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AUGUSTO FERREIRA DE MORAES RESENHA CRÍTICA – DOCUMENTÁRIO “ESTAMIRA” Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de Saúde Mental do 7º período do Curso Superior de Psicologia do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Professor (a): PONTA GROSSA - PR 2023 O documentário “Estamira” é uma obra cinematográfica dirigida por Marcos Prado, que retrata a vida de Estamira Gomes de Sousa, uma mulher idosa que vive em um aterro sanitário no Rio de Janeiro e que sofre de transtornos mentais, como esquizofrenia, transtorno bipolar e paranoia. A narrativa apresenta a trajetória de vida de Estamira, sua luta para sobreviver em um ambiente hostil, sua relação com os familiares, amigos e demais moradores do aterro sanitário e sua complexidade mental. O filme tem como objetivo mostrar a realidade vivida por pessoas que sofrem de transtornos mentais e que muitas vezes são excluídas e marginalizadas pela sociedade. Além disso, a obra também traz à tona questões sociais, como a exclusão, a pobreza e a falta de oportunidades, que acabam agravando ainda mais a situação das pessoas que sofrem de transtornos mentais. De acordo com o Ministério da Saúde (2021), os transtornos mentais são um conjunto de doenças que afetam o funcionamento mental e que podem causar alterações no comportamento, na cognição e nas emoções. Essas condições podem se manifestar de diferentes formas, desde sintomas mais leves até quadros mais graves, como a esquizofrenia, que é uma das doenças que, aparentemente, afetam Estamira. Ao longo do documentário, é possível perceber a complexidade da condição mental de Estamira, que muitas vezes é incompreendida e até mesmo ridicularizada por algumas pessoas. Em um dos momentos do filme, Estamira relata sobre sua experiência com os remédios que toma para controlar os sintomas da esquizofrenia: “Se eu não tomo o remédio, eu fico doente. Quando eu tomo o remédio, eu fico mal. Eu tomo o remédio porque eu fico melhor. Mas eu não tomo o remédio porque eu fico mal. Eu fico mal porque eu tomo o remédio. Eu sou uma puta, uma louca, eu sou tudo que vocês não são. Eu sou mais do que vocês” (Estamira, 2004). Essa fala de Estamira evidencia a dificuldade que as pessoas que sofrem de transtornos mentais enfrentam para lidar com sua condição e para serem compreendidas e respeitadas pela sociedade. O documentário mostra que a exclusão social e o preconceito acabam dificultando ainda mais o processo de tratamento dessas pessoas e agravando a sua condição. Além disso, ao estarem sendo excluídas da sociedade, acabam tendo ainda mais dificuldade de receberem suporte das políticas públicas destinadas a promoção e prevenção de saúde mental e diminuição da vulnerabilidade social. Em relação à inclusão social, o filme traz à tona a importância de se discutir e refletir sobre as condições de vida das pessoas que sofrem de transtornos mentais e de se promover políticas públicas que visem à inclusão e ao acolhimento dessas pessoas. Como destaca o Ministério da Saúde (2021), a inclusão social é fundamental para o processo de tratamento das pessoas que sofrem de transtornos mentais, pois ela ajuda a minimizar o isolamento e o preconceito e favorece a recuperação. Em outro momento do filme, Estamira fala sobre sua relação com o lixo e com o a vida que leva no aterro sanitário. Segundo ela, o lixo é sua casa e ela se sente feliz vivendo lá: “Eu moro na minha casa. Eu sou feliz aqui. Eu sou feliz com o lixo. Eu sou feliz com os vermes. Eu sou feliz com a minha doença. Eu sou feliz com tudo” (Estamira, 2004). Essa fala de Estamira evidencia a complexidade de sua condição mental e a necessidade de se promover um tratamento adequado e acolhedor para as pessoas que sofrem de transtornos mentais. Como destaca o Ministério da Saúde (2021), o tratamento dos transtornos mentais deve ser realizado de forma humanizada, respeitando a individualidade e as necessidades de cada pessoa. A fala de que é feliz com o lixo, com os vermes e com sua doença, evidência a possibilidade de que essa pessoa esteja em condições tão precarizavas de direitos básicos ao cidadão e de agravo de sua doença que, além de perder sua subjetividade, integrou-se ao ambiente em que vive, como se, de alguma forma, fizesse parte dele, como um objeto em meio ao lixo. De forma técnica, e como conceituaria Karl Marx (1867), estaria em um processo de retificação. Além disso, o filme também traz à tona a importância da empatia e do respeito às diferenças. Como destaca a psiquiatra Nise da Silveira em um dos momentos do documentário: “A diferença é o ponto de partida. A diferença é o que nos faz humanos. É a riqueza. A sociedade não pode abrir mão da diferença. E a diferença é muito mais importante para o doente mental do que para o indivíduo dito normal” (Nise da Silveira, Estamira, 2004). Essa fala de Nise da Silveira evidencia a importância de se respeitar as diferenças e de se promover uma sociedade mais inclusiva e acolhedora. Como destaca o Ministério da Saúde (2021), o respeito às diferenças é fundamental para o processo de inclusão social das pessoas que sofrem de transtornos mentais, pois ajuda a minimizar o preconceito e a discriminação. O documentário também aborda a importância da família no processo de tratamento das pessoas que sofrem de transtornos mentais. No caso de Estamira, sua relação com a família é marcada por conflitos, o que acaba dificultando ainda mais o processo de tratamento. “A família é fundamental. Se a família ajuda, a coisa é muito mais fácil. Se a família atrapalha, a coisa é muito mais difícil” (Nise da Silveira, Estamira, 2004). Essa fala de Nise da Silveira evidencia a importância do apoio familiar no processo de tratamento das pessoas que sofrem de transtornos mentais. Como destaca o Ministério da Saúde (2021), o apoio familiar é fundamental para o processo de recuperação das pessoas que sofrem de transtornos mentais, pois ajuda a minimizar o isolamento e a promover a inclusão social. Em relação à exclusão social, o filme mostra a luta de Estamira contra a discriminação e o preconceito. Nise da Silveira: “Estamira é uma guerreira. Ela é uma pessoa muito forte. Ela é uma pessoa que sofre muito. Ela sofre pelo fato de ser doente mental, sofre pelo fato de ser pobre, sofre pelo fato de ser mulher, sofre pelo fato de ser discriminada, sofre pelo fato de ser excluída” (Nise da Silveira, Estamira, 2004). Essa fala de Nise da Silveira evidencia a complexidade da situação de Estamira, que enfrenta múltiplas formas de exclusão social. Como destaca o Ministério da Saúde (2021), a exclusão social é um fator que agrava os transtornos mentais, pois promove o isolamento e a falta de acesso a serviços de saúde adequados. Diante desse contexto, o documentário Estamira se destaca como uma importante contribuição para a reflexão sobre a saúde mental e a inclusão social das pessoas que sofrem de transtornos mentais. Por meio da história de vida de Estamira, o filme mostra a importância do acolhimento, do respeito às diferenças, do apoio familiar e da luta contra a exclusão social. Ao mesmo tempo, o filme evidencia as limitações do sistema de saúde mental brasileiro, que muitas vezes se baseia em modelos medicalizantes e excludentes. Nise da Silveira: “O hospital psiquiátrico é uma prisão. É uma coisa terrível. E o que é que fazem lá dentro? Dão drogas. É uma droga atrás da outra. E aí, a pessoa fica completamente destruída” (Nise da Silveira, Estamira, 2004). Essa fala de Nise da Silveira evidencia a crítica ao modelo de tratamento baseado no uso indiscriminado de medicamentos e no isolamento dos pacientes em hospitais psiquiátricos. Como destaca o Ministério da Saúde (2021), o tratamento dos transtornos mentaisdeve ser baseado em abordagens mais humanizadas e integradas, que considerem a dimensão social, cultural e subjetiva das pessoas que sofrem de transtornos mentais. Assim, o documentário Estamira se destaca como uma importante contribuição para a reflexão sobre a saúde mental no Brasil e para a luta por uma sociedade mais inclusiva e acolhedora. Ao mesmo tempo em que evidencia as dificuldades e os desafios enfrentados pelas pessoas que sofrem de transtornos mentais, o filme também mostra a força e a resiliência dessas pessoas, que lutam por seus direitos e por sua dignidade. Como destaca: “Eu quero que o povo saiba que eu sou uma pessoa. Que eu tenho direitos. Que eu tenho amor” (Estamira, 2004). Essa fala de Estamira evidencia a importância de se reconhecer a humanidade e a dignidade das pessoas que sofrem de transtornos mentais, em uma sociedade que muitas vezes as marginaliza e as exclui. ESTAMIRA. Direção: Marcos Prado. Produção: José Padilha. Rio de Janeiro, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br
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