Buscar

BASES EPISTEMOLÓGICAS 1pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 1 
BASES EPISTEMOLÓGICAS, 
TEÓRICAS E EMPÍRICAS DA 
PSICOTERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL 
Profª Andréia Cristina dos Santos Kleinhans 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Pressupostos filosóficos e epistemológicos da terapia cognitivo 
comportamental 
A partir da Revolução Cognitiva na década de 1960, avolumaram-se 
estudos acerca da influência do pensamento (cognição) sobre as emoções e o 
comportamento. Toda abordagem que desenvolveu técnicas e intervenções 
usando a base teórica do processo mediacional (pensamento influenciando as 
emoções e comportamento) recebeu o nome de terapia cognitivo-
comportamental. Dessa forma, essas terapias são consideradas híbridas, pois 
utilizam técnicas cognitivas e comportamentais. Entre elas, a Terapia Cognitiva 
(TC) é considerada a mais influente no campo da psicologia e da psiquiatria. 
A TC foi sistematizada e organizada por Aaron Temkin Beck no início da 
década de 1960. Originalmente, Beck descreveu a abordagem como terapia 
cognitiva – termo que atualmente é preferido em detrimento da terapia cognitivo-
comportamental, de forma que a TC é utilizada por grande parte dos estudiosos e 
clínicos cognitivistas que segue a orientação teórica desenvolvida por Beck. A 
abordagem apresenta-se de forma estruturada, com delineamento considerado 
breve e empiricamente validado. 
Para facilitar sua leitura, nesta aula, usaremos o termo original descrito por 
Aaron Beck. Além disso, conheceremos os fundamentos filosóficos e 
epistemológicos que influenciaram Beck a desenhar e escrever a teoria que 
embasa a TC, bem como compreenderemos os axiomas e os princípios dessa 
terapia. 
A TC é uma abordagem baseada em evidência clínica; é utilizada para uma 
ampla variedade de transtornos mentais e outros transtornos médicos crônicos. 
Por isso, é respeitada e considerada em todo o mundo como uma terapia capaz 
de desenvolver a resiliência e diminuir o sofrimento do paciente. 
TEMA 1 – PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS 
Aaron Temkim Beck é considerado pela comunidade científica o pai da 
Terapia Cognitiva (TC), por sua iniciativa de desenvolver teorias e métodos para 
aplicar as intervenções cognitivas em diversos transtornos emocionais (Wright, 
Basco; Thase, 2008). O próprio autor apresenta, no primeiro capítulo do livro 
 
 
3 
Terapia cognitiva para depressão, a perspectiva histórica e filosófica que o 
influenciou no desenvolvimento da abordagem. Segundo Beck et al. (1997, p. 17): 
As origens filosóficas da terapia cognitiva podem ser buscadas nos 
filósofos estoicistas, especialmente em Zenão de Cítio (século IV a.C.), 
Crísipo, Cícero, Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Epicteto escreveu, no 
Enchiridion: “Os homens não são perturbados pelas coisas, mas pelas 
visões que têm delas”. Assim como o estoicismo, filosofias orientais 
como o taoísmo e o budismo enfatizaram que as emoções humanas se 
baseiam em ideias. O controle dos sentimentos mais intensos pode ser 
alcançado pela modificação das ideias de uma pessoa”. 
Nesse sentido, é importante ressaltar que Beck buscou, nos textos 
filosóficos, elementos contextuais para fundamentar os pontos centrais da teoria 
cognitiva. Tais elementos já haviam sido citados pelos filósofos estoicistas cerca 
de dois mil anos antes da TC desenvolvida por Beck (Wright; Basco; Thase, 2008). 
Beck et al. (1997) entendem que a percepção e a experiência são 
processos ativos e envolvem tanto a análise detalhada de si mesmo quanto a 
observação do externo: “a maneira como uma pessoa avalia uma situação 
geralmente se evidencia em suas cognições (pensamentos e imagens visuais)” 
(Beck et al., 1997, p. 16). Seguindo a mesma linha de raciocínio, os autores 
entendem que os pensamentos (cognições) formam a corrente consciente sobre 
si mesmo, o outro e o mundo. As cognições estão sujeitas a distorções, que, por 
sua vez, afetam o estado afetivo e comportamental do indivíduo. De maneira 
resumida, os autores afirmam que “através da terapia psicológica um paciente 
pode tomar conhecimento de suas distorções cognitivas. A correção desses 
constructos disfuncionais falhos pode levar à melhoria clínica” (Beck et al., 1997, 
p. 16). 
Esse é o ponto de partida para compreendermos o porquê de Beck ter 
utilizado o conhecimento dos filósofos estoicistas. Parece claro que todos os 
principais filósofos estoicistas consideravam a força dos pensamentos sobre as 
ações do ser. 
Hegenberg (2010, p. 63) comenta que o “estoicismo é um dos movimentos 
filosóficos do Período Helenístico. O nome deriva de ‘pórtico’ (stoa poikilé), na 
ágora ateniense, decorado com pinturas murais, em que os associados da escola 
se reuniam”. Este trecho interessante do livro de Hegenberg sobre o estoicismo 
nos auxilia a encontrar possíveis interseções da influência da filosofia na obra de 
Beck: 
Alicerce da ética estoica está na ideia de que o bem deflui de estado da 
alma, de sabedoria e de autocontrole. Mais ou menos na senda aberta 
 
 
4 
por Sócrates, os estoicos defendiam a ideia de que infelicidade e mal 
decorrem de ignorância. Uma pessoa procede mal porque desconhece 
a “razão universal”. A pessoa é infeliz porque não sabe como a natureza 
atua. Para contornar dificuldades, as pessoas precisam avaliar os 
próprios juízos e comportamentos a fim de notar em que pontos 
divergiam da “razão universal da natureza”. (Hegenberg, 2010, p. 64) 
Na TC, o pensamento disfuncional ou distorcido correlaciona-se ao 
sofrimento psíquico e a possíveis transtornos mentais. Mais adiante, falaremos 
sobre o modelo cognitivo da psicopatologia segundo Beck. Por ora, nosso 
interesse é perceber que o autor fundamentou sua teoria com base no 
conhecimento mediacional, ou seja, nos autores que abordam a reestruturação 
do pensamento para que ocorra a mudança do conteúdo afetivo e 
comportamental. 
Com relação ao budismo e ao taoísmo, o ponto de interseção com a teoria 
de Beck emerge do fato de que ambas as tradições consideram o pensamento 
como força primária na determinação do comportamento (Wright; Basco; Thase, 
2008). 
Na recente publicação do livro Pensamento sem pensador: psicoterapia 
pela perspectiva budista (Epstein, 2018), Dalai Lama, o líder espiritual dobudismo 
tibetano, resume importantes conceitos budistas utilizados em várias abordagens 
psicológicas, por exemplo, na TC. Dalai Lama observa que: 
O propósito da vida é a felicidade. Sendo budista, acredito que a atitude 
mental de cada um de nós é o fator que mais contribui para que 
possamos alcançar esse objetivo. Para transformarmos as condições 
exteriores - o ambiente em que vivemos ou as nossas relações com os 
outros -devemos antes mudar a nós mesmos. Paz interior: este é o 
segredo. Com este estado mental podemos enfrentar as dificuldades 
com calma e sensatez, enquanto dentro de nós reina a felicidade. Os 
ensinamentos budistas a respeito do amor, da bondade e da tolerância, 
o compromisso com a não violência, a teoria de que todas as coisas são 
relativas, assim como a variedade de técnicas para tranquilizar a mente, 
são fontes onde podemos buscar essa paz interior. (Epstein, 2018) 
A mesma ideia sobre reestruturação de pensamento é encontrada em Dalai 
Lama (1999, p. xii): “se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e 
reorganizar nosso comportamento, então poderemos não só aprender a lidar com 
sofrimento mais facilmente, mas, sobretudo e em primeiro lugar, evitar que muito 
dele surja”. 
Evidentemente, estamos trabalhando nesta aula com o objetivo proposto 
inicialmente, que é compreender como os temas filosóficos influenciaram a teoria 
beckiana. Portanto, seguindo esse propósito, podemos resumir da seguinte forma: 
 
 
5 
• a terapia cognitiva de Beck entende que o pensamento influencia o 
sentimento e o comportamento; 
• o terapeuta poderá auxiliar o paciente a treinar pensamentos disfuncionais, 
com o objetivo de modificar as respostas emocionais, fisiológicas e 
comportamentais subsequentes. 
TEMA2 – PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS 
Para compreendermos as influências antecedentes da TC descrita e 
desenvolvida por Aaron Beck, voltaremos às décadas de 1950 e 1960. Nesse 
período, crescia um movimento entre os cientistas e pesquisadores: de um lado, 
eles começaram a discordar fortemente dos postulados teóricos desenvolvidos 
por Skinner, ao mesmo tempo em que a psicanálise também não estava 
respondendo a diversas perguntas sobre a mente e a cognição. Esse clima de 
descontentamento teórico entre os cientistas propiciou, de maneira definitiva, a 
Revolução Cognitiva. Com ela, surgia na psicologia um campo denominado 
movimento cognitivo. 
Em artigo sobre a Revolução Cognitiva, Vasconcelos e Vasconcelos (2007, 
p. 390) explicam que: 
O advento de um novo modo de conceber e investigar a mente ocorrido 
no final dos anos cinquenta é designado como Revolução Cognitiva. 
Nesse contexto, o computador acaba servindo como uma metáfora 
promissora, vinculada a uma nova compreensão ontológica da mente. 
Um crescente número de trabalhos experimentais, a partir de então, 
encarrega-se de estudar os processos de memória, atenção, raciocínio, 
percepção, evidenciando que a mente poderia ser investigada de um 
modo verdadeiramente científico. 
 De acordo com os autores Vasconcelos e Vasconcelos (2007), a primeira 
Revolução Cognitiva usava o computador como metáfora. Sternberg (2008) 
ressalta, em seu importante livro Psicologia Cognitiva, que, no final da década de 
1950, alguns psicólogos estavam curiosos e se debruçavam sobre a metáfora do 
computador; em outras palavras, os cientistas queriam compreender se o cérebro 
humano poderia processar a informação como um software o faz. Nesse período, 
foi desenvolvido o Teste de Turing, “pelo qual um programa de computador seria 
considerado bem sucedido na medida em que seu resultado fosse indistinguível, 
por seres humanos, do resultado de testes com seres humanos” (Cummins; 
Cummins, 2000, citados por Sternberg, 2008, p. 26). 
 
 
6 
Ainda de acordo com Sternberg (2008, p. 26), “no início da década de 1960, 
os avanços na Psicologia, na linguística, na antropologia e na inteligência artificial, 
bem como as reações ao behaviorismo por parte de importantes psicólogos, 
convergiam a fim de criar uma atmosfera madura para a revolução”. 
Com a Revolução Cognitiva e a busca pelo entendimento de como a mente 
processa as informações, solidificou-se o campo da psicologia cognitiva. Segundo 
Neisser (1967), a psicologia cognitiva buscava compreender como as pessoas 
aprendem, estruturam, armazenam e utilizam o conhecimento. Nesse contexto, 
Sternberg (2008, p. 27) ressalta que, “na década de 1970, a Psicologia Cognitiva 
já era amplamente reconhecida como um importante campo de estudos 
psicológicos, com um conjunto específico de métodos de pesquisa”. 
Ainda sobre a Revolução Cognitiva, Schultz e Schultz (1992, p. 399) 
ressaltam que: 
Como todos os movimentos em psicologia, a Revolução Cognitiva não 
eclodiu da noite para o dia. Muitas de suas características básicas 
tinham sido antecipadas pelo trabalho de outros. Com efeito, sugeriu-se 
que “a psicologia cognitiva” é tanto a mais nova como a mais velha 
tendência na história do assunto. Isso significa que o interesse pela 
consciência existia nos primeiros dias da psicologia, antes mesmo de ela 
se tornar uma ciência formal. Os escritos de Platão e Aristóteles se 
ocupavam das faculdades e processos cognitivos, o mesmo ocorrendo 
com as teorias dos empiristas e associacionistas britânicos. Mesmo 
quando se tornou uma disciplina científica distinta, a psicologia 
continuou a ter a consciência como foco. Considerou-se Wilhelm Wundt 
precursor da psicologia cognitiva devido à sua ênfase no aspecto 
construtivo ou criativo da mente. O estruturalismo e o funcionalismo 
também lidavam com a consciência, concentrando, num caso em seus 
elementos, no outro, em suas funções. O comportamentalismo produziu 
uma mudança fundamental, expulsando a consciência do campo por 
quase cinquenta anos. O retorno à consciência, os primórdios da 
psicologia cognitiva, pode remontar aos anos 50, embora sinais do 
ressurgimento da mente já fossem perceptíveis desde a década de 30. 
 Vasconcelos e Vasconcelos (2007) falam também de uma segunda 
Revolução Cognitiva, que se baseava nas redes conexionistas de informação. 
Para os autores, essa segunda revolução não teve impacto tão importante quanto 
a primeira. Contudo, o modelo conexionista é muito utilizado pela neurociência até 
os dias de hoje. Segundo Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 253): 
Os modelos de rede neural são planejados com os diferentes neurônios 
“conectados” entre si, de modo que quando um neurônio começa a 
descarregar, ele afeta o índice de descarga dos neurônios aos quais está 
conectado. A aprendizagem é implementada dentro dessas redes 
conexionistas ao variar a “força” das conexões entre os neurônios, de 
modo que padrões de ativação comuns ou mais frequentes- isto é, 
representações distribuídas comuns ou mais frequentes-provavelmente 
surgirão mais rapidamente ou mais frequentemente do que padrões 
menos comuns. 
 
 
7 
Em posse desse conhecimento, fica mais fácil entender qual era o espírito 
do tempo, ou zeitgeist, no período em que Beck desenvolveu a TC. Entendemos 
que a Revolução Cognitiva trouxe o tema da consciência e da mente para as 
pesquisas, e a psicologia cognitiva foi descrita como a ciência que buscava 
compreender a cognição e todos os seus elementos (atenção, percepção, 
representação do conhecimento, memória, inteligência e tomada de decisão), 
entre outros construtos importantes para a compreensão da aprendizagem 
humana. 
 Nesse sentido, é importante ficar atento à diferença de terminologia. A 
psicologia cognitiva, como já dissemos, é a ciência que produz o conhecimento 
básico, porque realiza diversas pesquisas sobre os mais variados componentes 
da cognição; já a TC é a aplicação desses conhecimentos na prática, ou seja, o 
terapeuta utiliza o referencial teórico para auxiliar o paciente em suas dificuldades 
do dia a dia, e aqui entra o protagonista do desenvolvimento da TC: Aaron Beck. 
Beck recebeu diploma de médico em Yale e realizou residência em 
patologia e psiquiatria, tendo sido premiado com bolsa de estudo e reconhecido 
por sua capacidade como orador. Em 1956, aos 35 anos, Beck completou sua 
pós-graduação como psicanalista e iniciou sua carreira como professor na 
Universidade da Pensilvânia, tendo sido nomeado professor emérito do 
Departamento de Psiquiatria (Padesky, 2010). Nesse exato período, o mundo 
vivia a Revolução Cognitiva e buscava por explicações para os processos 
mentais; crescia o descontentamento com a psicanálise. Sobre esse momento, 
encontramos o seguinte relato de Aaron Beck: 
Freud (1900/1953) inicialmente apresentou o conceito de que os 
sintomas e efeitos se baseiam em ideias inconscientes. A psicologia 
Individual de Alfred Adler enfatizava a importância de compreender o 
paciente dentro do quadro de suas próprias experiencias conscientes. 
[...] Alguns outros autores, cujo trabalho emergiu da tradição 
psicanalítica, ou foi por ela influenciado, contribuíram com importantes 
conceituações para o desenvolvimento da psicoterapia cognitiva. Alguns 
dos novos autores influentes nesses grupos são Alexander (1950) 
Horney (1950), Saul (1947) e Sullivan(1953). A Ênfase filosófica na 
experiência consciente subjetiva provém dos trabalhos de Kant, 
Heidegger e Husserl. Esse movimento fenomenológico influenciou 
substancialmente o desenvolvimento da psicologia moderna neste grupo 
de psicoterapias. A utilização da abordagem fenomenológica em 
estados patológicos específicos é exemplificada pelos trabalhos de 
Jaspers (1968), Binswanger (1944-45/1958) e Straus (1966). A 
influência dos psicólogos do desenvolvimento como Piaget (1947/1950, 
1932/1960), também fica evidenciada na formulação da psicoterapia 
cognitiva. (Beck A. et al. 1997,p. 17) 
 
 
8 
O relato de Beck demonstra claramente a construção da terapia cognitiva 
e as influências da psicanálise, de autores da abordagem humanista. Também é 
clara a influência de autores cognitivistas como Piaget e Bandura, com sua teoria 
da aprendizagem vicária, além dos estudos advindos das ciências cognitivas. 
Beck comenta que o movimento da terapia comportamental também foi de 
fundamental importância para a TC. Segundo o autor: 
O movimento da terapia comportamental contribuiu substancialmente 
para o desenvolvimento da terapia cognitiva. O behaviorismo 
metodológico, com sua ênfase na especificação de objetivos isolados, 
delineando os procedimentos instrumentais concretos para o 
atendimento desses objetivos e fornecendo um feedback tangível e 
imediato, acrescentou novas dimensões à terapia cognitiva (e, na 
verdade, levou alguns autores a reintitular nossa abordagem como 
“terapia behaviorista cognitiva)”. (Beck, Rush, Shaw e Emery, 1997, p. 
9) 
J. Beck, filha de Aaron Beck, escreveu, no primeiro capítulo do livro Terapia 
cognitiva: teoria e prática, sobre a terapia cognitivo-comportamental. Nesse 
capítulo, a autora contribui com um breve resumo sobre o movimento da TC: 
Diversas formas de terapia cognitivo-comportamental foram 
desenvolvidas por outros teóricos importantes, notadamente a terapia 
racional-emotiva de Albert Ellis (Ellis, 1962), a modificação cognitivo-
comportamental de Donald Meichenbaum (Meichenbaum,1977) e a 
terapia multimodal de Arnold Lazarus (Lazarus, 1976). Contribuições 
importantes foram feitas por muitos outros, incluindo Michael 
Mahoney(1991), Vittorio Guidano e Giovanni Liotti (1963). Panoramas 
históricos da área fornecem uma rica descrição de como as diferentes 
correntes da terapia cognitiva se originaram e cresceram. (Beck, 1997, 
p. 17) 
No próximo tema, seguiremos com as descrições dos mais importantes 
trabalhos de Beck para diversos transtornos psiquiátricos. 
TEMA 3 – BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA TC 
Como pudemos perceber nos temas anteriores, o surgimento da TC 
recebeu inúmeras influências de diversos filósofos e correntes psicológicas. Beck 
é um cientista reconhecido no mundo todo e, entre as variações de terapia 
cognitivo-comportamental, a TC de Beck apresenta grande embasamento 
científico. 
Neste tema, discorreremos sobre o caminho que Beck percorreu para que 
a terapia cognitiva chegasse robusta aos dias atuais, com inúmeros estudos e 
centenas de publicações científicas. 
 
 
9 
Padesky (2010) escreve um capítulo homenageando o pai da terapia 
cognitiva. Nesse capítulo, a autora separa as contribuições cientificas de Beck de 
forma cronológica. Para fins didáticos, seguiremos de maneira semelhante. 
Em 1952, Beck publicou seu primeiro artigo, um estudo de caso sobre 
delírio esquizofrênico. O artigo serve de base para o modelo cognitivo da 
esquizofrenia na atualidade, e outros importantes artigos científicos foram 
publicados nessa mesma década. 
Padesky (2010, p. 21) comenta que “um estudo realizado no fim da década 
de 1950 prenunciou o fim de sua carreira psicanalítica e o começo da terapia 
cognitiva, muito embora ninguém, nem mesmo Beck, houvesse previsto a 
importância que a terapia adquiria no futuro”. Tal estudo foi realizado para a 
comprovação do modelo psicanalítico da depressão, porém, o autor encontrou 
resultados diferentes do esperado. O próprio autor discorre sobre esse momento 
em sua carreira: 
As origens primeiras de minhas formulações acerca da terapia cognitiva 
da depressão não me são muito claras no momento. Tanto quanto posso 
recordar, os primeiros movimentos se manifestaram em meu projeto, 
iniciado em 1956, para validar certos conceitos psicanalíticos da 
depressão. Acreditava que aquelas formulações psicanalíticas 
estivessem corretas, e que não tinham conseguido alcançar maior 
aceitação devido a certas “resistências” naturais dos psicólogos 
acadêmicos e dos psiquiatras, atribuíveis, em parte, à falta de dados de 
suporte empírico. Acreditando que seria possível desenvolver técnicas 
para levar adiante os estudos controlados necessários, empenhei-me 
numa série de investigações destinadas a fornecer dados convincentes. 
Um segundo e talvez mais forte motivo era meu desejo de apontar a 
configuração psicológica precisa característica da depressão. Com o 
objetivo de desenvolver uma forma breve de psicoterapia, dirigida 
especificamente ao alívio dessa psicopatologia focal. (Beck et al. 1997, 
p. 7) 
A psicanálise trabalhava com a teoria de que a depressão ocorria por 
sentimentos de raiva direcionadas para dentro, ou raiva retroflexa. Beck, como 
psicanalista, desejava demonstrar empiricamente essa teoria. No entanto, o autor 
relata a sequência dos eventos com base nos resultados obtidos da seguinte 
forma: 
Conquanto as descobertas iniciais de meu estudo empírico parecessem 
apoiar minha crença nos fatores psicodinâmicos específicos da 
depressão, a saber, a hostilidade retrofletida, e expressa com uma 
“necessidade de sofrer”, que pareciam contradizer essa hipótese. Tais 
anormalidades levaram-me a uma avaliação crítica da teoria 
psicanalítica da depressão e, por fim, à avaliação da estrutura completa 
da psicanálise. Os dados de pesquisa anômalos levaram finalmente à 
conclusão de que os pacientes deprimidos não têm uma necessidade de 
sofrer. Na verdade, as manipulações experimentais indicaram que o 
paciente deprimido se inclinava, mais do que o não deprimido, a evitar 
 
 
10 
comportamentos evocadores de rejeição ou desaprovação, favorecendo 
respostas eliciadoras da aceitação e aprovação de outrem. Essa 
discrepância acentuada entre as descobertas de laboratório e a teoria 
clínica levaram a uma reavaliação agonizante de meu próprio sistema 
de crenças. Ao mesmo tempo, tornei-me algo dolorosamente consciente 
de que a promessa anterior da psicanálise, dos primeiros anos de 1950, 
não se mantivera ao chegar-se à metade ou ao final daquela década, na 
medida em que meus companheiros no estudo da psicanálise e outros 
colegas chegavam a seu sexto e sétimo anos de analise, sem qualquer 
melhor marcante em seu comportamento ou em seus sentimentos! Mais 
ainda, observei que muitos de meus pacientes deprimidos reagiam 
desfavoravelmente às intervenções terapêuticas baseado na hipótese 
da “hostilidade retrofetida ou da “necessidade de sofrer”. (Beck et al., 
1997, p. 8) 
Além disso, Beck intencionava comprovar a teoria psicanalítica de que a 
depressão ocorria principalmente por sentimentos de hostilidade voltados para 
dentro, que também foi denominado de raiva retroflexa. Segundo o autor, a 
hipótese inicial não foi sustentada, “o conteúdo dos sonhos dos pacientes 
deprimidos era similar ao conteúdo dos pensamentos que tinham quando 
acordados (autocrítica, pessimismo e negatividade)” (Padesky, 2010, p. 21). 
Pereira e Rangé (2011, p. 21) detalham o experimento da seguinte forma: 
Como psicanalista e pesquisador, a intenção inicial de Beck foi estudar 
qual seria o processo psicológico central envolvido nas depressões. Sua 
hipótese inicial foi de que a “raiva internalizada” seria o processo 
psicológico central dos transtornos depressivos, e elegeu os sonhos 
como objeto de estudo para validar essa ideia. Investigou, inicialmente, 
o conteúdo dos sonhos de pacientes deprimidos e não deprimidos, não 
encontrando uma diferença significativa em conteúdos hostis ou 
agressivos entre os dois grupos (1959). Sua hipótese alternativa foi, 
então, a de uma necessidade de sofrer ou um masoquismo, e elaborou 
um segundo estudo, quantificando o conteúdo masoquista dos 20 
primeiros sonhos de pacientes deprimidos (n = 18) e não deprimidos (n 
= 12), encontrando uma diferença significativa na quantidade de temas 
masoquistas nos sonhos de pacientes deprimidos comparados com os 
de não deprimidos (1959). Ele realizou a seguir um estudo maior que 
confirmou o resultado anterior: uma maior quantidade de conteúdo 
masoquista nossonhos do grupo de pacientes deprimidos quando 
comparado ao grupo dos não deprimidos. Além disso, encontrou 
também um paralelo entre o conteúdo masoquista dos sonhos de 
pacientes deprimidos e seu comportamento em estado de alerta; isso o 
levou ao questionamento de que “a necessidade de sofrer” poderia ser 
encontrada, além de nos sonhos, em outros fenômenos cognitivos nos 
indivíduos depressivos quando acordados. A manipulação experimental 
desses pacientes levou Beck e seus colaboradores a abandonar a 
hipótese de necessidade de sofrer – o masoquismo – como o principal 
elemento psicológico na depressão. A conclusão final desses estudos foi 
de que “certos padrões cognitivos poderiam ser responsáveis pela 
tendência do paciente a fazer julgamentos com um viés negativo de si 
mesmo, de seu ambiente e do futuro que, embora menos proeminentes 
no período fora do episódio depressivo, se ativariam facilmente durante 
os períodos de depressão”. 
Com base nos achados empíricos, Beck entendeu que a depressão era um 
transtorno de pensamento, seu livro Depression: clinical, experimental, and 
 
 
11 
theoretical aspects, publicado em 1967, foi reconhecido como um marco na 
terapia cognitiva da depressão (Padesky, 2010). A autora explica que, nesse 
período, Beck definiu o termo pensamentos automáticos, além dos termos tríade 
cognitiva e teoria esquemática. O Inventário de Depressão de Beck II, que capta 
as alterações no humor, na motivação e no funcionamento físico, havia sido 
publicado em 1961. 
No final da década de 1970, Beck e colaboradores publicaram o livro 
Terapia Cognitiva para depressão. Sobre essa publicação, Padesky (2010) 
comenta que o livro trouxe ideias revolucionárias sobre o manejo clínico do 
paciente com depressão. Nesse período, Beck apresentou o termo empirismo 
colaborativo como um dos princípios da relação terapêutica. Ainda nessa década, 
os estudos de Beck foram replicados por diversos estudiosos e “Beck também 
obteve renome internacional na teoria e no prognóstico do suicídio.” ( Padesky 
2010, p. 23). Nesse contexto, em 1974, foram publicadas as escalas de 
desesperança e de intenção de suicídio. Os estudos avançaram e solidificaram-
se, e outras pesquisas com importantes inovações conceituais sobre o modelo 
cognitivo da ansiedade também foram iniciadas na mesma época. O modelo 
cognitivo da esquizofrenia foi desenvolvido por Beck em 1979 e continua até a 
atualidade. 
Já o modelo cognitivo da ansiedade foi, segundo Padesky (2010), a 
contribuição mais conhecida da década de 1980. Em 1988, Beck validou a escala 
de ansiedade, e seu modelo cognitivo foi validado empiricamente no tocante às 
intervenções e ao tratamento para os transtornos ansiosos. Beck aprofundou, 
nesse período, os modelos cognitivos para estresse e raiva e iniciou o 
desenvolvimento da terapia cognitiva no abuso de substâncias. 
Na década de 1990, a expansão da TC foi notável, e o número de 
pesquisas em diversos países para validar os modelos propostos ganhavam força. 
Padesky (2010, p. 25) explica esse processo da seguinte forma: 
A terapia cognitiva espalhava-se rapidamente pelo mundo, à medida que 
os textos de terapia cognitiva eram traduzidos para muitas línguas 
diferentes. Embora desse continuidade a suas pesquisas e 
aperfeiçoasse os tratamentos da depressão, do suicídio e dos 
transtornos da ansiedade, Beck cada vez mais voltava-se às aplicações 
da terapia cognitiva a problemas mais complexos. Para fazê-lo, ele 
articulou novos aspectos da teoria cognitiva e esclareceu como 
conceitos cognitivos tradicionais poderiam explicar experiências 
humanas tão diversas quanto o transtorno de pânico e esquizofrenia. 
 
 
12 
Ainda no início de 1990, Beck escreveu o livro sobre transtornos de 
personalidade. Seu modelo cognitivo foi empregado para o entendimento com 
base em sua teoria de esquema; “alguns anos depois, ele ampliou sua teoria de 
esquemas, incluindo os conceitos de “modos”, definidos como “redes de 
componentes cognitivos, afetivos, motivacionais e comportamentais” e “cargas” 
que “explicam as flutuações nos gradientes de intensidade das estruturas 
cognitivas” (Padesky, 2010, p. 25). No final da década de 1990, Beck aprimorou o 
modelo para todas as formas de esquizofrenia. 
Nos primeiros anos dos séculos XXI, Beck escreveu um livro sobre o 
transtorno bipolar. Trata-se do seu 15º livro. Padesky (2010) encerra a cronologia 
das obras de Beck comentando que ele continua expandindo, ampliando e 
elaborando os estudos sobre a terapia cognitiva até os dias atuais. 
TEMA 4 – OS AXIOMAS DA TERAPIA COGNITIVA 
No ano de 2000, Beck e Alford publicam o livro O poder integrador da 
terapia cognitiva. No primeiro capítulo desse livro, os autores citam o conceito de 
axioma segundo Karl Popper. O termo é derivado do grego e significa categoria, 
reputação e dignidade (Mora, 2000). O autor explica que, “por derivação, axioma 
significa ‘o que é digno de ser estimado, acreditado ou valorizado’”. Assim, em sua 
acepção mais clássica, o axioma equivale ao princípio de que, por sua própria 
dignidade, isto é, por ocupar certo lugar num sistema de proposições, deve ser 
avaliado como verdadeiro” (Mora, 2000, p. 243). Beck e Alford (2000, p. 24) citam 
Popper (1959, p. 71-72) e explicam que “os axiomas devem estar livres de 
contradição, devem ser suficientes para permitir a dedução de todas as 
afirmações pertencentes à teoria; e, finalmente, os axiomas devem ser 
necessários para a derivação das afirmações pertencentes à teoria”. Assim, 
compreende-se que, para a teoria ser científica, ela necessita de seus axiomas. 
Dessa forma, entendemos os axiomas como as raízes da TC, que são 
descritas desta forma pelos autores: no axioma 1, os autores trazem o conceito 
de esquemas, que são estruturas de cognição com significado, ou seja, o indivíduo 
interpreta suas vivências e a relação dessas vivências contextuais com seu self; 
já no axioma 2, o significado tem função adaptativa e controla vários sistemas 
psicológicos, como exemplo, o comportamental, o atencional e de memória, bem 
como o emocional. Dessa forma, as influências sobre o sistema cognitivo e outros 
sistemas são interativas (axioma 3). 
 
 
13 
No axioma 4, os autores falam sobre a especificidade do conteúdo 
cognitivo, que seria o padrão cognitivo, emocional e comportamental de cada 
categoria de interpretação da pessoa. O conceito de especificidade cognitiva é 
citado por Knapp e Col (2004, p. 21) desta forma: 
Na hipótese da especificidade de conteúdo, Beck e colaboradores 
(1987) propõem que os transtornos emocionais trem um conteúdo 
cognitivo específico, ou seja, uma temática própria de cada transtorno. 
Por exemplo, a temática em torno da desvalorização e da perda seria 
própria da depressão; perigo e ameaça seriam a temática encontrada na 
ansiedade; perigos específicos situacionais, nas fobias; intrusão de 
pensamentos involuntária e ameaçadora, na paranoia; e assim por 
diante. 
No axioma 5, Beck e Alford (2000, p. 25) falam a respeito das distorções 
cognitivas ou preconcepções. Os autores entendem que “as distorções cognitivas 
incluem erros no conteúdo cognitivo (significado), no processamento cognitivo 
(elaboração de significado), ou ambos”. 
No axioma 6, seguindo a noção de distorções cognitivas, os autores 
reforçam a ideia de que as distorções cognitivas geram as vulnerabilidades 
cognitivas, entendidas como predisposições ao adoecimento psíquico. Nesse 
contexto, podemos compreender da seguinte forma: se um paciente apresenta 
vulnerabilidade cognitiva, esta se relaciona com a especificidade de conteúdo 
para cada transtorno. Assim, por exemplo, na depressão, o indivíduo teria 
propensão para distorções sobre si, o outro e o mundo, e a especificidade seria a 
tristeza ou a desesperança (Beck; Alford, 2000). 
Já o axioma 7 explica de maneira clara um importante conceito cognitivo, 
que é a tríade cognitiva. Os autores ressaltamque: 
A psicopatologia resulta de significados maladapatativos construídos em 
relação ao self, ao contexto ambiental (experiência), e ao futuro 
(objetivos), que juntos são denominados de a tríade cognitiva. Cada 
síndrome clínica tem significados maladapatativos característicos 
associados com os componentes da tríade cognitiva. Todos os três 
componentes são interpretados negativamente na depressão. Na 
ansiedade, o self é visto como inadequado (devido a recursos 
deficientes), o contexto é considerado perigoso, e o futuro parece 
incerto. Na raiva e nos transtornos paranoides, o self é visto como sendo 
maltratado ou abusado pelos outros, e o mundo é visto como injusto e 
em oposição aos interesses da pessoa. A especificidade do conteúdo 
cognitivo está relacionada desta maneira à tríade cognitiva. (Beck; 
Alford, 2000, p. 25) 
O axioma 8 trata dos dois níveis de significado. Segundo os autores, há o 
significado público e o significado pessoal ou privado. No significado pessoal, o 
indivíduo extrai generalizações com base nas ocorrências vivenciadas e, nesse 
 
 
14 
processo, inclui-se o domínio pessoal. Acerca do axioma 9, Beck e Alford (2000, 
p. 25) falam dos níveis de cognição, que são: 
(a) pré-consciente, o não intencional, o automático (pensamentos 
automáticos); (b) o nível consciente; e (c) o nível metacognitivo, que 
inclui respostas ‘realísticas’ ou ‘racionais’ (adaptativas). Estas têm 
funções uteis, mas os níveis conscientes são de interesse primordial 
para a melhora clínica em psicoterapia. 
Por fim, o axioma 10 diz respeito aos esquemas denominados de estruturas 
teleonomicas (estruturas que se ajustam a determinado fim) com funções 
adaptativas, ou seja, “determinado estado psicológico (constituído pela ativação 
de sistemas) não é nem adaptativo nem maladapatativos em si, apenas em 
relação a, ou no contexto do ambiente social e físico mais amplo no qual a pessoa 
está” (Beck; Alford, 2000, p. 26). 
Uma vez definidos os axiomas da teoria cognitiva, os autores encerram 
esse tema afirmando que os axiomas permitem o desenvolvimento de inúmeras 
hipóteses teóricas; afirmam também que eles não são estáticos, pois podem 
evoluir tal como a TC evolui. 
TEMA 5 – OS PRINCÍPIOS DA TC 
Para encerrarmos esta aula, falaremos sobre os princípios da TC descritos 
no livro Terapia Cognitiva: teoria e prática, de Beck (1997). Contudo, é importante 
trazermos os princípios descritos por todas as variações de terapia cognitivo-
comportamental. Segundo Dobson e Dobson (2010, p. 13): 
Vislumbramos as três proposições ou princípios , seguintes, que estão 
presentes em todos os tratamentos da terapia cognitivo-
comportamental: 1. A hipótese de acesso, que afirma que, o conteúdo e 
o processo de nosso pensamento, é passível de ser conhecido. Os 
pensamentos não são “inconscientes” ou pré-conscientes. Ou de alguma 
forma indisponíveis à consciência. Ao contrário, as abordagens 
cognitivo-comportamentais sustentam a ideia de que, com treinamento 
apropriado e atenção, as pessoas podem se tornar cientes de seu 
próprio pensamento. 2. A hipótese de mediação, que afirma que nossos 
pensamentos medeiam nossas respostas emocionais às variadas 
situações nas quais nos encontramos. O modelo cognitivo-
comportamental não endossa a ideia de que as pessoas simplesmente 
tenham uma resposta emocional a um acontecimento ou situação, ou 
pensamento o acontecimento é central para a maneira como nos 
sentimos. Da mesma forma, são nossas cognições ou pensamentos que 
influencia fortemente nossos padrões comportamentais em várias 
situações de vida. [...] 3. A hipótese de mudança, que é um corolário das 
duas ideias anteriores, estabelece que pelo fato de as cognições serem 
passiveis de conhecimento e mediarem as respostas a situações 
diferentes, podemos intencionalmente modificar o modo pelo qual 
respondemos aos acontecimentos a nosso redor. Podemos nos tornar 
mais funcionais e mais adaptados por meio da compreensão de nossas 
 
 
15 
reações emocionais e comportamentais, assim como usar as estratégias 
cognitivas sistematicamente. 
Diante do exposto, partiremos agora para a breve descrição dos princípios 
da TC de Aaron Beck descrita por Judith Beck. A autora explica que o primeiro 
princípio da TC aborda a contínua formulação cognitiva dos problemas que o 
paciente traz para a sessão. Assim, o terapeuta avalia os relatos dentro do 
enquadramento tríplice, ou seja, busca compreender os pensamentos que 
mantêm os sentimentos e os comportamentos problemáticos. Nessa formulação, 
o terapeuta identifica quais os fatores precipitantes que influenciaram nas 
percepções do paciente e, a partir desse ponto, o terapeuta levanta hipótese sobre 
os eventos desenvolvimentais e os padrões interpretativos que o paciente fizer. 
O segundo princípio ressalta a necessidade de uma aliança terapêutica 
segura. Por meio dela, o paciente se sente confortável para contar seus 
problemas. Para a autora, “os ingredientes básicos necessários em uma situação 
de aconselhamento: cordialidade, empatia, atenção, respeito genuíno e 
competência” (Beck, 1997, p. 21) são primordiais para a aliança terapêutica 
adequada. Além disso, a autora comenta que o respeito, a escuta atenciosa, as 
declarações empáticas e o resumo acurado dos pensamentos e sentimentos, 
além do otimismo realista expressos pelo terapeuta, são estratégias importantes 
para a aliança terapêutica adequada. 
Na terapia cognitiva, a dupla terapêutica trabalha de maneira colaborativa, 
e o paciente é estimulado a ter uma participação ativa no processo. Esse é o 
terceiro princípio; para a autora, o terapeuta encoraja o paciente a trabalhar em 
equipe e decidir sobre os tópicos de cada sessão, a frequência das sessões e as 
atividades combinadas para serem realizadas nos intervalos entre as sessões. 
Assim, segundo Beck (1997, p. 21), “a princípio, o terapeuta é mais ativo em 
sugerir uma direção para as sessões de terapia e em resumir o que eles discutiram 
durante uma sessão”. 
Já o quarto princípio enfatiza que a terapia cognitiva é orientada em meta 
e focalizada em problemas. Na sessão inicial, o terapeuta solicita ao paciente que 
enumere seus problemas e pense em metas específicas. Nesse contexto, o 
terapeuta auxilia na avaliação de pensamentos e armadilhas que possam impedir 
que as metas sejam alcançadas. A autora comenta que o terapeuta avalia quais 
intervenções são necessárias de acordo com os relatos do paciente. 
 
 
 
16 
No quinto princípio, a autora afirma que a terapia cognitiva inicialmente 
enfatiza o presente, porém: 
A atenção volta-se para o passado em três circunstâncias: quando o 
paciente expressa uma forte predileção a fazer isso; quando o trabalho 
voltado em direção a problemas atuais produz pouca ou nenhuma 
mudança cognitiva, comportamental e emocional ou quando o terapeuta 
julga que é importante entender como e quando ideias disfuncionais 
importantes se originaram e como essas ideias afetam o paciente hoje. 
(Beck, 1997, p. 22) 
No sexto princípio, é comentado que a terapia cognitiva é educativa, visa 
ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída. 
Algumas tarefas do terapeuta seguindo as orientações desse princípio são: 
psicoeducação sobre a natureza e trajetória do transtorno, psicoeducação sobre 
a o modelo cognitivo e enquadramento tríplice, definido anteriormente como 
pensamento, sentimento e comportamento. 
A autora ressalta que o sétimo princípio fala que a terapia cognitiva visa 
estipular um tempo limitado. Contudo, observa que “nem todos os pacientes 
fazem progresso suficiente em apenas alguns meses. Alguns pacientes requerem 
um ou dois anos de terapia (ou possivelmente mais) para modificar as crenças 
disfuncionais muito rígidas e os padrões de comportamento que contribuem para 
sua angústia crônica” (Beck, 1997, p. 23). Já no oitavo princípio fala-se da 
estrutura da sessão dentro do modelo cognitivo.Veremos posteriormente o passo 
a passo da estrutura da sessão; por hora, ressaltamos que, embora a TC siga a 
estrutura da sessão, ela visa, principalmente, maximizar o tempo de sessão e 
oferecer organização para o processo. 
De acordo com nono princípio, a terapia cognitiva objetiva ensinar os 
pacientes a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças 
disfuncionais. Para isso, é utilizada uma variedade de técnicas para alcançar os 
objetivos de mudança de pensamento, humor e comportamento (décimo 
princípio). Integrando todos os princípios citados, Beck (1997, p. 25) ressalta que: 
O modelo cognitivo, de que os nossos pensamentos influenciam as 
nossas emoções e comportamento. É bastante direto. Os terapeutas 
cognitivos experientes, no entanto, realizam muitas tarefas ao mesmo 
tempo: conceituar o caso, estabelecer rapport, socializar e educar o 
paciente, identificar problemas, colher dados, testar hipótese e resumi-
las. O terapeuta cognitivo novato, em contraste, usualmente precisa ser 
mais ponderado estruturado, concentrando-se em um elemento de cada 
vez. Embora a meta final seja entretecer os elementos e conduzir a 
terapia o mais efetiva e eficientemente possível, os iniciantes devem 
primeiro dominar a tecnologia da terapia cognitiva, o que é mais bem 
realizado de uma forma direta. 
 
 
17 
O conhecimento dos princípios da terapia cognitiva, portanto, é essencial 
para que o terapeuta aprimore o método e a sua forma de atendimento sem se 
afastar da base axiomática que fundamenta o modelo descrito por Beck. Os 
princípios, nesse sentido, são condutores essenciais para que o terapeuta possa 
ser considerado cognitivista. 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
BECK, A., T.; ALFORD, B. A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto 
Alegre: Artmed, 2000. 
BECK, A. T. et al. Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artmed. 1997. 
BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed. 1997. 
DOBSON, D.; DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada 
em evidências. Porto alegre: Artmed. 2010. 
EPSTEIN, M. Pensamentos sem pensador: psicoterapia pela perspectiva 
budista. Rio de Janeiro: Gryphus. 2018. 
GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica: mente, cérebro 
e comportamento. Porto Alegre: Artmed. 2005. 
HEGENBERG, L. Filosofia moral: ética. Rio de Janeiro: E-papers, 2010. 
MORA, J. F. Dicionário de filosofia: Tomo I (a-d). São Paulo: Edições Loyola. 
2000. 
NEISSER, U. Cognitive psychology. New York: Appleton-Century-Crofts, 1967. 
PADESKY, C. A. Aaron T. Beck: a mente, o homem e o mentor. in: LEAHY, R. 
Terapia cognitiva contemporânea: teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: 
Artmed. 2010. P. 19-38. 
PEREIRA, M.; RANGÉ, B. P. Terapia Cognitiva. In: RANGÉ, B. P. et al. 
Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2. ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 20-33. 
SCHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: 
Cultrix, 2004. 
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2010. 
VASCONCELLOS, S. J. L.; VASCONCELLOS, C. T. de D. V. Uma análise das 
duas revoluções cognitivas. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 12, n. 2, p. 385-
391, 2007 . 
WRIGHT, J. H.; BASCO, M. R.; THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo-
comportamental: guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Outros materiais