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LuanaVitalDosSantos-DISSERT-

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM 
DEPARTAMENTO DE LETRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre 
português e espanhol 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL - RN 
2015 
 
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LUANA VITAL DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre 
português e espanhol 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Estudos da Linguagem da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN) como requisito de conclusão do 
mestrado em Estudos da Linguagem. 
 
Orientador: Prof. Dr. Clemilton Lopes 
Pinheiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal - RN 
2015 
 
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UFRN. Biblioteca Central Zila Mamede. 
Catalogação da Publicação na Fonte 
 
 
Santos, Luana Vital dos Santos. 
Tipos de discurso e recursos linguísticos: análise comparativa entre português e espanhol / Luana 
Vital dos Santos. – Natal, RN, 2015. 
66 f. : il. 
 
Orientador: Prof. Dr. Clemilton Lopes Pinheiro. 
 
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências 
Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. 
 
1. Gênero discursivo – Dissertação. 2. Produção textual – Dissertação. 3. Interacionismo 
sociodiscursivo – Dissertação. 4. Análise do discurso – Dissertação. I. Pinheiro, Clemilton 
Lopes. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/BCZM CDU 81’232 
 
 
 
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RESUMO 
 
 
O presente trabalho toma como objeto de estudo os tipos de discurso, umas das noções centrais 
do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD). Segundo o ISD, a linguagem assume um ponto 
central no desenvolvimento do ser humano e o texto é concebido como uma unidade 
comunicativa global que movimenta recursos linguísticos de determinada língua natural, 
adotando e adaptando determinado modelo textual (os gêneros textuais). Os tipos de discurso 
são definidos como segmentos, em número finito, que entram necessariamente na composição 
dos gêneros e, consequentemente, de cada texto empírico, nos quais semiotizam diferentes 
mundos discursivos particulares ou diferentes atitudes de locução. A identificação dos tipos de 
discurso é possível a partir das unidades linguísticas que neles ocorrem. Considerando essas 
noções, partimos da hipótese formulada por Miranda (2008) segundo a qual, de acordo com os 
gêneros, os tipos de discurso apresentam especificidades no plano da configuração do tipo 
linguístico, que, por sua vez, podem variar nas diferentes línguas naturais. Nosso objetivo é, 
portanto, detectar o tipo de discurso que predomina no gênero painel do leitor e depreender as 
unidades e mecanismos linguísticos que se associam ao tipo de discurso ou tipos de discurso 
predominantes, comparativamente em relação ao português e ao espanhol. O trabalho se 
caracteriza por sua natureza exploratória e pretende tratar a questão com vistas a torná-la mais 
explícita para a discussão de hipóteses. Para atingir esse objetivo, analisamos um corpus 
composto por 30 painéis de leitores, 15 extraídos do jornal El periódico de Catalunya, em língua 
espanhola, e 15 do jornal Folha de São Paulo, em língua portuguesa. 
 
Palavras-chave: Gênero textual; Interacionismo sociodiscursivo; Tipos de discurso 
 
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ABSTRACT 
 
 
The object of study in this research are the types of discourse from the theoretical and 
epistemological framework of the socio-discursive interactionism (ISD). According to ISD, 
language has a central point in the development of the human being and the text is designed as 
a global communicative unit that moves linguistic resources of a natural language, adopting and 
adapting a textual composition (the text genres). The types of discourse are defined as segments 
in finite number, which necessarily enter in the composition of genres and consequently in each 
empirical text. They semiotize particular different discursive worlds or different attitudes of 
expression. Identifying the types of discourse is possible from the language units that occur in 
them. Considering these notions, we start from the assumption made by Miranda (2008) that, 
according to genres, types of discourse have specificities in the level of the linguistic type, 
which, in turn, may vary in different natural languages. Our goal is therefore to describe the 
kind of discourse that dominates the genre reader panel and inferred units and linguistic 
mechanisms that are associated to the type of discourse or types of discourse dominants. We 
also intend to relate the description of the type of discourse and language units associated with 
different natural languages: Portuguese and Spanish. The work is characterized by its 
exploratory nature and intends to address the issue in order to make it more explicit to discuss 
hypotheses. To achieve this goal, we analyze a corpus composed of 30 panels of readers, 15 
extracted from the newspaper El periódico de Catalunya, in Spanish, and 15 of the newspaper 
Folha de São Paulo, in Portuguese. 
 
Key-words: Text genres; Socio-discursive Interactionism; Types of discourse 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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“Tenho o privilégio de não saber quase tudo, e 
isso explica o resto.” 
Manoel de Barros 
 
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 AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço em primeiro lugar à Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as 
coisas. 
 Aos meus familiares, em especial, aos meus pais Ana Lúcia e João Vital pelo esforço 
contínuo para me proporcionarem uma boa formação moral e acadêmica, e ao meu esposo 
Wellington Nouschangs pelo apoio e paciência em todas as horas. 
 Aos meus companheiros de trabalho da escola estadual prof. Anísio Teixeira pelo 
incentivo e compreensão nos momentos necessários a reflexão, e aos amigos da EaD do IFRN 
pelas trocas de experiências e amizade. 
 A todos os professores do mestrado que contribuíram na minha formação acadêmica. 
 Um agradecimento especial ao meu orientador prof. Dr. Clemilton Lopes Pinheiro pela 
dedicação e apoio em todas as revisões e sugestões que foram fundamentais para a conclusão 
deste trabalho. 
 Enfim, agradeço a todos que de alguma forma colaboraram e estiveram presentes nesta 
jornada. 
 
 
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SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................09 
2 PANORAMA TEÓRICO......................................................................................................11 
2.1 Classificações e tipologias textuais.....................................................................................11 
2.2 O ISD e os tipos de discurso...............................................................................................20 
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................................25 
4. ANÁLISE COMPARATIVA DE PAINÉIS DE LEITORES EM PORTUGUÊS E 
ESPANHOL..............................................................................................................................29 
4.1. O contexto de produção.....................................................................................................29 
4.2. O plano global do conteúdo temático................................................................................31 
4.3. Os tipos de discurso e os recursos linguísticos..................................................................314.3.1. Análise dos painéis em português...................................................................................31 
4.3.2. Análise dos painéis em espanhol....................................................................................45 
4.3.3. Comparação entre português e espanhol.........................................................................63 
5. CONCLUSÃO......................................................................................................................65 
REFERÊNCIAS........................................................................................................................67 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
 O interacionismo sociodiscursivo (ISD) é um quadro teórico-epistemológico que coloca 
a linguagem como o foco do desenvolvimento humano. Suas influências são percebidas não 
apenas nos estudos linguísticos, mas também nas diversas áreas do conhecimento. Dessa forma, 
o ISD, como afirma Bronckart (2009, p.10) “não é uma corrente propriamente linguística, nem 
uma corrente psicológica ou sociológica; ele quer ser visto como uma corrente da ciência do 
humano”. Nesse sentido, insere-se como uma variante do interacionismo social, corrente das 
ciências humano-sociais que sustenta que o desenvolvimento humano acontece através de dois 
processos inseparáveis, o processo de socialização e individuação. O ISD também coloca as 
questões da educação como ponto central das ciências humanas e critica a divisão dessas 
ciências em várias disciplinas. 
Na busca de entender como as práticas de linguagem situadas afetam o desenvolvimento 
humano, Bronckart (2009) organiza um modelo de análise dos textos chamado de modelo da 
arquitetura textual, dividido em três níveis. O nível mais profundo é o da infraestrutura textual 
que compreende o plano geral do conteúdo temático e os tipos de discurso. O segundo nível é 
o da textualização em que se encontram os mecanismos de coesão e coerência textual. O nível 
mais superficial é da responsabilidade enunciativa. 
O texto é concebido como “uma unidade comunicativa” que movimenta recursos 
linguísticos de determinada língua natural, levando em consideração os modelos textuais 
(gêneros) encontrados na memória coletiva da sua comunidade linguística (arquitexto). O 
agente/produtor do texto, ao encontrar-se em uma determinada situação de ação linguageira, 
escolherá o modelo (gênero de texto) que acredita ser o mais adequado a situação, adaptando-
o aos seus objetivos comunicativos. Outra característica dos gêneros de texto é o seu movimento 
em mundos discursivos. 
 Esses mundos discursivos se materializam no texto como os tipos de discurso, no nível 
mais profundo do modelo de arquitetura textual, entrando necessariamente na constituição dos 
gêneros e de todo texto empírico. Logo, quais seriam as relações possíveis entre tipos de 
discurso e gêneros? Os gêneros possuem tipos de discurso que lhes são peculiares? E os tipos 
linguísticos são determinados pelo gênero de texto, pelo tipo de discurso, ou pelo sistema da 
língua natural? 
Este trabalho se situa no campo desses questionamentos. Nosso objeto de estudos são 
os tipos de discurso, e partimos da hipótese de que, de acordo com o gênero de texto, os tipos 
de discurso podem apresentar especificidades no plano da configuração dos recursos 
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linguísticos relativamente a uma língua natural. Nosso objetivo é, portanto, identificar os tipos 
de discurso e suas respectivas unidades linguísticas em duas línguas naturais distintas. Nesse 
último caso, fazemos então, uma análise comparativa entre o português e o espanhol. 
Dadas às inúmeras possibilidades de escolha de gêneros textuais para a análise, optamos 
pelo gênero painel do leitor. Identificamos, então, os tipos de discurso nos painéis das duas 
línguas e, em seguida, comparamos os tipos linguísticos, estabelecendo a relação entre eles e 
os tipos de linguísticos. 
 A pesquisa está estruturada em três capítulos. No primeiro, faremos uma exposição das 
diferentes classificações e tipologias textuais e discutiremos a noção de tipos de discurso a partir 
do quadro do ISD. O segundo capítulo apresenta os procedimentos metodológicos e o último 
contém a análise comparativa dos painéis em português e espanhol. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 PANORAMA TEÓRICO 
 
2.1 Classificações e tipologias textuais 
 
Um ponto de partida essencial para nosso trabalho são as diferenças em relação às 
classificações e tipificações dos textos. Essas diferenças de ordem conceitual se refletem em 
nomenclaturas diversas: gêneros, tipos, espécies ou formas. 
Segundo Coutinho (2003, p.57) “qualquer reflexão de ordem tipológica supõe 
naturalmente o conhecimento prévio dos objetos a tipologizar”. Sendo assim, este capítulo se 
propõe a discutir a noção de tipos textuais, gêneros de texto ou discurso e tipos de discurso, 
correntes na literatura mais representativa sobre o tema. Nosso objetivo é apontar as diferentes 
visões, relacionando pontos de divergências e convergências. 
A análise textual dos discursos (ATD), proposta por Adam (2008, 2011), posiciona a 
Linguística Textual como um subdomínio da análise do discurso. Adam reconhece a 
necessidade de expandir os limites da linguística para além da frase, “ao mesmo tempo em que 
pretende trazer respostas à demanda de proposições concretas sobre a análise de textos” (2008, 
p.25). Assim, existem níveis de análise do objeto texto e níveis de análise do objeto discurso, 
Adam (2008, p.25): 
 
O texto é, certamente, um objeto empírico tão complexo que sua descrição 
poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse 
objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que 
temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das 
diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma indispensável 
coerência. 
 
É importante ressaltar que, quando Adam localiza a linguística textual no campo da 
análise do discurso, não se trata da análise do discurso da escola francesa, mas daquela 
delineada por Dominique Maingueneau. De acordo com Maingueneau (2006, p.02), a Análise 
do discurso (AD) consiste em um “espaço de pleno direito dentro das ciências humanas e 
sociais, um conjunto de abordagens que pretende elaborar os conceitos e os métodos fundados 
sobre as propriedades empíricas das atividades discursivas”. 
No esquema de análise proposto por Adam, interessa-nos as noções de sequência textual 
(N5) e de gênero que aparece interligada entre os níveis textuais e discursivos. 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
Conforme Coutinho (2003, p.61) “na perspectiva de Adam, os tipos de texto 
correspondem, de forma explícita, a tipos de sequências”. As sequências são esquemas 
prototípicos transmitidos culturalmente, macroproposições que formam a estrutura 
composicional dos textos. 
Segundo Adam (2011, p. 205), “as macroproposições que entram na composição de uma 
sequência dependem de combinações pré-formatadas de proposições”. Essas combinações de 
natureza macrossemântica são memorizadas ao longo de nossa vida por meio da leitura e da 
escrita transformando-se nos esquemas base conhecidos por sequências narrativa, descritiva, 
argumentativa, explicativa e dialogal. Adam explica que a injunção não constitui uma sequência 
prototípica, pois, sua forma de textualização varia bastante em função dos gêneros. 
As sequências textuais são os constructos teóricos que permitem a análise dos textos 
empíricos, ou seja, reconhecemos e estruturamos nossa informação textual através das 
sequências. Dessa forma, Adam não apresenta uma teoria de classificação/tipificação textual, 
na realidade, ele expõe claramente que a “teoria das sequências foi elaborada como reação à 
excessiva generalidade das tipologias de texto” (2011, p.206). 
 Os tipos de sequências baseiam-se na teoria do protótipo deRosch, do início da década 
de 1970. As noções de protótipo, categoria e tipicalidade são também utilizadas pela ATD. As 
sequências prototípicas funcionam como pontos de referência representativos das categorias 
(narrativas, descritivas, argumentativas, etc.) e que, como admite o próprio Adam, raramente 
 FONTE: (ADAM, 2011, p.61) 
 
Figura 1: Níveis ou planos da análise de discurso 
13 
 
serão encontradas nos textos concretos, mas que podem ser avaliadas numa escala de 
tipicalidade de melhores e piores exemplos de uma categoria. 
A sequência prototípica narrativa é marcada por uma sucessão de fatos, com uma 
problemática, chegando a um clímax, para passar a uma transformação, concluindo com uma 
avaliação final (a moral da história). Já a sequência prototípica descritiva é caracterizada por 
uma série de operações: operações de ancoragem definem o tema da sequência; operações de 
ordem aspectual dividem o todo em partes; operações de relacionamento delimitam o objeto no 
tempo e no espaço além de relacioná-lo com outros objetos; e operações de encadeamento 
constitui-se uma nova sequência. A sequência prototípica argumentativa caracteriza-se pela 
relação entre argumentos e conclusão e a sequência prototípica explicativa inicia com uma 
proposição, passa para uma problematização e conclui com a explicação. A sequência 
prototípica dialogal seria marcada pelas fases do diálogo, ou seja, abertura, troca e fecho. 
(Coutinho, 2003) 
Para Adam a hipótese da existência de “tipos de texto” se deve ao que ele aponta por 
efeito dominante. Este efeito dominante acontece quando o mesmo texto possui um número 
maior de sequências de um mesmo tipo ou pelo tipo de sequência que abre e fecha o texto. 
Logo, afirmar que “um texto pode ter uma dominante de um tipo ou de outro não tem nada a 
ver com a hipótese demasiadamente geral da existência dos tipos de textos” Adam (2011, p. 
277). 
Em relação ao gênero, Adam coloca-o na fronteira entre o texto e o discurso. O gênero 
não constitui um nível de análise propriamente dito, porém está fortemente relacionado à 
formação discursiva. Adam argumenta que “toda ação de linguagem inscreve-se em um dado 
setor do espaço social, que deve ser pensado como uma formação discursiva, ou seja, como um 
lugar social associado a uma língua (socioleto) e a gêneros do discurso” (2008, p.63). 
 A noção de formação discursiva para Adam corresponde a de Pêcheux (1990), conceito 
importante para a análise do discurso francesa. 
 
[As] formações discursivas [...] determinam o que pode e deve ser dito 
(articulado sob a forma de um discurso público, de um sermão, de um panfleto, 
de uma exposição, de um programa etc.) a partir de uma dada posição, em 
uma determinada conjuntura: o ponto essencial aqui é que não se trata apenas 
da natureza das palavras usadas, mas também (e sobretudo) das construções 
nas quais essas palavras se combinam, na medida em que elas determinam a 
significação que assumem essas palavras [...], as palavras mudam de sentido, 
segundo as posições defendidas por aqueles que as usam; [...] as palavras 
“mudam de sentido” passando de uma formação discursiva para a outra. 
(PÊCHEUX 1990 apud ADAM 2008, p.45). 
 
14 
 
O conceito de gêneros do discurso está vinculado aos estudos de Bakhtin (1992) que 
considera a linguagem humana como uma ação social responsável por determinar a produção 
dos enunciados que acontecem entre duas pessoas, por isso, dialógico. Nós produzimos 
enunciados nas diversas esferas da atividade humana, sempre com um propósito comunicativo 
e utilizando um determinado gênero. Os gêneros para Adam (2008, p.60) são discursivos, pois, 
se tratam de “práticas discursivas institucionalizadas”, ou seja, ocorrem no espaço da interação 
e regulados pelas formações discursivas de que fazem parte, sendo categoria de análise das 
ciências do discurso e não do texto. 
Por não ser seu foco de análise, Adam não se preocupa em fazer uma classificação dos 
gêneros, porém, utiliza-se dos conceitos de gêneros primários e secundários de Bakhtin para 
relacioná-los à teoria das sequências textuais. Os gêneros primários são mais simples e 
responsáveis pela criação dos gêneros secundários, logo os gêneros primários seriam 
correspondentes às sequências textuais prototípicas que formam os gêneros secundários mais 
complexos. 
Marcurshi (2005, 2008) preocupa-se com a tipologia textual. Para ele, a categoria tipo 
textual é um aspecto fundamental para a análise da natureza linguística dos gêneros, 
desconsiderando-se sua função social. Os tipos textuais são elementos fundamentais para a 
organização sequencial do conteúdo temático do texto. 
Marcurshi (2008) afirma que os tipos textuais são definidos por seus aspectos 
composicionais (tempos e modos verbais, presença ou ausências de articuladores textuais, 
aspecto, estilo, etc.) e abrangem as categorias que conhecemos como narração, descrição, 
argumentação, exposição e injunção. Ele esclarece que os tipos textuais são construções teóricas 
existentes nos textos, são modos textuais. Ainda nas palavras de Marcurshi (2008, p.154-155) 
“[...] O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a 
aumentar. Quando predomina um modo textual num dado texto concreto, dizemos que esse é 
um texto argumentativo ou narrativo, ou expositivo ou descritivo ou injuntivo”. 
 Marcurshi classifica os gêneros como textuais, pois para Marcurshi (2005, p.29) os 
gêneros “são muito mais famílias de textos com uma série de semelhanças”. Os gêneros textuais 
são eventos linguísticos determinados pelas práticas sócio-discursivas, por isso, condicionados 
e refletores de uma determinada cultura em um determinado período de tempo. A variação 
cultural levaria, dessa maneira, a uma variação nos gêneros. 
Os gêneros textuais são os textos materializados do nosso cotidiano, formas 
relativamente estáveis que realizam linguisticamente objetivos específicos em situações 
comunicativas recorrentes. Por isso formam contrariamente aos tipos, listagens abertas. 
15 
 
(Marcurshi, 2005). É importante deixar claro que, na visão de Marcurshi, os tipos e os gêneros 
são complementares, mas não idênticos, portanto: 
 
Em geral, a expressão “tipo de texto”, muito usada nos livros didáticos e no 
nosso dia-a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas 
sim um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo, “a carta pessoal é 
um tipo de texto informal”, ele não está empregando o termo “tipo de texto” 
de maneira correta e deveria evitar esta forma de falar. Uma carta pessoal que 
você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial, 
horóscopo, receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação 
casual, entrevista jornalística, artigo científico, resumo de um artigo, prefácio 
de um livro. É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando 
tipos textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realiza dois ou mais tipos. 
(MARCURSHI, 2005, p. 25) 
 
Os gêneros textuais, apesar de não serem fórmulas estanques, condicionam nossas 
escolhas de composição dos textos, pois “toda vez que desejamos produzir alguma ação 
linguística em situação real, recorremos a algum gênero textual” (Marcurshi, 2008, p.156). 
Anteriormente apresentamos o conceito de gênero para Adam (2008, p.60) como 
“práticas discursivas institucionalizadas”. Para Marcurshi (2005, 2008), as práticas discursivas 
ou instâncias discursivas dão origem aos diversos gêneros textuais. Essa é a noção de domínio 
discursivo na visão de Marcurshi. 
O domínio discursivo constitui muito mais uma “esfera da atividade humana”, como 
compreendida por Bakhtin, do que um princípio de classificação de textos. Nas palavras de 
Marcuschi (2008, p. 155) o domínio discursivo: 
 
Não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles, já que os 
gêneros são institucionalmente marcados. Constituem práticasdiscursivas nas 
quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe 
são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e 
instauradoras de relações de poder. 
 
Em oposição aos outros teóricos abordados anteriormente, Travaglia (2003) defende a 
necessidade de criação de uma teoria tipológica geral para os textos. Ele identifica três 
elementos que entrariam na classificação de todos os textos: tipo, gênero e espécie. Logo de 
início, o autor esclarece que sua preocupação é com a questão tipológica dos textos e não dos 
discursos. Travaglia entende como texto (2003, p.99) “uma entidade linguística concreta (...), 
que é tomada pelos usuários da língua (...), em uma situação de interação específica, como uma 
unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, 
independente de sua extensão”. 
16 
 
Travaglia (2003) trata da tipologia textual, ele considera a análise dos tipos de texto 
essencial para a competência comunicativa dos falantes de uma língua. Segundo Travaglia 
(2003, p. 101), o tipo textual “pode ser identificado e caracterizado por instaurar um modo de 
interação, uma maneira de interlocução, segundo diferentes perspectivas (...)”. Assim, cada tipo 
de texto representa um tipo de interação específica. A primeira perspectiva de classificação dos 
textos é a perspectiva do produtor/locutor, da qual derivam os tipos conhecidos como narração, 
descrição, dissertação e injunção. A imagem que o produtor do texto tem em relação ao seu 
recebedor dá origem aos textos argumentativos e não argumentativos (concorda ou não com o 
que está dito). Já quando a perspectiva é de antecipação ou não ao objeto do dizer temos os 
tipos preditivos e não-preditivos. 
O movimento de busca exterior, exposição e análise das relações entre os homens 
caracterizaria o tipo dramático e o chamado gênero épico seria, na verdade, o mesmo que o tipo 
narrativo ou narração. De acordo com a concepção de tipo textual também estão os chamados 
“gêneros lírico, épico e dramático” propostos pela Teoria Literária. Travaglia explica que 
(2003, p. 102): 
 
Embora a teoria proponente os chame de gêneros, quase como sinônimo do 
que a Linguística tem chamado de tipo; dentro da classificação tripartite que 
estamos propondo dos “elementos tipológicos” em tipelementos, o lírico é um 
tipo, porque é dado por estabelecer um modo de interação que se caracteriza 
pela perspectiva de voltar-se para si mesmo para refletir-se como numa 
“confissão” [...]. 
 
O ponto de vista de Travaglia em relação aos tipos textuais é claramente afastado do 
foco dado por Marcurshi. Para este autor o tipo textual é de natureza linguística, constructo 
teórico ideal, enquanto que para Travaglia o tipo textual é definido pela interação comunicativa, 
pela maneira de interlocução e não por aspectos estruturais e formais do texto. Travaglia 
apresenta uma visão mais discursiva para a classificação textual. Também não se aproxima da 
proposta da ATD, pois como apontamos anteriormente, a teoria das sequências de Adam não é 
uma proposta de classificação dos textos, assim, não existiriam textos narrativos, descritivos, 
etc., mas sequências narrativas, descritivas, etc. que entram na composição dos textos. 
Em relação ao gênero de texto, Travaglia afirma que ele desempenha uma função social 
determinada. Essa função social é definida por seus atos de fala. Especificar essas funções 
sociais nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente quando estamos tratando de gêneros 
surgidos em épocas afastadas e que passaram por diversos processos de mudança. 
Travaglia cita 48 tipelementos caracterizados como gêneros a partir da sua função 
social, porém a dificuldade de classificação dos gêneros ocorre, pois, como afirma Travaglia 
17 
 
(2003), o mesmo ato de fala, por exemplo, dar conhecimento de algo a alguém, pode dar origem 
a diversos gêneros: aviso, comunicado, edital, informe, participação e citação. 
Essa caracterização do gênero a partir de sua função social e do seu ato de fala é 
problemática, pois como aponta Adam (2011, p.128) “um enunciado é interpretado como mais 
ou menos um convite, um juramento, uma recomendação, uma ameaça, ou mesmo um insulto”. 
Para Adam, os atos de fala ou de discurso são os determinantes do valor ou força ilocucionária 
dos enunciados e não dos gêneros. 
Aproximando-se um pouco da visão de Travaglia (2003), Marcuschi (2008, p. 158) 
afirma que para a “noção de gênero textual, predominam os critérios de padrões comunicativos, 
ações, propósitos e inserção sócio-histórica”. Porém Marcurschi não utiliza o conceito de ato 
de fala. 
Outra tipificação textual utilizada por Travaglia é a espécie de texto. Diremos apenas 
que o termo espécie se refere aos aspectos mais linguísticos e estruturais da composição dos 
textos, além de aspectos de conteúdo. Não iremos nos aprofundar nesse conceito por se afastar 
do nosso objetivo. 
Bronckart deixa claro que sua visão decorre mais da psicologia da linguagem (influência 
de Vygotski) do que da linguística e que dentro dessa disciplina assume a posição do 
interacionismo social. Assim, a preocupação principal do ISD (Interacionismo sócio-
discursivo) é estudar como as práticas de linguagem situadas afetam o desenvolvimento 
humano. 
Em contraste com as posições anteriores, Bronckart (2003) não utiliza a noção tipos de 
texto, mas tipos de discurso. Todo texto é composto por segmentos com determinadas 
regularidades linguísticas, logo podem ser classificados em tipos, que ademais de estruturação 
linguística também caracterizam um trabalho de semiotização, de criação de sentido, revelando 
a construção de um mundo discursivo. 
A constituição do mundo discursivo é uma decisão universal, pois independente da 
língua natural que estamos utilizando, essa operação é necessária a toda produção textual. 
Quando as representações do mundo se referem a fatos passados e atestados, a fatos a acontecer, 
a fatos que podem acontecer ou fatos imaginários, há uma relação de distância em relação ao 
momento de interação que marca a origem espaço-temporal desses fatos, assim, ordem do 
NARRAR. Porém, quando essas representações não possuem uma origem e se situam no 
momento da interação, o texto EXPÕE estados ou eventos acessíveis. 
Outra decisão universal necessária a toda produção textual diz respeito à implicação dos 
parâmetros da situação material de produção do texto. Quando o emissor-enunciador integra 
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referências explícitas do ato de produção no texto, constituindo parte de seu conteúdo, se faz 
necessário conhecer as condições de produção de tal texto, para assim, interpretá-lo. Entretanto, 
quando o emissor-enunciador não faz nenhuma referência explícita aos parâmetros da situação 
de produção, o texto é autônomo em relação a essa situação e sua interpretação não requer 
nenhum conhecimento da mesma. Podemos resumir que: 
 
A construção desses mundos se dá por meio de duas operações 
psicolinguageiras oriundas de uma decisão binária: ou as coordenadas que 
organizam o conteúdo semiotizado são explicitamente colocadas à distância 
das coordenadas gerais do actante (ordem do NARRAR) ou elas não o são 
(ordem do EXPOR). Além disso, ou as instâncias de agentividade 
semiotizadas no texto referem-se ao actante e à sua situação (implicação) ou 
não (autonomia). (BRONCKART, 2008, p.91) 
 
A interseção dessas duas coordenadas origina quatro tipos de discurso: o discurso 
interativo (expor implicado), o discurso teórico (expor autônomo), o relato interativo (narrar 
implicado) e a narração (narrar autônomo). 
 
 
 
A proposta de Bronckart para a noção de tipos se afasta das ideias anteriores, 
especialmente Adam (2011) e Marcurshi (2005, 2008), pois apesar dos tipos possuírem seus 
correspondentes linguísticos formalizados em uma determinada língua natural, eles são o “traço 
de operações de tratamentodos contextos em ação”. (Bronckart, 2003, p. 67) 
A noção de tipos de discurso também está distante dos tipos de texto de Travaglia. Afinal 
o que Travaglia busca é uma classificação dos textos, afirmando que eles são de diferentes tipos 
por materializarem diferentes modos de interação. Os tipos de discurso de Bronckart não são 
classificações ou tipologias textuais, eles são uma das camadas de estruturação dos textos. 
Bronckart (2012, p. 75) afirma que o texto é “toda unidade de produção de linguagem 
situada, acabada e auto-suficiente (...). Na medida em que todo texto se inscreve, 
 
Figura 2: Tipos de discurso. 
FONTE: (MIRANDA, 2008, p.85) 
19 
 
necessariamente, em um conjunto de textos, ou em um gênero, adotamos a expressão gênero 
de texto em vez de gênero de discurso”. 
Segundo o autor, existe um número ilimitado de gêneros de textos criados 
historicamente e organizados em um repertório de modelos, ou o arquitexto de determinada 
comunidade linguística. Dessa forma, quando falamos, acessamos esse arquitexto, escolhemos 
aquele modelo que consideremos o mais adequado a nossa intenção comunicativa e 
interacional. Como assevera Bronckart (2008, p. 88): 
 
[...] esses modelos de gêneros tem características semióticas mais ou menos 
identificáveis, mais eles também são portadores de indexações sociais, pois, 
na medida em que cada gênero, necessariamente, é objeto de avaliações 
sociais, ele é visto como sendo adaptado para comentar determinado agir 
geral, como possível de ser mobilizado em uma outra situação de interação ou 
como tendo determinado valor estético. Além disso, esses gêneros são também 
objetos de processos de conhecimento (eles foram descritos, estudados, etc.), 
no fim dos quais, encontram-se dotados de rótulos que podem ter menor ou 
maior estabilidade. 
 
 Os textos, sendo correspondentes empíricos das atividades de linguagem, revelam um 
gênero textual próprio de uma língua natural em um dado momento. O agente-produtor quer 
fazer algo com a linguagem, uma ação linguageira, recorre aos modelos existentes (gêneros) 
adaptando esse modelo a situação da ação. Essa concepção de gênero textual se aproxima do 
conceito de Marcurshi (2005, 2008), pois para ele, quando utilizamos um gênero, estamos 
dominando uma forma linguística de realizar uma ação. Em oposição a Adam (2011), Bronckart 
não posiciona o gênero como uma categoria de análise do discurso, mas como o produto das 
escolhas, por entre as possíveis, do agente-produtor do texto, interessando-se pela atividade de 
textualização propriamente dita. 
Bronckart (2005, p.62) também discorda de Travaglia (2003) na tentativa de 
classificação dos gêneros, porquanto, “os géneros mudam necessariamente com o tempo, ou 
com a história das formações sócio-linguísticas” e tentar tipificá-los de acordo com sua função 
social seria esbarrar em mudanças, por vezes aleatórias, evocadas constantemente, já que não 
há uma relação direta entre ação linguageira e gêneros de textos. 
Nossa pesquisa situa-se no projeto do interacionismo sociodiscursivo, assim as 
tipologias utilizadas serão tipos de discurso e gênero de texto. 
 
2.2 O ISD e os tipos de discurso 
 
20 
 
 Como expomos, a noção de tipos de discurso é um ponto chave na proposta de análise 
de texto do ISD. A preocupação inicial do ISD é entender a relação existente entre as práticas 
de linguagem e a construção do pensamento humano. Com esse objetivo, seu quadro de trabalho 
está dividido em três níveis de análise: primeiro, a análise dos pré-construídos no ambiente 
humano; a análise dos processos de mediação ou de formação pelo qual passam os recém-
chegados para adquirir alguns aspectos desses pré-construídos; e enfim, a análise dos efeitos 
dos processos de mediação na formação do pensamento do indivíduo. 
 Esses três níveis não podem ser tratados isoladamente. Afinal eles se mantêm em uma 
relação dialética constante, pois como afirma Bronckart (1999, p. 112) “admitimos que, se os 
pré-construídos humanos mediatizados orientam o desenvolvimento das pessoas, estas, por sua 
vez, com o conjunto de suas propriedades ativas, alimentam continuamente os pré-construídos 
coletivos”. Daí o entendimento de que os processos de mediação e formação são contínuos e 
devem sempre se atualizar. 
 No primeiro nível de análise destacam-se os quatro elementos que formam o ambiente 
humano. Primeiro, as condutas dos membros da espécie humana que se organizam em 
atividades coletivas gerais e atividades linguageiras, sendo as atividades linguageiras que 
comentam as atividades gerais e regulamentam seus contextos. Depois, as formações sociais 
que organizam a atividade humana em regras, normas de condutas e valores perseguidos pelos 
membros da comunidade. Em terceiro, há os textos, ou seja, os correspondes empíricos das 
atividades linguageiras (Bronckart, 1999). Por último, os mundos formais de conhecimento, 
logo, o produto de operações de descontextualização e de generalização aplicados aos textos e 
ao conhecimento que eles revelam. 
 No segundo nível de análise, encontram-se os processos de transmissão e reprodução 
dos pré-construídos que podem acontecer por meio da educação informal, formal e da transação 
social. A educação informal ocorre quando indivíduos já integrados promovem atividades 
coletivas com os recém-chegados comentando verbalmente essas atividades. A educação 
formal possui um caráter didático e pedagógico, e a transação social ocorre nas interações 
cotidianas entre as pessoas. 
 O terceiro nível de análise pode ser dividido em três campos de investigação: a pesquisa 
sobre as condições de emergência do pensamento consciente; a análise das condições de 
desenvolvimento do pensamento, dos conhecimentos e das capacidades de agir; e a análise dos 
mecanismos por meio dos quais as pessoas interferem nos pré-construídos coletivos. 
 Como vimos, é no primeiro nível de análise da proposta de trabalho do ISD em que se 
situam os textos. “Desde logo, os textos podem ser definidos como os correspondentes 
21 
 
empíricos/linguísticos das atividades de linguagem de um grupo, e um texto como o 
correspondente empírico/linguístico de uma dada ação de linguagem.” (Bronckart, 2005, p. 57). 
Assim, o caminho de análise dos textos deve ser descendente: partem das atividades gerais para 
as atividades de linguagem (linguageiras), daí para os textos e, por fim, para seus recursos 
linguísticos. 
Para compreender o processo de construção e organização interna dos textos, Bronckart 
propõe o modelo da arquitetura textual. Segundo esse modelo, todo texto é visto como um 
folhado com algumas camadas sobrepostas. A camada mais exterior apresenta os mecanismos 
de responsabilidade enunciativa, ou seja, a gestão de vozes que assumem o que é dito no texto 
e as modalizações, diversas avaliações, julgamentos, opiniões que as vozes formulam sobre o 
texto; na camada intermediária encontramos os mecanismos de textualização, ou seja, os 
fenômenos de conexão, coesão nominal e verbal que asseguram a progressão temática e a 
organização do texto; e, na camada interior, no nível mais profundo, temos a infraestrutura geral 
dos textos, logo, o plano do texto, os tipos discursivos e as sequências. É claro que essa divisão 
em níveis é de caráter didático e metodológico, pois, as três camadas estão em interação 
constante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A noção de tipos de discurso do 
ISD foi inspirada numa tipologização 
dos discursos ou planos enunciativos 
que marcam diferentes atitudes de 
locução de Simonin-Grumbach 
(1975). O objetivo da linguista francesa 
era identificar as formas linguísticas relativamente estáveis que traduziriam esses planos 
FONTE: (MIRANDA, 2008, p.84) 
. 
Figura 3: Níveis da arquitetura interna dos textos. 
22 
 
enunciativos em determinada língua natural e que ela classifica de tipos de discurso (Bronckart, 
2005). 
Os tipos de discurso fazemparte da composição de todo texto. São segmentos que 
representam diferentes operações psico-linguageiras e mobilizam conjuntos particulares de 
recursos linguísticos. É nos tipos de discursos que as sequências se realizam como modos de 
enunciação. Os tipos são em número finito e semiotizam diferentes mundos discursivos. 
 
Em outros termos, esses mundos discursivos se constituem como quadros em 
que se desenvolve, no curso da produção ou da recepção textual, a interface 
entre as representações que estão sediadas em um determinado actante 
(representações individuais) e as representações que estão sediadas nas 
instâncias coletivas (representações coletivas). (Bronckart, 1999, p. 91) 
 
 Quando as representações individuais são colocadas a distância das representações 
coletivas ocorre a ordem do narrar; quando não, a ordem do expor. Se as operações verbalizadas 
têm relação com o agente ou a situação de produção existe uma implicação, se não uma 
autonomia. A interseção entre esses dois tipos de operações psico-linguageiras dá origem a 
quatro tipos de discurso: o discurso interativo, o discurso teórico, o relato interativo e a 
narração. 
Os tipos de discurso fazem parte da camada mais interna do texto, da sua infraestrutura 
e são parte central para a análise dos textos, e consequentemente na composição e análise dos 
gêneros. Podemos encontrar diferentes tipos de discurso no mesmo gênero e cada gênero possui 
pelo menos um tipo de discurso. Conforme Miranda (2008), ocorre sempre uma relação entre 
tipos e gêneros. 
 
Não é qualquer tipo de discurso que aparece em qualquer género, mas que os 
géneros de texto estabilizam a mobilização de determinado(s) tipo(s) de 
discurso. Assim, haveria um ‘recorte’ operado no plano praxiológico. De 
facto, a opção por tipos de discurso específicos poderia ser vista como uma 
das escolhas que – organizadas em feixe – constituem uma configuração 
genérica particular. (Miranda, 2008, p.89) 
 
 As ações humanas ocorrem na interação entre os membros de uma dada comunidade e, 
por isso, são infinitas e variáveis. O texto é o mediador da ação que implica linguagem, ou ação 
linguageira. O agente-produtor quer fazer algo com a linguagem em uma determinada situação 
de ação. Para isso, ele dispõe de uma série de modelos existentes nos pré-construídos do 
ambiente linguageiro, aglomerados ao longo do tempo no espaço do arquitexto, os chamados 
gêneros de textos. De tal modo, o agente-produtor do texto efetua um processo de escolha e 
23 
 
adaptação do modelo ou gênero de texto, relativamente estabilizado pelo uso, e que ele 
considera mais adequado a situação de ação que ele quer representar. 
O fato de todo texto pertencer a um determinado gênero cria a necessidade de 
classificação dos textos em gêneros, porém, como os gêneros fazem parte desses “mundos de 
obras e de culturas” (Bronckart, 2005, p.63), do ambiente humano, eles “mudam 
necessariamente com o tempo, ou com a história das formações sócio-linguísticas” as quais 
pertencem, tornando o trabalho de tipologização dos gêneros impraticável. 
 
Enfim, ainda como qualquer obra humana, os géneros são objecto de 
avaliações no termo das quais eles se encontram afectados (nas representações 
colectivas) de diversas indexações: indexação referencial (que atividade geral 
o texto é susceptível de comentar?); comunicacional (para que interacção é 
este comentário pertinente?); cultural (qual é o “valor socialmente 
acrescentado” ao domínio de um género?); etc. (BRONCKART, 2005, p. 62). 
 
A relação entre gêneros de textos e tipos de discurso parece clara. Afinal, os tipos de 
discurso estão presentes em todo texto, e os textos se organizam em gêneros, assim, os tipos de 
discurso também fazem parte dos gêneros. Miranda (2008) apresenta três níveis de articulação 
dessa relação entre tipos e gêneros: o nível da ligação vinculativa entre gêneros e tipos, o nível 
da escolha dos mundos discursivos, e o nível da seleção das unidades linguísticas características 
de cada gênero de texto. 
 O primeiro nível de articulação entre as duas noções em questão implica que os gêneros 
não existem sem os tipos e vice-versa. Os tipos não são segmentos que aparecem eventualmente 
nos gêneros de texto, mas constituem esses gêneros, sempre, sendo uma das escolhas feitas pelo 
agente-produtor do texto em uma situação de ação linguageira. Todo texto, logo todo gênero 
textual mobiliza “sempre, e necessariamente, pelo menos um tipo de discurso” (Miranda, 2008, 
p.87). Assim, se o gênero mobiliza sempre pelo menos um tipo, é possível que tenhamos 
gêneros que mobilizam mais de um tipo, ou o mesmo tipo em vários gêneros. 
 Essa relação entre gêneros e tipos não é aleatória. Existem determinados gêneros de 
texto que mobilizam tipos discursivos específicos, como por exemplo, o gênero monografia 
científica mobiliza o discurso teórico ou o gênero conto mobiliza o tipo narração. É claro que 
outros tipos de discurso podem ser encontrados nesses gêneros, porém o tipo de discurso 
narração seria o predominante e essencial ao conto, assim como discurso teórico seria 
predominante na monografia científica. 
Por fim, o terceiro nível de articulação refere-se ao nível dos recursos linguísticos 
utilizados em cada tipo discursivo. Se o mesmo tipo de discurso pode aparecer em diferentes 
24 
 
gêneros, é necessário saber se as unidades linguísticas mobilizadas seriam próprias do tipo ou 
do gênero, e se esses recursos linguísticos seriam os mesmos em diferentes línguas naturais. 
 Como já dito, os tipos discursivos mobilizam dois tipos de operações: a escolha dos 
mundos discursivos (vertente psico-cognitiva) e a escolha dos recursos linguísticos que 
traduzem esses mundos discursivos (vertente semiótica). Existiria, dessa forma, uma relação 
entre certos gêneros de texto e a mobilização/estabilização de traços linguísticos dos tipos de 
discurso vinculados ao gênero. Por exemplo, no gênero entrevista, cujo tipo de discurso 
predominante é o discurso interativo, a presença de frases não declarativas (interrogativas, 
imperativas e exclamativas) é um traço linguístico essencial do gênero. 
A caracterização dos tipos discursivos surgiu, conforme Bronckart (2006, p. 15), através 
de “análises distribucionais e estatísticas das configurações de unidades e de processos da 
língua francesa”. Para tanto, foram utilizados textos considerados standard, ou seja, textos que 
seriam mais simples em sua estrutura e que mobilizariam operações psicolinguageiras menos 
complexas. O autor destaca as possíveis limitações dos resultados obtidos, afirmando que o 
corpus foi formado somente por gêneros considerados mais tradicionais por uma questão clara 
de capacidade de análise. 
Essas limitações, contudo, são o ponto de partida para uma discussão apresentada por 
Miranda (2008). Para a autora, a questão que se coloca é a de saber que modos de relação é 
possível identificar entre as noções de gênero e tipo de discurso. “Ou, ainda, até que ponto a 
articulação entre tipos de discurso e géneros apresenta alguma regularidade?” (2008, p. 87). A 
esse respeito, Miranda, levanta algumas hipóteses tanto a partir da própria teorização 
desenvolvida no âmbito do ISD como a partir da observação de textos empíricos. 
A primeira relação postulada, no dizer da autora, como primária, é a de constitutividade, 
depreendida das próprias definições de gênero e de tipo de discurso do quadro do ISD. 
 
O termo ‘constitutivo’ indica, então, uma relação vinculativa necessária, de 
modo que os tipos de discurso não seriam simples configurações eventuais nos 
géneros, mas constituintes fundamentais. Poder-se-ia dizer, portanto, que um 
primeiro modo ou nível de relação entre géneros e tipos é esta espécie de ligação 
em que uns estão constitutivamente vinculados aos outros. Isto implica que os 
géneros mobilizam sempre, e necessariamente, pelo menos um tipo de discurso. 
(MIRANDA,2008, p. 87) 
 
 O segundo tipo de relação é a que prevê que cada gênero estabiliza a mobilização de um 
ou mais de um tipo de discurso particular. 
 
25 
 
Assim sendo, todos os géneros são constituídos por tipos de discurso, mas há 
géneros que preveem a mobilização de todos os tipos, géneros que seleccionam 
alguns e géneros que se caracterizam pela ocorrência de um único tipo de 
discurso. Esta observação é válida, ainda, se consideramos a possibilidade de 
ocorrência de variantes de (ou modalidades de articulação entre) tipos 
diferentes. (MIRANDA, 2008, p. 89) 
 
 
Assumindo esses dois tipos de relação possíveis entre gênero e tipo de discurso, Miranda 
(2008, p. 89), se pergunta ainda “se um mesmo tipo de discurso mobilizado em géneros 
diferentes pode apresentar especificidades”. Para aprofundar essa problematização, a autora 
analisa as unidades e os mecanismos linguísticos que se associam a um dos quatro tipos de 
discurso: o discurso interativo. Essa análise é realizada em quatro textos, escritos em português 
europeu, que se inscrevem em quatro gêneros diferentes: entrevista, horóscopo, receita de 
cozinha e boletim meteorológico. 
A conclusão a que a autora chega é a de que existem três níveis de relações entre gênero 
de texto e tipo de discurso. 
 
Em primeiro lugar, observámos que os tipos de discurso são elementos 
constituintes (ou, ainda, constitutivos) dos géneros e, portanto, os géneros 
mobilizam necessariamente tipos de discurso. Em segundo lugar, notámos que 
os géneros estabilizam a mobilização de determinado(s) tipo(s) de discurso, o 
que marcaria, então, um primeiro ‘recorte’ operado e instituído no plano 
praxiológico. Em terceiro lugar, e a partir da observação da ocorrência de 
marcas do discurso interactivo em textos de quatro géneros diferentes, vimos 
que em princípio certos géneros de texto demonstram a estabilização da 
ocorrência de alguns dos traços semióticos dos tipos de discurso em detrimento 
de outros. (MIRANDA, 2008, p. 98) 
 
É nessa perspectiva de contribuição que nos inserimos. Acreditamos, em consonância 
com Miranda (2008, p. 90), que “é preciso ainda avançar na análise de uma maior diversidade 
de géneros textuais e também na análise de unidades próprias das diferentes línguas naturais”. 
 
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
 
3.1. O tipo de pesquisa 
Este trabalho focaliza as relações entre tipo de discurso e recursos linguísticos 
comparativamente em português e espanhol. Nosso propósito é discutir a hipótese de que, de 
acordo com o gênero, os tipos de discurso podem apresentar especificidades no plano da 
configuração dos recursos linguísticos relativamente a uma língua natural. Nosso primeiro 
26 
 
passo para abordar a discussão dessa questão foi classificar o trabalho quanto à maneira de 
abordar o problema, à natureza, aos objetivos e aos procedimentos técnicos utilizados. 
Há duas formas de abordar o problema da pesquisa: a qualitativa e a quantitativa. 
Segundo Godoy (1995, p.58), a abordagem qualitativa “é a obtenção de dados descritivos sobre 
pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação 
estudada, para compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos”. Gil (2007, p.94) 
corrobora essa visão, dizendo que os “métodos de pesquisa qualitativa estão voltados para 
auxiliar os pesquisadores a compreenderem pessoas e seus contextos sociais, culturais e 
institucionais”. Já a pesquisa quantitativa considera que o conhecimento poder ser 
quantificável, o que significa traduzir, em número, opiniões e informações para classificá-las e 
analisá-las. Requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (GODOY,1995). 
Quanto à natureza, Gil (2007) classifica a pesquisa em básica ou teórica e aplicada. A 
pesquisa básica objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência, sem 
aplicação prática necessariamente prevista. Normalmente, envolve interesses universais. A 
pesquisa aplicada focaliza a geração de conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à 
solução de problemas específicos. Normalmente envolve verdades e interesses mais pontuais. 
Com relação aos objetivos, é possível desenvolver uma pesquisa exploratória e 
descritiva. A pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar maiores informações 
sobre objeto ou assunto de investigação a partir das quais possam se formular hipóteses ou 
propor um novo tipo de enfoque. Já a pesquisa descritiva, segundo Gil (2007, p. 46), “tem como 
objetivo primordial à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, 
então, o estabelecimento de relações entre as variáveis”. 
Finalmente, quanto aos procedimentos, a pesquisa pode ser bibliográfica, experimental, 
documental, de campo, de levantamento, estudo de caso, pesquisa-ação, participante, 
etnográfica, etnometodológica. 
Considerando esses fundamentos, situamos nossa pesquisa como qualitativa já que 
pretendemos mostrar a complexidade das relações entre gênero, tipos de discurso e língua. 
Nesse sentido, não nos interessam recursos e técnicas estatísticas. Ao invés disso, interessa-nos 
o aprimoramento da questão e a discussão de hipótese, o que nos situa no campo da pesquisa 
exploratória. Quanto à natureza, trata-se um trabalho teórico, ou seja, pretendemos oferecer 
uma discussão acerca do tema, sem necessariamente oferecer aplicação prática. Por fim, como 
procedimento, recorremos basicamente ao levantamento de um pequeno corpus de dados. 
 
3.2 O corpus 
27 
 
 
Nosso corpus está composto por 15 painéis de leitores publicadas no jornal “El 
periódico de Catalunya”, entre os dias 14 e 17 de março de 2014, em língua espanhola, e 15 
publicados, também entre os dias 14 e 17 de março de 2014, no jornal Folha de São Paulo, em 
língua portuguesa. 
El periódico de Catalunya é um jornal de referência da comunidade autônoma de 
Catalunha na Espanha, cujo nascimento data de 1978, sendo especialmente lido em Barcelona. 
O jornal possui uma versão impressa e uma eletrônica, sendo escrito em dois idiomas: espanhol 
e catalão. As “cartas de lectores” são recebidas através do e-mail cartalector@elperiodico.com 
ou por meio de uma conta do Twitter @EPentretodos. 
A Folha de São Paulo foi fundada em 1921 e, desde a década de 80, é o jornal mais 
vendido entre os diários nacionais de interesse geral (FONTE). Oferece uma versão on-line para 
os leitores. Na seção intitulada “Painel do Leitor” encontramos os painéis dos leitores recebidos 
através do e-mail: leitor@uol.com.br. 
A escolha desse gênero não tem nenhuma razão teórico-metodológica específica. Dada 
à natureza exploratória desta pesquisa, o trabalho de caracterização dos tipos de discurso e dos 
recursos linguísticos a eles associados em português e espanhol poderia ser realizado em 
qualquer gênero. Optamos pelo gênero painel do leitor pela facilidade de constituição do 
corpus, o uso da internet, por exemplo, especialmente em língua espanhola. 
 
3.3 O método de análise 
 
 O trabalho de análise foi organizado em duas etapas. Primeiro, fizemos uma análise 
geral das características linguísticas dos painéis do corpus, tanto em português quanto em 
espanhol. Em seguida, identificamos os tipos de discurso e verificamos se as unidades 
linguísticas variam nas duas línguas naturais. 
 Para a identificação dos tipos linguísticos, o ponto de partida foi a descrição das 
unidades consideradas na caracterização dos tipos de discurso previstas por Bronckart (2012). 
1. Ordem do Expor: 
 Discurso Interativo: 
 Presença de unidades que remetem a interação verbal; 
 Presença de frases não declarativas; 
 Verbos no presente, pretérito perfeito e futuro perifrástico; 
28 
 
 Existência de unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao 
espaço e ao tempo; 
 Presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda 
pessoa do singular e plural de valor exofórico; Presença de anáforas pronominais; 
 Densidade verbal elevada; 
 Densidade sintagmática baixa. 
 Discurso Teórico: 
 Ausência de frases não declarativas; 
 Dominância de verbos no presente e pretérito perfeito composto com 
valor genérico; 
 Ausência de unidades que remetem aos interactantes ou ao espaço-tempo 
da produção; 
 Existência de organizadores textuais com valor lógico-argumentativo; 
 Presença de frases passivas; 
 Presença de modalizações lógicas e do auxiliar de modo “poder”; 
 Presença de anáforas pronominais e nominais; 
 Densidade verbal fraca; 
 Densidade sintagmática elevada. 
2. Ordem do Narrar: 
 Relato interativo: 
 Ausência de frases não declarativas; 
 Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito, futuro 
simples e condicional; 
 Existência de organizadores temporais; 
 Presença de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e de segunda 
pessoa do singular e do plural; 
 Dominância de anáforas pronominais; 
 Densidade verbal elevada; 
 Densidade sintagmática baixa. 
 Narração: 
 Geralmente monologada e escrita 
 Presença exclusiva de frases declarativas; 
 Verbos predominantemente no pretérito perfeito e imperfeito; 
29 
 
 Presença de organizadores temporais 
 Ausência de pronomes de primeira e de segunda pessoa do singular e do 
plural que remetem aos interactantes; 
 Presença de anáforas pronominais e nominais; 
 Densidade verbal média; 
 Densidade sintagmática média. 
 
Realizamos ainda, para efeito de contextualização, um breve comentário sobre o 
contexto de produção e o plano global do conteúdo temático dos painéis. Para a exposição da 
análise propriamente, transcrevemos o painel e comentamos os resultados individualmente, em 
cada língua. Em seguida, procedemos a uma comparação. Os painéis são identificados pelas 
letras P (português) e E (espanhol) e por um número, que corresponde à ordem (P1 – painel 1 
em português, E1 – painel 1 em espanhol). 
 
4. ANÁLISE COMPARATIVA DAS CARTAS DE LEITORES EM PORTUGUÊS E 
ESPANHOL 
 
4.1. O contexto de produção 
 
Para identificarmos as condições de produção de qualquer texto é preciso considerar que 
o agente/produtor do texto se encontra em uma situação de ação linguageira. Quando esse 
agente/produtor elabora um novo texto, ele toma duas atitudes: primeiro, busca no arquitexto 
de sua comunidade linguística o modelo (o gênero de texto) mais adequado à situação em que 
se encontra. Depois, procura adaptar esse modelo às características individuais dessa mesma 
situação de ação linguageira. 
A análise das condições de produção dos textos deve levar em conta os elementos 
referentes à situação de produção do texto, a saber: a) as representações relativas ao quadro 
material da ação linguageira, ou seja, emissor, espaço e tempo; b) as representações 
sociosubjetivas da ação linguageira, ou seja, o tipo de interação, o papel social do 
emissor/enunciador, o papel social dos receptores/destinatários e os objetivos da interação; e c) 
outras representações da situação e dos conhecimentos do agente. O novo texto empírico será 
um exemplar do gênero de texto escolhido como melhor modelo para a situação de ação de 
linguagem em que o agente/produtor se encontra, ajustado aos parâmetros específicos dessa 
30 
 
mesma situação. Abaixo ilustramos o esquema proposto por Bronckart (2009) para a análise 
das condições de produção dos textos. 
 
AÇÃO DE LINGUAGEM 
REPRESENTAÇÕES DO 
AGENTE/PESSOA 
1. Parâmetros objetivos 
 Emissor; eventual co-emissor 
 Espaço/tempo da ação 
2. Parâmetros sociossubjetivos 
 Quadro social da interação 
 Papel do enunciador 
 Papel dos destinatários 
 Objetivo 
3. Outras representações da situação e 
dos conhecimentos disponíveis na 
pessoa 
 
 
Considerando esses aspectos, a análise das 
condições de produção dos painéis de leitores pode ser 
configurada da seguinte forma: 
1. Parâmetros objetivos 
 Emissores: Leitores dos jornais escolhidos. 
 Co-emissor: não se aplica 
 Espaço/tempo de produção: jornal on-line, entre 17 a 19 de março de 2014. 
2. Parâmetros sociossubjetivos 
 Quadro social da interação: instância jornalística eletrônica. 
 Papel do enunciador: leitor 
 Papel dos destinatários: editor, diretor e leitores dos jornais escolhidos. 
 Objetivo: emitir opinião sobre os assuntos tratados nos jornais escolhidos. 
3. Outras representações da situação e dos conhecimentos mobilizados no texto: pressupõe 
que os destinatários também são leitores dos jornais escolhidos. 
 
ARQUITEXTO 
NEBULOSA DE GÊNEROS 
1. Diferenças objetivas 
2. Classificações explícitas 
3. Indexações 
 Conteúdo 
 Formas de interação 
 Valor atribuído 
 
 
TEXTO EMPÍRICO (Exemplar de 
gênero) 
Figura 4: Condições de produção dos textos 
 
 
FONTE: Bronckart (2009, p.146) 
31 
 
4.2. O plano global do conteúdo temático 
 
Além do contexto de produção, o conteúdo temático também integra a ação de 
linguagem. A respeito deste, Bronckart (1999, p. 97) afirma que “o conteúdo temático (ou 
referente) de um texto pode ser definido como o conjunto das informações que nele são 
explicitamente apresentadas, isto é, que são traduzidas no texto pelas unidades declarativas da 
língua natural utilizada”. 
De forma semelhante aos parâmetros do contexto de produção, as informações 
constitutivas do conteúdo temático são representações construídas pelo agente-produtor. Essas 
se referem aos conhecimentos que variam em função da experiência e do nível de 
desenvolvimento do produtor e que estão estocados e organizados em sua memória, 
previamente, antes do desencadear da ação de linguagem. 
 O conteúdo temático dos painéis dos leitores em espanhol é diversificado. São 
abordados temas do cotidiano dos espanhóis como aspectos da mobilidade da comunidade, 
urbanização, arte, política internacional, educação, saúde pública, imigração e, o que o jornal 
catalão classifica como “debate soberanista”, ou seja, a respeito da identidade enquanto catalães 
em oposição à identidade como espanhóis. 
 O plano global do conteúdo temático das cartas dos leitores em português também é 
variado, porém possui mais temas relacionados à política nacional e ao cotidiano dos 
brasileiros, como casos de corrupção, o marco civil da internet, a cracolândia, a educação do 
trânsito, os atrasos dos pagamentos do INSS e a propaganda eleitoral. 
 
4.3. Os tipos de discurso e os recursos linguísticos 
 
4.3.1. Análise dos painéis em português 
 
P1 
Cirurgião plástico critica artigo de João Pereira Coutinho – Luís Felipe Morais Prado de 
Jaú/SP (14/03/2014) 
Sou cirurgião plástico e me senti extremamente ofendido com o artigo “Frankensteins” de 
João Pereira Coutinho. Ele achincalha nossa categoria por conta de uma única análise. Não 
aceito essas reflexões feitas por um caso que pode até não ser estético, porém, generalizar não 
tem sentido e ofende toda uma classe. 
 
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Neste painel, o leitor comenta negativamente um artigo publicado anteriormente no 
jornal sobre a profissão de cirurgião plástico. O tipo de discurso é o discurso interativo, marcado 
pela conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção e pela implicação do agente 
produtor do texto. Os verbos aparecem no presente do indicativo, com valor atemporal, na 
primeira pessoal: sou, senti, achincalha, aceito, tem, ofende. Essa é a primeira característica em 
termos de unidade linguística do discurso interativo. Acrescentam-se a isso a presença de 
unidades que remetem a unidades a interação (citação a artigo anterior), a presença dos 
pronomes de primeira pessoa do singular e do plural (me e nossa), a presença de organizadores 
com valor argumentativo (por conta, porém) e o uso de anáforas pronominais (ele). Por fim, o 
painel possui uma densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática. 
 
P2 
Leitora de Campinas elogia crônica sobre Lisboa – Maria JoséCarreira Rey de Campinas/SP 
(14/03/2014) 
Adorei a crônica de Zeca Camargo sobre Lisboa. Bem estruturada, sentimental e poética. 
Assim também é minha Lisboa: do Tejo, de Pessoa e de Camões. Melancólica, mas não triste. 
Para rir e chorar. 
 
A leitora elogia uma crônica publicada anteriormente no jornal sobre a cidade de Lisboa. 
Apesar de bastante curto, esse painel apresenta dois tipos de discurso. O primeiro segmento se 
caracteriza pelo relato interativo, ou seja, o fato é narrado: [Adorei a crônica de Zeca Camargo 
sobre Lisboa. Bem estruturada, sentimental e poética]. Isso é marcado pela presença do verbo 
no pretérito perfeito da primeira pessoa do singular e pela referência nominal ao autor da crônica 
(Zeca Camargo). 
A partir de [Assim também é minha Lisboa] até o final, ocorre o discurso interativo, ou 
seja, o fato, a partir daí, passa a ser mostrado. A presença do verbo no presente do indicativo 
(é) mostra a conjunção entre as coordenadas gerais do conteúdo temático e a situação de 
produção do texto. A presença do agente/produtor do texto é identificada através do uso do 
pronome possessivo na primeira pessoa do singular (minha) e de unidades que remetem a 
objetos acessíveis, ao espaço ou tempo de produção (Lisboa, Tejo, Pessoa e Camões). Outra 
característica linguística do discurso interativo é a presença do organizador argumentativo 
“mas”. Tanto o segmento correspondente a um relato interativo quanto o discurso interativo 
possuem uma densidade verbal alta e baixa densidade sintagmática. 
 
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P3 
Leitores criticam atraso de pagamentos do INSS após o Carnaval – Luciano R. Rocha de 
Souza de São Paulo/SP (14/03/2014) 
O INSS não considerou como úteis os dias 3 e 5 deste mês, embora não fossem feriados. Isso 
fez com que quem recebe sua aposentadoria no quinto dia útil só a recebesse até o dia 12/3. 
Para uma pessoa cujo benefício raramente dura até o fim do mês, isso é uma desumanidade. 
Magistrados e políticos recebem bem antes do fechamento do mês. Pobres mortais são 
sacrificados. 
 
Neste painel, o leitor opina sobre o atraso no pagamento do benefício do INSS no mês 
de março de 2014, criticando o fato e comparando com a situação mais favorável dos 
magistrados e políticos. A disjunção é marcada no início do painel: [O INSS não considerou...]. 
O uso de verbos no pretérito perfeito (considerou, fez) e pretérito imperfeito (fossem, 
recebessem) marca a relação de distância entre o conteúdo temático e a situação de ação 
linguageira. Já a referência temporal (deste mês e dia 12/3) marca a implicação das coordenadas 
da situação de produção do texto. Assim, o primeiro segmento do painel se caracteriza pelo 
relato interativo. Outra característica do relato interativo é a ausência de frases não declarativas, 
a presença de organizadores temporais, como: os dias 3 e 5 e no quinto dia útil e, a alta 
densidade verbal aliada a uma baixa densidade sintagmática. 
A partir de [Para uma pessoa...] até o final, ocorre um segmento de discurso teórico. A 
presença de verbos no presente do indicativo (dura, é, recebem, são) mostra a conjunção entre 
o conteúdo temático e a situação de produção do texto. A ausência de unidades que remetem 
aos interlocutores e à situação de produção caracteriza a autonomia. Outras características do 
discurso teórico são a ausência de frases não declarativas, a ausência de nomes próprios e 
pronomes e verbos de primeira do singular e do plural, presença da anáfora pronominal (isso), 
baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. 
 
P4 
Leitores criticam atraso de pagamentos do INSS após o Carnaval – João Roberto Gullino de 
São José do Rio Preto/SP (14/03/2014) 
A atitude do INSS deu demonstração do desprezo com os idosos, deixando milhares de 
aposentados sem saber o que fazer. O pouco caso do governo ficou evidente. Mas, aos 81 anos, 
como muitos de minha faixa etária, ainda faço questão de votar. 
 
34 
 
Neste painel, o leitor critica a atitude do INSS e do governo federal frente aos idosos, 
contrastando com o fato de que, mesmo não sendo mais obrigatório, ainda fazem questão de 
votar. O início do texto [A atitude do INSS...] revela um narrar autônomo, marcado pelo uso 
do verbo no pretérito perfeito (deu), que indica a relação de disjunção entre o conteúdo temático 
e a situação de produção do agente/produtor. A ausência de unidades que remetem aos 
interlocutores e a situação de produção caracteriza sua autonomia. Outras características da 
narração são: a presença exclusiva de frases declarativas, ser monologado e escrito, assim como, 
possuir uma média densidade verbal e sintagmática. 
A partir de [Mas, aos 81 anos...] até o final, a relação entre o conteúdo temático e a 
situação de produção de ação linguageira muda para conjunto, ou seja, da ordem do expor. O 
verbo fazer no presente do indicativo revela essa relação de conjunção. Passa-se também do 
autônomo para o implicado. O uso de pronomes e verbos na primeira pessoa do singular (minha, 
faço), assim como a referência à idade atual do produtor (81 anos) marcam essa implicação. 
Instaura-se, portanto, nessa passagem, um discurso interativo. Outra característica do discurso 
interativo é a elevada densidade verbal e a baixa densidade sintagmática. 
 
P5 
Leitoras de Guarulhos divergem sobre razão dos protestos na Venezuela – Ana Gabriela 
Cazzo de Guarulhos/SP (14/03/2014) 
Por qual motivo as manifestações democráticas na Venezuela são alvos de repúdio do seu 
governo? O país não vive um modelo democrático, mas sim totalitário, onde seu presidente, 
apesar de eleito, recebeu o legado de Hugo Chávez visando a manutenção da revolução 
bolivariana. Legado que está levando a população a miséria. Com uma economia frágil apesar 
dos “petrodólares”, a situação está insustentável. A população reivindica mudanças, pois não 
aguenta mais tanta bandalheira. Até quando estes “ditadores” continuarão no poder, fazendo 
a política do pão e circo? 
 
A leitora comenta a situação na Venezuela e faz uma crítica ao governo do atual 
presidente, justificando, assim, a onda de protestos no país. Quase todo o painel é da ordem do 
expor autônomo, ou seja, um discurso teórico. Do início, [Por qual motivo...] até [...totalitário] 
e de [Legado...] até o final, há uma relação de conjunção entre as coordenadas do conteúdo 
temático e as coordenadas da situação de produção, marcada pelo uso dos verbos no presente 
(são, vive, está levando, está, reivindica, aguenta). Além disso, a autonomia se apresenta através 
da ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou a situação de produção, assim como 
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a ausência de pronomes, adjetivos e verbos na primeira pessoa do singular e do plural. A 
presença dos marcadores lógico-argumentativos (por qual, mas, onde, pois, até quando) 
também caracterizam o expor autônomo. A presença de perguntas não descaracteriza o discurso 
teórico, pois trata-se de perguntas retóricas que auxiliam na argumentação. O discurso teórico 
também é marcado pela baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. 
Entretanto, o texto é recortado por um segmento da ordem do narrar autônomo. A partir 
de [onde...] até [...bolivariana...], temos assim uma narração. O uso do verbo no pretérito 
perfeito marca a relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. 
A autonomia mais uma vez é marcada pela ausência de frases que remetem aos interlocutores 
ou a situação de produção, pela ausência de pronomes, adjetivos e verbos na primeira pessoa 
do singular e do plural e pela presença exclusiva de frases declarativas. Além da média 
densidade verbal e sintagmática. 
 
P6 
Leitoras de Guarulhos divergem sobre razão dos protestos na Venezuela – Ana Beatriz 
Bertolucci Henriques de Guarulhos/SP (14/03/2014) 
Luigi Petti se mostra contrário à política de Maduro. Mas acho injusto chamar a Venezuela de 
país de “várzea”. Por que razões ogoverno da venezuelano pode ser considerado inviável? A 
política chavista de Nicolás Maduro implica em condições sociais e de bem estar muito mais 
eficientes do que as nações ditas “de primeira categoria”. A mídia põe tais ações como 
ditatoriais. Os conflitos venezuelanos emergem principalmente das classes média e alta que, 
visando benefícios capitalistas, são contra a política de distribuição de renda do governo. Mas, 
não seria por esse motivo o Estado Venezuelano muito mais democrático? 
 
A leitora comenta o posicionamento contrário de Luigi Petti, e se coloca a favor do 
governo de Nicolás Maduro por considerá-lo mais democrático. O discurso teórico está presente 
em quase todo o texto, iniciando com [Luigi Petti...] até [...Maduro] e após em [A política...] 
até [...renda do governo]. A relação de conjunção entre as coordenadas do conteúdo temático e 
as coordenadas da situação de produção do texto é marcada pelo uso dos verbos no presente 
(mostra, implica, põe, emergem, são), e a autonomia através da ausência de frases não 
declarativas, ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou a situação de produção e 
a ausência de pronomes, verbos e adjetivos de primeira pessoa do singular e do plural. O 
discurso teórico também é marcado por uma baixa densidade verbal e alta densidade 
sintagmática. 
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Entretanto, o texto é recortado por dois segmentos da ordem do expor implicado, [Mas 
acho...] até [...inviável?] e [Mas...democrático?]. Novamente o uso de verbos no presente 
caracteriza a relação de conjunção (acho, pode ser) entre as coordenadas do conteúdo temático 
e as coordenadas da situação de ação linguageira, sendo agora implicado pelo uso do verbo na 
primeira pessoa do singular (“eu” acho), assim como a presença de frases não declarativas e 
unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço ou tempo (Estado Venezuelano). No caso 
do discurso interativo, há uma alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. 
 
P7 
Leitores comentam artigo sobre o caso de Henrique Pizzolato – Jorge Alberto de Oliveira 
Marum de Piedade/SP (15/03/2014) 
Merece aplauso o artigo do professor Alexandre de Morais sobre o caso Pizzolato. Estão dados 
os caminhos para que esse fugitivo da justiça brasileira não fique impune. O povo, em sua 
esmagadora maioria, agora espera que o governo federal demonstre que seu compromisso com 
a efetivação da justiça e o combate à impunidade está acima de considerações político-
partidárias. 
 
Neste painel, o leitor elogia o artigo de Alexandre Morais, convocando o governo 
brasileiro à efetivação da justiça. Todo o texto é caracterizado pelo discurso interativo. Os 
verbos no presente (merece, estão, fique, espera, demonstre, está) são típicos da relação de 
conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do texto, as unidades linguísticas 
que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e tempo (brasileira, governo, povo “brasileiro”, 
agora) marcam a implicação. Outras características do discurso interativo são o uso de nomes 
próprios (Alexandre de Morais), anáfora pronominal (seu), uma alta densidade verbal e uma 
baixa densidade sintagmática. 
 
P8 
Leitores comentam artigo sobre o caso de Henrique Pizzolato – 
Marilene Martins de Oliveira de São Paulo/SP (15/03/2014) 
Minha filha vive em Paris e pretende comprar um apartamento com o dinheiro que deixou aqui, 
fruto de seu trabalho como fotógrafa. Dói, entretanto, saber que o governo brasileiro irá 
morder parte dessa economia. Será que Pizzolato, que comprou três mansões na Espanha, ou 
Paulo Maluf poderiam prestar uma assessoria para minha filha? 
 
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A leitora relata um pouco a vida de sua filha e critica o governo brasileiro por deixar 
impune Pizzolato e Maluf. Encontramos dois tipos de discurso: o discurso interativo e o relato 
interativo. O painel inicia com a ordem do expor [Minha filha...] até [...saber] marcada pela 
presença de verbos no presente (vive, pretende, dói), e conclui com o segmento [...que o 
governo...] até [...filha?] pertencente a ordem do narrar, identificado através dos verbos no 
futuro simples (irá, será), pretérito perfeito (comprou) e condicional (poderiam), ou seja, 
marcando uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do 
texto. A implicação nos dois tipos de discurso é caracterizada pelo uso do possessivo (minha) 
na primeira pessoa do singular e os dêiticos espaciais (aqui e governo brasileiro). Nos dois tipos 
de discurso existe uma elevada densidade verbal que se opõe a baixa densidade sintagmática. 
 
P9 
Socorro de R$ 12 bilhões a empresas de energia é criticado por eleitores – Heitor Vianna 
P. Filho de Araurama/RJ (15/03/2014) 
Já temos uma das maiores tarifas de energia elétrica do mundo, mesmo com as reduções do 
governo. Agora, não tem sentido repassar supostas defasagens para os consumidores a partir 
de 2015. Os valores das tarifas já são hoje desproporcionais à situação econômica da 
população. E na fatura de energia elétrica existem diversos encargos, como a iluminação 
pública e alto ICMS dos governadores. É um item essencial, sem alternativa para a população, 
que mais afeta a Economia. 
 
O leitor expõe a situação das tarifas de energia elétrica pagas no país. Toda o painel 
pertence à ordem do expor, caracterizado pela presença de verbos no presente (temos, tem, são, 
existem, é, afeta) mostrando, assim, a relação de conjunção entre o conteúdo temático a situação 
de ação linguageira. Enquanto, no segmento [Já temos...] até [...econômica da população] temos 
um expor implicado, ou seja, um discurso interativo, marcado através do uso do verbo na 
primeira pessoa do plural (temos), do dêitico de lugar (governo “brasileiro”), dos dêiticos de 
tempo (agora, a partir de 2015, hoje), da alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática, 
no segmento [E na fatura...] até o final, temos um expor autônomo, ou seja, um discurso teórico, 
marcado, além dos verbos no presente já citados, pela ausência de unidades que remetem a 
interação, pela ausência de frases não declarativas, ausência de pronomes, verbos e adjetivos 
de primeira pessoa do singular e do plural e pela baixa densidade verbal e alta densidade 
sintagmática. 
 
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P10 
Socorro de R$ 12 bilhões a empresas de energia é criticado por eleitores – Dirceu Cardoso 
Gonçalves de São Paulo/SP (15/03/2014) 
Ao mesmo tempo em que faz toda essa encenação econômico-eleitoreira, deixando a dívida 
elétrica para o próximo ano – e para os consumidores -, o governo brasileiro mantêm milhares 
de cargos políticos e elevados gastos com a máquina estatal. Além disso, se dá ao luxo de sair 
pelo mundo perdoando dívidas e concedendo novos empréstimos a países que são 
ideologicamente afinados com os dirigentes do PT. 
 
O leitor relaciona o aumento previsto da tarifa elétrica com demais ações do governo 
brasileiro. Todo o texto pertence a ordem do expor, caracterizado pela presença de verbos no 
presente (faz, mantêm, dá, são) mostrando, assim, a relação de conjunção entre o conteúdo 
temático a situação de ação linguageira. Entretanto, no segmento [Ao mesmo ... estatal] temos 
um expor implicado, discurso interativo, através do uso do dêitico de tempo (próximo ano) e 
do dêitico de lugar (governo brasileiro), enquanto que no segmento [Além ... PT] temos um 
expor autônomo, discurso teórico, marcado pela ausência de unidades que remetem a interação 
e pela ausência de pronomes, verbos e adjetivos da primeira pessoal do singular e do plural. 
Também marcam o discurso teórico a ausência de frases não declarativas e o uso do marcador 
lógico-argumentativo “além disso”. 
 
P11 
Advogado elogia coluna de Ruy Castro sobre literatura do golpe militar – Tales Castelo 
Branco de São Paulo/SP (15/03/2014) 
Excelente (como sempre) o artigo de Ruy de Castro sobre as vésperas dos 50 anos do golpe de 
1964. Ele cita vários livros que foram publicados

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