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Pâncreas Anatomia Encontra-se no retroperitônio um pouco anterior à primeira vértebra lombar e é anatomicamente dividido em quatro partes: cabeça, colo, corpo e cauda. A cabeça fica à direita da linha central dentro da alça em C do duodeno, imediatamente anterior à veia cava na confluência das veias renais. O processo uncinado estende-se da cabeça do pâncreas atrás da veia mesentérica superior (VMS) e termina adjacente à artéria mesentérica superior (AMS). O colo é o segmento curto do pâncreas que imediatamente sobrepõe-se à VMS. O corpo e a cauda do pâncreas estendem-se através da linha central, anterior à fáscia de Gerota e levemente em direção cefálica, terminando no hilo esplênico. Pancreatite Pancreatite aguda A maioria dos pacientes apresenta uma evolução branda e autolimitada; entretanto, de 10% a 20% dos pacientes têm uma resposta inflamatória rapidamente progressiva associada à duração prolongada da estadia no hospital, além da morbimortalidade significativa. - A causa de óbito mais comum nesse grupo de pacientes é a síndrome da falência múltipla dos órgãos. ● A mortalidade na pancreatite tem uma distribuição bimodal; nas primeiras duas semanas, também conhecida como fase inicial, a síndrome da disfunção múltipla dos órgãos é o resultado final de uma cascata inflamatória intensa desencadeada inicialmente pela inflamação pancreática. A mortalidade após duas semanas, também conhecida como período final, é frequentemente causada por complicações sépticas. Fatores de risco: - Os cálculos biliares e o abuso de etanol representam de 70% a 80% dos casos de PA. - Em pacientes pediátricos, o trauma fechado abdominal e as doenças sistêmicas são as duas condições mais comuns que levam à doença. - A pancreatite autoimune e a induzida por medicamentos devem ter um diagnóstico diferencial de pacientes com condições reumatológicas como lúpus eritematoso sistêmico e síndrome de Sjögren. Manifestações clínicas - Dor epigástrica e/ou periumbilical que se irradia para as costas (ps: a natureza da dor é constante; portanto, se a dor desaparecer ou diminuir, outro diagnóstico deve ser considerado) - Náusea e/ou vômito, que normalmente não aliviam a dor. - A desidratação, o turgor cutâneo, a taquicardia, a hipotensão e as membranas mucosas secas são comuns em pacientes com PA. - Os portadores de desidratação grave e/ou idosos também podem desenvolver alterações no estado mental. - Os pacientes com coledocolitíase ou edema significativo da cabeça do pâncreas que comprime a porção intrapancreática do colédoco podem apresentar icterícia. Diagnóstico: - O exame físico do abdome varia de acordo com a gravidade da doença. ● Com a pancreatite leve, o exame físico do abdome pode ser normal ou revelar somente a sensibilidade epigástrica discreta. ● A distensão abdominal significativa, associada com rebote e rigidez abdominal, está presente na pancreatite grave. ● Os achados raros incluem equimose do flanco e periumbilical (sinais de Grey Turner e de Cullen, respectivamente). Ambos são indicativos de sangramento retroperitoneal associado com pancreatite grave. ● A macicez à percussão e os ruídos respiratórios reduzidos no hemitórax esquerdo ou, com menos frequência, no direito, sugerem derrame pleural secundário à PA. - Elevação dos níveis das enzimas pancreáticas no plasma. Uma elevação de três vezes ou mais dos níveis de amilase (podem estar elevados em inúmeras condições, como na úlcera peptídica perfurada, isquemia mesentérica, salpingite e macroamilasemia) e/ou lipase (um indicador mais sensível e confiável para estabelecer o diagnóstico) confirma o diagnóstico. - A tomografia computadorizada com contraste (TC) é considerada o exame padrão-ouro para avaliar o pâncreas. ● Critérios de Baltazar - A ressonância magnética abdominal (RM) também é útil para avaliar a extensão da necrose, o grau de inflamação e a presença de líquido livre intracavitário. Contudo, seu custo e disponibilidade a limitam, e o fato de os pacientes que necessitam de ressonância estarem gravemente doentes e terem que ficar em unidades de tratamento intensivo, constitui outro fator limitante na sua aplicabilidade na fase aguda. O diagnóstico da pancreatite aguda é estabelecido pela presença de pelo menos 2 dos seguintes: ● Dor abdominal compatível com a doença ● A dosagem sérica da amilase e/ou da lipase > 3 vezes o limite superior do normal (o intervalo normal dos níveis de amilase e lipase pode diferir dependendo do teste utilizado) ● Achados característicos em exames de imagem com contraste: TC (padrão ouro) Critérios de prognóstico: O International Symposium on Acute Pancreatitis definiu a pancreatite grave como a presença de complicações pancreáticas locais (necrose, abscesso ou pseudocisto) ou qualquer evidência de falência dos órgãos. A pancreatite grave é diagnosticada se há evidências de insuficiência dos órgãos ou complicação pancreática local: Critérios de Atlanta para Pancreatite Aguda Falência de Órgãos Conforme Definida - Choque (pressão arterial sistólica <90 mm Hg) ● Insuficiência pulmonar (PaO2 <60 mm Hg) ● Insuficiência renal (nível de creatinina >2 mg/dL após a reanimação por fluidos) ● Sangramento GI (>500 mL/24 h) Complicações Sistêmicas - Coagulação intravascular disseminada (contagem de plaquetas ≤100.000) ● Fibrinogênio <1 gr/L ● Produtos da degradação da fibrina >80 μg/dL ● Distúrbio metabólico (nível de cálcio ≤7,5 mg/dL) Complicações Locais: - Necrose ● Abscesso ● Pseudocisto ● A pancreatite grave é definida pela presença de qualquer evidência de falência de órgãos ou de uma complicação local Critérios de Ranson para Pancreatite Aguda Tratamento: - Reposição agressiva de líquidos e eletrólitos pelo uso de uma solução isotônica de cristaloides - Oxigênio complementar - Analgesia - Jejum: é indicado numa fase inicial até que a dor no abdome, a náusea e os vômitos melhorem. - Antibioticoterapia: apenas indicado no tratamento da pancreatite aguda quando existe suspeita de necrose do pâncreas e infecção Pancreatite crônica Ao contrário da PA, o marco histológico da pancreatite crônica é a inflamação persistente e a fibrose irreversível associada com atrofia do parênquima pancreático. - Em geral, o consumo excessivo de álcool é a causa mais comum da pancreatite crônica (de 70% a 80% dos casos), especialmente em hospitais urbanos. - Condições tais como obstrução crônica do ducto, trauma, pâncreas divisum, distrofia cística da parede duodenal, hiperparatireoidismo, hipertrigliceridemia, pancreatite autoimune, pancreatite tropical e pancreatite hereditária são raras e representam menos de 10% de todos os casos. Manifestações clínicas: - Dor é a principal manifestação clínica da pancreatite crônica: Inicialmente precipitada pela ingesta oral, a intensidade, frequência e duração da dor gradualmente aumentam com a evolução da doença. - Náuseas e vômitos não são comuns em seu início; contudo, podem ocorrer à medida que a doença progride. - Pode haver: esteatorréia, diarréia (decorrentes da má absorção) e diabetes melito por afetar as células da ilhota. Diagnóstico - Tomografia Computadorizada: ● Os achados da TC mais comuns na pancreatite crônica são: o ducto pancreático dilatado (68%), a atrofia do parênquima (54%) e as calcificações pancreáticas (50%) ● Outros achados são: derrame peripancreático, edema pancreático focal, dilatação do ducto biliar e contorno do parênquima pancreático irregular. ● A TC tem uma sensibilidade de 56% a 95% e uma especificidade de 85% a 100% para o diagnóstico de pancreatite crônica. ● Além de estabelecer o diagnóstico, a TC é especialmente útil para avaliar as complicações, como ruptura do ducto pancreático, pseudocistos, trombose da veia porta ou esplênica e pseudoaneurismas da artéria pancreatoduodenal. - Ressonância magnética: ● A RM é uma alternativa confiável para avaliar os pacientes com pancreatite crônica. ● A sensibilidade para o diagnóstico das calcificações pancreáticas é inferior, mas a RM é útil para detectar mudanças no parênquima pancreático sugestivo de inflamação crônica, como mudanças na intensidade, atrofia pancreática e irregularidades no contorno. ● Além disso, a CPRM com injeção de secretina é particularmente útil para avaliar as estenoses intraductais e a ruptura do ducto pancreático. Tratamento: - Clínico: ● Analgésico: controle da dor ● Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) constituem a primeira linha de tratamento. A dor de moderada a grave que não responde aos AINEs deve ser tratada com tramadol ou propoxifeno. Finalmente, os pacientes com dor intensa que não respondem a essas recomendações devem ser tratados com sedativos potentes de longa duração. - Endoscópico: ● A CPRE é o método de eleição primária para o tratamento da obstrução do ducto pancreático sintomático com dilatação associada com a colocação do stent de polietileno. Usualmente são necessárias inúmeras sessões tendo em vista a recorrência dos sintomas. - Cirúrgico: ● A escolha do procedimento cirúrgico depende dos sintomas que exigem a paliação e da presença ou ausência de dilatação ductal pancreática. Em geral, os pacientes com um ducto pancreático dilatado (definido com um diâmetro de >7 mm) exige um procedimento de descompressão e os pacientes com ducto pancreático normal exigem um procedimento de ressecção. Tumores periampulares Neoplasias que surgem na proximidade da Ampola de Vater (Essa estrutura é formada pelo ducto pancreático principal ou de Wirsung em conjunto ao ducto colédoco, sendo envolvidos pelo músculo esfíncter de Oddi na junção com o duodeno.) Eles podem se originar de toda adjacência à ampola, como: 1. Cabeça do pâncreas 2. Ampola de Vater 3. Via biliar principal 4. Papila maior 5. Duodeno Manifestações clínicas: - Principal manifestação: Icterícia obstrutiva!! - Acolia fecal - Colúria - Sinal de Courvoisier → vesícula biliar palpável e indolor em paciente ictérico. - Esteatorreia - Perda de peso - Anemia microcítica - Dor abdominal - Náuseas Diagnóstico - USG costuma ser o primeiro teste em pacientes apresentando icterícia obstrutiva, porém ele normalmente não visualiza o tumor. - TC é necessária para visualização do pâncreas e estruturas adjacentes, é o exame mais confiável para exclusão de metástases. - CPRE: Único estudo endoscópico mais confiável para identificação do tumor, realização da biópsia e descompressão da ampola. - Estadiamento: TC de tórax e abdome. Tratamento - Pancreatoduodenectomia ou cirurgia de Whipple: excisão local da ampola para casos não invasivos. - Tratamentos não cirúrgicos são reservados a pacientes que não podem passar pela cirurgia, incluem: ablação por laser e terapia fotodinâmica promovendo efeito paliativo sobre os sintomas, mas não curativo.
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