 5: responsabilidades enunciativas no Agora RN ....................................................... 108 
Gráfico 6: responsabilidades enunciativas no Tribuna do Norte ............................................ 110 
Gráfico 7: responsabilidades enunciativas no Novo ............................................................... 112 
Gráfico 8: responsabilidades enunciativas no Portal no Ar ................................................... 114 
Gráfico 9: níveis de integração sintática do Agora RN .......................................................... 119 
Gráfico 10: relações semânticas no Agora RN ...................................................................... 119 
Gráfico 11: níveis de integração sintática do Tribuna do Norte ............................................. 122 
Gráfico 12: relações semânticas no Tribuna do Norte ........................................................... 123 
Gráfico 13: níveis de integração sintática do Novo ................................................................ 127 
Gráfico 14: relações semânticas no Novo .............................................................................. 128 
Gráfico 15: níveis de integração sintática do Portal no Ar .................................................... 131 
Gráfico 16: relações semânticas no Portal no Ar .................................................................. 132 
 
Quadro 1: níveis e pontos de vista do linguístico segundo Coseriu (1980) .............................. 19 
Quadro 2: níveis e domínios do linguístico ............................................................................ 21 
Quadro 3: concepção vs. meio ............................................................................................... 24 
Quadro 4: tipos de integração sintática ................................................................................... 44 
Quadro 5: relações expressas vs. fatores ................................................................................. 47 
Quadro 6: classificação sintática vs. traços ............................................................................. 57 
Quadro 7: domínio vs. relações .............................................................................................. 71 
Quadro 8: relações semânticas a partir do quadro de domínio vs. relações .............................. 72 
Quadro 9: relações semânticas adotadas a partir do quadro domínio vs. relações .................... 74 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1: dados de representatividade do pré-corpus. ............................................................. 85 
Tabela 2: números oficiais do corpus de notícias .................................................................... 86 
Tabela 3: juntores de cada jornal por grau de integração sintática ........................................... 96 
Tabela 4: juntores de cada jornal por relações semânticas ..................................................... 103 
Tabela 5: juntores do Agora RN............................................................................................ 116 
Tabela 6: juntores do Tribuna do Norte ................................................................................ 120 
Tabela 7: juntores do Novo ................................................................................................... 124 
Tabela 8: juntores do Portal no Ar........................................................................................ 129 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AGRN – Agora RN 
ATD – Análise textual dos discursos 
NOV – Novo 
PdV – Ponto de Vista 
PORT – Portal no Ar 
TN – Tribuna do Norte 
E – Objeto Situado 
R – Objeto de Referência 
RE – Responsabilidade enunciativa 
R1 – Primeiro relatum 
R2 – Segundo relatum 
TD – Tradição Discursiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 18 
2.1. De Coseriu à tradição discursiva .............................................................................. 18 
2.2. Linguagem da imediatez – linguagem da distância ................................................... 23 
2.3. Processo de formação de uma TD e o advento da notícia .......................................... 32 
2.4. Juntores como indicadores de TDs ........................................................................... 42 
2.5. As relações sintáticas ............................................................................................... 48 
2.5.1. Traço I: posição obrigatória do conector no segundo relatum ............................... 49 
2.5.2. Traço II: o conector encontra-se em posição inicial no relatum ............................. 50 
2.5.3. Traço III: o conector atribui papel relacional ........................................................ 51 
2.5.4. Traço IV: o conector pede complemento oracional ............................................... 55 
2.5.5. Síntese do comportamento sintático dos juntores analisados ................................. 57 
2.6. Comportamento semântico dos juntores ................................................................... 59 
2.6.1. Categorias de entidades ........................................................................................ 59 
2.6.1.1. Entidades de primeira ordem ............................................................................ 60 
2.6.1.2. Entidades de segunda ordem ............................................................................60 
2.6.1.3. Entidades de terceira ordem ............................................................................. 61 
2.6.1.4. Entidades de quarta ordem ............................................................................... 61 
2.6.2. Conectores - os domínios conceptuais e os recursos da língua .............................. 62 
2.6.2.1. Conexões no domínio espacial ......................................................................... 62 
2.6.2.2. Conexão no domínio temporal.......................................................................... 63 
2.6.2.3. Conexões no domínio epistêmico ..................................................................... 65 
2.6.2.4. Conexões no domínio deôntico......................................................................... 66 
2.6.3. Identificação do domínio...................................................................................... 66 
2.6.4. Tipos de relação estabelecida ............................................................................... 67 
2.6.4.1. As relações de similaridade .............................................................................. 68 
2.6.4.2. As relações de situamento ................................................................................ 68 
2.6.4.3. As relações de condicionalidade ....................................................................... 69 
2.6.4.4. As relações de causalidade ............................................................................... 70 
2.6.5. Quadro de relações semânticas ............................................................................. 70 
2.6.5.1. As especificidades das relações de finalidade ................................................... 73 
2.6.5.2. Síntese das relações em recorte ........................................................................ 73 
2.7. Atos de fala ............................................................................................................. 74 
2.8. Responsabilidade enunciativa nas notícias ............................................................... 76 
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS ............................................................................... 80 
3.1. Corpus..................................................................................................................... 80 
3.1.1. Critérios de design do corpus ............................................................................... 81 
3.1.2. Representatividade ............................................................................................... 84 
3.2. Considerações sobre juntores multifuncionais de condicionalidade e finalidade ........ 87 
3.2.1. Se ........................................................................................................................ 87 
3.2.2. Para ..................................................................................................................... 88 
3.2.3. E .......................................................................................................................... 89 
3.3. Metodologia de análise no TraDisc .......................................................................... 90 
3.4. Perfis dos jornais analisados .................................................................................... 93 
3.4.1. Tribuna do Norte ................................................................................................. 93 
3.4.2. Agora RN............................................................................................................. 94 
3.4.3. Novo .................................................................................................................... 94 
3.4.4. Portal no Ar ......................................................................................................... 95 
4. ANÁLISE ................................................................................................................... 96 
4.1. Análise global da junção por graus de integração sintática........................................ 96 
4.2. Análise global da junção por relações semânticas ................................................... 102 
4.3. Análise das vozes do texto ..................................................................................... 107 
4.4. Análise da junção no Agora RN ............................................................................. 116 
4.5. Análise da junção no Tribuna do Norte .................................................................. 120 
4.6. Análise da junção no Novo ..................................................................................... 124 
4.7. Análise da junção no Portal no Ar ......................................................................... 128 
4.8. Síntese e discussão dos resultados em relação ao continuum de oralidade e 
escrituralidade ................................................................................................................... 132 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 143 
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 146 
ANEXO A – Corpus (Agora RN) ...................................................................................... 151 
ANEXO B – Corpus (Tribuna do Norte) ........................................................................... 179 
ANEXO C – Corpus (Novo) .............................................................................................. 202 
ANEXO D – Corpus (Portal no Ar) .................................................................................. 227 
 
 
13 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A presente dissertação faz uso do aporte teórico das Tradições Discursivas 
(doravante TD). Em seu estudo de 1992, Raible propõe um modelo de junção cujos 
parâmetros apresentam correlação com fatores como a evolução da língua, a aquisição 
da linguagem e a relação entre oralidade e escrituralidade. Partindo desse e de outros 
estudos, Kabatek (2006) desenvolve um projeto de análise de textos medievais do 
espanhol no qual afirma que a distribuição dos juntores pode ser sintomática para a 
identificação de diferentes Tradições Discursivas (TD) e para localizá-las no continuum 
de oralidade e escrituralidade proposto por Koch e Oesterreicher (1985). Seguindo essa 
vertente de pesquisa temos estudos como os de Longhin-Thomazi (2011), que busca 
compreender o processo de aquisição dos juntores por meio de produção textuais de 
alunos de uma escola pública de São José do Rio Preto/SP; Lopes (2012), que analisa a 
mudança linguística em cartas do século XIX e XX; Lopes-Damásio (2013), com seu 
estudo sobre justaposição oracional; e Castilho da Costa (2015), analisando a expressão 
de contra-causa em cartas de Câmara Cascudo. Apesar de haver estudos na área, é 
notória a necessidade de novas investigações, principalmente no que tange ao estado do 
Rio Grande do Norte, com vista a contribuir para o estudo sobre a história do português 
brasileiro. 
Em outra tradição de investigação, Blühdorn (1999) apresenta uma classificação 
sintático-semântica dos conectores a partir de um modelo que leva em conta a 
disposição do conector entre os relata e dentro do relatum, bem como a categoria das 
entidades relacionadas e o tipo de relação. Segundo o autor, é possível estabelecer 
conexões entre as entidades de primeira, segunda, terceira e quarta ordem, que 
correspondem, respectivamente, aos domínios espacial, temporal, epistêmico e 
deôntico
2
. Esse modelo contribui diretamente para as TD, pois a ordem das entidades e 
ao domínio a qual pertencem possibilitam uma distinção mais apurada dos juntores. 
Nessa vertente temos os trabalhos de Gutz Inglez (2007), analisando conectores de 
causa e condicionalidade em fóruns na internet; de Rodsi Ferreira (2011),com o estudo 
contrastivo entre português e alemão; e os do próprio Blühdorn (2006a, 2006b, 2008), 
com o comportamento sintático-semântico dos conectores. 
 
2 As entidades de primeira ordem são objetos físicos, as entidades de segunda ordem são estados de 
coisas e eventos, as de terceira ordem são as proposições em que se acredita e suas evidências, e as de 
quarta ordem são os objetos de desejabilidade. 
14 
 
Na presente dissertação fazemos uso do diálogo entre essas duas teorias para 
analisar os juntores de condicionalidade e finalidade em um corpus composto por 138 
notícias online sobre o impeachment de Dilma Rousseff oriundos de quatro jornais da 
cidade de Natal-RN (Agora RN, Novo, Portal no Ar e Tribuna do Norte). Segundo 
Kabatek (2018, p. 519), no que se refere às pesquisas em tradições discursivas, ―nosso 
objetivo só poderá ser alcançado se nos basearmos na intuição e na empatia do 
pesquisador [...] essa intuição só poderá ser o ponto de partida de uma busca sistemática 
do tradicional‖.
3
 Ao dizer isso, o autor se refere ao papel do linguista de olhar para o 
texto sem categorias pré-estabelecidas e buscar o que é recorrente e sistemático, os 
elementos tradicionais. A opção por trabalharmos com os juntores de condicionalidade e 
finalidade se deu pela sua ampla utilização nas notícias em recorte. Se, por um lado, os 
juntores de condicionalidade estavam presentes mostrando constantemente a iminência 
de o impeachment acontecer, por outro, os de finalidade marcam o objetivo final desse 
processo e contribuem para ver a ideologia por trás dos jornais. 
 A escolha do gênero se deu por dois motivos principais: a relevância da 
linguagem jornalística em relação à esfera da realidade e a capacidade do gênero de 
influenciar e refletir a linguagem dos leitores. Segundo Castilho da Costa (no prelo), no 
âmbito da linguagem jornalística escrita, tem crescido o uso de gírias, não só em jornais 
populares, mas também nos de grande divulgação nacional, como O Estado de S. Paulo, 
Jornal da Tarde e revistas de prestígio como a Veja. A autora conclui que a relação 
entre textos orais e escritos no Brasil têm sofrido uma mudança em dois sentidos: há um 
movimento de baixo para cima com a difusão de normas empregadas pela mídia; mas 
também de cima para baixo com o crescente prestígio da linguagem popular da qual o 
jornal busca se aproximar, garantindo sua legibilidade e sua circulação em diferentes 
esferas (CASTILHO DA COSTA, no prelo). 
Adotamos como norte para essa dissertação a seguinte questão principal: 
 Qual a localização das notícias do corpus e dos próprios jornais no continuum de 
oralidade-escrituralidade? 
 
 
3
 Original: “nuestro objetivo solo se podrá alcanzar se nos basamos en la intuición y empatía del experto, 
es decir, la empatía del lingüista, que, gracias a una de sus ocupaciones principales, a saber, la de ser, él 
mismo, productor de textos, sabe cuáles pueden e suelen ser los recursos de los que se sirven los texto. 
Eso sí, esta intuición solo podrá ser el punto de partida de una búsqueda sistemática de lo tradicional, 
cuya finalidad es la de identificar, en la mayor medida posible, la totalidad de las posibles tradiciones”. 
(KABATEK, 2018, p. 219). 
15 
 
Temos como questões específicas: 
 Quais juntores de condicionalidade e finalidade se fazem presentes no corpus? 
 Em que domínios conceptuais se encontram esses juntores e como se distribuem 
nas notícias? 
 
O objetivo geral desta dissertação é mostrar, por meio da análise dos juntores de 
condicionalidade e finalidade, em que ponto do continuum entre oralidade e 
escrituralidade as notícias do corpus se localizam. 
Temos os seguintes pontos como objetivos específicos: 
 Identificar os juntores de condicionalidade e finalidade presentes no corpus, 
segundo os critérios de nível de integração, relação semântica, ordem das 
entidades e domínio conceptual. 
 Analisar quantitativa e qualitativamente a distribuição desses juntores nas 
notícias consideradas. 
 Interpretar os resultados, levando em conta os parâmetros comunicativos e as 
marcas de pertencimento a grupos culturais característicos. 
 
Apoiamo-nos nas seguintes hipóteses: 
 Primeiramente, esperamos encontrar um amplo leque de juntores de finalidade e 
condicionalidade por estarmos analisando um corpus de notícias com elevado 
grau de planejamento e conhecimento específico. 
 Também temos a expectativa que predominem os usos dos juntores de 
condicionalidade no domínio temporal, haja vista que é característico do gênero 
a conexão entre eventos observáveis no espaço/tempo. 
 Além disso, esperamos que uso de juntores no domínio deôntico se dê por meio 
de citações, no qual predominam os desejos de vozes externas. 
 Por fim, presumimos que haja uma proximidade maior das notícias na direção 
do polo escrituralidade. 
 
A relevância desse trabalho se encontra no fato de estarmos usando dois 
modelos teóricos que, embora tenham pesquisas substanciais na Europa, em especial na 
Alemanha, carecem de pesquisa no português brasileiro. A pesquisa também contribui 
para os estudos da mudança semântica, pois, do ponto de vista diacrônico, as mudanças 
16 
 
linguísticas seguem uma ordem, indo do mais concreto para o mais abstrato por 
motivações cognitivas e comunicativas (LOPES-DAMASIO, 2011). Por essa razão, 
optamos por trabalhar com duas relações semânticas cognitivamente distintas. A relação 
de condicionalidade é uma das menos complexas, enquanto que a de finalidade é 
apresentada por Raible (2001) como sendo uma das mais complexas, atrás das de 
concessividade. Para os estudos do português brasileiro, essa diferenciação de 
complexidade é relevante, pois mostra a historicidade do idioma e sua capacidade de 
abstração e especificação. Para as tradições discursivas, essa diferenciação é 
fundamental para vermos o deslocamento de uma tradição discursiva no continuum de 
oralidade-escrituralidade. Assim, o presente estudo contribui para consolidar as 
pesquisas sobre a história do português brasileiro, em especial do estado do Rio Grande 
do Norte. 
Além da introdução, que caracteriza a seção 1, essa dissertação apresenta três 
seções com suas subdivisões. A seção 2 é dedicada ao referencial teórico utilizado. Em 
um primeiro momento, na divisão 2.1, temos a apresentação do modelo das tradições 
discursivas. Nessa seção apresentamos o conceito de linguagem de Coseriu (1992) e o 
percurso até o surgimento do conceito e das características do que vem a ser conhecida 
como TD. 
Em seguida, 2.2, falamos sobre o continuum de oralidade-escrituralidade, a 
linguagem da imediatez e da distância comunicativa e um esquema com dez parâmetros 
que devem ser levados em conta para situar um texto no continuum. 
Na subseção 2.3, apresentamos o processo de formação de uma TD e as 
características linguísticas e estruturais das notícias online atuais, apoiando-nos nos 
estudos Koch (1997), Sodré (1999) e Castilho da Costa (2011). 
A subseção 2.4 é referente à proposta de Raible (1992) de juntores. Fazemos 
uma explanação sobre a relação entre análise de junção e TD e introduzimos o crescente 
grau de complexidade das relações semânticas proposta por Kortmann (1997), que serve 
de inspiração para Raible (2001). 
Na divisão 2.5, detemos-nos a explicar as relações sintáticas dos conectores 
propostas por Blühdorn (2006a), bem como critérios para diferenciar os diferentes graus 
de integração sintática.. 
Na subseção 2.6, expomos o aporte teórico, proveniente de Blühdorn (2006b), 
necessário para a compreensão do comportamento semântico dos conectivos, bem como 
17 
 
as características dos domínios espacial, temporal, epistêmico e deôntico com seus 
respectivos exemplos. 
A divisão 2.7 é dedicada à noção de proposição, oriunda da teoriados atos de 
fala e fundamental para o conceito de juntor, proposto por Raible (1992). 
Na subseção seguinte, 2.8, apresentamos o conceito de responsabilidade 
enunciativa e exemplificamos, com recortes do corpus, como os domínios conceptuais, 
propostos na seção seis, são influenciados pelas vozes do texto. Com isso, encerramos 
a seção da fundamentação teórica e damos início aos aspectos metodológicos na seção 
3. 
De 3.1 a 3.3, caracterizamos o corpus, apresentamos todos os aspectos 
metodológicos envolvidos na pesquisa, critérios para escolha dos jornais e coleta das 
notícias, bem como, descrevemos, de forma breve, o funcionamento do TraDisc, 
programa de processamento de dados linguísticos usado na pesquisa para estipular o 
grau de complexidade das notícias. 
A subseção 3.4 é reservada à descrição dos perfis dos quatro jornais pertencentes 
ao corpus. São introduzidos nessa seção a história de cada um, seu público-alvo, traços 
estruturais e influência política. 
A última seção é dedicada à descrição e análise dos dados obtidos, primeiro de 
forma global, da divisão 4.1 a 4.3, e, em seguida, com foco em cada jornal 
separadamente, 4.4 a 4.7. Na subseção 4.8 fazemos uma explanação geral, apontado as 
notícias e os jornais do corpus no continuum. 
Encerramos o estudo com as considerações finais, buscando fazer um apanhado 
de tudo que foi encontrado e mostrando as aberturas que o trabalho oferece para 
pesquisas futuras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
A presente sessão traz a fundamentação teórica no qual essa dissertação se 
baseia. Aqui apresentamos não só o surgimento do conceito de Tradição Discursiva 
(TD) oriundo dos três níveis do linguístico de Coseriu (1992), mas também 
contribuições feitas por Koch (1985, 1997), Kabatek (2005, 2006, 2018) e Castilho da 
Costa (2011, 2015, 2017) para que possamos ter uma visão mais detalhada do que é TD 
e algumas de suas características. 
 No decorrer do texto, passando pelas categorias sintáticas e semânticas 
propostas por Blühdorn (1999, 2001, 2006a, 2006b), bem como a Teoria dos Atos de 
Fala (AUSTIN, 1926) e a Responsabilidade Enunciativa (ADAM, 2008). 
Além dos autores já citados, as vozes de diversos outros teóricos são cruzadas 
durante essa sessão para que o texto se torne claro e coerente. 
2.1. De Coseriu à tradição discursiva 
 
As raízes do conceito de tradição discursiva (doravante, TD) remontam à 
filosofia da linguagem de Eugenio Coseriu. 
Segundo o autor (COSERIU, 1992), a linguagem pode ser entendida de três 
pontos de vista: a) como energeia, no sentido humboldtiano (cf. HUMBOLDT 
1979/1988), de atividade de criação e fixação de conhecimento, de ir mais além do 
aprendido, o produzir originário que não repete simplesmente o já produzido, em outras 
palavras, aquela atividade que precede sua própria potência (p. 22-23); b) como 
dynamis, uma potência ou saber fazer a partir de algo, que pode, inclusive ser novo, e 
que serve de modelo para produtos ulteriores (p. 23); c) como érgon, quer dizer, produto 
que é criado pela atividade, como, por exemplo, produto do falar individual (discurso) é 
o texto que pode ser conservado na memória, fixado, registrado, anotado, etc. (cf. p. 88). 
Partindo da visão da linguagem como energeia, o falar é caracterizado por 
Coseriu (1992, p. 86) como atividade humana universal, que é realizada 
individualmente, em situações determinadas por falantes individuais, como 
representantes de uma comunidade linguística, com tradições comunitárias do saber 
falar. Aqui não se trata de uma atividade meramente psico-física, mas, sobretudo, 
19 
 
cultural, ou seja, uma atividade que cria cultura, pois o falar cria algo que 
eventualmente pode ser aprendido e que se pode converter em tradição (p. 86). 
Coseriu (1992, p. 87) distingue, ainda, três planos ou níveis do falar como 
atividade cultural: a) o nível universal, b) o histórico e c) o individual. No nível 
universal está o falar em geral, comum a todos os homens, correspondente à capacidade 
antropológica de falar, de se comunicar. Segundo Coseriu (2007, p. 38), esse nível diz 
respeito à ―possibilidade de a linguagem se referir à realidade extralinguística, isto é, o 
caráter significável da linguagem e o fato de ela se referir a algo que não a si mesma‖ 
(tradução nossa)
4
. Até mesmo o calar está em relação direta com o falar, já que calar 
significa ―deixar de falar‖, ―não falar ainda‖ (COSERIU, 1992, p. 87). Todo falar é falar 
uma língua determinada, seguindo uma tradição histórica. Por isso, no nível histórico 
estão as línguas particulares como herança cultural do seu povo (português, inglês, 
alemão, espanhol, etc., incluindo suas variedades), com seus vocabulários e regras 
particulares. Contudo, o falar é também individual sob duas perspectivas: de um lado, é 
sempre um indivíduo que o executa (e não um grupo); de outro, cada enunciado é único 
no tempo e no espaço, proferido dentro de uma situação comunicativa única. Dessa 
maneira, no nível individual, está o texto ou discurso. 
Aos três níveis, correspondem também três saberes: o saber linguístico, ou saber 
elocucional; o saber idiomático e o saber expressivo (COSERIU, 1980, p. 93). O saber 
elocucional é o saber sem distinção histórica, de competência expressiva em geral. Já o 
saber idiomático diz respeito à habilidade de utilizar as regras de um determinado 
idioma. Por fim, o saber expressivo refere-se ao saber construir um discurso, o saber 
executar um ato linguístico determinado em uma situação determinada. 
 
Quadro 1: níveis e pontos de vista do linguístico segundo Coseriu (1980) 
Níveis/pontos de 
vista 
ἐνέργεια (atividade) δσναμις (saber) εργον (produto) 
Universal 
 
Falar em geral Saber elocucional Soma do falado 
Histórico Falar uma língua Saber idiomático Língua particular 
 
4 Original: [...] es la posibilidad del lenguaje de referirse a la realidad extralingüística, esto es, 
el carácter sígnico del lenguaje o el hecho de que el lenguaje se refiere a algo que no es él 
mismo. 
20 
 
 particular abstraída 
Individual 
 
Produzir um 
Discurso 
Saber expressivo Texto 
Fonte: adaptação de Coseriu (1980, p.93) 
 
Alguns autores, todavia, criticam a colocação do saber expressivo no nível 
individual. Koch afirma que ―o discurso é, na verdade, o lugar da aplicação do saber 
linguístico, mas como cada discurso é único e o saber linguístico implica a 
possibilidade da reprodução, saber e discurso serão incompatíveis” 
5
 (2008, p.54, 
tradução minha). 
Porém, considerar o discurso apenas como local de aplicação do saber 
linguístico equivale a dizer que a língua é um produto e, portanto, não entender sua 
dinamicidade, atribuindo as mudanças linguísticas a fatores externos (COSERIU, 1982, 
p .21-22). Ao usar ἐνέργεια (atividade), Coseriu faz referência à noção aristotélica, isso 
é, atividade criadora livre, que tende ao infinito. Ainda segundo o autor, todo ato de 
falar é, em alguma medida, um ato criador; daí a necessidade de recorrer aos contextos 
na interpretação de qualquer ato linguístico (COSERIU, 1982, p.22). 
Após os estudos de Coseriu, novas pesquisas surgiram no âmbito da linguística 
de texto, em especial nos anos 60 a 70. Em seu trabalho de 1983, Brigitte Schlieben-
Lange, além de propor a separação entre o meio fônico e gráfico e a criação de um 
continuum entre os polos de escrituralidade e oralidade, chama atenção para essa 
tradicionalidade e sua independência das tradições da língua (apud KOCH, 2008, p.54). 
É partindo dos estudos de Coseriu (1980; 1982; 1992) e também dos de 
Schlieben-Lange (1983) que Koch (1997), ao perceber que há formas e fórmulas 
tradicionalmente usadas no discurso que estão além das regras do idioma histórico, mas 
que também não se encaixam no nível individual, nota a necessidade de criar uma nova 
divisãono nível histórico. Os níveis e domínios propostos por Coseriu (1980, p. 93) são 
revisados e uma nova separação é proposta para acomodar o saber discursivo, retirando-
o do nível individual e repartindo o nível histórico conforme a tabela abaixo
6
: 
 
5 Original: El discurso es, en verdade, el lugar de la aplicación del saber linguístico, pero, como cada 
discurso es único y el saber implica la posibilidad de la reproducción, saber y discurso serán 
incompatibles. 
6
 Críticas a esta divisão podem ser vistas em Tradiciones discursivas y cambio linguístico: El ejemplo del 
tratamento vuestra merced em Español (KOCH, 2008). Todavia, os diferentes posicionamentos sobre 
onde incluir a Tradição Discursiva não a desvalida, nem altera o modo como lidamos com ela neste 
trabalho, servindo apenas para termos classificatórios. Defendemos que as TD pertencem ao nível 
21 
 
Quadro 2: níveis e domínios do linguístico 
Nível Domínio Regras 
Universal Atividade do falar Regras elocucionais 
Histórico Língua histórica Regras idiomáticas 
Tradição Discursiva Regras Discursivas 
Individual Discurso 
Fonte: adaptado de Koch (2008, p. 54) 
 
Surge, então, o conceito de tradição discursiva como é entendida hoje. A TD 
deve ser vista como uma reduplicação do nível histórico (KOCH, 1997). Em outras 
palavras, o nível histórico proposto por Coseriu (1980) passa a ser dividido em dois 
filtros pelos quais a finalidade comunicativa passa antes de se transformar em 
―enunciado‖, como na imagem seguinte: 
 
Esquema 1: filtro das tradições discursivas 
 
 
Fonte: Kabatek (2005, p. 161) 
 
O nível histórico da língua particular coincide com a historicidade do homem 
como ser histórico, já a historicidade das TD refere-se às manifestações linguísticas que 
se repetem culturalmente, sofrendo outras influências. 
Kabatek (2006, p. 510) argumenta que: 
O traço definidor das TD é, então, a relação de um texto em um 
momento determinado da história com outro texto anterior: uma 
relação temporal com repetição de algo. Esse ‗algo‘ pode ser a 
repetição total do texto inteiro, como no caso da fórmula ‗bom dia‘, 
mas também pode ser apenas a repetição parcial ou ainda a ausência 
 
histórico haja vista que, assim como as línguas, constituem uma maneira tradicional do falar, uma 
manifestação cultural repetível. Contudo, Coseriu já postulava uma historicidade no nível individual. 
Esse debate se dá, pois o termo “historicidade” pode corresponder a mais de um sentido, dando 
margem a diferentes interpretações. Para mais detalhes recomenda-se ler Sobre a historicidade de 
textos (KABATEK, 2004. Tradução: José Simões). 
22 
 
total de repetição concreta e unicamente a repetição de uma fórmula 
textual. 
 
Isso significa que todo modelo textual recorrente, como gênero, é uma TD, mas 
nem toda TD precisa ser um gênero. Da mesma forma, nem toda repetição é uma TD. É 
preciso primeiro que seja uma repetição discursiva, e também que haja uma evocação. 
Assim, qualquer situação comunicativa que evoque uma forma tradicional de falar, seja 
ela no âmbito lexical, sintático, fonético ou qualquer outro, se caracteriza uma tradição 
discursiva. O seguinte esquema demonstra a relação entre as partes: 
 
Esquema 2: evocação 
 
Fonte: Kabatek (2006, p.511) 
 
A imagem acima pode ser melhor compreendida através de um exemplo de 
saudação, que é evocada por uma situação concreta (situação 1), que se repete (situação 
2) e evoca (texto 2) sequência igual ou semelhante de elementos do texto anterior (texto 
1), seja em termos de conteúdo ou formulação. Com isso, fica evidente que não é 
possível se considerar a TD somente pelo seu aspecto textual, já que a situação concreta 
é a contrapartida necessária para sua explicação (KABATEK, 2006, p. 511). Isso 
implica dizer que quando encontramos alguém na rua dizemos ―bom dia‖ pelo fato de 
que a finalidade comunicativa não atravessou somente o filtro histórico do idioma e 
encontrou resposta no acervo lexical, como também atravessou o filtro das TD para 
encontrar uma tradição estabelecida além das regras idiomáticas. Isso fica claro quando 
recorremos ao conceito de marcação proposto por Givón (1990, p. 947) e atentamos 
para o fato de que o enunciado ―desejo-lhe um dia bom‖ seria menos marcado já que o 
adjetivo viria posterior ao substantivo. 
Como chave central dessa pesquisa, assumo a definição de TD proposta por 
Kabatek (2006, p.512): 
Entendemos por Tradição Discursiva (TD) a repetição de um texto ou 
de uma forma textual ou de uma maneira particular de escrever ou 
falar que adquire valor de signo próprio (portanto é significável). 
23 
 
Pode-se formar em relação a qualquer finalidade de expressão ou 
elemento de conteúdo, cuja repetição estabelece uma relação de união 
entre atualização e tradição; qualquer relação que se pode estabelecer 
semioticamente entre dois elementos de tradição (atos de enunciação 
ou elementos referenciais) que evocam uma determinada forma 
textual ou determinados elementos linguísticos empregados. 
 
Essa definição abrange o caráter referencial da TD em seus mais diversos 
aspectos, destacando a impossibilidade de compreendê-la sem seu contexto. Isso é, toda 
TD se conecta a um falar produzido anteriormente. Além do mais, atenta ao seu valor de 
signo nos grupos sociais aos quais pertence, comunicando mais do que um texto sem 
tradição. 
 
2.2. Linguagem da imediatez – linguagem da distância 
 
Por muito tempo a relação entre linguagem oral e linguagem escrita foi bastante 
confusa. A princípio os termos ―oral‖ e ―escrito‖ eram utilizados para designar a 
realização material das expressões linguísticas, por meio sonoro ou registro gráfico. 
Observou-se, contudo, a dificuldade de se enquadrar expressões cuja materialidade era 
oral, mas de configuração escrita, como anúncios fúnebres, ou o oposto, cuja 
materialidade era gráfica, mas de configuração oral, como cartas privadas (KOCH e 
OESTERREICHER, 1990, p. 20). 
 A solução para esse problema classificatório foi apontada por Ludwig Söll 
(1985, p.17-25 apud KOCH e OESTERREICHER, 2013, p.155) ao propor a separação 
entre meio e concepção. Nesse sentido, o meio é o canal pelo qual o texto é veiculado, 
ou seja, existem o meio fônico e o gráfico. A concepção diz respeito ao grau de 
elaboração do discurso. Um discurso com alto grau de elaboração e planejamento é 
típico da escrituralidade, na terminologia de Bühler, típico do Sprachwerk, a ―obra 
linguística‖, isto é, a reflexão sobre o próprio enunciado (apud CASTILHO DA 
COSTA, 2011, p. 248). O resultado obtido pode ser visto a seguir: 
 
 
 
 
24 
 
Quadro 3: concepção vs. meio 
 
Fonte: Koch e Oesterreicher (2013[1985], p. 156) 
 
Dessa forma, um enunciado pode ser produzido através do meio fônico ou 
gráfico, utilizando uma concepção oral ou escrita, resultando em quatro possibilidades. 
Uma conversa casual entre amigos seria produzida através do meio fônico se fosse 
presencial, ou gráfico caso venha a ser por SMS, por exemplo. Mas muito 
provavelmente terá uma concepção oral, com falas bastante informais. Já um ato 
jurídico fará uso de uma concepção escrita, para manter o distanciamento e não mostrar 
envolvimento emocional, e um meio gráfico (sendo uma palestra, o meio seria fônico). 
É possível notar, então, que o conceito de oralidade pode ser entendido de duas 
formas distintas. Quando fazemos alusão à sua materialidade, falamos de oralidade 
medial (código fônico). Porém, quando nos referimos ao grau de elaboração do discurso 
nos referimos à oralidade concepcional (concepção oral). 
 A verdade é que, embora os problemas terminológicos tenham sido resolvidos, 
Koch e Oesterreicher (2013, p. 156)atentam para a necessidade de leitura da 
diferenciação entre oralidade e escrituralidade não de forma dicotômica, mas a partir de 
um continuum de escrituralidade capaz de comportar os mais variados graus de 
elaboração do discurso. Os autores desenvolvem, então, um modelo teórico da 
―imediatez e distância comunicativa‖. Segundo Castilho da Costa (2017, p. 111) o polo 
da oralidade marca a imediatez máxima, mais próximo do ego-hic-nunc (eu-aqui-agora), 
e o polo da escrituralidade se identifica pelo oposto, ou seja, a distância do ego-hic-
nunc. Quanto mais distante do ego-hic-nunc um texto for, mais ele tende à 
escrituralidade. Uma conversa casual entre amigos (a) seria algo mais próximo do polo 
da oralidade do que um depoimento em um diário (b) ou uma entrevista de emprego (c), 
mas todos os três dificilmente se aproximariam tanto do polo da escrituralidade quanto 
um artigo científico (d), por exemplo. Vejamos a figura abaixo: 
 
 
 
25 
 
Esquema 3: posição dos exemplos no continuum de oralidade e escrituralidade 
 
 
Fonte: adaptado de Koch e Oesterreicher (2013[1985] p. 157). 
 
Os pontos marcados com (‗) correspondem a possível transposição de um meio 
ao outro. (a‘) seria a transcrição desta conversa casual, ou talvez a mesma conversa em 
um aplicativo de celular, por exemplo.
7
 
Do ponto de vista do modelo de TD, ―O continuum entre oralidade e 
escrituralidade é o fator mais saliente que determina a escolha de elementos nos 
diferentes textos‖
8
 (KABATEK, OBRIST, VINCIS, 2010, p. 252). Ou seja, as TDs 
determinam a escolha das formas linguísticas e variedades empregadas, já que as 
características linguísticas são próprias de determinadas TDs (OESTERREICHER, 
1997 apud TUÃO, 2014, p.31). Além disso, é a partir dele que podemos localizar e 
classificar os diferentes textos e as diferentes tradições. 
Para localizarmos uma determinada TD em um ponto do continuum Koch & 
Oesterreicher (2013, p.158-162) nos apresentam dez parâmetros ou condições 
comunicativas: 
 
a) Grau de privacidade – corresponde ao caráter mais ou menos público da 
comunicação (um diálogo entre duas pessoas, uma conversa em grupo, uma 
comunicação em massa, etc...). Comumente o texto escrito tem caráter 
público, diferentemente do oral. Mesmo as cartas costumavam ser lidas para 
familiares. 
b) Grau de familiaridade – corresponde à intimidade entre os envolvidos, do 
conhecimento compartilhado (desde o muito próximo até o desconhecido). 
Amigos e familiares, na maioria dos casos, usam uma linguagem mais 
familiar do que a usada para atender um cliente no ambiente de trabalho. 
 
7
 Todo texto pode ser transferido do meio fônico ao gráfico ou vice-versa a depender dos meios técnicos 
de apoio específico. 
8
 Original: “the continuum between orality and literacy is the most salient factor that determines the 
choice of elements in different texts”. 
26 
 
c) Grau de envolvimento emocional – diz respeito ao envolvimento com o 
interlocutor (afetividade) ou com o objeto da comunicação (expressividade). 
Vai desde a proximidade emocional até o distanciamento emocional. Na 
linguagem oral o enunciador está mais envolvido e responsável pelo seu 
discurso. É recorrente na escrituralidade usar vozes de outros enunciadores, 
o que acaba por tirar a responsabilidade e o envolvimento do enunciador 
principal. 
d) Grau de ancoragem na situação de comunicação imediata – é a conexão entre 
texto e contexto. Um alto grau de ancoragem é quando o contexto possibilita 
a interpretação de conteúdos que não foram necessariamente ditos. Se uma 
garota diz para a amiga ―olha essa mulher!‖ pode estar se referindo à sua 
beleza, ou ao modo como está vestida, ou ao fato de ela estar vindo de 
bicicleta e ser um conselho para que a amiga preste atenção ao atravessar a 
rua. Nesse caso, o texto possui um baixo grau de autonomia em relação à 
situação de comunicação imediata e um alto grau de ancoragem. 
e) Campo referencial – relacionado à distância dos objetos e pessoas referidas 
com relação ao ego-hic-nunc do falante. A proximidade entre falante e 
objetos e pessoas referidas facilita o uso da dêixis situacional, não sendo 
necessária uma descrição detalhada do contexto. 
f) Imediatez ou distância física dos interlocutores – tanto no sentido espacial 
quanto temporal. A interação face a face facilita a comunicação sobre 
elementos contextuais situados no ambiente. Na linguagem escrita é 
necessário situar o receptor, dando muito mais informações como descrição 
do local, data que foi escrito, enunciador, entre outras coisas. 
g) Grau de cooperação – capacidade de intervenção dos receptores na produção 
do discurso. Na linguagem oral concepcional o produtor e receptor 
costumam guiar a progressão do conteúdo constante e conjuntamente. O 
interlocutor demonstra reações, linguísticas ou não, que servem como 
feedback para o autor do discurso. 
h) Grau de dialogicidade – no que se refere à possibilidade de alternância de 
turnos de fala. A distribuição de falas costuma ser muito mais livre na 
linguagem oral, constantemente marcada por diálogos e troca de turnos entre 
emissor e receptor. A linguagem escrita, por sua vez, apresenta menos troca 
de turnos. Um exemplo seriam as trocas de cartas com turnos de falas muito 
27 
 
mais distantes. É importante ressaltar que mesmo na linguagem oral também 
pode haver ausência de dialogicidade, como no caso dos programas TV em 
que o espectador, na maioria das vezes, não interage. 
i) Grau de espontaneidade – corresponde ao planejamento da fala no momento 
da produção. A espontaneidade é um dos traços marcados da oralidade, por 
isso é tão comum dizer-se algo e reformular. Na escrituralidade o enunciador 
tem tempo para refletir e pensar nas palavras bem como combiná-las, o que, 
muitas vezes, evita ruídos de comunicação. 
j) Grau de fixação temática - O caráter imediato da comunicação oral facilita a 
espontaneidade e a não necessidade de planejamento prévio. Por isso não é 
incomum fazer-se pausas para planejar a fala seguinte ou até mesmo 
correções. Na linguagem escrita, por sua vez, o planejamento é necessário 
para manter o texto coeso e coerente, e facilitar a compreensão. 
 
A combinação de ―alto grau de privacidade‖, ―intimidade‖, ―proximidade física 
e temporal‖, ―espontaneidade‖, etc. caracteriza o ponto extremo do polo da oralidade. 
Segundo Koch (2013, p. 160) a forma de comunicação correspondente a esse polo pode 
ser denominada pelo conceito de linguagem da imediatez. Do lado oposto, ―baixo grau 
de privacidade‖, ―desconhecimento‖, ―distância física e temporal‖, etc. correspondem 
ao polo escrito e a forma de comunicação é denominada linguagem da distância. É 
importante ressaltar que o parâmetro F é o único que não é considerado de natureza 
gradual e escalar, por Koch e Oesterreicher (2013), pois, se limita a distância física e 
temporal entre os interlocutores. Contudo, com a advento de tecnologias, como o Skype 
e o WhatsApp, é possível fazer ressalvas ao caráter dicotômico de F, já que é possível 
haver uma distância física e uma imediatez temporal. 
A figura 1 mostra o esquema global, no qual os triângulos marcam a afinidade 
do meio com cada uma das concepções, levando em conta os mesmos exemplos do 
esquema 3: 
 
 
 
 
 
 
28 
 
Figura 1: esquema global com condições comunicativas 
 
Fonte: adaptado de Koch e Oesterreicher (2007, p. 34) 
 
 A figura 1 ilustra as características da comunicação dos dois polos. As posições 
relativas de a - d indicam o suposto grau de imediatez ou distância dos exemplos no 
continuum proposto, a depender das características encontradas. Ao analisarmos alguns 
pontos dessas comunicações, podemos notar que uma conversa casual entre amigos (a) 
possui um alto grau de emocionalidade, espontaneidade e liberdade temática. Já um 
depoimento em um diário (b)tem alto grau de privacidade, mas não possui o mesmo 
grau de dialogicidade. Uma entrevista de emprego (c) tem proximidade física e caráter 
dialógico, mas menor grau de privacidade (se houver mais de um entrevistador ou a 
conversa for gravada). Um artigo científico (d) se aproxima muito mais do polo da 
distância comunicativa porque apresenta distância física, baixo grau de emocionalidade 
e alto grau de publicidade. 
Uma análise global das notícias do corpus, sem distinção entre os jornais, 
possibilita fazer a seguinte interpretação dos 10 parâmetros propostos por Koch & 
Oesterreicher (2013): 
a-) Grau de privacidade – As notícias possuem um altíssimo grau de publicidade 
haja vista que sua disseminação é global através da internet. Embora o maior público 
seja estado do Rio Grande do Norte, as notícias online não encontram barreiras físicas 
que impeçam o acesso em outro país. 
29 
 
b-) Grau de familiaridade – O corpus possui um baixíssimo grau de 
familiaridade, pois, mais uma vez, sua destinação é mundial. Essa característica 
influencia a norma jornalística que busca uma linguagem acessível, sem marcas 
diatópicas. 
c-) Grau de envolvimento emocional – O baixo grau de envolvimento emocional 
é uma das principais características da linguagem jornalística, que preza pela 
imparcialidade, evitando a expressividade, ou seja, o envolvimento com o objeto da 
comunicação, no caso, o tema da notícia. É natural que esse grau varie entre os jornais à 
medida que eles são mais ou menos influenciados politicamente. Contudo, quando 
comparado a outros gêneros, as notícias de jornais comumente se aproximam do polo da 
escrituralidade. 
d-) Grau de ancoragem – O discurso é distante do contexto. As notícias de 
jornais possuem um baixo grau de ancoragem situacional, com descrição do contexto 
em que os eventos se passam. Uma característica que ressalta esse ponto é a localização 
geográfica, data e hora encontrada no início das notícias, dando uma breve 
contextualização para o leitor. 
e-) Campo referencial – As notícias visam ser de fácil compreensão para a maior 
parte da população, por isso mesmo elas fazem pouco uso das dêixis situacionais, 
evitando deixar informações implícitas no contexto. Ainda assim, como no início das 
notícias há os dados sobre data e hora, é comum encontrar expressões como ―na noite de 
ontem‖, ―amanhã‖, ―nessa quarta‖, que só podem ser compreendidas quando 
observados esses dados. 
f-) Imediatez ou distância física dos interlocutores – Em relação a esse item é 
preciso fazer ressalvas. A distância física é comum nas notícias dos jornais; contudo, o 
recorte semântico do corpus em questão goza de uma peculiaridade. Como as 
informações vêm de Brasília, há três pontos: o local onde a notícia é coletada (Brasília) 
é fisicamente distante de onde ela é editada (Natal) para ser publicada (Natal/Internet). 
Nesse sentido, a distância não acontece somente entre o locutor e interlocutor, mas 
também durante todo seu processo de produção. Isso aproxima as notícias do polo da 
escrituralidade. Apesar disso, a imediatez temporal das notícias online possibilita a 
narração dos fatos em questões de minutos, o que aproxima as notícias do polo da 
oralidade. Assim, pode-se dizer que há uma tendência das notícias em recorte de se 
deslocarem para a escrituralidade, sem, contudo, apresentarem somente características 
desse polo. 
30 
 
g-) Grau de cooperação – O grau de cooperação nas notícias é bastante baixo. A 
notícia é produzida sem interferência do interlocutor. Isso significa que o leitor só tem 
acesso à versão final da notícia e não pode dar feedbacks que contribuam para sua 
melhor formulação, salvo poucos casos no qual o jornal comete algum erro que é 
percebido pelo leitor e origina uma edição na notícia anteriormente publicada. Porém, 
nada semelhante foi constatado nas notícias do corpus. 
h-) Grau de dialogicidade – As notícias possuem um grau de dialogicidade muito 
reduzido, próximo ao zero. É possível que, vendo os comentários dos leitores abaixo da 
notícia, o jornal opte por publicar novas informações a respeito de um tema e, por isso, 
responda, de forma indireta, dúvidas ou comentários dos leitores; todavia, o jornal não 
responde os comentários diretamente em novas notícias. Assim, a dialogicidade se 
encerra no próprio comentário do leitor. 
i-) Grau de espontaneidade – Até a publicação de uma nova notícia o texto passa 
por diversos revisores e diversas versões. Por isso, o grau de espontaneidade é 
baixíssimo e muito próximo ao polo da escrituralidade. 
j-) Grau de fixação temática – O grau de fixação temática nas notícias é bastante 
alto. Isso ocorre porque cada notícia gira em torno de um tema em recorte. Como uma 
das características desse gênero é ser de fácil compreensão para a maior parte da 
população, as notícias não devem entrar em mais de um tema por vez. Outro fator que 
contribui indiretamente para o alto grau de fixação temática é o tamanho da notícia. 
Quanto mais informações, mais espaço e mais tempo ela levará para ser lida. As notícias 
do corpus têm uma média de 300 a 400 palavras, o que evita que muitos temas possam 
ser desenvolvidos em uma mesma notícia. 
 
Até agora observamos características da oralidade e da escrituralidade relevantes 
para o aspecto conceptual no nível universal, passíveis de serem observados em 
qualquer língua histórica. Porém, é indispensável ocupar-se da língua da imediatez e da 
distância comunicativa no nível histórico, levando em conta sua relação com as 
variedades diatópicas, diastráticas e diafásicas. Segundo Koch e Oesterreicher (2013, p. 
155) o parâmetro oral/escrito é algo transversal e não redutível a tais diferenciações 
diassistemáticas. É natural que exista certa correlação entre algumas variedades e a 
modalidade oral ou escrita, mas é preciso que não as confundamos. 
Existem três dimensões principais da variação linguística intraidiomática: 
31 
 
 A variação diatópica diz respeito às diferentes regiões considerando-se os limites 
físico-geográficos (como Natal, São Paulo, Porto Alegre). 
 A variação diastrática refere-se aos diferentes grupos e estratos, levando-se em 
conta fronteiras sociais (como classe alta, classe baixa, ou, médicos, pedreiros, 
motoristas). 
 A variação diafásica tem a ver com o estilo, podendo ser mais ou formal, ou 
mais informal a depender da situação comunicativa (como português coloquial, 
português literário) 
Koch e Oesterreicher (1990, p. 37) argumentam que a diferenciação entre 
oralidade e escrituralidade no diassistema é ―fundamental para uma modelação 
adequada do aspecto variacional idiomático de uma língua histórica‖
9
, e que tal variação 
deve ser tomada como constituinte central do diassistema variacional (KOCH e 
OESTERREICHER, 1990, p. 37). Vejamos a figura abaixo: 
 
Figura 2: espaço variacional histórico-idiomático entre imediatez e distância 
comunicativa. 
 
Fonte: Koch e Oesterreicher (1990, p. 39) 
 
Segundo os autores, estudos mostram que as variedades diafásica, diastrática e 
diatópica não coexistem de forma desconexa em uma determinada língua. Elas 
 
9 Original: “En la diasistemática esbozada se echa de menos la diferenciación entre oralidad y 
escrituralidad, que, em nuestra opinión, es fundamental para uma modelación adecuada del espacio 
variacional idiomático de uma lengua histórica”. (KOCH e OESTERREICHER, 1990, p. 37) 
32 
 
estabelecem relações em uma direção fixa determinada. As variedades diatópicas (4) 
podem funcionar como diastráticas (3), que por sua vez pode funcionar como diafásicas 
(2), mas não ao inverso (observar figura 2) (KOCH e OESTERREICHER, 1990, p. 38). 
 Os autores ilustram essa afirmação mostrando que uma expressão dialetal muito 
marcada pode ser classificada como diastraticamente baixa, ao mesmo tempo que 
também pode ser classificada comodiafasicamente baixa ao ser usada por um falante de 
classe social alta em um momento de informalidade. 
A posição central da dimensão variacional 1(a/b) é notória pois abarca elementos 
de qualquer uma das outras variedades. Além disso, as outras três dimensões orientam 
sua escala de marcas internas por meio dessa dimensão. Uma variedade diatopicamente 
forte, diastraticamente baixa e diafasicamente baixa é mais marcada e se aproxima da 
língua da imediatez. Por outro lado, uma variedade diatopicamente fraca, 
diastraticamente alta e diafasicamente alta é menos marcada e se aproxima da língua da 
distância. 
Na visão dos autores, a dimensão variacional falado/escrito (1b) é ―expressão 
direta do continuum universal entre imediatez e distancia comunicativa (1a)‖ que resulta 
das condições comunicativas (parâmetros a-j) (KOCH e OESTERREICHER, 1990, 
p.38). Por isso, deve sempre ser levada em conta. 
Nesta seção discutimos a importância do continuum de escrituralidade para a 
classificação efetiva de TDs. Na seção seguinte, apresentaremos o processo de formação 
de uma TD, o surgimento da notícia e as suas características atuais. 
 
2.3. Processo de formação de uma TD e o advento da notícia 
 
O surgimento do jornal está diretamente ligado aos hábitos de correspondência 
do passado. Durante os séculos XIV e XV, muitas cartas traziam uma rubrica que 
continha informações sobre a situação política e comercial do local de origem. Com o 
passar do tempo, a rubrica dá origem a uma carta inteira dedicada a essas informações e 
que é anexada à carta de conteúdo privado. Algo essencial para o processo de 
transformação do gênero que origina a notícia de jornal é a divulgação das notícias 
recebidas. Era comum divulgá-las entre amigos e familiares, uma honra recebê-las em 
primeira mão. Para alguns especialistas, como Steinhausen-Kassel (1928 apud 
CASTILHO DA COSTA, 2011), esse é um momento de transição da carta privada para 
o jornal, mas precisamos entender melhor como se deu essa transformação. 
33 
 
Os gêneros textuais são compostos por formas mais ou menos prototípicas. O 
conceito de prototipicidade, adotado da linguística cognitiva, admite que ―não existem 
formas sem variantes e de que todo modelo textual é composto por uma classe de 
variantes com aspectos formais semelhantes‖ (CASTILHO DA COSTA, 2011, p.38). 
Diacronicamente, a variedade prototípica pode mudar, sendo, com a passar do tempo, 
totalmente diferente da variedade dominante que lhe deu origem. 
 Segundo Koch (1997 apud CASTILHO DA COSTA, 2011), novas TD surgem 
como soluções por meio do ―afrouxamento‖ do já existente. Em outras palavras, uma 
TD nunca surge ex nihilo, mas, sim, a partir de modificações nos traços de outra TD já 
existente, como pode ser visto na figura 3: 
 
Figura 3: variantes de gêneros textuais 
 
Fonte: Koch (1997, p.60) 
 
 Essa afirmação implica que sempre algo anterior/tradicional é levado adiante 
enquanto que novos traços surgem. O processo de inovação em tradições culturais, 
assim como em TD, é comumente feito através da diferenciação de tradições. Wilhelm 
(1996 apud CASTILHO DA COSTA, 2011) apresenta um estudo no qual analisa a 
evolução textual dos panfletos, na Itália a partir de 1471, através do processo de 
diferenciação. Segundo o autor, apesar de serem inovadores, os panfletos se apoiam em 
TDs já existentes. A ―história‖ em oitava e o ―avviso‖ em prosa são percebidas do ponto 
de vista das TDs como uma mudança funcional da cantare (balada declamada de 
memória). A partir da impressão e comercialização, a história torna-se uma fonte de 
renda para os que cantavam as baladas. O aviso, por sua vez, surge da impressão de 
cartas de notícias escritas a mão. A figura 4 ilustra a influência de outras TD na 
composição do panfleto e a origem de notícia de jornal a partir do avviso: 
 
34 
 
Figura 4: tradições discursivas em panfletos italianos 1500-1550 (segundo Wilhelm 
1996) 
 
Fonte: Castilho da Costa (2011, p. 40) 
 
Segundo Wilhelm (1996 apud CASTILHO DA COSTA, 2011), o gênero 
―notícia de jornal‖ tem sua origem na impressão de cartas e de relatos enviados por 
correspondência ao jornal e, portanto, o gênero avviso pode ser considerado um pai da 
notícia. 
No que se refere à sua linguagem, Wilhelm (1996, apud CASTILHO DA 
COSTA, 2011) relata críticas destinadas à mudança da norma a partir do surgimento de 
uma linguagem própria do jornalismo, afastando-se da linguagem literária, com estilo 
simples e caráter referencial. Desse modo, os panfletos italianos do século XVI passam 
a utilizar uma norma autônoma de gêneros textuais informativos, caracterizada por 
simplicidade, compreensibilidade, adequação ao público popular e ausência de 
―enfeites‖ literários. 
Tais características são recomendadas até hoje na escrita das notícias. Sobre o 
estilo, o manual de redação e estilo de O Globo recomenda ―fidelidade a três requisitos: 
exatidão (para não enganar o leitor), clareza (para que ele entenda o que lê) e concisão 
(para não desperdiçar nem o tempo dele nem o espaço do jornal).‖ (GARCIA, 2001, p. 
19). Em termos mais linguísticos, o mesmo manual afirma que a frase ―deve ser curta. 
35 
 
[...] permitindo ao leitor assimilar uma ideia ou um fato de cada vez. Mais de uma frase 
intercalada no mesmo período dificulta o entendimento‖ (GARCIA, 2001, p.29). Na 
mesma direção vai o manual da redação da Folha de São Paulo. Segundo esse outro 
manual, é aconselhável evitar o excesso de ques, para tornar o texto mais elegante e a 
leitura mais ágil. ―Muitas vezes, é melhor usar ponto e dividir o período em dois.‖ 
(FOLHA DE S. PAULO, 2001, p. 96). De modo geral, os jornais presam por um estilo 
próximo da linguagem cotidiana, sem deixar de ser fiel à norma culta, com frases curtas 
e pouco incentivo às orações subordinadas. 
Nos jornais paulistas do século XIX analisados por Castilho da Costa (2011), a 
pesquisadora constata o uso de ―técnicas linguísticas próprias da linguagem publicitária 
e da linguagem jornalística‖ que pode ter seguido os princípios dos panfletos italianos 
(CASTILHO DA COSTA, 2011, p. 246). Essa influência se dá, devido à ascensão do 
capitalismo europeu e ao desenvolvimento da imprensa e ampliação desse modelo para 
novos mercados. 
Segundo Sodré (1999, p. 28), apenas países em que o capitalismo se 
desenvolveu, a imprensa também se desenvolveu. No Brasil, a ausência de capitalismo e 
burguesia, atrelada à censura administrativa e religiosa em uma país predominantemente 
analfabeto, auxiliou para que o Brasil não tivesse uma indústria tipográfica e jornalística 
consolidada antes do século XIX, diferentemente de outros países da América Latina 
(SODRÉ, 1999, p. 28). Somente em 1808, com a vinda da família real portuguesa e a 
abertura dos portos foi criado o primeiro jornal oficial, a Gazeta do Rio de Janeiro. 
Ao analisar TDs em jornais paulistanos de 1854 a 1901, Castilho da Costa 
(2011) atenta para dois aspectos oriundos das cartas presentes no corpus: a organização 
segundo proveniência e segundo ordem de chegada das informações, dois princípios 
que, segundo a autora, orientam os jornais paulistas da 1ª metade do século XIX. 
É possível dizer que até os dias atuais esses dois traços ainda guiam a publicação 
das notícias, principalmente nos jornais online: 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
Figura 5: plantão de notícias do Tribuna do Norte e do Agora RN 
 
Fonte: Tribuna do Norte e Agora RN 
 
Tanto no caso do Tribuna do Norte (à esquerda), quanto no caso do Agora RN (à 
direita), a seção de plantão fica na tela inicial e expõe as notícias por ordem de chegada, 
de modo que as últimas publicações aparecem no topo, reforçando o aspecto 
cronológico proveniente das cartas observado por Castilho da Costa (2011) nos jornais 
paulistanos. Quanto ao aspecto de proveniência, observa-se uma nova tendência: a 
catalogação das notícias online na maioria das vezes sedá por abas temáticas, das quais 
o leitor pode escolher seu ponto de interesse. A figura 6 ilustra melhor: 
 
Figura 6: abas temáticas dos jornais 
 
Fonte: Novo; Tribuna do Norte; Agora RN; Portal no Ar 
 
37 
 
Embora os jornais utilizem nomenclaturas diferentes, todos apresentam uma aba 
com as notícias provenientes da própria cidade. No caso do Novo e do Portal no Ar 
temos a aba ―cotidiano‖, no Tribuna do Norte, a aba se chama ―natal‖; e no Agora RN, 
―cidades‖. 
Com exceção da própria cidade de Natal, todas as notícias provenientes de 
outras origens parecem ter que se encaixar em uma aba temática, sendo a localização da 
fonte muitas vezes explicitada dentro do próprio corpo da notícia. 
Em uma perspectiva mais atual, o gênero textual notícia apresenta em sua 
macroestrutura, o lead e o corpo do texto (body). Nesse modelo, as informações mais 
relevantes são apresentadas no início e são detalhadas no texto (body). Esse tipo de 
construção textual foi adotado somente a partir de 1950 no Brasil (VIZEU & 
MAZZAROLO, 1999 apud CASTILHO DA COSTA, 2011). 
No que se refere à linguagem jornalística presente nas notícias do corpus, 
constata-se o caráter altamente informativo, com adequação ao público e sem ―enfeites 
literários‖, contribuindo para a crença de que suas raízes se encontram inicialmente nos 
panfletos italianos, mas também nos grandes jornais de circulação nacional, como os 
analisados por Castilho da Costa (2011). Muitas notícias veiculadas pelos jornais do 
corpus são recortes de jornais maiores, como visto nas figuras 7 e 8: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Figura 7: notícia do Agora RN de 07 de janeiro de 2016 
 
Fonte: Agora RN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
Figura 8: notícia do Folha de São Paulo de 07 de janeiro de 2016 
 
Fonte: Folha de S. Paulo 
 
 
 Na figura 7 temos uma notícia do Agora RN de quatro parágrafos. Na figura 8 
temos uma notícia da Folha de S. Paulo de oito parágrafos. O Agora RN não faz 
40 
 
referência a fontes externas e atribui sua publicação à ―redação‖, adicionando um 
subtítulo, característico desse jornal, recortado do terceiro parágrafo da publicação. 
Contudo, encerra a notícia sem publicar na íntegra a notícia da Folha de S. Paulo, que 
atribui sua fonte Marcelo Toledo. 
 Comportamento semelhante pode ser visto em outros jornais analisados. 
Vejamos um exemplo do Tribuna do Norte: 
 
Figura 9: notícia do Tribuna do Norte de 15 de abril de 2016 
 
Fonte: Tribuna do Norte 
 
41 
 
Figura 10: notícia do Estadão de 14 de abril de 2016 
 
Fonte: Estadão 
 
 Na figura 9, temos uma notícia do Tribuna do Norte extraída do Estadão (figura 
10). Mais uma vez o jornal em questão não faz referência a fontes externas, retirando, 
inclusive, a referência geográfica a Brasília do início da notícia. Outra pequena 
mudança feita pelo jornal é a retirada do subtítulo e também do título do subtópico 
―abaixo-assinado‖ em negrito, no quarto parágrafo. 
42 
 
 Essas constatações, se por um lado contribuem para a crença de que os jornais 
do estado do Rio Grande do Norte são influenciados pelos jornais de grande circulação 
nacional, por outro evidenciam a falta de autonomia do jornal em relação a temas 
nacionais e de elevado conhecimento específico, como no caso do impeachment. 
 Na seção seguinte relacionamos a noção de TD à proposta de juntores de Raible 
(1992) e apresentamos a hipótese de que o modo como os juntores se distribuem em um 
texto pode ser sintomático para a descoberta de novas TD. 
 
2.4. Juntores como indicadores de TDs 
 
A comunicação humana é primordialmente baseada em enunciados e textos, não 
em frases soltas. Isso significa que conectar unidades menores em unidades maiores é 
uma atividade básica do ser humano. Em seu artigo de 2001, Linking clauses, Wolfgang 
Raible nos apresenta cinco técnicas fundamentais que os falantes usam para ligar 
proposições: (I) hierarquia sintática, (II) relações semânticas, (III) dinamismo 
comunicativo, (IV) manutenção da referência e (V) gênero textual. A combinação entre 
hierarquia sintática e relações semânticas origina o que Raible chama de juntor 
(RAIBLE, 1992). Conforme Wolfgang Raible (1992 apud CASTILHO DA COSTA, 
2015) a junção é vista como como uma dimensão universal e deve ser entendida como o 
estabelecimento de relações semânticas segundo a qual podem sistematizar-se os 
diferentes elementos e as diferentes técnicas linguísticas para juntar ou combinar 
elementos proposicionais. As técnicas de combinação a que Raible se refere estão 
dispostas em um continuum que vai desde o polo da agregação até o polo da integração. 
Peguemos um exemplo de relação semântica como causalidade para podermos 
compreender melhor: 
(1) Pedro está doente. Ele continua em casa 
(2) Pedro continua em casa. Ele está doente 
Os exemplos 1 e 2 são representações de agregação. Nesse nível, a relação 
expressa é uma simples questão de inferência, tanto que a ordem das frases não tem 
importância (RAIBLE, 2001). No exemplo 1, afirmamos que Pedro está doente, então 
inferimos que o fato de ele continuar em casa é causada pela doença. Em 2, afirmamos 
que Pedro continua em casa e isso se dá por conta de ele estar doente. A diferença entre 
43 
 
os dois exemplos aparece somente quando atentamos a qual proposição é mais relevante 
para o enunciador, contudo, a relação semântica se mantém. Vejamos outra frase: 
(3) Pedro continua em casa, pois está doente. 
No exemplo 3, mantemos a mesma relação semântica. Porém temos uma técnica 
de junção por coordenação na visão de Raible (1992). A segunda oração (pois está 
doente) está conectada à oração que a precede com o uso explícito do juntor ―pois‖. 
Nesse ponto, já notamos a vantagem do continuum de técnicas de integração sintática 
proposta por Raible (1992) em relação à visão dicotômica coordenação-subordinação 
proposta pela gramática tradicional. Enquanto Raible admite a existência da agregação 
como a relação semântica criada sem uso de juntor explícito, a gramática tradicional 
considera os exemplos 1, 2 e 3 como orações coordenadas, sem distinção. Vejamos 
outra técnica: 
(4) Já que está doente, Pedro continua em casa. 
 Em 4, temos uma junção por subordinação. É possível notar isso pois há um 
juntor explícitos (já que), diferentemente do exemplo 1 e 2, e há a possibilidade de 
inversão das orações, diferentemente das coordenadas 3. Seria possível dizer ―Pedro 
continua em casa, já que está doente‖. Além do mais, o transpositor ―que‖ é uma marca 
de junção por subordinação. Agora vamos a mais um exemplo: 
(5) Por doença, Pedro continua em casa. 
É inegável que neste caso a relação de causalidade também é clara. Contudo, 
mais uma vez a dicotomia coordenação-subordinação adotada pela gramática tradicional 
não faz jus à técnica usada, pois temos uma preposição (por) ligada a um substantivo 
(doença) e não a uma oração. O modelo de Raible (1992) adota termos mais neutros – 
como a agregação e integração -, pontos extremos em uma escala que admite diversas 
técnicas intermediárias de combinação (RAIBLE, 2001, p. 8). O caso 5 é o que Raible 
exemplifica como sendo do polo da integração sintática, feita a partir do uso da 
preposição simples. 
A escala de integração sintática proposta por Raible (2001, p. 9) tem diversas 
técnicas e pode ser aplicada para comparar diversos idiomas, já que todas as línguas 
expressam proposições. Dada a universalidade da escala, a diferença entre as línguas 
44 
 
está no fato de elas aplicarem diferentes técnicas de ligação. O que o autor nos propões 
são as seguintes principais categorias: 
Quadro 4: tipos de integração sintática 
Integração 
I Junção por justaposição (sem juntor explícito) 
II Advérbio juntivo 
III Junção por coordenação (com juntor explícito) 
IV Junção por subordinação (hipotaxe e encaixamento) 
V Junção com gerúndios

Continue navegando