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AMANDA FARIA Parto e Mecanismo do Parto VISÃO GERAL Os fenômenos passivos do trabalho de parto (dilatação, expulsão e secundamento) se completam com o mecanismo do parto, que são os movimentos executados pelo feto na sua penetração rotativa pelo canal parturitivo, impulsionado pelas contrações uterinas. MECANISMO DO PARTO O mecanismo do parto relaciona-se com o objeto (feto) percorrendo um trajeto (bacia), impulsionado por um motor (contração uterina). A contração uterina e os músculos da parede abdominal impulsionam o feto para que ele execute movimentos, que caracterizam o mecanismo do parto. O mecanismo de parto tem três tempos: 1. Insinuação; 2. Descida; 3. Desprendimento. O ovoide fetal, na sua posição habitual (posição cefálica fletida) de flexão da cabeça sobre o tronco e entrecruzamento dos membros, é composto por dois segmentos: o ovoide cefálico (cabeça) e córmico (tronco e membros). Apesar do ovoide córmico ser maior, seu diâmetro é facilmente redutível, por isso o polo cefálico é de maior importância durante a parturição. INSINUAÇÃO A insinuação, também chamada de encaixamento, é a passagem da maior circunferência da apresentação pelo anel de estreito superior da bacia. Nessa fase há a redução dos diâmetros: 1. Apresentação cefálica: redução por flexão (apresentação de vértice) ou deflexão (apresentação de face); 2. Apresentação pélvica: aconchego dos membros inferiores sobre o tronco ou desdobrando-se os mesmos para baixo ou para cima; 3. Apresentação córmica: a insinuação não ocorre em feto de tamanho normal. É impossível em parto via vaginal. A variedade de posição mais frequente é a occipito- esquerda-anterior. Já em relação à atitude, no início do mecanismo do parto, a atitude é de moderada flexão (atitude indiferente), apresentando o diâmetro occipitofrontal, maior que o suboccipitobregmático. PROCESSOS DE INSINUAÇÃO A insinuação ocorre por dois processos diferentes: 1. Insinuação estática: flexão por aconchego no segmento inferior e na descida, ocorre em conjunto com as contrações uterinas, por tração dos ligamentos sustentadores do órgão e pressão das paredes abdominais. Ocorre em mais de 50% das primigestas; 2. Insinuação dinâmica: surge no final da dilatação ou no início do período expulsivo nas multíparas, é a flexão por contato com o estreito superior da bacia à descida à custa das contrações expulsivas. A insinuação estática é prognóstico favorável ao parto, desde que haja boa proporção cefalopélvica. DESCIDA A descida completa a insinuação e a cabeça migra até as proximidades do assoalho pélvico. O feto mantém a atitude e conserva o mesmo sentido, apenas exagerando na flexão. Com a decida, o ápice do ovoide cefálico atinge o assoalho pélvico e a circunferência máxima está na altura do estreito médio. A descida ocorre desde o início do trabalho de parto e termina com a expulsão total do feto. O movimento da cabeça é turbinal, na medida em que o polo cefálico roda, vai progredindo no seu trajeto descendente. É a penetração rotativa. AMANDA FARIA ROTAÇÃO INTERNA A rotação interna é o movimento de orientação da sutura sagital no sentido anteroposterior da saída do canal. quando a extremidade cefálica distende e dilata, o conjunto musculoaponeurótico que compõe o diafragma pélvico sofre movimentação de rotação, gerando essa orientação. INSINUAÇÃO DAS ESPÁDUAS Concomitantemente com a rotação interna da cabeça e com sua progressão no canal, há a penetração das espáduas no estreito superior da bacia. O diâmetro biacromial, que mede 12cm, é incompatível com o diâmetro do estreito superior, porém sofre redução, uma vez que há aconchego dos ombros, forçados pela constrição do canal e se orienta no sentido de um dos diâmetros oblíquos ou do transverso daquele estreito. DESPRENDIMENTO O desprendimento ocorre após o movimento de rotação interna da cabeça, o suboccipital se encontra sob a arcada púbica, com a sutura sagital orientada em sentido anteroposterior. O desprendimento ocorre por movimentos de deflexão devido a curvatura presente no canal vaginal, isto é, a nuca do feto se apoia no púbis e a cabeça oscila em torno desse ponto, movimento de bisagra. com o movimento de deflexão, o diâmetro suboccipitobregmático é liberado, seguido pelo suboccipitofrontal, suboccipitonasal e assim por diante até o desprendimento completo. ROTAÇÃO EXTERNA Após a cabeça se desvencilhar, ocorre a rotação externa, um movimento de flexão, voltando o occipital para o lado onde se encontrava na bacia. Esse movimento é simultâneo à rotação interna das espáduas (restituição). ROTAÇÃO INTERNA DAS ESPÁDUAS As espáduas apresentam o biacromial orientado no sentido oblíquo direito ou do transverso da bacia desde a passagem pelo estreito superior da bacia. As espáduas sofrem o movimento de rotação interna quando atingem o assoalho pélvico, esse movimento é feito até orientarem o biacromial na direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior está sobre a arcada púbica e o posterior na saída do canal. DESPRENDIMENTO DAS ESPÁDUAS Quando o feto possui os braços cruzados diante do tórax, a espádua anterior transpõe a arcada púbica e aparece através do orifício vulvar. A liberação da arcada posterior é feita pelo movimento de flexão lateral do tronco, o que desprende a espádua posterior. O restante do feto não oferece resistência ao nascimento. Caso o desprendimento não ocorra espontaneamente e não havendo sinais de distocia de ombro, deve-se tracionar para baixo (para desprender o ombro anterior), com ambas as mãos, e depois tracionar para cima (para desprender o ombro posterior). A distocia do ombro resulta do impacto do ombro anterior contra a sínfise púbica, um dos sinais é o sinal de tartaruga. PARTO A mulher deve ser assistida durante todo o processo de parto, ao lado ou em face dela, esse é o significado da palavra “obstetrícia”, que quer dizer estar ao lado ou em face de. AMANDA FARIA Durante a gravidez, ocorrem contrações de treinamento, as contrações de Braxton-Hicks. O trabalho de parto consiste em quatro períodos, sendo precedidos pelo período premonitório. São esses períodos: 1. Dilatação; 2. Expulsão; 3. Secundamento; 4. Período de Greenberg. DIAGNÓSTICO DO TRABALHO DE PARTO O diagnóstico do início do trabalho de parto nem sempre é simples, podendo ser confundido com o falso trabalho de parto. O diagnóstico correto é essencial para a internação da paciente no momento correto, uma vez que uma internação precoce gera ansiedade por parte da paciente e dos familiares, além O falso trabalho de parto apresenta contrações irregulares, sem coordenação e não modificam o colo. Algumas diretrizes consideram o início do trabalho de quando há contrações e dois dos demais parâmetros abaixo: 1. Ocorrência de contrações uterinas espontâneas e rítmicas, no início são de 2 a 3 contrações em 10 min com duração média de 30s cada; 2. Apagamento do colo; 3. Colo dilatado para 3cm ou mais; 4. Ruptura espontânea da bolsa de águas. A tendencia atual é diagnosticar o trabalho de parto com uma dilatação de 4cm com colo apagado ou 5cm independente do apagamento. O diagnóstico de dilatação e apagamento do colo é feito pelo toque vaginal. O profissional deve tomar cuidado com a antissepsia e estar com as mãos enluvadas, usando luvas estéreis. Em 2014, a OMS recomendou toques vaginais a cada 4h na fase ativa do trabalho de parto. ETAPAS DO TRABALHO DE PARTO Em relação ao parto, o partotem três fases principais, são elas: dilatação, expulsão e secundamento. Tende- se a considerar o período premonitório e o quarto período, que é a primeira hora após o secundamento. PERÍODO PREMONITÓRIO (PRÉ-PARTO) O período premonitório é marcado por sinais que mostram a proximidade do parto. 1. Queda do ventre: descida do fundo uterino cerca de 2 a 4cm do apêndice xifoide. Melhora a ventilação pulmonar por descompressão do diafragma; 2. Dores lombares: ocorre devido a aproximação do feto no estreito superior da bacia, o que causa estiramento das articulações da cintura pélvica e transtornos circulatórios; 3. Secreção de muco: aumenta a secreção de muco pelas glândulas cervicais, pode ser mesclado com sangue; 4. Dolores praeparantes: início da percepção dolorosa das metrossístoles, que são geram as contrações do útero. Nessa fase, tais contrações se intensificam e são em intervalos mais curtos; 5. Amadurecimento da cérvice: pode ser dividida em duas fases. A primeira é um lento amolecimento que se inicia no 1º trimestre e a segunda fase é mais acelerada que ocorre semanas ou dias antes do parto, é uma perda máxima de complacência e integridade tecidual do colo, o que favorece sua dilatação no parto. Durante a gravidez, ocorrem contrações de treinamento, as chamadas contrações de Braxton- Hicks, ao se aproximar o parto, elas se tornam mais coordenadas e envolvem áreas maiores do útero. A atividade uterina se mantém reduzida até 30 semanas, limitada a pequenas áreas da matriz. Essa atividade cresce a partir da 36ª semana. PRIMEIRO PERÍODO (FASE DE DILATAÇÃO) O primeiro período do trabalho de parto é a fase de dilatação que se inicia com contrações rítmicas, que começam por modificar ativamente o colo e termina com uma dilatação do colo de 10cm, que é a dilatação máxima e a necessária para o início do período de expulsão. As dolores praeparantes da fase premonitória são sucedidas pelas dolores pressagiantes dessa fase dedilatação, que ocorre quando o trabalho de parto é desencadeado. Nessa fase o colo se dilata pela retração das fibras longitudinais do corpo, que se encurtam durante as AMANDA FARIA contrações uterinas. Outros fatores convergentes auxiliam essa dilatação, como a bolsa das águas e a apresentação. Essa fase de dilatação pode ser dividida em duas partes: 1. Fase latente: dilatação cervical gradual; 2. Fase ativa: dilatação cervical rápida. A fase latente pode durar até 20h nas primíparas e 14h nas multíparas. APAGAMENTO E DILATAÇÃO DO COLO A dilatação nessa fase é caracterizada pela abertura do diafragma cervicossegmentário, formando o canal do parto, isso é marcado por dois fenômenos: o apagamento e a dilatação. O apagamento do colo é a incorporação do colo à cavidade uterina, ou seja, o colo desaparece e passa a fazer constituir a parte inferior do útero. Já a dilatação, é o aumento do diâmetro do colo. Ambos os processos geralmente são confundidos e eles podem ocorrer um seguido do outro ou simultaneamente. 1. Primíparas: primeiro apaga e depois dilata; 2. Multíparas: apaga e dilata simultaneamente; BOLSA DE ÁGUAS A bolsa de águas se encontra no polo inferior da cavidade. Conforme ocorre a dilatação no primeiro período, ela passa ter mais contato direto com o colo, se insinuando, parecendo um cone. Durante as contrações essa bolsa de água se mantém tensa, já no intervalo entre as contrações ela relaxa. A ruptura espontânea da bolsa (amniorrexe) com liberação de uma parte do líquido ocorre no fim da dilatação ou no início da expulsão em cerca de 80% dos casos. Essa ruptura de membrana tem classificação de acordo com a cronologia em que ela ocorre, podendo ser: 1. Prematura: quando não há trabalho de parto; 2. Precoce: no início do trabalho de paro; 3. Oportuna: no final da dilatação; 4. Tardia: quando ocorre junto com a expulsão do feto, o qual se nascer envolto nas membranas é chamado de concepto empelicado. Elas também podem ser classificadas em: 1. Espontâneas: sem intervenção; 2. Provocadas ou artificias: como na amniotomia, em que o profissional a rompe com o dedo ou instrumento para acelerar o trabalho de parto; 3. Intempestivas: quando acarretam prolapsos, procidências ou escape quase total do líquido amniótico, isso deve ser evitado. SEGUNDO PERÍODO (FASE DE EXPULSÃO) O segundo período se inicia quando a dilatação se completa e se encerra com a saída do feto. A expulsão é marcada pelas contrações uterinas, metrossistoles, associadas com a força contrátil do diafragma e da parede abdominal, marcando a expulsão. As formações musculoaponeuróticas, ao se retesarem, formam uma cinta muscular poderosa que comprime o útero de cima para baixo e de frente para trás. Na expulsão, as contrações uterinas, componente fundamental desse período, são cada vez mais intensas e frequentes, ocorrendo em intervalos cada vez menores, até atingirem 5 contrações em 10min com duração de 50 a 60s. Tais contrações propelem o feto pelo canal do parto e distendem o diafragma vulvoperineal, depois de palmilhar a vagina. A expulsão é marcada por movimentos de vaivém, fisiológicos e que ocorre com as metrossistoles e contrações da musculatura do abdome. PUXOS Quando as paredes do canal da vagina, do reto e da bexiga são comprimidas, há uma resposta reflexa, fazendo com que haja o aparecimento de um movimento voluntário da prensa abdominal. Origina-se então, os puxos, que é a vontade de espremer, eles são movimentos energéticos da parede do vente semelhante ao movimento visto na evacuação e micção. Os puxos involuntários, tardios, que não demandam encorajamento pelos presentes na cena do parto. LIBERAÇÃO DO FETO A liberação do feto se inicia quando o feto passa a pressionar o períneo, que se deixa distender. A vulva se abre e dilata lentamente, ocorrendo a apresentação do AMANDA FARIA feto e, com um tempo de duração variável, há a liberação do concepto. Durante a distensão do períneo, o feto encosta nas paredes do reto, podendo ocasionalmente ter a eliminação do conteúdo fecal. Após a expulsão do concepto, a mulher passa por um momento de euforia e bem-estar, devido a um banho hormonal e liberação de ocitocina endógena e de endorfinas. Nessa fase ainda há contrações uterinas, porém, elas são de baixa frequência. TERCEIRO PERÍODO (SECUNDAMENTO) O terceiro período é a fase do secundamento, também pode ser chamado de decedura e delivramento, essa fase ocorre após o nascimento do concepto. Esse período possui três fases: 1. Descolamento: ocorre devido a retração do útero após o nascimento do concepto e devido às contrações, o que reduz a superfície uterina, causando o descolamento. Esse descolamento também é auxiliado pelos processos degenerativos e necróticos que se iniciam nas últimas semanas de gravidez. Onde se descolou a placenta, forma o hematoma retroplacentário; 2. Descida: as contrações uterinas e a gravidade causam a descida da placenta, a placenta passa do corpo uterino, percorre o colo e cai na vagina; 3. Expulsão/desprendimento: quando chega ao canal vaginal, a placenta provoca a sensação de puxo, o que a expulsa para o exterior. A placenta pode permanecer retida, como nos partos que não são em posições verticais, sendo assim, necessita a intervenção do obstetra. No antigo lugar de inserção da placenta, há a formação de ferida viva, com vasos abertos, o que gera a saída de uma quantidade de sangue até que esses vasos se obliterem. Caso as ligaduras vivas não ocorramapós a retração uterina, há risco de hemorragias pós-parto. Após a saída da placenta, há a descida definitiva do fundo uterino, uma vez que o órgão se encontra vazio. MECANISMO DE BAUDELOCQUE O descolamento da placenta pode ocorrer por dois mecanismos: 1. Mecanismo de Baudelocque-Schultze; 2. Mecanismo de Baudelocque-Duncan. O mecanismo de Baudelocque-Schultze (75% dos casos) acontece quando a placenta está localizada na parte superior do útero. Nesse mecanismo, a parte fetal da placenta se descola primeiro, sendo assim, a placenta inverte-se e fica em forma de guarda-chuva. Com isso, o hematoma retroplacentário se situa entre a massa placentária, ou seja, o sangue fica aprisionado, sendo liberado somente após a liberação da placenta. Já o mecanismo de Baudelocque-Duncan (25% dos casos) ocorre quando a placenta está localizada na parede lateral do útero. Nesse mecanismo, a borda inferior ou a parte materna da placenta se descolam primeiro. O sangue sai antes da placenta, que se apresenta ao colo por deslizamento. QUARTO PERÍODO (PERÍODO DE GREENBERG) O quarto período é o período que consiste na primeira hora após a saída da placenta. Esse período muitas vezes é ignorado pelos profissionais da saúde, porém ele consiste numa etapa importante devido aos riscos de hemorragia pós-parto. Nessa etapa, há mecanismos de retração uterina e formação de coágulos na superfície da matriz, que se encontra aberta e sangrante após a expulsão da placenta. O profissional precisa analisar se se esses mecanismos estão ocorrendo corretamente. O quarto período é composto de quatro fases típicas: AMANDA FARIA 1. Miotamponagem: ocorre imediatamente após a expulsão da placenta, o útero se contrai e essa retração inicial determina a ligadura viva dos vasos uterinos. É a primeira linha de defesa contra a hemorragia; 2. Trombotamponagem: formação de trombos nos grandes vasos uteroplacentários, constitui o hematoma intrauterino que recobre a ferida aberta no local em que a placenta estava inserida. É a segunda linha de defesa contra a hemorragia; 3. Indiferença miouterina: o útero torna-se apático, ele apresenta fases de contração e de relaxamento, com o perigo se de encher de sangue. Quando maior a paridade ou mais longo os três períodos do trabalho de parto maior é o tempo de indiferença miouterina; 4. Contração uterina fixa: ao final de 1h, o útero adquire maior tônus e se mantém assim. ASSISTÊNCIA AO PARTO Na preparação para o parto, a mulher deve ser informada quanto a fisiologia desse processo, especialmente durante o pré-natal. Além disso, algumas intervenções anteparto podem ser adotadas para melhorar tal processo, como exercícios para o assoalho pélvico e a massagem perineal. LOCAL DE PARTO Na assistência ao primeiro período, atualmente, é indicado que o parto ocorra nas suítes pré-parto, parto e pós-parto (PPP), isto é, a mulher permanece no mesmo local durante todo o processo do parto, o que oferece privacidade e conforto, liberdade para deambular, sendo uma medida de humanização. O banheiro privativo é obrigatório e a cama deve possibilitar várias posições. Contudo, vários locais ainda possuem as salas convencionais, em que as gestantes se deslocam para tais salas apenas quando chegam ao terceiro período (o período expulsivo). Anterior a tal período, elas permanecem em leitos comuns ou no setor pré-parto, onde não há privacidade. CUIDADOS INICIAIS No modelo atual de assistência, alguns procedimentos foram considerados obsoletos. Pacientes de risco habitual podem permanecer com suas vestimentas, não devem se submeter a jejum, não precisa troxisma (raspagem dos pelos) e tricotomia (corte dos pelos). Algumas maternidades não permitiam a ingestão oral durante o trabalho de parto, porém a OMS atualmente recomenda que se deve avaliar os desejos da mulher e respeitar as concepções culturais e regionais, permitindo a ingestão oral em parturientes de baixo risco/risco habitual. O apoio deve ser contínuo, sendo um apoio com suporte emocional; medidas de conforto físico; medidas que favoreçam a evolução fisiológica do trabalho de parto; e informações sobre o progresso do parto. PARTOGRAMA Para o preenchimento do partograma, recomenda-se documentar a altura da apresentação em planos de DeLee e de Hodge. É importante acompanhar a altura da apresentação na evolução do parto, sabe-se que em primíparas no início do trabalho, a apresentação costuma estar encaixada ou insinuada, já em multíparas, a apresentação se encontra insinuada somente no final da dilatação ou no começo da expulsão, isto é, permanece alta durante a maior parte do trabalho de parto. MÉTODOS DE INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO O parto não deve ser induzido eletivamente antes de 39 semanas, no período de termo precoce. A indução médica está indicada quando há condições que indicam a interrupção da gravidez em benefício fetal ou materno. Os principais métodos de indução podem ser divididos em: 1. Métodos indutores da contração uterina: ocitocina e amniotomia; 2. Promotores do amadurecimento cervical: descolamento das membranas, misoprostol (análogo da PGE1), sonda de Foley com ou sem infusão salina extra-amniótica (ISEA). ÍNDICE DE BISHOP A indução está indicada em casos de amadurecimento do colo insatisfatório. O Índice de Bishop determina as condições do colo, o colo é considerado desfavorável se o índice for ≤. Caso totalize > 8, a probabilidade do parto vaginal após indução é similar à do parto espontâneo. Esse índice foi constituído em multíparas. AMANDA FARIA OCITOCINA A ocitocina acelera ao trabalho de parto, uma vez que aumenta a intensidade e frequência das contrações uterinas, a resposta do útero a ocitocina é quase que imediata. A forma de administração é por perfusão venosa, preferencialmente com a bomba infusora. Ela pode ser utilizada em continuação com o misoprostol, porém respeitando o intervalo mínimo de 4h entre o seu início e a última administração do misoprostol. Se no momento da indução o colo já estiver maduro, utiliza-se apenas a ocitocina. É diluído 5UI de ocitocina (1 ampola) em 500mL de soro, obtendo uma solução de 10mU/ml. O recomendado é uma dose inicial de 2mU/min (4 gotas/min), aumentando-se a infusão em 1 a 2mU/min a cada 15 a 40min, quando necessário. O seu uso deve ser limitado aos casos de parada de progressão do trabalho de parto associada com uma hipoatividade da matriz uterina, isto é, não é recomendado o uso de rotina, devido ao risco de hiperestimulação uterina (taquissitolia associada com padrões anômalos de frequência cardíaca fetal, uma vez que durante a contração há parada de passagem de suprimento sanguíneo ao concepto e em taquissitolia pode gerar uma hipóxia). A taquissistolia se caracteriza por mais de 5 contrações em 10min. MISOPROSTOL O misoprostol é um fármaco análogo da PGE1, habitualmente utilizado para o amadurecimento do colo na indução do parto ou no abortamento. O esquema de dose é a utilização de 25 μg vaginal a cada 3 a 6h até que o colo amadureça, o uso de misoprostol oral pode ser feito 25 μg de 2/2 h. AMNIOTOMIA A amniotomia pode ser utilizada para a indução do parto principalmente quando o colo é favorável, ela não deve ser empregada isoladamente devido ao risco de grande intervalo entre a ruptura e o início das contrações. Principal indicação é no DPP com feto morto. DESCOLAMENTO DAS MEMBRANAS O descolamento das membranasé utilizado para reduzir a necessidade formal da indução de parto. Ele não está recomendado em casos de urgências, uma vez que o tempo de intervalo entre o descolamento e o início do parto pode ser longo. ESTRATÉGIAS PARA DILATAÇÃO Algumas estratégias são utilizadas para auxiliar na dilatação do colo, como deambulação, uso da bola de pilates. MÉTODOS PARA ALÍVIO DA DOR Os métodos para o alívio da dor podem ser não farmacológicos e farmacológicos. 1. Métodos não farmacológicos: técnicas psicoprofiláticas, acupressão/acupuntura, hipnose, estimulação elétrica transcutânea, massagem, injeção transdérmica de água, audioanalgesia, banho de chuveiro e imersão em água morna; 2. Métodos farmacológicos: analgesia peridural, bloqueio combinado, analgesia controlada pela parturiente e analgesia inalatória. O uso de meperidina não é recomendado porque tem efeito limitado para o alívio da dor e pode ter efeito colaterais significativos para a mulher e para o bebê. É um sedativo, podendo causar sonolência, náuseas e vômitos na mãe e depressão respiratória ao nascimento no bebê ao nascimento, bem como sonolência que pode persistir por vários dias, influenciando na amamentação. BLOQUEIO COMBINADO RAQUIDIANO PERIDURAL (BCRP) O bloqueio combinado raquidiano peridural (BCRP). Consiste na injeção de opioide subaracnóideo e na passagem de cateter peridural no mesmo procedimento e, de preferência, por uma única punção (técnica conhecida como agulha através de agulha ou coaxial). O BCRP reúne o início rápido da raquidiana com a extensão e a duração do bloqueio por intermédio do cateter peridural. A adição de pequeno volume de bupivacaína melhora a qualidade do bloqueio e promove a redução do opioide da mistura analgésica raquidiana. AMANDA FARIA Esse bloqueio é utilizado quando a dilatação atinge cerca de 4 a 5 cm. Quando a analgesia é corretamente aplicada e mantida, a parturiente mantém a motricidade com alívio da dor (bloqueio sensitivo) e pode deambular e assumir as posições que desejar durante o primeiro e o segundo períodos do parto. POSIÇÃO MATERNA A partir da hospitalização do parto, a maioria das mulheres passou a dar à luz em decúbito dorsal, semideitada ou em posição litotômica. Por muito tempo, foi recomendado as atitudes de Laborie-Bué ou Laborie-Duncan, uma vez que tais posições facilitavam a avaliação do profissional de saúde e a prática de intervenções. No entanto, as posições verticalizadas, como sentada, semissentada, ajoelhada, de cócoras e outras, se mostraram vantajosas devido aos seguintes fatores: 1. Efeito da gravidade; 2. Menor compressão da aorta e da cava; 3. Maior eficiência de contratilidade uterina; 4. Alinhamento do feto com a pelve. Demais posições não supinas, como lateral e quatro apoios também são vantajosas. As camas de PPP facilitam as posições vertizalizadas, enquanto as mesas de parto não. EPISIOTOMIA A episiotomia é uma incisão cirurgia do períneo realizada com tesoura ou bisturi. Ela tem como objetivo teórico aumentar o canal de parto, facilitando o desprendimento fetal, sua finalidade reduzir as lacerações perineais graves. A episio pode ser mediana (perineotomia) e mediolateral, sendo a mais indicada a meidolateral direita (a esquerda corre o risco de atingir o reto). A episiotomia é uma laceração de 2º grau do períneo, evitando lacerações graves como as de 3º e 4º grau. Com o passar do tempo o uso rotineiro de episiotomia foi criticado, a recomendação atual da OMS é restringir seu uso apenas em casos em que ela se mostra necessária. EPIOSIORRAFIA O usual é corrigir após o secundamento para evitar que os pontos sejam rompidos durante o parto da placenta. Estudos mostram que o reparo contínuo é o preferível em todos os planos, isso devido à redução do risco de dor (35%) e o uso de ácido poliglicoico e poliglactina de absorção rápida é preferível em relação ao catgut, causando menos dor e necessidade de analgésicos. PROTEÇÃO PERINEAL As estratégias para a proteção peritoneal vêm crescendo devido a tendencia de redução das taxas de episiotomia, fazendo com que se mantenha a integridade perineal. Algumas delas são: 1. Manobra de Ritgen; 2. Técnica de flexão; 3. Uso de compressas mronas; 4. Massagem perineal; 5. Gel obstétrico. AÇÕES NÃO RECOMENDADAS NO TRABALHO DE PARTO Algumas sugestões com o passar do tempo passaram a não ser recomendadas, tais como: 1. Parto em posição de litotomia; 2. Puxos dirigidos; 3. Manobra de Valsalva; 4. Manobra de Kristeller. A Manobra de Kristeller consiste na compressão do fundo uterino realizada com o intuito de apressar o AMANDA FARIA nascimento. Ela desregula a contratilidade uterina e produz hipertonia, o que influencia na vitabilidade fetal, além disso, ela pode causar ruptura uterina, lesões perineais graves, tocotraumatismos e maior hemorragia maternofetal. CIRCULAR DE CORDÃO Em cerca de 20 a 40% dos nascimentos, há o achado de uma ou mais circulares de cordão. O manejo da circular de cordão é da seguinte forma: 1. Circular frouxa: não realizar nenhum procedimento e o nascimento pode progredir normalmente; 2. Circular apertada: realizar manobra de Somersault com ligadura tardia de cordão. Alguns obstetras têm o hábito precoce de ligar o cordão e proceder ao desprendimento imediato ao se depararem com uma circular apertada. Porém, a ligadura é desnecessária e causa efeitos adversos ao concepto, como pausa do suprimento de oxigênio e trocas gasosas. MEDIDAS APÓS O NASCIMENTO Existem indicações do manejo após o nascimento. ÍNDICE DE APGAR Avalia cinco parâmetros ao final do primeiro e do quinto minuto de vida. Não são importantes para definir a necessidade ou não de reanimação, porém são informações importantes. Os parâmetros são: 1. Frequência (batimentos por minuto); 2. Respiração; 3. Tônus muscular; 4. Irritabilidade reflexa; 5. Cor. CONTATO PELE A PELE O contato pele a pele deve ser feito após o nascimento sem intercorrências. O contato pele a pele do bebê com a mãe tem por intuito facilitar a adaptação do recém-nascido fora do útero e tornar a amamentação mais fácil. O aleitamento deve ser incentivado na primeira hora de vida. LIGADURA DO CORDÃO UMBILICAL A ligadura do cordão umbilical deve ser feita após 3min, quando as pulsações do cordão se cessam nos recém-nascidos saudáveis. O retardo desses 3min é benéfico para aumentar as reservas de ferro do bebê até 6 meses, como mostram alguns estudos, sendo essa ligadura tardia relacionada com o aumento de hemoglobina (1,5g) e de ferritina do recém-nascido. Ela é feita a partir do esmagamento do cordão com duas pinças, cerca de 4cm de distância do abdome. Antes do pinçamento deve ser feito o exame de funículo, para evitar que se esmague o conteúdo abdominal acaso ali localizada, hérnias. REVISÃO DE VULVA, VAGINA E COLO DE UTERO A revisão da região vulvoperineal é recomendada, tendo a necessidade de uma revisão sistemática da vulva e do colo uterino quando o parto for cirúrgico ou houver sangramento anormal. Em casos de rasgaduras pequenas, não há necessidade de maiores cuidados. Já em lacerações menores, pode ou não realizar a sutura, depende da avaliação clínica do profissional.
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