Buscar

ProgramaNacionalAcesso-CostaNeto-2016

Prévia do material em texto

2 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
 
 
 
Agenor Florencio Costa Neto 
 
 
 
 
 
 
O PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E EMPREGO 
(PRONATEC) E AS DEMANDAS DO CAPITAL PARA A CLASSE 
TRABALHADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2016 
3 
 
 
 
AGENOR FLORENCIO COSTA NETO 
 
 
 
 
 
O PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E EMPREGO 
(PRONATEC) E AS DEMANDAS DO CAPITAL PARA A CLASSE 
TRABALHADORA 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em 
Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte como parte dos requisitos para a obtenção do título 
de Mestre em Ciências Sociais. 
 
Orientador Prof. Dr. Lincoln Moraes de Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2016 
4 
 
 
 
AGENOR FLORENCIO COSTA NETO 
 
 
O PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E EMPREGO 
(PRONATEC) E AS DEMANDAS DO CAPITAL PARA A CLASSE 
TRABALHADORA 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em 
Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte como parte dos requisitos para a obtenção do título 
de Mestre em Ciências Sociais. 
 
 
 
 
 
Aprovada em __________de____. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 
 
____________________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Lincoln Moraes de Souza (Orientador) 
 
 
 
 
____________________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Cesar Sanson 
 
 
 
 
____________________________________________________________________________ 
Prof. Dra. Márcia da Silva Pereira Castro 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras 
e Artes - CCHLA 
 
 Costa Neto, Agenor Florencio. 
 O programa nacional de acesso ao ensino técnico e 
emprego (PRONATEC) e as demandas do capital para a 
classe trabalhadora / Agenor Florencio Costa Neto. - 
2016. 
 81f.: il. 
 
 Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e 
Artes. Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais. 
 Orientador: Prof. Dr. Lincoln Moraes de Souza. 
 
 
 1. Ensino técnico - Aspectos sociais. 2. Avaliação de 
Políticas Públicas. 3. Trabalho. 4. Capitalismo e 
educação. I. Souza, Lincoln Moraes de. II. Título. 
 
RN/UF/BS-CCHLA 
CDU 377 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A melhor maneira que a gente tem de fazer 
possível amanhã alguma coisa que não é possível 
de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode 
ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje pode 
ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje 
também não pude fazer”. Paulo Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao meu orientador, Prof. Dr. Lincoln Moraes de Souza, por suas grandes contribuições 
durante a construção da pesquisa e por sua paciência e dedicação aos orientandos. Espero um 
dia contribuir para a construção de um pensamento crítico e de um projeto de sociedade como 
ele vem fazendo ao longo de sua trajetória pessoal. 
À Jeferson e Otânio por sua excelência profissional, o que permite um melhor percurso 
para todos estudantes e professores do programa. 
Aos professores doutores Ana Patrícia (pré-qualificação e qualificação) Cesar Sanson 
(qualificação) e Márcia Castro (defesa), pela leitura criteriosa do trabalho, que resultou em 
sugestões bibliográficas e contribuições metodológicas valiosas. 
Aos colegas de mestrado (Jimmy Carter, Joanna Marques e Ramiro Teixeira) e o colega 
de orientação Lauro Carvalho que além de compartilhar juntos os desafios da academia, foram 
responsáveis por contribuir nas disciplinas, principalmente na pré-qualificação e nas reuniões, 
na construção desse trabalho. Também agradeço muito a colega Any Kadidija Melo pelas 
palavras de incentivo e por sempre proporcionar um ambiente de pesquisa e aprendizado 
prazeroso. 
À minha família, amigos e companheiros de lutas pela paciência durante todo o processo 
de escrita. Foram meses de idas e vindas, mas a compreensão deles foi fundamental para o meu 
amadurecimento pessoal. 
À minha companheira Juliana por sempre me ajudar nesse processo de construção do 
conhecimento. 
 
8 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como principal objetivo analisar Programa Nacional de Acesso ao 
Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) na modalidade FIC, e a formação que este programa 
oferece para classe trabalhadora brasileira. Para isso, foi necessário a compreensão das 
mudanças ocorridas em relação ao papel do Estado e dos processos de implementação de 
políticas públicas voltadas para a qualificação da força de trabalho utilizando a avaliação de 
processo. Desta forma, tentemos responder a seguinte questão: Qual o papel do PRONATEC- 
FIC no processo de educação e qualificação da força de trabalho no Brasil? Tal questionamento 
foi formulado ao levar em consideração se a qualificação de jovens e adultos é, de fato, um dos 
principais objetivos do programa. Porém, isso não se apresenta como uma garantia de fato para 
a classe trabalhadora tendo em vista que apenas a qualificação não garante empregabilidade e 
melhoria na condição de vida dos trabalhadores. Além desse aspecto, a própria formação 
oferecida se apresenta de maneira aligeirada e ligada a trabalhos precarizado. Para isso, 
utilizamos as contribuições de Poulantzas, Clauss Offe e O’Connor sobre o papel do Estado na 
sociedade capitalista, as contribuições de Karl Marx e diversas análises influenciadas na sua 
proposta de sociedade sobre a categoria trabalho, além da caracterização e identificação do 
PRONATEC nas bases legais do Estado brasileiro. 
 
PALAVRAS CHAVE: PRONATEC. Avaliação de Políticas Públicas. Estado capitalista. 
Trabalho. 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
The main objective of this study is to analyze the National Program of Access to Technical 
Education and Employment (PRONATEC) in the FIC modality, and the training that this 
program offers to the Brazilian working class. For this, it was necessary to understand the 
changes that have occurred in relation to the role of the State and the processes of 
implementation of public policies aimed at the qualification of the workforce using process 
evaluation. In this way, let us try to answer the following question: What is the role of 
PRONATEC-FIC in the process of education and qualification of the workforce in Brazil? Such 
questioning was formulated when taking into account whether the qualification of young people 
and adults is, in fact, one of the main objectives of the program. However, this does not present 
itself as a de facto guarantee for the working class, since only the qualification does not 
guarantee employability and improvement in the workers' living conditions. In addition to this 
aspect, the training offered itself is presented in a lightened way and linked to precarious work. 
For this, we use the contributions of Poulantzas, Clauss Offe and O'Connor on the role of the 
State in capitalist society, the contributions of Karl Marx and various analyzes influenced in its 
proposal of society on the labor category, besides the characterization and identification of 
PRONATEC In the legal bases of the Brazilian State. 
 
KEYWORDS : PRONATEC . Public Policy Evaluation. Capitalist State . Job. 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
BM – Banco Mundial 
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 
CEFET - Centros de Ensino Tecnológico 
EJA – Educação de Jovens e Adultos 
FHC – Fernando Henrique Cardoso 
FIC – FormaçãoInicial Continuada 
FIES – Financiamento Estudantil 
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo 
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação 
FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização 
do Magistério 
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
LDB – Lei de Diretrizes Base 
MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação 
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior 
MEC – Ministério da Educação 
MF – Ministério da Fazenda 
MET – Ministério do Trabalho e Emprego 
MPOG – Ministério Planejamento, Orçamento e Gestão 
ONG – Organizações Não Governamentais 
OIT - Organização Internacional do Trabalho 
PEA – População Economicamente Ativa 
PLANFOR - Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador 
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
PIMPO- Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra 
PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica 
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos 
ProJovem - Programa Nacional de Inclusão de Jovens 
Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego 
PT- Partido dos Trabalhadores 
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
11 
 
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 
SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural 
SESI – Serviço Social da Indústria 
SEST - Serviço Social do Transporte 
SENAT - Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
SUMÁRIO 
1- INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13 
2- POLÍTICAS PÚBLICAS, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO ...... 19 
2.1- Compreendendo o papel do Estado............................................................................19 
2.2- Relacionando Estado e Políticas Públicas....................................................................23 
2.3. Análise do PRONATEC e avaliação de processo...........................................................27 
3- TRABALHO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL ........................... 32 
3.1- Sobre a formação da força de trabalho no Brasil.........................................................41 
4- PERFIL DO PRONATEC………………………………………………..53 
4.1- Planfor e PNQ: Programas de Qualificação Profissional nos governos FHC e LULA.....54 
4.2- O PRONATEC e a qualificação da classe trabalhadora..................................................56 
4.3- O marco Legal do PRONATEC........................................................................................57 
4.4- O PRONATEC e a gestão pública no espaço privado.....................................................60 
4.5- Alterações no FAT, Seguro Desemprego e Abono salarial............................................64 
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 66 
6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 71 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
1- INTRODUÇÃO 
 
No Brasil, os anos de 1990 foram marcados por diversas mudanças no papel 
desempenhado pelo Estado que resultaram na reorganização de suas funções por meio de uma 
série de reformas de cunho neoliberal que procurou adaptar suas políticas públicas para 
princípios de ordem gerencial. 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, 
contribuiu para que as políticas educacionais fossem adequadas às necessidades do modo de 
produção capitalista. A partir daí diversas ações no processo de organização da qualificação da 
força de trabalho no país foram criadas. Então, desde 1996 foram instituídas diversas 
ações/iniciativas voltadas para as populações da classe trabalhadora com o objetivo de oferecer 
cursos de qualificação para que pudessem facilitar a inserção no mercado de trabalho. 
O Plano Nacional de Qualificação dos Trabalhadores (PLANFOR), nesse sentido, serve 
como exemplo desse processo de investimento do Banco Mundial em políticas públicas que 
pudessem subordinar a formação oferecida em instituições de ensino e centros de qualificação 
profissional e favorecer instituições de ensino privado com a bolsa formação através de recursos 
públicos. 
O sistema “S” volta aos debates do dia e se torna uma fonte de capitação de recursos 
públicos e procura oferecer para o trabalhador uma formação aligeirada, geralmente 
desvinculada da elevação da escolaridade e, com isso, atua para a consolidação de um modelo 
de formação profissional unilateral e que não contribui para que os trabalhadores possuam uma 
garantia de empregabilidade após o período de qualificação já que um dos fatores que 
condiciona isto é o investimento em políticas públicas que fomentem a oferta de emprego e não 
apenas na qualificação da força de trabalho. 
A saber, fazem parte do Sistema S: o Serviço Social do Comércio (SESC), Serviço 
Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC); o Serviço Nacional de Aprendizagem 
Industrial (SENAI), Serviço Social da Indústria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem 
Rural – SENAR; Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT); Serviço Social 
do Transporte (SEST); Serviço Social do Cooperativismo (SESCOOP); e) Serviço Brasileiro 
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Agência de Promoção de Exportações 
(APEX); Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) (BRASIL, 2009b). 
É nessa conjuntura de mudanças e reorganização das políticas públicas de emprego e 
políticas educacionais aos moldes da ideologia neoliberal que surge em 2011 Programa 
14 
 
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) na modalidade Formação 
Inicial Continuada (FIC), que tem dentro de seu leque de objetivos diversas iniciativas, a saber: 
i) Programa Brasil Alfabetizado; ii) Acordo de gratuidade com os serviços nacionais de 
aprendizagem; iii) Rede E-TecBrasil e o iv) bolsa formação. 
Com isso, o programa propõe, oficialmente, diferentes estratégias de financiar a 
qualificação profissional através de bolsas de estudos denominadas bolsa-formação para o 
custeio de matrículas nas modalidades integrada, concomitante ou subsequente ao ensino 
médio, além de cursos de formação inicial e continuada, na modalidade presencial e à distância. 
Instituições de ensino superior e privadas são autorizadas para fornecer a qualificação 
profissional que o programa oferece. 
 Nesse sentido, o primeiro mandato do governo Dilma Rousseff estabeleceu a meta de 
ofertar milhares de vagas em cursos de educação profissional argumentando que tal medida iria 
contribuir diretamente para aumentar a qualificação da força de trabalho brasileira, assim como 
colaborar para a superação da condição de subdesenvolvimento do Brasil. 
A argumentação desenvolvida pela presidenta é facilmente questionável, pois a pobreza, 
a baixa escolaridade e desemprego não explicam a condição de subdesenvolvimento ou atraso 
e dependência que o país se encontra. O principal problema reside na condição subalterna que 
o Brasil desempenha frente aos demais países além das recentes mudanças desencadeadas no 
modo de produção capitalista a partir, também, da disseminação da ideologia neoliberal em 
meados da década de 1970. 
Além disso, o processo de qualificação aligeirada que é oferecido não garante para o 
trabalhador condições adequadas de trabalho, mas os condiciona a situações precárias de 
trabalho com perdas significativas de direitos, direcionamento para o trabalho informal e a 
consequente burocratização dos sindicatos, este último, um instrumento de luta histórico que 
garante proteção aos interesses de cunho trabalhistas. 
É nesse cenário, oferta de cursos de qualificação profissional através do PRONATEC e 
perda substancial de direitos e garantias trabalhistas, que a presente dissertação se insere. De 
um lado, os trabalhadores são incitados a buscaremnovas oportunidades de qualificação e, de 
outro lado, percebemos um fomento ao crescimento de vagas oferecidas para a qualificação 
profissional através do PRONATEC contribuindo para o desenvolvimento de um mercado de 
formação profissional. 
Tal conjuntura nos oferece condições para justificar um dos objetivos desta pesquisa, 
pois acreditamos ser fundamental construir uma argumentação que seja divergente e seja 
15 
 
contrária à opinião hegemonicamente dominante de que a qualificação profissional abre portas 
ou é a base para o sucesso pessoal e, com isso, seja a força motriz para o desenvolvimento de 
uma sociedade que valorize e reconheça os méritos pessoais como amplamente se divulga nos 
discursos do PRONATEC. 
Essa atribuição individual de sucesso ou fracasso aos problemas de ordem social falseia 
a realidade e se apresentam para os trabalhadores que fazem uso do programa para se 
qualificarem como uma situação na qual estão sendo criadas de fato oportunidades e igualdades 
de acesso a empregos por meio dos diversos cursos oferecidos no programa. 
Além disso, o discurso de que apenas os profissionais mais aptos e que vencem a 
concorrência entre si é amplamente divulgado contribuindo para a legitimação dessa 
concorrência entre os próprios trabalhadores e seu processo de perca da conscientização 
enquanto classe dominada que precisa se organizar e lutar pela ampliação dos poucos direitos 
existentes frente às investidas da classe dominante no modo de produção capitalista. 
Podemos perceber que esse discurso contribui significativamente para desobrigar o 
Estado de assegurar emprego para os trabalhadores qualificados ao atribuir o fato de obterem 
êxito ou não na busca pelo emprego, a “igualdade de oportunidades” oferecidos pelo mercado. 
Assim, qualquer insucesso na busca pelo emprego ou inserção precária no mercado de trabalho 
seria atribuído à suposta incapacidade do trabalhador e não às desvantagens estruturais que 
fazem parte da própria condição de existência do modo de produção vigente. 
O referencial teórico metodológico que orienta o processo investigativo da presente 
pesquisa procura estabelecer um diálogo geral com o materialismo histórico dialético ao 
compreender que as políticas públicas voltadas para a qualificação da classe trabalhadora são 
direcionadas para valorizar os interesses do modo de produção capitalista dentro do âmbito da 
ideologia neoliberal que procura, dentre diversas prerrogativas, favorecer o mercado em 
detrimento das condições de trabalho dos trabalhadores de um modo geral, assim como, a 
negação ou o processo de retirada paulatina de direitos. Tais apontamentos servem para se 
posicionar de maneira oposta à ideia difundida de que basta apenas o trabalhador estar 
qualificado para a garantia de emprego no país. 
Para isso, também é significativo mencionar a contribuição das leituras coletivas e dos 
debates realizados sobre avaliação de políticas públicas realizadas pelos membros do Grupo 
Interdisciplinar de Estudos e Avaliação de Políticas Públicas (GIAPP) da Universidade Federal 
16 
 
do Rio Grande do Norte (UFRN) para o desenvolvimento das principais abordagens teóricas 
aqui mencionadas. 
Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa é analisar e avaliar de que maneira o Estado 
brasileiro através da implementação de políticas públicas voltadas para a formação profissional 
procura com o PRONATEC qualificar a classe trabalhadora. A este objetivo geral vincula-se 
os seguintes objetivos: 
a) Analisar quais fatores contribuíram para o surgimento do PRONATEC dentro do 
processo de reorganização das políticas públicas de qualificação profissional no 
país; 
b) Compreender quais princípios contribuem para a fundamentação das políticas 
públicas de qualificação profissional no país; 
Para conseguir resultados qualitativos com os objetivos mencionados anteriormente 
empreendeu-se nesse trabalho a análise documental de materiais que serviram de base para a 
estrutura do trabalho. 
Diante dessas observações, lançamos inicialmente o seguinte problema de pesquisa: 
Qual o papel do PRONATEC- FIC no processo de educação e qualificação da força de trabalho 
no Brasil? 
Respondemos que o PRONATEC-FIC, em termos gerais, contribui para que jovens e 
adultos sejam qualificados em cursos que atendem as demandas do capital com trabalho mas 
continuam com trabalhos cada vez mais desprovidos de direitos, mal remunerados e com 
condições de trabalho cada vez mais precárias. 
Assim, argumentamos que a inserção do PRONATEC-FIC, em termos gerais, procura 
influenciar no processo de reorganização da acumulação de capital e, com isso, legitimar a 
exploração da força de trabalho brasileira. 
Para chegar a essa reflexão utilizamos como base o importante trabalho realizada pela 
pesquisadora Danilma de Medeiros da Silva (2015) onde, ao fazer uma avaliação política 
programa, procurou mostrar quais objetivos e valores fundam o PRONATEC e, 
consequentemente, contribui para legitimar o Estado capitalista. Assim, a ideologia, os 
objetivos e teorias que fundamentam o programa na reprodução do modo capitalista de 
produção. 
17 
 
Em relação a estrutura do texto, o mesmo está organizado em três capítulos, além desta 
parte introdutória e suas considerações finais. O primeiro capítulo procura estabelecer relações 
entre políticas públicas e o como o Estado procura implementa-las. Nesse período da presente 
pesquisa é realizada uma contextualização sobre a mudança realizada pelo Estado no que se 
refere as políticas públicas através da avaliação de processo. 
É nesse cenário, oferta de cursos de qualificação profissional através do PRONATEC 
e retirada substancial de direitos e garantias trabalhistas, que a presente tese se insere. De um 
lado, os trabalhadores são incitados a buscarem novas oportunidades de qualificação e, de outro 
lado, percebemos um fomento ao crescimento de vagas oferecidas para a qualificação 
profissional através do PRONATEC contribuindo para o desenvolvimento de um mercado de 
formação profissional. 
Na sequência, foi construído um capítulo específico para abordar a questão do trabalho 
e da qualificação profissional no seu sentido geral. Nesse momento, é apresentada a 
compreensão no qual se acredita ser pertinente para a compreensão da categoria trabalho, as 
principais redefinições e “arranjos” do modo de produção capitalista frente ao processo de 
reestruturação produtiva e acumulação flexível. 
Assim, argumentamos que nesse capítulo apresenta importantes ferramentas para 
compreender as políticas de emprego e qualificação profissional do PRONATEC enquanto um 
reflexo da ideologia neoliberal que além de submeterem os trabalhadores a condições de vida 
degradantes responsabilizam os mesmos quando conseguem obter, ou não, empregos através 
da (não) qualificação de sua força de trabalho mesmo quando constatamos a existência de 
políticas educacionais que são implementadas, em escala mundial e nacional, para a formação 
e inserção no mercado de trabalho. 
Na sequência, um capítulo denominado “Fatores que levaram a implementação do 
PRONATEC” procura relacionar as discussões realizadas nos capítulos que o antecedem. 
Assim, foi necessário mencionar as mudanças que ocorreram entre o Planfor e a conjuntura 
política econômica do período em que o programa esteve em vigência assim como a situação 
do país na criação do PRONATEC. 
Nesse sentido, ficou compreendido que os dois Programas, ao vincularem, oficialmente, 
a possibilidade de emprego à melhor qualificação, procuram falsear para a classe trabalhadora 
a realidade maior da economia na sociedade capitalista pois procuram aplicar, cada programa 
18 
 
ao seu modo, as políticas neoliberais em alta até os dias atuais: diminuição de postos de trabalho 
formais, retração de direitos, responsabilização individual de problemas sociais, terceirização, 
burocratização de importantes frentes sindicaise perca da coletividade entre membros de uma 
mesma organização sindical. A principal intenção foi identificar a relação público-privado no 
PRONATEC, seu marco legal e quais consequências foram transmitidas diretamente para a 
classe trabalhadora brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
2- POLÍTICAS PÚBLICAS, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO 
 
Levando em consideração que o objetivo central desta tese é realizar uma avaliação de 
processo em políticas públicas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego 
(PRONATEC) na modalidade Formação Inicial Continuada (FIC), faz-se necessário iniciar 
situando qual o recorte teórico escolhido na área das políticas públicas. 
Nesse sentido, pretende-se apresentar as abordagens mais significativas para a condução 
da pesquisa assim como analisar quais relações os estudos sobre políticas públicas procuram 
estabelecer com o papel de atuação do Estado frente às tomadas de decisões no seu sentido mais 
amplo, uma vez que a ação estatal apresenta diversas demandas no seu âmbito de atuação. 
Estado que historicamente apresentou uma atuação importante na sociedade na condição de 
agente econômico e nunca esteve ausente dos principais encaminhamentos da sociedade. 
A saber, o tipo de enfoque que o pesquisador em política pública adota para entender 
como vai estabelecer suas ações é fundamental para entender as relações entre Estado e 
sociedade assim como é de suma importância para entender os resultados que pretende obter. 
A escolha não é simplesmente metodológica e, de maneira alguma, neutra. A escolha dar-se 
levando em consideração as características específicas de uma postura ideológica que 
certamente o pesquisador conduzirá durante todo o seu trabalho. 
Nessa perspectiva, o modelo de análise baseado no enfoque marxista se torna central 
para explicar as relações existentes entre a sociedade e o Estado capitalista ao levar em 
consideração que este agente se torna um importante meio para a manutenção da sociedade 
baseada em relações de produção que asseguram a acumulação de capital através de 
mecanismos ideológicos que mantém a manutenção das relações entre classes sociais na qual a 
classe trabalhadora é dominada pelos interesses da burguesia. 
 
2.1- Compreendendo o papel do Estado 
 
Concordamos com Brunhoff (1991) ao argumentar que o Estado jamais foi ausente em 
relação as políticas públicas, pois desde o processo de acumulação primitiva do capital, o Estado 
já procurava intervir na delimitação da jornada de trabalho e na generalização de algumas 
regras. Para se ter uma ideia, já no século XVI a presença da ação estatal procurava proibir altos 
salários, controlar a moeda mesmo sem a existência de um banco central além de intervir na 
20 
 
limitação da jornada de trabalho. No final do século XIX, já existiam vínculos entre o tesouro 
imperial dos banqueiros e mercadores na expansão colonial na construção de ferrovias no 
Estados Unidos. Nesse mesmo período encontramos no governo de Bismark na Alemanha 
indícios de proteção social. 
Souza (2010), ao procurar classificar as tipologias de políticas públicas nos mostra de 
maneira organizada que a expressão política social foi criada também no final do século XIX, 
mas é através da associação com a luta por direitos sociais e a prática da cidadania que começa 
a tecer comentários e estabelecer parâmetros de análise sobre a política social. 
Na ocasião, a educação primária pública é considerada o primeiro passo para os direitos 
sociais da cidadania no século XX. Além disso, o Estado de Bem-Estar Social exerce importante 
influência na organização da sociedade ao incluir seguro social na construção de casas e procura 
dar um sentido mais amplo à política social ao vincular tal conceito a situações em que era 
necessário elevar a qualidade de vida dos cidadãos intervindo na economia de mercado. 
Após esse período que ficou conhecido como capitalismo concorrencial surge um 
diferente padrão de funcionamento público da econômica capitalista e apenas no início dos anos 
de 1930 com a teoria keynesiana que vai legitimando a política de emprego procurando garantir 
auxílio aos desempregados e, ainda nesse período, a política econômica, nos termos de Brunhoff 
(1985), ganhou forma de organização global numa perspectiva classista materializando sua 
dominação. 
De acordo com Brunhoff (1985), até o período que antecede a década de 1930 já 
existiam ações econômicas com a ação do Estado, mas não apresentava características 
semelhantes a política econômica, pois esta surge apenas como a crise de 1929 quando o New 
Deal estadunidense procura adotar medidas monetárias que regulassem as relações de trabalho 
inclusive envolvendo o sindicato materializando uma estratégia que visasse a dominação 
classista. 
A autora ainda afirma que o Estado procurava concentrar suas atividades nas duas 
principais estratégias de organização e legitimação da sociedade capitalista: a mercadoria e a 
força de trabalho, pois o trabalho assalariado e o controle contra o desemprego era fundamental 
para manter os interesses do próprio Estado em um período de recessão econômica no qual a 
jornada de trabalho, o controle sobre o salário mínimo, o seguro desemprego, a seguridade 
21 
 
social e a sindicalização operária surgem como demandas centrais para a organização da 
sociedade em questão. 
A fundamentação teórica que dava sentido a tal ‘arranjo’ econômico o, keynesianismo, 
também procurava intervir teoricamente na maneira em que o Estado direcionava sua política 
econômica para a moeda. Mais uma vez Brunhoff (1991) argumenta que a atuação do Estado 
frente a circulação da moeda contribui diretamente para a acumulação de capital. 
Ora, o comportamento do capital financeiro tem uma relação direta com capital 
produtivo e após a década de 1930, o Estado passou a ser responsável pela regulação do 
mercado através da emissão da sua própria moeda fixando regras e limites frente ao próprio 
Banco Central. 
É preciso mencionar ainda que as estratégias da regulamentação estatal sobre o mercado 
de trabalho dentro da política de emprego também são medidas que procuravam regulamentar 
a jornada de trabalho, o salário-mínimo, a sindicalização operária além dos gastos com 
seguridade social. 
Assim, no período entre guerras, as ideias de Keynes passaram a ser predominantes e 
contribuíram para a legitimação da ação direta do Estado uma vez que deixa de ser encarado 
com um agente passivo e parasitário da esfera privada e sua política econômica se apresenta 
como um atributo naturalizado na figura do Estado. Em suma, a intervenção econômica deixa 
de ser compreendida com visas ao domínio do mercado e passa a ser compreendida apenas no 
que se refere a reforma econômica no sentido do papel do Estado. 
Após 1930, o Estado procura construir um novo tipo de financiamento público da 
economia capitalista no qual o fundo público passa a ser compreendido no pressuposto de que 
acumulação de capital e a reprodução da força de trabalho via gastos sociais atingindo 
diretamente a população através da saúde, educação, seguridade social e previdência. 
Nesse sentido, o Estado basicamente teria deixado de ser apenas o comitê geral da 
burguesia e passou a estabelecer uma relação de condensação das lutas de classes e através do 
New Deal ocorre outro processo de regulação do fundo público e, diferente de antes, quando o 
financiamento era pontual. De acordo com Souza (2009), com o Estado-providência, o 
financiamento público torna-se insubstituível na expansão da economia, adquirindo um caráter 
abrangente, estável e com regras acordadas entre os grupos sociais políticos mais importantes. 
22 
 
No tocante a reprodução da força de trabalho, o fundo público se apresenta como central 
no debate envolvendo os gastos públicos ligados às despesas sociais (saúde, educação, moradia, 
mobilidade e pensões, por exemplo)compreendidas igualmente como salários indiretos. 
As transformações que fizeram parte do conjunto da sociedade e, particularmente, da 
estrutura econômica nesse contexto passaram a determinar diferentes tipos de atividades do 
Estado que procurou dentro da esfera pública desenvolver ações importantes direcionadas ao 
processo de acumulação de capital. 
Para compreender esse movimento de reorganização da esfera pública torna-se 
necessário analisar cada desdobramento em particular para que se possamos entender suas 
principais características em um sentido mais amplo na estrutura geral. As fronteiras entre o 
público-privado e, respectivamente, as políticas públicas do Estado passam por constantes 
mudanças envolvendo os interesses do mercado. 
A nuvem obscura existente entre o público-privado proporciona um erro comum: 
confundir constantemente o financiamento público com estatização e intervenção estatal. 
Então, o fundo público representa um importante agente estrutural para o modo de produção 
capitalista e não representa uma ação isolada. 
O que ocorre, ressalta Souza (2009), uma disputa dos fundos públicos entre a reprodução 
do capital e o financiamento de bens e serviços sociais públicos e, para reforçar sua linha de 
análise, lembra que apesar das políticas thatcherista e reaganiana, o keynesianismo em um 
sentido mais amplo continuou sendo exemplificado com políticas de caráter monetário e fiscal. 
Diante do exposto, podemos afirmar que após a década de 1930 e a II Guerra Mundial, 
ocorreu uma maior relação entre o Estado e a esfera pública na qual as políticas governamentais 
assumiram parcialmente outro caráter. 
Para Poulantzas, analisar o Estado capitalista significa estabelecer relações com a luta 
de classes, fator determinante para a divisão social do trabalho. Assim, a política se caracteriza 
como resultados de uma condensação de forças de uma sociedade baseada na luta de classes. 
Em síntese, o Estado pode ser compreendido como 
[...] diria que o Estado, no caso capitalista, não deve ser considerado 
como uma entidade intrínseca mas, como aliás é o caso do capital, como uma 
relação, mais exatamente como a condensação material de uma relação de 
23 
 
forças entre classes e frações de classes, tal como ele expressa, de maneira 
sempre especifica, no seio do Estado (POULANTZAS, 1980, p, 130). 
 
 2.2- Relacionando Estado e Políticas Públicas 
 
O crescimento de estudos e pesquisas avançadas dentro do âmbito das políticas públicas 
é resultado das ações do Estado frentes às mudanças ocorridas principalmente na segunda 
metade do século XX, com o definhamento do Welfare States no momento em que o papel do 
Estado passa a ser novamente questionado. Com isso, a função e a eficácia do que Jobert e 
Muller (1987) denominam Estado em ação passam a ser estudadas dentro do sucesso e do 
fracasso da chamada administração pública. 
Levando em consideração as contribuições de Faria (2003) podemos perceber que, no 
início, as políticas públicas partiam de pressupostos voltados para a análise dos outputs do 
sistema político, o que justificava o fato de a atenção dos investigadores serem direcionadas 
apenas para demandas e articulações de interesses específicos. Assim, antes que a avaliação de 
políticas públicas se legitimasse enquanto área de pesquisa vinculada a ciência política os 
estudos eram direcionados para os processos de formação de políticas públicas. 
Nos Estados Unidos, Frey (2000) argumenta que diversas pesquisas em políticas 
públicas começaram a ganhar força no início da década de 1950, através da nomenclatura policy 
science, e, por outro lado, apenas na década de 1970 surge na Europa a preocupação com 
campos específicos de políticas públicas. 
No Brasil, a ênfase das pesquisas em políticas públicas é recente e suas análises recaiam 
sobre as estruturas e instituições dentro de políticas setoriais específicas e teve uma 
considerável expansão nas décadas de 1980 e 1990 quando as avaliações em políticas públicas 
foram postas a serviço da reforma do Estado. 
Nas últimas décadas o estudo em políticas públicas vem sendo ampliado gradativamente 
e o debate em torno do papel do Estado nos oferece subsídios para entender a introdução de 
diversos programas sociais que fazem parte das estratégias do Estado brasileiro. Dentre as 
estratégias desenvolvidas para pensar o Estado capitalista a contribuição de O’Connor (1977) 
é fundamental para pensarmos em uma associação com as políticas públicas: a de acumulação 
e de legitimação. 
24 
 
Por acumulação compreende-se as estratégias utilizadas para criar condições de 
desenvolvimento e favorecimento do setor privado. Investir em demandas sociais seria 
importante para oferecer projetos e serviços que ajudariam a ampliar a produtividade da força 
de trabalho além de subdividir em bens e serviços que os trabalhadores poderiam consumir de 
maneira coletiva juntamente com o seguro social que poderia respaldar os trabalhadores em 
situações de incerteza econômica. 
Sobre a função de legitimação, o Estado deveria criar estratégias ou manter as devidas 
condições da harmonia social que seriam basicamente o investimento em programas de 
assistência social que também ajudassem os desempregados além do aumento com gastos 
militares. 
Refletindo ainda sobre o Estado capitalista, Offe (1984) procura analisar a correlação 
de forças para implementação de políticas públicas e após o definhamento do keynesianismo 
as ações do Estado passam a ser direcionadas para os interesses do mercado. Offe, nesse sentido, 
compreende o Estado enquanto uma categoria relacional que cria as condições necessárias para 
viabilizar as relações de troca que se integram com o interesse do acúmulo de capital. 
Levando em conta tal perspectiva, vários estudos problematizam o papel do Estado na 
sociedade capitalista e, partindo dessa constatação, argumentam que a política pública, 
enquanto uma instituição estatal, desempenha um papel influente nessa estrutura social. 
Poulantzas (1980) argumenta que para compreender o Estado capitalista é necessário relacioná-
lo com a luta de classes, fato que o coloca como principal organizador da divisão social do 
trabalho e, consequentemente, como fomentador das relações de exploração e precarização da 
vida dos trabalhadores de um modo geral. 
Assim, Poulantzas afirma que 
O aparelho de Estado, essa coisa de especial e por consequência temível, não 
se esgota no poder do Estado. Mas a dominação política está ela própria 
inscrita na materialidade institucional do Estado (...) nem todas as ações do 
Estado se reduzem à dominação política, mas nem por isso são 
constitutivamente menos marcadas (POULANTZAS, 1980, p. 12). 
 A passagem acima reitera que as ações estatais são indispensáveis à manutenção do 
sistema capitalista pois o Estado tem um papel fundamental na consolidação do projeto de 
25 
 
desenvolvimento e organização de uma sociedade baseada em classes sociais, pois o seu 
domínio político não se limita ao uso da força, à repressão ou à violência. 
Se referindo ao poder público, Poulantzas compreende-o enquanto um campo relacional 
que se dá a partir da organização do poder de uma classe e a posição de classe na conjuntura 
capaz de legitimar seus interesses políticos levando em consideração a posição que sua classe 
ocupa em relação às outras. Ora, se o Estado é o lugar de organização estratégica da classe 
dominante ao se comparar com as classes dominadas, o Estado pode ser compreendido como 
uma instância central que exerce o poder de dominação. 
Tomando como base essa reflexão Poulantzas (1977, p154. argumenta que 
O Estado não é uma simples relação, mas a condensação material de uma 
relação de forças: ele possui uma ossatura específica que implica igualmente, 
para alguns de seus aparelhos, a exclusão da presença física e direta das 
massas populares em seu seio. 
 Ainda como camporelacional de exercício do poder, o Estado atua através de políticas 
sociais que emergem subsidiados pelas funções econômicas e político-ideológicas envolvendo 
a questão social. É no desenvolvimento dessa relação que a função de acumulação e legitimação 
se materializam. 
Se, por exemplo, no capitalismo concorrencial as principais tarefas do Estado consistiam 
em arranjar o espaço-social da acumulação de capital, no capitalismo monopolista, o Estado 
passa a ampliar sua intervenção por diversos ramos de atuação no qual sua principal 
demonstração de atuação acontece na qualificação da força de trabalho. 
É partindo desse ponto relacional existente entre o Estado capitalista e as diversas 
estratégias de qualificação da força de trabalho que pretendemos estudar qual tipo de 
qualificação a população brasileira vêm tendo acesso através do Programa Nacional de Acesso 
ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), na modalidade Formação Inicial Continuada 
(FIC). 
Nossa análise se sustenta sobre a dimensão político-ideológica em que, no campo 
estratégico da luta de classes, o Programa se apresenta como uma das estratégias de 
consentimento das classes dominadas, assegurando a manutenção das relações de produção e 
da divisão social do trabalho com o objetivo de garantir, a longo prazo, a dominação da classe 
dominante. 
26 
 
Nesse sentido, Poulantzas (1980) afirma que em relação às classes dominantes e suas 
frações o Estado desempenha as funções de organizar e unificar interesses políticos de longos 
prazos, sob a direção das frações do bloco que estão no poder. É importante argumentar que o 
bloco de poder não corresponde a um bloco monólito, sem contradições ou brechas, mas ao 
contrário organizando-se como uma unidade conflitual de interesses, inserindo de maneira 
subordinada, a classes dominada na materialidade institucional do Estado. 
Poulantzas (1980, 161) compreende a organização do Estado capitalista da seguinte 
forma: “os aparelhos de Estado organizam-unificam o bloco no poder ao desorganizar-dividir 
continuamente as classes dominadas, polarizando-as para o bloco no poder e ao curto-circuitar 
suas organizações políticas específicas”. 
A relação entre Estado e classe dominante, juntamente com suas frações, fundamenta, 
as relações entre Estado e classe e suas frações, ainda que de maneira subordinada, a 
materialidade do Estado através da estrutura jurídica e burocrática em divisões internas que 
levam a aparelhagem; no estabelecimento da política de Estado ao incorporar as fissuras e 
contradições que o constitui; na autonomia relativa, que contribui por meio do jogo de 
compromissos provisórios e variáveis que ajudam a organizar o bloco de poder hegemônico. 
Em suma, para Poulantzas (1980, 153) “o Estado (...) não organiza a unidade do bloco 
político no poder desde o exterior, (...) ao contrário, é o jogo dessas contradições na 
materialidade do Estado que torna possível, por mais paradoxal que possa parecer, a função de 
organização do Estado”. 
Tais medidas respondem ao jogo de compromissos que são em sua essência variáveis e, 
ao mesmo tempo, contraditórios entre o bloco de poder e determinada fração da classe 
dominada, de acordo com correlações de força específicas. É nessa perspectiva que, 
acreditamos, se organiza o PRONATEC na modalidade FIC, pois procura mascarar a falta real 
de acesso ao trabalho e realiza, através de cursos aligeirados e unilateralizados, a manutenção 
da lógica produtivista, garantindo apenas a reprodução ampliada do capital, por meio de um 
sistema de qualificação que direciona os trabalhadores para a superexploração do trabalho 
precário. 
Outro importante aspecto da política de Estado que podemos tomar como base a 
contribuição de Poulantzas (1977), e acreditamos manter uma analogia direta com o 
PRONATEC-FIC, é o que ele compreende por conjunto de medidas pontuais e compensatórias 
27 
 
faces a situação momentânea que visa garantir a manutenção do padrão de acumulação, 
mascarando o direito alienável ao trabalho, ampliando, desse modo, a dominação do capital 
sobre o trabalho: através da neutralização da luta de classes sob o discurso de colaboração, 
empregabilidade e desenvolvimento; pela superxploração do trabalho nos moldes do 
capitalismo e na expropriação do valor-trabalho que gera lucro para as classes dominantes do 
capitalismo mundializado. 
Ademais, o Estado capitalista, procura ampliar a reprodução do capital tanto através das 
relações sociais, no campo político-ideológico, quanto no que se refere ao modo de produção 
material da existência dentro do campo econômico. Esse processo de transformação social 
contribui, ainda que de maneira implícita, para o estabelecimento de duas funções: acumulação 
e legitimação. 
Para uma melhor compreensão desse processo de acumulação e legitimação, optamos 
pela avaliação de processo uma vez que procura entender a implementação do Programa já 
mencionado durante a sua execução focando também no seu desempenho. Nesse sentido, 
Holister (1972) argumenta que a avaliação que ocorre durante a execução do programa é uma 
avaliação de processo, pois consiste basicamente no monitoramento das funções e atividades 
administrativas, da contabilidade, e das transações financeiras de um programa. 
 
2.3. Análise do PRONATEC e avaliação de processo. 
 
Figueiredo e Figueiredo (1986, p.112-113), sem elencar critérios específicos para 
elencar os tipos de avaliação, afirmam que a avaliação que ocorre durante o seu processo de 
execução tem como principal objetivo atribuir definições dentro do que chamam de “eficácia”, 
ou seja, trata-se de “acompanhar e aferir se os propósitos, estratégias e execução do programa 
estão sendo realizados segundo as definições previamente estabelecidas”. 
 Os autores ainda procuram argumentar que dentro do que compreendem no âmbito da 
avaliação de processo, é possível elencar três linhas de interpretação que se distinguem umas 
das outras: a avaliação de metas (o mais difundido nas pesquisas), avaliação de meios (com três 
critérios estabelecidos referentes à eficácia: funcional, contábil e administrativa) e avaliação da 
relação custo-benefício e custo-eficiência. 
28 
 
 Para Worthen (1997), a avaliação que ocorre durante a execução de um programa pode 
ser classificada como avaliação formativa e tem como principal objetivo atribuir mérito ou 
atribuir um valor que busque melhorar o funcionamento de um determinado programa durante 
a execução. 
Assim, esse tipo de avaliação possui um papel específico no processo de implementação 
e desenvolvimento de um determinado programa pois procura orientar os principais 
encaminhamentos sobre o seu funcionamento. 
 Por outro lado, Weiss (1998) procura argumentar sobre alguns critérios que podem ser 
adotados durante a execução de um programa: a avaliação de processo e a avaliação formativa. 
No tocante ao primeiro critério, a pesquisadora argumenta que os avaliadores ao concentrar 
seus estudos nos aspectos do desenvolvimento do programa estão realizando uma avaliação de 
processo, pois essa característica do processo avaliativo tem como objetivo realizar 
levantamentos para compreender até que ponto o programa está seguindo a prática prescrita em 
seus documentos oficiais. 
 Já no critério referente a avaliação formativa, Weiss argumenta que esse tipo de 
avaliação foi pioneiramente utilizado para avaliar aspectos relacionados ao desenvolvimento de 
programas curriculares, procurando estabelecer como principal objetivo o levantamento de 
informações necessárias que visassem a melhoria do programa durante sua execução. 
 Após explicitar os dois tipos de avaliação, Weiss (1998), procura estabelecer uma 
correlação entre elas afirmando que a avaliação de processo é assim denominada por se 
relacionar com os aspectos que ainda precisam serem avaliados e, a avaliação formativa é 
chamada dessa maneira pois procura se relacionar com afinalidade ou com o uso de 
informações dentro do processo de implementação e desenvolvimento de um determinado 
programa. 
 Podemos perceber que a associação feita entre o papel da avaliação, o momento em que 
se avalia e o aspecto do programa que será avaliado, se apresenta como a causa para que parte 
da avaliação formativa e a avaliação de processo sejam comumente compreendidos dentro de 
um mesmo objetivo. 
 Tendo em vista que ambas definições ocorrem durante a execução de um programa, 
Weiss (1998) afirma que o pesquisador (o avaliador), ao procurar realizar a avaliação de 
29 
 
processo de implementação de um programa, pode utilizar da avaliação formativa, pois também 
procura melhorar o programa dentro do seu processo de implementação e desenvolvimento. 
 Contribuindo para o debate sobre a avaliação de processo, Viedma (1996) afirma que as 
avaliações podem ser classificadas a partir do momento em que são realizadas e procura 
estabelecer relações com os elementos internos relacionados diretamente ao funcionamento de 
um determinado programa. 
Nesse sentido, a avaliação que ocorre durante a execução de um projeto é denominada 
de avaliação de processo, pois consiste basicamente em monitorar tudo o que foi feito e tudo o 
que ainda precisa ser feito durante o desenvolvimento do projeto proposto pelo programa antes 
da sua implementação. 
Para Briones (1998) existem diversos tipos de avaliação que se diferenciam de acordo 
com os critérios que são previamente estabelecidos. O autor, ao estabelecer os tipos de avaliação 
não procura especificar quais critérios foram utilizados, mas é possível compreender que os 
tipos de avaliação apontados por ele mantêm uma relação direta com o momento que se avalia 
durante o processo de execução do programa. A avaliação de processo, a avaliação formativa, 
a avaliação de objetos internos e a avaliação contínua são seus tipos de avaliação. 
A avaliação contínua e a formativa podem ser consideradas semelhantes em sua 
essência, segundo Briones (1998), pois têm como foco de interesse o processo de 
funcionamento do programa e seu principal objetivo é melhorar o desenvolvimento do 
programa através de um processo que permita a retroalimentação, ou seja, melhorar o processo 
de instrução de um programa assim como as ferramentas metodológicas que são desenvolvidas 
para avaliá-lo. 
Já a avaliação de processo, Briones (1998) argumenta que a mesma pode funcionar em 
dois momentos de maneira distinta: o processo de manutenção e o processo de mudança e 
inovação. Em suma, esse tipo de avaliação procura verificar o funcionamento e outros aspectos 
de um determinado programa visando a manutenção dos fatores positivos e as possibilidades 
de inovação que podem surgir durante a execução. 
Na avaliação de objetos internos, o autor afirma que esse tipo de avaliação é destinado 
a verificar o êxito e alguns objetivos traçados durante o processo de implementação do 
programa assim como a relação que é estabelecida com a organização do programa, a utilização 
30 
 
dos recursos e a qualidade dos agentes que procuram instruir as prerrogativas centrais do 
programa. 
Considerando as definições realizadas por Briones (1998) e relacionando-se com os 
critérios mencionados anteriormente, pode-se argumentar que a avaliação de processo e 
avaliação de objetivos se relacionam com o momento em que se avalia e são assim classificados 
devido aos aspectos que são objetivos da avaliação e, por outro lado, a avaliação formativa é 
assim denominada pois, se relaciona com o momento em que se avalia e, consequentemente, 
com o propósito elencado. 
Após a definição e argumentação de diversas compreensões sobre a denominada 
avaliação de processo e suas diversas definições em torno desse tipo de avaliação, pode-se 
deduzir que as compreensões conceituais propostas por Holister (1972), Worthen (1997), Weiss 
(1999) e Viedma (1996), são de alguma maneira equivalentes, pois apresentam como fio 
condutor o interesse pela análise do processo de execução e funcionamento do programa na 
perspectiva de poder sempre desenvolver estratégias que possa trazer a melhoria para o 
programa. É fundamental ressaltar que as possíveis divergências que foram abordadas entre os 
autores se refere a maneira como cada um deles procura tratar o tema do que propriamente as 
questões de ordem conceitual. 
Mas, após essas diversas classificações da avaliação de processo como o presente 
trabalho procura compreender esse método de avaliação para a condução da pesquisa. Para uma 
melhor caracterização e esclarecimento do fio condutor da avaliação de processo as 
contribuições de Aguilar e Ander- Egg (1995), embora recorram a critérios já esboçados 
anteriormente, argumentam que a avaliação de processo independente da nomenclatura que se 
é atribuída procura avaliar as mudanças situacionais ou seja, refletir até que ponto o serviço 
oferecido pelo programa estudado está ocorrido de acordo com a proposta inicial. 
Para isso, os autores mencionados utilizam quatro subtipos com o objetivo de classificar 
a avaliação de processo: 1) a avaliação da implementação avalia os aspectos técnicos da 
implementação, ou seja, se o programa está sendo aplicado corretamente através da análise dos 
instrumentos que foram programados; 2) A avaliação cobertura verifica até que ponto o 
programa está alcançando a população a qual ele é destinado; 3) a avaliação de rendimento 
pessoal, que tem como principal objetivo aferir a capacidade e competência do indivíduo 
escolhido para desempenhar determinadas atividades que lhe foi incumbida no programa; 4) 
31 
 
avaliação do ambiente organizacional, que busca focar principalmente nos aspectos estruturais 
dos organismos responsáveis pela programa. 
Por outro lado, a contribuição de Faria (1998) sobre a avaliação de processo procura 
argumentar que tem como principal objetivo 
[...] acompanhar, observar e testar o desempenho do programa para aprimorá-
lo. Este acompanhamento inclui o diagnóstico, das eventuais falhas dos 
instrumentos, procedimentos conteúdos e métodos, bem como adequação do 
público-alvo e do impacto do programa, aumentando sua adequação aos seus 
objetivos e metas. 
Se Faria compreende a avaliação de processo (avaliação da eficácia ou avaliação 
formativa) dessa forma, Cohen e Franco (1999) elencam critérios diferentes do momento em 
que se avalia para estabelecer determinados tipos de avaliação com o objetivo de detectar as 
dificuldades que ocorrem no processo de implementação do programa. 
De uma maneira geral, podemos perceber que a principal tarefa da avaliação de processo 
é verificar o desempenho da implementação de um determinado programa com a finalidade 
básica de auxiliar a tomada de decisão e reorganizar eventuais desvios que possam surgir 
durante o processo de execução, assegurando que os principais objetivos e metas traçados sejam 
alcançados ao término do programa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
3- TRABALHO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL 
 
Em pleno século XXI, no apogeu do desenvolvimento tecnológico, do acesso a 
informação e da mundialização do modo de produção capitalista por todo o planeta, fica 
evidente a impossibilidade do modo de produção capitalista solucionar os problemas sociais 
mais básicos que surgem ciclicamente. Como percebemos cotidianamente, as desigualdades, as 
injustiças e a degradação das condições de vida dos mais oprimidos aumentam gradativamente. 
Nessa mesma perspectiva, as condições de trabalho em todo o mundo estão sendo 
reconfiguradas para situações ainda mais precárias que são análogas a períodos em que a 
escravidão era a principal força que movia a categoria trabalho. O trabalho, a saber, sempre foi 
compreendido como uma das mais importantes categorias para tentar explicar a base da 
existência humana e, consequentemente, a maneira como os seres humanos vem conduzindo e 
sendo conduzidos pela sociedade atéa atualidade. 
 
O trabalho, na sua essência e generalidade, não é atividade laborativa ou 
emprego em que o homem desempenha e que, de retorno, exerce uma 
influência sobre a sua psique, o seu habitus e o seu pensamento, isto é, sobre 
esferas parciais do ser humano. O trabalho é um processo que permeia todo o 
ser humano que no trabalho algo de essencial acontece para o homem e o seu 
ser, que descobriu a intima, necessária conexão entre os problemas “o que é 
trabalho” e “quem é o homem”, pode também iniciar a investigação científica 
do trabalho em todas as suas formas e manifestações (e, portanto, também a 
investigação da realidade humana em todas as suas formas e manifestações. 
Se o trabalho é ação ou processo no qual alguma coisa ocorre ao homem e ao 
seu ser, é natural que o interesse filosófico se concentre na elucidação do 
caráter deste “processo” e “ação”, no descobrimento do segredo desta “alguma 
coisa” (KOSIK, 1976, p. 198-199). 
 
Como sabemos, a emergência da ordem burguesa ocorre em meados do século XVI e, 
levando em consideração que a duração do período da manufatura se deu até o segundo quarto 
do século XVIII, existiam duas bases centrais de cooperação da atividade trabalho: a complexa 
e a simples. 
O trabalho era compreendido como uma atividade relativamente livre, pois os seres 
humanos tinham tempo e espaço para desempenharem o seu ofício e se realizar enquanto sujeito 
33 
 
social, ou seja, os seres humanos tinham condições pretendia trazer, por mínima que seja, 
liberdade e discernimento para fazer e pensar sobre as atividades que desenvolviam. 
No entanto, a ordem burguesa em constante ascensão social, política e econômica 
procurou, modificar o modo como os seres humanos produziam a mercadoria e passa a 
configurar o trabalho para uma atividade produtiva no qual deixa de ser livre e passa a ser um 
importante instrumento de acumulação de riquezas e degradação das condições de vida das 
pessoas resultando na proletarização. De acordo com Karl Marx (1984, p. 488). “[...] 
circunstâncias externas logo levam o capitalista a utilizar de maneira diferente a concentração 
de trabalhadores no mesmo local de trabalho e a simultaneidade dos seus trabalhos”. Assim, o 
trabalho passa a ser adaptado para atender demandas de mercado com o objetivo de aumentar 
o lucro e o capital. 
Nessa linha de raciocínio, podemos considerar que o artesão, por exemplo, vai perdendo 
paulatinamente a capacidade de realizar o seu ofício e, com isso, supomos que também perde 
capacidade intelectivas. Ora, isso é constatado ao perceber que a mercadoria se torna 
manufatura e a atividade para aumentar a produção das mercadorias é fracionada através da 
divisão social do trabalho uma vez que o ofício se torna especializado e, com isso, ocorre 
aceleração da produção, a aceleração do tempo de trabalho e supressão do espaço entre a 
produção das partes para aumentar a oferta das mercadorias e, consequentemente, os patamares 
de acumulação de capital. 
 Foi principalmente no surgimento da era moderna que vários pensadores associaram às 
mudanças sociais que vinham ocorrendo durante os séculos XVIII, XIX e XX a maneira como 
o trabalho foi se transformando em fonte de conflitos, valores e/ou solidariedade. 
 Karl Marx foi um dos principais pensadores sociais que procurou se debruçar sobre a 
problemática das mudanças que ocorriam no processo de transição do modo de produção feudal 
para o modo capitalista de produção argumentando que as mudanças ocorridas nas relações de 
trabalho tinham implicações não só no modo de vida que os sujeitos levavam cotidianamente, 
mas também em toda a existência humana. 
De acordo com Marx, durante o período manufatureiro, o aperfeiçoamento e a 
diversificação das ferramentas, proporcionaram condições concretas para o desenvolvimento 
da maquinaria no interior da manufatura. O conhecimento que antes estava configurado na 
capacidade intelectual do sujeito passa a ser encontrado na máquina resultando em um 
conhecimento socialmente produzido para beneficiar um grupo restrito que detém, dentre 
outros instrumentos de dominação, o poder econômico. 
34 
 
Quanto maior o desenvolvimento do processo de industrialização, maior é a necessidade 
da utilização do conhecimento especializado para desenvolver a maquinaria e, 
consequentemente, a apropriação do capital para aumentar a produção, os patamares de 
acumulação e alienação do trabalhador frente a atividade que desempenha no chão da fábrica. 
Por alienação compreendemos o estranhamento que essa nova configuração do trabalho na era 
moderna se apresenta para o trabalhador causando inconsciência, unilateralização e, 
consequentemente, perca da percepção de todo o processo produtivo transformando em 
mercadoria a própria condição de vida do trabalhador. 
Logo, o estudo científico-crítico que Marx procurou desenvolver estabelecendo como 
base epistemológica a análise dos elementos históricos a partir relação dialética (observação, 
análise e interpretação dos fenômenos sociais) fornecia elementos importantes para 
problematizar a compreensão da Economia Política (compreensão esta tida como hegemônica 
até então). Nesse ponto de vista, 
 
Não é preciso dizer que o proletário, isto é, o homem, que, existindo sem 
capital e renda, puramente do trabalho, e de um trabalho-abstrato unilateral, é 
considerado pela Economia Política somente como um trabalhador. A 
Economia Política pode, não obstante, sustentar a proposição de que o 
proletário, tal e qual qualquer cavalo, pode obter tanto quanto lhe seja 
permitido trabalhar. Ela não o considera, quando ele não está trabalhando, 
como um ser humano; pois deixa essa consideração à justiça criminal, aos 
médicos, a religião, às tabelas estatísticas, à política e ao zelador de asilo. (...) 
seja-nos permitido elevarmo-nos acima do nível da Economia Política e 
tentarmos responder duas questões com base na exposição anterior, a qual 
quase foi mantida nos termos dos economistas políticos: 1) qual é, na evolução 
da humanidade, o significado dessa redução da maior parte da humanidade ao 
trabalho abstrato? 2) quais são os erros cometidos pelos reformadores 
gradualistas, os quais ou desejam elevar os salários e desse modo melhorar a 
situação da classe trabalhadoras, ou encaram a igualdade de salários (como 
faz Proudhon) como a meta da revolução social? (FERNANDES, 2012, p.36 
apud MARX). 
 
A passagem faz-se necessária para argumentar e reforçar como Marx procurava explicar 
os fatos da vida real através da Economia Política submetendo-os a um outro tipo de 
argumentação com raciocínio científico-filosófico no qual procurava compreender o trabalho, 
35 
 
o trabalhador, o não-trabalhador, o processo de desumanização e objetivação imposto pelo 
sistema capitalista de produção na vida das pessoas como parte de uma totalidade histórico-
social concreta compreendidos em sua aparência e em sua essência. 
Isto posto, podemos argumentar que 
(...) o sistema capitalista tem uma estrutura determinante, cujos fundamentos 
são a propriedade privada dos meios e instrumentos de produção, a 
expropriação da classe trabalhadora, o Estado capitalista, o estatuto científico 
baseado em uma concepção utilitarista e egoísta do ser humano, e instituições 
e organizações reprodutoras das relações sociais, mas em que os processos de 
acumulação, concentração e centralização de capital se dão de forma 
contraditória, desigual e combinada (NEVES; PRONKO, 2008, p.8). 
Nesse sentido, Marx buscava compreender o modo de produção capitalista na sua 
origem, na sua manifestação atual e no vir-a-ser, uma vez que a preocupação intelectual do 
movimento dialético do pensamento nos dar condições de percebermos o movimento dialético 
da realidade. O filósofo Karel Kosik, que procura compreender a sociedade do seu tempo no 
mesmo prisma epistemológico de Marx, nos mostra a importância da concepção investigativaadotada no presente trabalho. 
O princípio metodológico da investigação dialética da realidade social é o 
ponto de vista da totalidade concreta, que antes de tudo significa que cada 
fenômeno pode ser compreendido como momento do todo. Um fenômeno 
social é um fato histórico na medida em que é examinado como momento de 
um determinado todo; desempenha, portanto, uma função dupla, a única capaz 
de fazer efetivamente um fato histórico: de um lado, definir a si mesmo, e de 
outro, definir o todo; ser ao mesmo tempo produtor e produto; ser revelador e 
ao mesmo tempo determinado; ser revelador e ao mesmo tempo decifrar de si 
mesmo; conquistar o próprio significado autêntico e ao mesmo tempo conferir 
um sentido a algo mais (KOSIC, 1976, p. 40). 
 
Isto posto, ontologicamente o trabalho é compreendido como uma 
“[...] atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, 
apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição 
universal do metabolismo entre o homem e a natureza, condição eterna da vida 
humana e, portanto, independentemente de qualquer forma dessa vida, sendo 
antes igualmente comum a todas as suas formas sociais” (ANTUNES, 2004, 
p.46). 
36 
 
O fundamento epistemológico mais básico da análise social marxiana é a categoria 
trabalho e se configura na sua forma mais universal como a atividade humana responsável pela 
manutenção e reprodução da espécie e se realiza através de contínuas sínteses com a natureza 
e entre os próprios seres humanos. 
Nesse sentido, Friedrich Engels se debruça sobre a categoria trabalho e a compreende 
como a atividade central no processo de formação e desenvolvimento do ser humano uma vez 
que pode ser compreendido como “(..) a condição fundamental de toda a vida humana; e o é 
num grau tão elevado que, num certo sentido, pode-se dizer: o trabalho, por si mesmo, criou o 
homem” (ENGELS, 1985, p. 215). 
Nos Manuscritos de 1844, Karl Marx assinala a especificidade da categoria trabalho ao 
argumentar que existe uma diferença importante entre a atividade produtiva do ser humano e a 
produção animal. 
O animal é imediatamente um com sua atividade vital. Não se distingue dela. 
É ela. O homem faz de sua atividade vital mesma um objeto da sua vontade e 
da sua consciência. Ele tem uma atividade vital consciente. Esta não é uma 
determinada [Bestimmtheit] com a qual ele coincide imediatamente. A 
atividade vital consciente distingue o homem imediatamente da atividade vital 
do animal. (...). É verdade que também o animal produz. Constrói para si um 
ninho, habitações, como a abelha, o castor, a formiga etc. No entanto, produz 
apenas aquilo de que necessita imediatamente para si ou sua cria; produz 
unilateral [mente], enquanto o homem produz universal [mente]; o animal 
produz apenas sob o domínio da carência física imediata, enquanto o homem 
produz mesmo livre da carência física, e só produz, primeira e 
verdadeiramente, na [sua] liberdade [com relação] a ela; o animal só produz a 
si mesmo, enquanto o homem produz a natureza inteira; [no animal], o seu 
produto pertence imediatamente ao seu corpo físico, enquanto o homem se 
defronta livre[mente] com o seu produto, (MARX, 2006, p. 85). 
 
Posteriormente, Marx retoma a categoria trabalho no primeiro livro de O Capital 
modificando alguns levantamentos realizados anteriormente e argumenta sobre as diferenças 
entre a atividade estritamente produtiva daquela que fazem parte da vida animal. 
 
Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera 
mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior 
arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de 
37 
 
transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um 
resultado que já existia antes idealmente na cabeça do trabalhador, (MARX, 
1984, p. 211-212). 
 
O caráter de conscientização da atividade produtiva para o ser humano se apresenta na 
capacidade que ele possui de organizar e antecipar na sua mente o resultado do tipo de ação 
produtiva que visa desenvolver ou executar. Devido a esse processo (pensar, esquematizar e 
aplicar na prática) o ser humano é o único ser social e a categoria trabalho é aquela que 
fundamenta o ser social. 
 
O ser objetivo atua objetivamente e não atuaria objetivamente se o objetivo 
[Gegenständliche] não estivesse posto em sua determinação essencial. Ele 
cria, assenta apenas objetos, porque ele é assentado mediante estes objetos, 
porque é, desde a origem, natureza [weil es von Haus aus Natur ist]. No ato 
de assentar não baixa, pois, de sua ‘pura atividade’ a um criar do objeto, mas 
sim seu produto objetivo apenas confirma sua atividade objetiva, sua atividade 
enquanto atividade de um ser natural objetivo, (MARX, 2006, p. 127). 
 
Ao considerar o trabalho como um momento condicionante na constituição da vida 
humana, ou seja, ponto de partida para o processo de humanização percebemos, ao longo da 
história, a maneira como o trabalho e as relações de trabalho vêm sofrendo mudanças 
significativas decorrentes das transformações que afetam a economia e a sociedade no seu 
conjunto. Assim, argumentamos que a sociedade capitalista o transformou em trabalho 
assalariado, alienado, fetichizado e uma atividade reduzida a mero meio de subsistência 
(ANTUNES, 2004). 
A partir do século XIX as forças produtivas desenvolvem-se cada vez mais e os meios 
de produção deixam de ser controlados pelos grêmios, associações e cooperativas de ofício, 
passando a se concentrarem, cada vez mais, nas mãos da burguesia. O trabalhador deixar de ser 
o produtor direto dos meios necessários para a sua subsistência e subordina-se a relações 
salariais com os capitalistas. 
Tal expropriação se torna o fio condutor de todo o processo de revolução das forças 
produtivas do sistema capitalista. A maioria dos trabalhadores expropriados de suas terras e 
ferramentas não veem alternativas a não ser vender a sua força de trabalho em troca de uma 
relação salarial que faz com que o trabalho seja reduzido à criação do valor de troca. Valor este 
38 
 
que apenas ganha sentido e se objetiva no dinheiro, resultante do assalariamento, da condição 
de escravatura assalariada de uns em detrimento de outros (MARX, 2006, p. 339-382). 
A classe trabalhadora, portanto, é resultado de um processo histórico de acumulação 
de capital em que os indivíduos forçadamente destituídos dos seus meios de produção são 
empurrados à venda da sua força de trabalho1 e submetidos a condições precárias de trabalho. 
O trabalho, essa importante atividade, submete os seres humanos ao estranhamento 
frente ao produto do seu próprio trabalho e frente ao próprio ato de produção da vida material, 
alterando todas as relações sociais e impedindo que a maioria dos seres humanos possa dar 
sentido as suas vidas de forma concreta. 
Com o objetivo de aumentar o patamar de acumulação dos empresários, no início do 
século XX, F. W. Taylor lança Os Princípios da Administração Científica. Uma influente obra 
que procurava, sobretudo, compreender 
(...) como a produtividade do trabalho podia ser radicalmente 
aumentada através da decomposição de cada processo trabalho em 
movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho 
fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e de estudo do movimento 
(HARVEY, 1989, p.120). 
 Essa estratégia e otimização do tempo e aumento do controle do ritmo de trabalho e da 
organização dos negócios empreendidos pelos capitalistas foi desenvolvida e aprimorada por 
Henry Ford em meados de 1914. Ao perceber que a separação entre gerência, concepção, 
controle além da execução e organização hierárquica do fluxo e da autoridade da informação já 
estava obtendo êxito em diversas indústrias 
Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser construído 
simplesmente com a aplicação adequada ao poder coorporativo. O propósito 
dodia de oito horas e cinco dólares só em parte era obrigar o trabalhador a 
adquirir a disciplina necessária à operação do sistema de linha de montagem 
de alta produtividade. Era também dar aos trabalhadores renda e tempo de 
lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa que 
as corporações estavam por fabricar em quantidades cada vez maiores 
(HARVEY, 1989, p. 123) 
 
1 - Uma síntese desse processo de expropriação e destituição da classe trabalhadora em favor do desenvolvimento 
do sistema capitalista encontra-se no “Capítulo XXIV: A chamada acumulação primitiva”. Karl Marx, O Capital- 
Livro Primeiro - Parte II (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2012) p. 825-878. 
39 
 
O coroamento da “grande indústria” analisada por Marx quando do início da sociedade 
industrial do século XIX resultará na sociedade do trabalho taylorista-fordista2 do século XX. 
 
(...) A necessidade de ajustar o trabalhador ao trabalho em sua forma 
capitalista, de superar a resistência natural intensificada pele tecnologia 
mutável e alternante, relações sociais antagônicas e a sucessão de gerações, 
não termina com a organização científica do trabalho, mas se torna um aspecto 
permanente da sociedade capitalista. (BRAVERMAN, 1981, p.124). 
 
Nesse itinerário, os trabalhadores assumiram-se como classe social e conquistaram 
direitos. Direitos estes, entretanto, que passaram a serem atacados quando após a crise do 
modelo taylorista-fordista a partir dos anos 1970. Crise como expressão da perda de dinamismo 
do modelo do pós-guerra – padrão de acumulação padronizada (HARVEY, 1989) associada à 
crise do petróleo e do desinteresse americano na manutenção do arranjo padrão ouro-dólar. 
Num contexto de forte retração da produção e do consumo, intensificou-se o 
desemprego, possibilitando terreno fértil para a ideologia liberal3. A ordem do capital passou a 
ser a derrogação e desregulamentação de direitos conquistados. Medidas como: a privatização 
do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e o sucateamento do setor produtivo 
estatal foram adotadas para que o processo de reestruturação da produção e do trabalho 
mantivesse os patamares de lucro e expansão de mercado. 
Sobre a aplicação da ideologia neoliberal na Inglaterra e supressão dos direitos 
trabalhistas e neutralização da ação sindical percebemos a partir de Antunes (1999) que 
O thatcherismo reduziu fortemente a ação sindical, ao mesmo tempo em que 
criou as condições para a introdução das novas técnicas produtivas, fundadas 
na individualização das relações entre capital e trabalho e no boicote 
sistemático à atuação dos sindicatos. Incluiu nessa política antissindical a 
restrição à atuação dos shop stewars e limitou também os locais de trabalho 
onde eram garantidos direitos de filiação sindical. Transitou-se de um sistema 
legal anterior, que regulamentava de maneira mínima as relações de trabalho, 
 
2 Resumidamente, o taylorismo-fordismo é uma estratégia de organização do trabalho que visa à incorporação de 
métodos e normas visando à maximização do rendimento da força de trabalho e, consequentemente a intensificação 
da extração da mais-valia e eliminação do tempo morto de trabalho. 
3 Tem-se aqui o Consenso de Washington – Proposta fundamentada no liberalismo que preconiza o mercado como 
organizador da economia e o afastamento do papel do Estado. As principais medidas sugeridas são: privatizações, 
abertura econômica, ajuste fiscal e ataque a legislação social. 
40 
 
para um forte sistema de regulamentação cujo significado essencial era, por 
um lado, desregulamentar as condições de trabalho e, por outro, coibir e 
restringir ao máximo a atividade sindical. Em outras palavras, de um sistema 
de pouca regulamentação que possibilitava a ampla atividade sindical, para 
uma sistemática de ampla regulamentação, restritiva para os sindicatos e 
desregulamentadora no que diz respeito às condições do mercado de trabalho. 
O exemplo da greve é elucidativo: para que decretação tenha validade legal, 
há um ritual complexo de votações que burocratizam e limitam fortemente a 
sua ocorrência, que deve ser anunciada e posteriormente seguir toda uma teia 
de restrições. As greves de solidariedade foram proibidas; também foram 
coibidas as ações de conscientização dos sindicatos, como os piquetes e a 
pressão sindical tradicionalmente exercida sobre os trabalhadores que 
desconsideravam as decisões coletivas, tomadas por voto secreto pela 
realização da greve. Somente as paralisações que seguiam o tinham 
burocrático-legal restritiva validade. Quando essa sistemática não era 
rigorosamente cumprida, os sindicatos sofriam penalidades que atingiam 
multas altíssimas, de modo a inviabilizar a vida associativa e sindical (p.70). 
 
É nesse contexto de ataque do capital ao trabalho e, simultaneamente, a evolução das 
forças produtivas – Revolução Tecnológica/Informacional que se assiste ao surgimento do 
padrão de acumulação flexível. 
A profunda recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, 
evidentemente retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da estagflação 
(estagnação da produção de bens e alta inflação de preços) e pôs em 
movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. 
Em consequência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de 
reestruturação econômica e de reajustamento social e político. No espaço 
social criado por todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas 
experiências nos domínios da organização industrial e da vida social e política 
começou a tomar forma. Essas experiências podem representar os primeiros 
ímpetos da passagem para um registro de acumulação inteiramente novo, 
associado com um sistema de regulação política e social bem distinta. A 
acumulação flexível (...) é marcada por um confronto direto com a rigidez do 
fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos 
mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo 
surgimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas 
41 
 
altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional 
(HARVEY, 1989, p.140). 
 
Inicia-se, como destacamos, a mundialização da lógica econômico-produtiva da 
acumulação flexível. As indústrias passam de padrões hierarquizados a estratégias de 
reengenharia, terceirização, privatização e financeirização (SENNETT, 2006). A 
mundialização do novo padrão de acumulação do capital adapta-se ao processo de reprodução 
social às novas tecnologias, recompondo o controle e gestão do trabalho, socializando para os 
trabalhadores modos de trabalho precarizado. 
Nessa dinâmica a proletatização do trabalho industrial, fabril e manual, sobretudo nos 
chamados países de capitalismo avançado ou não-periféricos, expressa-se na reconfiguração da 
classe operária, a intensificação da terceirização do trabalho, toma como base o assalariamento 
no setor de serviços e, como consequência, eleva-se os contingentes em direção a precarização 
do trabalho. Nesse sentido, “identificamos o precariado com a fração mais mal paga e explorada 
do proletariado urbano e dos trabalhadores agrícolas, excluídos a população pauperizada e o 
lumpemproletariado, por considera-la própria à reprodução do capitalismo periférico” 
(BRAGA, 2012, p. 19). 
As condições atuais que são oferecidas no mercado de trabalho, sobretudo o 
desemprego e a precarização, são decorrentes da flexibilização de condições de trabalho que se 
consolidam a uma contínua retração dos poucos direitos trabalhistas que foram adquiridos pela 
classe trabalhadora em lutas passadas. 
Tal panorama é um reflexo da doutrina neoliberal que além de submeterem os 
trabalhadores a condições de vida degradantes responsabilizam os mesmos quando

Continue navegando