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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O mecanismo do parto tem características gerais constantes, que variam de acordo com o tipo de apresentação e a morfologia da pelve. Em 95 a 96% dos casos, o parto processa-se com o feto em apresentação cefálica fletida – apresentação de vértice. INSINUAÇÃO A insinuação (ou encaixamento) é a passagem da maior circunferência da apresentação através do anel do estreito superior. ❖ Na prática, a avaliação real desse feito é permitida se fazer avaliando quando o occipício atinge o plano das espinhas isquiáticas, ou seja, o plano zero de DeLee; então se fala que nessas condições o polo cefálico está insinuado. Tem como tempo preliminar a redução dos diâmetros, o que, nas apresentações cefálicas, é conseguido por flexão (apresentação de vértice) ou deflexão (apresentação de face). Para que se processe a insinuação, é necessário haver redução dos diâmetros da cabeça, o que será obtido pela orientação de diâmetros e por flexão. A insinuação da cabeça possui dois movimentos: orientação e flexão. Orientação acomoda o diâmetro OF ao diâmetro mais favorável do estreito superior da pelve materna. A flexão se dá pela contração do útero pressionando o fundo uterino sobre a nádega e a coluna vertebral do feto. Reduzindo os seus diâmetros, a cabeça fetal transpõe o estreito superior da bacia. A insinuação ocorre por dois processos diferentes: ❖ Insinuação estática -> processada na gravidez, em mais de 50% das primigestas. Flexão por aconchego no segmento inferior e na descida, conjuntamente com o útero, por tração dos ligamentos sustentadores do órgão e pressão das paredes abdominais. ❖ Insinuação dinâmica -> que surge no fim da dilatação cervical ou no início do período expulsivo nas multíparas. Flexão por contato com o estreito superior da bacia e descida à custa das contrações expulsivas. Nas primíparas, a insinuação pode ocorrer antes do início do trabalho de parto, num período que se chama de pré-parto e pode anteceder o desencadeamento do parto em 15 dias. Nas multíparas ocorre imediatamente antes da descida, normalmente durante o trabalho de parto. DESCIDA Completando a insinuação, a cabeça migra até as proximidades do assoalho pélvico, onde começa o cotovelo do canal. Até aí mantém a mesma atitude e conserva o mesmo sentido, apenas exagerando um pouco a flexão. O ápice do ovoide cefálico (cabeça do feto) atinge o assoalho pélvico, e a circunferência máxima encontra-se na altura do estreito médio da bacia. A descida ocorre desde o início do trabalho de parto e só termina com a expulsão total do feto. Durante esse mecanismo do parto, o movimento da cabeça é turbinal: à medida que o polo cefálico roda, vai progredindo no seu trajeto descendente. É a penetração rotativa, de Fernando Magalhães. A descida pode ser de duas formas: sinclítica – quando os dois parietais descem de forma simultânea e assinclítica – quando acontecem movimentos de inclinação lateral, movimentos em “badalo de sino”, de forma que um dos parietais desce antes que o outro. ❖ Assinclítica anterior -> desce primeiro o parietal anterior, logo, a sutura sagital fica mais próxima do sacro. É chamado de “obliquidade de Nägele”. APG 23 - PARTO E PUERPÉRIO Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Assinclítica posterior -> desce primeiro o parietal posterior, logo, a sutura sagital fica mais próxima do pube. É chamado de “obliquidade de Litzman”. O assinclitismo posterior ocorre mais frequentemente em primigestas, pois a parede abdominal mais firme, tende a levar o feto para trás, fazendo com que o polo cefálico bascule, levando o parietal posterior a descer antes do anterior. Já nas multíparas ocorre o inverso, a flacidez da parede pende o feto para frente e o parietal anterior tende a descer antes, caracterizando o assinclitismo anterior. ❖ Rotação interna da cabeça -> ao forçar a distensão do assoalho pélvico (anteroposterior), a cabeça fetal desliza nas paredes laterais (planos inclinados) e roda para acomodar seus maiores diâmetros aos mais amplos da fenda vulvar. ❖ Insinuação das espáduas -> durante a rotação interna da cabeça e à sua progressão no canal, há penetração das espáduas através do estreito superior da bacia. À medida que a cabeça progride, as espáduas descem até o assoalho pélvico. DESPRENDIMENTO Após o movimento de rotação, o suboccipital coloca-se sobre a arcada púbica e a sutura sagital (une os dois ossos parietais do crânio) orienta-se em sentido anteroposterior. Dada a curvatura inferior do canal do parto, o desprendimento ocorre por movimento de deflexão (movimento de “chifrada”). Nesse contexto, a passagem da cabeça através do anel vulvar deve ocorrer pelos menores diâmetros, sendo o maior diâmetro o suboccipital. Com o movimento de deflexão, estando o suboccipital colocado sob a arcada púbica, liberta-se o diâmetro suboccipitobregmático, seguido pelo suboccipitofrontal, suboccipitonasal e, assim por diante, até o completo desprendimento. ROTAÇÃO EXTERNA DA CABEÇA Livre agora no exterior, a cabeça sofre movimento de flexão pelo seu próprio peso e executa rotação de 1/4 a 1/8 de circunferência, voltando o occipital para o lado onde se encontrava na bacia. É um movimento simultâneo à rotação interna das espáduas, por ela causado, e conhecido como restituição (faz restituir o occipital à orientação primitiva). ROTAÇÃO INTERNA DAS ESPÁDUAS Ao chegarem ao assoalho pélvico, e por motivos idênticos aos que causaram a rotação interna da cabeça, as espáduas sofrem movimento de rotação, até orientarem o biacromial na direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sobre a arcada púbica e o posterior, em relação com o assoalho pélvico, impelindo para trás o cóccix materno. DESPRENDIMENTO DAS ESPÁDUAS Nessa altura, tendo o feto os braços cruzados para diante do tórax, a espádua (ombro) anterior transpõe a arcada púbica e aparece através do orifício vulvar. Para libertar o ombro posterior, o tronco sofre flexão lateral. Com a progressão em direção à saída, desprende-se a espádua posterior. ❖ O restante do feto não oferece resistência para o nascimento, embora possa obedecer ao mesmo mecanismo dos primeiros segmentos fetais. FASES CLÍNICAS DO PARTO O estudo do parto analisa três fases principais (dilatação, expulsão e secundamento), precedidas de estágio preliminar, o período premunitório (pré-parto). Há tendência a se considerar um 4o período, que compreenderia a hora imediata à saída da placenta; por ser uma fase de riscos inerentes, geralmente é ignorada pelo obstetra. Os fenômenos clínicos e mecânicos do parto mantêm unidade, completando-se ou ocorrendo no ritmo comandado apenas pela contratilidade uterina. Resumem-se na abertura de dois diafragmas, o cervicossegmentário (colo do útero) e o vulvoperineal, através dos quais o feto passa. ❖ 1o período (fase de dilatação): ampliação do diafragma cervicossegmentário. ❖ 2o período (fase de expulsão): passagem do feto pelo diafragma vulvoperineal. ❖ 3o período (secundamento). ❖ 4o período (primeira hora pós-parto). PERÍODO PREMUNITÓRIO (PRÉ-PARTO) É caracterizado pela descida do fundo uterino geralmente de 2- 4cm, eliminação do muco pelas glândulas cervicais podendo vir acompanhado ou não de pequena perda sanguínea, amolecimento do colo com posterior apagamento e modificação do direcionamento do colo para o centro do eixo da vagina. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Além disso, inicia-se a percepção, por vezes dolorosa, das metrossístoles intermitentes do útero, frequentes e intensas, prenunciando a deflagração do parto (dolores praeparantes). ❖ O falso trabalho de parto e as contrações dolorosas do pré- parto são quadros clínicos frequentes no final da gravidez, apresentam em comum as metrossístoles,de ritmo irregular e sem coordenação, que, pelo fato de não produzirem modificações do colo, são um diferencial no diagnóstico do verdadeiro trabalho. DIAGNÓSTICO DO INÍCIO DO PARTO De maneira esquemática, devem ser consideradas: ❖ Contrações dolorosas, rítmicas (no mínimo, 2 em 10 min), que se estendem a todo o útero e têm duração de 50 a 60 s. ❖ Dilatação: a fase ativa do parto pode não ter se iniciado com 5 cm de dilatação em multíparas e até com dilatação maior em nulíparas ❖ Formação da bolsa das águas ❖ Perda do tampão mucoso: denunciando o apagamento do colo. FASE DE DILATAÇÃO Inicia-se a fase de dilatação com as contrações uterinas dolorosas (metrossístoles) intensas, dolorosas e regulares que se iniciam a cada 30min e vão aumentando de intensidade e frequência. Para um efetivo trabalho de parto, essas contrações devem apresentar frequência regular entre 2-3 contrações a cada 10min, intensidade em média de 40mmHg e duração entre 30-90 segundos (média de 60 segundos). ❖ A sensação dolorosa se deve à hipóxia das fibras musculares do útero durante as contrações. Essas contrações, ditas efetivas, provocarão a dilatação do colo devido à tração que as fibras musculares do corpo uterino exercem sobre o segmento inferior e pela apresentação fetal insinuada, que exerce pressão hidrostática sobre a cérvix. Às dolores praeparantes (dores preparatórias) do período premunitório sucedem-se as dolores praesagiantes (dores de presságio ou sinalização) da fase de dilatação, quando o trabalho de parto desencadeado é visível até para aqueles sem experiência diagnóstica. Durante o 1o período, abre-se o diafragma cervicossegmentário e o canal do parto se forma, isto é, a continuidade do trajeto uterovaginal, com 2 fenômenos a predominar: ❖ Apagamento do colo (ou desaparecimento do espaço cervical), incorporado à cavidade uterina. ❖ Dilatação da cérvice, ao fim da qual as suas bordas limitantes ficam reduzidas a simples relevos, aplicados às paredes vaginais. Portanto, o apagamento e a dilatação são fenômenos distintos, que, nas primíparas, se processam nessa ordem sucessiva. Nas multíparas, ocorre a simultaneidade dos 2: o colo se desmancha em sincronismo com a dilatação. A dilatação do orifício externo do colo tem por finalidade ampliar o canal e completar a continuidade entre o útero e a vagina, sendo assim se formará um espaço entre o útero e a vagina, no qual será coletado o líquido amniótico (bolsa das águas) que auxiliará as contrações uterinas no deslocamento do istmo. A pressão exercida pela apresentação fetal e pela bolsa das águas forma o segundo fator responsável pela dilatação das porções baixas do útero. A bolsa das águas é o polo inferior do óvulo; a princípio, ela se insinua pelo orifício interno do colo, cujos lábios transmitem a onda contratural, mantém-se tensa no momento da contração, relaxando-se nos intervalos. Ao iniciar-se o 1o período, passa a ter contato cada vez mais direto com a cérvice e, à semelhança de cone, interpõe-se entre as bordas. Friedman, em 1954, elaborou o conceito de 3 divisões funcionais do trabalho de parto: Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Divisão preparatória ou de aceleração -> mesmo com dilatação mínima, as alterações plásticas do colo se iniciam. A analgesia de parto pode interromper essa divisão do trabalho de parto. ❖ Divisão de aceleração máxima ou de dilatação -> período de dilatação rápida, quando a dilatação vai de 3 a 9 cm, não é afetada pela analgesia de parto. ❖ Divisão pélvica ou de desaceleração -> precede a dilatação completa. Fase Latente -> momento em que a parturiente percebe as contrações uterinas regulares, pouco dolorosas. Normalmente, é o período até a dilatação de 3-5cm, definido como limite de dilatação da fase latente e o início da fase ativa. ❖ A fase latente é considerada prolongada quando se estende por mais de 20hs nas nulíparas e 14hs nas multíparas. Fase Ativa -> caracterizada por contrações dolorosas, com aumento gradual de frequência e intensidade, levando à rápida dilatação do colo. FASE DE EXPULSÃO Inicia-se quando a dilatação está completa e se encerra com a saída do feto. Caracteriza-se, fundamentalmente, pela associação sincrônica às metrossístoles da força contrátil do diafragma e da parede abdominal, cujas formações musculoaponeuróticas, ao se retesarem, formam cinta muscular forte, que comprime o útero de cima para baixo e de frente para trás. No curso do 2o período, ocorre a sucessão das contrações uterinas, cada vez mais intensas e frequentes, com intervalos progressivamente menores, até adquirirem o aspecto subintrante de 5 contrações em cada 10min. Por efeito das metrossístoles, o feto é propelido através do canal do parto, franqueia o colo dilatado e passa a distender lenta e progressivamente a parede inferior do diafragma vulvoperineal, depois de palmilhar a vagina. Ao comprimir as paredes vaginais, o reto e a bexiga, o polo inferior do feto provoca, por via reflexa, o aparecimento das contrações voluntárias da prensa abdominal. Assim, origina-se a “vontade de espremer”, os puxos, movimentos enérgicos da parede do ventre, semelhantes aos suscitados pela evacuação ou micção penosas. Assim, para eficiência desse período é necessário que dois fatores estejam presentes: sístole involuntária do útero e contração voluntária da prensa abdominal. A parturiente imobiliza o tórax (firmando os braços em pontos de apoio no leito), interrompe a respiração e abaixa o diafragma como nos movimentos expiratórios violentos, executando forte contração da musculatura abdominal. Após isso, a apresentação desce pelo canal do parto, passa a pressionar o períneo, que se deixa distender, encosta-se às paredes do reto, elimina o conteúdo ocasional e turgesce o ânus. Além disso, a urina flui, aos jatos, pelo meato. Aos poucos, a vulva se entreabre, dilata-se lentamente e se deixa penetrar pela apresentação. Nesse momento, o feto se desprende do leito materno, ao qual fica ligado unicamente pelo cordão umbilical. ❖ Ocorre a eliminação do líquido amniótico remanescente na cavidade uterina, mesclado a uma quantidade pequena de sangue decorrente do parto. Em seguida, o útero se retrai, ficando o seu fundo na cicatriz umbilical. A parturiente, exausta pelos esforços despendidos, sente uma euforia compensadora após o trabalho de parto, seguida de relaxamento geral (fase de repouso clínico), apesar da coexistência de contrações uterinas, que persistem com a mesma intensidade e frequência, mas indolores. FASE DE DEQUITAÇÃO Corresponde ao período do nascimento do feto até a expulsão da placenta e membranas. A descida da placenta provoca contrações uterinas pouco dolorosas e novamente sensação de puxos maternos à medida que a placenta vai se aproximando do canal vaginal. Existem dois tipos de mecanismo de dequitação, conforme o local do útero em que a placenta está inserida: Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Baudelocque-Schultze (BS) -> mecanismo central de decedura, em que a placenta se encontra inserida posteriormente no fundo do útero: no momento do descolamento, ocorrerá primeiro a exteriorização pela face fetal da placenta, para então haver a eliminação do coágulo (hematoma retroplacentário). Acontece em 85% dos casos. ❖ Baudelocque-Duncan (BD) -> mecanismo periférico, menos comum, de secundamento, a placenta se encontra inserida na parede lateral do útero: no momento do descolamento pela face materna, ocorre primeiro o sangramento e logo em seguida a exteriorização da placenta. Nesse processo de dequitação, independentemente do mecanismo, ocorre perda de sangue de aproximadamente 300- 500mL, que normalmente é bem tolerada pela paciente sem comorbidades. O processo de dequitação dá-se em média de 5-10minem 80% dos casos, sendo considerado prolongado se acima de 30min, quando complicações hemorrágicas se tornam mais frequentes. PRIMEIRA HORA PÓS-PARTO Denominado de 4º período de Greenberg, corresponde à 1ª hora após a dequitação. Nesse período, após o desprendimento da placenta, ocorre a retração uterina com a formação de coágulos fisiológicos. ! Deve-se ter cuidado particular nesse período, devido ao fato de que poderão ocorrer hemorragias significativas, tendo como causa a atonia uterina. ❖ Esse período é caracterizado por mecanismos que atuarão na prevenção fisiológica do sangramento do leito uteroplacentário. A seguir, estão listadas as fases típicas que caracterizam o 4º período: ❖ Miotamponagem -> ocorre imediatamente após a expulsão da placenta, o útero se contrai e é palpável em um ponto intermediário entre o púbis e o umbigo. A retração inicial determina a laqueadura viva dos vasos uterinos, constituindo a primeira linha de defesa contra a hemorragia. ❖ Trombotamponagem -> formação de trombos intravasculares que obliteram os grandes vasos uteroplacentários e de coágulos que preenchem a cavidade uterina. ❖ Indiferença miouterina -> útero se torna “apático” e apresenta fases de contração e de relaxamento, com o perigo de encher- se progressivamente de sangue. ❖ Contração uterina fixa -> normalmente, após 1 h, o útero adquire maior tônus e assim se mantém ASSISTÊNCIA AO PARTO (DILATAÇÃO) CUIDADOS INICIAIS Serão dispensados cuidados imediatos à parturiente, incluindo higiene corporal e fornecimento de vestuário apropriado. Atualmente não é realizado a tricotomia, apenas é realizado se houver solicitação da parturiente. Outro ponto, é a realização da enteroclisma (lavagem intestinal) que só deve ser feita quando acertado previamente com a paciente. Recomenda-se também que durante o trabalho de parto, o parto e o puerpério, em toda a estada na maternidade, haja a presença de um acompanhante à escolha da parturiente, pois oferece conforto psíquico, segurança e estímulo, além de ser um elemento alentador, contribuindo na assistência ao parto. TOQUE VAGINAL Trata-se do toque vaginal uni/bidigital. Para efetuá-lo – e jamais dispensando os cuidados prévios de antissepsia e de assepsia da região vulvoperineal e das mãos do parteiro, estas corretamente enluvadas –, afastam-se as ninfas e introduzem-se na vagina os dedos indicador e médio, ou apenas o primeiro, untados em vaselina esterilizada ou sabão líquido. O exame procurará explorar sucessivamente: o colo (apagamento, dilatação, orientação e consistência), a bolsa das águas e a apresentação (posição, variedade, altura e proporcionalidade à bacia, além de outros detalhes como a flexão e o assinclitismo). ❖ A apresentação cefálica mostra-se como corpo duro, arredondado e liso, em que se percebem as suturas e fontanelas. ALTURA DA APRESENTAÇÃO No acompanhamento da evolução do parto, é importante observar, juntamente com a dilatação cervical, a altura da apresentação. Nas primíparas, ao início do trabalho, a apresentação está no nível das espinhas ciáticas (nível “0”) e diz-se que está insinuada. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Nas multíparas, a insinuação ocorre somente no fim da dilatação ou no começo da expulsão; durante a maior parte do trabalho, a apresentação permanece alta; e está baixa quando, após ter sofrido a rotação interna (sutura sagital no eixo anteroposterior da bacia), tem contato com o períneo, o que ocorre no período de expulsão. BOLSA DAS ÁGUAS Em casos de ruptura de membranas, a gestante percebe a perda líquida pela vagina, acusando-a, de maneira incisiva, quando surge antes do início do trabalho de parto. A ruptura das membranas deve ser realizada apenas quando houver alguma indicação formal, como: na necessidade de finalizar o parto; nas distocias funcionais; ao avaliar o líquido amniótico e a variedade de posição (quando não se consegue fazê-lo estando a bolsa íntegra); ou programando-se parto operatório (como deverá ocorrer nas cardiopatas, por exemplo). ❖ Indicada a amniotomia, será realizada durante a contração uterina, quando a bolsa das águas retesar-se. O líquido amniótico que escoa deve ser convenientemente examinado. Corado por mecônio, esverdeado, indica sofrimento do feto, presente ou já ocorrido. VITABILIDADE FETAL A ausculta dos BCF é um procedimento indispensável para examinar a vitabilidade durante o trabalho de parto. Atualmente, usa-se o sonar-Doppler para a percepção e a contagem das revoluções cardíacas do concepto. A ausculta é feita na fase de dilatação, 30s após o término da contração, a cada 30min. Na pausa intercontrátil, o número de ruídos mantém-se, em geral, entre 110-160 bpm, em média 140bpm. ALIMENTAÇÃO No momento do trabalho de parto, os alimentos sólidos ficam proibidos, devido aos riscos inerentes às anestesias em tais condições. ❖ Gestantes de baixo risco, poderá ser permitida a ingesta de pequenas quantidades de líquidos claros (água, sucos de fruta sem polpa e chás), em comum acordo entre o obstetra e o anestesista. ❖ Nos casos com maior risco para cesariana (obesas, diabéticas, com via aérea difícil), o jejum parece ser a melhor opção. Se houver necessidade de hidratação (dias quentes, muitas horas de trabalho de parto), são utilizadas soluções glicosadas a 5 ou 10%, por via venosa. DEAMBULAÇÃO A parturiente poderá locomover-se durante o período de dilatação, até a ruptura das membranas, e desde que não esteja sob analgotocia. Depois, será mais prudente permanecer no leito, em decúbito lateral, para melhoria das contrações uterinas e da oxigenação fetal. CATETERISMO VESICAL Impossível a micção espontânea e se houver presunção de bexiga repleta. Não esquecer os rigores da assepsia e da antissepsia (perigo de infecção ascendente). A bexiga cheia, que aumenta a dor durante as contrações, ocasiona distocias e várias dificuldades durante os atos operatórios e no decurso do parto espontâneo. OCITOCINA Embora acelere o trabalho de parto, aumentando a intensidade e a frequência das contrações uterinas, seu uso deve ser limitado aos casos em que está hipoativa a dinâmica da matriz. Após a aplicação é fundamental averiguar, repetidamente, a frequência das contrações e sua duração, bem como auscultar, cuidadosamente, os BCF. A sensibilidade da matriz varia muito, individualmente. MEPERIDINA A meperidina (opioide) ou petidina é utilizada preferentemente pela via IM, na dose de 50mg, com um intervalo de, no mínimo, 2h. As repercussões ominosas (maléficas) no RN constituem motivo para o ACOG (2017) contraindicá-la. BLOQUEIO COMBINADO RAQUIDIANO-PERIDURAL (BCRP) Consiste na injeção de opioide subaracnóideo com a passagem de cateter peridural no mesmo procedimento e, de preferência, por uma única punção (técnica conhecida como agulha através de agulha, ou coaxial). ❖ Em geral, inicia-se com 4-5cm de dilatação. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ASSISTÊNCIA AO PARTO (EXPULSÃO) Ao iniciar o 2º período, a parturiente, em geral, fica agitada e a maioria delas apresenta o desejo de defecar. ❖ Modifica-se o caráter das metrossístoles, que aumentam de frequência e de intensidade, somando-se ainda a contração voluntária da prensa abdominal. Como se originam de músculos estriados da parede do abdome, as contrações expulsivas estão, em parte, submetidas à vontade. Assim, no começo do 2º período, a parturiente é capaz de comandá- las, intensificando ou abrandando-as. Por ocasião da expulsão, a paciente deverá ser colocada na posição de dar à luz (decúbito dorsal com flexão máxima das coxas sobre o abdome e abdução dos joelhos). ❖ Trata-se da postura de Laborie-Duncan, que objetiva ampliar o estreito inferior e, escancarando o períneo e a vulva, vai favorecer a libertação do concepto e as intervençõesobstétricas vaginais. ❖ A vitabilidade do concepto será acompanhada auscultando-lhe os BCF a cada 10min. Com a parturiente em posição, é feita a antissepsia da região perineal (polivinil ou similar), a seguir, colocam-se os campos esterilizados de maneira a isolar, cobrindo todas as partes maternas, exceto a vulva. O parteiro se prepara com gorro, máscara (cerrando nariz e boca), avental e luvas esterilizadas. ANESTESIA LOCORREGIONAL Muito usada para a realização da episiotomia, atualmente a anestesia locorregional está reservada ao reparo de eventuais lacerações ocorridas durante o parto. Procede-se ao bloqueio troncular do nervo pudendo interno, na extremidade da espinha ciática. Antes da introdução da agulha, o local é meticulosamente reparado pelo indicador, colocado na vagina, feito isso, realiza-se a deposição de 10mℓ do anestésico; no lado oposto, procede-se da mesma maneira. A distribuição nessa zona, ocorre com movimentos de avanço e recuo, rigorosamente em leque, sempre injetando a solução, conforme mostram as linhas pontilhadas. Em geral, o emprego de 40-50mℓ de solução de lidocaína (xilocaína) a 1% ou de cloridrato de procaína (novocaína), também a 1%, em cada lado do períneo proporciona bloqueio anestésico satisfatório com relaxamento do assoalho pélvico. EPISOTOMIA Na proteção do períneo, não se deve prolongar por tempo excessivo a contrapressão sobre o polo apresentado do feto. Assim, evita-se lesão aparente, mas pode-se determinar outra, oculta, igualmente grave. A episiotomia é uma incisão cirúrgica vulvoperineal que tenciona impedir ou diminuir o trauma dos tecidos do canal do parto, favorecendo a descida e a liberação do feto. Esse procedimento quase sempre, é indispensável nas primiparturientes e nas multíparas nas quais tenha sido anteriormente praticada. Feita com tesoura ou bisturi, poderá ser mediana (perineotomia) e mediolateral. Caso a previsão esteja correta, o parto deve ser feito logo após a episiotomia. Durante a espera, é necessário comprimir as bordas da ferida para evitar perdas sanguíneas. Evita-se o prolongamento da episiotomia e sua extensão a órgãos vizinhos, impondo a lenta e progressiva saída da apresentação. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Procedimento denominado manobra de Ritgen, que consiste na aplicação de pressão moderada ao queixo fetal (nas apresentações em posição occipitopúbica) pela mão esquerda do parteiro, coberta com uma compressa estéril, enquanto a região suboccipital da cabeça fetal é segurada contra a sínfise pela mão direita, a fim de evitar movimento abrupto de desprendimento cefálico e lesão nos órgãos maternos. MANOBRA DE KRISTELLER Por vezes, a expressão do fundo do útero poderá ser efetuada por ajudante qualificado. Esta técnica é denominada manobra de Kristeller. ❖ Não é um procedimento inofensivo e não muito recomendado, pois desarranja a contratilidade uterina, produz hipertonia, e pode culminar inclusive com descolamento prematuro de placenta e embolia amniótica. FÓRCEPS DE ALÍVIO Havendo o menor impedimento à progressão da cabeça, é aconselhável terminar o parto a fórceps. ASSISTÊNCIA AO DESPRENDIMENTO DOS OMBROS Após o nascimento do polo cefálico, explora-se a região cervical do concepto em busca de circulares do cordão, que se presentes, serão desfeitas ou seccionadas. Finalizada a rotação externa da cabeça, o parteiro apreende com ambas as mãos a apresentação, traciona para baixo – com objetivo de liberar o ombro anterior. E depois para cima, auxiliando a saída do posterior. REVISÃO DA VAGINA E DO COLO Em geral, a revisão é realizada quando o secundamento é finalizado. Se não houver hemorragia ou ruptura de extensão considerável, rasgaduras pequenas não requerem maiores cuidados, visto que, em geral, ficam muito reduzidas quando são superados o edema e a congestão das primeiras 24h. EPISIOPRAFIA Em geral, o reparo da episiotomia é feito após o secundamento, evitando que os pontos sejam rompidos durante o parto da placenta, especialmente ao utilizar a extração manual. A sutura inicia pelo ângulo superior da ferida, na vagina. PARTOGRAMA Partograma é a representação gráfica do trabalho de parto que possibilita acompanhar a sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a correção dos desvios, evitando intervenções desnecessárias. A curva de dilatação cervical se processa de forma ascendente, com menor velocidade de dilatação inicialmente. No final, após 4cm de dilatação, a velocidade aumenta espontaneamente. Essa diferenciação na velocidade da cervicodilatação caracteriza a fase latente (inicial) e a fase ativa (final). Na fase latente do trabalho de parto, a conduta é expectante. Em muitas mulheres, a duração é superior a 20h e os ocitócicos devem ser evitados pelo risco aumentado de cesárea, decorrente do colo desfavorável. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Na forma mais comum de montagem, utiliza-se papel quadriculado, colocando nas abscissas (X) o tempo em horas e, nas ordenadas (Y), em cm, a dilatação cervical à esquerda e a descida da apresentação à direita. Para a descida da apresentação, considera-se o plano 0 de DeLee ou o correspondente plano III de Hodge. ❖ Espinhas ciáticas do estreito médio da bacia; acima desse ponto, estão os valores negativos e, abaixo, os positivos. Para a construção do partograma, algumas observações são necessárias: ❖ No partograma, cada divisória corresponde a 1h na abscissa (eixo X) e 1cm de dilatação cervical e de descida da apresentação na ordenada (eixo Y). ❖ Inicia-se o registro gráfico na fase ativa do trabalho de parto (2-3 contrações generalizadas em 10min, dilatação cervical mínima de 3-4 cm). ❖ Os toques vaginais são realizados a cada2 h. Em cada toque, deve-se anotar a dilatação cervical, a altura da apresentação, a variedade de posição e as condições da bolsa das águas e do líquido amniótico. ❖ O padrão das contrações uterinas e dos BCF, a infusão de líquidos, fármacos e o uso de analgesia devem ser registrados. ❖ A dilatação cervical inicial é marcada no ponto correspondente do gráfico, traçando-se na hora imediatamente seguinte a linha de alerta e, em paralelo, 4h após, sinala-se a linha de ação, desde que a parturiente esteja na fase ativa de parto (no mínimo, 1cm/h de dilatação). As principais características do parto normal são: ❖ Início espontâneo. ❖ Apresentação cefálica de vértice, única. ❖ Gravidez a termo (37 a 42 semanas). ❖ Nenhuma intervenção artificial. ❖ Duração < 12 h em primíparas e < 8 h em multíparas. ASSISTÊNCIA AO PARTO (SECUNDAMENTO) A conduta ativa no secundamento é a maneira efetiva de prevenir a hemorragia pós-parto. Ela propõe a administração de ocitocina (10UI) IM após o desprendimento do ombro anterior. ❖ Segunda linha: metilergonovina 0,2 mg IM, em mulheres não hipertensas, ou misoprostol 400 a 800 μg oral. Em seguida, executa-se a tração controlada do cordão, a extração da placenta e, finalmente, a massagem do útero. Para a recepção da placenta, com o cuidado de não romper as membranas, geralmente exerce-se movimento de torção das páreas (manobra de Jacob-Dublin). Certifique-se de que o útero não fique amolecido após a massagem, e se está formado o globo de segurança de Pinard, a indicar boa retração uterina. Expelida a placenta, deve-se fazer a antissepsia dos genitais externos, inspecionando-se cuidadosamente a vulva, a vagina e o colo, procurando-se descobrir rupturas ou dilacerações. A inspeção da placenta deve ser feita após o secundamento. Face Materna -> apresenta-se com aspecto brilhante, corresponde à decídua compacta que saiu aderida aos cotilédones; as áreas sem brilho decorrem da ausência de decídua, que ficou no útero. Face Fetal -> é necessárioverificar o ponto de inserção do cordão e a integridade do âmnio, que, quando desprendido, deve ser reconstituído até cobrir totalmente a massa placentária. PUERPÉRIO O puerpério, também denominado pós-parto, é o período que sucede o parto e, sob o ponto de vista fisiológico, compreende os processos involutivos e de recuperação do organismo materno após a gestação. É dividido em: ❖ Pós-parto imediato -> do 1º ao 10º dia. ❖ Pós-parto tardio -> do 10º ao 45º dia. ❖ Pós-parto remoto -> além do 45º dia. Muitos estudos assumem como pós-parto os 12 meses que sucedem o parto. SISTEMA REPRODUTOR O pós-parto imediato, prevalece a crise genital, caracterizada por eventos catabólicos e involutivos das estruturas hiperplasiadas e/ou hipertrofiadas pela gravidez, no pós-parto tardio evidenciam-se mais claramente a transição e a recuperação genital, com progressiva influência da lactação. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Em relação à involução uterina, ressalte-se a atuação conjunta de diversos mecanismos fisiológicos, que, em última instância, garantem a involução da matriz uterina e evitam quadros de hemorragia pós-parto. Dentre eles, assumem maior importância: ❖ Retração e contração uterinas -> acarretam acentuada anemia miometrial e consequente má nutrição e hipoxia celular. ❖ Reflexo uteromamário -> permite que esses eventos involutivos uterinos ocorram mais intensamente nas mulheres que amamentam. A estimulação dos mamilos e da árvore galactófora acarreta contrações uterinas, identificadas pelas mulheres como cólicas (tortos), em virtude da liberação de ocitocina na circulação sanguínea. ❖ Remodelamento dos vasos pélvicos -> vasos da circulação uterina e ovariana apresentam calibres que retornam ao pré- gravídico e contribuem para um estado de isquemia do tecido miometrial hipertrofiado. ❖ Desaparecimento súbito, em crise, dos hormônios placentários. O pós-parto remoto (após 45 dias) é caracterizado pelo retorno da ovulação e da menstruação, eventos marcadamente influenciados pela lactação. Entre as mulheres que não amamentam, a menstruação retorna, em média, por volta do 45º dia pós-natal e, ao contrário do que se pensava, é precedida pela ovulação. Nas lactantes, todavia, esses prazos dependem da duração e da frequência do aleitamento. LÓQUIOS A involução e a regeneração do leito placentário, de toda a decídua e das demais superfícies genitais ocorrem, inicialmente, por meio da eliminação de grande quantidade de elementos deciduais e células epiteliais descamados, que, associados a eritrócitos e bactérias, compõem os denominados lóquios. Ao longo dos 3 ou 4 primeiros dias pós-parto, temos os lóquios sanguíneos (lochia cruenta, lochia rubra), em função da considerável presença de sangue. A partir de então, a diminuição do conteúdo sanguíneo leva a lóquios progressivamente serossanguíneos (lochia fusca) – de coloração acastanhada – e, posteriormente, serosos (lochia serosa, lochia flava). SISTEMA ENDÓCRINO No fim da gestação, os níveis de estrogênio e progesterona estão muito elevados, assim como os de prolactina (PRL). Com a saída da placenta, ocorre queda imediata dos esteroides placentários a níveis muito baixos e leve diminuição dos valores de PRL, que permanecem ainda bastante elevados. As gonadotrofinas e os esteroides sexuais atingem seus menores valores nas primeiras 2-3 semanas pós-parto. Já os níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG) retornam ao normal 2-4 semanas após o parto. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Na ausência da lactação, nas primeiras semanas pós-parto, tanto o hormônio luteinizante (LH) como o hormônio foliculestimulante (FSH) mantêm-se com valores muito baixos, para logo começarem a se elevar lentamente. No início do puerpério, os níveis de estrogênio mantêm-se baixos, e a progesterona não é detectável. A recuperação das gonadotrofinas até os níveis prévios da gravidez depende da presença ou não da amamentação. A amamentação pode inibir a fertilidade pela ação direta do estímulo do mamilo sobre o hipotálamo por via neuroendócrina, elevando a PRL e inibindo o FSH e o LH. SISTEMA URINÁRIO Trauma vesical é comum em partos vaginais, especialmente entre mulheres cujos trabalhos de parto foram mais demorados. Esses traumas (especialmente do nervo pudendo), associados à capacidade aumentada e à relativa insensibilidade da bexiga no período pós-parto, podem atuar conjuntamente e favorecer a sobredistensão, o esvaziamento incompleto e a excessiva quantidade de urina residual. No que tange aos ureteres e pelves renais, os quais se encontram dilatados na gestação, comumente retornam ao estado pré- gravídico entre 2-8 semanas após o parto. SISTEMA SANGUÍNEO Ao longo do parto e no puerpério imediato, é comum a leucocitose acentuada, a qual pode alcançar 30.000/mm3 e caracteriza-se por predomínio de granulócitos, relativa linfopenia e eosinofilia absoluta. Em geral, esses parâmetros normalizam por volta de 5-6 dias pós-parto. Durante os primeiros dias após o parto, os níveis de hemoglobina (Hb de 10 g/dℓ) costumam flutuar moderadamente. Por volta de 6 semanas pós-parto, a hemoglobina encontra-se em níveis pré- gravídicos. No puerpério, é observado certa hipercoagulabilidade. Por exemplo, os elevados níveis de fibrinogênio plasmático persistem ao menos na 1ª semana pós-parto, enquanto a velocidade de hemossedimentação pode vir a se regularizar apenas entre a 5ª e a 7ª semana puerperal. SISTEMA CARDIOVASCULAR A gestação, normalmente, evolui com acentuado aumento do conteúdo do líquido extracelular, e a diurese pós-parto responde pela reversão fisiológica desse processo. Primeiras horas após o parto, é comum nos depararmos com uma diurese escassa, resultante da desidratação relacionada ao trabalho de parto. A partir do 2º dia, inicia-se o processo de eliminação dessa hipervolemia característica da gestação, fenômeno geralmente completo por volta do 6º dia pós-parto. As alterações na função cardíaca e vascular observadas após o parto acompanham o padrão detectado em relação à redistribuição hídrica. ❖ FC e o DC mantêm-se elevados por 24-48h após o parto e retornam aos valores pré-gravídicos por volta do 10º dia puerperal. ❖ RV permanece reduzida ao longo das primeiras 48h pós-natais e, então, progressivamente retorna aos níveis prévios à gestação. PELE As estriações do abdome e das mamas perdem a cor vermelho- arroxeada e ficam pálidas, transformando-se, em algumas semanas, nas estrias branco-nacaradas. O cloasma gravídico e demais hiperpigmentações da pele, geralmente, regridem no período puerperal. PESO A média de perda ponderal decorrente do parto é de 6kg. No puerpério, ocorre perda adicional de 2-7kg, habitualmente mais pronunciada nos primeiros 10 dias de pós-parto, atribuída a maior diurese, secreção láctea e eliminação loquial. ASSISTÊNCIA PÓS-NATAL Além dos processos fisiológicos do puerpério, também pode haver mudanças conjugais, familiares, sociais ou profissionais. Desse modo, é necessário compreender a assistência materno-infantil multidisciplinar e integrada. No ambiente hospitalar a equipe de saúde é deve instruir a mulher sobre alterações evolutivas e fisiológicas esperadas ao longo do puerpério imediato e tardio, especialmente a característica dos lóquios, a perda de peso, a diurese e a apojadura. ! Promover o aleitamento materno. Durante a 1ª hora após o parto, a mulher deve ser monitorada com cuidado. Assim, a cada 15min, a equipe de saúde deve aferir a PA e a FC materna, bem como se assegurar de que o sangramento vaginal esteja dentro da normalidade e o útero se encontre firmemente contraído. Após o parto normal, a paciente poderá deambular tão logo se sinta em condições para tal. Contudo, ao menos a primeira deambulação após o partodeve acontecer sob vigilância (não necessariamente profissional de saúde), devido ao risco de síncope. ❖ Mobilização e o caminhar precoce reduzem a incidência de retenção urinária, constipação intestinal e fenômenos tromboembólicos pós-natais. Em relação ao cuidado da região perineal, a mulher deve ser orientada a fazer a higiene vulvar no sentido anteroposterior. Pode- se fazer a utilização de antissépticos com anestésicos locais. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Nas primeiras 24h, quando pode haver certa pirexia (febre), o normal é a ausência de febre, caracterizada aqui pela temperatura abaixo de 38°C. ❖ A “febre do leite” é considerada por alguns um evento fisiológico, e por outros como resultante da ascensão de germes vaginais à cavidade uterina, comum nessa época. Quanto as mamas, recomenda-se o uso de porta-seios apropriado, o que previne acotovelamentos vasculares responsáveis pela congestão sanguínea e pela galactoestase. Após o parto algumas mães podem apresentar o blues pós-parto (ou baby blues) que é um transtorno emocional caracterizado por choro fácil, fragilidade emocional, irritabilidade e cansaço. CONSULTAS As consultas pós-parto recomenda-se que ocorram entre 7-10 dias pós-natais e por volta de 6 semanas puerperais, quando o pós-parto tardio se encerra. ❖ 1ª consulta -> 7-10 dias pós-parto. ❖ 2ª consulta -> 6 semanas pós-parto Na 2ª consulta o profissional deve avaliar as condições gerais de saúde da mulher e do RN, o padrão de amamentação, o retorno do fluxo menstrual e da atividade sexual, e orientar sobre os métodos contraceptivos. ANTICONCEPÇÃO O início da anticoncepção no pós-parto é importante para prevenir a gravidez indesejada e o pequeno intervalo interpartal e suas conhecidas implicações (recém-nascido pequeno para a idade gestacional, parto pré-termo). As recomendações da OMS são: ❖ Não usar até 21 dias (OMS3) ❖ Entre 21 e 42 dias – utilizar (OMS2) ❖ Após 42 dias – utilizar (OMS1). RELAÇÃO SEXUAL Os principais fatores afetam a retomada da satisfação sexual no puerpério estão relacionados a trauma da cicatrização perineal, secura da vagina associada à lactação e efeitos da depressão pós- parto. Eis algumas medidas pertinentes para prevenir ou tratar a disfunção sexual pós-parto: ❖ Limitar o uso da episiotomia. ❖ Reparar as lesões perineais com fios sintéticos absorvíveis. ❖ Encorajar o uso de lubrificantes vaginais, particularmente em lactantes. ❖ Abordar a depressão própria do período.
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