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Relacaoentreonarcisismo-Oliveira-2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
 
 
FERNANDA AMORIM SINEDINO DE OLIVEIRA 
 
 
 
RELAÇÃO ENTRE O NARCISISMO E A BUSCA POR PODER INSERIDOS NA 
SUBJETIVIDADE DA ATUAÇÃO CONTÁBIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2019 
FERNANDA AMORIM SINEDINO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÃO ENTRE O NARCISISMO E A BUSCA POR PODER INSERIDOS NA 
SUBJETIVIDADE DA ATUAÇÃO CONTÁBIL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado a Coordenação do Curso de 
Ciências Contábeis da Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, como requisito 
parcial para a obtenção do título de bacharela 
em Ciências Contábeis. 
 
Orientadora: Prof.ª Dra. Adriana Isabel 
Backes Steppan 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2019 
FERNANDA AMORIM SINEDINO DE OLIVEIRA 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 Oliveira, Fernanda Amorim Sinedino de. 
 Relação entre o narcisismo e a busca por poder inseridos na 
subjetividade da atuação contábil / Fernanda Amorim Sinedino de 
Oliveira. - 2019. 
 72f.: il. 
 
 Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais 
Aplicadas, Departamento de Ciências Contábeis. Natal, RN, 2019. 
 Orientador: Prof.ª Dra. Adriana Isabel Backes Steppan. 
 
 
 1. Contabilidade Comportamental - Monografia. 2. Inventário 
de Personalidade Narcisista - Monografia. 3. Subjetividade - 
Monografia. 4. Passivos Contingentes - Monografia. I. Steppan, 
Adriana Isabel Backes. II. Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 657 
 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÃO ENTRE O NARCISISMO E A BUSCA POR PODER INSERIDOS NA 
SUBJETIVIDADE DA ATUAÇÃO CONTÁBIL 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Coordenação do Curso de 
Ciências Contábeis da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
bacharela em Ciências Contábeis. 
 
 
 
Aprovada em: ___/___/____ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Dra. Adriana Isabel Backes Steppan 
 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Vanessa Medeiros 
 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Camila Azevedo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho de conclusão de 
curso ao meu pai, Edward Sinedino de 
Oliveira, e à minha mãe, Josemary Santos 
de Amorim Sinedino. Vocês são minha 
base e inspiração de vida todos os dias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente, agradeço a Deus, por me conceder sua infinita misericórdia 
e graça, dando forças nos momentos mais difíceis, quando só Ele podia. 
Agradeço também aos meus pais, que sempre me deram coragem para 
atingir meus objetivos e me apoiaram por toda a vida. 
Às minhas irmãs que, perto ou longe, sempre me incentivaram e, 
especialmente a Marina, que de perto acompanhou minha jornada. 
Ao meu namorado, Nilson, por toda a paciência, companheirismo e apoio 
durante todo o meu período acadêmico. 
A toda a minha família, especialmente avô e avó, tias e tio, que sempre 
souberam se fazer presentes, ainda que me apoiando à distância. 
Aos meus amigos de curso, especialmente Brenda, Nicolas, Hygor e 
Daniel, que estiveram comigo nesse percurso, dividindo todos os momentos, fossem 
eles bons ou ruins, por todos os conhecimentos compartilhados, os quais levarei como 
experiências por toda a vida. 
Ao meu local de trabalho, “Aditivo Contabilidade e Auditoria” e a todos os 
colegas de trabalho que lá fiz, por terem me acolhido e partilhado seu conhecimento 
e auxílio. 
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, bem como a todos os 
docentes e servidores do Departamento de Ciências Contábeis, por terem sido 
fundamentais na minha formação e jornada acadêmica. 
À minha professora e orientadora, Adriana Isabel Backes Steppan, não só 
por todo o conhecimento comigo compartilhado, mas pelo companheirismo nesse 
momento, bem como por todo o apoio, incentivo e paciência nessa reta final tão 
importante do curso. 
A todos os meus amigos, que mesmo na distância do dia a dia, se fizeram 
presentes nesta caminhada, sempre me incentivando a prosseguir. 
 
RESUMO 
 
O contador é formado e instruído, durante todo o seu período acadêmico, a 
desempenhar um papel de grande importância como sendo o principal aliado às 
empresas, empresários e gestores no meio corporativo no tocante à tomada de 
decisão. Por isso, a sua personalidade e julgamento pessoais tornam-se de grande 
relevância ao observar a atuação desse profissional no mercado de trabalho. 
Entretanto, caso o indivíduo possua noções subjetivas distorcidas, poderá acarretar 
em consequências na sua atuação profissional. Dentro desse contexto, esse estudo 
apresenta como objetivo principal averiguar a relação existente entre o traço de 
personalidade narcisista e as decisões tomadas em contextos subjetivos da 
contabilidade. O público alvo deste trabalho consiste nos estudantes do curso de 
Ciências Contábeis da UFRN, o qual representa uma amostra de 61 participantes. No 
que se refere à tipologia de pesquisa o estudo é descritivo e, quanto à abordagem, 
classifica-se como qualitativa e quantitativa. Para obter percepções acerca da 
temática, foi utilizado o método de aplicação de questionário, que abrange o 
instrumento NPI – Narcissistic Personality Inventory, criado por Raskin e Terry em 
1988, buscando averiguar o nível de personalidade Narcisista do indivíduo, além da 
utilização de cenários elaborados que contemplam a tomada de decisões em aspectos 
subjetivos. Os resultados do estudo não revelam, para a amostra pesquisada, 
tendência ao Narcisismo. A pontuação de 10,64 se encontra inferior ao parâmetro 
utilizado em índices de pesquisas anteriores que tratam da temática. No que diz 
respeito às decisões apresentadas pelos respondentes com relação aos cenários, a 
pesquisa mostra que, ainda que o Narcisismo não tenha sido classificado como fator 
chave para as respostas, elas foram influenciadas pelas informações expostas em 
cada um dos cenários, conforme esperado. Sendo assim, apesar da pontuação de 
personalidade narcisista ser reduzida quando comparada com outros estudos da área, 
mostrando que não existe relação direta entre a personalidade e a atuação do 
profissional contábil, outras características relevantes foram verificadas nos indivíduos 
como humildade, conservadorismo e ética, atributos essenciais para a formação de 
um profissional competente e qualificado para atuar no mercado de trabalho. 
Palavras-chave: Inventário de Personalidade Narcisista; Contabilidade 
Comportamental; Subjetividade; Passivos Contingentes. 
ABSTRACT 
 
The accountant is trained and instructed, throughout his academic period, to play a 
major role as the main ally to business people, entrepreneurs and managers in 
corporate decision-making. Therefore, his personality and judgment become of great 
relevance when it comes to the performance of this professional in the labor market. 
However, if the individual possesses distorted subjective notions, there will probably 
be consequences in his professional performance. Within this context, this study has 
as main objective to investigate the relationship between the narcissistic personality 
trait and the decisions made by the individual in subjective accounting environments, 
with the specific focus on tracing the narcissistic personality level in the accounting 
student. The target audience for this research are the accounting students at UFRN, 
which represents a 61 participantssample. As far as the type of research is concerned, 
the study is descriptive with an approach that is classified as qualitative and 
quantitative. In order to obtain inferences about the subject, the questionnaire 
application method was used, which covers the NPI – Narcissistic Inventory 
Personality, created by Raskin and Terry in 1988, seeking to ascertain the narcissistic 
personality level of the individual and to observe the way in which he acts in scenarios 
of accounting subjectivity. As a result, the study doesn´t reveal, for the sample studied, 
a tendency towards Narcissism. The 10,64 score on the narcissistic personality test is 
reduced comparing it with previous research indexes as a basis; therefore, it did not 
generate significant influence on the individuals' response to the hypothetical 
accounting scenarios. In addition, participants' responses to the scenarios met the 
expectations proposed in their formulation. Although the narcissistic score is reduced 
when compared to other studies in the area, other relevant characteristics were verified 
in individuals such as humility, conservatism and ethics, essential attributes for a 
competent and qualified professional to work in the labor market. 
 
Keywords: Narcissistic Personality Inventory; Behavioral Accounting; Subjectivity; 
Contingent Liabilities. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1: Passivos Contingentes – Cenário 01 
Gráfico 2: Passivos Contingentes – Cenário 02 
Gráfico 3: Passivos Contingentes – Cenário 03 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1: Conceituação do Narcisismo – comparativo e evolução 
Tabela 2: Frequência de respostas ao Inventário de Personalidade Narcisista – NPI 
Tabela 3: Subescalas do NPI e respectivas assertivas 
Tabela 4: Estatística descritiva – Pontuação NPI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 – INTRODUÇÃO ......... .......................................................................................... 11 
1.1. CONTEXTO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .............................................. 11 
1.2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 14 
1.2.1. Objetivo Geral ................................................................................................. 14 
1.2.2. Objetivos Específicos...................................................................................... 14 
1.3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 15 
2 – REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 17 
2.1. RELAÇÕES DE PODER.................................................................................... 17 
2.2. O NARCISIMO – ORIGEM E CONCEITO ......................................................... 21 
2.3. O CONCEITO DE PASSIVOS CONTINGENTES .............................................. 30 
3 – METODOLOGIA ................................................................................................. 33 
3.1. TIPOLOGIA DA PESQUISA .............................................................................. 33 
3.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA .............................................................................. 33 
3.3. TRATAMENTO DOS DADOS ............................................................................ 33 
4 – DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS............................................................. 35 
4.1. ANÁLISE DO INVENTÁRIO DE PERSONALIDADE NARCISISTA – NPI ......... 35 
4.2. ANÁLISE DOS CENÁRIOS SUBJETIVOS ........................................................ 41 
4.3. ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE O INVENTÁRIO DE PERSONALIDADE 
NARCISITA – NPI E CENÁRIOS CONTÁBEIS ........................................................ 45 
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 47 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 50 
APÊNDICES ............................................................................................................. 54 
ANEXOS ................................................................................................................... 68 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1. INTRODUÇÃO 
1.1 CONTEXTO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA 
Ao analisar as relações interpessoais, sejam no âmbito profissional, 
acadêmico ou pessoal, é possível atestar que todas são reguladas por meio das 
situações geradas em consequência das relações de poder. Por isso, necessita-se 
destacar a importância de elementos que influenciam, direta ou indiretamente, o poder 
e seus efeitos. 
Precisa-se, primeiramente, entender a definição de poder e suas vertentes. 
Robert Greene (2015), um dos maiores escritores sobre a temática – autor de livros 
como “As 48 Leis do Poder” – que dedicou cerca de quase 20 anos ao estudo do 
assunto, define poder como “a medida do grau de controle que você tem sobre as 
circunstâncias em sua vida e sobre as ações das pessoas ao seu redor”. Ele também 
afirma que é uma habilidade, desenvolvida somente por uma compreensão profunda 
da natureza humana e do que motiva as pessoas. Por isso, pode-se entender o poder 
como possuir influência, não só sobre as pessoas, mas também sobre o ambiente. 
Entretanto, de acordo com Guerrero et al. (2011), existem seis princípios 
de poder em relacionamentos interpessoais, que convergem para a observação e 
conclusão acerca do comportamento – e a influência ocasionada pelas circunstâncias 
do indivíduo em relações de poder. 
Por isso, ao observar minuciosamente os princípios comentados pelo autor, 
ratifica-se a importância de analisar o perfil de pessoas que, futuramente, serão 
prováveis líderes de equipe, gestores e até mesmo colaboradores de equipes em 
corporações. Tal fato se justifica na situação em que, no caso de um detentor de maior 
poder apresentar traços de personalidade narcisista, isso poderá afetar não só o 
desempenho da sua equipe em um âmbito organizacional, como também sua tomada 
de decisões individual e os impactos gerados através dessa atitude. 
Dentro desse contexto, um fator de grande significância a ser destacado, 
no ambiente laboral, está focado na subjetividade presente nas atitudes tomadas por 
gestores ou, até mesmo, futuros gestores que trilharão esse caminho. Por isso, vale 
13 
 
realçar a relevância no estudo dos traços da personalidade narcisista e suas 
influências nas atitudes de desejo por poder. 
É importante, primeiramente, compreender a definição de Narcisismo. O 
narcisismo é, basicamente, originado do mito de Narciso, e é marcado por identificar 
indivíduos que possuem um exagerado amor-próprio. É de conhecimento que o 
primeiro autor a citar o termo foi Havelock Ellis, em 1898, em seu texto Auto-erotism: 
a study of the spontaneus manifestation of the sexual impulse (Autoerotismo: um 
estudo da manifestação espontânea do impulso sexual). Ele utiliza-se da expressão 
Narcissus-like (assim como Narciso), fazendo alusão ao mito. Porém, deve-se a Paul 
Näcke (1899) a criação do termo propriamente dito. 
De acordo com Laplanche, J. e Pontalis, J.-B. (1971) (apud Luiz Moreno 
Guimarães e Paulo César Endo 2014, vol. 17 nº 3): 
De fato, Näcke (1899) forjou a palavra Narzissmus, mas para comentar o 
ponto de vista de Havelock Ellis, que foi o primeiro, em 1898 (Autoerotism, a 
Psychological Study), a descrever um comportamento perverso relacionando-
o com o mito de Narciso. (GUIMARÃES e ENDO, 2014, p. 263) 
 Por fim, foi atribuído a Näcke a origem do termo, quando citou, em 1899, 
que narcisistas eram pessoas que se apaixonam por si mesmas. Portanto, é possível 
concluir que, dependendo da intensidade de tais atributos no indivíduo,sua ética 
pessoal pode ser consideravelmente distorcida, trazendo prejuízos tanto para grupos 
e tomadas de decisão mais práticas, como para as entidades de forma geral. 
Dentro desse contexto, se torna relevante averiguar o nível de interferência 
de atitudes específicas ligadas às características narcisistas, bem como sua influência 
no meio corporativo, além das implicações no momento de tomada de decisão por 
parte dos possíveis contadores, dentro do seu âmbito de controle, tendo em vista que 
o narcisismo leva o indivíduo a sobrepor suas questões em detrimento de decisões 
acertadas coletivamente, que favorecem um grupo. 
Ou seja, independente das consequências e de possíveis noções de ética 
profissional, o indivíduo com atributos narcisistas caracteriza-se por buscar atender 
suas preferências, de acordo com a subjetividade própria. Em vista disso, torna-se 
14 
 
crucial a análise do perfil dos futuros profissionais da contabilidade, que são, por 
formação, prováveis tomadores de decisões em ambientes corporativos. 
Vale salientar que, apesar de existirem legislações regulamentadoras que 
orientem a forma tributariamente correta de atender às obrigações contábeis e 
acessórias, o perfil do profissional contábil caracteriza-se pelo fato de que parte 
considerável das decisões ainda é tomada pelo contador, sendo, assim, regida pelas 
próprias convicções singulares acerca de determinado assunto. Em outras palavras, 
cada situação é interpretada de uma forma diferente, que varia conforme se alteram 
as noções de ética, subjetivas e variáveis do indivíduo. 
Destarte, ao observar o perfil de personalidade com traços narcisistas, é 
importante ratificar que pessoas possuidoras de tais atributos são conhecidas por 
priorizarem o “eu” em detrimento de um todo. Em consequência, tal comportamento 
pode certamente levar a consequências negativas, quando se é preciso “sacrificar” 
uma parcela dessa liderança pessoal visando atingir um objetivo coletivo de uma 
entidade, por exemplo. 
Além disso, um traço de personalidade narcisista pode ser prejudicial em 
situações nas quais seja requerido trabalho em equipe, justificado pelo fato de ser 
provável que tal indivíduo poderia optar por auxiliar o grupo, caso isso possibilite uma 
ameaça a seu nível de poder/liderança; ao invés disso, ele apresenta uma certa 
tendência a priorizar seus próprios interesses. 
Diante de tal reflexão, destaca-se a figura do estudante de contabilidade, 
inserido no contexto como um futuro profissional da área contábil, e até potencial 
gestor, tendo como atributos principais ser um agente de suporte para executivos no 
fornecimento de informações que, em diversas ocasiões, dependem da compreensão 
subjetiva do profissional. Por isso, o contador é um importante aliado no auxílio à 
tomada de decisão por parte das corporações e suas administrações. 
Por conseguinte, observar uma personalidade com traços narcisistas torna-
se relevante no sentido de propiciar maior capacitação de potenciais gestores, a fim 
de obter melhores resultados com esses indivíduos, quando inseridos no meio 
corporativo, através de melhoria de suas compreensões de colaboração coletiva. 
15 
 
Portanto, é notória a importância de observar essa temática e abordá-la 
com os futuros profissionais da área, visando construir gestores mais capacitados e 
preocupados com o alcance de metas em seu ambiente corporativo, além de gerar 
equipes mais capacitadas e focadas em atingir objetivos propostos em grupo, sejam 
eles relacionados aos clientes ou até mesmo à corporação da qual eles farão parte. 
Tendo em vista a importância de abordagem de uma problemática tão 
relevante, surge a necessidade de realizar uma análise mais aprofundada acerca da 
temática de teorias comportamentais e traços de personalidade – nesse caso, o 
Narcisismo – e sua influência nas necessidades de poder do indivíduo. 
Face à situação descrita, levanta-se a seguinte questão: há relação do 
traço de personalidade narcisista com as decisões tomadas pelo indivíduo em 
ambientes subjetivos da contabilidade? 
 
1.2 OBJETIVOS 
1.2.1 Geral 
A presente pesquisa apresenta como objetivo geral averiguar a relação 
existente entre o traço de personalidade narcisista e as decisões tomadas pelo 
indivíduo em ambientes subjetivos da contabilidade. 
1.2.2 Específicos 
Para alcançar o objetivo geral de forma satisfatória, pautaram-se alguns 
objetivos específicos a serem abordados neste trabalho: 
a) Traçar o nível de personalidade narcisista no estudante de contabilidade; 
b) Associar a influência da personalidade narcisista em decisões subjetivas 
relacionadas à profissão contábil; 
c) Identificar as escolhas realizadas pelos estudantes de Ciências Contábeis em 
cenários profissionais subjetivos; 
d) Investigar se existe relação entre desejo pelo poder e o perfil do graduando de 
contabilidade. 
16 
 
1.3 JUSTIFICATIVA 
A escolha do tema previsto está relacionada à influência dos traços de 
personalidade Narcisista dentro da atuação do profissional contábil e suas escolhas 
em ambientes subjetivos da contabilidade. A importância do estudo está relacionada 
à necessidade de verificar o nível de influência desse traço de personalidade na 
atuação do contador. Por isso, averiguar como se dá essa influência – além de 
concluir se ela é positiva ou não para a organização e para o indivíduo – torna-se 
essencial, a fim de que possa ser possível comprovar a relação de atitudes 
individualistas com possíveis atitudes praticadas pelo detentor das características, 
sejam tais atitudes tanto no âmbito profissional, como também no desencadear nas 
relações interpessoais. 
Sendo a definição do Narcisismo basicamente marcada pela presença de 
uma exacerbação do amor-próprio, é necessário dar a devida importância ao 
desencadeamento desses sentimentos, a fim de verificar a influência dessa 
personalidade em atitudes específicas atreladas à atuação do profissional contábil no 
âmbito profissional. 
Uma parte considerável dos estudos retratados acerca do Narcisismo 
presente em ambientes corporativos trata da relação desse distúrbio, seus níveis e a 
relação com o desejo por poder e influência, dentre outros: por exemplo, Maccoby 
(2004) obteve como resultado de suas pesquisas a existência de uma relação positiva 
entre os indivíduos que apresentavam tais traços dessa personalidade e a busca por 
exercer controle sobre demais colaboradores em um ambiente de trabalho, além de 
averiguar a necessidade deles de demonstrarem alta competitividade e de serem 
vitoriosos em relação aos outros nas situações. 
Por isso, observando assim a ótica do profissional contábil como detentor 
de importância fundamental no auxílio à tomada de decisões administrativas e 
gerenciais numa corporação, é essencial observar se a presença do Narcisismo em 
sua personalidade não acaba por ocasionar uma busca de realização pessoal, ainda 
que cause prejuízos à equipe da qual ele faz parte e atua profissionalmente, tendo em 
vista a comprovação de que, dependendo do nível de presença dos traços narcísicos, 
17 
 
a subjetividade e consciência de cooperação coletiva do indivíduo poderão ser 
afetadas. 
Ademais, a presente pesquisa se torna relevante para o meio acadêmico 
por permitir um aprofundamento da temática dentro do cenário da contabilidade, 
podendo assim ser trabalhada dentro do cenário acadêmico, na formação dos 
profissionais. Para os indivíduos pesquisados, o trabalho é de alta importância para o 
aprofundamento da compreensão pessoal e de como eles poderão influenciar o 
mercado de trabalho no qual estarão brevemente inseridos; assim, poderão ter uma 
visão mais ampla de sua atuação e uma melhor gestão de suas decisões na atuação 
como profissionais da contabilidade. Em se tratando da relevância para a sociedade, 
ela se dá no âmbito de formar melhores gestores e tomadores de decisões gerenciais 
e financeiras,já que observará a influência do comportamento narcisista nos gestores 
das organizações, fornecendo-os a possibilidade de analisar e gerenciar suas atitudes 
de forma coerente, formando, assim, gestores e colaboradores mais competentes em 
suas funções, buscando despertar neles a conscientização da importância de tomar 
decisões que façam o meio no qual eles estão inseridos crescer, gerando 
desenvolvimento de corporações e, consequentemente, desenvolvimento econômico 
e ético para a sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1 RELAÇÕES DE PODER 
Na visão de Veroff (1955), a motivação por poder origina-se através de uma 
relação interpessoal, caracterizada na estrutura de apresentar um ser superior aos 
outros, que manifesta controle de mecanismos a fim de influenciar seus indivíduos 
subordinados. 
Dentre os 3 tipos de motivação humana encontrados por David McClelland 
(1961; 1987), ele destaca a motivação de poder como o desejo de exercer influência 
nos relacionamentos interpessoais, de forma que, ao controlar os meios, o indivíduo 
poderá influenciar outras pessoas. McClelland e Burnham (2008) defendem, ainda, o 
poder como sendo um grande motivador para uma gestão eficiente, ainda mais 
quando a influência sobre os subordinados é exercida controladamente. Assim, eles 
se sentem mais fortes para exercerem suas respectivas funções. Os autores 
realizaram, em sua obra, um estudo com gerentes norte-americanos, nas quais 
observaram algumas situações: os gerentes institucionais – voltados para a 
organização em si – apresentam um alto nível de motivação de poder, utilizando-a 
para motivar seus subordinados. Por outro lado, os gerentes que têm suas motivações 
depositadas no poder pessoal procuram somente seu prestígio individual, ainda que 
apresentem a capacidade de desenvolver um maior espírito de equipe em seus 
colaboradores. Porém, também se percebeu a falta de disciplina deles para 
consolidarem os processos gerenciais da empresa; dessa maneira, os subordinados 
são leais a eles como indivíduos, e não à organização, de forma que, se esses 
gerentes saírem de suas posições, a estrutura da entidade se desorganiza. 
A motivação por poder ainda pode ser definida como o desejo de obter 
impacto sobre outras pessoas, a fim de afetar seus comportamentos ou emoções. Tal 
definição inclui diversos conceitos sobrepostos, tais como influência, inspiração, 
cuidado, autoridade, liderança, controle, dominância, coerção e agressão. Apesar 
desses conceitos apresentarem variações de legitimação, moralidade e reação 
implícita da outra pessoa – o possível “alvo” do poder –, eles compartilham de um 
significado central: o da capacidade de uma pessoa em afetar o comportamento e 
sentimentos de outra (D. G Winter, 1973). 
19 
 
Para French e Raven (1959, p.152), numa discussão acerca do poder 
social, “a força de poder de O sobre P, em um sistema a está definido como a máxima 
habilidade potencial de O para influenciar P em a”. Por isso, os autores dão a essa 
definição o significado de que a influência é o poder exercido. Já o poder é a influência 
potencial. Ou seja, o poder pode ser definido, de forma mais simples, como a 
capacidade de um indivíduo influenciar outro. 
Ainda na visão de French e Raven, existem diversas bases de poder, 
dentre as quais destacam cinco importantes: poder de recompensa, poder coercitivo, 
poder legítimo, poder de referência e o poder de especialista. O poder de recompensa 
é assim definido pelos autores: 
Poder de recompensa é definido como o poder cuja base é a habilidade para 
recompensar. A força do poder de recompensa de O sobre P aumenta de 
acordo com a magnitude das recompensas que P percebe que O pode 
intermediar para ele. Poder de recompensa depende da habilidade de O em 
administrar valências positivas e remover ou diminuir valências negativas. A 
força do poder de recompensa também depende da probabilidade de O poder 
intermediar a recompensa, como percebido por P. (FRENCH e RAVEN, 1959, 
p.156) 
 
Já o poder coercitivo é definido como “baseado na percepção de P de que 
O tem a habilidade para intermediar punições contra ele”. Assim, French e Raven 
(1959, p. 157) afirmam: 
Poder coercitivo é semelhante ao poder de recompensa, na medida em que 
também envolve a habilidade de O para manipular a obtenção de valências. 
O poder coercitivo de O sobre P origina-se da expectativa por parte de P de 
que será castigado por O se não se conformar à tentativa de influência. 
Assim, valências negativas existirão em determinadas regiões do espaço de 
vida de P, correspondendo às ameaças de punição de O. A força do poder 
coercitivo depende da magnitude da valência negativa da ameaça de punição 
multiplicada pela probabilidade percebida de que P pode evitar o castigo pela 
conformidade, isto é, a probabilidade de punição pela não-conformidade 
menos a probabilidade de punição pela conformidade. (FRENCH e RAVEN, 
1959, p.157) 
De forma mais ampla, as definições dos autores podem afirmar que o poder 
de recompensa é a capacidade do agente de recompensar o indivíduo alvo por atingir 
comportamentos desejados por ele, agente; já o poder coercitivo surge através da 
habilidade de o agente punir o alvo ou impedi-lo de obter as recompensas desejadas 
(SOMECH; DRACH-ZAHAVY, 2002). 
Por sua vez, o poder legítimo é definido por French e Raven como: 
20 
 
O poder legítimo de O sobre P é aqui definido como aquele poder que se 
origina de valores interiorizados por P que ditam que O tem um direito legítimo 
para influenciar P e que P tem a obrigação de aceitar essa influência. 
Salientamos que o poder legítimo é bem parecido com a noção de 
legitimidade da autoridade, explorada há muito tempo pelos sociólogos (...). 
Porém, poder legítimo nem sempre é uma relação de papel: P pode 
simplesmente aceitar uma indução de O por ter previamente prometido ajudar 
O e porque valoriza muito sua palavra para quebrar a promessa. Em todos 
os casos, a noção de legitimidade envolve algum tipo de código ou de padrão 
aceito pelo indivíduo, em virtude do qual o agente externo pode afirmar seu 
poder. (FRENCH e RAVEN, 1959, p. 156) 
O poder de referência, por sua vez, baseia-se “na identificação de P com 
O”. Segundo French e Raven: 
O poder de referência de O sobre P tem sua base na identificação de P com 
O. Por identificação, queremos dizer um sentimento de unidade de P com O, 
ou um desejo por tal identidade. Se O é uma pessoa por quem P é fortemente 
atraído, P desejará tornar-se intimamente associado com O. Se O for um 
grupo atrativo, P terá um sentimento de associação ou um desejo de união. 
Se P já é intimamente associado com O, irá querer manter essa relação. A 
identificação de P com O pode ser estabelecida ou pode ser mantida, caso P 
se comporte, acredite e perceba as coisas como O o faz. Portanto, O tem a 
habilidade de influenciar P, embora P possa não estar ciente desse poder de 
referência. (FRENCH e RAVEN, 1959, p. 156) 
Por fim, o poder de especialista é definido por French e Raven como 
“baseado na percepção de que O tem algum conhecimento ou perícia especial”: 
A força do poder de especialista de O sobre P varia na medida do 
conhecimento ou da percepção que P atribui a O dentro de uma determinada 
área. Provavelmente, P avalia a perícia de O em relação ao seu próprio 
conhecimento, bem como em relação a um padrão absoluto. Em todo caso, 
poder de especialista resulta em influência social primária sobre a estrutura 
cognitiva de P e, provavelmente, não em outros tipos de sistemas. (FRENCH 
e RAVEN, 1959, p. 163) 
Somech e Drach-Zahavy (2002) analisam as bases de poder, afirmando 
que o poder nas organizações pode ser derivado não só das oportunidades existentes 
à posição de um indivíduo na hierarquia (relacionada com os conceitos de poder 
legítimo, coercitivo e de recompensa), mas também dos atributos pessoais 
(conectados com o poder de referência e de especialista). Porisso, o status formal de 
uma organização não deve ser reconhecido como o único fator determinante do poder 
de um indivíduo, ainda que seja um fator essencial do poder potencial numa 
organização. 
Guerrero et al. (2011) defendem, ainda, que o poder apresenta seis 
princípios de poder que regem os relacionamentos interpessoais: Primeiramente, 
21 
 
destaca-se Power as Perception (poder como percepção), que afirma que “pessoas 
podem até usar a comunicação de forma poderosa, mas se outros não aceitarem ou 
perceberem seu poder, seu comportamento acaba não sendo dominante”. Ou seja, 
as pessoas só são poderosas se existe alguém que reconheça essa característica. 
O segundo princípio intitula-se Power as Relational Concept, ou seja, como 
um Conceito de Relacionamento. Basicamente, afirma que “o poder existe nos 
relacionamentos”, de forma que o poder de um indivíduo é influenciado pela 
submissão do outro. Acerca do Power as Resource Based (poder baseado em 
recursos), afirma-se que “o poder representa uma disputa por recursos; recursos 
escassos e valorizados criam conflitos mais intensos”. 
O quarto dentre os seis princípios destacados é intitulado de Principle of 
Least Interest and Dependence Power (Princípio do Menor Interesse e Poder de 
Dependência). O Poder de Dependência firma-se na prerrogativa de que a pessoa 
com menos influência em um relacionamento está em desvantagem relacionada à 
pessoa que apresenta maior poder, pois o último tem menos coisas a perder. Já o 
Princípio de Menor interesse defende que, se existe uma diferença no que se refere 
à a positividade envolvida entre as pessoas do relacionamento, a pessoa mais positiva 
encontra-se em desvantagem sobre a outra, em relação de poder. 
No que diz respeito ao quinto princípio, Power as Enabling or Desabling 
(Poder como Habilitador ou Desabilitador), o poder pode ser um habilitador quando 
influencia positivamente as relações e quando reflete habilidades, ao invés de 
intimidações, sendo, assim, mais duradouro. Por outro lado, pode ser um desabilitador 
quando “leva a padrões destrutivos de comunicação”. Dessa forma, a relação acaba 
tornando-se prejudicial, tendo em vista que a pessoa com menos poder não tem tanta 
abertura e, por isso, evita comunicar insatisfações. 
Por fim, o último princípio de poder é denominado Power as a Prerogative 
(Poder como Prerrogativa). Como o próprio nome já diz, tal princípio afirma que, nesse 
caso, a obtenção de poder é uma prerrogativa para que o indivíduo que o detenha em 
maior proporção tenha a liberdade para fazer e quebrar regras. Nesse caso, vale 
salientar que as punições não são sofridas para essas pessoas como para as menos 
favorecidas nas relações de poder. 
22 
 
Dentro desse contexto, ao analisar os conceitos defendidos pelos autores, 
analisa-se que, apesar das diferenças presentes nas abordagens de cada um, todos 
defendem a existência de uma das motivações humanas como sendo a busca por 
poder, de forma que ela pode ser indicada pela capacidade de um indivíduo em 
influenciar outro, subordinado a ele. Assim, pode-se inferir que o poder sempre esteve 
presente nas relações interpessoais, nas suas mais diversas modalidades, sendo um 
intermediador dos relacionamentos em suas variadas vertentes. 
Por meio dessa revisão de análises exposta, torna-se relevante para este 
trabalho abordar características que despertem o anseio pelo poder. Assim, analisar 
o comportamento narcisista nos indivíduos é essencial, verificando como essa 
personalidade pode reagir em situações nas quais receba poder em uma organização. 
Em se tratando do ambiente contábil, mais especificamente, é crucial 
observar o comportamento do indivíduo em situações subjetivas rotineiras da 
profissão, tendo em vista que o contador é um grande tomador de decisão. No tocante 
a essa temática, em uma pesquisa realizada por Kelsey Kay Dworkis (2013) com 
gerentes, foi observada uma relação relevante de interação entre o narcisismo e os 
estímulos nas decisões tomadas pelos gerentes. Assim, destaca-se a importância de 
aprofundar os conhecimentos sobre os atributos narcisistas, como os indivíduos se 
comportam ao tomar decisões relacionadas à contabilidade, bem como sua relação 
com aspirações por poder no meio organizacional. 
 
2.2 O NARCISISMO – ORIGEM E CONCEITO 
 
Apesar de o estudo referente à influência dos traços de personalidade 
narcisista ainda não ser completamente difundido, o reconhecimento da existência do 
narcisismo permeia a sociedade há mais de um século. Como um fator representativo 
de caráter delimitador de traços de personalidade, o narcisismo vem exercer influência 
direta no comportamento dos indivíduos quanto à busca por poder exacerbado e 
tomada de decisão. Por isso, em se tratando do ambiente contemporâneo, os seres 
estão expostos a serem submetidos, em suas escolhas, à influência do narcisismo em 
seus comportamentos. 
23 
 
Para tal, é preciso, primordialmente, compreender a origem do termo 
“Narcisismo”. A história se origina através do mito de Narciso, mais conhecido em sua 
retratação por Ovídio, poeta latino que comentou o assunto em sua obra 
Metamorfoses, tornada pública por volta do ano 8. O mito retrata, de forma geral, um 
rapaz, chamado Narciso, de arrogância e orgulho extremos, que acaba sendo 
condenado pela deusa Némesis a se apaixonar pelo seu próprio reflexo. Assim, ele 
definhou, na lagoa de Eco, olhando-se na água e apreciando seu próprio reflexo. 
Sobre a criação do termo, é importante salientar que Peter Fonagy et al. 
(2012) afirmam que quando Freud introduziu o conceito formal de narcisismo em sua 
teoria, o termo já era conhecido, apesar de ainda não ser tão comumente utilizado. 
Ainda conforme o autor, Freud utilizou-se do termo pela primeira vez em 
1910, em seu trabalho com Leonardo da Vinci. Entretanto, é bem conhecido que Freud 
trata da sua preocupação para com o Narcisismo – especificamente com a escolha 
do objeto narcisista – em sua obra Three Essays on the Theory of Sexuality – Três 
Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905) –, divulgado apenas em 1910 (assim 
como a obra Leonardo da Vinci and a Memory of His Childhood – Leonardo da Vinci 
e uma Memória de sua Infância –. 
Dentro desse contexto, faz-se necessário sinalizar que o termo foi sendo 
reconhecido e utilizado para descrever indivíduos extremamente enamorados de si 
mesmos anos antes, somente assimilado por Freud anos depois. Apesar de alguns 
conflitos sobre quem foi o responsável pela origem do termo, data-se que Havelock 
Ellis (1898) introduziu o termo ao descrever uma atitude psicológica, de forma a 
compará-la à figura de Narciso, utilizando-se da expressão “Narcissus-like”. Um ano 
depois, Paul Näcke faz uso da expressão ao denotá-la como um distúrbio no qual a 
pessoa trata seu próprio corpo como um objeto sexual. 
Contudo, apesar de haver certo consenso na história acerca das utilizações 
do termo, a obra “Dicionário da Psicanálise” de Roudinesco (1997) destoa dessas 
análises, ao apontar o mérito da invenção do termo ao psicólogo francês Alfred Binet, 
que se utiliza do termo para descrever um tipo de fetiche, no qual a própria pessoa se 
torna objeto sexual. Binet utiliza-se não propriamente do termo, mas faz menção ao 
mito de narciso em sua obra Le fétichisme dans l´amour – O Fetichismo no Amor –, 
escrita em 1887. 
24 
 
Entretanto, ainda sobre a definição de Näcke, é necessário ressaltar que, 
justamente pelo fato de ele ter tratado e classificado traços narcisistas como atributos 
de uma perversão, tal conceito acaba conduzindo a uma outra vertente do termo, o 
de criminalização do narcisismo – Paul Näcke não era somente psiquiatra, mas sim 
um médico criminologista. 
Por conseguinte, acaba-se incluindo o narcisismo como um quadro clínico 
reconhecido no catálogo de perversões Psychopatia sexualis (1950). A obra foi 
publicada primeiramente em 1886, pelo autorKrafft-Ebing, e teve o narcisismo 
incluído em seu rol em uma de suas revisões. 
Dentro desse contexto, faz-se necessária uma análise das diferentes 
perspectivas defendidas por cada um dos autores. Abaixo, é apresentada uma tabela 
resumida dos conceitos defendidos pelos principais autores conhecidos na temática, 
bem como suas perspectivas a respeito da abordagem do Narcisismo. 
 
Tabela 1: Conceituação do Narcisismo – comparativo e evolução 
Binet Ellis Näcke Krafft-Ebing Freud 
Autor reconhecido 
pela retratação do 
mito de Narciso, 
identificando-o 
como uma espécie 
de fetichismo, 
problema 
psicopatológico. 
Primeiro autor 
a utilizar-se da 
expressão 
“Narcissus-like: 
ser como 
Narciso” – no 
sentido de 
comparar o 
indivíduo à 
personagem de 
Narciso – na 
obra 
Autoerotismo: 
um estudo 
sobre a 
manifestação 
do impulso 
sexual 
(explicitando 
comportamento 
autoerótico). 
Atribui-se ao 
autor a 
criação do 
termo 
narcisismo 
propriamente 
dito, ao 
utilizar-se 
dele em sua 
obra, de 
forma a 
caracterizá-
lo como uma 
perversão. 
Autor 
acrescenta o 
narcisismo 
como um dos 
quadros 
clínicos 
reconhecidos 
em seu 
catálogo de 
perversões. 
Um dos autores 
mais 
conhecidos nas 
pesquisas do 
tema. Realizou 
estudos com 
uma visão mais 
analista e 
menos 
perversa, 
visando 
compreender o 
comportamento 
dos indivíduos 
e as influências 
sobre eles. 
Fonte: elaborado pela autora. 
 
25 
 
É importante destacar que Binet está entre os primeiros autores 
reconhecidos por retratarem o mito de Narciso. Sucedendo-o, Ellis conceitua, 
portanto, o termo “Narcissus-like”, referindo-se à uma tendência do indivíduo a “ser 
como Narciso”. O autor utiliza-se da história em seu texto “Auto-erotism: a study of the 
spontaneous manifestation of the sexual impulse” (Autoerotismo: um estudo sobre a 
manifestação do impulso sexual) para explicitar o comportamento autoerótico. 
No ano seguinte, Paul Näcke se refere ao mito de Narciso em seu trabalho 
“Kritisches zum Kapitel der normalen und pathologischen Sexualität” (Crítica ao 
Capítulo da Sexualidade Normal e Patológica). O médico é quem é reconhecido pela 
criação do termo “narcisismo” propriamente dito, caracterizando-o como uma 
perversão. Tal premissa só vem a ser consolidada quando, no século XX, Krafft-Ebing 
acrescenta o narcisismo como uma das perversões inseridas em seu catálogo. Por 
isso, pode-se dizer que esses primeiros autores criaram a imagem inicial do 
narcisismo. 
Porém, é evidente que os primeiros estudiosos do narcisismo seguiram 
uma vertente bem mais nociva do narcisismo, de forma a rotulá-lo como um distúrbio 
específico, sem maiores avaliações referentes ao seu nível de influência, como se 
manifesta – e é identificado – no indivíduo e quais as interferências no meio social, 
justamente por se tratarem de conceitos mais primitivos e superficialmente 
aprofundados. 
Alguns anos depois, Freud inicia suas pesquisas e menções acerca da 
temática. Todavia, ele se diferencia dos demais autores citados por buscar realizar 
um estudo com um viés mais analista e menos perverso do tema, considerando 
verificar as influências que deram origem ao transtorno narcisista, de forma a expor 
uma análise mais voltada ao comportamento dos indivíduos, bem como ao 
desdobramento dessas situações e suas consequências. 
Em sua obra “Introdução ao Narcisismo” (1914), Freud trata das mudanças 
ocasionadas no Eu, que poderiam gerar os distúrbios. Assim, ele elenca algumas 
áreas que aproximariam do conhecimento mais aprofundado do narcisismo e que 
devem ser estudadas: consideração da doença orgânica, da hipocondria e da vida 
amorosa. 
26 
 
Relativamente à doença orgânica, Freud destaca nesse grupo os distúrbios 
físicos influenciadores no indivíduo, como mudanças de humor, estado do sono, etc. 
Já a hipocondria surge por meio de sensações físicas penosas e dolorosas, da mesma 
forma que a doença orgânica. Entretanto, o autor cita uma diferenciação entre 
hipocondria e doença orgânica: na doença orgânica, “sensações penosas se baseiam 
em mudanças demonstráveis, no primeiro (hipocondria), não”. Em outras palavras, a 
hipocondria não é caracterizada por uma mudança demonstrável, ao contrário da 
doença orgânica. 
A partir dessa análise, já é possível perceber o objetivo de Freud e sua 
preocupação com uma análise clínica mais profunda da origem do narcisismo e sua 
influência no indivíduo, tomando como base seu comportamento e suas relações. 
Quando Freud relata as situações permeadas pelo distúrbio, ele afirma que 
o Eu é o detentor de toda a libido presente no indivíduo, sendo ela distribuída para o 
meio externo. Entretanto, quando não se encontra satisfação fora de si, volta para o 
objeto de origem – novamente, o próprio ser. Anos mais tarde, todavia, Freud relata 
que a libido não está presente mais no eu, mas sim no isso, tomando como base o 
fundamento de que tal característica se desenvolve quando o eu ainda está no início 
do seu processo de existência. Em seu texto “O eu e o isso”, portanto, ele defende 
que o narcisismo do eu é, agora, secundário: 
No início, toda a libido está acumulada no isso, enquanto o eu encontra-se 
ainda em processo de formação ou é fraco. O isso envia uma parte dessa 
libido para investimentos objetais eróticos; em consequência, o eu fortalecido 
tenta apoderar- se dessa libido do objeto e impor-se ao isso como objeto 
amoroso. Portanto, o narcisismo do eu é um narcisismo secundário, subtraído 
dos objetos. (FREUD [1923] 2006, p.47) 
Depois dessa afirmação, os pesquisadores do tema chegaram a num 
impasse, já que Freud, considerado o pai da psicanálise, encontrava-se nessa 
contradição. 
No âmbito desse impasse, é importante dar atenção especificamente a um 
psicanalista que resolveu desenvolver pesquisas que contribuíram de forma 
significativa para desenvolver essa temática: A. Green. Dentre suas contribuições, 
ele busca, inicialmente, analisar as noções de narcisismo primário quando, em sua 
obra “Narcisismo primário, estado ou estrutura?” (1966-1967), ele considera o 
narcisismo não mais como um estado de ser, mas como uma estrutura. Ele também 
27 
 
dá origem à construção de uma hipótese que considera o narcisismo como “de 
morte/negativo” e “de vida/positivo”. Essa ideia surge pelo fato de que Green acredita 
existir uma relação entre duas teorias ligadas a essa temática: a dos instintos e a de 
relação de objeto. Basicamente, o narcisismo positivo tem a característica de 
transformar em objetos, ocasionando relações objetais que irão influenciar na 
constituição do Ego e o desenvolvimento da atividade psíquica. Já o negativo 
apresenta o caminho oposto, desobjetalizando e promovendo uma desconexão nas 
relações objetais e o desenvolvimento ocorrido após isso. 
Também é relevante afirmar que o objetivo de Green não era sobrepor nem 
substituir os conceitos instaurados por Freud acerca da temática. O que ele realmente 
buscava era construir uma relação entre as abordagens, de forma a conectar as 
lacunas existentes entre elas (Green, 1988, p.242). De forma geral, Green contribui 
de forma significativa por expor um narcisismo moral, um pouco mais voltado para as 
relações e de forma mais prática do que os pesquisadores anteriores a ele, que 
caracterizaram o narcisismo praticamente de uma forma semelhante, sendo ligado a 
perversões e fetichismos quando, na verdade, os traços da personalidade narcisista 
não se apresentam apenas dessa maneira. 
Raskin e Terry (1988) desenvolveram o NPI-40 – Narcissistic Personality 
Inventory-40, uma versão mais resumida da versão inicial de análises de Raskin, que 
continha 80 itens, e de Hall, que continha 54 (Raskin e Hall, 1979). O questionário é 
composto por 40 questões relacionadas, nas quais o indivíduo escolhe um dentre dois 
cenários expostos por questão. Após a aplicação do teste, as respostas dadas são 
analisadas, tendo como base sete fatores correlacionadoscom a construção da 
personalidade narcisista. São eles: autoridade, autossuficiência, superioridade, 
exibicionismo, exploração, vaidade e senso de direito. Portanto, conclui-se que os 
traços narcisistas nos indivíduos apresentam atitudes e sentimentos relacionados à 
onipotência, visando explorar outros e sentirem que são merecedores de privilégios 
em relação àquelas pessoas. Também se consideram autossuficientes; por isso, são 
intolerantes a críticas, além de serem exacerbadamente vaidosos. 
Após pesquisar o comportamento de líderes narcisistas no meio 
organizacional, Maccoby (2004) pôde perceber que, por apresentarem esse traço de 
personalidade, buscavam exercer controle sobre os demais colaboradores. Percebeu, 
ainda, que os participantes da pesquisa possuíam dificuldade de liderança, 
28 
 
caracterizada por não gostarem de reconhecer seus próprios erros e serem mais 
sensíveis a críticas. Também foi observada a presença de uma personalidade 
altamente competitiva, em detrimento da necessidade própria de sempre obterem 
vitórias em diferentes situações. 
Apesar de serem pessoas que agem encorajadas pelo elogio externo e 
atuarem em benefício próprio (Chatterjee & Hambrick, 2007), apresentam, por outro 
lado, algumas características positivas como inteligência, competência, capacidade 
de liderança e criatividade (Farwell & Wohlwend-Lloyd, 1998). 
Ao analisar a influência da personalidade narcisista e seus incentivos nas 
decisões tomadas por gerentes, Kelsey Kay Dworkis (2013) observou, através dos 
seus estudos, que existe uma interação relevante do narcisismo no resultado da 
atuação dos gerentes. Os Chief Executive Officers (CEOs) que obtiveram alta 
pontuação em narcisismo apresentaram um desempenho melhor em decisões 
gerenciais em ambientes com menor limite de recompensa, comparados aos 
indivíduos que apresentaram menor pontuação narcisista. 
Em contrapartida, os gerentes com menor pontuação em narcisismo se 
saem melhor do que os com alta pontuação em situações cujas bonificações são 
maiores. Por isso, a pesquisa expõe que as características de personalidade afetam 
como as variáveis bonificações/recompensas influenciam na atuação dos CEOs. 
Dentro desse contexto, a pesquisa só corrobora a ideia de que lideres 
narcisistas conduzem seu negócio em busca de aplausos e elogios para si próprios, 
sendo geralmente motivados pelas suas aspirações pessoais e necessidade 
individual de admiração. Consequentemente, acabam por não priorizar a instituição 
da qual fazem parte e seus colaboradores. Por outro lado, também são possuidores 
de grande carisma e visão, características essenciais para a realização de uma 
liderança eficaz (Rosenthal e Pittinsky, 2006). 
Em uma comparação de comportamentos realizada por Crysel, Crosier, 
Webster e Gregory (2013), ao observarem indivíduos com traços narcisistas de 
psicopatia e maquiavelismo como condutas de risco nos ambientes corporativos, foi 
atestado que o Narcisismo é um condutor de comportamentos de risco, tendo em vista 
que foi o traço de personalidade com maior consistência quando relacionado às 
atividades de risco comportamentais. 
29 
 
Dentre outras diversas pesquisas realizadas na área, vale destacar que 
Brunell, Staats, Barden e Hupp (2011) comprovaram que o Narcisismo também está 
relacionado com a desonestidade acadêmica, justamente pelo fato desses indivíduos 
apresentarem necessidade elevada de exibicionismo e de expor superioridade 
perante os demais. Nesse intuito, eles estariam dispostos até mesmo a trapacear para 
atingir seus objetivos e obter sucesso. De acordo com essa conclusão, Avelino e Lima 
(2017) obtiveram resultados que condizem com as pesquisas onde, ao investigar 201 
estudantes brasileiros, obtiveram disposições para características narcisistas nos 
examinados, como necessidade de impressionar positivamente, busca incessante por 
sucesso e poder e pelo prazer individual. Além disso, o trabalho aponta que discentes 
que são mais tolerantes com atitudes desonestas no ambiente acadêmico também 
agem dessa maneira no contexto profissional. 
Por isso, justifica-se novamente a relação existente acerca do desejo por 
posições de poder, destaque e prestígio com os indivíduos possuidores de traços 
narcisistas, após uma observação dos resultados encontrados em análises de 
pesquisas anteriores, nas quais se observa a atitude de discentes, visando projetar a 
forma como irão atuar profissionalmente, tendo como base seu comportamento e 
atitudes tomadas na fase acadêmica. 
Ainda nesse contexto, em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, 
Macenczack, Campbell, Henley e Campbell (2016) investigaram 267 estudantes de 
negócio em graduação e em pós-graduação e puderam perceber que quanto mais 
elevada a pontuação em Narcisismo, maior é o desejo de poder por parte dos 
indivíduos. 
Corroborando esses resultados, Lynne Carroll (1987) observou, como 
constatação de sua pesquisa com 65 estudantes de um mestrado em administração, 
que existe uma relação positivamente significativa entre o Narcisismo e a necessidade 
de poder. 
Assim, é possível verificar que as pesquisas convergem para um mesmo 
resultado, ainda que as amostras das obras sejam diferentes, por se aplicarem em 
diversos cenários acadêmicos. Em outras palavras, comprova-se que a relação não 
está limitada a um certo grupo de discentes, nem a um delimitado grupo de 
30 
 
pensamentos, já que tais resultados podem ser significativamente verificados não só 
em um segmento acadêmico. 
Em se tratando da contabilidade, é importante dar enfoque ao papel dos 
estudantes dessa ciência, futuros profissionais contábeis. Dentro de suas atribuições, 
os contadores têm boa parte regulamentada por decretos e legislações vigentes. 
Entretanto, diversas situações são caracterizadas pelo próprio indivíduo, tendo em 
vista a importância do contador como essencial orientador à tomada de decisão. No 
contexto apresentado, faz-se necessário dar enfoque ao poder atribuído ao contador 
já que, apesar da existência de normas regulamentadoras, uma parcela considerável 
das decisões tomadas no ambiente acadêmico – e também corporativo – será 
consequência da decisão particular do indivíduo. 
Portanto, observando-se as pesquisas nas quais são apontadas relações 
diretamente proporcionais entre os traços de personalidade narcisista e o desejo por 
poder e sucesso pessoal, é possível refletir sobre o impacto dessa inclinação pessoal 
ocasionado no ambiente corporativo, de forma que se torna essencial estudar e 
verificar como essas atitudes diferenciadas podem afetar – positiva ou negativamente 
– o meio no qual tais indivíduos convivem, já que é possível que essa inclinação 
pessoal por aspiração de poder e sucesso pessoal exacerbados podem influenciar o 
profissional da contabilidade a agir em benefício próprio, visando se destacar 
injustamente diante dos outros indivíduos da organização; algumas vezes, tais 
situações podem ser até ditas como inofensivas, se olhando-as num macro ambiente. 
Entretanto, é necessário atentar-se para o fato de que podem, também, ocasionar 
grandes fraudes que gerariam alto impacto negativo nas entidades. 
Por isso, existe a necessidade de analisar a relação desse desejo por poder 
e o narcisismo, averiguando o impacto que seria gerado na tomada de decisão por 
parte dos profissionais do ramo contábil, buscando compreender qual o nível do 
impacto gerado por essa intensidade do transtorno de personalidade, a fim de que 
não haja inclinações temperamentais que resultem em prejuízos às organizações 
(sejam elas desde pequenos grupos acadêmicos até grandes ambientes 
corporativos). 
Assim, se enfatiza novamente a importância de observar o impacto da 
personalidade narcisista nas tomadas de decisões realizadas por indivíduos, 
31 
 
geralmente em cargos de liderança, para que seja possível detectar a existência do 
risco inerente a esse traçode personalidade. 
Na profissão contábil, como já dito anteriormente, existem certas situações 
nas quais a decisão será tomada conforme o entendimento subjetivo do profissional 
relevante àquele caso, sendo a área de passivos contingentes uma delas, já que 
dependendo da conclusão tomada acerca de uma situação – que, geralmente, 
depende de diversos fatores – o reconhecimento contábil se dá de forma diferente. 
Nesse contexto, também é de relevância para a pesquisa aprofundar conhecimentos 
a respeito do passivo contingente e seu reconhecimento na contabilidade. 
 
2.3 O CONCEITO DE PASSIVOS CONTINGENTES 
 
Tem-se como definição, no dicionário de língua portuguesa, para o termo 
contingente como um algo “que não pode ocorrer; incerto, duvidoso” ou, ainda, no 
período da escolástica filosófica, o termo era utilizado para definir ocorrência fortuita, 
considerada isoladamente. Já por passivo, entende-se uma obrigação presente da 
entidade, derivada de eventos já ocorridos, cuja liquidação se espera que resulte em 
saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos (CPC 25). 
Nesse contexto, seguindo ainda a definição do Pronunciamento Técnico CPC 25, um 
passivo contingente pode ser reconhecido como: 
(a) Uma obrigação possível que resulta de eventos passados e cuja 
existência será confirmada apenas pela ocorrência, ou não, de um ou 
mais eventos futuros incertos não totalmente sob o controle da 
entidade; ou 
(b) Uma obrigação presente resultante de eventos passados, que não é 
reconhecida porque: 
(i) Não é provável que uma saída de recursos que incorporam 
benefícios econômicos seja exigida para liquidar a obrigação, ou 
(ii) O valor da obrigação não pode ser mensurado com suficiente 
confiabilidade. 
32 
 
O Pronunciamento ressalta, ainda, que uma entidade não deve reconhecer 
seus passivos contingentes, mas divulgá-lo, a menos que seja remota a possibilidade 
de uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos. Além disso, a 
norma trata, também, das provisões, acrescentando que todas elas são contingentes, 
pelo fato de serem incertas quanto a seu prazo ou valor. Porém, ressalta ainda que o 
termo contingente é utilizado para passivos e ativos cuja ocorrência depende da 
confirmação ou não de um ou mais eventos futuros incertos; daí é justificado o não 
reconhecimento deles. 
Por isso, passivos contingentes não são imediatamente reconhecidos 
como passivos, tendo em vista que podem englobar tanto obrigações possíveis, pelo 
fato de que ainda há de se confirmar se a entidade tem ou não aquela obrigação 
presente que conduziria a uma possível saída de recursos que incorporam benefícios 
econômicos, como também uma obrigação presente que não esteja englobada nos 
critérios de reconhecimento do Pronunciamento Técnico – não havendo uma 
comprovação da necessidade de saída de recursos que incorporem benefícios 
econômicos para liquidar a obrigação, ou não pode se estimar de forma 
suficientemente confiável o valor daquela obrigação. 
Ainda no que tange ao reconhecimento dos passivos contingentes, o CPC 
afirma algumas situações nas quais também deve-se tratar como passivo contingente; 
dentre elas, frisa a situação na qual a entidade é conjunta, sendo responsável 
solidariamente por alguma obrigação, de forma que a parte dessa obrigação que deve 
ser liquidada por outras partes deve ser tratada como um passivo contingente. Assim, 
ratifica-se que a entidade reconhecerá a provisão para obrigação que seja provável 
uma saída de recursos que irão incorporar benefícios econômicos futuros, com 
exceção em situações específicas nas quais não seja possível fazer estimativa 
suficientemente confiável. 
Contudo, faz-se necessário apontar que existe a possibilidade de os 
passivos contingentes desenvolverem-se de maneira que não foi prevista 
inicialmente. Por isso, devem ser avaliados periodicamente, a fim de verificar se foi 
alterada a probabilidade de ocorrência de alguma saída de recursos que incorpora 
benefícios econômicos futuros, de forma que se um item foi inicialmente reconhecido 
como passivo contingente, mas foi posteriormente considerada como provável uma 
saída de benefícios econômicos futuros, deve ser reconhecida a devida provisão nas 
33 
 
demonstrações contábeis da entidade, justamente no período em que ocorre essa 
mudança na estimativa da probabilidade. 
É importante destacar que, assim como outras peculiaridades 
características da profissão contábil, o reconhecimento de passivos contingentes é 
regulamentado por Pronunciamento Técnico específico; ainda assim, existe sempre 
uma parcela de interpretação inserida no campo da subjetividade, no sentido de dar 
ao profissional um certo tipo de liberdade para escolher como proceder com 
determinados reconhecimentos em sua atuação. 
Ou seja, de acordo com a interpretação subjetiva de cada indivíduo, o 
reconhecimento de tal obrigação – ou a atualização dela – pode não ser realizada na 
forma mais correta. Ao observar o narcisista e suas características proeminentes –
necessidade de poder, busca exacerbada por sucesso e prestígio –, é possível refletir 
acerca da influência de tais características no ambiente corporativo e suas 
consequências para a entidade, em uma visualização macro do cenário. 
Dessa maneira, torna-se relevante apresentar cenários subjetivos no 
contexto contábil cuja escolha depende, de certa forma, das percepções do indivíduo 
nessa situação. Tal importância se destaca pelo fato de que ao observar o 
comportamento dos indivíduos diante de determinadas situações, será possível 
identificar a influência – ou não – dos traços de personalidade narcisista em cada 
pessoa e qual o nível de interferência desses ideais, tanto na tomada de decisão de 
cada indivíduo dentro da atuação na contabilidade, primeiramente, bem como numa 
possível alteração maior causada nas organizações cujo indivíduo em questão seja 
um membro. 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
3. METODOLOGIA 
3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA 
O presente trabalho visa averiguar a relação existente entre o traço de 
personalidade narcisista e as decisões tomadas pelo indivíduo em ambientes 
subjetivos da contabilidade. Esse estudo foi projetado com base em pesquisa anterior 
realizada por Marcia Figueiredo D Souza, Maria Leny Souza Oliveira, Jocely Santos 
Caldas Almeida e Domingos Santana Natividade, publicado em novembro de 2018 no 
XXI SemeAd (Seminários em Administração), intitulado “Eu posso, você pode, eu 
posso mais: Narcisismo e poder”. 
O trabalho se classifica como uma pesquisa descritiva, por destinar-se a 
realizar uma análise dos dados detalhados de descrições, registros e observações 
pertencentes a uma amostra determinada. 
No que se refere à abordagem, é considerada qualitativa e quantitativa, por 
trabalhar com coleta de dados, sendo assim quantitativa, bem como é quantitativa por 
analisar a percepção acerca dos indícios que conduzem a traços de personalidade 
narcisista. 
O procedimento adotado foi de análise e levantamento de dados para obter 
indícios sobre o narcisismo em determinada população, através da aplicação de 
questionário, via online – ferramenta Google Docs – distribuído aos alunos por meio 
de publicação em fórum do curso de Ciências Contábeis, bem como por envio 
eletrônico em redes sociais. 
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA 
A pesquisa foi realizada por meio de aplicação de questionário com alunos 
acadêmicos do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte, e a amostra é composta por 61 alunos, de uma população de alunos 
estudantes dos turnos matutino e noturno na referida instituição, com dados coletados 
no mês de maio de 2019. 
3.3 TRATAMENTO DOS DADOS 
Os dados foram obtidos através de aplicação de um questionário composto 
de duas partes. A primeira parte do questionário é composta de questões relativas ao 
35 
 
perfil narcisista do Inventário de PersonalidadeNarcisista – NPI, elaborado por Raskin 
e Terry no ano de 1988. Ele possui 40 assertivas relacionadas, que remetem a 
situações, nas quais deve-se escolher um dentre os dois cenários expostos em cada 
questão. Cada uma das questões se refere a fatores correlacionados, que apresentam 
características remetentes à formação do perfil Narcisista, que são: autoridade, 
autossuficiência, superioridade, exibicionismo, exploração, vaidade e senso de direito. 
A segunda parte do questionário, por sua vez, conta com uma elaboração 
de 3 situações práticas no cenário da atuação do profissional contábil, relacionadas à 
área de passivos contingentes. O indivíduo participante da pesquisa terá uma situação 
fictícia ligada à área, na qual deverá assinalar sua opinião acerca da probabilidade de 
ocorrência do cenário exposto. É importante assinalar que os cenários tiveram relação 
com três das cinco bases de poder elencadas por French e Raven – poder de 
especialista, poder coercitivo e poder de recompensa – de forma a relacionar os 
cenários com essas motivações, visando comparar as previsões de resposta nesses 
casos com o raciocínio dos participantes da pesquisa. 
Após o recebimento dos dados, eles foram analisados, interpretados e 
organizados em planilhas no Microsoft Office Excel, a fim de realizar os cálculos dos 
índices necessários para se obter os resultados dessa pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 
4.1 ANÁLISE DO INVENTÁRIO DE PERSONALIDADE NARCISISTA – NPI 
A análise do Inventário de Personalidade Narcisista deu-se, inicialmente, 
pelo cálculo das frequências relativa e absoluta das escolhas realizadas em cada uma 
das assertivas do questionário. Inicialmente, já se pode observar que, das 40 questões 
apresentadas, a resposta relativa à característica narcisista foi escolhida 
predominantemente apenas na questão 29 (Gosto de me olhar no espelho). 
Tabela 2: Frequência de respostas ao Inventário de Personalidade 
Narcisista - NPI 
 A Freq. % B Freq. % 
1 Tenho um talento natural 
para 
influenciar as pessoas. 
19 31,1% 
Eu não sou bom em influenciar 
pessoas. 42 68,9% 
2 A modéstia não faz parte de 
mim. 13 21,3% 
Sou uma pessoa 
essencialmente 
modesta. 
48 78,7% 
3 Eu faria praticamente qualquer 
coisa se desafiado. 12 19,7% 
Eu sempre tendo a ser 
uma pessoa cautelosa. 49 80,3% 
4 
Quando as pessoas me 
elogiam, eu geralmente fico 
envergonhado. 
46 75,4% 
Sei que sou bom, porque 
as pessoas sempre me dizem 
isso. 
15 24,6% 
5 A simples ideia de governar o 
mundo me deixa amedrontado. 32 52,5% 
Se eu governasse o mundo, ele 
seria um lugar melhor. 29 47,5% 
6 Eu geralmente consigo me livrar 
de qualquer situação. 12 19,7% 
Eu tento aceitar as 
consequências dos 
meus comportamentos. 
49 80,3% 
7 Prefiro 
multidão. 
me camuflar na 
46 75,4% 
Eu gosto de ser o centro das 
atenções. 15 24,6% 
8 Vou ser um sucesso. 
28 45,9% 
Não estou muito preocupado 
em ser um sucesso. 33 54,1% 
9 Eu não sou melhor ou pior 
que a 
maioria das pessoas. 
42 68,9% 
Eu acredito que sou 
uma pessoa especial. 19 31,1% 
10 Não tenho certeza de 
que 
poderia ser um bom líder. 
35 57,4% 
Eu me vejo como um bom líder. 
26 42,6% 
11 Eu sou assertivo. 20 32,8% Eu gostaria de ser mais assertivo. 41 67,2% 
12 Gosto de ter autoridade sobre 
as 
outras pessoas. 
19 31,1% 
Não me importo em ter que 
seguir ordens. 42 68,9% 
13 Acho fácil manipular as pessoas. 
11 18,0% 
Eu não me sinto bem quando 
tenho que manipular outras 
pessoas. 
50 82,0% 
14 Eu preciso insistir até receber o 
respeito que devo. 14 23,0% 
Eu normalmente recebo o 
respeito que mereço. 47 77,0% 
37 
 
15 Eu particularmente não gosto de 
exibir meu corpo. 49 80,3% 
Gosto de exibir meu corpo. 
12 19,7% 
16 Eu posso ler as pessoas como a 
um livro. 20 32,8% 
As pessoas são difíceis de 
compreender às vezes. 41 67,2% 
17 Se eu me sinto competente, eu 
estou disposto a assumir a 
responsabilidade por tomar 
decisões. 
50 82,0% 
Eu gosto de assumir a 
responsabilidade por tomar 
decisões. 11 18,0% 
18 Eu só quero ser 
razoavelmente feliz. 41 67,2% 
Eu quero atingir meus objetivos 
aos olhos do mundo. 20 32,8% 
19 Meu corpo não tem nada de 
especial. 37 60,7% 
Eu gosto de olhar o meu corpo. 24 39,3% 
20 Tento não ser uma 
pessoa 
exibida. 
55 90,2% 
Eu geralmente me exibo, 
quando tenho oportunidade. 6 9,8% 
21 Sempre sei o que estou fazendo. 
25 41,0% 
Algumas vezes, não tenho 
certeza do que 
estou fazendo. 
36 59,0% 
22 Às vezes eu dependo das 
pessoas 
para fazer as coisas. 
43 70,5% 
Eu raramente dependo de 
qualquer outra pessoa para 
fazer as coisas. 
18 29,5% 
23 Às vezes eu conto boas 
histórias. 51 83,6% 
Todos gostam de ouvir 
minhas 
histórias. 
10 16,4% 
24 Espero obter boas vantagens de 
outras pessoas. 3 4,9% 
Eu gosto de fazer coisas para 
outras pessoas. 58 95,1% 
25 Nunca ficarei satisfeito até 
obter tudo que mereço. 23 37,7% 
Eu aceito as minhas 
satisfações conforme elas vêm. 38 62,3% 
26 Elogios me envergonham. 33 54,1% Gosto de ser elogiado. 28 45,9% 
27 Tenho um forte desejo por poder. 
5 8,2% 
O poder por si só não me 
interessa. 56 91,8% 
28 Não me importo com novos 
modismos e modas. 51 83,6% 
Gosto de começar novas 
modas. 10 16,4% 
29 Gosto de me olhar no espelho. 32 52,5% 
Eu não estou 
particularmente interessado 
em me olhar no 
espelho. 
29 47,5% 
30 
Eu geralmente gosto de ser o 
centro 
das atenções. 
12 19,7% 
Me deixa desconfortável ser 
o 
centro das atenções. 
49 80,3% 
31 
Eu posso viver minha vida do 
jeito 
que quiser. 
20 32,8% 
As pessoas nem sempre 
podem 
viver suas vidas da forma que 
elas querem. 
41 67,2% 
32 Ser uma autoridade não significa muito para mim. 50 82,0% 
As pessoas parecem 
sempre 
reconhecer minha autoridade. 
11 18,0% 
33 Eu preferiria ser um líder. 22 36,1% 
Faz pouca diferença para mim 
ser 
um líder ou não. 
39 63,9% 
34 Eu vou ser uma pessoa incrível. 24 39,3% 
Espero ter sucesso. 
37 60,7% 
38 
 
35 As pessoas às vezes acreditam no que eu digo. 43 70,5% 
Posso fazer alguém 
acreditar em qualquer coisa 
que eu queira. 
18 29,5% 
36 Eu sou um líder nato. 6 9,8% 
A liderança é uma qualidade 
que 
leva muito tempo para 
desenvolver. 
55 90,2% 
37 Gostaria que alguém algum dia escrevesse minha biografia. 7 11,5% 
Eu não gosto que as 
pessoas se intrometam na 
minha vida por 
qualquer motivo. 
54 88,5% 
38 
Eu fico chateado quando as 
pessoas não percebem minha 
aparência quando saio em 
público. 
6 9,8% 
Eu não me importo de me 
misturado à 
multidão quando saio em 
público. 
55 90,2% 
39 
Eu sou mais capaz que 
outras 
pessoas. 
1 1,6% 
Há muita coisa que eu posso 
aprender com outras pessoas. 60 98,4% 
40 Sou muito parecido com todo mundo. 38 62,3% 
Eu sou uma pessoa 
extraordinária. 23 37,7% 
Fonte: elaborado pela autora. 
Primeiramente, é relevante destacar que a pesquisa obteve 61 respostas, 
das quais 57,4% foram respondidas pelo público feminino, 41% pelo público 
masculino e 1,6% que preferiu não se identificar nesse sentido. Sendo classificados, 
ainda, de acordo com o período de curso, a maioria dos participantes cursava do 
oitavo período do curso em diante. 
Dentro desse contexto, observa-se que os respondentes não apresentam 
tantas características relacionadas ao narcisismo, já que apenas em uma das 
questões a assertiva condizente com esses traços sobressaiu à sua oposta. Portanto, 
só expõe certa vaidade dos indivíduos, ao responderem que se sentem bem ao se 
olharem no espelho; porém, essa pode nem ser uma característica considerada 
marcante somente nas relações com o Narcisismo: pode se tratar somentede um 
aspecto que se tornou mais presente na geração atual – a vaidade – graças à era das 
redes sociais, onde tudo se é postado e os likes contam bastante. 
Por outro lado, analisar as respostas às assertivas fornecidas pelos 
participantes permitiu com que fossem vistos outros pontos acerca da personalidade 
dos respondentes. Por exemplo, nas assertivas 2 (sou uma pessoa essencialmente 
modesta), 6 (eu tento aceitar as consequências dos meus comportamentos) e 9 (eu 
não sou melhor ou pior do que a maioria das pessoas) de forma oposta à pontuação 
do Narcisismo pode-se ver, por outro lado, a existência de certa humildade por parte 
39 
 
dos indivíduos. Também se observa, ainda, a presença do conservadorismo 
profissional e pessoal nas respostas 3 (eu sempre tendo a ser uma pessoa cautelosa) 
e 5 (a simples ideia de governar o mundo me deixa amedrontado), uma postura 
essencial em determinados momentos de atuação em situações específicas da vida. 
A ética é um outro atributo que está igualmente evidenciado com a resposta 
à opção da questão 13 (eu não me sinto bem quando tenho que manipular outras 
pessoas), igualmente necessário para exercer a profissão contábil – como qualquer 
outra – de forma coerente. As opções 15 (eu particularmente não gosto de exibir o 
meu corpo) e 7 (prefiro me camuflar na multidão) expõem sentimentos de ego 
reduzido e, corroboram, de certa forma, traços relativos à humildade. 
Após realizar a análise do NPI de forma global, é importante destacar as 
sete subescalas elencadas no questionário. Dentre as características presentes 
nessas divisões, tem-se características exibicionistas, com sentimentos de 
onipotência que são manifestados através do controle e exploração de outros 
indivíduos; seres intolerantes a críticas, extremamente vaidosos, além de tenderem a 
criticar outros indivíduos e se considerarem autossuficientes. Também têm um senso 
de direito elevado, no âmbito de se sentirem especiais e merecedores de mais 
privilégios sobre outras pessoas (Raskin & Terry, 1988). Nesse contexto, as 
subescalas foram divididas por Raskin e Terry (1988) em autoridade, autossuficiência, 
superioridade, exibicionismo, exploração, vaidade e senso de direito. 
Na tabela abaixo, é possível observar a exposição das assertivas por área 
elencada. 
Tabela 3: Subescalas do NPI e respectivas assertivas 
40 
 
 
Na próxima tabela, são expostas as estatísticas descritivas relacionadas à 
pontuação do NPI, levando em consideração cada uma das áreas acima elencadas, 
bem como a pontuação média total dos respondentes no instrumento utilizado na 
análise. 
 
 
 
 
Tabela 4: Estatística descritiva – Pontuação NPI 
Variável Obs. Média 
Desvio-
padrão Pont. Mín. 
Pont. 
Máx. 
Autoridade 61 2,47448 0,112041 0 8 
Autossuficiência 61 1,62200 0,136219 0 6 
Superioridade 61 1,50800 0,117012 0 5 
Exibicionismo 61 1,21300 0,052660 0 7 
Exploração 61 1,16400 0,065931 0 5 
Vaidade 61 1,11500 0,134752 0 3 
Subescala Autoridade Autossuficiência Superioridade Exibicionismo Exploração Vaidade Senso de direito
Questões
1. Tenho um talento 
natural para 
influenciar as 
pessoas.
8. Eu serei um 
sucesso.
10. Eu me vejo 
como um bom líder.
11. Eu sou 
assertivo.
12. Eu gosto de ter 
autoridade sobre as 
outras pessoas.
32. As pessoas 
sempre parecem 
reconhecer minha 
autoridade.
33. Gostaria de ser 
um líder.
17. Tudo o que 
quero é a 
incumbência de 
tomar decisões.
21. Sempre sei o 
que estou 
fazendo.
22. Raramente 
dependo de 
alguém para 
fazer as coisas.
31. Posso viver 
minha vida do 
jeito que quiser.
34. Estou me 
conduzindo para 
ser alguém muito 
importante.
39. Sou mais 
capaz que as 
outras pessoas
4. Sei que sou 
bom porque todo 
mundo fica 
dizendo que sou 
bom.
9. Penso que sou 
uma pessoa 
especial.
26. Gosto de ser 
elogiado.
37. Gostaria que 
algum dia alguém 
escrevesse minha 
biografia.
40. Sou uma 
pessoa 
extraordinária.
2. A modéstia não 
é meu forte.
3. Faria quase 
tudo sob risco.
7. Gosto de ser o 
centro das 
atenções
20. Se eu tiver 
uma chance, 
provavelmente me 
exibirei.
28. Gosto de criar 
novas manias, 
estilos e costumes.
30. Geralmente 
gosto de ser o 
centro das 
atenções.
38. Quando em 
público, fico 
perturbado 
quando as 
pessoas não 
notam minha 
6. Geralmente 
eu dou um 
jeitinho para me 
safar das 
encrencas
13. Acho fácil 
manipular 
pessoas.
16. Consigo 
decifrar as 
pessoas como 
se fossem um 
livro.
23. Todos 
gostam de ouvir 
minhas histórias.
35. Posso fazer 
qualquer pessoa 
acreditar no que 
eu quiser que 
acredite.
15. Gosto de 
exibir meu 
corpo.
19. Gosto de 
olhar para o 
meu corpo.
29. Gosto de 
me olhar no
espelho.
5. O mundo seria 
melhor se eu o 
dominasse.
14. Insisto em ter 
o respeito que me 
é devido
18. Quero ser 
importante aos 
olhos de todos.
24. Espero muito 
das outras 
pessoas.
25. Nunca vou 
ficar satisfeito até 
conseguir tudo 
que mereço.
27. Tenho um 
forte desejo de 
poder.
41 
 
Senso de Direito 61 1,54100 0,153614 0 6 
Total NPI 61 10,63748 0,772229 0 40 
 Fonte: elaborado pela autora. 
Faz-se necessário sinalizar, primeiramente, que a pontuação máxima 
possível de se obter no instrumento é de 40 pontos, sendo o somatório das 
pontuações máximas possíveis em cada área. Destaca-se que a média da pontuação 
no NPI (x¯ = 10,64) relativa à amostra do presente estudo – estudantes de Ciências 
Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – foi inferior a resultados 
relatados em pesquisas prévias, dentre elas, o estudo realizado por Raskin e Terry 
(1988) que, ao analisarem respostas de estudantes de graduação da Universidade da 
Califórnia entre o período de 1979 a 1985, encontraram uma pontuação média no NPI 
de aproximadamente 15,3. Entretanto, vale ressaltar que essa pesquisa não foi 
realizada com a mesma amostra do presente estudo, que trata com discentes 
específicos da área de Contabilidade. É importante complementar, ainda, que pelo 
fato de a pesquisa ser antiga, os parâmetros que levaram a tais resultados poderiam 
não concluir os mesmos índices atualmente. 
Dentre outros estudos na área, o realizado pelos pesquisadores da 
Universidade do Sul da Califórnia, Young e Pinsky (2006), avaliou alunos de MBA e 
pôde relatar uma média de NPI de 16,18. Já na Universidade da Georgia, Miller e 
Campbell (2008) analisaram 271 estudantes e obtiveram uma média de 16,4. 
Contudo, é possível que, por serem alunos de MBA, a mentalidade seja diferente da 
de estudantes de graduação; pós graduandos podem apresentar, de certa forma, uma 
confiança maior do que alunos que estão no início de suas experiências profissionais 
justificando, assim, um índice de NPI superior. 
Apesar de não seguir exatamente a mesma perspectiva, um estudo 
realizado por D´Souza (2016) buscou analisar traços e características de 
personalidade do Dark Triad, que é composto por traços não patológicos tanto do 
narcisismo como também psicopatia e maquiavelismo. Ao aplicar um pré-teste com 
30 estudantes de Ciências Contábeis em uma faculdade pública de São Paulo, 
observou que 70% dos participantes da pesquisa obtiveram evidências de traços 
baixos de personalidade do Dark Triad, corroborando, assim, com o fato de que os 
estudantes brasileiros analisados apresentam níveis de traços narcisistas inferiores 
quando comparados aos estudos internacionais; tal pesquisa destaca a tendência do 
42 
 
profissional brasileiro a obter índices reduzidos em comparação com os 
internacionais. 
Ao analisar cada uma das subescalas e suas pontuações segregadas, 
destaca-se a média obtida no item Autoridade (x¯ = 2,47448), que é visivelmente 
superior às outras. Por esse item ser caracterizado pela capacidade de o indivíduo 
narcisista de influenciar os outros sobre como ele é uma pessoa bem-sucedida, 
segura e confortável com sua autoridade, pode-se relacionar tal característica com 
estudantes de Ciências Contábeis, visto que a visão acadêmica

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