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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA ANDREINA RAQUEL DANTAS GUEDES IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS CITOMORFOLÓGICOS CONSIDERADOS NÃO CLÁSSICOS NA PESQUISA DE INFECÇÃO POR PAPILOMAVÍRUS HUMANO: UMA REVISÃO DE LITERATURA. NATAL/RN 2022 ANDREINA RAQUEL DANTAS GUEDES IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS CITOMORFOLÓGICOS CONSIDERADOS NÃO CLÁSSICOS NA PESQUISA DE INFECÇÃO POR PAPILOMAVÍRUS HUMANO: UMA REVISÃO DE LITERATURA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Orientador (a): Profª Dr.ª Deyse de Souza Dantas NATAL/RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Guedes, Andreina Raquel Dantas. Identificação e caracterização dos critérios citomorfológicos considerados não clássicos na pesquisa de infecção por Papilomavírus Humano: uma revisão de literatura / Andreina Raquel Dantas Guedes. - 2022. 36f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Farmácia. Natal, RN, 2022. Orientadora: Profa. Dra. Deyse de Souza Dantas. 1. Neoplasias do colo do útero - TCC. 2. Papilomavírus Humano - TCC. 3. Sinais secundários - TCC. 4. Câncer de colo do útero - TCC. I. Dantas, Deyse de Souza. II. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 618.14-006 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 ANDREINA RAQUEL DANTAS GUEDES IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS CITOMORFOLÓGICOS CONSIDERADOS NÃO CLÁSSICOS NA PESQUISA DE INFECÇÃO POR PAPILOMAVÍRUS HUMANO: UMA REVISÃO DE LITERATURA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Aprovada em: 30/06/2022 BANCA EXAMINADORA Orientador (a): Profª Deyse de Souza Dantas, Dr.ª, UFRN Membro: Prof. José Queiroz Filho, Dr., UFRN Membro: Profª Daliana Caldas Pessoa, Dr.ª, UFRN AGRADECIMENTOS Primeiramente, à Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo da minha vida, e não somente nestes anos de universitária; sendo Ele o maior mestre que alguém poderia conhecer. Aos meus familiares, em especial meus pais, Auritonia e Robson, por sempre terem me incentivado a continuar estudando, buscando me aperfeiçoar ainda mais, e por proporcionarem as melhores possibilidades que alguém já chegou a cogitar oferecer. À todos os meus colegas de classe que contribuíram de forma única na minha formação, auxiliando sempre da melhor forma que encontravam, sanando minhas dúvidas e ajudando a superar todas as dificuldades. À João, Mikaella e Felipe, meus melhores amigos, por nunca terem deixado de me apoiarem, apesar de todas as complicações que tivemos que enfrentar para alcançar o que somos hoje; por serem minha luz durante longos meses e nunca ter me permitido deixar de ter fé em mim. E, finalmente, agradecer à minha dialética orientadora Deyse Dantas pela oportunidade e apoio na elaboração deste trabalho, além do suporte oferecido no recluso tempo que nos coube e toda a paciência exigida para atender minhas dúvidas. “Mas é uma viagem, e o triste é que só se aprende com a experiência. Portanto, não importa o que as pessoas lhe digam, você tem que viver e cometer seus próprios erros para aprender”. (Emma Watson) RESUMO O câncer do colo de útero ainda é considerado um dos maiores problemas de saúde pública mundial, acometendo grande parte da população feminina e um número significativo de homens. O principal precursor para essa neoplasia é Papilomavírus humano (HPV), mas a avaliação dos chamados critérios clássicos não tem apresentado um bom resultado quanto a identificação do vírus em possíveis pacientes infectados. Nessa perspectiva, esse trabalho objetivou realizar uma revisão de literatura com foco, principalmente, nos critérios secundários para a identificação e diagnóstico do vírus. Trata-se, então, de um estudo com abordagem descritiva e pesquisa exploratória. Os artigos escolhidos foram selecionados a partir das bases de dados PubMed, LILACS, SciELO e Embase, com recorte temporal de 20 anos. Os principais descritores utilizados foram: “papilomavírus humano”, “coilócitos” e “sinais não clássicos”. Com o andamento da análise, observou-se resultados comuns aos artigos, entre eles, mais evidentemente, a presença de bi ou multinucleação, hipercromasia celular, coilócitos abortivos e disceratose leve. Desse modo, os estudos avaliados demonstraram alterações significativas que poderiam passar facilmente despercebidas pela análise convencional. Por fim, permitiu-se a confirmação que a utilização dos sinais não clássicos, em associação com os clássicos, auxilia na identificação dos casos positivos para HPV, fazendo com que as taxas de incidência e mortalidade sejam reduzidas. Palavras-chaves: câncer de colo de útero; hpv; papilomavírus humano; sinais secundários. ABSTRACT Cervical cancer is still considered one of the biggest public health problems worldwide, affecting a large part of the female population and a significant number of men. The main precursor for this neoplasm is human papillomavirus (HPV), but the evaluation of the so-called classic criteria has not shown a good result regarding the identification of the virus in possible infected patients. From this perspective, this work aimed to carry out a literature review focusing mainly on secondary criteria for the identification and diagnosis of the virus. It is, therefore, a study with a descriptive approach and exploratory research. The selected articles were selected from PubMed, LILACS, SciELO and Embase databases, with a time frame of 20 years. The main descriptors used were: “human papillomavirus”, “koilocytes” and “non- classical signs”. As the analysis progressed, results common to the articles were observed, among them, most evidently, the presence of bi or multinucleation, cellular hyperchromasia, abortive koilocytes and mild dyskeratosis. Thus, the studies evaluated showed significant changes that could easily go unnoticed by conventional analysis. Finally, it was allowed to confirm that the use of non-classical signs, in association with the classic ones, helps in the identification of positive cases for HPV, causing the incidence and mortality rates to be reduced. Keywords: cervical cancer; hpv; human papillomavirus; secondary signs. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS HPV Papilomavírus humano INCA Instituto Nacional de Câncer URR Upstream Regulatory Region DNA-HPV Marcador para detecção do DNA do HPV PCR Reação em cadeia da polimerase DNA Ácido desoxirribonucleico RNA Ácido ribonucleico LSIL Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau NILM Negativo para lesão intra-epitelial ou malignidade OL Leucoplasia oral OSCC Carcinoma de células escamosas OPSCC Carcinoma espinocelular de orofaringeLISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS Figura 1. Fluxograma demonstrando o processo de seleção dos artigos. ................................ 15 Figura 2. Representação gráfica do vírus do HPV. ................................................................. 17 Figura 3. Presença de coilócitos em células do epitélio cervical. ........................................... 22 Figura 4. Sinais citológicos secundários sugestivos de infecção pelo Papilomavírus humano. (BOLLMANN, 2005). .............................................................................................................. 23 TABELAS Tabela 1. Correspondência entre as proteínas do genoma viral do HPV e suas funções. ....... 18 Tabela 2. Descrição dos artigos incluídos na pesquisa, com a temática voltada para a avaliação da presença dos sinais secundários. .......................................................................................... 26 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11 2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 13 2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 13 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 13 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 14 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 16 4.1 O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ............................................................................. 16 4.2 PAPILOMAVÍRUS HUMANO COMO PRINCIPAL PRECURSOR DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ............................................................................................................... 16 4.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HPV .................................................................... 17 4.4 MÉTODOS DE DETECÇÃO DA INFECÇÃO POR HPV ........................................... 19 4.4.1 Colposcopia ............................................................................................................. 19 4.4.2 Histopatologia .......................................................................................................... 19 4.4.3 Métodos imunológicos ............................................................................................ 19 4.4.5 Métodos moleculares ............................................................................................... 20 4.4.6 Citologia .................................................................................................................. 21 4.4.7 Co-Teste .................................................................................................................. 21 4.5 CITOLOGIA CLÁSSICA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO ................................... 22 4.6 CITOLOGIA SECUNDÁRIA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO ............................ 23 5 RESULTADOS ..................................................................................................................... 26 6 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 30 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 32 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33 11 1 INTRODUÇÃO O avanço da tecnologia com o passar dos anos permitiu que a humanidade tivesse compreensão das diferentes doenças que podiam a acometer, estudando a relação entre as infecções e seus sinais e/ou sintomas, além de possibilitar entender as características dos patógenos, seus ciclos de vida e sua identificação. Esse tipo de conhecimento e progresso tornou-se indispensável para a avaliação das patologias, que se tornaram cada vez mais preocupantes com o decorrer do tempo. Considerada a terceira neoplasia mais comum na população feminina do mundo, o câncer de colo de útero pode ser classificado como um problema de saúde pública. Assim, a prevenção e o rastreamento da doença são considerados fundamentais para reduzir as taxas de complicação e de mortalidade. Apesar disso, as dificuldades de acesso e custo para os testes DNA-HPV e estudos moleculares torna a identificação do vírus quase impossível nos países subdesenvolvidos. O papilomavírus humano consiste em um vírus não envelopado com presença de um capsídeo envolvendo sua molécula de DNA, que codificará oito proteínas, sendo essas classificadas em precoces e tardias, envolvidas na transformação celular e na replicação viral. O vírus pode ser considerado comum, uma vez que a contaminação da maioria dos indivíduos, por meio de contato direto, ocorre ainda durante a infância e mantém-se parte da microbiota da pele. Assim, o ser humano é simultaneamente colonizado por diversos tipos de HPV, ocasionando em doenças assintomáticas ou sintomáticas da pele e mucosas. A infecção persistente por certos tipos desse agente é considerada a principal causa para o desenvolvimento do câncer do colo do útero, favorecendo o surgimento de lesões pré- malignas, sendo seu DNA específico detectado através de PCR em mais de 90% dos casos registrados. Tem-se conhecimento que fatores como genética, estilo de vida e saúde podem influenciar no desenvolvimento da doença, mas os subtipos de baixo risco referem-se aos agentes causadores das verrugas genitais e os tipos de alto risco oncogênico são as principais causas relacionadas às lesões malignas do colo uterino. As lesões causadas pelo Papilomavírus proporcionam alterações citomorfológicas bastante específicas, observadas na citologia convencional de raspados e biópsias. O sinal 12 característico indicativo de infecção pelo HPV consiste na presença de coilócitos, sendo considerado o principal achado clássico. Devido a grande preocupação com a patologia e a problemática em diagnosticar os casos da melhor forma possível apenas com os critérios clássicos, tem-se adicionado novos sinais morfológicos, classificados como não clássicos ou secundários, com o objetivo de aumentar a sensibilidade e a especificidade dos métodos diagnósticos para prevenção e detecção das lesões. Diante disso, é avaliado como extrema importância a realização de exames citológicos periódicos para detecção precoce do câncer através do método de Papanicolau, considerado a melhor estratégia em saúde para detectar lesões neoplásicas e capaz de identificar as modificações clássicas e não clássicas, aumentando a sensibilidade da citologia durante a identificação do vírus. Aspectos citológicos de todos os critérios clássicos podem ser encontrados facilmente na literatura. No entanto, atualmente, os estudos com foco na identificação e caracterização dos sinais não clássicos são considerados escassos. Diante disso, tendo em vista a quantidade reduzida de informações relacionadas à identificação dos sinais do HPV, essa revisão objetivou conhecer as publicações relativas sobre a infecção pelo vírus, assim como, tecer considerações sobre os achados clássicos e não clássicos no diagnóstico citológico para a patologia. 13 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL O presente trabalho tem por objetivo conhecer o que se tem publicado sobre o HPV, com foco, principalmente, nos seus critérios não clássicos, com vistas a melhorar a identificação e o diagnóstico para a doença. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Identificar e caracterizar, em quadros de HPV positivo sem achados clássicos, os considerados sinais “não clássicos”encontrados na literatura que podem auxiliar no complemento do diagnóstico de infecções por Papilomavírus Humano. • Comparar os achados clássicos e não clássicos no diagnóstico citológico para HPV positivo; • Provocar familiarização do leitor com as características não clássicas encontradas para a patologia; • Avaliar a quantidade de informações disponíveis na literatura sobre o assunto, tornando a juntá-las em um único projeto. 14 3 METODOLOGIA Esse estudo trata-se de uma revisão de literatura com abordagem descritiva e pesquisa exploratória, que visa proporcionar maior familiaridade com as características citológicas clássicas e não clássicas do Papilomavírus humano. Pautado nessa perspectiva, essa monografia se orienta pela seguinte questão: quais os critérios não clássicos que poderiam auxiliar a identificar e/ou diagnosticar casos de infecções por HPV? Essa é uma pergunta relevante porque os estudos encontrados na literatura são considerados escassos. Acredita-se que os resultados desse trabalho serão importantes para dar visibilidade à temática e contribuir para o desenvolvimento e a atualização de discussões na área. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, utilizando as bases de dados National Center for Biotechnology Information, U.S. National Library of Medicine (PubMed – NCBI), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Excerpta Medica Database (Embase) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Considerando o objetivo da revisão, os principais descritores de assuntos buscados foram: Papilomavírus Humano, coilócitos, sinais não clássicos. Os termos foram combinados com AND e OR, seguindo as especificidades de cada base. A coleta de dados foi realizada no período de Dezembro de 2021 a Abril de 2022, definindo como critérios de inclusão os artigos relacionados ao tema que foram publicados em português, inglês e espanhol, visando maior quantidade de referenciais teóricos, e com recorte temporal de até 20 anos, listando documentos de 2001 a 2021. Também foram avaliados projetos publicados no formato de trabalhos científicos e com disponibilidade online do exemplar. Além disso, os materiais selecionados deviam responder à pergunta da pesquisa. Para essa revisão, foram utilizados os seguintes critérios de exclusão: trabalhos que não abordavam a temática e que foram publicados fora do período pré-estabelecido anteriormente, além de não estarem disponíveis nos idiomas já listados e possuírem duplicidade com outros artigos. Na busca inicial nas bases de dados, encontrou-se um total de 250 artigos, que foram submetidos à leitura inicial dos títulos e resumos. Após análise criteriosa, incluiu-se 20 artigos 15 que se encaixavam dentro dos critérios de inclusão, que serão divididos para o referencial teórico e os dados que atendem à justificativa para os tópicos de resultados e discussões. De forma geral, as seguintes etapas foram realizadas: 1) pesquisa bibliográfica referente ao assunto; 2) avaliação das informações e coleta de dados; 3) análise e interpretação dos dados coletados. Figura 1. Fluxograma demonstrando o processo de seleção dos artigos. 16 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO O INCA define como câncer um conjunto de doenças que possuem a capacidade de invadir órgãos e tecidos, provocando crescimento de células agressivas e incontroláveis, capazes de causar tumores malignos e metástase. O câncer de colo uterino é considerado um grave problema de saúde pública, sendo classificado como o terceiro mais frequente nas mulheres, e ainda apresentando altas taxas de incidência e mortalidade. Pode ser caracterizado por uma alteração celular no epitélio do útero, ocasionando lesões precursoras em diversos estágios que possuem grau variável de lesão para a neoplasia. A preocupação com os dados de mortalidade é insistente, uma vez que os números ainda apresentam-se altos apesar dos avanços na detecção precoce das lesões nos processos de triagem. Além disso, a elaboração da vacina e dos métodos de tratamento deveriam ser considerados requisitos suficientes para a diminuição nos índices. Entre os principais erros encontrados pelos métodos, destacam-se a grande presença de resultados falso-negativos, insuficiência de informações clínicas e falhas na interpretação e/ou observação dos resultados. 4.2 PAPILOMAVÍRUS HUMANO COMO PRINCIPAL PRECURSOR DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO A infecção pelo HPV é uma das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns encontrada na população feminina, podendo ser assintomático por um longo período de tempo ou se apresentar de forma sintomática com condilomas ou carcinomas. São encontrados atualmente mais de 200 genótipos de HPV, entre os quais 40 podem afetar o trato genital, divididos entre baixo e alto risco mediante seu potencial infeccioso. Desses, pelo menos 13 tipos são considerados oncogênicos, sendo os tipos 16 e 18 encontrados mais frequentemente em casos do câncer do colo de útero, associando-se também as lesões precursoras. Já os tipos classificados como de baixo risco estão envolvidos em condilomas e displasia cervical leve; entretanto, mesmo esses podem favorecer o aparecimento de lesões malignas. 17 Tornou-se bem definido que a infecção persistente pelo Papilomavírus é o fator causal central no desenvolvimento do câncer de colo de útero, podendo ser detectado em mais de 95% dos casos de câncer cervical, com metade da população feminina de vida sexual ativa adquirindo o vírus em algum momento de suas vidas. A realização de pesquisas possibilitou a observação que o carcinoma cervical mais comumente encontrado é o escamoso, seguido do adenocarcinoma. Esse conhecimento só demonstra a importância da identificação morfológica dos sinais de contaminação pelo patógeno na citologia cervico-vaginal. Embora a infecção pelo HPV possa ser o fator desencadeante para o surgimento do câncer, aponta-se que fatores genéticos e funções imunes também podem estar relacionados à infecção pelos subtipos de alto risco. Além disso, observou-se também que o número de parceiros sexuais, o ato de fumar, a utilização de anticoncepcional oral e as condições socioeconômicas podem favorecer o aparecimento das lesões. 4.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HPV O HPV é um vírus de DNA dupla fita, com presença de um capsídeo e capacidade de epitéliotropismo, imortalizando queratinócitos e, assim, levando ao câncer. São capazes de infectar as células basais ativas, ocasionando infecções no epitélio e produzindo três diferentes apresentações para as mesmas. Na manifestação latente, as células parecem normais e só serão identificadas por técnicas moleculares; já nos indícios subclínicos e clínicos, as partículas virais encontram-se aumentadas juntamente com a presença da maturação celular. Figura 2. Representação gráfica do vírus do HPV1. 1 Instituto de colposcopia de Brasília. Informações sobre o HPV, 2022. Disponível em: https://www.icbdf.com/informacoes-sobre-o-hpv/. Acesso em 15 jun 2022. https://www.icbdf.com/informacoes-sobre-o-hpv/ 18 O aumento na replicação viral é a principal causa das alterações morfológicas, acarretando em sinais característicos da infecção pelo HPV; dessa forma, permite o diagnóstico citomorfológico nos exames de Papanicolau e biópsias. Seu genoma possui, aproximadamente, 8kb de extensão e é dividido em duas regiões funcionais: early (E) e late (L). Em lesões benignas, o genoma separa-se do DNA, ocasionando um plasmídeo extracromossomal; já as lesões de alto risco podem se integrar ao genoma do hospedeiro e perpetuar a expressão dos oncogenes (CRUM, 2001). As proteínas precoces E relacionam-se com a replicação viral e produção de proteínas associadas as neoplasias, sendo encontrados com diferentes funções. Já as duas proteínastardias L são responsáveis por codificar proteínas do capsídeo viral (Tabela 1). Ademais, há também uma região conhecida por URR, situada entre os dois tipos de genes citados anteriormente, que controla a transcrição viral. Tabela 1. Correspondência entre as proteínas do genoma viral do HPV e suas funções. Região do genoma Proteína Função URR Controla a transcrição viral. Precoce E1 Replica e amplifica o genoma viral. E2 Regula o ciclo viral e atua como fator de transcrição para E6 e E7. E4 Auxilia na liberação e transmissão do vírus. E5 Desempenha papel na evasão da resposta imune e apoptose. E6 Amplifica o genoma viral e favorece carcinogênese. E7 Amplifica o genoma viral e favorece carcinogênese. Tardia L1 Constitui o capsídeo viral. L2 Constitui o capsídeo viral e auxilia na entrada e trânsito do vírus no núcleo. Fonte: Próprio autor (2022). As principais proteínas envolvidas no processo infeccioso do vírus são E5, E6 e E7, sendo essas duas últimas consideradas de alto risco. Por possuírem a capacidade de proliferação nas células basais ou parabasais, essas proteínas podem gerar neoplasia e, posteriormente, evoluir para câncer. 19 4.4 MÉTODOS DE DETECÇÃO DA INFECÇÃO POR HPV Os programas para prevenção do câncer do colo de útero têm por objetivo detectar e tratar os seus precursores antes que a infecção se desenvolva. Diante disso, a invasão pelo vírus pode ser observada mediante as alterações morfológicas que o patógeno causa e diagnosticada por técnicas de rastreamento, sendo elas a colposcopia, histopatologia, imunologia, métodos moleculares e citologia. 4.4.1 Colposcopia A colposcopia corresponde a avaliação do trato genital, onde o aparelho amplia a imagem em cerca de, aproximadamente, 10 a 30 vezes, visando reconhecer e diagnosticar as áreas normais e as acometidas com achados característicos da ectocércive e da vagina. Para a realização do exame, as mulheres costumam utilizar o corante de Schiller ou ácido acético para ressaltar as lesões, tornando a identificação fácil a olho nu. Diante disso, o avaliador irá observar os locais que não coraram-se, uma vez que ali consiste na área de anormalidade, já que as células cancerígenas são consideradas pobres em glicogênio, que tem afinidade pelo corante usado, e não conseguem absorver a coloração. Entretanto, torna-se importante alertar que o exame colposcópico não evidencia um diagnóstico preciso, sendo necessária a correlação com algum outro método. 4.4.2 Histopatologia A histopatologia corresponde a observação das modificações do epitélio original, com proliferação e diferenciação considerados anormais. Geralmente, o material recolhido é adicionado a lâminas de vidros e coberto com lamínulas, para então ser fixado, corado com hematoxilina-eosina e observado em microscópico. Esse método não consegue identificar o vírus, mas permite a avaliação das alterações no epitélio escamoso e no núcleo e a presença de células mitoticamente anormais, que será utilizada posteriormente para graduar as lesões, auxiliando na identificação de possíveis evoluções para câncer. 4.4.3 Métodos imunológicos A imunocitoquímica e imuno-histoquímica correspondem a detecção dos anticorpos contra os antígenos dos diferentes tipos de vírus do Papiloma, mediante a avaliação do capsídeo 20 das partículas virais. São métodos que apresentam alta especificidade, mas sensibilidade diminuída, tendo em vista que podem identificar resultados falso-negativos quando há genoma viral na célula infectada. 4.4.5 Métodos moleculares O biomarcador DNA-HPV é o mais utilizado para a triagem do câncer de colo uterino, uma vez que apresenta alta acurácia e permite um diagnóstico mais seguro quando comparado a outros métodos já citados, uma vez que não há a necessidade de alterações morfológicas. Apresenta, então, sensibilidade e especificidade consideradas significativas, já que avalia diretamente a presença do DNA do vírus nas células. São diversos os métodos que podem utilizar essa técnica para a detecção do Papilomavírus, alguns deles serão apresentados abaixo. A hibridização “in situ” avalia a presença do vírus mediante sequências específicas desenvolvidas a partir dos segmentos de DNA conhecidos do agente infeccioso. A amostra a ser analisada deve ser preparada com um tipo especial de cola, visando que não haja a soltura das células. Durante sua observação no microscópio, para casos positivos, deve-se avaliar a presença de pontos com coloração amarronzada no núcleo das células, devido a reação de peroxidase. O PCR corresponde a um teste com três etapas distintas para amplificar o DNA viral e ajudar na sua identificação. Inicialmente, há uma desnaturação do DNA que provoca a separação das duas fitas que o compõe. Após isso, os primers irão se ligar à região do DNA que será amplificada, e serão adicionados nucleotídeos as extremidades. Apesar de ter sido considerado o método “padrão-ouro” para detecção do Papilomavírus humano, apresenta problemas devido seu alto custo, que torna seu uso inviável em locais com recursos escassos. A captura híbrida consiste no princípio de quimiluminescência para diagnosticar o patógeno. Assim como no PCR, ocorre a desnaturação do material para liberar as fitas duplas do DNA e, logo após, a formação de híbridos RNA/DNA a partir de uma reação de sonda com RNA específico. Diante disso, esses híbridos serão capturados por anticorpos e adicionados a uma anticomplexo DNA-RNA conjugado a enzima fosfatase alcalina. 21 4.4.6 Citologia A citologia é considerada a técnica mais utilizada para diagnóstico preventivo, devido sua grande abrangência, custo-benefício, simplicidade no manuseio e eficácia. Por meio de avaliação microscópica do esfregaço cervical, observa-se as células obtidas da zona de transformação do órgão após coloração e se analisa os efeitos citopáticos produzidos pela presença do vírus, identificando os critérios morfológicos para definição de células normais ou anormais na mucosa. Atualmente, existem dois tipos de citologia cervical: a convencional, também chamada de exame de Papanicolau, e a citologia em meio líquido. O teste de Papanicolau identifica células do colo uterino que estejam atípicas, sendo malignas ou pré-malignas. Para o exame, o material é coletado na região do orifício externo do colo, colocado em lâmina de vidro e corado, sendo observado no microscópio logo após. Sua simplicidade na realização permite que se mantenha até hoje como a figura central no rastreamento do câncer de colo de útero. A citologia em meio líquido tem a mesma base do teste citado anteriormente, sendo sua principal diferença definida pela separação e redução de materiais que possam interferir durante a leitura, mantendo o fundo intacto e melhorando a visualização das células para avaliação. 4.4.7 Co-Teste Recomendado internacionalmente, corresponde a associação entre a citologia e teste molecular para HPV, uma estratégia mais moderna para o rastreio de infecções positivas para Papilomavírus humano. Sua principal vantagem consiste na maior segurança dos resultados, uma vez que a sensibilidade é aproximada a 100%, com difícil apresentação de falsos- negativos. Essa combinação ocorre devido as limitações encontradas pelo teste citológico convencional, principalmente no que diz respeito a um resultado positivo, tendo em vista que a utilização desse método não permite sua confirmação com segurança. Diante disso, a adição do teste molecular que identifique o material genético do vírus estudado apresentou alto reconhecimento quanto a sensibilidade e a especificidade das avaliações. Assim, a citologia apresenta-se como forma de rastreio primária e o método molecular como identificação para diagnóstico preciso do HPV. 22 4.5 CITOLOGIA CLÁSSICA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO O diagnósticoda infecção por HPV ocorre quando, durante a avaliação do esfregaço cervico-vaginal, são encontrados sinais citopáticos característicos do vírus. Diante disso, considera-se como alterações clássicas aquelas comumente encontradas durante a avaliação dos exames positivos para presença do vírus do HPV, destacando-se a coilocitose e a disceratose. Os coilócitos (figura 3) consistem em células epiteliais escamosas com núcleo hipercromático excêntrico, deslocado do centro da célula por uma cavidade perinuclear clara e com borda citoplasmática densa, além de apresentar zona periférica em borrão, que podem ser associados ao aumento do volume nuclear, irregularidade na membrana e cromatina mal distribuída. São encontrados no último estágio da replicação e no genoma infeccioso encontrados nas células. Podem ser considerados como o indicador mais específico da doença, mas, recentemente, descobriu-se que nem sempre estão presente nas células infectadas por HPV. Figura 3. Presença de coilócitos em células do epitélio cervical.2 2 Internacional Agency for Research on Cancer. Histopathology of the uterine cérvix – digital atlas: koilocyte. Encontrado em: <https://screening.iarc.fr/atlasglossdef.php?key=Koilocyte&lang=1>. Acesso em 15 jun 2022. 23 A disceratose corresponde a um conjunto de células que apresentam queratinização precoce, além de demonstrar pleomorfismo celular com formas caudadas ou alongadas. Outras características a serem identificadas nesse sinal consistem na relação núcleo/citoplasma aumentada, condensamento da cromatina e hipercromasia. 4.6 CITOLOGIA SECUNDÁRIA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO Por muito tempo, apenas a presença única e/ou associação das duas características clássicas eram buscadas durante a investigação do patógeno para concluir o diagnóstico, mas, recentemente, SCHNEIDER et al. (1987) propôs a utilização de sinais não clássicos, devido a grandes resultados falso-negativos nos exames. Diante disso, os novos critérios não clássicos ou secundários para o diagnóstico de HPV propostos por SCHNEIDER et al. (1987) foram: esboço de coilocitose, disceratose leve, citoplasma vazio, grânulos querato-hialinos, condensação de filamentos no citoplasma, células fusiformes, hipercromasia nuclear, halo perinuclear e bi/multinucleação. Entretanto, alguns outros critérios podem ser considerados, como poderá ser observado abaixo. Figura 4. Sinais citológicos secundários sugestivos de infecção pelo Papilomavírus humano. (BOLLMANN, 2005). 24 A pesquisa de BOLLMANN (2005) apresentou os diferentes aspectos citomorfológicos para identificação do HPV (figura 4). Dentre os diversos sinais não clássicos, observou-se a presença de coilócitos abortivos (A), disceratose leve (B), paraceratose (C), hipercromasia nuclear (D), núcleo fusiforme (E), binucleação (F), células de sarampo (G), e grânulos semelhantes a querato-hialina (H) e dobramento citoplasmático (I). O esboço de coilócitos corresponde a presença de células superficiais ou intermediárias que possuíam até dois critérios das coilocitose clássica, sendo eles aumento nuclear, hipercromasia e halo perinuclear demarcado. É diferenciado do critério clássico devido a ausência de atipia nuclear e uma borda menos definida entre a cavidade central e o citoplasma periférico. A paraqueratose atípica é uma alteração nuclear associada a intensa coloração alaranjada do citoplasma. Apresenta células bastante queratinizadas com alteração citoplasmática na cor laranja e nucléos pequenos e picnóticos. Pode ser frequentemente diferenciada da sua forma clássica pelo tamanho e forma do núcleo. Há também a presença de macrócitos, células que são encontradas aumentadas e inchadas, onde o citoplasma se apresenta de forma muito fraca ou “vazia”, caracterizando então uma vacuolização citoplasmática. Os grânulos querato-hialinos, também chamados de células de sarampo, são agrupamentos com coloração eosinofílica ou basofílica, geralmente anucleados e condensados em grânulos. São encontrados principalmente ao redor do núcleo, assemelhando-se à uma fragmentação nuclear. A cond ensação de filamentos no citoplasma é caracterizada como fissuras ou aspecto de vidro quebrado e com coloração fraca. As células fusiformes referem-se aquelas que possuem o citoplasma alongado como uma fibra, podendo ser diferenciadas das similares encontradas pelo padrão da cromatina. A hipercromasia nuclear representa, como o próprio nome aponta, a presença de núcleo aumentado sem irregularidades com maior capacidade de coloração, seja na cromatina ou na membrana celular. 25 O halo perinuclear consiste na observação de uma área clara e nítido ao redor do núcleo, que perde detalhes do envelope nuclear e agrupa irregularmente a cromatina. A bi ou multinucleação corresponde ao achado de dois ou mais núcleos na mesma célula. Pode ser considerada uma alteração característica dos tipos de baixo risco, devido à síntese de DNA não programada por células diferenciadas que não conseguiram concluir a citocinese. O dobramento citoplasmático diz respeito aos filamentos encontrados no citoplasma que estão condensados e, consequentemente, diminuindo a coloração do restante, o que resulta numa aparência áspera e com vários vacúolos. Encontra-se a presença de células consideradas gigantes, com aumento citoplasmático e nuclear, circundados por halo que, aparentemente, separa os núcleos do citoplasma. E, por fim, a cariorrexe trata-se da cromatina condensada perifericamente, que irá permanecer agregadas mesmo após desaparecimento do limite nuclear. 26 5 RESULTADOS Com a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 11 artigos para análise, que possuem a perspectiva de sanar a pergunta norteadora citada anteriormente (Tabela 2). Assim, esse estudo tem como base revisar o assunto proposto, mantendo o mesmo dentro dos objetivos descritos pela pesquisa. Nos trabalhos pesquisados, foram encontrados os mais diversos tipos de sinais não clássicos, sendo os mais evidentes a bi ou multinucleação, hipercromasia nuclear, esboço de coilócitos e paraqueratose atípica. Tabela 2. Descrição dos artigos incluídos na pesquisa, com a temática voltada para a avaliação da presença dos sinais secundários. ANO AUTORES METODOLOGIA PRINCIPAIS RESULTADOS 2001 ROTELI- MARTINS et al. Um total de 138 biópsias colposcópicas de pacientes com exames de Papanicolaou anormais mostrando alterações sugestivas de HPV foram avaliadas. Bi e multinucleação e mitose anormais possuem poder significativo para identificar lesões positivas para HPV. Coilocitose e esboços de coilócitos também foram considerados critérios confiáveis. 2003 JORDÃO et al. Seleção de 65 casos positivos de captura híbrida para HPV e introdução dos critérios não clássicos. Entre os critérios citológicos mais observados estavam os não clássicos, sendo esses bi/multinucleação, halo perinuclear, paraqueratose atípica e núcleos hipercromáticos. 2005 BOLLMANN et al. Um total de 164 amostras de rotina com anormalidades citológicas sem sinais Sinais não clássicos melhoram a sensibilidade da citologia. Bi/multinucleação, 27 clássicos foram selecionadas. hipercromasia nuclear e paraqueratose atípica obtiveram os maiores valores de sensibilidade. 2007 PINTO et al. Avaliação de 263 casos de condilomas cervicais com possível infecção pelo Papilomavírus humano. As maiores prevalências encontradas foram para células reativas, grânulos de querato- hialina, bi/multinucleação, esboço de coilocitose e células metaplásicas. 2010 NIJHAWAN et al. Comparação entre os resultados do Papanicolau e da captura híbrida em 208 mulheres, visando validar os sinais não clássicos. Esboço de coilocitose, disceratose leve, hipercromasia nuclear,bi/multinucleação e grânulos de querato-hialinos se apresentaram com os melhores resultados quando comparados com o padrão-ouro. 2011 KASHYAP et al. Processamento de 3.000 esfregaços de Papanicolau, com diagnóstico para LSIL com infecção por HPV em 150 deles. As alterações não clássicas foram encontradas em 120 mulheres, destacando-se coilócitos abortivos, hipercromasia nuclear e núcleos excêntricos. 2013 SANA et al. Estudo de coorte com 569 amostras do colo de útero de mulheres entre 18 a 75 anos, visando identificação e tipagem de HPV. Os esfregaços demonstraram diversas alterações nucleares, entre elas anisocariose, cariomegalia, hipercromasia nuclear e bi/multinucleação. 28 2016 ETCHEBEHERE et al. Revisão dos esfregaços de 41 pacientes com resultado positivo para HPV e 40 pacientes HPV-negativos, buscando critérios secundários. Os critérios clássicos foram menos sensíveis quando comparados aos secundários. As características não clássicas mais encontradas foram bi/multinucleação, hipercromasia nuclear, halo perinuclear e esboço de coilócitos. 2018 JIN et al. Avaliação de 232 pacientes diagnosticados com NILM com base em 8 parâmetros citológicos. Maior prevalência de inflamação de fundo proeminente, citoplasma denso em células escamosas reativas, núcleos pcinóticos com hipercromasia leve e células bi/multinucleadas. 2021 SIVAKUMAR et al. O estudo incluiu 63 indivíduos, divididos entre casos de OL, OSCC e OPSCC com suspeita de infecção por HPV. Tanto para os casos positivos quanto os negativos, as características com maiores correlações significativas foram coilócitos abortivos, bi/multinucleação e paraqueratose. Fonte: Próprio autor (2022). A elaboração de instrumento de coleta de dados sobre o conhecimento e a identificação dos critérios não clássicos do HPV a partir da revisão da literatura permite analisar os estudos elaborados para a temática, além de mensurar o conhecimento geral sobre HPV, tal como sua associação com o câncer de colo de útero, suas principais características, os métodos de 29 detecção e seus principais achados citológicos. Estudos de conhecimento sobre os sinais secundários do Papilomavírus humano visam demonstrar que a sua utilização melhora a qualidade do diagnóstico, além de aumentar a sensibilidade do exame citológico. 30 6 DISCUSSÃO O Papilomavírus humano é um vírus oncogênico responsável por causar uma série de modificações no epitélio escamoso, que são identificadas com a análise citológica dos critérios clássicos e/ou secundários para a detecção da infecção. O diagnóstico do HPV é baseado em alterações morfológicas, principalmente relacionadas ao núcleo celular. Além disso, torna-se importante também avaliar o citoplasma e demais achados citológicos, uma vez que esses critérios ajudam a comparar e diferenciar as células neoplásicas das normais. Os estudos citados acima demonstraram alterações significativas, que podem passar despercebidas pela análise convencional. Os sinais não clássicos podem aparecer frequentemente na rotina de avaliação de infecção por HPV, mas não são unicamente exclusivos para essa condição patológica. Sendo assim, a maioria dos autores sugere que para considerar uma amostra como positiva para HPV, mediante apenas observação de não clássicos, deve-se constatar a presença de quatro ou mais dos mesmos. A pesquisa desenvolvida por ROTELI-MARTINS et al. (2001) em 138 testes com sugestão para HPV apresentou resultados satisfatórios quanto à avaliação das amostras para presença de sinais não clássicos. Os critérios bi/multinucleação, mitose anormal e células fusiformes demonstraram grande capacidade de diferenciar as lesões consideradas positivas das negativas. Entretanto, os autores desse artigo definem que outras atipias menores não poderiam ser usadas como base para o diagnóstico do HPV. O estudo realizado por BOLLMANN et al. (2005) em 164 amostras de rotina com anormalidades citológicas sem sinais clássicos para o Papilomavírus relatou prevalência de bi/multinucleação, seguido por macrócitos, grânulos de querato-hialina, disceratose leve e esboço de coilócitos. Os mesmos critérios apresentaram valores altos durante o teste de sensibilidade e de especificidade. Evidencia, então, que a avaliação com base nos sinais não clássicos poderia fornecer bons resultados durante a triagem primária. Esses fatos podem ser comprovados também nos estudos realizados por SIVAKUMAR et al. (2021), ETCHEBEHERE et al. (2016) e SANA et al. (2013), que confirmaram a melhoria na sensibilidade da citologia quando os sinais secundários estão sendo avaliados em conjunto com os clássicos, com presença significativa de coilócitos abortivos, aumento na quantidade de núcleos e paraqueratose. Além disso, atestaram o aumento da frequência dos casos positivos para infecção por HPV em grupos que, inicialmente, foram classificados como negativos. 31 PINTO et al. (2007) demonstrou que os principais elementos para diagnóstico por HPV foram muito pouco observados, mesmo após cuidadosa pesquisa. Assim, torna evidente que as características não clássicas foram mais observadas durante o estudo, principalmente células reativas, grânulos de querato-hialina, halo perinuclear, bi/multinucleação, coilocitose leve e células metaplásicas. Resultados parecidos também foram encontrados por JORDÃO et al. (2003), que aponta bi e multinucleação como o critério mais observado, encontrado em 39 dos casos avaliados, seguido por halo perinuclear (n = 37). NIJHAWAN et al. (2010) apontou as duas combinações mais comumente encontradas em seu estudo. A primeira consiste em uma associação com alta sensibilidade, mas especificidade moderada, incluindo esboço de coilócitos, hipercromasia nuclear e bi/multinucleação. O segundo arranjo também incluía os mesmos sinais, com a adição da disceratose leve, que aumentou a sensibilidade em aproximadamente 94% e manteve a especificidade em valores normais comparada com os demais critérios. Para os autores, essa perda da especificidade é aceitável, tendo em vista que é um protocolo de triagem realizado em ambientes com pouco recursos. Após avaliação de todos os estudos, tornou-se evidente que os critérios não clássicos estão significativamente presente nas amostras de HPV positivo, mas não são exclusivos para elas. Pode-se perceber que a maioria dos casos positivos passariam despercebidos se fossem avaliados somente os critérios considerados clássicos, uma vez que os sinais não clássicos apresentaram maior prevalência nas pesquisas. Além disso, outro fator considerado importante foi a divisão dos sinais em 4 grupamentos distintos: alterações nucleares discretas (bi/multinucleação e hipercromasia nuclear), distúrbios de queratinização (disceratose leve e paraqueratose atípica), grânulos querato-hialinos e halo perinuclear, e alterações degenerativas (macrócitos e condensação de filamentos). A implementação da citologia oncótica para triagem e detecção precoce das neoplasias tem reduzido significativamente a frequência da incidência e da mortalidade, principalmente em países subdesenvolvidos. Entretanto, a melhoria desse método de rastreamento se faz necessária devido ao alto potencial maligno do vírus para o desenvolvimento de cânceres e para esclarecer possíveis equívocos nos esfregaços cervicais. 32 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A infecção pelo Papilomavírus humano é considerada principalmente para o trato genital feminino, mas também existe uma incidência grande no público masculino, acometendo regiões como a pele e as mucosas. O diagnóstico do HPV está se tornando uma ferramenta importante no rastreamento do câncer de colo do útero. Os pacientes jovens sexualmente ativos com menos de 30 anos apresentam-secomo a maior estatística de infecção pelo vírus, sendo a maioria dos casos classificados de forma transitória; entretanto, muitas dessas infecções podem estar relacionadas ao câncer. Entre os achados mais associados ao vírus estão a bi ou multinucleação, a hipercromasia nuclear e paraqueratose, além de também ser encontrados coilócitos e disceratócitos. Embora apenas os métodos moleculares possam identificar o patógeno com segurança, a utilização dos parâmetros clássicos e secundários em esfregaços cervicais oriundos do Papanicolau permite uma suspeita e/ou identificação do vírus na população, principalmente em países subdesenvolvidos, onde os testes com DNA-HPV ainda representam um grande problema de aquisição e uso. Esse estudo permitiu a suposição de que a utilização dos sinais não clássicos, além dos clássicos, associados à infecção por HPV parece importante, levando em consideração os diversos genótipos que o vírus pode assumir, para permitir uma detecção melhor uma possível infecção, possibilitando um aumento na identificação de pacientes com a patologia, principalmente naqueles que antes foram diagnosticados como negativos. Ademais, pretende-se contribuir para a melhoria da quantidade de informações relacionadas aos critérios secundários durante a avaliação de uma possível infecção por Papilomavírus humano. Trabalhos como esses podem ser considerados de suma importância para o meio acadêmico e de pesquisa, visto que apresenta informações essenciais para estabelecer mais precisamente a importância da introdução dos sinais não clássicos para o diagnóstico positivo de HPV. 33 REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. G. et al. Update on human papilloma virus - Part II: complementary diagnosis, treatment and prophylaxis. Anais Brasileiros de Dermatologia, vol. 96, p. 125- 138, 2021. BOLLMANN, M. et al. Can we detect cervical human papillomavirus (HPV) infection by cytomorphology alone? Diagnostic value of non-classic cytological signs of HPV effect in minimally abnormal Pap tests. Cytophatology, vol. 16, p. 13-21, 2005. CRUM, C.P. Contemporary theories of cervical carcinogenesis: the virus, the host and the stem cell. Modern Pathology, v. 13, p. 243-251, 2001. ETCHEBEHERE, R. M. et al. 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