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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA FLÁVIA LEANDRA DE OLIVEIRA PEREIRA PREVALÊNCIA DE VULVOVAGINITES EM MULHERES GRÁVIDAS: PROTOCOLO REVISÃO DE ESCOPO NATAL/2022 FLÁVIA LEANDRA DE OLIVEIRA PEREIRA PREVALÊNCIA DE VULVOVAGINITES EM MULHERES GRÁVIDAS: PROTOCOLO REVISÃO DE ESCOPO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Orientadora: Profa. Dra. Deyse de Souza Dantas Co-orientadora: Msc. Ayane Cristine Alves Sarmento NATAL/2022 Pereira, Flávia Leandra de Oliveira. Prevalência de vulvovaginites em mulheres grávidas: protocolo revisão de escopo / Flávia Leandra de Oliveira Pereira. - 2022. 30f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Farmácia. Natal, RN, 2022. Orientadora: Dra. Deyse de Souza Dantas. Coorientadora: Msc. Ayane Cristine Alves Sarmento. 1. Vulvovaginites - TCC. 2. Grávidas - TCC. 3. Prevalência - TCC. I. Dantas, Deyse de Souza. II. Sarmento, Ayane Cristine Alves. III. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 618.16 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 FLÁVIA LEANDRA DE OLIVEIRA PEREIRA PREVALÊNCIA DE VULVOVAGINITES EM MULHERES GRÁVIDAS: PROTOCOLO REVISÃO DE ESCOPO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Farmácia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Aprovada em: 01/ 07/ 2022 BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Orientador: Profa. Dra. Deyse de Souza Dantas Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN ______________________________________ Membro: Dra. Emanuelly Bernardes de Oliveira da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN ______________________________________ Membro: Profa. Dra. Daliana Caldas Pessoa Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN AGRADECIMENTOS Dedico este trabalho, primeiramente à Deus, por me proporcionar concluí-lo e funcionar como alicerce nas horas de dificuldades me proporcionando segurança. Aos meus avós, Maria e José, que mesmo com pouco conhecimento, sempre me incentivaram e apoiaram durante esse percurso. Aos meus pais, por todo apoio, compreensão e por acreditarem que seria possível por meio da fé, esforço e dedicação. Aos meus irmãos, pelo incentivo, por acreditarem em minha competência e pelo apoio diante das dificuldades. Ao meu namorado, por me apoiar e fazer com que esse momento se torne mais tranquilo, me fazendo crer que ao final tudo daria certo. Aos meus sobrinhos, que me inspiram a ter esperança e fé. Aos amigos que adquiri durante a graduação, pois me permitiram tornar-me uma pessoa melhor, oferecendo apoio e compreensão. Aos docentes da Faculdade de Farmácia, por todo o conhecimento fornecido ao longo dos anos, pois estes são fundamentais para que sejam formados novos profissionais e favoreceram em especial minha formação. Aos preceptores de estágio, que contribuíram de forma significativa para minha formação. A minha co-orientadora, Ayane, pela ajuda durante o preparo deste trabalho. Por fim, a professora Deyse, por concordar em me orientar durante este trabalho, por me ajudar, incentivar e transmitir seus conhecimentos. RESUMO As vulvovaginites são infecções que acometem constantemente mulheres em idade reprodutiva, são causadas por agentes da microbiota devido a uma disbiose onde ocorre a alteração do pH da vagina, assim como outras características da região, favorecendo assim o aumento da concentração desses agentes e com isso resultando em sintomas como prurido, corrimento vaginal característico e ardor. Quando manifestas durante a gravidez essas infecções podem resultar em complicações como rompimento prematuro da placenta, crianças com baixo peso ao nascer, aborto e infertilidade. O objetivo deste trabalho é criar um protocolo que irá conduzir uma revisão de escopo, onde serão apresentadas a prevalência do acometimento de vulvovaginites em mulheres grávidas, por meio deste trabalho espera-se identificar fatores que possam estar associados ao surgimento dessas infecções durante a gravidez. A metodologia para preparação da revisão de escopo segue os padrões estabelecidos pelo Manual do instituto Joanna Briggs (JBI) para revisões de escopo. A pesquisa será realizada em várias bases de dados, os trabalhos utilizados serão selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, serão utilizados trabalhos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, realizados de 2011 até 2022. Os resultados serão relatados na íntegra por meio da revisão de escopo. O protocolo está registrado na plataforma Open Science Framework (OSF). Por meio desta revisão de escopo espera-se fornecer dados para que novas pesquisas sejam realizadas envolvendo esta temática, como também que o acometimento de vulvovaginites em mulheres grávidas esteja mais evidente. Palavras-Chave: Vulvovaginites; Grávidas; Prevalência. ABSTRACT Vulvovaginitis are infections that constantly affect women of reproductive age, are caused by agents of the microbiota due to a dysbiosis where the pH of the vagina changes, as well as other characteristics of the region, thus favoring the increase in the concentration of these agents and thus resulting in in symptoms such as itching, characteristic vaginal discharge and burning. When manifested during pregnancy, these infections can result in complications such as premature placental abruption, low birth weight children, miscarriage and infertility. The objective of this work is to create a protocol that will conduct a scope review, where the prevalence of vulvovaginitis in pregnant women will be presented, through this work it is expected to identify factors that may be associated with the emergence of these infections during pregnancy. The methodology for preparing the scope review follows the standards established by the Joanna Briggs Institute (JBI) Manual for scope reviews. The research will be carried out in several databases, the works used will be selected according to the inclusion and exclusion criteria, works published in Portuguese, English and Spanish, carried out from 2011 to 2022 will be used. The results will be reported in full through the scope review. The protocol is registered on the platform Open Science Framework (OSF). Through this scoping review, it is expected to provide data for further research to be carried out on this topic, as well as for the involvement of vulvovaginitis in pregnant women to be more evident. Key words: Vulvovaginitis; Pregnant; Prevalence. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Critérios de Amsel 12 Quadro 2 - Tratamento de Tricomoníase em grávidas 13 Quadro 3 - Tratamento de Candidíase Vulvovaginal na Gravidez 14 Quadro 4 - Critérios de inclusão para a Revisão de Escopo 16 Quadro 5 - Artigos selecionados 19 Quadro 6 - Fases da Revisão de Escopo 20 LISTA DE SIGLAS CVV Candidíase Vulvovaginal FEBRASGO Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia HIV Vírus da Imunodeficiência Humana ITR Infecção do Trato Reprodutivo JBI Instituto Joanna Briggs OMS Organização Mundial da Saúde OSF Open Science Framework PCDT - ISTs Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o tratamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis PCR Reação em Cadeia Polimerase SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 2.1 Microbiota vaginal 9 2.2 Gravidez 10 2.3 Principais infecções vaginais na gravidez 11 2.3.1 Vaginose Bacteriana 11 2.3.2 Tricomoníase 12 2.3.3 Candidíase 13 3OBJETIVOS 15 3.1 Objetivo geral 15 3.2 Objetivos específicos 15 4 METODOLOGIA 16 4.1 Estratégia de busca 16 4.2 Critérios de inclusão e exclusão 16 4.3 Seleção de estudos 17 4.4 Extração de dados 17 4.5 Análise e apresentação de dados 17 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 19 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 23 REFERÊNCIAS 24 8 1 INTRODUÇÃO As vulvovaginites são infecções que ocorrem rotineiramente na vagina, envolvendo tanto o canal vaginal quanto a vulva e são causadas por agentes comuns à microbiota vaginal devido ao desequilíbrio do pH desse ambiente ou outros fatores. Essas infecções podem ser assintomáticas ou apresentar sintomas como pruridos, ardor, rubor, presença de corrimento em excesso com alteração de cor desse corrimento (KAMGA; NGUNDE; ACOACHERE, 2019). Durante a puberdade, ocorre o início do desenvolvimento de folículos, esse processo estende-se por toda a idade reprodutiva da mulher finalizando-se no período de menopausa. Com o desenvolvimento dos folículos ocorre a produção de estrogênio que resulta no aumento da espessura do epitélio da vagina e aumento da produção de glicogênio intracelular, elevando a concentração de glicogênio na mucosa vaginal, esse glicogênio servirá de nutriente para os Lactobacilos que irão produzir ácido lático acidificando o pH da vagina (KALIA; SINGH; KAUR, 2020). Desta forma, os Lactobacilos exercem função de controladores de pH visto que atuam produzindo substâncias que irão favorecer a acidificação do pH vaginal e com isso controlar a colonização de outros agentes que podem causar infecções genitais em mulheres (KAMGA; NGUNDE; AKOACHERE, 2019). Porém, o aumento exacerbado de Lactobacilos também pode favorecer o surgimento de infecções (FEBRASGO, 2010). A gravidez ocorre justamente na idade reprodutiva da mulher, onde há um aumento da concentração de estrogênio e consequentemente aumento de glicogênio na mucosa, esse glicogênio também poderá servir de nutriente para alguns agentes. O aumento da concentração de estrogênio é a razão pela qual as vulvovaginites ocorrem com mais frequência em mulheres em idade reprodutiva. A presença de corrimento é uma das características mais importantes em infecções e pode acontecer por vários motivos, como, por exemplo, a eliminação excessiva de muco fisiológico ou pela presença de vaginite atrófica, que pode ocorrer em mulheres pós-menopausa, em mulheres que amamentam ou ainda durante tratamento oncológico (PCDT-ISTs, 2020). O corrimento vaginal alterado pode apresentar-se como Infecção do Trato Reprodutivo (ITR), nesta situação essas infecções serão caracterizadas em endógenas, como a candidíase vulvovaginal (CVV) e a vaginose bacteriana; iatrogênicas que são as infecções pós- aborto e pós-parto e infecções sexualmente transmissíveis como a tricomoniase (PCDT -ISTs, 2020). 9 2.1 Microbiota vaginal A microbiota vaginal é constituída por um conjunto de microrganismos que colonizam a região da vagina. Estes, por sua vez, constituem a primeira linha de defesa contra patógenos oportunistas e atuam por meio de um mecanismo de equilíbrio denominado eubiose. A microbiota vaginal de uma mulher saudável em idade reprodutiva possui lactobacilos que produzem ácido láctico em grande quantidade, conferindo um pH inferior a 4,5 sendo este o principal responsável pela proteção da mucosa vaginal contra a proliferação de patógenos (PETROVA et al., 2015). Os Lactobacilos são responsáveis pela produção de várias substâncias, além do ácido lático, que possuem ação antimicrobiana como as bacteriocinas e o peróxido de hidrogênio que conferem ação importante na defesa contra hospedeiros (KALIA; SINGH; KAUAR, 2020). A produção de ácido lático ocorre por meio da fermentação de carboidratos, sendo o glicogênio o principal carboidrato a ser fermentado por esses agentes, visto que sua abundância é notória no epitélio vaginal de mulheres em idade reprodutiva. A formação deste ambiente ácido irá conferir proteção contra agentes infecciosos que colonizam a microbiota e poderão desencadear uma infecção (KALIA; SINGH; KAUR, 2020). As bacteriocinas produzidas pelos Lactobacilos em especial os L. crispatus e L. gasseri são substâncias proteináceas que possuem atividade bactericida, sua ação ocorre por meio da permeação da membrana da célula do patógeno (STOYANCHEVA et al., 2014). Os Lactobacilos também realizam a síntese de peróxido de hidrogênio (H2O2) que também colabora para que ocorra o controle do pH da microbiota vaginal (KALIA; SINGH; KAUR, 2020). A concentração desses Lactobacilos na mucosa vaginal pode ser alterada por vários fatores como má higienização, que pode favorecer o aumento de Lactobacilos e com isso alterar o pH, uso indiscriminado de antibiótico, que pode contribuir para a modificação dessa microbiota resultando na menor concentração de favorecendo o crescimento de bactérias (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). A gravidez também pode favorecer o surgimento devido ao aumento na concentração de estrogênio, como também imunossupressão, uso de contraceptivos orais e o uso de substâncias que podem promover alergias como sabonetes, por exemplo (PCDT- ISTs, 2020). 10 2.2 Gravidez Durante a gravidez espera-se que haja um aumento na concentração de Lactobacilos e consequentemente redução na concentração desses agentes colonizadores para que esta ocorra de maneira saudável. A redução da concentração dos Lactobacilos poderá favorecer a proliferação de bactérias podendo ocasionar o surgimento de vaginoses e com isso acarretar problemas na gravidez. Desta forma, as mulheres grávidas não estão isentas de desenvolverem vulvovaginites, durante esse período há uma maior probabilidade, neste caso é necessária uma maior atenção, visto que essas infecções podem acarretar problemas durante a gravidez como partos prematuros, sendo está a principal consequência, como também abortos espontâneos, rompimento prematuro da placenta, doença pélvica, infertilidade e crianças com baixo peso ao nascer (KONADU; NGUNDE; AKOACHERE, 2019). O aumento da concentração de estrogênio em mulheres em idade reprodutiva também é a razão pela qual a candidíase manifesta-se com mais frequência em mulheres neste período (KONADU; NGUNDE; AKOACHERE, 2019, 2019). Com isso, a gravidez é um fator de risco para o desenvolvimento de candidíase, devido ao aumento da secreção de hormônios reprodutivos durante a gravidez, uma vez que uma maior concentração de estrogênio irá favorecer o acúmulo de glicogênio na vagina fornecendo, desta forma, nutriente para que esse agente se instale e possa multiplicar-se na região (ROBERTS et al., 2011). As informações acerca do desenvolvimento dessas infecções durante a gravidez ainda são escassas, geralmente antigas, dificultando a informação em relação aos fatos atuais, e desta forma os profissionais de saúde permanecem desatualizados em relação a como orientar às suas pacientes de forma adequada e assim prevenir o surgimento dessas infecções principalmente no período gestacional. Apesar de sua prevalência e possíveis desfechos esse tema é pouco pesquisado, isso nos mostra a importância da realização de estudos atualizados envolvendo essa temática tendo em vista que este é um problema de saúde pública que se manifesta em maiores concentrações em países em desenvolvimento, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) relatam cerca de 357 milhões de novos casos curáveis de infecção no trato genital feminino (KONADU; NGUNDE; AKOACHERE, 2019, 2019). Os estudos envolvendo essas infecções no período gestacional são de grande relevância, uma vez podem trazer desfechos negativos para a mãe e o feto, além disso, nessa população deve haver uma maior segurança no tratamento farmacológico. 11 2.3 Principais infecções vaginais na gravidez 2.3.1 Vaginose Bacteriana A Vaginose Bacteriana (VB) é uma infecção endógena caracterizada pela presença de corrimento vaginal e ocorre devido a um desequilíbrio da microbiota vaginal, na qual a redução dos Lactobacilos acidófilosfavorece o aumento de bactérias anaeróbias como a Prevotella sp, Mobiluncus sp e Gardnerella vaginalis (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). É a desordem do trato genital inferior mais frequente em mulheres em idade reprodutiva, tanto grávida como não grávidas (FEBRASGO, 2010). Durante a gravidez está associada a ruptura prematura das membranas, corioamnionite, prematuridade e endometrite pós-cesárea (PCDT - ISTs, 2020). Os fatores de risco que podem estar associados são vários, dentre eles a presença de corpos estranhos no canal vaginal, como tampões retidos, uso constante de duchas vaginais, uso de adereços sexuais, múltiplos parceiros ou troca recente de parceiro sexual podem favorecer o contato com microorganismos ou reduzir a concentração dos Lactobacilos que também pode estar associado ao uso de antibióticos de forma indiscriminada (FEBRASGO, 2010). A VB pode apresentar-se de forma assintomática, mas quando apresenta sintomas são caracterizados por corrimento branco-acinzentado acompanhado de odor fétido característico (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). A G. vaginalis produz aminoácidos que são quebrados pelas bactérias da VB formando aminas voláteis, a cadaverina e a putrescina, responsáveis pelo odor fétido que ocorre principalmente após o coito e menstruação, ocorrendo também a produção de corrimento perolado (PCDT - ISTs, 2020). O diagnóstico ocorre por meio dos critérios de Amsel ou microscopia com coloração de Gram, sendo este o padrão ouro para o diagnóstico (utiliza-se o sistema de Nugent), visto que a presença do agente Gardnerella vaginalis não é suficiente para que este diagnóstico seja estabelecido (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). O quadro 1 apresenta os critérios de Amsel. 12 Quadro 1 - Critérios de Amsel Corrimento Abundante, homogêneo, branco perolado, cremoso, pouco bolhoso, aderente a vagina. Microscopia (Bacterioscopia) Presença de célula-chave (clue-cells) em mais de 20% com ausência de lactobacilos na microscopia. pH vaginal Maior que 4,5 Teste das aminas (teste do cheiro) Positivo quando houver odor fétido antes ou após adição de KOH. Fonte: Campbell, Ferreira e Jordão (2017) O tratamento deve ser realizado em todas as grávidas sintomáticas, sendo o metronidazol a principal droga utilizada no tratamento de mulheres não grávidas. Sabe-se que essa droga atravessa a barreira placentária, entretanto, estudos mostram que seu risco de produzir efeito adverso é baixo, é excretada pelo leite materno em quantidades incapazes de causar dano ao lactente. Contudo, a recomendação é que o tratamento seja tópico até o primeiro trimestre de gravidez, a partir deste então faz-se o tratamento sistêmico (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). 2.3.2 Tricomoníase A tricomoníase é uma infecção do trato reprodutivo, transmissível por meio de relações sexuais, causada pelo Trichomonas vaginalis, um protozoário unicelular, flagelado, parasita do trato genital feminino que coloniza a vagina, mucosa endocervical e uretra (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). Essa é a infecção mais frequente em mulheres, apesar de ocorrer em homens. Caracteriza-se pela presença de corrimento vaginal intenso amarelo-esverdeado podendo apresentar-se acinzentado, bolhoso e espumoso com odor fétido semelhante a odor de peixe, pode surgir prurido como também dispareunia e sinusiorragia (FEBRASGO, 2010). O colo do útero apresenta microalterações no exame especular com aspecto de morango ou framboesa, o teste de Schiller apresenta aspecto onçóide ou tigróide (PCDT - ISTs, 2020). Em mulheres não grávidas não apresenta grandes complicações, apenas pode favorecer a infecção por outros agentes. No entanto, em mulheres grávidas não tratadas pode contribuir para a evolução da rotura prematura das membranas (MANN et al., 2010). 13 O diagnóstico é realizado por meio do exame a fresco com gota do conteúdo vaginal e soro fisiológico, onde é possível visualizar o parasito e grande quantidade de leucócitos. O pH apresenta-se entre 5,0 e 6,6. O teste das aminas pode apresentar-se positivo. A bacterioscopia também pode ser utilizada, como também a coloração de Gram que irá identificar parasito Gram negativo. A cultura do T. vaginalis e a biologia molecular (PCR) também podem ser utilizadas (FEBRASGO, 2010). As mulheres grávidas com tricomoníase devem ser tratadas com Metronidazol, uma vez que não há evidências acerca da toxicidade deste fármaco quando utilizado durante a gravidez (FEBRASGO, 2010). O quadro 2 mostra a posologia e doses utilizadas em mulheres grávidas. Quadro 2 - Tratamento de Tricomoníase em grávidas Droga Dose Posologia Metronidazol 2g VO, dose única Metronidazol 400mg VO, 12/12hs 7 dias Metronidazol 250g VO, 8/8hs 7 dias Fonte: Campbell, Ferreira e Jordão (2017) 2.3.3 Candidíase A candidíase vulvovaginal (CVV) é uma infecção do trato reprodutivo feminino, endógena, causada pelo fungo Candida sp, principalmente a espécie albicans, podendo ser causada por espécies não albicans, sendo a espécie C. glabrata a mais frequente seguida de outras espécies menos prevalentes C. krusei, C. tropicalis e C. parapsilosis. É um fungo comensal da microbiota vaginal e digestiva que está associada à inflamação da mucosa vaginal e vulvar (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). A candidíase não é considerada uma infecção sexualmente transmissível, surge após a menarca com pico entre os 30 e 40 anos. Espera-se que 75% das mulheres apresentem pelo menos um episódio durante a vida (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). Alguns fatores podem estar associados ao surgimento de candidíase tais como gravidez, obesidade, diabetes mellitus descompensado, uso de antibióticos e contraceptivos orais, uso de imunossupressores, hábitos alimentares e vestimentas inadequadas (PCDT - ISTs, 2020). 14 Durante a candidíase, alguns sinais e sintomas podem surgir, tais como prurido, ardência, corrimento grumoso e sem odor com placa aderida a parede vaginal, dispareunia, disúria, edema, eritema, fissuras, escoriações e lesões satélites causadas pelo ato de coçar (PCDT - ISTs, 2020). Entretanto, esses sinais e sintomas não são suficientes para o diagnóstico, pois podem ser oriundos de outras situações como dermatites, reações alérgicas, líquen escleroso, herpes genital primário (FEBRASGO, 2010). O diagnóstico é realizado por meio do exame a fresco do conteúdo vaginal com hidroxido de potassio 10% com finalidade de visualizar hifas e/ ou esporos (PCDT-ISTs, 2020). O pH menor que 4,5 também é observado, visto que esse agente se prolifera em pH ácido. A citologia vaginal utiliza coloração de Gram, Papanicolau, Giemsa ou Azul de Cresil. A cultura específica também auxilia no diagnóstico por meio de Ágar Sabouraud, Nickerson e swab do fórnice anterior (CAMPBELL; FERREIRA; JORDÃO, 2017). Durante a candidíase, o tratamento em grávidas consiste no uso de cremes vaginais de Nistatina ou Clotrimazol 1%, visto que neste período não é recomendado o uso de azóis orais, pois evidências mostram que altas doses de azóis podem estar associados a teratogenicidade, sendo classificadas como drogas de classe C (FEBRASGO, 2010). O quadro 3 mostra a posologia utilizada destes cremes vaginais em mulheres grávidas. Quadro 3 - Tratamento de Candidíase Vulvovaginal na Gravidez Droga Posologia Nistatina VV 1/dia por 14 dias Clotrimazol 1% VV 1/dia por 7 dias Fonte: Autora do trabalho (2022) 15 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral ● Escrever protocolo de Revisão de Escopo com o objetivo de identificar a prevalência de vulvovaginites em mulheres grávidas. 3.2 Objetivos específicos ● Realizar uma busca acerca das pesquisas realizadas envolvendo o tema prevalência de vulvovaginites em mulheres grávidas, nas principais bases de dados; ● Identificar a prevalência e ocorrências de vulvovaginites em mulheres grávidas; ● Investigar fatores que possam estar associados a prevalência dessas infecções durante a gravidez. 16 4 METODOLOGIA A metodologia compreende na escrita de protocolo para arealização de uma revisão de escopo que está sendo realizado conforme as diretrizes estabelecidas pelo instituto Joanna Briggs (PETERS et al., 2015) com o intuito de garantir transparência no processo de realização da revisão de escopo. 4.1 Estratégia de busca A estratégia de busca envolverá artigos e trabalhos de pesquisa realizados a partir de janeiro 2011 até abril de 2022, nos idiomas de português, inglês ou espanhol, disponíveis em bases de dados online, sendo estas PUBMED e Scientific Electronic Library Online (SCIELO), utilizando os termos de busca: “prevalence”; “vulvovaginitis” e “pregnant”. Os termos de busca serão adaptados conforme a necessidade para as plataformas de dados utilizando parâmetros semelhantes de modo que os conceitos prevalência, vulvovaginites e grávidas estejam associados. 4.2 Critérios de inclusão e exclusão Os trabalhos utilizados incluíram mulheres em idade reprodutiva, grávidas, que apresentavam quadro de vulvovaginite em qualquer período gestacional, sem restrições de etnia, cultura, grau de escolaridade, classe social ou crenças. Possuímos como conceito de interesse a prevalência do acometimento de vulvovaginites em mulheres grávidas, de modo que possamos identificar a ocorrência de vulvovaginites, como também fatores associados. A população de interesse não incluirá limitações geográficas, étnicas ou culturais permitindo assim, uma maior variação biológica. O quadro 4 especifica de forma detalhada os critérios utilizados para a realização da revisão de escopo. Quadro 4 - Critérios de inclusão para a revisão de escopo Pergunta a ser respondida População Conceito Contexto Resultados Qual a prevalência de vulvovaginites Mulheres em idade reprodutiva Prevalência do acometimento Grávidas que apresentam quadro de Promoção de uma gravidez mais segura e 17 em mulheres grávidas? grávidas que apresentam vulvovaginites. de vulvovaginites em mulheres grávidas. vulvovaginite em qualquer idade gestacional, situação socioeconômica , crenças, localização geográfica. redução dos índices de aborto espontâneos, natimorto, crianças com baixo peso ao nascer e partos prematuros. Fonte: Autora do trabalho (2022) Serão excluídos trabalhos que envolvam mulheres não grávidas, que não estejam em idade reprodutiva e não apresentem vulvovaginites. Trabalhos que não se adequam ao tema prevalência de vulvovaginites em mulheres grávidas também serão excluídos. 4.3 Seleção de estudos Após a busca de títulos os trabalhos selecionados serão lidos de forma íntegra por dois autores sendo selecionados os que estejam de acordo com os critérios estabelecidos de inclusão e exclusão. Os artigos que não se adequam aos critérios determinados serão por sua vez excluídos, assim como artigos em duplicata e irrelevantes ao tema. O texto completo das citações selecionadas será avaliado detalhadamente de acordo com os critérios de inclusão por dois revisores independentes. Os resultados serão relatados na íntegra na revisão de escopo final. 4.4 Extração de dados Os dados serão extraídos por meio de dois autores que seguiram um formulário piloto para extração de dados, onde serão extraídas as informações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa onde serão coletadas informações acerca do tipo de estudo realizado, afiliação dos autores, país ou países, idade, estado de saúde, status socioeconômico e raça/etnia, o objetivo do estudo e cenário de pesquisa, problema de saúde focal que está sendo monitorado, tipo de intervenção e natureza dos dados coletados dos participantes. 18 4.5 Análise e apresentação de dados Os dados extraídos serão analisados e apresentados em forma de tabela e por meio de resumo descritivo e narrativo de acordo com a questão levantada na revisão de escopo, onde serão apresentadas as evidências relacionadas a pergunta a que se fundamenta a revisão de escopo e características do estudo. Desta forma será demonstrado o cenário atual do acometimento de vulvovaginites em mulheres grávidas e identificadas lacunas por meio das análises comparativas. 19 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO O quadro 5 apresenta os trabalhos que foram utilizados para a realização da revisão, como também outras informações relacionadas à pesquisa. Quadro 5 - Artigos selecionados Ano Artigo Autores Base Objetivos 2020 Microbiota in vaginal health and pathogenesis of recurrent vulvovaginal infections: a critical review. Namarta Kalia;Jatinder Singh1 e Manpreet Kaur Pubmed Apresentar uma microbiota vaginal saudável e as razões que irão favorecer a patogênese. 2019 Prevalence of bacterial vaginosis and associated risk factors in pregnant women receiving antenatal care at the Kumba Health District (KHD), Cameroon. Yiewou Marguerithe Kamga, John Palle Ngunde e Jane-Francis KT Akoachere Pubmed Identificar a prevalência e os fatores de risco associados à vaginose bacteriana associados a mulheres grávidas. 2019 Prevalence of vulvovaginal candidiasis bacterial vaginosis and trichomoniasis in pregnant women attending antenatal clinics in the middle belt of Ghana. Dennis Gyasi Konadu1, Alex Owusu-Ofori, Zuwera Yidana , Farrid Boadu , Louisa Fatahiya Iddrisu , Dennis Adu-Gyasi , David Dosoo , Robert Lartey Awuley, Seth Owusu-Agyei and Kwaku Poku Asante Pubmed Verificar a prevalência de vulvovaginites em grávidas em um hospital em Gana. 20 2017 Manual de ginecologia da sociedade de ginecologia e obstetrícia de Brasília. Leonardo Martins Campbell, Renata Carlos Ferreira, Érika Vieira de Souza Jordão Fornecer uma padronização para os métodos de diagnóstico e tratamentos de vulvovaginites em mulheres não grávidas e grávidas. 2010 Manual de Orientação em trato genital inferior e colposcopia da FEBRASGO. Fornecer informações acerca das infecções mais frequentes. 2020 Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para a atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Fornecer informações atualizadas acerca do diagnóstico e tratamento de infecções do trato genital. Fonte: Autora do trabalho (2022) Após a preparação do protocolo, realizamos seu registro na plataforma Open Science Framework (OSF). O código de registro fornecido pela plataforma é 10.17605/OSF.IO/CAV59, o acesso está disponível por meio do seguinte link: https://osf.io/x54md. O quadro 6 apresenta as etapas de preparação do protocolo que está sendo realizado. Quadro 6 - Fases da Revisão de Escopo Fase Início Conclusão Pesquisa piloto para realização do protocolo e definição de estratégias 2 de outubro de 2021 6 de abril de 2022 Construção do protocolo de Revisão de Escopo 10 de outubro de 2021 1 de junho de 2022 https://osf.io/x54md 21 Registro do Protocolo no Open Science Framework 1 de junho de 2022 1 de junho de 2022 Seleção de Estudos - - Extração de dados - - Análise e Interpretação dos Resultados - - Fonte: Dados da Pesquisa A OMS e outros órgãos fornecem diretrizes para o manejo de infecções e reinfecções por esses agentes, entretanto os casos de reinfecções ainda são numerosos e isso pode estar relacionado a erros de diagnóstico como também ao tratamento inadequado. O diagnóstico deve ser conduzido pelos protocolos específicos para cada tipo de infecção para que isto ocorra de forma correta, sendo uma etapa muito importante principalmente quando envolve mulheres grávidas, tendo em vista os possíveis desfechos como também a necessidade de notificação das ocorrências. Kamga et al. (2019) afirmam que em países pobres as mulheres grávidas costumam ser rastreadas nas consultas pré-natais para ISTs, tais como Sífilis, HIV e VB. Todavia, quando essas mulheres apresentam um corrimento vaginal, geralmente são tratadas para candidíase vaginal sem a realização prévia de exames laboratoriais. Condutas como essas resultam em tratamentos inadequados visto que pode está submetendo a mulher a um tratamento que ela não precisa ou realizando o tratamento de forma ineficaz. Ainda segundo o estudo realizado por Kamga et al. (2019) mulheres de zonarural com baixa escolaridade estão mais vulneráveis a desenvolver VB, isso nos mostra que o grau de instrução da mulher está associado de forma significativa às ocorrências. Alguns estudos mostram ainda que mulheres em primeira gestação apresentaram mais casos de infecções em comparação a mulheres multigestas, isso evidência a importância da orientação em saúde, visto que mulheres que já estiveram grávidas receberam orientação profissional em outros momentos. Entretanto, Guzel et al. (2011) relatam que mulheres multigestas foram mais expostas sexualmente e isso contribui para o surgimento de CVV. A notificação dos casos é outro fator significativo, uma vez que permitirá que os órgãos de interesse possuam acesso aos dados de ocorrência. Desta forma será possível que a gravidez ocorra de forma mais saudável e segura. O manual de ginecologia da sociedade de ginecologia e obstetrícia brasileira, assim como o PCDT- ISTs apresentam os métodos necessários para um diagnóstico correto e desta 22 forma que forneça um tratamento seguro e eficiente. O capítulo que aborda o tema ainda traz o esquema de tratamento para mulheres grávidas específico para cada infecção, entretanto observamos que principalmente em regiões onde há poucos recursos e acesso a esses testes não há um diagnóstico preciso e com isso o tratamento é realizado de forma inadequada (KAMGA et al., 2019). 23 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da preparação deste protocolo de revisão de escopo, foi possível observar que existem diretrizes acerca do diagnóstico de vulvovaginites em mulheres grávidas e não grávidas, assim como condutas padronizadas para a realização do tratamento. Todavia, observamos que essas condutas não costumam ser seguidas em todos os serviços de saúde e isso favorece ao surgimento de complicações oriundas de diagnósticos equivocados e tratamento inadequado. Percebemos a importância de orientar as mulheres grávidas, principalmente em populações de poucas condições socioeconômicas a fim de reduzir complicações na gravidez em decorrência de vulvovaginites. Observamos que o acometimento dessas infecções durante a gravidez ocorre com frequência, entretanto não é sempre que são notificadas, diagnosticadas e tratadas. Essa ausência de notificação dos casos também interfere na quantificação real de ocorrências, tendo em vista que não é sempre que a infecção é realmente identificada, sendo assim, tratada de forma inadequada. A ausência de diagnóstico correto está associada ao tratamento inadequado, resultando em consequências para a gravidez que podem incluir abortos, rompimento prematuro da placenta, crianças com baixo peso ao nascer e infertilidade. 24 REFERÊNCIAS GUZEL, Ahmet Barış et al. An evaluation of risk factors in pregnant women with Candida vaginitis and the diagnostic value of simultaneous vaginal and rectal sampling. Mycopathologia, v. 172, n. 1, p. 25-36, 2011. Disponível em: https://idp.springer.com/authorize/casa?redirect_uri=https://link.springer.com/article/10.1007/ s11046-011-9392-z&casa_token=YhoHxpj3j0oAAAAA:Eivn2YytMrGIOrFpxVZrQC8TkBi 0sACmB4Maxw3pHZEW9jYBl1cIoB1JRqiZef1HzmCNAUMmfaysh519Pw. Acesso em: 06 jun. 2022. KALIA, Namarta; SINGH, Jatinder; KAUR, Manpreet. Microbiota in vaginal health and pathogenesis of recurrent vulvovaginal infections: a critical review. Annals of clinical microbiology and antimicrobials, v. 19, n. 1, p. 1-19, 2020. 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