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RenovacaoMarcaLuz-Moura-2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PUBLICIDADE E PROPAGANDA
KAROLYNE SOUZA DE MOURA
RENOVAÇÃO DE MARCA À LUZ DO DESIGN INCLUSIVO:
REFLEXÕES SOBRE O REBRANDING DO GOOGLE WORKSPACE
NATAL/RN
2022
KAROLYNE SOUZA DE MOURA
RENOVAÇÃO DE MARCA À LUZ DO DESIGN INCLUSIVO:
REFLEXÕES SOBRE O REBRANDING DO GOOGLE WORKSPACE
Monografia apresentada ao Curso de
Comunicação Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
como requisito obrigatório para obtenção
do título de bacharel em Comunicação
Social com habilitação em Publicidade e
Propaganda.
Orientador: Breno da Silva Carvalho
NATAL/RN
2022
KAROLYNE SOUZA DE MOURA
RENOVAÇÃO DE MARCA À LUZ DO DESIGN INCLUSIVO:
REFLEXÕES SOBRE O REBRANDING DO GOOGLE WORKSPACE
Monografia apresentada ao Curso de
Comunicação Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
como requisito obrigatório para obtenção
do título de bacharel em Comunicação
Social com habilitação em Publicidade e
Propaganda.
Orientador: Breno da Silva Carvalho
Monografia apresentada e aprovada em 11 de julho de 2022
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Breno da Silva Carvalho (Orientador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
_________________________________________________________
Marcela Costa da Cunha Chacel
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
_________________________________________________________
Luiz Fernando Dal Pian Nobre
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro a Deus, o principal fator que me impulsionou até aqui e
que, além de me dar o fôlego da vida, esteve comigo durante todas as etapas desse
longo e árduo processo chamado vida. Muito obrigada por me dar a dádiva de ser
tão bem cuidada enquanto sua filha e de me presentear com um dom para a
comunicação.
Muitas pessoas especiais fazem parte da minha vida de forma notável e
começo os agradecimentos pela minha família. Mainha, painho, Alyson e Gigi,
vocês acompanharam de perto toda a minha trajetória acadêmica - desde os
primeiros períodos eufóricos de caloura até a fase que agora encerro - e em
nenhum momento deixaram de me incentivar. Agradeço aos meus pais, que sempre
me deram a liberdade de sonhar, que me forneceram apoio e prestigiaram todos os
meus trabalhos e conquistas desde a pré-escola até aqui. Sem vocês, eu não me
tornaria obstinada e realizada na vida. Amo vocês mais do que as palavras
conseguem transmitir.
À todos os meus amigos, sejam eles da época da escola, meus vizinhos, da
igreja ou da faculdade, eu agradeço por fazerem da vida algo que vale a pena viver.
Vocês, cada um ao seu jeito, trouxeram alegria e companheirismo para muitos
momentos onde tudo parecia cinza. Não poderia deixar de agradecer,
especialmente, a elas que trilharam esse mesmo caminho excêntrico que é a
faculdade: Ana, Clara, Marina, Tutu, Vevo e Laura, obrigada por dividirem as noites
no Decom deixando-as mais felizes.
Por fim, agradeço às pessoas que tornaram essa vivência não só uma
formação acadêmica, mas um aprendizado constante sobre a vida e o ser humano:
os queridos docentes do Decom. Um agradecimento especial ao meu orientador,
Breno Carvalho, que me deu asas para criar (escrever) e sempre teve a palavra
certa para os momentos mais difíceis. O seu jeito de ensinar, me inspira e incentiva
a trilhar o mesmo caminho da docência e um dia, poder transformar e inspirar vidas
assim como o senhor faz. Obrigada. Agradeço também à essa instituição incrível da
qual tive a honra de ser parte nos últimos 4 anos e meio da minha vida. A UFRN é
mais do que instituição, é uma porta que se abre para um novo mundo e novas
oportunidades. Espero retornar em breve.
RESUMO
Com o constante avanço tecnológico, o consumidor da atualidade tem se mostrado
cada vez mais exigente, antenado e protagonista no relacionamento existente entre
uma marca e o seu público. Para atender esse novo perfil consumidor grandes
empresas, como o Google, tem implementado mudanças não somente em seus
produtos e serviços, mas também em sua identidade enquanto marca. A presente
pesquisa se propõe a analisar o recente processo de rebranding do Google
Workspace, bem como quais mudanças ele promoveu e como ele se comporta
mediante os princípios do Design Inclusivo. Para o alcance dos resultados
desejados, foram utilizados dois aportes metodológicos: a netnografia (KOZINETS,
2007) e o próprio Design Inclusivo (GOMES, 2018). A partir deles, foram
constatadas algumas falhas e uma falta de inclusão por parte do Google na
execução do seu rebranding à luz do Design Inclusivo. Em vista disso, o estudo
sugere possíveis saídas para tornar não só o design, mas a comunicação no geral,
mais inclusiva.
Palavras-chave: Google; Marca; Rebranding; Netnografia; Design Inclusivo.
ABSTRACT
With the continuous technological progress, consumers nowadays have become
increasingly more demanding, aware, and protagonists in the relationship between a
brand and its public. To meet this novel customer profile, large corporates such as
Google have implemented changes in their products, services, and their identity as
brands. The purpose of this research is to analyze the recent Google Workspace
rebranding process as well as the changes promoted by it, and how it behaves
considering the principles of Inclusive Design. To achieve the aimed results,
netnography (KOZINETS, 2007) and Inclusive Design (GOMES, 2018) were
employed as methodological inputs. Through them, it was possible to identify a lack
of inclusion along with some flaws in the execution of rebranding by Google
according to Inclusive Design. In light of these results, this study suggests possible
solutions to render design and communication more inclusive.
Keywords: Google; Brand; Rebranding; Netnography; Inclusive Design.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Larry Page Sergey Brin em seu primeiro "escritório".............................................8
Figura 2: ícones dos aplicativos do Gsuite antes do rebranding……………………………..11
Figura 3: ícones do Google Workspace………………………………………………………...12
Figura 4: antes e depois do redesign dos ícones do Google Workspace…………………..22
Figura 5: comparativo dos ícones em 2019 e em 2020……………………………………....26
Figura 6: post no LinkedIn alusivo ao rebranding………………………………………………27
Figura 7: exemplo de aplicação do princípio do Uso Equitativo……………………………….31
Figura 8: exemplo de aplicação do princípio do Uso Flexível……………………………….…31
Figura 9: Exemplo de aplicação do princípio do Uso Simples e Intuitivo……………………32
Figura 10: Exemplo de aplicação do princípio Informação Perceptível……………………..32
Figura 11: Exemplo de aplicação do princípio Tolerância a Erros……………………….......33
Figura 12: exemplo de aplicação do princípio Baixo esforço físico………………………….33
Figura 13: exemplo de aplicação do princípio Abrangente……………………………………34
Figura 14: exemplo de embalagem com baixo contraste Chá Leão…………………………37
Figura 15: print de tela exemplificando o baixo contraste detectado………………………...38
Figura 16: exemplo de leiturabilidade……………………………………………………………38
Figura 17: print de tela ilustrando o teste feito na Acess Monitor…………………………… .39
Figura 18: quadro de dados netnográficos colhidos…………………………………………...41
Figura 19: exemplo simulando visão comum…………………………………………………..44
Figura 20: exemplo simulando visão com Tritanopia………………………………………….45
Figura 21: exemplo simulando visão com Protanopia ………………………………………..45
Figura 22: exemplo simulando visão com Acromatopsia …………………………………….45
Figura 23: print de tela twitter sobre o redesign………………………………………………..48
Figura 24: print de tela twitter sobre uso dos aplicativos……………………………………...49
Figura 25: print de tela twitter sobre uso dos aplicativos……………………………………...50
Figura 26: print de tela twitter sobre aplicativo Gmail………………………………………….50
Figura 27: logo do Banco Monzo x logo do Gmail……………………………………………..51
Figura 28: print de tela twitter sobre acessibilidade……………………………………………52Figura 29: print tela twitter sobre uso dos aplicativos………………………………………….54
Figura 30: print tela twitter sobre uso das cores no redesign………………………………...56
Figura 31: print tela twitter sobre uso das cores no redesign…………………………………57
Figura 32: print tela twitter sobre uso de leitor de telas……………………………………….59
Figura 33: print tela twitter sobre uso de leitor de telas……………………………………….59
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………………...8
1.1 SOBRE O GOOGLE E SEU PROCESSO DE REBRANDING …………………………8
1.2. PARÂMETROS METODOLÓGICOS ……………………………………………………12
2 SOBRE BRANDING, REBRANDING E POSICIONAMENTO………………………………15
2.1 BRANDING: O QUE É (E O QUE NÃO É)………………………………………………16
2.2 POSICIONAMENTO E A SUA IMPORTÂNCIA PARA O BRANDING ……………….18
2.3 IDENTIDADE VISUAL: O BRANDING EM SUA FORMA VISUAL……………………21
2.4 REBRANDING: QUANDO O POSICIONAMENTO MUDA ……………………………23
3 CONHECENDO O DESIGN INCLUSIVO ……………………………………………………...28
3.1 OS PRINCÍPIOS DO DESIGN INCLUSIVO……………………………….…………….30
3.2. COMO TORNAR O BRANDING MAIS INCLUSIVO? …………………………………34
4 (RE)BRANDING E DESIGN INCLUSIVO: APRESENTANDO A ANÁLISE ………………41
4.1 REBRANDING DO GOOGLE À LUZ DO DESIGN INCLUSIVO……………………...43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………………………..61
6 REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………………...63
9
1 INTRODUÇÃO
1.1 SOBRE O GOOGLE E SEU PROCESSO DE REBRANDING
Certa noite, tive um sonho (literalmente) e acordei pensando... e se
alguém pudesse baixar toda a Web e só manter os links? Então,
peguei uma caneta e rabisquei os detalhes, para ver se aquilo era de
fato possível. Naquele momento, eu nem sequer cogitava construir
um mecanismo de busca — apenas mais tarde Sergey e eu
percebemos que classificar páginas da Web pelos links poderia
gerar resultados de busca melhores (PAGE, 2015, p. 10)
O trecho acima, retirado do prefácio do livro How Google Works foi escrito
por Larry Page - cofundador e CEO do Google - e relata como, a partir desse sonho,
em 1995 nos dormitórios da Universidade de Stanford, os doutorandos Larry Page e
Sergey Brin criaram os primeiros esboços do que viria a ser a ferramenta de busca
mais utilizada no mundo, o Google. Importante frisar, no entanto, que a empresa
somente se consolidou em 1998, após receber um investimento de cerca de US$
100.000 que possibilitou a fundação do Google Inc. e a migração dela para seu
primeiro escritório, localizado em Menlo Park, na Califórnia.
Figura 1: Larry Page Sergey Brin em seu primeiro "escritório"
Fonte: Google (2022)
Seguindo um caminho de crescimento exponencial, o Google cresceu e
estabeleceu “Dez verdades em que acreditamos” - disponível no site do Google1 -,
ou, em outras palavras, os valores que guiam a atuação da empresa. Algumas delas
1 Disponível em: https://about.google/philosophy/. Acesso em: 23 fev. 2022.
https://about.google/philosophy/
10
são: “1. Foco no usuário. Todo o resto é consequência”, o qual postula o desejo de
sempre entregar a melhor experiência para o usuário. “3. Rápido é melhor que
devagar”, princípio que faz referência a cultura de pensar sempre em deixar todos
os produtos mais rápidos, visando justamente a melhoria na experiência de uso. 6.
É possível ganhar dinheiro sem maldade, que expressa a transparência do Google
no que diz respeito a sua forma de monetizar anúncios sem enganar o consumidor
ou gerar desconforto com pop-ups, por exemplo. “10. Excelente ainda não é o
suficiente”, o qual evidencia os pilares de inovação e persistência presentes na
cultura da empresa, entre outros valores (GOOGLE, 2022, online)
Como missão, o Google define que: “Nossa missão é organizar as
informações do mundo para que sejam universalmente acessíveis e úteis para
todos” e como visão, a empresa tem definido o desejo de ser referência na oferta de
informações úteis e relevantes, como também na oportunização de novos produtos
e serviços para seus usuários. Entretanto, para além da sua cultura e do seu carro
chefe, o Google é muito mais do que “somente” um serviço de busca na web.
Atualmente, ele está presente em mais de 50 países pelo mundo, conta com
uma equipe de mais de 60 mil funcionários e foi avaliada pelo Kantar como a
terceira empresa mais valiosa do mundo (FANTINATO, 2021). Todos esses
aspectos, dizem respeito à abrangência e destaque que a empresa construiu ao
longo dos anos de sua existência. Diferentemente de 1998, o Google de hoje
oferece muito mais do que uma ferramenta eficaz de busca. Ele é multifacetado,
tem um mix de produtos abrangente e muito diverso.
Em adição do seu papel primário e de maior destaque - funcionar como um
mecanismo de busca e disponibilizar as informações conforme a ordem de
relevância delas - o Google ainda conta com 72 produtos divididos nas mais
diversas categorias; dentre os quais é possível citar desde o Google Maps - uma
das ferramentas de geolocalização mais utilizadas no mundo - até o Google
Assistente - a assistente virtual do Google que auxilia os usuários no cotidiano ao
facilitar processos como compras em e-commerce, ou busca por informações.
Contudo, para os fins desta pesquisa apenas o produto Google Workspace (antigo
Gsuite) e os aplicativos que ele oferece serão analisados e discutidos na próxima
seção. Ele é o objeto da presente monografia.
Como toda empresa que integra o mercado capitalista, desde seu surgimento
o Google também passou e passa, continuamente, por transformações que
11
acompanham a mudança e evolução da sociedade; mudanças essas que ficam
ainda mais evidentes e necessárias quando se trata dos âmbitos de gestão da
marca e de comunicação.
O branding é o ponto de partida para que a uma empresa consiga criar
conexões entre o que ela pretende ser, o que ela é e como ela é percebida pelos
seus clientes. É um sistema que integra múltiplos aspectos da marca, que transitam
desde a concepção da identidade visual, passando pelo tom de voz, até a forma
como ela se posiciona em questões políticas, sociais, ambientais, entre outros.
Consequentemente, em um mundo no qual todos querem se destacar e se
fazerem relevantes nas vidas de suas audiências, o que pode diferenciar e fazer
com que uma marca seja fidelizada, é a construção de vínculos afetivos e
emocionais dela para com seus possíveis clientes. Essa forma de se posicionar e se
relacionar, só é possível de acontecer, mediante uma boa gestão de marca; ou seja,
só é possível quando as estratégias do branding são idealizadas e aplicadas de
modo eficaz.
Rebranding é considerado um neologismo, pois caracteriza a junção de duas
palavras no inglês, o sufixo re - o qual assume o significado de algo novo, que se
reconfigura - e branding - traduzindo para o português, é a palavra marca. À vista
disso entende-se, portanto, que o rebranding compreende uma renovação na forma
como a marca se posiciona (que deve englobar todos os seus aspectos: visuais,
sonoros, táteis, entre outros) mediante seu público.
Em 2020, o Google estabeleceu um novo posicionamento no que se refere
aos aplicativos do GSuite. Ao serem lançados, estes aplicativos eram utilizados de
maneira individual pelos clientes; entretanto, com o passar dos anos e com o
surgimento de uma demanda de canais que colaborassem entre si, a empresa
entendeu a necessidade de torná-los mais integrados em seu funcionamento.
Foi a partir deste ponto, que o Google promoveu modificações em suas
ferramentas do GSuite, com o objetivo de promover o uso integrado delas e de
torná-las mais atraentes para seus usuários principais: os clientes corporativos (os
quais, ao pagarem para ter acesso aos aplicativos, usufruem de benefícios
exclusivos). Em declaração ao The Independent, a empresa afirmou que “(...) o
rebranding do Gmail e seus outros produtos veio conforme os usuários começaram
a ver os produtos trabalhando de forma integrada, melhor do que separadamente, e
12
foi escolhido indicar que eles todos são parte de uma mesma família”
(TOLMASQUIM, 2020, online, tradução nossa)2.
Diante dessa nova proposta de uso e de posicionamento,surge para a
empresa uma outra demanda: a de comunicar para seu público a nova fase e as
melhorias de usabilidade propostas por ela.
Visando a promoção de uma comunicação adequada e assertiva, ela então
se utiliza do rebranding como estratégia principal para chegar até seu público. Posto
isso, fica claro que, para o Google, o processo de rebranding veio não somente
como uma solução viável para seu problema - que era fazer os usuários
entenderem a possibilidade e o valor de utilizarem todos os aplicativos do GSuite de
forma unificada - mas também como a melhor alternativa para comunicar a
resolução deste problema; informações que foram transmitidas para os clientes
através de uma mudança na identidade visual dos aplicativos, como é possível ver
nas imagens abaixo.
Figura 2: ícones dos aplicativos do Gsuite antes do rebranding
Fonte: Google (2022)
2 “(...) the rebranding of Gmail and it’s other products came as users began to see the products as
working together, rather than separately, and was chosen to indicate that they are all part of the ‘same
family”. Disponível em:
https://brasil.uxdesign.cc/an%C3%A1lise-do-rebranding-do-g-suite-a488aaf2a799. Acesso em : 29
jun. 2022.
13
Figura 3: ícones do Google Workspace
Fonte: Google (2022)
Nesse sentido, a estratégia de rebranding se mostra imprescindível para as
marcas cujo objetivo é acompanhar a evolução da sociedade e de seus clientes, de
forma a se manterem sempre em boa posição na mente destes. Logo, o presente
trabalho objetiva analisar esse processo de rebranding - tomando como base duas
abordagens metodológicas: a netnografia e o Design Inclusivo - para avaliar se
houve sucesso ou não na aplicação dessa estratégia de gestão de marcas.
1.2 PARÂMETROS METODOLÓGICOS
Para realização de um estudo dessa natureza, recorre-se ao referencial
teórico de autores/as, como Kappel (2014), Cameira (2013) e Teixeira et al (2018)
que contribuem para elucidar questões que envolvem o branding e o rebranding;
como Perez (2004), a qual colabora para a pesquisa aportando a relação existente
entre a marca e os signos que ela expressa; como Gomes (2018), que apresenta e
enriquece o entendimento sobre o Design Inclusivo e sua aplicação, entre outros
autores(as).
Do ponto de vista metodológico, pretende-se desenvolver a análise a partir
da coleta de dados netnográficos, desenvolvida por Robert Kozinets (2007). A
etnografia virtual ou netnografia - um neologismo cunhado em 1995 por um grupo
de pesquisadores (BRAGA, 2001) - pode ser entendida como um método de
pesquisa qualitativo, utilizado no ramo da comunicação para estudar
etnograficamente a conduta dos consumidores em um âmbito virtual levando em
consideração, por exemplo, o consumo midiático deles.
Diferentemente da etnografia, que tem como característica inerente ao seu
exercício a necessidade de se forjar um ambiente de pesquisa, na netnografia esse
14
processo se dá de forma mais natural. O pesquisador tem acesso aos dados por
meio da observação natural dos comportamentos que se tem dentro do ambiente
virtual; ou seja, não se faz necessário que ele interfira no decorrer do processo de
pesquisa.
Posto isso, para os fins de pesquisa propostos neste trabalho, a análise
proposta foi dinamizada a partir do uso de dois grupos principais de dados
netnográficos: o primeiro deles, diz respeito ao objeto estudado. Ou seja, foram
coletados conteúdos e materiais - em forma de prints de tela e imagens - retirados
da internet e que fazem referência aos ícones dos aplicativos do Google Workspace
e, em alguns momentos, em menor instância outros que referenciam apenas o
Google de forma geral.
O segundo grupo de dados netnográficos - também coletados por meio de
capturas de tela ou de reprodução de imagens - concerne às constatações e
provocações feitas por usuários comuns (aqueles que não se enquadram como
celebridades ou influencers) por meio de plataformas como o Twitter e o LinkedIn e
que serviram como um ponto de dinamização, aquecimento da discussão e endosso
da análise que será detalhada no capítulo quarto. Os prints de tela capturados do
Twitter foram coletados em dois períodos distintos: uma parcela deles foi recolhida
no final do mês de abril de 2021, enquanto que a outra parte, foi captada em
meados de maio de 2022. Vale ressaltar ainda que houve um hiato de tempo entre
uma leva e outra.
Enquanto metodologia, Kozinets (2007) propõe quatro procedimentos da
etnografia que possibilitam a aplicação da netnografia, são eles: 1) a Entrée
Cultural, 2) Coleta e análise dos dados, 3) Ética de pesquisa e 4) Feedback e
checagem das informações junto dos consumidores analisados. Para a feitura da
análise no capítulo (Re)branding e Design Inclusivo: apresentando a análise, no
presente trabalho, esses procedimentos foram adotados.
Para que fosse possível a análise e os devidos apontamentos sobre o
processo de rebranding do Google e a nova identidade do ícones dos aplicativos do
Google Workspace, além da netnografia, complementarmente, pretende-se dialogar
com o conceito de "design inclusivo", proposto por Danila Gomes (2018). No artigo
15
Design de Interfaces e Acessibilidade: você está fazendo isso errado3, a autora
Talita Pagani aborda a questão apontando que a noção de acessibilidade diz
respeito a possibilitar que diferentes pessoas façam uso do que está sendo
projetado de modo que não se preocupem com quaisquer dificuldades ou
necessidades especiais que possam vir a ter. Para além dos elementos
metodológicos supracitados, a pesquisa também fez uso de um outro instrumento
metodológico: o Coblis, ou Color Blindness Simulator, um simulador de daltonismo
que auxiliou no processo de análise do rebranding do Google Workspace.
Partindo desses aparatos metodológicos, o presente trabalho tem como
problema a ser investigado, entender, na mecânica do rebranding e do design
inclusivo de que forma o Google adotou os princípios do DI na nova identidade
visual de suas ferramentas. Seguindo esse caminho, os objetivos da pesquisa são,
de uma perspectiva geral, entender os princípios por trás do rebranding do Google
e, em uma visão mais específica, identificar as mudanças no design e seus
desdobramentos na comunicação publicitária e analisar os princípios do Design
Inclusivo nesse processo de rebranding. A pesquisa se mostra relevante na medida
em que apresenta um conceito e seus princípios que são escassamente discutidos
e entendidos no mundo da comunicação e no mercado, no geral.
É a partir desse olhar que essa monografia apresenta a análise sobre o
rebranding do Google. Para tanto, ela está estruturada nos seguintes capítulos: no
Capítulo 2, intitulado Sobre Branding, Rebranding e Posicionamento, que se dedica
a entender os conceitos sobre branding, rebranding e como isso está relacionado
com o objeto de estudo; no Capítulo 3, Conhecendo o Design Inclusivo, o qual se
debruça sobre os princípios do Design Inclusivo para que, no Capítulo 4,
(Re)branding e Design Inclusivo: apresentando a análise, a discussão seja aquecida
e o objeto analisado; por fim, nas considerações finais, são trazidos os últimos
apontamentos sobre a temática.
3 Disponível em:
https://uxdesign.blog.br/design-de-interfaces-e-acessibilidade-voc%C3%AA-est%C3%A1-fazendo-iss
o-errado-400a4ff712b6. Acesso em: 29 jun. 2022.
https://uxdesign.blog.br/design-de-interfaces-e-acessibilidade-voc%C3%AA-est%C3%A1-fazendo-isso-errado-400a4ff712b6
https://uxdesign.blog.br/design-de-interfaces-e-acessibilidade-voc%C3%AA-est%C3%A1-fazendo-isso-errado-400a4ff712b6
16
2 SOBRE BRANDING, REBRANDING E POSICIONAMENTO
Marcas são como uma pessoa, que possui sua personalidade construída e
desenvolvida de maneira intencional - com base nas preferências e gostos do
indivíduo - ao longo dos anos, e que se expressa para o mundo por meio de ações
de comunicação (TEIXEIRA et al, 2018). Dessa forma, quando o comportamento
social das pessoas muda, elas se adaptam a esse cenário com o objetivode
continuar se comunicando de forma eficaz e precisa. O sistema que orienta e
possibilita que essas mudanças aconteçam, é denominado branding.
Partindo deste entendimento destaca-se, portanto, que o branding se
configura como uma ferramenta de coordenação das marcas, que visa mantê-las
relevantes e atualizadas no contexto de seus respectivos público-alvos, gerando
valor para eles. Cameira cita ainda que "Mais do que um plano de estratégia da
marca, o branding está ligado às emoções despertadas por ela e aos vínculos que
poderão ser estabelecidos com isso" (2013, p.47).
Por sua vez, nos últimos anos, os consumidores têm assumido cada vez
mais o papel de protagonistas da relação entre usuários-marcas e se tornado, por
conseguinte, ainda mais exigentes no que diz respeito aos critérios de escolha e de
preferência de uma marca em relação a outra.
Um estudo feito pela Salesforce4 apontou que 80% dos clientes têm igualado
a importância de uma boa experiência de consumo à importância da qualidade que
o produto oferece; isso demonstra uma quebra de paradigma, se for levado em
consideração que, durante a Revolução Industrial, a qualidade de um produto era o
único fator decisivo na hora da escolha.
4 Disponível em:
https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/estudo-revela-que-clientes-estao-muito-mais-exigentes/
Acesso em: 29 jun. 2022.
https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/estudo-revela-que-clientes-estao-muito-mais-exigentes/
17
Aliado a isso, levando em consideração a velocidade com a qual as
informações são disseminadas e as opiniões são transformadas na era da
Pós-Verdade5, em muitos casos, essas marcas precisam realizar novas
transformações na forma como elas se colocam no mundo e como se relacionam
com seu público. É nesse cenário que o termo "rebranding" se torna de extrema
pertinência para as marcas.
Como aponta Quinteiro (2008 apud KAPPEL, 2014), essa renovação deve
ser precedida por uma fase de diagnósticos voltados sobre a marca, o mercado e os
consumidores. De acordo com Muzellec e Lambkin (2006 apud KAPPEL, 2014) o
processo de rebranding tem como objetivo o aumento, a recuperação ou a recriação
do brand equity de uma marca/empresa.
2.1 BRANDING: O QUE É (E O QUE NÃO É)
Na sociedade capitalista pautada principalmente pelo consumo, as marcas
assumem um papel que transpõe aquele ao qual se dispôs inicialmente, de mera
identificação e diferenciação entre seus concorrentes.
Segundo Kapferer (2003) diante dos consumidores, elas podem assumir até
oito funções, são elas:
1) Função de referência: diz respeito à rápida identificação de determinado
produto/serviço frente aos seus concorrentes;
2) Função de praticidade: promove a economia de tempo e energia no ato de
recompra, devido a fidelidade do produto;
3) Função de garantia: postula a ideia de que, independentemente do lugar
ou contexto, a qualidade do produto/serviço será mantida;
4) Função de otimização: postula que o consumidor terá a segurança de ter
em mãos o item específico mais adequado para determinada ação;
5) Função de personalização: confere a ideia de que o consumidor sinta-se
acalentado pela imagem que ele está espelhando para si e para os outros por estar
fazendo uso daquele produto/serviço (ou seja, o status social que será conferido a
ele);
5 “A palavra “pós-verdade” apareceu pela primeira vez em 1992, na revista americana The Nation, em
um artigo do dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich a respeito da Guerra do Golfo (1990-1991).
O autor já apresentava a ideia de que, numa sociedade dominada pela pós-verdade, os fatos
importam menos do que as crenças” (Guia do Estudante, 2021, online)
18
6) Função de permanência: visa como benefício ao consumidor a sensação
de familiaridade e segurança por estar usando algo a tanto tempo e que não falha;
7) Função hedonista: está ligada à satisfação propiciada pela estética da
marca ou pelo seu design (de comunicação ou de produto);
8) Função ética: confere o deleite de se estar consumindo uma marca
socialmente responsável, por exemplo.
Em um mundo no qual os consumidores são, diariamente, confrontados por
ofertas de todos os tipos, provindas de diversas marcas - e das múltiplas funções
que elas são capazes de desempenhar - a empresa cujo objetivo é garantir um lugar
na mente (e no coração) do seu consumidor precisa lançar mão de diversos
mecanismos disponíveis no mercado. Não somente de estratégias de marketing e
publicização, voltadas para vendas e persuasão; nesse ambiente permeado por
relações rápidas e pela velocidade incontestável na troca de informações, é preciso
se destacar de forma impactante e, para isso, nada melhor do que promover
experiências marcantes.
Foi a partir de 1990, de acordo com Mariana Jorge (2009 apud CAMEIRA,
2013), que as marcas abandonaram seus status enquanto algo econômico, técnico
e palpável e passaram a ser enxergadas como algo simbólico e emocional, que
habita o imaginário do consumidor de forma dinâmica e mutável. É nesse contexto
que se reforça a importância de adotar uma gestão inteligente e estratégica de
marcas ou, em outras palavras, de incorporar o branding dentro de sua cultura.
Como em toda experiência comercial, as empresas se relacionam com o seu
público através do princípio da promessa (a sua oferta). Ou seja, sempre que um
produto/serviço é ofertado no mercado, junto com ele vem uma promessa e uma
entrega promovidas pela empresa. Um exemplo disso seria a Disney: ela não vende
pura e exclusivamente parques e entretenimento; para além dos parques e
experiências, ela vende os sonhos. É justamente nesse entremeio de promessa e
entrega que mora o branding, é ele quem gerencia todas as ações, falas, valores e
os demais elementos de uma marca.
O branding é, portanto, um processo global de gestão de marcas. Para que
se cumpram uma ou mais das funções de marca propostas por Kapferer (2003), a
marca precisa ser notada pelos consumidores e se tornar, de alguma forma,
relevante para eles, gerando valor. Sendo assim, para Mafra e Schroeder "(...) uma
marca forte, se constrói a partir de como ela se relaciona com os consumidores ao
19
longo de sua existência" (2018, p.2). Logo, entende-se que as bases para um bom
branding são relacionamento e um conhecimento vasto de quem são os públicos de
interesse da empresa.
No entanto, muito se engana aquele que pensa que branding se resume,
unicamente, ao campo comunicacional das empresas. Como ele é uma estratégia
ampla, sua atuação vai partir de dentro para fora; a partir do entendimento de quem
é a empresa, quais os seus valores, missão, visão, qual a sua promessa ele parte
para fora para entender, igualmente, quem são os concorrentes, o que eles têm
enquanto valores, missão, visão, quais suas promessas, entre outros. É a partir
destes entendimentos, que a estratégia começa a ser pensada.
O branding vai definir os contornos que a marca vai apresentar mundo afora
de modo a construir intencionalmente uma determinada interpretação (geração de
valor) para o público. Pois, consoante Mafra e Schroeder (2018, p.5), o branding
"trata-se de uma atividade totalmente estratégica e de planejamento. O objetivo
integral é alcançar uma posição única na mente e no coração do consumidor da
marca." E não somente isso mas também, conforme coloca Cameira: "(...) mais do
que um plano de estratégia da marca, o branding está ligado às emoções
despertadas por ela e aos vínculos que poderão ser estabelecidos com isso (2013,
p.47).
Para se fazer aplicável portanto, o branding dispõe de diversas estratégias
para as empresas. Dentre os elementos que constituem o papel dele, podemos citar
alguns como: promessa, mensagem, valores, tom de voz, atributos, arquétipos,
identidades verbal e visual e posicionamento. Para os fins desta pesquisa, nos
tópicos que se seguem serão abordados, de forma específica, o papel e importância
do posicionamento e da identidade visual para o sucesso do branding.
2.2 POSICIONAMENTO E A SUA IMPORTÂNCIAPARA O BRANDING
Dentro do processo de gerenciamento de marcas, na perspectiva de Silva e
Oliari: "uma das principais tarefas do branding (...) é posicionar a marca com
inteligência" (2017, p.9). Posicionar com inteligência significa, portanto, analisar a
empresa em si, bem como seus concorrentes e seu público de modo a traçar uma
construção - com base na cultura e no propósito dela - imagética como ela quer ser
percebida pelo consumidor.
20
Para tanto, o posicionamento se vale do ato de criar na mente do consumidor
uma proposição de valor referente aquela empresa; ou seja, alinhar um desejo que
o público tem, com uma promessa feita por ela e a percepção de que somente
aquela marca poderá atendê-la/cumpri-la. Posicionar uma marca, juntamente com
outras estratégias que o branding tem a seu favor, permite que ela se descole
apenas de seu propósito técnico/físico (o que esse produto tem/faz) e atinja outros
patamares, mais emocionais e simbólicos (como esse produto/serviço pode atender
a minha dor, tornar a minha vida mais tranquila, etc).
Nesse sentido, quando bem construído, "um posicionamento eficaz de marca,
ajuda a orientar a estratégia de marketing, esclarecendo a essência da marca,
identificando os objetivos que ela ajuda o consumidor a alcançar e mostrando como
isso é feito de maneira inigualável" (KOTLER; KELLER, 2013, p. 294 apud MAFRA;
SCHROEDER, 2018, p. 4). Assim posto, é preciso entender que um posicionamento
marcário não se cria "do nada", fora de contexto ou conforme for mais conveniente
para a empresa; ele se define com base nos princípios e valores que ela, de fato,
possui, com base em quem ela realmente é. Ele não pode ser inventado pois, se
assim o for, haverá uma quebra de expectativa quando a promessa feita pela marca
não for cumprida, acarretando em uma experiência ruim para o consumidor a qual
pode transformá-lo em um detrator da marca perante a sociedade - o que não seria
saudável para a sobrevivência da marca no mercado.
É possível ainda medir se um posicionamento foi bem definido ou não.
Pensando nisso, Tomiya (2010) apresenta uma ferramenta capaz de monitorar a
efetividade de um posicionamento. Para Eduardo Tomiya, ele deve estar alinhado
com as seguintes características: 1) o posicionamento deve ser confiável, ou seja, o
público precisa acreditar que a marca pode cumprir a entrega que promete. 2) ele
deve ser relevante, isto é, deve promover alguma diferença na vida dos seus
consumidores. 3) o posicionamento deve ser único, o que diz respeito a oferecer
algo que somente determinada marca pode prometer. 4) por fim, ele deve ser
perene, deve resistir às mudanças (apud SILVA e OLIARI, 2017).
Como parte deste mercado, igualmente, o Google possui um posicionamento
definido, uma promessa feita ao seu público. De acordo com a Carta Pública de
Oferta Inicial redigida pelos fundadores, desde 2004, ele coloca que "temos o
compromisso de melhorar significativamente a vida do maior número possível de
pessoas" (GOOGLE, 2004, online). Utilizando a ferramenta de brand scorecards de
21
Tomiya (2010) é possível afirmar que o posicionamento foi bem determinado tendo
em vista que 1) devido a qualidade que entrega em seu serviço, segundo pesquisa)
desenvolvida pela Atlas VPN em abril de 2021 (LISBOA, 2021, online), o Google
possuía 3,2 bilhões de usuários, o que, por sua vez, atesta a afirmação de que as
pessoas acreditam no que ele promete entregar; 2) por possuir ferramentas do mais
diverso leque de atuações - indo desde o seu mecanismo de buscas até o Google
Workspace - ele auxilia as pessoas em múltiplas áreas, promovendo uma diferença
significativa em suas vidas; para exemplificar, basta pensar em como se dava o
processo de construção de um trabalho de pesquisa antes X depois do Google; 3)
apesar de não ser a única empresa que oferta esse(s) serviço(s), ele é a única
marca que pode prometer melhor velocidade e qualidade no uso dos seus
mecanismo - por exemplo, o Google Workspace se diferencia dos concorrentes por
atuar de forma integrada; 4) por fim, ele é perene na medida em que se observa
que, desde 2004, o compromisso da empresa não se alterou mesmo mediante a
diversas mudanças de cenário - se passaram diversos acontecimentos como a
chegada do digital, pandemias mundiais, entre outros.
Levando em consideração o posicionamento do Google exposto no parágrafo
acima é possível ainda afirmar que com os serviços prestados pela empresa - a
exemplo da sua ferramenta de buscas em rede, que auxilia pessoas diariamente a
localizarem o que procuram na web - e também pelas ações que ele promove -
como por exemplo a cadeia de suprimentos responsável adotada pela companhia
ou a suas diretrizes para diminuir o impacto da retirada de recursos do meio
ambiente - esse posicionamento é bem definido e realista. Ele funciona porque, de
fato, o Google entrega a seus usuários a experiência e a promessa transmitida pelo
seu branding e seu posicionamento.
Mediante o que foi exposto e o papel que o branding desempenha no
contexto das organizações - de garantir que as marcas assumam um lugar de
destaque na mente de seus consumidores - cabe, portanto, afirmar que o
posicionamento representa para ele não somente mais um elemento a ser
explorado, mas o principal meio de se ter um branding bem construído e com forte
potencial de converter simples targets em fãs número um da marca. E isso, se deve
ao fato de que deixando claro o seu posicionamento, a marca permite que o
consumidor que possui e valoriza os mesmos valores que ela - que possui o mesmo
jeito de ser e cultura dela - possa se conectar de forma verdadeira e pura; essa
22
conexão poderá levá-lo a não só consumir o que ela oferta, mas como também
fidelizar esse consumo e, consequentemente, criar um relacionamento duradouro.
2.3 IDENTIDADE VISUAL: O BRANDING EM SUA FORMA VISUAL
Para além do seu posicionamento, o branding das marcas também pode - e
deve - ser expresso por meio de outras ferramentas; para os fins desta pesquisa,
destaca-se entre elas a identidade visual como uma das mais relevantes e eficazes
para se comunicar com branding de forma efetiva e clara. Mafra e Schroeder (2018)
afirmam que a identidade de uma marca está diretamente relacionada com o seu
posicionamento e que configura, portanto, a forma como ela é percebida pelo seu
público-alvo.
Em sua perspectiva mais generalista, de acordo com o
glossário de termos e verbetes da ADG - Associação dos Designers
Gráficos - identidade visual é o conjunto sistematizado de elementos
gráficos que identificam visualmente uma empresa, uma instituição,
um produto ou um evento, personalizando-os, tais como um logotipo,
um símbolo gráfico, uma tipografia um conjunto de cores (CAMEIRA,
2013, p.36).
E não somente isso, como também se enquadra em toda manifestação visual
e palpável que tais marcas colocam no mundo.
De tal modo, as identidades são pensadas e construídas para aguçarem os
nossos sentidos (tato, visão, olfato, paladar e audição) com o objetivo de promover
sensações agradáveis que possam, futuramente, gerar algum tipo de aproximação
afetiva do público para com a marca. De maneira simplificada, ela quer estabelecer
uma conexão - de preferência emocional - com o consumidor (PEREZ, 2004).
Posto isso, tal conexão é proporcionada somente mediante o uso adequado
dos elementos que compõem uma identidade visual; podendo-se citar os que mais
se destacam como: o logotipo, as formas, as cores, as tipografias, entre outros.
Dentre todos eles, o presente trabalho busca trazer foco para a escolha, significado
e demais questões que envolvem o uso das cores em uma identidade.
Conforme afirma Clotilde Perez: "A cor é um dos elementos mais importantes
da sintaxe da linguagem visual" (2004, p.73). Logo, para que se projete uma
23
identidade eficaz, que comunica a identidade da marca e atinge o público desejado
de maneira efetiva, é necessário que, em primeiro lugar, a escolha das cores seja
assertiva e,consequentemente, seu uso e aplicação seja adaptado e acessível para
toda e qualquer pessoa componente do target.
Perez (2004) também afirma que algumas marcas podem, dentro do sistema
de identidade visual, fazer da cor o elemento principal a cumprir sua função de
identificação. No entanto é notável que, quando a cor é priorizada como principal
elemento de reconhecimento da identidade visual de uma marca, uma grande
parcela do público não é incluída como possível target da marca. Se forem levados
em consideração grupos de pessoas com daltonismo ou baixa visão, por exemplo, é
possível afirmar ainda que a marca não teve em mente cumprir alguns pontos, como
o design inclusivo e os sete princípios que o regem. Pontos estes que serão
discutidos nos tópicos subsequentes.
Mas antes, no que concerne o objeto de estudo desta pesquisa - o redesign
dos ícones dos aplicativos do Google Workspace - percebe-se um exemplo de
estratégia de quando o branding (neste caso, o rebranding) é expresso por meio da
identidade visual. No ano de 2020, o Google estruturou uma mudança em seu
posicionamento, conforme explicado no item 2.4, e sentiu a necessidade de refletir e
comunicar tal mudança através de um rebranding e, conjuntamente, um redesign,
como é possível visualizar na imagem abaixo (uma referência que demonstra o
antes e o depois do ícone do Gmail, uma das ferramentas do Google Workspace).
No tópico subsequente, serão apresentados entendimentos basilares acerca do
processo de rebranding e como ele se deu no Google.
24
Figura 4: antes e depois do redesign dos ícones do Google Workspace
Fonte: Resultados Digitais (2021)
2.4 REBRANDING: QUANDO O POSICIONAMENTO MUDA
Retomando o entendimento do tópico 2.1 de que o branding se configura
como uma estratégia de gestão da marca capaz de criar laços afetivos e suscitar um
relacionamento marca-público é preciso dizer que, para que tal propósito se cumpra,
tais marcas necessitam estar sempre antenadas e alinhadas com as demandas de
seus respectivos públicos e leads (os clientes em potencial).
E isso, se deve ao fato de que os consumidores têm se mostrado cada vez
mais ativos dentro da comunidade da marca e requerendo melhorias para que as
empresas acompanhem a evolução da sociedade e, consequentemente, se
posicionem conforme seus princípios e os interesses de seus respectivos públicos.
Esse processo de mudança do posicionamento estabelecido para um novo, é
denominado rebranding, o qual compreende uma mudança completa em diversos
âmbitos marcários, passando desde os aspectos visuais, chegando até os táteis.
No entanto, as mudanças propostas por um processo de rebranding não são
aleatórias ou baseadas no querer próprio daqueles que estão à frente do
gerenciamento das marcas. Ele é um procedimento que começa a ser executado
por razões internas (quando há algum tipo de transformação que parte de dentro da
própria organização) ou externas (quando, por exemplo, consumidores levantam a
necessidade de mudar). De acordo com Quinteiro (2008 apud KAPPEL, 2014), o
25
rebranding deve seguir após uma fase de diagnósticos voltados para a marca,
mercado e consumidores.
Para além dessa função de acompanhar as tendências e mudanças
promovidas interna ou externamente, o rebranding também é relevante nos casos
nos quais a marca tem a necessidade de mudar sua imagem diante do público. Por
exemplo, caso a empresa passe por um momento de forte crise e isso venha a
afetar a percepção que os consumidores tinham dela, o rebranding entra justamente
como uma estratégia de mobilizar novas percepções (positivas) a respeito da marca
em questão. Outra situação na qual ele é relevante para os empreendimentos é
quando estes perpassam por mudanças significativas em sua cultura, valores, forma
de ser e necessitam comunicar essa renovação de modo que o público tenha uma
transição leve e sutil entre o posicionamento antigo e o novo.
Partindo-se do entendimento de que as marcas são influenciadas por
diversas variáveis que as permeiam e que elas se comportam como organismos
vivos, que se modificam constantemente de acordo com os contextos nos quais
estão inseridas, entende-se que existe também outro elemento que afeta a forma
com a qual uma marca se coloca no mundo: o seu público.
Dessa maneira, em 2020, pensando em atender uma nova demanda de seu
público - os clientes empresariais que pagam para utilizar os serviços corporativos
disponíveis - o Google arquitetou uma mudança de posicionamento em um de seus
serviços mais rentáveis: o atual Google Workspace. Para entender um pouco
melhor como se deu esse processo de rebranding é preciso, em primeiro lugar,
entender o que é este conjunto de serviços e por quais modificações ele passou
desde o seu lançamento até o momento dessa mudança.
Surgido em 2006, o Google Apps veio com a promessa de oferecer para os
clientes com empresas uma solução focada em aumentar a produtividade dos times.
Para tanto, o serviço deixava compilada uma série de aplicativos que os auxiliassem
nesse sentido, o que começou somente com serviços como o Gmail (aplicativo de
e-mail) e o Google Drive (ferramenta de armazenamento em nuvem).
Todavia, pensando em sempre manter a excelência em oferecer soluções
exclusivas para os clientes empresariais, em 2016, apesar de ainda oferecer as
mesmas ferramentas, por uma mudança no posicionamento, a empresa sentiu
necessidade de modificar o nome do serviço para Gsuite.
26
Atualmente, ele conta ainda com: Docs (para formulação e edição de textos),
Agenda (organização de calendário que possibilita agendamento de compromissos
e que permite usuários visualizarem a disponibilidade de outros membros da mesma
equipe), Chat (aplicativo de trocas de mensagem), Forms (voltada para a criação de
formulários), Sites (uma ferramenta pensada para que pessoas sem experiência
possam criar sites de forma colaborativa) e Meet (ferramenta utilizada para
realização de reuniões a distância através de celulares, computadores e/ou tablets
com o uso de câmeras e microfones).
Ele conta com três opções de planos: o Business Starter (que custa R$ 27
por mês, com 30GB de espaço), o Business Standard (que custa R$ 56, com 2TB
de armazenamento) e o Business Plus (que custa R$ 81 e conta com 5TB de
espaço de armazenamento). Todos contam com os mesmos instrumentos, sendo o
que os diferencia apenas a quantidade de armazenamento disponível em nuvem e o
suporte que recebem.
Além disso, na nova atualização - a ser melhor explicada nos parágrafos
subsequentes - novas funcionalidades foram disponibilizadas; dentre elas, pode-se
citar a viabilidade de iniciar um novo documento dentro de um chat que conte com a
colaboração de todos os participantes envolvidos. Outra funcionalidade que passou
a ser liberada para os usuários foi a possibilidade de utilizar o @ seguido do nome
do participante para que se faça a atribuição direta de determinada tarefa e ele
receba um alerta de notificação imediato, permitindo assim que o fluxo de trabalho
seja mais fluido e ágil.
E foi justamente devido a tais mudanças no modo de usar e nas próprias
ferramentas que, no ano de 2020 ele passou por um processo de rebranding. Esse
processo refletiu na mudança de posicionamento: a ideia agora é que esses
aplicativos, além de atuarem para otimizar a produtividade de equipes, o fizessem
de forma integrada e simplificada. De acordo com uma fala do próprio Google ao
The Independent, o objetivo é que os usuários vejam que, utilizar as ferramentas de
forma conjunta traz muito mais vantagens do que utilizá-las separadamente
(TOLMASQUIM, 2020). Mas também refletiu em outras áreas do branding e
comunicação do Google; de Gsuite, o serviço passa a ser chamado agora de
Google Workspace que, em uma tradução livre para o português, quer dizer "espaço
de trabalho do Google" o que reforça ainda mais a noção de que agora o serviço
27
passa a compilar ferramentas que trabalham juntas, que é possível organizar e
executaras demandas em um só lugar, no Google Workspace.
Da mesma forma que em outros aspectos o rebranding atingiu o modo como
a marca se posiciona visualmente propiciando uma transformação na identidade
visual dos ícones dos referidos aplicativos componentes do Google Workspace.
Ainda quando era denominado de Gsuite, esses ícones eram caracterizados por
signos representativos para cada um dos serviços e representados com colorações
diferentes para cada um deles.
Todavia, com o rebranding em voga, a equipe de design da empresa
construiu uma nova identidade para os ícones, conforme posto na figura 5.
Pensando em promover a ideia de unidade, de como sendo parte de um mesmo
ecossistema, eles optaram por adotar um único padrão sistemático de cor para
todos as aplicações, sem diferenciação. O que passou a diferenciá-los entre si, foi
somente o modo como as formas são agrupadas para formar determinado símbolo;
mas até mesmo a padronagem dessas formas, é a mesma para todos os ícones
(todos contam com um formato geométrico de bordas arredondadas e com o uso da
mesma paleta de cores de forma sobreposta).
Figura 5: comparativo dos ícones em 2019 e em 2020
Fonte: Google (2022)
Tal configuração de cores e agrupamento das formas lado a lado,
impossibilitou uma fácil e rápida diferenciação entre eles, dando vazão a problemas
como a falta de inclusão de pessoas com Daltonismo - ou seja, pessoas que
“possuem uma alteração no pigmento dos cones, ou a ausência dessas células
fotorreceptoras, o que interfere na capacidade de distinguir algumas cores e na
percepção de outras cores do espectro” (BRUNA, 2015, online) - pessoas com
28
baixa visão e, até mesmo, pessoas diagnosticadas com TDA (Transtorno de Déficit
de Atenção), as quais possuem certa dificuldade em ter maior atenção no ato de
diferenciar elementos muito similares visualmente de forma rápida e precisa.
Prova disso, é que após anunciadas as alterações para a nova identidade, a
empresa sofreu duras críticas no que se refere ao respeito das diretrizes de
usabilidade e até mesmo comentários como o da imagem abaixo. A percepção geral
do público, demonstra que a marca teve alinhado em seu processo de rebranding os
propósitos, a demanda do público, mas deixou faltar o mais importante: o ato de
projetar uma execução da maneira mais inclusiva possível, como será discutido
posteriormente.
Figura 6: post no LinkedIn alusivo ao rebranding
Fonte: LinkedIn (201)6
6 Tradução livre do texto da imagem: "É isso que acontece quando você prioriza branding sobre
usabilidade. Imagem do LinkedIn. Disponível em: encurtador.com.br/abAL1 Acesso em: 16 fev. 2022.
29
Contudo, o comportamento de não pensar de maneira inclusiva no momento
de concepção de novos produtos e/ou serviços não foi/é exclusivo do Google.
Infortunadamente, a realidade demonstra que muitas empresas ainda não tem
empregadas em suas mentalidades a importância de ter, cada vez mais, uma
abordagem inclusiva em seus projetos. É justamente com base nessa perspectiva
que os capítulos seguintes se desenvolvem.
3 CONHECENDO O DESIGN INCLUSIVO
Antes mesmo de apresentar os primeiros conceitos e discussões acerca do
que seria Design Inclusivo e de como ele atua na sociedade é preciso, em primeiro
lugar, esclarecer que a acessibilidade - diferentemente do que está estabelecido no
imaginário popular e nas convenções sociais - não se trata somente de promover
adequações pensando nas necessidades e demandas de pessoas com deficiência.
Como posto no capítulo primeiro deste trabalho, acessibilidade diz respeito a
possibilitar o uso despreocupado e livre de quaisquer dificuldades por parte de
qualquer pessoa, independentemente da existência de necessidades especiais.
Em outras palavras, algo é considerado como acessível quando ele possibilita o uso
por parte de qualquer indivíduo, com qualquer diferença funcional sem
constrangimento/empecilhos. Dessa forma, portanto, é delimitado que a
acessibilidade envolve: deficiências definitivas ou temporárias (visual, auditiva,
cognitiva, entre outros), habilidades motoras (ser destro, canhoto, ambidestro),
diversidade de dispositivos (acesso por mobile ou desktop), pluralidade de públicos
(crianças, idosos, etc), letramento, entre outros.
Tendo em vista que a sociedade é integrada, falar de acessibilidade é,
também, abordar o design e como ele pode ser acessível para todos os usuários.
Segundo Gomes (2018), "o design em sua forma pura de introduzir conceitos na
30
sociedade tem como principal objetivo solucionar problemas encontrados pelos
usuários em diferentes níveis de relação produto/usuário" (p.19).
Partindo desse ponto entende-se, portanto, que para ser eficaz um design
precisa ser funcional; ou seja, ele precisa cumprir os propósitos de funcionalidade,
usabilidade e solução de problemáticas a que se dispõe para que seja considerado
um design de qualidade (GOMES, 2018). Logo, para conceber design, é preciso
pensar em todas as possibilidades de uso que ele pode proporcionar o que, por
conseguinte, promove uma necessidade de se pensar também em todos os tipos de
usuários (e suas particularidades de uso) possíveis.
Após a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, muitos soldados
veteranos sobreviventes da guerra encontravam-se mutilados ou com algum tipo de
deficiência adquirida. Foi nesse contexto que, em 1950, começou a nascer uma
demanda pela integração de Pessoas Com Deficiência (PCD's), um movimento
intitulado de movimento livre de barreiras; para além dos cuidados voltados para a
saúde, eles também reivindicavam a inclusão e a criação de oportunidades no
mercado de trabalho para esta parcela da população.
Com essa iniciativa, como uma tendência natural também em outros
aspectos, os debates e a defesa pelos direitos de PCD 's começou nos EUA, e
depois de certo tempo se disseminou em muitos outros lugares do mundo. Foi a
partir disso que, posteriormente, começou-se a falar sobre estruturas adaptadas. No
entanto, durante esse período, as discussões e aplicações adaptadas se deram
somente em âmbitos que envolvem a arquitetura: indo desde carros e chegando,
até mesmo, em restaurantes adaptados.
Mesmo iniciadas relativamente cedo, em 1950, foi apenas em 1988 - através
de uma exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), denominada
de Os projetos para a vida independente - que as discussões acerca das pessoas
com diferença funcionais7 começaram a ter maior relevância. A partir dela, ficou
evidente que o mercado passava a reconhecer PCDs como possíveis clientes ou
clientes viáveis.
O que começou com uma luta por direitos composta por uma pequena
parcela da população estadunidense culminou, anos depois, em um movimento
fortalecido de tal maneira que, em 1997 o Centro de Design Universal (CUD) situado
7 “São pessoas que utilizam um mesmo produto de formas diversas de acordo com suas respectivas
dificuldades” (GOMES, 2018, p.21).
31
na Universidade Estadual da Carolina do Norte não somente definiu o que seria
Design Universal, como também estabeleceu os 7 princípios que o norteiam.
De antemão, é necessário que se estabeleça uma relação de diferenciação
entre os termos Design Universal (DU) e Design Inclusivo (DI). De forma resumida,
o DU consiste em desenvolver e construir soluções que abordem o maior número de
pessoas possíveis ou, até mesmo, todas as pessoas envolvidas no uso de
determinado produto/ferramenta/serviço (LABOURIAU, 2021). O DI, por sua vez,
está imerso dentro do DU e tem como princípio servir todo o mercado - que tem se
mostrado cada vez mais diverso - de forma inclusiva mas sem, necessariamente,
pensar em uma única solução.
Em suma, DU e DI partem da mesma premissa: incluir e tornar acessível
qualquer produto/serviço/ferramenta para o máximo de pessoas possível, sem
promover nenhum tipo de constrangimento/dificuldade/barreira enquanto o fazem
(GOMES, 2018); o que os diferencia é tão somente a forma de aplicação (DU
prioriza apenas uma solução, enquantoque DI possibilita várias soluções para o
mesmo propósito). Logo, todas as vezes que os termos de inclusão e acessibilidade
forem utilizados citados neste trabalho há uma menção direta ao DI e,
consequentemente, ao DU.
Enquanto filosofia, o Design Inclusivo alega que projetar o design com uma
atitude de reconhecimento voltado para as diversidades funcionais (sejam elas
motoras, físicas, entre outros) por consequência torna-o melhor para todos. A ideia
é que se, por exemplo, uma Pessoa com Necessidades Especiais (PNE) consegue
fazer uso de determinado produto/serviço/ambiente sem nenhuma dificuldade ou
limitação, o objeto em questão logo se torna de uso facilitado para todos os demais.
É possível entender ainda que a distinção entre projetar de forma convencional e
projetar de forma inclusiva está em “(...) considerar o maior número de repertórios e
vivências possíveis no que tange a funcionalidade dele” (GOMES, 2018, p.57).
Para nortear a atuação e a aplicação do Design Universal no cotidiano de
profissionais, foram desenvolvidos os sete princípios do Design Inclusivo, os quais
serviram como base metodológica para a análise estruturada no capítulo quarto, e
que serão apresentados e explicados a seguir.
32
3.1 OS PRINCÍPIOS DO DESIGN INCLUSIVO
Em 1997, o Centro de Design Universal (CUD) elaborou os seguintes
princípios para o Design Inclusivo: 1) uso equitativo; 2) uso flexível; 3) uso simples e
intuitivo; 4) informação perceptível; 5) tolerância a erros; 6) baixo esforço físico e 7)
tamanho e espaço para aproximação e uso. A seguir, serão detalhados e
exemplificados cada um deles.
O princípio do uso equitativo se refere, basicamente, a premissa de tornar
todos os ambientes/produtos/serviços iguais de forma a oferecer os mesmos meios
de utilização para todos. Um exemplo de aplicação deste princípio seriam as
cabines telefónicas no Japão as quais possibilitam que, por exemplo, pessoas de
diferentes alturas (inclusive pessoas com nanismo) e em diferentes condições
(pessoas em cadeiras de rodas) de utilizarem-nas sem dificuldades.
Figura 7: exemplo de aplicação do princípio do Uso Equitativo
Fonte: Google (2022)
O segundo princípio, o do uso flexível, postula que o elemento a ser
projetado deve ser adaptável para diferentes usos; ele deve atender ao máximo de
habilidades e preferências possíveis. Exemplo do uso flexível aplicado são cadeiras
que possibilitam ao usuário escolher a orientação que melhor atende sua habilidade
motora (destro ou canhoto).
Figura 8: exemplo de aplicação do princípio do Uso Flexível
33
Fonte: Google (2022)
O princípio de número três, uso simples e intuitivo define que o
ambiente/produto/serviço deve ser de fácil compreensão e utilização
independentemente do nível de conhecimento, habilidades de linguagem, nível de
concentração ou da experiência que o usuário possua. A título de exemplo, pode ser
trazido um ambiente que possua escadas e rampas como possibilidade de
acessá-lo (não é necessário nenhum conhecimento prévio para entender que uma
cadeira de rodas não consegue transitar por uma escada e que, portanto, a rampa é
a opção viável).
Figura 9: Exemplo de aplicação do princípio do Uso Simples e Intuitivo
Fonte: Google (2022)
O quarto princípio - Informação Perceptível - intenta que a informação deve
ser transmitida não só de forma clara, mas também promovendo a diferenciação
34
entre aquelas que são principais e as que são acessórias, a promoção de fácil e
ampla (em braile ou com audiodescrição) assimilação bem como a compatibilidade
com dispositivos diversos. Como exemplo, tem-se placas de banheiros que deixam
claro o que você encontra ali e possibilita que isso seja comunicado de forma
perceptível (com ícones, texto e braile).
Figura 10: Exemplo de aplicação do princípio Informação Perceptível
Fonte: Google Reprodução
No quinto princípio, o da Tolerância a Erros, o design é inclusivo quando ele
diminui o risco e/ou a possibilidade de que acidentes não intencionais ocorram.
Também é importante que se tragam avisos sobre possíveis perigos ali presentes.
Para exemplificar este princípio, tem-se os elevadores que possuem sensores em
diferentes alturas, os quais permitem identificar pessoas - desde crianças,
cadeirantes até adultos de alta estatura - e, consequentemente, promover maior
segurança para elas, evitando acidentes.
Figura 11: Exemplo de aplicação do princípio Tolerância a Erros
Fonte: Google (2022)
35
O princípio do Baixo Esforço Físico formula que o design tem que gerar
conforto e o mínimo de fadiga possível para seu usuário. Um mecanismo que pode
servir de exemplo para tal princípio são as portas do tipo puxe/empurre, as quais
permitem que o usuário as utilize de diversas formas (empurrando com as mãos,
com os pés, com os cotovelos) e despendendo um esforço mínimo para tal.
Figura 12: exemplo de aplicação do princípio Baixo esforço físico
Fonte: Google (2022)
Por fim, como último princípio, o de Tamanho e espaço para aproximação e
uso (abrangente) propõe que o objeto a ser projetado seja pensado para viabilizar o
acesso, o alcance, a manipulação e o uso independentemente de quaisquer
características que o usuário possa vir a ter (seja ele obeso, anão, uma pessoa em
cadeira de rodas, entre outro). Como amostra da aplicação de tal princípio, é
possível trazer as salas de cinema adaptadas para receber pessoas em situação de
cadeira de rodas (em um local estratégico que permitem uma boa visão) e gerar a
mesma experiência para todos os usuários apesar de suas diferenças funcionais.
Figura 13: exemplo de aplicação do princípio Abrangente
36
Fonte: Google (2022)
À vista do que foi exposto, entende-se portanto que, para que um
determinado produto ou serviço atenda ao maior número possível de pessoas sem
causar nenhum constrangimento ou distinção, os sete princípios apresentados
devem ser conhecidos em profundidade, devidamente respeitados e aplicados.
Contudo, as possibilidades não param por aí; na próxima seção, serão indicadas
outras estratégias a serem adotadas pelas mais marcas que objetivam gerar mais
inclusão em todos os seus âmbitos, inclusive no design.
3.2 COMO TORNAR O BRANDING MAIS INCLUSIVO?
Como todo e qualquer projeto que tem como objetivo final um ser humano
comprar/fazer uso de determinado produto ou serviço, também o branding (e o
design) tem como responsabilidade pensar na diversidade de pessoas - e suas
respectivas habilidades e características particulares - que virão a usufruir do que
quer que ele se proponha a fazer. Gomes (2018) propõe que "um projeto inclusivo
exige o conhecimento de todos os possíveis usuários e de como o produto poderia
ser utilizado" (p.57). Isso é, quanto mais um determinado produto/serviço leva em
conta todas as formas possíveis de fazer uso de um produto/serviço, mais
abrangente ele será.
Quando se fala de branding são levantadas questões que englobam diversas
áreas e estratégias relacionadas a uma marca: tom de voz, posicionamento, escrita,
identidade visual, sonora, entre outros aspectos. Tendo em vista que o foco desta
37
pesquisa é analisar design, a seguir serão elencadas formas de tornar o branding -
com foco na identidade visual - mais inclusivo.
Entende-se que, o primeiro princípio para tornar o branding ou qualquer outra
estratégia comunicacional mais inclusiva, é conhecer a fundo o seu público-alvo. A
própria filosofia do Design Inclusivo - conceito a ser abordado com profundidade nos
tópicos consecutivos - define que quando um projeto ou produto é pensado com
base no reconhecimento das dificuldades funcionais incomuns, invariavelmente ele
será melhor para todos aqueles que se dispuserem a utilizá-lo (GOMES, 2018,
p.56).
E para que isso aconteça, a primeira ação que pode ser tomada é incluir, de
fato, essas pessoas no processo. A partir do momento no qual o projetista tem a
oportunidade de ouvir, ver e experienciar vivências junto de pessoas com
deficiência, por exemplo, ele se tornamuito mais capacitado para idealizar e criar
algo que vá atender também às necessidades de um grupo que, na maioria das
vezes, não é levado em consideração no momento de concepção de produtos ou
serviços. É através da inclusão de pessoas no processo que o designer consegue
ter empatia por eles e, tendo empatia, as escolhas projetuais passam a ser feitas
com base em uma visão mais amplificada do que seria o público-alvo e de quais
seriam as suas necessidades, habilidades e limitações.
Para além dessa etapa que é - de acordo com Gomes (2018) - imprescindível
para que a construção de um design possa ser caracterizada como inclusiva, de
forma ainda mais prática e direta existem alguns hábitos e escolhas que podem ser
adotados para tornar um produto/projeto mais englobante para todos os públicos
possíveis.
Pagani (2013), uma especialista em acessibilidade renomada no mercado
brasileiro, em seu artigo Design de Interfaces e Acessibilidade: você está fazendo
isso errado apresenta aos leitores uma dessas formas práticas de tornar projetos
mais acessíveis: a Web Content Accessibility Guidelines (WCAG)8. De forma basilar,
a WCAG consiste em um conjunto de diretrizes e recomendações formuladas para
guiar designers, programadores e demais profissionais envolvidos na construção de
projetos na web acerca de como torná-los mais acessíveis e inclusivos para todos
os usuários e suas possíveis diferenças funcionais. Atualmente ela está na versão
8 Guias de Acessibilidade para conteúdos na web, em tradução livre
38
2.1 e conta com 78 critérios de sucesso (para que um projeto seja considerado
acessível) e os cartões com todos eles podem ser acessados no site da instituição
Todos por Acessibilidade9.
O guia segue quatro princípios básicos: 1. Perceptível: define que todos os
itens que compõem uma interface na web devem ser apresentados,
obrigatoriamente, de modo que seja perceptível para o usuário, seja ele quem for. 2.
Operável: todo e qualquer elemento da interface deve ser perfeitamente operável. 3.
Compreensível: da mesma forma, componentes e informações ali presentes devem
estar disponibilizados de forma compreensível para todos. E por fim, 4. Robusto: o
conteúdo dessa interface precisa ser desenvolvido de tal maneira que ele possa ser
interpretado de modo simples por diversos agentes, incluindo os recursos de
tecnologia assistiva, por exemplo. Cada um desses princípios agrupa uma série de
recomendações (as diretrizes) mais diretas e instrutivas de como aplicá-los nos
projetos/produtos da web.
Quando observados os guias como a WCAG, são identificados alguns
comportamentos comumente reproduzidos no mercado e que podem ser tidos como
problemáticos ou promotores de barreiras para o uso de determinados grupos. No
quesito cor, por exemplo, existem algumas questões que são frequentemente
ignoradas ou não priorizadas no momento das escolhas projetuais. A mais comum
entre elas é não atentar para o contraste entre cores e como isso poderia impactar a
visualização - especialmente de pessoas com baixa visão ou daltonismo.
Figura 14: exemplo de embalagem com baixo contraste Chá Leão
9 Disponível em: https://guia-wcag.com. Acesso em: 8 mar. 2022.
https://guia-wcag.com/
39
Fonte: Magazine Luiza (2022)
Tal cenário pode ser ilustrado quando, por exemplo, na embalagem dos chás
Leão, a escolha de paleta não favorece a leiturabilidade dos usuários -
especialmente aqueles diagnosticados com daltonismo ou baixa visão. E isso é
comprovado através de um teste feito na plataforma Coolors, especificamente
fazendo uso da ferramenta Contrast Checker, que segue as diretrizes da WCAG
para mensurar se as combinações de cores podem ser consideradas acessíveis ou
não. De acordo com os parâmetros, para um contraste mínimo entre cores é
necessário que a combinação atinja uma pontuação acima de 4,5:1 para texto
normal e de 3:1 para texto grande ou em negrito.
A autora extraiu da figura 14 os códigos hexadecimais referentes a parte da
embalagem com o texto "chá mate e guaraná" e do fundo, de modo a conferir se o
contraste entre fundo e figura neste caso estaria adequado. Dessa forma,
constatou-se que o contraste entre eles era considerado muito pobre, tanto para os
casos em que o texto estivesse pequeno, quanto nas situações em que estivesse
grande. Por conseguinte, é notável que, se para as pessoas que não possuem
nenhum tipo de disfuncionalidade já seria difícil obter uma leitura compreensível
dessa embalagem, alocando o contexto para as pessoas com baixa acuidade visual,
por exemplo, essa falha de acessibilidade se torna ainda mais grave.
Figura 15: print de tela exemplificando o baixo contraste detectado
40
Fonte: A autora (2022)
As problemáticas, no entanto, não ficam restritas tão somente ao âmbito das
cores; é possível ainda identificar falhas de acessibilidade na escolha das
tipografias, por exemplo. Quando se trata de elementos tipográficos, é necessário
que se respeitem alguns parâmetros na hora de escolhê-los. Entre eles, o da
leiturabilidade deve sempre prevalecer; caso contrário, pessoas com miopia ou
dislexia, por exemplo, podem ter algum dos quatro princípios da WCAG
prejudicados no momento de leitura, como é possível verificar na figura a seguir,
retirada do artigo Acessibilidade Digital como Cultura: Daltonismo e Dislexia10.
Figura 16: exemplo de leiturabilidade
Fonte: A autora (2022)
Para evitar que situações como as descritas acima tornem a recorrer nos
projetos, é preciso que as pessoas tenham acesso e pleno conhecimento das
diretrizes propostas na WCAG. E mais - além de ter pessoas diversas na equipe e
que conheçam o guia - de modo mais simples, é possível até mesmo testar se o
projeto se enquadra como acessível ou não através de sites e plataformas (gratuitas
10 Disponível em:
https://brasil.uxdesign.cc/acessibilidade-digital-como-cultura-daltonismo-e-dislexia-16939161d517
Acesso em: 8 mar. 2022.
https://brasil.uxdesign.cc/acessibilidade-digital-como-cultura-daltonismo-e-dislexia-16939161d517
41
ou pagas) que simulam tais situações e oferecem combinações de paletas mais
acessíveis para todos, como é o caso da Coolors e da Stark.
Posto isso, um exemplo de produto que possui um desempenho exemplar no
respeito às diretrizes de acessibilidade na web propostas pela WCAG é o site da
Apple. A partir de um teste feito na plataforma Access Monitor, idealizada pelo
ecossistema de acessibilidade do governo - o acessibilidade.gov.pt - o site da
empresa estadunidense apresentou apenas 2 práticas consideradas não aceitáveis,
contra 4 aceitáveis e recebeu uma pontuação quanto a acessibilidade,
extremamente satisfatória de 7.9 pontos.
Figura 17: print de tela ilustrando o teste feito na Acess Monitor
Fonte: A autora (2022)
Essa constatação demonstra que, com os devidos esforços, é possível tornar
tudo mais acessível para todo e qualquer usuário, inclusive o branding de uma
companhia. Por essa razão, no próximo tópico o rebranding do Google foi analisado
- tendo como metodologia principal a filosofia e os princípios do Design Inclusivo -
de modo a entender até que ponto, na execução da nova identidade visual do
aplicativos do Google Workspace, estes princípios foram aplicados e/ou
respeitados.
42
4 (RE)BRANDING E DESIGN INCLUSIVO: APRESENTANDO A ANÁLISE
Conforme o que foi anunciado no primeiro capítulo, os objetivos da pesquisa
incluem o entendimento acerca do que levou o Google a executar um processo de
rebranding - o qual já foi elucidado no capítulo dois - bem como a identificação das
mudanças realizadas no novo design, seus desdobramentos e como esse
43
rebranding se comporta à luz do Design Inclusivo, os quais serão expostos e
discutidos nos tópicos subsequentes.
Para cumprir os objetivos indicados é de suma importância ressaltar que,
além dos princípios do Design Inclusivo em si - apresentados acima e que serão
retomados a seguir - a análise também foi pautada e dinamizada a partir do uso da
netnografia (KOZINETS,2007). Enquanto um método de pesquisa qualitativo, a
netnografia se debruça em investigar o comportamento de usuário em ambiente
on-line e os dados são coletados a partir de um olhar atento do pesquisador.
Nesse caso, a pesquisadora captou os dados através de print screens de
conteúdos que estavam na internet em três plataformas principais: no próprio
Google, no Coblis e no Twitter. O critério de escolha foi feito de modo aleatório, sem
nenhum parâmetro rígido para seleção, desde que a temática tratada não fugisse ao
tema da pesquisa e, como resultado dessa busca netnográfica, houve a coleta de
15 imagens, que serão catalogadas no quadro a seguir.
Figura 18: quadro de dados netnográficos colhidos
Fonte: A autora (2022)
As quatro primeiras imagens foram prints capturados na tela da plataforma
Coblis - uma ferramenta para simulação de um quadro de Daltonismo. Para cada
situação de visão simulada, dois prints foram feitos e possibilitaram a produção de
imagens comparativas editadas pela autora de modo a diferenciá-las entre si (linhas
A e B para cada situação, sendo 4 imagens e 8 linhas de print no total). A coleta
44
(por meio do print) e a edição deles foi feita no dia 31 de maio de 2022, pela própria
autora.
A imagem 5 é um print do usuário que se identifica pelo nome Beyond
Horizon, feito no dia 13 de novembro de 2020 no Twitter. A 6 é referente ao usuário
de nome Potato Sheriff, do dia 29 de outubro de 2020 no Twitter. Imagem de
número 7, de @krisagonna, no dia 27 de outubro de 2020, também no Twitter.
Imagem 8, de @chizmv, feito em 29 de outubro de 2020, na mesma rede social. A
imagem 9 foi produzida pela autora, em 07 de junho de 2022 com base em imagens
retiradas do próprio Google. Da imagem 10 a 15, todos prints foram retirados da
rede social Twitter; sendo a de número 10, um print de @AmberLytical, de 26 de
outubro de 2020. A 11, foi um tweet de @Buildren em 28 de outubro de 2020. A
imagem 12, do usuário @rtyley, em 26 de outubro de 2020. A de número 13, de
@EmreBarish, publicado em 27 de outubro de 2020. O print 14 é do usuário
@ifrit218, de 25 de março de 2018. Por fim, na última imagem, o Tweet é de
@AnaGouvea, postado em 03 de fevereiro de 2022.
Os dados coletados são relevantes para o aquecimento da discussão
proposta nesta análise (como o rebranding do Google se comporta a partir da ótica
do Design Inclusivo) e funcionam como peças imprescindíveis para que a exposição
argumentativa fosse dinamizada e fortalecida de modo sólido. Além de atuarem
como esse braço de endosso argumentativo, os prints contendo as falas dos
usuários demonstra como estes se utilizam das redes sociais, como o próprio
Twitter, como um espaço para reivindicar, criticar e expor suas opiniões sobre
temáticas muito pertinentes tendo aqui um destaque especial para as que se refere
às problemáticas de usabilidade e do próprio design.
É importante ainda, frisar como essas conversas e comentários em torno de
usabilidade e inclusão são importantes para que conceitos e práticas normalmente
tão desvalorizados, esquecidos, invisibilizados, muitas vezes, por pessoas à frente
de projetos ou da concepção de novos produtos/serviços, a partir do momento no
qual se tornam pautas em redes sociais, sejam notados por esses projetistas e
possam se destacar como pontos de atenção e, até mesmo, impactar positivamente
essa forma de produzir e criar novos serviços, produtos e projetos, tornando-os mais
inclusivos na medida do possível. Foi justamente a partir da percepção de como os
próprios usuários se queixam de falhas ou de falta de inclusão que o tópico seguinte
45
se debruçou para entender como o Google, especificamente seu rebranding no
Google Workspace, se comporta à luz de princípios tão importantes para a inclusão.
4.1 REBRANDING DO GOOGLE À LUZ DO DESIGN INCLUSIVO
Gomes (2018) define que o Design é uma área responsável por promover um
vínculo sadio entre o usuário e produto, ambiente, comunicação ou serviço com o
qual ele se relaciona através de projetos pensados para, principalmente, resolver
problemas existentes. O design é, também, uma forma de simplificar e oferecer
soluções para diversas problemáticas na sociedade (design de produto, de
embalagem, de interiores, entre outros).
Portanto, o Design só existe e é funcional quando o que ele se propõe a se
fazer/ser é cumprido e passível de uso/entendimento por parte dos usuários. É
partindo deste pressuposto que entende-se, portanto, a necessidade que o design
se relacione de modo saudável com o público para o qual se destina. Todavia, essa
relação só pode ser entendida como saudável a partir do momento no qual todos os
usuários - e suas respectivas diferenças funcionais - são respeitados. Trazendo
esse entendimento para a perspectiva da mudança na identidade visual do Google
Workspace, o presente capítulo se debruça para entender como, individualmente,
cada um dos sete princípios foi (ou não) respeitado e/ou aplicado no processo de
rebranding do Google.
Conforme elucidado anteriormente (vide capítulo 3), o Center of Universal
Design (CUD) lançou em 1997 uma publicação que prevê os sete princípios do
Design Inclusivo, tais princípios são entendidos como parâmetros de validação para
que se ateste se um produto, serviço ou ambiente pode ser reconhecido como
acessível para todos. Eles podem ser utilizados com o intuito de guiar novos
projetos que serão desenvolvidos, educar profissionais para que estes entendam e
implementem criações inclusivas e também podem ser aplicados para avaliar
projetos que já existem, como no caso do redesign aqui investigado.
O primeiro desses princípios é denominado de Princípio do Uso Igualitário
(ou Uso Equitativo) e ele versa sobre como a igualdade de uso em um projeto é
condicionada a obrigatoriedade de ser útil e de disponibilizar aos usuários com
diferenças funcionais a mesma experiência e meios de utilização que os usuários
sem essas diferenças e sem gerar nenhum constrangimento para aqueles.
46
Trazendo a aplicação deste princípio para o contexto do rebranding, é
possível afirmar que a nova identidade visual do Google Workspace não respeita-o.
Se forem analisados conjuntamente, a nova identidade dos ícones dos aplicativos
desse serviço foram projetadas de forma a não oferecerem a mesma experiência de
uso para todos os usuários. Para demonstrar a veracidade dessa afirmação, a
seguir foi feita uma simulação com o design dos ícones do Gsuite (antigo) versus os
ícones do Google Workspace (atual, implantado após o rebranding) através de um
simulador denominado Coblis - Color Blindness Simulator (ou, fazendo uma
tradução livre: Simulador de Daltonismo).
O Coblis, permite que seja simulado, a partir de uma imagem, como uma
pessoa com daltonismo visualizaria determinada imagem. O Daltonismo, é uma
condição médica na qual o indivíduo é incapaz de perceber e/ou diferenciar cores
primárias (azul, amarelo e vermelho) e a cor verde. Partindo disso, o Coblis
possibilita que diversas condições dele sejam emuladas; como por exemplo, a
Tritanopia (quando o indivíduo tem dificuldade em enxergar ondas de comprimento
curto, como o azul), a Dicromacia (situação na qual a pessoa distingue apenas duas
cores) e, até mesmo, a visão monocromática (aqueles que enxergam somente uma
cor ou em preto e branco).
Figura 19: exemplo simulando visão comum
Fonte: A autora (2022)
Figura 20: exemplo simulando visão com Tritanopia
47
Fonte: A autora (2022)
Figura 21: exemplo simulando visão com Protanopia
Fonte: A autora (2022)
Figura 22: exemplo simulando visão com Acromatopsia
Fonte: A autora (2022)
Na figura 19, temos simulada a situação em que o indivíduo não possui
nenhum tipo de daltonismo; na linha A a representação de como eram os ícones do
antigo Gsuite e na linha B a representação de como estes ícones ficaram após o
processo de rebranding. Ela servirá de base para os 3 casos acima citados e suas
respectivas simulações e comparações feitas no Coblis.

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