Buscar

BASES EPISTEMOLÓGICAS 2pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 2
BASES EPISTEMOLÓGICAS, 
TEÓRICAS E EMPÍRICAS DA 
PSICOTERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL 
Profª Andréia Cristina dos Santos Kleinhans 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Representação, manipulação e organização do conhecimento 
Um dos assuntos de difícil resolução nas ciências cognitivas é saber como 
o cérebro representa a informação. A compreensão sobre o tema representação 
do conhecimento é essencial para os estudos da terapia cognitiva, uma vez que 
Beck utilizou a base desse conhecimento para a explicação dos principais 
conceitos: pensamentos automáticos, crenças nucleares, crenças intermediárias 
e esquemas. 
Nesta aula, abordaremos como o cérebro representa a informação e 
organiza o conhecimento. Aprenderemos também sobre os conceitos elaborados 
por Beck com base na representação do conhecimento na memória. 
TEMA 1 – COMO O CÉREBRO REPRESENTA A INFORMAÇÃO 
A representação do conhecimento é a forma como a mente organiza as 
informações percebidas e as armazena na memória para que a pessoa 
compreenda seu mundo interno e, ao mesmo tempo, tenha consciência do mundo 
ao seu redor. Caminha e Vasconcelos (2003, p. 23) ressaltam que o conhecimento 
sobre o processo representacional permitirá ao terapeuta maior amplitude no uso 
das intervenções no contexto clínico. Sobre o assunto, os autores apontam que: 
Os princípios básicos da Psicologia Cognitiva apontam para o sistema 
representacional humano como o principal fator de gerenciamento dos 
processos psíquicos tanto básicos quanto superiores, num processo que 
engloba desde a atenção e a percepção até a capacidade metacognitiva 
humana. O conhecimento da dinâmica das representações mentais, 
bem como dos processos delas derivados, tem importante implicação 
para o clínico cognitivo-comportamental. Nos últimos tempos, muitas 
publicações nessa área têm se preocupado apenas com a questão da 
técnica aplicada diretamente com o paciente, deixando de lado muitos 
fundamentos que, se conhecidos pelos clínicos, possuem muitas vezes 
maior aplicabilidade e maiores índices de eficácia. Precisamos conhecer 
o conteúdo das representações mentais de nossos pacientes, pois são 
elas as responsáveis pela formação das crenças centrais, que, 
posteriormente, se organizam em esquemas programáticos 
operacionais. 
Você deve estar se perguntando: o que é representação do conhecimento? 
Para respondermos a essa pergunta, vamos buscar a resposta no livro Psicologia 
Cognitiva. Segundo Sternberg (2010, p. 221), “infelizmente, não há métodos 
empíricos diretos disponíveis para observar a representação do conhecimento. 
Por outro lado, é improvável que estejam em um futuro imediato. Quando não há 
 
 
3 
métodos empíricos diretos disponíveis, restam vários métodos alternativos”. O 
autor cita a possibilidade da avaliação por meio da análise racionalista, que usa a 
base do conhecimento declarativo e procedimental por um lado, mas também 
explica que há outra forma muito utilizada pela ciência cognitiva para a 
compreensão de como a mente representa a informação. Nas palavras do autor, 
“há duas fontes principais de dados empíricos sobre a representação do 
conhecimento, que são os experimentos padronizados de laboratório e os estudos 
neuropsicológicos” (Sternberg, 2010, p. 223). 
O conhecimento declarativo, como o próprio nome indica, é o conhecimento 
que podemos declarar, isto é, o indivíduo expressa em palavras o que sabe; já o 
conhecimento procedimental é aquele que envolve os passos ou procedimentos 
necessários para realizar alguma tarefa, seja ela simples ou complexa. Os 
estudiosos utilizam esses meios para compreender como, de fato, ocorre a 
representação do conhecimento na mente humana. 
Vários autores, como Gazzaniga e Heatherton (2005) e Sternberg (2010), 
explicam que a psicologia cognitiva busca entender as representações por meio 
das imagens mentais e do conhecimento, mas também aquelas representações 
em formas simbólicas por palavras ou proposições abstratas. Os autores 
comentam que a ciência não conseguiu definir ainda nos dias de hoje como o 
cérebro representa a informação; e ressaltam que há muito para ser descoberto 
nesse campo. Sternberg (2008, p. 223), por exemplo, explica que: 
Algumas ideias são melhores e mais facilmente representadas em 
imagens, e outras, em palavras. Por exemplo, suponha que alguém lhe 
pergunte: “Qual é o formato de um ovo de galinha?” Talvez você 
considere mais fácil desenhá-lo do que descrevê-lo. Para muitas formas 
geométricas e para muitos objetos concretos, as imagens parecem de 
fato expressar muitas palavras sobre o objeto de uma forma econômica. 
Entretanto, se alguém lhe perguntar: “o que é a justiça?”, pode ser muito 
difícil descrever um conceito tão abstrato em palavras. Fazê-lo na forma 
de imagens seria ainda mais difícil. 
Nesse sentido, Gazzaniga e Heatherton (2005) descrevem dois dos 
principais estudos que afirmam que a representação é realizada por imagens. O 
primeiro estudo, realizado na década de 1970 por Shepard e colaboradores, relata 
um experimento em que os participantes olhavam letras e números e, em seguida, 
eram convidados a dizer se o objeto estava em sua orientação normal ou em uma 
imagem espelhada. Os objetos eram apresentados em inúmeras posições 
(cabeça para baixo, invertidos ou em rotações intermediárias). Nesse estudo, os 
estudiosos descobriram que: 
 
 
4 
O tempo que os participantes levavam para determinar se um objeto era 
uma imagem normal ou espelhada dependia do seu grau de rotação – 
quanto mais o objeto estava rotado em relação à posição em pé, mais 
tempo levava a discriminação, com o tempo de ração mais longo 
ocorrendo quando o objeto estava inteiramente de cabeça para abaixo. 
A partir dessas evidências, os pesquisadores concluíram que, a fim de 
realizar a tarefa, os participantes rotavam mentalmente representações 
ou imagens dos objetos, para “enxergá-los” na posição em pé. 
Presumivelmente, quanto mais distante da posição normal estava o 
objeto, mais tempo levava a tarefa, por ser necessária uma maior 
“rotação” da representação. (Cooper; Shepard, 1973, citados por 
Gazzaniga; Heatherton, 2005, p. 251) 
Stephen Kosslyn e colaboradores, na década de 1970, realizaram um 
estudo para verificar se a representação mental ocorria em forma de imagem 
cerebral. Os autores explicam que: 
Os participantes eram solicitados a esquadrinhar imagens mentais de 
mapas que tinham memorizado. Os mapas (de ilhas fictícias) incluíam 
alguns marcos diferentes, como cidades, lagos e montanhas. Os 
participantes tinham de visualizar um marco na ilha e, depois de um 
breve intervalo, imaginar um ponto movendo-se desse marco até um 
segundo marco localizado em outro local do mapa. Os resultados 
indicaram que o tempo necessário para imaginar o ponto se movendo 
entre os marcos aumentava proporcionalmente à distância real entre os 
marcos, conforme indicada no próprio mapa. Consistentemente com os 
achados anteriores relatados pelo grupo de Shepard, esses dados 
sugeriam que as pessoas representam informações num formato de 
imagem ou fotografia. (Kosslyn; Ball; Reiser, 1978, citados por 
Gazzaniga; Heatherton, 2005, p. 251) 
Embora vários estudos tenham sido descritos afirmando que a 
representação ocorre por imagens mentais, outros estudos levantaram a 
possibilidade de as representações serem proposicionais, ou seja, baseiam-se em 
fatos sobre o mundo e relacionam-se à memória semântica, que é a memória do 
conhecimento factual (Gazzaniga; Heatherton, 2005). 
Para resolver essa questão, o entendimento do processo dialético do 
conhecimento pode auxiliar. Sendo assim, outros pesquisadores sintetizaram o 
conhecimento sobre representação por imagem ou por fatos, afirmando que o 
conhecimento é representado das duas formas. É o que relata Sternberg (2008), 
quando cita a teoria do código duplo: 
Segundo a teoria do código duplo, usamos códigos de imagens e verbais 
para representar a informação (Paivio,1969, 1971). Esses dois códigos 
organizam as informações em conhecimento sobre o qual se pode agir, 
que se pode armazenar de alguma forma e mesmo recuperar para uso 
posterior. De acordo com Paivio, as imagens mentais são códigos 
analógicos. Os códigos analógicos são uma forma de representação de 
conhecimento que preserva as principais características perceptuais do 
que quer que esteja sendo representado para os estímulos físicos que 
estamos observando em nosso ambiente. Por exemplo, árvore e rios 
podem ser representados por códigos analógicos. Assim como os 
movimentos dos ponteiros em um relógio analógico são análogos a 
 
 
5 
passagem do tempo, as imagens mentais que formamos em nossas 
mentes são análogas aos estímulos que observamos. Por outro lado, 
segundo Paivio, nossas representações mentais das palavras são 
sobretudo um código mental. Um código simbólico é uma forma de 
representação de conhecimento que for escolhida arbitrariamente para 
representar algo e que não se parece com esse algo em termos 
perceptuais. Assim um relógio digital usa símbolos arbitrários (em geral, 
numerais) para representar a passagem do tempo, nossas mentes usam 
símbolos arbitrários (palavras e suas combinações) para representar 
muitas ideias. (Paivio, 1969, 1971, citado por Sternberg, 2008, p. 226) 
Até o momento, podemos entender que o conhecimento pode ser 
representado tanto por imagem (e inúmeras pesquisas trabalham com essa ideia) 
quanto de forma proposicional ou factual. 
Nesse sentido, Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 253) lançam uma outra 
pergunta: como o cérebro codifica uma representação ou, ainda, como as 
representações são implementadas? Segundo os autores: 
A ideia básica é que a representação se manifestara na atividade de uma 
rede distribuída de neurônios. Embora o número real de neurônios 
abrigando uma representação no cérebro provavelmente fique na ordem 
dos milhares de milhões, podemos compreender uma representação 
distribuída considerando o comportamento de apenas alguns. Por 
exemplo, suponha que as nossas representações mentais de diferentes 
frutas dependem da atividade de três neurônios, além disso, que cada 
um desses três neurônios tem três diferentes níveis possíveis de 
atividade (ou índices de descarga): lento, médio e rápido. Dado esse 
contexto diferentes padrões de atividade entre esses três neurônios 
podem ser usados para representar diferentes frutas – um limão pode 
ser presentado quando todos os três neurônios estão descarregando 
rapidamente; um pêssego, quando todos os três neurônios estão 
descarregando lentamente; uma pera, quando o primeiro neurônio está 
descarregando lentamente e o segundo e o terceiro estão 
descarregando rapidamente. Nesse sentido, a representação mental é o 
padrão relativo de ativação através de uma rede de neurônios; padrões 
diferentes de ativação sinalizam representações diferentes. 
Com base nesses relatos, já podemos concluir que a representação do 
conhecimento se dá tanto de forma imagética quanto por símbolos/proposições, 
e cada conhecimento é codificado por uma rede distribuída de neurônios. 
Diante da importância da compreensão de como o cérebro representa a 
informação, Caminha e Vasconcelos (2003) abordam a distorção que ocorre por 
meio da representação. É nesse ponto que o tema tem relevância para o contexto 
da terapia cognitiva, uma vez que o terapeuta trabalhará com o conteúdo 
informado pelo paciente; em muitas situações (para todo ser humano), o 
pensamento estará distorcido. Os autores abordam esse aspecto da seguinte 
forma: 
Precisamos compreender, ainda, que as representações mentais 
operam por dois princípios básicos – redução e distorção. A redução se 
 
 
6 
refere ao armazenamento de pontos dos objetos representados e não 
dos objetos em sua integra constitucional. Essa característica é uma 
estratégia darwiniana da mente humana que produz a economia 
psíquica e evita o esgotamento da memória e da capacidade do 
processamento de informação. A distorção, por sua vez, se refere ao fato 
de o ato de representar em humanos ser indissociável das impressões e 
variações das emoções, dos afetos. É justamente pelo componente 
afetivo que acabamos por distorcer a realidade. (Caminha; Vasconcelos, 
2003, p. 25) 
Os autores comentam ainda que, no contexto terapêutico, a construção 
representacional ocorre por meio de esquemas, protótipos, conceitos, 
estereótipos, roteiros ou pela elaboração de relações que podem se 
retroalimentar. Segundo os autores, “se as representações mentais proporcionam 
um sistema mental econômico, há, ainda, outra capacidade que as 
representações possuem, que é a da formação de esquemas mentais” (Caminha; 
Vasconcelos, 2003, p. 25). 
Mais adiante, falaremos sobre os esquemas na definição inicial dada por 
Aaron Beck. Por ora, vamos entender os principais pontos aprendizagem 
importantes para este tema: 
• as representações mentais são a forma como o conhecimento é 
organizado; 
• as representações mentais podem ocorrer de maneira dupla, tanto por 
imagem como por conceitos e proposições; 
• as representações são implementadas pelo disparo distribuído em redes 
de neurônios, e isso explica o porquê de o cérebro conseguir codificar 
milhares de informações; 
• o ato de representar ocorre por redução de informações e distorção; 
• a distorção ocorre porque o processo representacional é indissociável das 
impressões e das variações emocionais do indivíduo; 
• as representações são organizadas em esquemas mentais. 
TEMA 2 – ESQUEMAS MENTAIS 
Aaron Beck baseou sua teoria cognitiva em diversos autores. Um deles foi 
Jean Piaget, psicólogo suíço que propôs uma teoria do desenvolvimento infantil 
cujo foco eram os processos cognitivos para a aprendizagem. Nas palavras de 
Beck, “ao formular minha primeira teoria da depressão, fiz uso dos primeiros 
psicólogos cognitivos, como Allport, Piaget, especialmente, George Kelly” (Beck, 
2002, citado por Padesky, 2010, p. 32). Dessa forma, podemos compreender que 
 
 
7 
a psicologia cognitiva e os diversos autores espalhados pelo mundo vinham 
trabalhando em seus estudos com o conceito de esquema. Desse modo, Beck 
utiliza esse conhecimento descrevendo o esquema em sua teoria. 
Os autores Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018, p. 374) trazem uma 
explicação sobre os esquemas segundo Piaget: 
Piaget propôs que novos esquemas são formados durante cada fase de 
desenvolvimento. Os esquemas são maneiras de pensar com base na 
experiência pessoal. [...] para o autor, os esquemas são formas 
organizadas de dar sentido a experiência, e eles mudam conforme a 
criança aprende novas informações sobre objetos e eventos no mundo. 
Piaget acreditava que cada fase tinha como base a anterior por meio de 
dois processos da aprendizagem: a assimilação, em que uma nova 
experiencia é colocada em um esquema existente, e a acomodação, em 
que um novo esquema é criado ou um já existente drasticamente 
alterado de modo a incluir novas informações que, de outra maneira, não 
se encaixariam no esquema. Por exemplo: uma criança de 2 anos vê um 
dogue alemão e pergunta:” O que é isso?”. O pai responde que é um 
cachorro. Mas ele não se parece em nada como o chihuahua da família. 
A criança precisa assimilar o dogue alemão ao esquema de cachorro 
existente. A mesma criança de 2 anos pode ver uma vaca pela primeira 
vez e gritar: “cachorrinho!”, afinal de contas, a vaca tem quatro patas e 
pelos e é aproximadamente do mesmo tamanho de um dogue alemão. 
Assim, coma base no esquema de cachorro que a criança desenvolveu, 
o rotulo “cachorrinho” pode ser considerado lógico. Mas seu pai lhe diz: 
“Não, querida, isso é uma vaca!”, veja, ela não diz “au-au”, diz “muu!”, e 
é muito maior do que um cachorro”. Como a criança não consegue 
ajustar facilmente essa nova informação ao esquema de cachorro 
existente usando o processo de assimilação, ela deve agora criar um 
novo esquema, vaca, por meio do processode acomodação. 
Para Piaget, portanto, os esquemas de aprendizagem envolvem a 
assimilação do conteúdo e a acomodação das informações no sistema. Em 
seguida, ocorre o equilíbrio, que será desorganizado a cada nova informação 
percebida. Esse processo de aprendizagem Piaget denominou de esquema. 
É possível encontrar a definição de esquema na terapia cognitiva em 
diversas obras de Beck. Por exemplo, Beck, Freeman e Davis (2005, p. 38) 
realizam um resumo sobre o uso e conceito do termo: 
O conceito de “esquema” tem uma história relativamente longa na 
psicologia do século XX. O termo, que pode ser traçado até Bartlett 
(1932, 1958) e Piaget (1926, 1936/1952), tem sido utilizado para 
descrever aquelas estruturas que integram eventos e atribuem 
significado a eles. O conteúdo dos esquemas pode ter a ver com 
relacionamentos pessoais, como atitudes em relação a si mesmo e aos 
outros, ou com categorias impessoais (por exemplo, objetos 
inanimados). Esses objetos podem ser concretos (uma cadeira) ou 
abstratos (o meu país). Os esquemas possuem qualidades estruturais 
adicionais, como a amplitude (seja ela estreita, moderada ou ampla), 
flexibilidade ou rigidez (sua capacidade de modificação) e densidade 
(sua relativa proeminência na organização cognitiva).Eles também 
podem ser descritos em termos de sua valência- o grau em que são 
energizados em um determinado momento do tempo. O nível de 
 
 
8 
ativação (ou valência) pode variar de latente a hipervalentes. Quando os 
esquemas estão latentes, eles não estão participando do processamento 
da informação; quando ativados, eles canalizam o processamento 
cognitivo do estágio mais inicial até o final 
Em uma recente publicação, os autores Wenzel, Brown e Beck (2010, p. 
53) ressaltam que os esquemas são “estruturas cognitivas hipotéticas que 
influenciam o processamento da informação ou que guiam a direção na qual as 
pessoas canalizam sua atenção e codificam, organizam, armazenam e recuperam 
informações”. Os autores comentam, ainda, que os esquemas são como lentes 
através das quais as informações são filtradas e organizadas, mas nem sempre 
são distorcidas. Na maioria dos casos, a rede de informações denominadas de 
esquemas é adaptativa porque permite que um grande número de informações, 
tanto objetivas quanto abstratas, seja processado pelo sistema cognitivo do 
indivíduo. 
No livro Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade, Clark e Beck 
(2012) falam a respeito dos diversos tipos de esquemas no quadro ansioso. De 
forma semelhante, a mesma classificação pode ser utilizada para inúmeros 
transtornos, de acordo com a teoria da especificidade cognitiva. Os autores 
explicam os esquemas cognitivos conceituais, comportamentais, fisiológicos, 
motivacionais e, por fim, afetivos. 
Ainda sobre o conceito de esquema, é importante ressaltar que alguns 
autores utilizam o termo como sinônimo de crença nuclear. Wright, Basco e Thase 
(2008) comentam que os esquemas podem ser divididos em três grupos. O 
primeiro grupo são os esquemas simples, definidos como regras sobre ambiente, 
atividades cotidianas e que exercem pouco efeito sobre quadros de 
psicopatologia. Os autores exemplificam esses esquemas simples da seguinte 
forma: “‘Seja um motorista defensivo’; ‘uma boa educação é o que vale’; ‘abrigue-
se durante uma tempestade’” (Wright, Basco; Thase, 2008, p. 23). A segunda 
classificação de esquemas são as crenças e os pressupostos intermediários. Já 
a terceira classificação fala das crenças nucleares sobre si mesmo. Veremos cada 
um desses conceitos mais adiante. Por ora, estamos abordando tais exemplos 
para lembrarmos que esquemas e crenças são utilizados por muitos autores de 
maneira sinônima. 
 
 
 
 
9 
Sobre a utilização intercambiável do termo esquema, Wenzel (2018, p. 81) 
explica que: 
Muitos profissionais de saúde mental usam os termos esquema e 
crenças nuclear de forma intercambiável. Embora crenças nucleares e 
esquemas sejam construtos sobrepostos, os esquemas são mais 
amplos do que as crenças nucleares porque fornecem um modelo para 
o processamento e a assimilação de informações encontradas na vida 
cotidiana, consistindo não só de cognições, mas também de memórias, 
emoções e sensações fisiológicas. As respostas comportamentais 
resultantes são a maneira pela qual uma pessoa lida com a ativação de 
um esquema doloroso. 
Em terapia cognitiva, o termo esquema pode ser utilizado para a descrição 
de padrões disfuncionais geradores de psicopatologia. Beck, Freeman e Davis 
(2005, p. 39) abordam esse tema da seguinte maneira: 
No campo da psicopatologia, o termo “esquema” tem sido aplicado a 
estruturas com conteúdos idiossincráticos altamente personalizados, 
que são ativados durante transtornos como depressão, ansiedade, 
ataques de pânico e obsessões e se tornam preponderantes. Quando 
hipervalentes, esses esquemas idiossincráticos deslocam e, 
provavelmente, inibem outros esquemas mais adaptativos ou mais 
apropriados a uma dada situação. Consequentemente, eles introduzem 
um viés sistemático no processamento da informação. 
Com base nessa definição, podemos entender que os esquemas são redes 
de informações adquiridas pelos indivíduos por meio de suas experiências de 
vida. Há um número infinito de possibilidades e construções de esquemas no 
processo de aprendizagem. Como vimos, os esquemas filtram e organizam as 
informações e são necessários para a capacidade de redução. Entretanto, em 
alguns casos, eles se tornarão desadaptativos e disfuncionais, e sua ativação 
poderá levar o indivíduo a desenvolver transtornos conforme for o processamento 
da informação com base nessa matriz de esquema. 
Beck, Freeman e Davis (2005, p. 39) explicam que: 
As unidades básicas de processamento, os esquemas, são organizados 
de acordo com suas funções (e também de acordo com o conteúdo). 
Diferentes tipos de esquema têm funções diferentes. Por exemplo: os 
esquemas cognitivos têm a ver com abstração, interpretação e 
recordação; os esquemas afetivos são responsáveis pela geração de 
sentimentos; os esquemas motivacionais lidam com desejos e anseios; 
os esquemas de controle estão envolvidos no automonitoramento, na 
inibição e na direção das ações. [...] na depressão clínica por exemplo, 
os esquemas negativos estão em ascendência, resultando em um viés 
negativo sistemático na interpretação e na recordação de experiências, 
assim como nas predições de curto e longo prazo, ao passo que os 
esquemas positivos se tornam menos acessíveis. É fácil para o paciente 
deprimido ver os aspectos negativos de um evento, mas difícil ver os 
positivos. Ele consegue lembrar muito mais facilmente os eventos 
negativos do que os positivos. Ela avalia a probabilidade de resultados 
indesejáveis como muito maior do que a de resultados positivos. 
 
 
10 
Sobre esquemas desadaptativos, Jeffrey Young e colaboradores 
desenvolveram a terapia de esquema e descreveram 18 domínios de esquemas 
desadaptativos que surgem com as experiências ocorridas desde a infância. Além 
disso, os autores comentam que: 
Um dos desafios com que nos deparamos hoje é o desenvolvimento de 
tratamento eficaz para os pacientes com esses transtornos crônicos e 
de difícil tratamento. Jeffrey Young, um protégé de Beck, aplicou o 
modelo de Beck aos transtornos da personalidade. [...] Conceitualmente, 
ele incorporou o conceito de necessidades nucleares, expandiu a ênfase 
dos esquemas anteriores e apresentou a ideia de estilos de 
enfrentamento para a terapia cognitiva. Em termos de tratamento, Young 
deu maior ênfase à compreensão da história anterior do paciente e a 
seus padrões de vida, desenvolveu várias escalas, apresentou as 
técnicas do tipo Gestalt e deu uma maior importância à relação 
terapêutica. Finalmente Young nomeou as expansões da terapia 
cognitiva para problemas caracterológicos como “terapia de esquemas”, 
para acentuar a importância dos temas e dos padrões da vida anterior 
do paciente.(Klosko; Young, 2010, p. 243). 
Nesse contexto, observamos o que Beck descreveu em seu capítulo. 
Ainda, Padesky (2010) chama atenção do leitor para a personalidade colaborativa 
do cientista, a qual, como vimos, auxiliou no desenvolvimento de outras teorias, 
como a citada terapia de esquemas de Young e colaboradores. 
TEMA 3 – CRENÇAS NUCLEARES 
Existem três níveis de cognição descritos na terapia cognitiva: os 
pensamentos automáticos; as crenças intermediárias ou pressupostos 
subjacentes; e as crenças nucleares ou centrais. As crenças nucleares ou centrais 
correspondem a um nível profundo de pensamento. Segundo Beck (1997, p. 30): 
Começando na infância, as pessoas desenvolvem determinadas 
crenças sobre si mesmas, outras pessoas e seus mundos. Suas crenças 
mais centrais ou crenças centrais são entendimentos que são tão 
fundamentais e profundos que as pessoas frequentemente não os 
articulam, sequer para si mesmas. Essas ideias são consideradas pelas 
pessoas como verdades absolutas, exatamente o modo como as coisas 
“são”. [...] As crenças centrais são o nível mais fundamental de crença; 
elas são globais, rígidas e supergeneralizadas. Os pensamentos 
automáticos, as palavras ou imagens reais que passam pela cabeça da 
pessoa, são específicos à situação e podem ser considerados o nível 
mais superficial de cognição. 
As crenças centrais, portanto, são lentes pelas quais o indivíduo interpreta 
sua realidade; elas surgem pelas experiências diárias, porque a aprendizagem 
apresenta sentido evolutivo e adaptativo. Knapp (2004, p.23) cita os principais 
grupos de crenças centrais: 
 
 
11 
1. Crenças nucleares de desamparo (Helplessness): Crenças sobre ser 
impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado, necessitado. 2. 
Crenças nucleares de desamor (Unlovability): Crenças sobre ser 
indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser amado, sem 
atrativos, imperfeito, rejeitado, abandonado, sozinho. 3. Crenças 
nucleares de desvalor (Unworthiness) Crenças sobre ser incapaz, 
incompetente, inadequado, ineficiente, falho, defeituoso, enganador, 
fracassado, sem valor. (Beck, 1995, citado por Knapp, 2004, p. 23). 
Beck (1997) comenta que, para o terapeuta cognitivo, é importante 
trabalhar com as crenças disfuncionais, e esse trabalho será basicamente o de 
auxiliar o paciente a aprender novas crenças mais funcionais embasadas na 
realidade. Dentro dessa explicação, recorremos a importantes dados fornecidos 
por Beck, Freeman e Davis (2005, p. 36): 
A maneira pela qual as pessoas processam os dados sobre si mesmas 
e os outros é influenciada por suas crenças e pelos outros componentes 
de sua organização cognitiva. Quando existe algum tipo de transtorno- 
uma síndrome sintomática (Eixo I) ou um transtorno da personalidade 
(Eixo II)- a utilização ordenada desses dados assume sistematicamente 
um viés disfuncional. Esse viés na interpretação e o consequente 
comportamento são criadas por crenças disfuncionais. 
Na figura a seguir, é possível visualizar os três níveis de cognição. 
Figura 1 – Os três níveis de cognição 
 
Fonte: Elaborado com base em Beck, 1997, p. 31, e Knapp, 2004, p. 22. 
O terapeuta cognitivo poderá utilizar o desenho dessa figura como parte do 
processo de psicoeducação do paciente. O terapeuta explica para o paciente as 
características das crenças centrais e utiliza o questionamento socrático (técnica 
da terapia cognitiva) para auxiliar a mudança estrutural da crença nuclear, além 
Pensamentos 
automáticos
Crenças intermediárias, 
pressupostos 
subjacentes (regras, 
atitudes, suposições)
Crenças 
nucleares ou 
centrais 
(esquemas)
 
 
12 
de inúmeras outras intervenções que serão aplicadas de acordo com a adequada 
formulação do caso clínico. Sobre a diversidade de técnicas, Sudak (2008, p. 66) 
orienta que: 
Existem várias técnicas para modificar as crenças centrais, e os 
terapeutas selecionam o que acreditam ser adequado para um 
determinado paciente. [...] O trabalho com as crenças centrais é mais 
demorado do que ensinar os pacientes a mudar os seus pensamentos 
automáticos. Deve-se assegurar aos pacientes que é normal levar tempo 
para modificar ideias arraigadas. É importante que o terapeuta explique 
que certas situações podem ser mais propensas a ativar o que resta de 
uma crença central e que o paciente pode ter a oportunidade de trabalhar 
novamente para modificar o que restar da crença no futuro. 
Wenzel, Brown e Beck (2010, p. 105) comentam que “ainda que as 
habilidades para identificar e avaliar os pensamentos automáticos formem os 
fundamentos da terapia cognitiva, a mudança cognitiva mais duradoura ocorre 
quando crenças centrais disfuncionais são identificadas e modificadas”. 
O trabalho com as crenças centrais é o cerne da terapia cognitiva. Para os 
autores Caminha e Vasconcelos (2003, p. 27), 
a crença central é a instância em torno da qual o esquema gravita, se 
organiza. Ela é intraduzível, ou seja, não há traduções verbais, 
proposicionais ou imagísticas capazes de dar conta de seu sentido. É 
uma sensação “visceral”, sentida de modo intenso, e qualquer tentativa 
de tradução sempre fica aquém do seu verdadeiro significado. 
Assim, o terapeuta cognitivo vai escolhendo as melhores intervenções ao longo 
do processo terapêutico para auxiliar na reestruturação das crenças centrais 
disfuncionais comuns a todo indivíduo. 
Podemos perceber que os níveis cognitivos estão interligados e são 
interdependentes. Dessa forma, quando o núcleo de crença (desamor, desamparo 
ou desvalor) está ativado, ele influenciará a maneira como a pessoa interpreta as 
situações e fica sujeita a condições proposicionais do tipo “se/então”, 
denominadas crenças intermediárias. 
TEMA 4 – CRENÇAS INTERMEDIÁRIAS 
As crenças intermediárias são o segundo nível de cognição; são 
extremamente importantes porque refletem as atitudes do indivíduo em cada 
situação. Elas são também conhecidas como pressupostos subjacentes. Os 
autores utilizam ambos os termos para falar sobre esse nível de cognição. 
Também é importante dizer que alguns autores se referem a regras ou estratégias 
 
 
13 
compensatórias quando falam a respeito de crenças intermediárias. Dessa forma, 
vamos tentar entender como elas funcionam. 
Segundo Wenzel, Brown e Beck (2010, p. 105): 
Crenças intermediárias são nomeadas como tais porque são mais 
facilmente identificáveis e articuláveis e mais amenas de serem 
mudadas do que as crenças centrais, e elas formam as pontes entre as 
crenças centrais e os pensamentos automáticos experimentados em 
uma situação particular. Muitas vezes, crenças intermediárias assumem 
a forma de atitudes rígidas, regras ou pressupostos sobre como o mundo 
funciona. Elas muitas vezes assumem a forma de afirmações 
condicionais, como “Se eu não conseguir A em tudo, então eu sou um 
fracasso” ou “Se ao menos uma pessoa não gosta de mim, isso significa 
que eu sou indesejável”. Repare que essas afirmações são irrealistas e 
criam um padrão impossível com o qual o indivíduo precisa se 
conformar. Não é surpreendente que as pessoas estejam em risco de 
perturbações emocionais se elas não conseguirem atingir esses 
padrões, e geralmente o que acontece é que elas não conseguem 
porque seus padrões são muito grandiosos. 
Nesse sentido, Beck (1997, p. 31) divide as crenças intermediárias em 
atitudes, regras e suposições. Assim, explica que “essas crenças influenciam sua 
visão de uma situação, o que, por sua vez, influencia como ele pensa, sente e se 
comporta”. A atitude é determinada pela crença, por exemplo, em afirmações 
como “sou incompetente”. As regras, por sua vez, segundo a autora, são como 
expectativas que o indivíduo cria com base na crença, ou seja, “se sou 
incompetente; devo trabalhar muito”. Já as suposições são condicionais do tipo 
“se/então”, por exemplo, “se eu trabalhar duro, então serei reconhecido”. 
No livro A mente vencendo o humor, temos uma perfeita descrição das 
crençasintermediárias ou dos pressupostos subjacentes. Os autores descrevem 
um pequeno relato clínico para que possamos perceber as nuances dessas 
crenças: 
Susana e Tito estavam casados há um ano e estavam muito 
apaixonados. Mas, apesar da afeição que tinham um pelo outro, havia 
muita tensão entre eles e frequentemente discutiam quando estavam se 
arrumando para ir a festas. Tito estava sempre pronto 10 minutos antes 
da hora de saírem de casa e se postava junto à porta, batendo o pé com 
impaciência. A cada intervalo de tempo, mandava uma mensagem de 
texto para Susana perguntando se ela sabia que horas eram e 
lembrando-a de que estava na hora de saírem. Susana ficava 
incomodada e frustrada com os lembretes de Tito e não conseguia 
entender por que ele sempre tinha tanta pressa. [...] Cada um de nós 
tem crenças situadas silenciosamente abaixo da superfície. Com 
frequência, não estamos conscientes desses pensamentos, mas eles 
também têm forte influência sobre nossos estados de humor, 
comportamento e reações físicas. Como esses pensamentos 
geralmente operam em um nível abaixo de nossa consciência, 
costumamos denominá-los “pressupostos subjacentes”. Pressupostos 
subjacentes são as regras segundo as quais vivemos. Cada um de nós 
tem centenas de pressupostos subjacentes, e cada um pode ser 
 
 
14 
expresso como uma afirmação “Se...,então...”.Por exemplo, as reações 
de Tito e Susana ao se arrumarem para uma festa parecem um pouco 
desconcertantes. Por que Tito continuava ao lado da porta e mandava 
lembretes para Susana quando podia ver claramente que isso a 
incomodava? Por que Susana esperava tanto para se aprontar quando 
sabia que isso irritava Tito? Os pressupostos subjacentes de Tito e 
Susana podem nos ajudar a entender as respostas deles. Tito cresceu 
em uma família que valorizava a pontualidade e operava segundo a 
regra de que um convite para uma festa ou uma reunião às 7 horas 
significava que era esperado que os convidados chegassem às 7 horas. 
Na família de Tito, chegar depois das 7 horas era um sinal de 
desrespeito. Portanto, ele tinha o pressuposto subjacente “Se não 
chegarmos na hora, então isso será um desrespeito e os outros ficarão 
incomodados conosco”. No entanto, na família de Susana, a hora de 
início de uma festa era vista apenas como uma sugestão. Ninguém 
esperava estar lá na hora de começar. Na verdade, em sua família, 
chegar na hora determinada para o início era inesperado e seria uma 
pressão sobre os anfitriões, os quais provavelmente ainda estariam se 
preparando para a festa. O pressuposto subjacente de Susana era “Se 
chegarmos na hora, isso irá pressionar os anfitriões”. É fácil ver como 
cada um dos pressupostos subjacentes guiava o comportamento deles. 
No entanto, como Tito e Susana ainda não estavam conscientes desses 
pressupostos, seus pressupostos conflitantes produziam tensão em seu 
relacionamento. (Greenberg; Padesky, 2017, p. 152). 
Ainda segundo os autores, os pressupostos subjacentes guiam as ações e 
os estados de humor de uma pessoa. Se seguimos regras inflexíveis, ou seja, se 
sempre agimos da mesma forma, possivelmente agiremos de acordo com os 
pressupostos aprendidos. Os pressupostos poderão ser facilmente reconhecidos 
quando observamos a condicional “se/então”. Não serão disfuncionais se não 
trouxerem variações de humor e conflitos como os relatado no texto de Greenberg 
e Padesky (2017). Entretanto, se os pressupostos trouxerem sentimentos 
negativos de forma persistente, terão potencial para gerar problemas para o 
indivíduo. 
TEMA 5 – PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS 
Beck cunhou muitos conceitos importantes utilizados até os dias atuais. De 
acordo com Padesky (2010), o termo pensamento automático foi descrito por Beck 
na década de 1960, no livro Depressão: causas e tratamento. A partir de então, 
tanto a terapia cognitiva quanto as diversas correntes de terapia cognitivo-
comportamental utilizam esse termo. 
Nesse sentido, Beck (1997, p. 87) traz a seguinte explicação para os 
pensamentos automáticos: 
Pensamentos automáticos são um fluxo de pensamento que coexiste 
com um fluxo de pensamentos mais manifesto (Beck, 1964). Esses 
pensamentos não são peculiares a pessoas com angústia; eles são uma 
experiência comum a todos nós. A maior parte do tempo, nós mal 
 
 
15 
estamos cientes desses pensamentos, embora com apenas um 
pouquinho de treinamento possamos facilmente trazer esses 
pensamentos à consciência. Quando nos tornamos cientes dos nossos 
pensamentos, podemos automaticamente fazer uma checagem de 
realidade quando não estamos sofrendo de disfunção psicológica. 
Algum leitor deste texto, por exemplo, enquanto focaliza o conteúdo 
deste capítulo, pode ter o pensamento automático: “Eu não entendo isso” 
e sentir-se levemente ansioso. Ele pode, no entanto, espontaneamente 
(ou seja, sem percepção consciente) responder ao pensamento de uma 
forma produtiva: “Eu de fato entendo alguma coisa dele; deixe-me 
apenas ler esta seção novamente”. Esse tipo de testagem de realidade 
automática e resposta a pensamentos negativos é uma experiência 
comum. Pessoas que estão aflitas, no entanto podem não se engajar 
nesse tipo de exame crítico. A terapia cognitiva lhes ensina ferramentas 
para avaliar seus pensamentos de uma forma consciente estruturada, 
especialmente quando eles estão aflitos. 
Segundo a autora, o terapeuta busca identificar, por meio do 
questionamento socrático e outras intervenções, quais os pensamentos que 
modificam as emoções do paciente. Sabemos que, em terapia cognitiva, ocorre a 
interligação entre a situação vivenciada, a emoção sentida e o comportamento. 
Dessa forma, o pensamento interfere no que o indivíduo sente e na forma como 
se comporta. Em termos terapêuticos, a busca pelos pensamentos automáticos 
disfuncionais permite ao paciente encontrar formas funcionais para lidar com as 
dificuldades. Para explicar essa ideia, Beck (1997, p. 88) comenta que “os 
pensamentos automáticos são usualmente breves, e o paciente com frequência 
está mais ciente da emoção que sente em decorrência do pensamento do que do 
pensamento em si”. 
Os pensamentos automáticos não são necessariamente disfuncionais ou 
negativos. Todavia, de acordo com a história de vida e o desenvolvimento de 
crenças centrais disfuncionais, é possível que o indivíduo tenha pensamentos 
automáticos disfuncionais. Os autores utilizam o termo pensamento quente para 
demonstrar o pensamento automático disfuncional (Beck, 1997; Stallard, 2008; 
Greenberg; Padesky, 2017). Entretanto, é possível encontrar na literatura 
cognitiva as seguintes denominações: distorções cognitivas (mais utilizada); 
armadilha de pensamento (muito utilizada em terapia cognitiva para infância e 
adolescência) e também são utilizados como sinônimos: erros de pensamento e 
pensamentos disfuncionais. 
Stallard (2008, p. 69) discorre sobre as características dos pensamentos 
disfuncionais: 
Por que dou ouvidos a meus pensamentos negativos? Para entender 
isso, precisamos aprender um pouco mais sobre os pensamentos 
automáticos negativos. Eles têm uma série de coisas em comum: 
Automáticos – eles acontecem simplesmente. Surgem sem que você 
 
 
16 
tenha pensado neles. Distorcidos – quando você para e confere, 
descobre que eles nãos se ajustam realmente aos fatos. Contínuos – 
você não escolhe tê-los e eles não podem ser desligados. Parecem 
verdadeiros-parecem fazer sentido, então você os aceita como 
verdadeiros sem parar para desfiá-los e questioná-los. Porque os 
pensamentos automáticos parecem muito razoáveis, damos ouvidos a 
eles. Ficamos muito familiarizados com eles porque lhes damos ouvidos 
com muita frequência. Quanto mais os ouvimos, mais acreditamos e os 
aceitamos como verdadeiros. 
Para o autor, temos muitos pensamentos automáticos, mas precisamos 
buscar aqueles que causam os sentimentos mais intensos, que são denominados 
pensamentos quentes. Sobre a busca pelos pensamentos quentes, Stallard 
(2008,p. 72) comenta: “pense sobre os momentos em que você realmente 
observa uma mudança em como se sente. Tente identificar que pensamentos 
estão passando pela sua cabeça quando você se sente assim”. O autor ainda 
discorre sobre a armadilha negativa, por meio da qual os pensamentos 
automáticos negativos geram desconfortos que acabam por influenciar nossos 
sentimentos. Ao termos sentimentos desagradáveis, é comum não realizarmos as 
ações que antes realizaríamos se não estivéssemos sobre o domínio do pensar e 
do sentir. Como estamos agindo menos, temos mais tempo para pensar nas 
coisas que estão dando errado. Dessa forma, o pensamento negativo é 
confirmado, resultando em uma armadilha ou em um ciclo negativo. 
Sobre as características dos pensamentos automáticos, Beck (1997, p. 89) 
comenta que: 
Os pensamentos automáticos podem ser avaliados de acordo com sua 
validade e sua utilidade. O tipo mais comum de pensamento automático 
é distorcido de algum modo e ocorre apesar das evidências objetivas em 
contrário. Um segundo tipo de pensamento automático é preciso, porém 
a conclusão que o paciente extrai pode ser distorcida. Por exemplo, “Eu 
não fiz o que eu prometi [para minha colega de quarto]” é um 
pensamento válido, mas a conclusão “Portanto, eu sou uma má pessoa” 
não é. Um terceiro tipo de pensamento automático é também preciso, 
porém decididamente disfuncional. Por exemplo, Sally estava estudando 
para um exame e pensou: “Eu vou levar horas para terminar isso. Eu 
ficarei acordada até as três da manhã.” Esse pensamento foi sem dúvida 
correto, entretanto aumentou sua ansiedade e reduziu sua concentração 
e sua motivação. Uma resposta razoável a esse pensamento seria 
abordar sua utilidade “É verdade que levará um tempo longo para 
terminar isso, mas eu posso fazer; eu já fiz antes. Lidar com quanto 
tempo levará me faz sentir infeliz e eu não me concentrarei tão bem. 
Provavelmente levará ainda mais tempo para terminar. Seria melhor 
concentrar-me em terminar uma parte em um momento e dar-me crédito 
por tê-la terminado”. Avaliara a validade e/ou utilidade de pensamentos 
automáticos e adaptativamente responder a eles em geral produz uma 
mudança positiva no afeto. 
Ainda sobre as características dos pensamentos automáticos, Beck (1997) 
diz que são espontâneos, ou seja, não são embasados em reflexão; são breves, 
 
 
17 
fugazes e podem ocorrer de forma verbal ou imaginária. “As pessoas com 
frequência aceitam seus pensamentos automáticos como verdadeiros, sem 
reflexão ou avaliação. Identificar, avaliar e responder a pensamentos automáticos 
(de uma forma mais adaptativa) usualmente produz uma mudança positiva no 
afeto” (Beck, 1997, p. 89). 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
BECK, A, T.; ALFORD, B. A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto 
Alegre: Artmed, 2000. 
BECK, A. T.; FREEMAN, A.; DAVIS D. D. Terapia cognitiva dos transtornos de 
personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2005. 
BECK, A. T., RUSH, A. J., SHAW, B. F., & EMERY, G. Terapia cognitiva da 
depressão (S. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artmed, 1997. 
BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. 
CAMINHA, R. M.; VASCONCELLOS, J. L. C. Os processos representacionais nas 
práticas das TCCs. In: CAMINHA, R. M. et al. (ed.). Psicoterapias cognitivo-
comportamentais: teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p. 23-
28. 
GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência Psicológica: mente, cérebro 
e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. 
GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Ciência psicológica. 5. 
ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. 
GREENBERGER, D.; PADESKY, C. A. A mente vencendo o humor. Porto 
Alegre: Artmed, 2017. 
KNAPP, P. (org.) Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. 
Porto Alegre: Artmed, 2004. 
PADESKY, C. A. Aaron T. Beck: a mente, o homem e o mentor. In: LEAHY, R. 
Terapia cognitiva contemporânea: teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: 
Artmed, 2010. p. 19-38. 
STALLARD, P. Guia do terapeuta para os bons pensamentos – bons 
sentimentos: Utilizando a terapia cognitivo-comportamental com crianças e 
adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2010. 
SUDACK, D. M. Terapia cognitivo-comportamental na prática. Porto Alegre: 
Artmed, 2008. 
WENZEL, A.; BROWN G. K.; BECK, A. T. Terapia cognitivo-comportamental 
para pacientes suicidas. Porto Alegre: Artmed, 2010. 
 
 
19 
WRIGHT, J. H.; BASCO, M. R.; THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo-
comportamental: guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Continue navegando